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A resistência linguística brasileira
Andreza Maciel Figueiredo
Universidade Federal de São Paulo
a.macielfigueiredo@gmail.com
Resumo: O português foi oficializado como língua no Brasil por Marquês de Pombal ainda no
período colonial. Após este período ficara proibido o uso de outra língua para a comunicação e
comércio. Mas esse decreto não impediu que muitas palavras das “línguas proibidas” fizessem
parte do léxico atual do português brasileiro. Português este que destoa completamente do que é
falado em Portugal.
Palavras chaves: sociolinguística; línguas; português; Portugal; Brasil
Introdução
Com a miscigenação que começara a ocorrer no Brasil com a escravidão e o
convívio com os indígenas a língua portuguesa da colônia começa a se distanciar
daquela que é falada na metrópole. Com um cenário multilinguístico no período
colonial, onde há a presença de, pelo menos, três línguas francas em toda a extensão
territorial o decreto do Marquês de Pombal vem para instituir e oficializar o português
como língua oficial, e padrão, do Brasil.
É muito importante ater-se ao detalhe de que mesmo após a proibição do uso das
outras línguas, como o nheengantú, e a estando previsto severas punições aqueles que
mantivessem sua cultura linguística muitas chegaram até os dias de hoje, mesmo que
parcialmente ou muito fragmentadas.
Essas línguas que chegaram até nós compõem o léxico de palavras do português
brasileiro. Português esse que após a Independência, em 1922, não teve mais ligação
alguma com Portugal e seguiu seus próprios rumos de variação. Um dos rumos da
variação foi o de contato direto com escravos, índios.
Tanto contato fez do português brasileiro um terreno fértil para a incorporação
das diversas línguas que um dia foram proibidas. Essa incorporação se deu a nível muito
superficial, com pouquíssimas palavras de origem africanas e indígenas da qual se
utiliza frequentemente.
O português brasileiro destoa totalmente do português de Portugal. Com
interpretações, palavras, figuras de linguagem e semântica diferentes. E a gramática
distanciada é só um dos elementos que denota a singular mistura de línguas que ocorreu
no Brasil.
Fundamentação teórica e análise de quadro
Constituição não foi votada, mas outorgada por D. Pedro, em 1823, decidiu-se que a língua que
falamos é a língua portuguesa. E os efeitos desse jogo político, que nos acompanha desde a
aurora do Brasil, nos faz oscilar sempre entre uma língua outorgada, legado de Portugal,
intocável, e uma língua nossa, que falamos em nosso dia-a-dia, a língua brasileira. ORLANDI,
Eni
A partir desse argumento de Orlandi há o principal argumento para a
interpretação da língua-mãe do Brasil. Língua que historicamente recebe inúmeras
influências dos povos que aqui habitavam ou habitarão ao longo da história brasileira e,
ao mesmo tempo, te como base um idioma clássico e intocável.
O multilinguismo que existia nos primeiros anos de Brasil era bastante evidente
quando se analisa o papel das províncias/capitanias no contexto histórico brasileiro.
Línguas gerais de base indígena, português crioulizado, línguas francas africanas eram
apenas algumas amostras do que havia no Brasil. Dante Lucchesi pontua isso nas
seguintes frases:
Nas províncias mais periféricas, como São Paulo e Maranhão, a língua geral de base tupi
predominava.Nas provínciasque então impulsionavamo projeto colonial brasileiro,Pernambuco
e Bahia, a massa da mão-de-obra escrava lançava mão de línguas francas africanas, como o
quimbundo, para se comunicarem entre si. No interior, ao redor dos engenhos, ou nos quilombos,
línguasfrancas africanas conviveriamcom variedades pidginizadas ou crioulizadas do português.
E utilizando argumentos empregados por Marcos Bagno no livro Português ou
Brasileiro? Um convite à pesquisa, como em Português do Brasil e o português de
Portugal: duas línguas diferentes onde há uma explicação minuciosa sobre expressões
idiomáticas brasileiras e portuguesas, uso de pronomes e construções de frases
completamente diferentes entre os dois países, fica muito mais claro elucidar o
fenômeno que ocorreu no território da colônia que distanciou tanto a língua aqui falada
e estudada do da existente em Portugal.
A “língua de Camões” deixou de ser pura. Passou a ser a língua de índios
catequizados, negros escravizados, alforriados e fugidos, cafuzos, mamelucos, mulatos e
brancos. Passou a não se utilizar mais do pronome oblíquo e fazer uso constante do
pronome reto, usando ELE como obejeto direto e VOCÊ no lugar de TU. E isso foi só no
começo da história brasileira.
A história lingüística brasileira anda passo-a-passo com a história política,
literária e cultural do país. Todo o contato que há até a chegada dos imigrantes
europeus, e até mesmo após essa chegada, pode ser descrito por uma descrita por uma
citação de Labov no livro Padrões Sociolingüísticos
Essas variações podem ser induzidas pelos processos de assimilação ou disseminação, por
analogia,empréstimo, fusão, contaminação,variação aleatória ou quaisquer outros processos em
que o sistema lingüístico interaja com as característicasfisiológicas ou psicológicas do indivíduo.
Após a Lei Áurea e, no ano seguinte, a Proclamação da República os negros
começaram a se inserir na mais ativamente na sociedade brasileira, não mais como
escravos, mas sim como cidadãos. E isso os levou para as cidades. O abandono do
campo pelos negros acarretou a procura de outros trabalhadores braçais, mais baratos,
para o trabalho na lavoura. E então os imigrantes europeus vieram.
Esses imigrantes vinham procurar melhores oportunidades no Brasil e não
falavam o idioma português. Logo procuravam algum termo-médio entre sua língua
materna e a língua brasileira. Assim criavam formas de se comunicar entre eles, entre os
empregadores e entre o demais moradores da região. Caracterizando, primeiramente um
pidgin, e posteriormente um crioulo, até chegar à língua que hoje caracteriza o
português brasileiro.
É importante de lembrar que durante todo esse processo linguístico houve além
de mudanças históricas, políticas e culturais também pontuais mudanças econômicas e
sociais.
Com influências de línguas de raízes latinas e germânicas o idioma nacional
começa a retornar a ter mais características gramaticais européias. Mas sintaticamente e
morfologicamente foi completamente afetado pelas influências do início do contato
lingüístico. Influências que jamais Acordo Ortográfico nenhum conseguirá apagar.

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A resistência linguística do crioulo brasileiro

  • 1. A resistência linguística brasileira Andreza Maciel Figueiredo Universidade Federal de São Paulo a.macielfigueiredo@gmail.com Resumo: O português foi oficializado como língua no Brasil por Marquês de Pombal ainda no período colonial. Após este período ficara proibido o uso de outra língua para a comunicação e comércio. Mas esse decreto não impediu que muitas palavras das “línguas proibidas” fizessem parte do léxico atual do português brasileiro. Português este que destoa completamente do que é falado em Portugal. Palavras chaves: sociolinguística; línguas; português; Portugal; Brasil Introdução Com a miscigenação que começara a ocorrer no Brasil com a escravidão e o convívio com os indígenas a língua portuguesa da colônia começa a se distanciar daquela que é falada na metrópole. Com um cenário multilinguístico no período colonial, onde há a presença de, pelo menos, três línguas francas em toda a extensão territorial o decreto do Marquês de Pombal vem para instituir e oficializar o português como língua oficial, e padrão, do Brasil. É muito importante ater-se ao detalhe de que mesmo após a proibição do uso das outras línguas, como o nheengantú, e a estando previsto severas punições aqueles que mantivessem sua cultura linguística muitas chegaram até os dias de hoje, mesmo que parcialmente ou muito fragmentadas. Essas línguas que chegaram até nós compõem o léxico de palavras do português brasileiro. Português esse que após a Independência, em 1922, não teve mais ligação alguma com Portugal e seguiu seus próprios rumos de variação. Um dos rumos da variação foi o de contato direto com escravos, índios. Tanto contato fez do português brasileiro um terreno fértil para a incorporação das diversas línguas que um dia foram proibidas. Essa incorporação se deu a nível muito
  • 2. superficial, com pouquíssimas palavras de origem africanas e indígenas da qual se utiliza frequentemente. O português brasileiro destoa totalmente do português de Portugal. Com interpretações, palavras, figuras de linguagem e semântica diferentes. E a gramática distanciada é só um dos elementos que denota a singular mistura de línguas que ocorreu no Brasil. Fundamentação teórica e análise de quadro Constituição não foi votada, mas outorgada por D. Pedro, em 1823, decidiu-se que a língua que falamos é a língua portuguesa. E os efeitos desse jogo político, que nos acompanha desde a aurora do Brasil, nos faz oscilar sempre entre uma língua outorgada, legado de Portugal, intocável, e uma língua nossa, que falamos em nosso dia-a-dia, a língua brasileira. ORLANDI, Eni A partir desse argumento de Orlandi há o principal argumento para a interpretação da língua-mãe do Brasil. Língua que historicamente recebe inúmeras influências dos povos que aqui habitavam ou habitarão ao longo da história brasileira e, ao mesmo tempo, te como base um idioma clássico e intocável. O multilinguismo que existia nos primeiros anos de Brasil era bastante evidente quando se analisa o papel das províncias/capitanias no contexto histórico brasileiro. Línguas gerais de base indígena, português crioulizado, línguas francas africanas eram apenas algumas amostras do que havia no Brasil. Dante Lucchesi pontua isso nas seguintes frases: Nas províncias mais periféricas, como São Paulo e Maranhão, a língua geral de base tupi predominava.Nas provínciasque então impulsionavamo projeto colonial brasileiro,Pernambuco e Bahia, a massa da mão-de-obra escrava lançava mão de línguas francas africanas, como o quimbundo, para se comunicarem entre si. No interior, ao redor dos engenhos, ou nos quilombos, línguasfrancas africanas conviveriamcom variedades pidginizadas ou crioulizadas do português. E utilizando argumentos empregados por Marcos Bagno no livro Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa, como em Português do Brasil e o português de Portugal: duas línguas diferentes onde há uma explicação minuciosa sobre expressões idiomáticas brasileiras e portuguesas, uso de pronomes e construções de frases
  • 3. completamente diferentes entre os dois países, fica muito mais claro elucidar o fenômeno que ocorreu no território da colônia que distanciou tanto a língua aqui falada e estudada do da existente em Portugal. A “língua de Camões” deixou de ser pura. Passou a ser a língua de índios catequizados, negros escravizados, alforriados e fugidos, cafuzos, mamelucos, mulatos e brancos. Passou a não se utilizar mais do pronome oblíquo e fazer uso constante do pronome reto, usando ELE como obejeto direto e VOCÊ no lugar de TU. E isso foi só no começo da história brasileira. A história lingüística brasileira anda passo-a-passo com a história política, literária e cultural do país. Todo o contato que há até a chegada dos imigrantes europeus, e até mesmo após essa chegada, pode ser descrito por uma descrita por uma citação de Labov no livro Padrões Sociolingüísticos Essas variações podem ser induzidas pelos processos de assimilação ou disseminação, por analogia,empréstimo, fusão, contaminação,variação aleatória ou quaisquer outros processos em que o sistema lingüístico interaja com as característicasfisiológicas ou psicológicas do indivíduo. Após a Lei Áurea e, no ano seguinte, a Proclamação da República os negros começaram a se inserir na mais ativamente na sociedade brasileira, não mais como escravos, mas sim como cidadãos. E isso os levou para as cidades. O abandono do campo pelos negros acarretou a procura de outros trabalhadores braçais, mais baratos, para o trabalho na lavoura. E então os imigrantes europeus vieram. Esses imigrantes vinham procurar melhores oportunidades no Brasil e não falavam o idioma português. Logo procuravam algum termo-médio entre sua língua materna e a língua brasileira. Assim criavam formas de se comunicar entre eles, entre os empregadores e entre o demais moradores da região. Caracterizando, primeiramente um pidgin, e posteriormente um crioulo, até chegar à língua que hoje caracteriza o português brasileiro. É importante de lembrar que durante todo esse processo linguístico houve além de mudanças históricas, políticas e culturais também pontuais mudanças econômicas e sociais. Com influências de línguas de raízes latinas e germânicas o idioma nacional começa a retornar a ter mais características gramaticais européias. Mas sintaticamente e
  • 4. morfologicamente foi completamente afetado pelas influências do início do contato lingüístico. Influências que jamais Acordo Ortográfico nenhum conseguirá apagar.