O documento discute as principais doenças abióticas em florestas, incluindo fatores como temperatura, umidade, luminosidade, nutrientes do solo, vento, raios e granizo. É explicado como esses fatores podem causar danos às plantas por meio de processos como a formação de cristais de gelo, transpiração excessiva, competição e alelopatia. Um diagnóstico correto depende de conhecimentos em áreas como climatologia, solos e fisiologia vegetal.
Fatores que causam doenças florestais não parasitárias
1. CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
DISCIPLINA - FITOPATTOLOGIA FLORESTAL
Nilton José Sousa
DOENÇAS ABIÓTICAS OU DE CAUSA NÃO PARASITÁRIA
BLUMENAU
1997
2. DOENÇAS ABIÓTICAS OU DE CAUSA NÃO-PARASITÁRIAS
1. INTRODUÇÃO
O reconhecimento de uma doença abiótica depende basicamente da
capacidade do observador de discernir se a condição de uma planta é normal ou anormal,
para esta determinação é necessário conhecer a planta em seu estado saudável, essa
capacidade de distinção depende de uma pessoa para outra e esta relacionada ao
contato que a pessoa tem com as árvores em seu estado natural e de sua capacidade de
observação. A primeira observação tanto para doenças bióticas como abióticas e que
nesses casos não é observada a remoção de tecido de órgãos da planta, em outras
palavras os agentes causais destas doenças não consomem partes do vegetal como
fazem normalmente os insetos.
A seguir, estão descritos os principais fatores que podem originar doenças
florestais abióticas.
2. FATORES CAUSAIS DE DOENÇAS ABIÓTICAS
a) Temperatura excessivamente elevada
De maneira geral as plantas têm um ótimo desenvolvimento com
temperaturas de 15 a 30 oC. Os tecidos novos de órgãos de crescimento de árvores são
geralmente sensíveis a temperatura s abaixo de 1 e acima de 40 oC. De maneira geral as
injurias causadas por temperaturas mais baixas são mais comuns na natureza do que as
causadas por temperaturas mais altas.
No entanto é válido lembrar que as temperaturas mais altas danifica mais
rapidamente os órgãos das plantas do que as temperaturas baixas, por exemplo o
assamento do coleto demudas causado pela fermentação de matéria orgânica, quando
esta é utilizada em sementeiras ou canteiros antes de estar totalmente curtida, pois neste
caso processo de decomposição da matéria orgânica ocorre em contato com a planta
emanando temperaturas de 40 a 50 oC, temperaturas que são letais ao coleto das mudas
3. de várias espécies florestais. isto também pode acontecer pela insolação direta que pode
gerar temperaturas excessivas na superfície do solo. De maneira geral as temperaturas
altas causam injurias aos tecidos porque desencadeiam reações bioquímicas anormais e
morte das células, podendo também causar coagulação e desnaturação de proteínas e a
desintegração de membranas citoplasmáticas.
b) Temperaturas excessivamente baixas
As temperaturas baixas normalmente provocadas pelas geadas são as
maiores geográficas à introdução e ao estabelecimento de plantas, limitando e muitas
vezes inviabilizando a silvicultura de muitas espécies florestais. As espécies adaptadas a
regiões de inverno rigoroso normalmente tem crescimento e dormência bem definidos de
acordo com a variação climática anual, sendo tolerantes as baixas temperaturas quando
estão dormentes e algumas vezes sem folhas, porém na estação de crescimento são
muito suscetíveis a essas temperaturas durante a estação de crescimento.
As geadas causam as árvores causam a queima de toda a folhagem ou de
apenas o terço apical ou dos terços apical e mediano, restando verdes as folhas do terço
basal, a folhagem queimada tem coloração marrom-bronzeada. As geadas atingem
também a brotações e podem provocar trincas no tronco, que posteriormente poderão
possibilitar a entrada de insetos e fungos.
As temperaturas baixas induzem à formação de cristais de gelo inter e
intracelularmente. A água dos espaços intercelulares congela antes, e a cerca de 0oC,
podendo haver também a formação de cristais de gelo dentro das células, provocando
ruptura da membrana citoplasmática, a morte celular pode resultar da perda de água,
decorrente de desidratação e coagulação citoplamática, e da ruptura da membrana
citoplasmática pela formação de cristais de gelo intracelulares.
c) Umidade elevada do solo
o excesso de umidade no solo traz como consequência a deficiência de
oxigênio para as raízes. É preciso lembrar que existem plantas adaptadas à vida em
ambientes pobres em aeração para o sistema radicular, como as plantas dos
manguesais, no entanto a maioria das espécies arbóreas é sensível ao alagamento do
solo. Algumas plantas excessivamente irrigadas e com folhagem mantida sob elevada
umidade relativa, em ambiente pouco ventilado, apresentam uma anomalia foliar
denominada edema ou calos foliares.
4. d) Umidade baixa do solo
De maneira geral a maioria das plantas é afetada pela falta de umidade
(seca). O melhor sintoma de estresse hídrico são as necroses ou queima na forma de “V”
invertido que surgem nas folhas das plantas. Este sintoma ocorre pela transpiração
excessiva que não pode ser reposta pelas raízes, em decorrência do déficit hídrico do
solo. nas coníferas o sintoma é o secamento do ápice das acículas. A umidade
relativamente baixa, associada a ventos frios permanentes, também causa necroses em
“V” invertido em folhosas, mesmo que o teor de umidade do solo seja normal.
Outros sintomas da falta de umidade são: murcha temporária ou
permanente das mudas; mortalidade de radicelas em árvores; fissuramento excessivo de
casca; seca de ponteiros; seca total da folhagem e morte das árvores. A deficiência
hídrica também pode acarretar sintomas de deficiências minerais, que desaparecem das
plantas no início das chuvas, ou seja depois que se restabeleceu a normalidade hídrica
do solo.
e) Luminosidade excessivamente alta ou baixa
O efeito da luminosidade adversa pode ser facilmente percebido pela
adaptação das plantas. Uma planta heliofita trazida para ambiente permenentemente
sombreado, exibirá sintomas anormais, como: órgãos flácidos, entrenós longos, folhagem
de menor tamanho, amarelecimento e finalmente a morte.
Quando uma planta umbrófila, é levada para céu aberto, terá
amareleciemnto de folhas, queima de folhas em “V” invertido, secamento de terminais de
haste principal, galhos ramos e finalmente morte.
f) Acidez e alcalinidade excessiva do solo
A acidez ou alcalinidade excessiva do solo trazem para a planta
consequências relacionadas com deficiência ou toxicidade mineral. O solo onde se
encontra a planta pode não ter a disposição um determinado elemento, ou ter outro em
excesso que pode ser tóxico, que pode ser absorvido inibindo a absorção de outro
elemento indispensável e assim sucessivamente.
5. g) Deficiência mineral em plantas
O nível excessivamente baixo ou alto de um macro ou micro nutriente no
solo pode como no caso da acidez ou alcalinidade excessiva, inibir a absorção de outro,
positiva ou negativamente. As consequências para as plantas são diversas. Normalmente
os microelementos causam maior toxicidade mineral quando absorvidos do que os
macroelementos. Porém, de maneira geral as deficiência causadas por excesso ou falta
de minerais, é um assunto extremamente amplo, que para ser visto a fundo necessita de
um estudo a parte.
h) Fitotoxicidade
Neste tópico serão abordadas a fitotoxicidade causada por uso inadequado
e excessivo de adubos e defensivos agrícolas, excluindo-se os problemas fitotóxicos
causados por deficiências minerais, acidez e alcalinidade excessiva do solo, abordados
anteriormente. A fitoxicidade por estes efeitos depende da planta envolvida, do seu
estágio fenólico, da substância química, da concentração ou dosagem de aplicação do
defensivo, da hora e da forma de aplicação.
A adubação excessiva é comum quando é feita a adubação direta nas
covas, ficando o sistema radicular da muda plantada em contato direto com o adubo,
sendo severamente danificado e morto pelo efeito plasmolisante exercido pelos sais
sobre os tecidos radiculares. Na parte aérea da planta os sintomas correspondem aos de
déficit hídrico: murcha; necroses foliares em “V” invertido, secamento de folhas e morte
generalizada da planta.
A inadequada aplicação de defensivos, pode causar fitotoxicidade às plantas
por efeito plasmolisante, por efeito de contato externo e por efeito sistêmico. O efeito
plasmolisante ou de contato externo são: manchas ou áreas irregulares, marrom claras
ou amareladas, os limbos das folhas são mais atacados morrendo posteriormente. Os
efeitos da ação sistêmica são cloroses dos limbos, superbrotamento, produção de limbos
anormais quanto a forma e tamanho e redução do crescimento das raízes e da parte
aérea.
i) Competição de plantas e alelopatia
A competição por água, luz e minerais pode fazer com que certas planas
fiquem amarelas, cresçam menos ou até morram pela concorrência de plantas vizinhas
6. de espécies diferentes, ou de mesma espécie, mas com mais adequadas combinações
gênicas para sobreviverem naquele ambiente.
Além dos efeitos da competição das plantas por água, luz e minerais,
algumas espécies pode prejudicar outras pela liberação de substâncias químicas
alelopaticas. O contato de plantas suscetíveis com essas substâncias químicas ocorre da
seguinte forma: a) as plantas produtoras eliminariam as substâncias pelas folhas
chegando ao solo pela ação do orvalho e da chuva, chegando ao solo seriam tóxicas às
eventuais sementes em germinação e raízes de outras espécies; b) as substâncias
seriam eliminadas pelas raízes e seriam tóxicas no solo comum; c) as substâncias seriam
liberadas no solo pela decomposição da matéria orgânica da planta produtora (folhas,
etc.).
Os sintomas da alelopatia, além da morte de sementes são o crescimento
reduzido, o amarelecimento de folhas e em casos mais extremos secamento de galhos e
morte das plantas.
j) Ventos
O vento afeta o crescimento das plantas sob e3 aspectos: a) transpiração, o
efeito do vento varia com a topografia, posição das plantas, temperatura e umidade do ar
que incide sobre as plantas; b) absorção de CO2, a fotossíntese com o fornecimento de
CO2 , fornecido pela renovação do ar próximo a área fotossintetizante; c) danos
mecânicos, o vento pode danificar as folhas mecanicamente, reduzindo sua capacidade e
translocação e fotossíntese.
k) Quebra das árvores por deformações anatômicas
A quebra de galhos grossos em plantas ornamentais, normalmente são
ocasionadas por deformações anatômicas, principalmente nas árvores cujos troncos têm
por característica a ramificação dicotômica, onde pode ser observada a divisão da árvore
em dois setores, cada um forçando a abertura de uma fenda entre as bifurcações.
Quando ocorre o primeiro trincamento de casca neste local, começa a invasão
microbiana, a árvore reage formando calos, posteriormente pela ação da chuva um dos
lados da árvore fica mais pesado é ocorre a quebra do tronco. Aliada aos problemas
anatômicos estão os problemas de manejo silvicultural onde as plantas são submetidas
por exemplo a podas inadequadas e rigorosas que enfraquecem e deformam as árvores
favorecendo a ação futura da chuva e do vento vão proporcionar a quebra das árvores.
7. As deformações anatômicas também podem ser provocadas pela ação de
patógenos, como acontece com o cancro do Eucalyptus provocado por Cryponectria
cubensis, que provoca a formação de calos laterais com tecidos menos flexíveis que os
normais. A consequência destes tecidos menos flexíveis é uma diferença de compressão
da madeira e quebra do tronco tela tração provocada pelo vento.
l) Anormalidades genéticas
Normalmente as anormalidades genéticas são sintomas geralmente
incomuns, representando em um povoamento cerca de 0,1% das plantas. Existem
anormalidades genéticas que acompanham a planta durante o seu ciclo de vida, um
exemplo disto é o albinismo que ocorre em Eucalyptus, afetando o crescimento e o vigor
da planta que posteriormente podem morrer. Também correm nas plantas anormalidades
temporárias, que afetam apenas parte da vida da planta.
M) Raio e chuva de pedra
Os raios são responsáveis por quebramento de galhos, fendilhamento de
casca é até mesmo esfacelamento de troncos, podendo iniciar incêndios florestais e
provocar a morte das plantas. Um dos sintomas de ocorrência de raios é a morte de
árvores em reboleira, neste caso o sistema radicular das plantas é atingido provocando a
morte de todas as plantas que tem suas raízes próximas.
As chuvas de granizo em viveiros florestais ou em plantios novos pode ser
fatal, em árvores adultas são fatores que causam a predisposição das plantas ao ataque
de fungos como a Diplodia pinea em plantios de Pinus spp. Os danos podem ser
mecânicos pela ação direta dos grânulos de gelo sobre as folhas ou ramos, ou pode
causar a queima das porções basais da planta pelo acúmulo de gelo, que vão originar
baixas temperaturas nesta região. Nos viveiros este efeito pode ser minimizado se o
viveiro possuir um sistema de irrigação e a mesma for realizada após a chuva de pedras.
N) Diagnose de doenças abióticas
Pelo que esta descrito nos tópicos acima e evidente que as doenças
abióticas estão relacionadas com outras áreas florestais como climatologia, solos,
8. fisiologia, ecologia, botânica e genética. Portanto o conhecimento básico destas áreas é
imprescindível para diagnosticar a causa de determinada doença florestal abiótica.
Via de regra as doenças florestais abióticas debilitam fisiologicamente as
plantas, predispondo-as ao ataque de fitopatógenos causadores das doenças bióticas,
que devem constituir a real ocupação da patologia florestal.
As verdadeiras doenças abióticas ou doenças fisiológicas, são causadas por
temperatura adversa, umidade adversa, luminosidade adversa, oxigenação do solo
adversa, deficiência e toxicidade mineral, ação de substâncias fitotóxicas e por agentes
poluentes. Sua principal característica são o grande número de plantas atacadas na fase
inicial dos plantios (de modo geral acima de 50%), ao passo que as doenças bióticas no
seu início atacam um número reduzido de plantas, crescendo posteriormente de maneira
linear. As doenças bióticas que se confundem com as doenças abióticas, são
reconhecidas pelo progresso inicial relativamente lento que as doenças bióticas tem. Uma
exceção a esta demora inicial das doenças bióticas é a ferrugem que é uma doença
biótica com progressão rápida, porém é facilmente reconhecida e diferenciada das
doenças abióticas.