PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
A morte de jesus na cruz
1. A morte de Jesus na cruz
Lc 23.44-49
44 Mais ou menos ao meio-dia o sol parou de brilhar, e uma escuridão
cobriu toda a terra até as três horas da tarde.
45 E a cortina do Templo se rasgou pelo meio.
46 Aí Jesus gritou bem alto: — Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
Depois de dizer isso, ele morreu.
47 Quando o oficial do exército romano viu o que havia acontecido, deu
glória a Deus, dizendo: — De fato, este homem era inocente!
48 Todos os que estavam reunidos ali para assistir àquele espetáculo viram
o que havia acontecido e voltaram para casa, batendo no peito em sinal de
tristeza.
49 Todos os amigos de Jesus e as mulheres que o tinham seguido desde
a Galiléia ficaram de longe, olhando tudo aquilo.
EXPLICAÇÃO
No relato de Lucas, a história da paixão é cada vez mais resumida à medida que
se aproxima do desfecho. Não são mencionados aqui o instante em que Jesus
recomenda sua mãe a João, o lamento do crucificado e o último alívio do que
está para morrer.
A ruptura da cortina do templo é citada como ocorrendo antes da morte do
Senhor. De acordo com Mateus, ela aconteceu um instante depois. Diante da
rápida sequência dos acontecimentos, é impossível falar de um momento
anterior ou posterior.
Lucas foi o único a registrar a última palavra do Senhor na cruz. Em vista de seu
breve resumo, a relação dos sinais durante a morte de Jesus no relato de Lucas
assemelha-se mais a Marcos do que a Mateus.
Como seus dois antecessores sinóticos, Lucas omite que as pernas dos dois
criminosos executados foram quebradas e que se furou o lado do Senhor. Na
descrição bastante detalhada do sepultamento do Senhor, Lucas se aproxima
das narrativas dos outros evangelistas.
Conforme Mc 15.25, Jesus foi crucificado na terceira hora, isto é, 9 horas da
manhã. Assim sendo, a sexta hora era por volta do meio-dia; ou seja, Jesus
estava pendurado há três horas na cruz quando se iniciou a escuridão que durou
três horas, até por volta das 15 horas da tarde.
As ofensas dirigidas contra Jesus situam-se nas primeiras três horas. Jesus, que
nesse período se calou diante da zombaria, interrompeu o silêncio com sua
promessa ao criminoso arrependido. Com o começo das trevas, provavelmente,
toda a zombaria silenciou.
Essa escuridão em pleno meio-dia não deve ser imaginada como um eclipse
solar, porque, de acordo com as leis da astronomia, ele não pode ocorrer na
época da lua cheia, quando se celebrava a Páscoa.
2. Mateus e Marcos não falam a respeito de um eclipse solar. Somente Lucas fala
do escurecimento do sol. Trata-se de um escurecimento milagroso, uma
linguagem divina nos sinais da natureza. O significado das trevas na morte de
Jesus resulta da advertência com que o Senhor se despediu do povo: “Ainda por
um pouco a luz está convosco. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas
não vos apanhem; e quem anda nas trevas não sabe para onde vai” (João
12.35).
A nação judaica desprezou essa advertência. Jesus morreu porque Israel assim
o quis. Pelas mãos de Israel “a luz do mundo” apagou-se para este povo, e as
trevas infernais tornaram-se sua morada. A escuridão foi um sinal com que Deus
interpretou a morte de seu Filho para o povo judeu.
A ruptura da cortina no templo atestou o efeito da morte de Jesus, apavorando
os judeus e fortalecendo a fé dos discípulos do Senhor. Tratava-se da cortina
entre o santo e o santíssimo do templo, que impedia o olhar para dentro do
santíssimo e encobria o acesso ao trono da graça.
Uma explicação sobre o significado da ruptura dessa cortina é fornecida pela
carta aos Hebreus, que apresenta a morte vicária de Cristo, o verdadeiro sumo
sacerdote, como entrada para o santíssimo. Dessa maneira, o novo e vivo
acesso através da cortina foi preparado para nós.
A ruptura da cortina no momento da morte do Senhor caracteriza sua morte
como a reconciliação entre Deus e as pessoas, por meio da qual foi tirado o muro
que separa o pecador de Deus.
Através desse sinal, Deus apresenta a morte de Jesus como morte sacrificial
expiatória, atestando que o Filho do Homem entregou sua vida como resgate por
muitos (Mt 20.28). É praticamente um sinal de que o culto sacrificial do AT fora
suspenso, o que acarretaria a decadência do templo judeu. Rasgando-se a
cortina, o templo deixava de ser a morada de Deus entre seu povo. Pela morte
de Jesus o templo, portanto, foi demolido, para que, ressuscitado após três dias,
edificasse o novo templo, não feito por mãos, de seu corpo transfigurado. Para
os sumo sacerdotes descrentes a ruptura da cortina visava ser um sinal de Deus
de que aquele que fora rejeitado por eles de fato era o Cristo e o Filho de Deus
e que o templo e seu culto, ao qual defendiam fanaticamente, estava fadado ao
desaparecimento.
Lucas acrescenta a esses dois episódios a última exclamação de Jesus, depois
do que faleceu imediatamente. A prece “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito!” evoca o Salmo 31.5, no qual falta, porém, a interpelação “Pai”. A
justificação no Sl 31 “Porque tu me redimiste, Senhor, Deus fiel!”[t.a.?] não é
repetida por Jesus em sua oração. Aquele salmo expressa a confiança total em
Deus, que salva do perigo de vida. Jesus, no entanto, expressa a consciência
plena da unidade não turbada com o Pai no céu, a cuja proteção ele, ao morrer,
confia sua vida terrena.
Lucas ainda informa acerca do impacto do sofrimento do Jesus moribundo sobre
os circunstantes. Primeiramente é citado o capitão romano, depois o povo e por
fim os adeptos do Senhor. Em concordância com Mateus e Marcos o presente
evangelista menciona o tipo de impressão que a morte do Senhor causou sobre
o capitão gentio que realizava a vigília na cruz. Conforme Lucas o gentio
declarou que “Este homem era justo”, que Jesus não era um malfeitor, como se
3. pensava. “O acontecido” visto pelo capitão não se refere apenas ao último grito
do Senhor pouco antes de morrer, mas a todo o comportamento de Jesus na
cruz. O capitão sabia agora que Jesus era mais que um justo. Porque na cruz
Jesus havia, por duas vezes, chamado Deus de seu Pai. Em decorrência,
conforme Mateus e Marcos o centurião também era capaz de testemunhar o
Senhor como Filho de Deus.
Ao complementar os relatos dos demais evangelistas, Lucas cita especialmente
a impressão da morte de Jesus sobre as multidões que haviam se aglomerado
para esse espetáculo. O termo theoria = “espetáculo” assinala a curiosidade que
atraiu a multidão. Bateram no peito e deram meia-volta quando presenciaram
esses fatos.
Os mesmos acontecimentos também foram vistos por todos os conhecidos do
Senhor, que estavam presentes em Jerusalém, e pelas mulheres que o haviam
seguido da Galileia. Mateus e Marcos igualmente se referem à presença das
mulheres, mencionando também seus nomes. As mulheres, já citadas
anteriormente por Lucas, são mencionadas por ele somente na ida até o sepulcro
na manhã da ressurreição (Lc 24.10). Enquanto o povo se afastava da cruz, os
amigos de Jesus aos poucos se reuniram em torno de seu corpo.