O documento resume um conto de José Saramago sobre um homem que pede emprestado um barco a um rei para ir à procura de uma ilha desconhecida. Apesar de receoso, o rei empresta o barco. No entanto, o homem só consegue recrutar uma tripulante, a mulher da limpeza do palácio, que se apaixona por ele. Juntos, preparam a viagem à ilha desconhecida.
2. Resumo
Um homem foi ter com o rei e pediu-lhe um barco. Como de costume, o rei não
se interessava pela porta dos pedidos, pois passava grande parte do seu tempo
na porta dos obséquios, e por isso não abria a porta. Na realidade, das vezes em
que a porta se abria, o rei mandava recado pelos seus inúmeros empregados,
que iam passando mensagem uns aos outros, até chegar à mulher da limpeza.
Ora, esta, como não tinha a quem passar palavra, despachava os pedidos
conforme lhe apetecesse ou não.
Porém, daquela vez foi diferente, pois em vez de o homem declarar o que queria
à mulher da limpeza, exigiu falar directamente com o rei; e deitou-se na
entrada, impedindo caminho, à espera. Passado três dias, o rei, que tinha ficado
sem obséquios por causa dos protestos da população devido à espera, dirigiu-se
à porta dos pedidos.
3. Quando o homem disse que queria um barco para ir em busca da ilha
desconhecida, o rei riu e recusou emprestar o barco. Contudo, a gente reunida à
porta que estava impaciente com a demora, querendo despachar o homem,
apoiou-o e clamou a seu favor. Então, o rei, não tendo outra alternativa, cedeu o
barco ao homem e mandou-o às docas falar com o capitão.
O homem agradeceu, se bem que preocupado, pois o rei não lhe tinha
concedido uma tripulação. Melhor dizendo, uma tripulante, ele já tinha – A
mulher da limpeza, que, fascinada com a ideia de ir navegar, saiu do palácio pela
porta das decisões e foi atrás do homem. Quando ele chegou às docas e o
capitão lhe mostrou o seu barco, ela apareceu e pediu-lhe que a contratasse. O
homem assim o fez, e encarregou-a de ir limpar o barco enquanto ele procurava
por marinheiros.
4. Nessa mesma noite, o homem voltou ao barco, mas não trazia ninguém consigo,
pois nenhum navegante queria ir à procura de uma ilha desconhecida. O
homem e a mulher encontravam-se sozinhos, e portanto foram jantar. Entre
eles, começou a nascer um clima de romance, pois o homem começava a gostar
da mulher da limpeza. Ela, porém, achava que ele só tinha olhos para a ilha, e
não se apercebeu de que ele sentia o mesmo que ela.
E quando ambos se foram deitar para os seus beliches, o homem sonhou.
Sonhou que estava em alto mar na sua caravela, com vários homens, mulheres e
até animais. Porém, em nenhum lugar encontrava a sua mulher da limpeza. Isto
assustou-o, e quando acordou, deu consigo ao lado dela, os dois abraçados no
mesmo beliche. No dia seguinte, pintaram a proa do barco com o nome “Ilha
desconhecida” a letras brancas e fizeram-se ao mar.
5. Comentário
A leitura deste conto permitiu-me fazer várias reflexões.
Foi o primeiro texto que li de José Saramago, e isso permitiu-me concluir que
este escritor tinha uma forma muito pessoal de escrita; não só porque usava
poucos sinais de pontuação, mas também porque escrevia com frontalidade, e
via a nossa sociedade sem eufemismos, isto é, de forma realista. Além disso, ao
usar determinadas expressões, muitas vezes irónicas, Saramago mostra-nos a
sua própria opinião sobre as personagens do texto. Neste conto, o homem é a
figura serena e o rei é a personagem ridicularizada. Estes aspectos fizeram-me
gostar da sua escrita.
Por outro lado, a escrita de Saramago pode tornar-se confusa de decifrar, pelo
que foi preciso estar atenta à leitura.
6. Em relação ao assunto do conto, creio que a princípio, esta viagem à ilha
desconhecida parecia muito sólida; porém, ao chegar a certo ponto da história,
expressões como “todo o homem é uma ilha” e “se não sais de ti, não chegas a
saber quem és” fizeram-me crer que toda esta viagem era apenas uma forma de
o homem da história se encontrar a si mesmo. Isto porque no final, o homem
não encontra uma ilha desconhecida, mas sim um grande amor – A mulher da
limpeza. Este foi o único aspecto que me desapontou, pois esperava uma viagem
a sério. Em vez disso, a história incidiu sobre uma viagem interior, um homem à
procura de si próprio.
O aspecto positivo é que esta é uma narrativa de acção aberta, pelo que nos
permite decidir sobre o qual será o rumo da história. Eu opto por pensar que o
homem e a mulher da limpeza, após fazerem preparativos, se fizeram ao mar,
desta vez para procurarem uma ilha a sério.