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©Edições ASA | 2020 − Alice Amaro – Novas Leituras 1
NOME ________________________________________________ DATA ___/ ___/ 20__
GRUPO I
Lê o texto. Se necessário, consulta o vocabulário.
Texto A
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
O DIREITO À INVEJA
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Em Portugal, há um problema com a inveja. Em concreto, há um problema com a
grande quantidade de gente a queixar-se de ser invejada.
Ao vivo ou por email, em privado ou em programas de televisão, há sempre alguém a
lamentar-se dos invejosos: não podem ver nada, são uma praga que não descansa.
Quem recebe esse desabafo é sempre solidário, demonstra saber exatamente o que o
outro está a passar, também ele já foi muito invejado.
Entre outras consequências, a paranoia da inveja generalizada propiciou o
nascimento de uma modéstia entre aspas. Disfarçada de virtude, essa “modéstia” é medo
dos outros, também pode ser desinteresse pelos outros ou falta de convicção no próprio
valor.
A inveja só chega ao invejado se este permitir, se estiver vulnerável1
, se não estiver
preparado. Em Portugal, há demasiadas pessoas a alimentarem o equívoco2
de que
todos têm de gostar delas.
A inveja é um sentimento. Se respeitamos os outros, é elementar reconhecer-lhes
liberdade para sentirem. Essa, parece-me, é a primeira característica de existir, de ser
alguém e de ter um nome. Não nos compete decidir acerca daquilo que os outros devem
sentir.
Além disso, é improvável que consigamos saber com precisão aquilo que os outros
estão a sentir. A não ser que estejamos convencidos de que os outros são um reflexo
nosso, como um espelho que reproduz até o invisível. Nesse caso, a inveja que lhes
imaginamos é, afinal, a nossa.
2. PORTUGUÊS – TESTE DE AVALIAÇÃO N.O
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A inveja deveria ser legalizada ou, pelo menos, despenalizada3
. Como as drogas
leves, faz mal apenas a quem a consome. Devidamente informado dos efeitos, o invejoso
faria um uso muito mais consciente dessa substância e, assumindo-se, não precisaria de
frequentar meios pouco recomendáveis que, com facilidade, agravam a sua situação e
potenciam consumos mais pesados e destrutivos.
Mas isso seria noutra realidade. Aqui, os invejosos são espectrais4
. Quando alguém
apresenta uma fotografia, quando alguém garante possuir provas da existência desses
fantasmas, a imagem está sempre desfocada e fica-se sempre na dúvida se será
realmente um invejoso ou apenas um defeito de revelação.
Com tantos a serem invejados, sobram poucos para se dedicarem a invejar. Talvez
esse seja um ofício em vias de extinção, como os amola-tesouras.
in Notícias Magazine,08/05/2016 –
http://www.noticiasmagazine.pt/2016/o-direito-a-inveja/(acedido em 14/10/2020).
VOCABULÁRIO
1 vulnerável: frágil; indefeso.
2
equívoco: engano.
3
despenalizada: isenta de penalização.
4
espectrais: fantasmagóricos.
1. Seleciona, em cada item, a alínea que completa cada frase de forma adequada,
de acordo com o sentido do texto.
1.1. A expressão “são uma praga que não descansa” (linha 4) refere-se aos
(A) programas de televisão.
(B) que se lamentam dos invejosos.
(C) invejosos.
(D) que são invejados.
1.2. Na expressão “propiciou o nascimento de uma modéstia entre aspas.” (linhas 7-
-8), José Luís Peixoto pretende evidenciar
(A) o aparecimento de um novo sentimento.
(B) uma das consequências da inveja.
(C) a humildade das pessoas.
(D) a ausência de humildade das pessoas.
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1.3. De acordo com as afirmações do autor nos 5.º e 6.º parágrafos, a inveja é
(A) um sentimento desprezível.
(B) algo a que todas as pessoas têm direito.
(C) prejudicial a quem é invejoso.
(D) um sentimento que não existe.
1.4. Com a frase “Com tantos a serem invejados, sobram poucos para se
dedicarem a invejar.” (linha 31), o autor pretende dizer que
(A) não há invejosos, mas apenas vítimas de inveja.
(B) há mais pessoas a serem invejadas do que invejosos.
(C) as pessoas tendem a afirmar que são invejadas.
(D) a inveja está cada vez mais presente no dia a dia.
1.5. A frase “Talvez esse seja um ofício em vias de extinção, como os amola-
-tesouras.” (linhas 31-32) contém
(A) uma metáfora e uma comparação.
(B) uma hipérbole e uma comparação.
(C) uma metáfora e uma hipérbole.
(D) uma ironia e uma personificação.
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Texto B
Lê o texto. Se necessário, consulta o vocabulário.
A Galinha
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Minha mãe e minha tia foram à feira. Minha mãe com o meu pai e minha tia com o
meu tio. Mas todos juntos. Na camioneta da carreira. Na feira compraram muitas coisas
e a certa altura minha mãe viu uma galinha e disse:
– Olha que galinha engraçada.
E comprou-a também. Estava agachada como se a pôr ovos ou a chocá-los. Era
castanha nas asas, menos castanha para o pescoço, e a crista e o bico tinham a cor de
um bico e de uma crista. Nas costas levara um corte a toda a volta para se formar uma
tampa e meterem coisas dentro, porque era uma galinha de barro. Minha tia, que se
tinha afastado, veio ver, estava a minha mãe a pagar depois de discutir. E perguntou
quanto custava. A mulher disse que vinte mil réis, minha tia começou aos berros, que
aquilo só se o fosse roubar, e a mulher vendeu-lhe uma outra igual por sete mil e
quinhentos. Minha mãe aí não se conformou, porque tinha regateado mas só
conseguira baixar para doze e duzentos. A mulher disse:
– Foi por ser a última, minha senhora.
Minha tia confrontou as duas galinhas, que eram iguais, achando que a de minha
mãe era diferente.
– Só se foi por ser mais cara – disse minha mãe com a ironia que pôde.
Minha tia aqui voltou a erguer a voz. Não se via que era diferente? Não se via que
tinha o bico mais perfeito? E o rabo?
– Isto é lá rabo que se compare?
E tais coisas disse e tantas, com gente já a chegar-se, que minha mãe pôs fim ao
sermão, por não gostar de trovoadas:
– Mas se gostas mais desta, leva-a, mulher.
Foi o que ela quis ouvir. Trocou logo as galinhas, mas ainda disse:
– Mas sempre te digo que a minha é de mais dura, basta bater-lhe assim (bateu)
para se ver que é mais forte.
– Então fica com ela outra vez – disse minha mãe.
– Não, não. Trafulhices, não. Está trocada, está trocada.
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Meu tio estava a assistir mas não dizia nada, porque minha tia dizia tudo por ele e,
se dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia engolia-o. Meu pai também estava
a assistir, mas também não dizia nada, por entender que aquilo era assunto de
mulheres. Acabadas as compras, minha mãe voltou logo com o meu pai na carroça do
António Capador, que tinha ido vender um porco. Mas a minha tia ficava ainda com o
meu tio, porque precisavam de ir visitar a D. Aurélia, que era uma pessoa importante e
merecia por isso uma visita para se ser também um pouco importante. E como ficavam
e só voltavam na camioneta da carreira, a minha tia pediu a minha mãe que ela lhe
trouxesse a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado1
, que até se
podia partir. [...]
Minha mãe trouxe, pois, as duas galinhas na carroça do António Capador, e a
minha tia ficou.
Vergílio Ferreira, Contos, “A Galinha”, Quetzal, 2009.
VOCABULÁRIO:
1 braçado: nos braços.
2. A compra da galinha de barro provocou, desde o início, um mal-estar entre a mãe e a
tia do narrador.
2.1. Comprova a veracidade da afirmação anterior.
3. Explicita o valor expressivo das sucessivas interrogações da tia (linhas 18-20),
evidenciando dois traços do seu carácter.
4. “minha mãe pôs fim ao sermão, por não gostar de trovoadas” (linhas 21-22).
4.1. Esclarece o sentido desta afirmação, usando palavras tuas.
5. Relê o penúltimo parágrafo (linhas 29-38).
5.1. Transcreve um exemplo de ironia, explicitando o seu valor expressivo.
6. “A galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha.”
6.1. Explicita o sentido do provérbio, relacionando-o com o texto que leste.
6. PORTUGUÊS – TESTE DE AVALIAÇÃO N.O
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GRUPO II
Ainda que possa haver pessoas como a tia do narrador, há também
aquelas que nos marcam pela sua generosidade ou de qualquer outra maneira
positiva.
Escreve um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 160 e um
máximo de 260 palavras, em que:
apresentes uma pessoa que te tenha marcado positivamente;
fundamentes a tua escolha em, pelo menos, três razões;
indiques algo que pudesses fazer para demonstrar a tua gratidão.