1. O CRISTÃO E O COMPROMISSO COM A CRUZ
INTRODUÇÃO:
Queridos irmãos e irmãs...
Hoje é o Último Domingo da Quaresma, conhecido como: “Domingo da
Paixão” ou “Domingo de Ramos”.
Hoje somos convidados a rememorar a chegada de Jesus a Jerusalém, e a
também refletirmos sobre a sua última semana como o messias encarnado, a
chamada “Semana Santa”.
Durante todo o período da Quaresma, incentivados pelas leituras propostas
pelo Lecionário Comum, de forma especial as leituras dos Evangelhos, vimos Jesus
e percorremos com ele uma longa jornada até aqui: cidade de Jerusalém.
No dia 13/02 (1º Domingo da Quaresma), no Culto Vespertino, refletimos
sobre a vitória de Jesus sobre as tentações, estudando o texto de Mateus 4,1-11.
Eu intitulei o sermão daquela noite de: “Jesus venceu as tentações do diabo, nós
também podemos vencer”.
No dia 20/02 (2º Domingo da Quaresma), inspirados pelo texto bíblico de Mt
17,1-9, refletimos sobre a “Transfiguração de Jesus” (título do sermão). Vimos que
num momento muito difícil da caminhada dos discípulos, quando receberam a
mensagem de que Jesus seria morto, parecia que tudo estava se acabando. Neste
momento, Jesus se revela aos discípulos como o “Filho de Deus”, manifestando
naquela montanha a Sua glória. Aprendemos que a nossa motivação como
discípulos de Jesus não deve estar nas circunstâncias, mas sim no poder e na glória
de Cristo.
No dia 27/02 (3º Domingo da Quaresma), refletimos sobre o diálogo de
Jesus com a mulher samaritana junto ao Poço de Jacó. Baseado do texto bíblico de
João 4,5-42, eu intitulei o sermão de: “Jesus a Água da Vida”.
No dia 06/03 (4º Domingo da Quaresma), devido aos Cultos Especiais,
dirigidos pela SMM (cultos estes que foram uma benção), não seguimos os textos
propostos pelo Lecionário, mas sim uma proposta litúrgica enviada pela “Ação
Ecumênica das Mulheres – Nova Década” em parceria com o CONIC (Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs). Gostaria, no entanto, de ressaltar que o texto do
Evangelho proposto para aquele domingo foi, João 9,1-41, que conta a história da
cura do cego de nascença. Nesse episódio bíblico Jesus se apresenta com a Luz do
Mundo.
Domingo passado, dia 13/03 (5º Domingo da Quaresma), motivados pela
leitura de João 11,1-45 refletimos sobre a ressurreição de Lázaro, onde intitulei o
sermão de : “Jesus tem poder para dar a verdadeira vida”.
2. Hoje (Ultimo Domingo da Quaresma) o Lecionário nos propõe a leitura de
dois textos do Evangelho.
O primeiro, relata a “Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém” (Mateus 21,1-
11), texto que lemos logo no início do culto. Este é um texto festivo que aclama
Jesus como Senhor e Rei. As declarações são: “Bendito o que vem em nome do
SENHOR”.
Já o segundo, Mateus 27,11-54, tem o gosto amargo da morte. Nele
contemplamos a paixão e a morte de Jesus.
Aqui vemos o ápice da dedicação de Jesus. Uma vida feita dom e serviço, a
fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão.
É na cruz que se revela o amor de Deus – esse amor que não guarda nada
para si, mas que se doa totalmente.
Portanto, neste último domingo da Quaresma quero convida-los a refletir
sobre este texto da Palavra de Deus: Mt 27,11-54.
Intitulei o sermão desta noite de: “O Cristão e o Compromisso com a Cruz”.
TEXTO: Mt 27,11-54
11 Jesus estava em pé ante o governador; e este o interrogou,
dizendo: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes.
12 E, sendo acusado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos,
nada respondeu.
13 Então, lhe perguntou Pilatos: Não ouves quantas acusações te
fazem?
14 Jesus não respondeu nem uma palavra, vindo com isto a admirar-
se grandemente o governador.
15 Ora, por ocasião da festa, costumava o governador soltar ao povo
um dos presos, conforme eles quisessem.
16 Naquela ocasião, tinham eles um preso muito conhecido, chamado
Barrabás.
17 Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem
quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo?
18 Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado.
19 E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te
envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu
respeito.
20 Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a
que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus.
21 De novo, perguntou-lhes o governador: Qual dos dois quereis que
eu vos solte? Responderam eles: Barrabás!
22 Replicou-lhes Pilatos: Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?
Seja crucificado! Responderam todos.
3. 23 Que mal fez ele? Perguntou Pilatos. Porém cada vez clamavam
mais: Seja crucificado!
24 Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário,
aumentava o tumulto, mandando vir água, lavou as mãos perante o
povo, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo ; fique o caso
convosco!
25 E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre
nossos filhos!
26 ¶ Então, Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a
Jesus, entregou -o para ser crucificado.
27 Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o
pretório, reuniram em torno dele toda a coorte.
28 Despojando -o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate;
29 tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão
direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam,
dizendo: Salve, rei dos judeus!
30 E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na
cabeça.
31 Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram
com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser
crucificado.
32 Ao saírem, encontraram um cireneu, chamado Simão, a quem
obrigaram a carregar-lhe a cruz.
33 ¶ E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da
Caveira,
34 deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando -o, não o quis
beber.
35 Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando
a sorte.
36 E, assentados ali, o guardavam.
37 Por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: ESTE É
JESUS, O REI DOS JUDEUS.
38 E foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro
à sua esquerda.
39 Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e
dizendo:
40 Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a
ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!
41 De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e
anciãos, escarnecendo, diziam:
42 Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel!
Desça da cruz, e creremos nele.
43 Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer
bem; porque disse: Sou Filho de Deus.
4. 44 E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que
haviam sido crucificados com ele.
45 Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a
terra.
46 Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli,
lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?
47 E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Ele chama por
Elias.
48 E, logo, um deles correu a buscar uma esponja e, tendo -a
embebido de vinagre e colocado na ponta de um caniço, deu-lhe a
beber.
49 Os outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo.
50 ¶ E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.
51 Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a
baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas;
52 abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam,
ressuscitaram;
53 e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram
na cidade santa e apareceram a muitos.
54 O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o
terremoto e tudo o que se passava, ficaram possuídos de grande temor
e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus.
CONTEXTO
Vamos entender um pouquinho o contexto.
Cada um dos quatro evangelistas, ao narrar a Paixão e Morte do Senhor,
acentua aspectos diferentes. Essas diferenças na apresentação, não são
contraditórias, mas se completam.
Como tenho afirmado em sermões anteriores, os evangelistas não tinham a
preocupação de narrar jornalisticamente os fatos. O que queriam era compor um
material pedagógico (fidedigno) que servisse no ensino e “doutrinamento” dos
seguidores de Cristo.
Mateus teve a sua forma de elaborar este material pedagógico, ou seja,
Evangelho.
Gostaria de compartilhar com vocês a estrutura literária utilizada por Mateus
ao escrever seu Evangelho;
Ele começa o seu evangelho apresentando quem é Jesus (Mt 1,1-4,22).
5. Logo após, ele apresenta a proposta de Jesus de um novo Reino. E isso ele o
faz através de citações dos ditos (logias – palavras) e dos gestos (ações – atitudes)
do Senhor (Mt 4,23-9,35).
Do anúncio desse “Reino” nasce a comunidade dos discípulos - isto é, um
grupo que assimila as propostas de Jesus (Mt 9,36-12,50).
Os discípulos (comunidade do Reino) recebem a missão de testemunhar este
“Reino”, após a partida de Jesus (Mt 13,1-17,27).
Depois disso Mateus vai apresentar a ruptura final de Jesus com o judaísmo
(Mt 18,1-25,46).
E por fim, ele vai narrar o final no ministério terreno de Jesus, ou seja, a
paixão, morte e ressurreição (Mt 26,1-28,15).
O texto que fizemos a leitura está inserido nesse último bloco. Trata-se do
relato que Mateus faz da paixão de Jesus de Nazaré.
MENSAGEM
Compartilhei com vocês a estrutura do Evangelho de Mateus, porque é
necessário entendermos a morte de Jesus, dentro do contexto daquilo que foi a sua
vida.
As vezes as pessoas pegam o texto bíblico, retiram-no do seu contexto e o
usam por pretexto. Nosso objetivo não é este. Queremos sim, entender a narração
da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, levando em conta o Evangelho como um
todo.
É importante ressaltar que desde cedo, Jesus compreendeu que o Pai o
chamara para a missão de anunciar um novo Reino, pautado pela justiça, paz e
amor.
Para que este fato se tornasse realidade, Jesus caminhou pela Palestina
“fazendo o bem” e anunciando a proximidade desse Reino de vida, de liberdade, de
paz e de amor para todos.
Ele ensinou que o Pai era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os
pecadores.
Ele ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não deviam ser
marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus.
Ele ensinou que os pobres e os excluídos tinham um coração mais disponível
para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (os poderosos, os instalados), de que o
egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, poderiam conduzí-los à morte.
À mensagem de Jesus era forte. Ela causava impacto.
Seu projeto entrou em choque com a atmosfera de egoísmo, de má vontade,
de opressão que dominava o mundo. E que acredito que domine hoje ainda.
6. As autoridades políticas e religiosas da época sentiram-se incomodadas com
a mensagem de Jesus. Por isso, mandaram prende-lo, realizaram um julgamento
injusto, e depois o condenaram à morte numa cruz.
A morte do Senhor é a conseqüência lógica de sua pregação.
Podemos dizer também, que a morte de Jesus na cruz do Calvário, é a
afirmação mais radical e verdadeira daquilo que ele pregou com palavras e com
gestos durante toda a sua vida.
APLICAÇÃO PASTORAL
Vejamos algumas lições que podemos aprender:
Primeiramente gostaria de afirmar que este é um texto diante do qual
deveríamos nos abismar em contemplação a um Deus que por amor se tornou frágil,
se humilhou e se entregou ao Mundo.
Como nos afirma João em seu Evangelho: “Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Foi o por amor que Jesus veio ao nosso encontro, assumindo os limites e as
fragilidades da vida humana, experimentando a fome, o sono, o cansaço,
conhecendo a armadilha das tentações e temendo a morte.
Como fruto desse grande amor, ganhamos a Vida Plena.
Esta é verdadeiramente uma “Love History”, ou seja, História de Amor.
Olhar para a cruz, onde se manifestou o grande amor e a entrega total de
Jesus pela humanidade, deve nos levar a um compromisso muito sério.
Como ele mesmo nos afirmou: “Quem quiser vir após mim, negue-se a si
mesmo. Tome sua cruz e siga-me”.
Que ao olharmos para a cruz do Mestre, possamos assumir a nossa própria
cruz, seguindo o seu exemplo de amor e dedicação.
Quero convidá-los a assumir compromisso com a cruz de Cristo.
Meu convite não é apenas a cantarmos, falarmos ou refletirmos sobre a Cruz
de Cristo. Meu desafio é que assumamos a nossa própria cruz como ato de
obediência às palavras de Jesus.
É no dia a dia, que provamos nosso compromisso com a Cruz. Ser cristão é
ser comprometido com a Cruz de Cristo.
Gostaria de concluir o sermão, deixando com você uma leitura da Palavra de
Deus que se encontra em 1 Coríntios 1,18-25.
Que esta Palavra lida neste momento, possa frutificar em sua vida, esse é o
meu desejo, em nome de Jesus.
7. Ouçamos a leitura do texto bíblico:
18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem,
mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.
19 Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a
inteligência dos instruídos.
20 Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste
século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?
21 Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por
sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela
loucura da pregação.
22 Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam
sabedoria;
23 mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus,
loucura para os gentios;
24 mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos,
pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
25 Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
Comprometamo-nos com a loucura da Cruz, pois ela é a Sabedoria de Deus.
Aleluia!!!
Rev. Paulo Dias Nogueira
Catedral Metodista de Piracicaba
Culto Vespertino – 20/03//2005