SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
Análise de poemas de Álvaro de Campos
“Apontamento”
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
1. Explique o sentido da comparação inicial.
A comparação da alma com o “vaso vazio” remete, de imediato, para
um sentido de privação, de ausência de um conteúdo. Tal como o
vaso que, por estar vazio, se torna inútil, a alma do sujeito poético
sente-se, igualmente, sem utilidade, sem valor. E se o vaso vazio fica
em cacos, a alma também sentira a sua fragmentação.
2. Refira as sensações representadas ao longo do
poema.
No poema encontram-se representadas sensações visuais que
permitem captar “um vazo vazio” a cair pelas escadas, das mãos da
criada, ou o “espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir”
e o caco que brilha “virado do exterior lustroso”.
Há a sensação auditiva, quando se diz “Fiz barulho na queda”.
Podemos também referir a sugestão de uma sensação táctil em “Caiu
das mãos da criada” ou em “Os deuses que há debruçam-se do
parapeito da escada”.
3. Identifique dois sentimentos do “eu” expressos e
sugeridos pelas sensações.
O sujeito poético te, antes da fragmentação, um sentido de
inutilidade, de insignificância, sentindo-se como “um vaso vazio”.
Depois tem “mais sensações” do que tinha, mas todas elas lhe
causam um sentimento de frustração. Sente que não passa de “um
espalhamento de cacos” “absurdamente conscientes”, que fazem
“barulho na queda”, e que os deuses “fitam”.
Perante a tolerância dos deuses com a criada, que “olham e sorriem”,
parece que o desapontamento é maior. Sente em pedaços a sua obra,
a sua alma, a sua vida.
No fim, sente que nada vale, que não merece qualquer consideração,
sendo um resto, “um caco” que os deuses olham “especialmente,
pois não sabem porque ficou ali.
4. Explicite o papel atribuído á criada
A criada aparece como intermediária da vontade dos deuses. Ela
destrói involuntariamente o vaso, não é responsável, mas um
instrumento nas mãos dos deuses.
Os deuses que “olham e sorriem”, numa atitude de desdém pelo vaso
partido, ou seja, pela alma do sujeito poético transformada em cacos,
“Sorriem tolerantes á criada involuntária”.
“Reticências”
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer
coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem
que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio
da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distracção de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...
1. Indique as relações de sentido que se estabelecem
entre os primeiros versos.
Álvaro de Campos promete “pôr prateleiras na vontade e na acção”.
Quer, “como sempre quis”, pôr as suas vontades e acções arrumadas.
Quanto á vontade, fica pelo “propósito claro” de querer fazer, de
“arrumar a vida”; quanto á acção, dá já a perceber que o resultado
permanece como sempre, ou seja, sem qualquer concretização.
2. Explique como se concretiza a atitude de “Organizar
Álvaro de Campos”.
A intenção de “organizar” mantém-se como vontade, mas a
concretização parece mais difícil. É o próprio que reconhece que tudo
se vai manter na mesma. Daí a constatação de que “ não arrumei
nem uma coisa nem outra…”, e de que os outros fazem o mesmo. Por
isso, considerando-se um “produto romântico”, sorri do
“conhecimento antecipado” do que vai suceder, ou seja, da não
concretização do seu propósito.
3. Explicite dois valores expressivos da imagem
“Rodinha dentada na relojoaria da economia politica”
Por um lado, a “vendedeira” participa, com o seu pregão e a sua
actividade, na economia do país; por outro lado, ela apresenta-se
como potencial mãe daqueles que contribuíram para a existencia do
império. Foi sempre uma “Rodinha” na maquina da vida.
4. Mostre em que medida se observa, neste poema, a
angústia metafisica e o cansaço do sujeito poético.
O sujeito poético tem vontade, mas não consegue alterar as
situações, constatando que os outros agem da mesma forma. Não
consegue organizar a sua vida, pois já não controla a vontade.
Além disso, deixou de crer em qualquer coisa, sentindo o destino
como algo que o acompanha. Daí o cansaço angustiado, comparado a
“um barco velho que apodrece na praia deserta”.
5. Comente a importância da comparação final com
“um deus”.
O “eu” poético conclui que a sua atitude de nada ter feito ou
concretizado o assemelha a um deus que não precisa de arrumar
nada para ser deus.
Aborde, em cuidadas composições, os seguintes
assuntos, atendendo a alguns dos tópicos colocados
na coluna da direita.
Questão Tópicos Resposta
“Eu, de resto, nem sou
intersecionista (ou
paúlico) nem futurista.
Sou eu, apenas eu,
preocupado apenas
comigo e com as
minhas sensações”
• Primeiro, o
sensacionista
das grandes
odes.
• O modernista
por
excelência.
• O poeta do
verso
torrencial e
livre.
• O cantor das
cidades e do
cosmopolitis
mo que cita o
futurismo.
• O cultor das
sensações
sem limite.
• Depois, o
poeta em que
o tema do
cansaço se
torna fulcral.
• O poeta da
condição
humana

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Antero de Quental
Antero de QuentalAntero de Quental
Antero de Quental010693
 
Memorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por CapítulosMemorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por CapítulosRui Matos
 
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadasEstrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadasclaudiarmarques
 
Caracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de Sousa
Caracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de SousaCaracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de Sousa
Caracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de Sousananasimao
 
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaResumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaRaffaella Ergün
 
D. João de Portugal-Frei Luis de Sousa
D. João de Portugal-Frei Luis de SousaD. João de Portugal-Frei Luis de Sousa
D. João de Portugal-Frei Luis de Sousananasimao
 
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análiseAlberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análiseAnabela Fernandes
 
Memorial do Convento - Cap. V
Memorial do Convento - Cap. VMemorial do Convento - Cap. V
Memorial do Convento - Cap. V12º A Golegã
 
Características Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de CamposCaracterísticas Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de CamposDina Baptista
 
ComemD. João I in Mensagem, de Fernando Pessoa
ComemD. João I in  Mensagem, de Fernando Pessoa ComemD. João I in  Mensagem, de Fernando Pessoa
ComemD. João I in Mensagem, de Fernando Pessoa Ana Cristina Matias
 
Poema Apontamento de Álvaro de Campos
Poema Apontamento de Álvaro de CamposPoema Apontamento de Álvaro de Campos
Poema Apontamento de Álvaro de CamposOxana Marian
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralHelena Coutinho
 
Memorial do Convento - Cap. III
Memorial do Convento - Cap. IIIMemorial do Convento - Cap. III
Memorial do Convento - Cap. III12º A Golegã
 
Alberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicasAlberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicasAnabela Fernandes
 

Mais procurados (20)

Ceifeira
CeifeiraCeifeira
Ceifeira
 
Antero de Quental
Antero de QuentalAntero de Quental
Antero de Quental
 
Memorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por CapítulosMemorial- Análise por Capítulos
Memorial- Análise por Capítulos
 
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadasEstrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
 
Caracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de Sousa
Caracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de SousaCaracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de Sousa
Caracteristicas trágicas e romanticas da obra-Frei Luis de Sousa
 
Lusiadas 10º ano
Lusiadas 10º anoLusiadas 10º ano
Lusiadas 10º ano
 
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaResumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
 
Fernando Pessoa-Ortónimo
Fernando Pessoa-OrtónimoFernando Pessoa-Ortónimo
Fernando Pessoa-Ortónimo
 
D. João de Portugal-Frei Luis de Sousa
D. João de Portugal-Frei Luis de SousaD. João de Portugal-Frei Luis de Sousa
D. João de Portugal-Frei Luis de Sousa
 
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análiseAlberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análise
 
Memorial do Convento - Cap. V
Memorial do Convento - Cap. VMemorial do Convento - Cap. V
Memorial do Convento - Cap. V
 
Características Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de CamposCaracterísticas Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de Campos
 
Amor de perdição
Amor de perdiçãoAmor de perdição
Amor de perdição
 
Capítulo i
Capítulo iCapítulo i
Capítulo i
 
Autopsicografia e Isto
Autopsicografia e IstoAutopsicografia e Isto
Autopsicografia e Isto
 
ComemD. João I in Mensagem, de Fernando Pessoa
ComemD. João I in  Mensagem, de Fernando Pessoa ComemD. João I in  Mensagem, de Fernando Pessoa
ComemD. João I in Mensagem, de Fernando Pessoa
 
Poema Apontamento de Álvaro de Campos
Poema Apontamento de Álvaro de CamposPoema Apontamento de Álvaro de Campos
Poema Apontamento de Álvaro de Campos
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geral
 
Memorial do Convento - Cap. III
Memorial do Convento - Cap. IIIMemorial do Convento - Cap. III
Memorial do Convento - Cap. III
 
Alberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicasAlberto caeiro biografia e caracteristicas
Alberto caeiro biografia e caracteristicas
 

Destaque

Genetics Chapter 24:Conservation Genetics
Genetics Chapter 24:Conservation Genetics Genetics Chapter 24:Conservation Genetics
Genetics Chapter 24:Conservation Genetics Paula Marie Llido
 
Intrroduction to environmental studies amtd
Intrroduction to environmental studies amtdIntrroduction to environmental studies amtd
Intrroduction to environmental studies amtdRajendran Jhansi
 
conservation of natural resources
conservation of natural resourcesconservation of natural resources
conservation of natural resourcesmrunal asatkar
 
Population genetics
Population geneticsPopulation genetics
Population geneticsJwalit93
 
Introduction of Animal Genetics & History of Genetics
Introduction of Animal Genetics & History of GeneticsIntroduction of Animal Genetics & History of Genetics
Introduction of Animal Genetics & History of GeneticsAashish Patel
 
B.sc. agri i pog unit 4 population genetics
B.sc. agri i pog unit 4 population geneticsB.sc. agri i pog unit 4 population genetics
B.sc. agri i pog unit 4 population geneticsRai University
 
Mutacionet gjenetike
Mutacionet gjenetikeMutacionet gjenetike
Mutacionet gjenetikeamla hoxha
 
Essential Biology 4.3 Theoretical Genetics
Essential Biology 4.3 Theoretical GeneticsEssential Biology 4.3 Theoretical Genetics
Essential Biology 4.3 Theoretical GeneticsStephen Taylor
 
Punim seminarik
Punim seminarikPunim seminarik
Punim seminarikBJashari
 
Ligjet e Mendelit
Ligjet e MendelitLigjet e Mendelit
Ligjet e MendelitAldo Keçi
 
human genetics and population genetics
human genetics and population geneticshuman genetics and population genetics
human genetics and population geneticsDEEPAK SAINI
 
Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...
Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...
Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...lira kuca
 
Mjedisi armela-braka
Mjedisi armela-brakaMjedisi armela-braka
Mjedisi armela-brakaMegi Braka
 
Sëmundjet gjenetike
Sëmundjet gjenetikeSëmundjet gjenetike
Sëmundjet gjenetikeXhuLia Muca
 
Population genetics with qs
Population genetics with qsPopulation genetics with qs
Population genetics with qstas11244
 
Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...
Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...
Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...Eva Kajushi
 
Hardy weinberg powerpoint
Hardy weinberg powerpointHardy weinberg powerpoint
Hardy weinberg powerpointjhadachek
 

Destaque (20)

Genetics Chapter 24:Conservation Genetics
Genetics Chapter 24:Conservation Genetics Genetics Chapter 24:Conservation Genetics
Genetics Chapter 24:Conservation Genetics
 
Intrroduction to environmental studies amtd
Intrroduction to environmental studies amtdIntrroduction to environmental studies amtd
Intrroduction to environmental studies amtd
 
conservation of natural resources
conservation of natural resourcesconservation of natural resources
conservation of natural resources
 
Citology
CitologyCitology
Citology
 
Population genetics
Population geneticsPopulation genetics
Population genetics
 
Introduction of Animal Genetics & History of Genetics
Introduction of Animal Genetics & History of GeneticsIntroduction of Animal Genetics & History of Genetics
Introduction of Animal Genetics & History of Genetics
 
Ore mesimore tik
Ore mesimore tikOre mesimore tik
Ore mesimore tik
 
B.sc. agri i pog unit 4 population genetics
B.sc. agri i pog unit 4 population geneticsB.sc. agri i pog unit 4 population genetics
B.sc. agri i pog unit 4 population genetics
 
Mutacionet gjenetike
Mutacionet gjenetikeMutacionet gjenetike
Mutacionet gjenetike
 
Essential Biology 4.3 Theoretical Genetics
Essential Biology 4.3 Theoretical GeneticsEssential Biology 4.3 Theoretical Genetics
Essential Biology 4.3 Theoretical Genetics
 
Punim seminarik
Punim seminarikPunim seminarik
Punim seminarik
 
Ligjet e Mendelit
Ligjet e MendelitLigjet e Mendelit
Ligjet e Mendelit
 
human genetics and population genetics
human genetics and population geneticshuman genetics and population genetics
human genetics and population genetics
 
Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...
Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...
Presentation1 Qeliza dhe ndertimi i saj Arjola Mullai shkolla "Albanet" klasa...
 
Mjedisi armela-braka
Mjedisi armela-brakaMjedisi armela-braka
Mjedisi armela-braka
 
Sëmundjet gjenetike
Sëmundjet gjenetikeSëmundjet gjenetike
Sëmundjet gjenetike
 
Population genetics with qs
Population genetics with qsPopulation genetics with qs
Population genetics with qs
 
Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...
Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...
Biologjia bota e rruazoreve gjitaret...
 
Hardy weinberg powerpoint
Hardy weinberg powerpointHardy weinberg powerpoint
Hardy weinberg powerpoint
 
Population genetics
Population geneticsPopulation genetics
Population genetics
 

Semelhante a Álvaro de Campos: o poeta das sensações

Especial água viva
Especial água vivaEspecial água viva
Especial água vivaAna Batista
 
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]mafia888
 
Uma Conversa Diferente
Uma Conversa DiferenteUma Conversa Diferente
Uma Conversa Diferenteelvandroburity
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79luisprista
 
Análise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaAnálise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaMargarida Rodrigues
 
Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)
Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)
Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)AMEOPOEMA Editora
 
Antologia minicurso ead_amador_fev._2011
Antologia minicurso ead_amador_fev._2011Antologia minicurso ead_amador_fev._2011
Antologia minicurso ead_amador_fev._2011Alberto Hans Hans
 
Tabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de CamposTabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de CamposAMLDRP
 
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto CaeiroAna Beatriz
 
Suplemento Acre edição 008
Suplemento Acre edição 008Suplemento Acre edição 008
Suplemento Acre edição 008AMEOPOEMA Editora
 

Semelhante a Álvaro de Campos: o poeta das sensações (20)

Especial água viva
Especial água vivaEspecial água viva
Especial água viva
 
Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
 
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
 
Uma Conversa Diferente
Uma Conversa DiferenteUma Conversa Diferente
Uma Conversa Diferente
 
Asas do Intento
Asas do IntentoAsas do Intento
Asas do Intento
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79
 
Análise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaAnálise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando Pessoa
 
Alberto Caeiro
Alberto CaeiroAlberto Caeiro
Alberto Caeiro
 
heteronimos
heteronimosheteronimos
heteronimos
 
Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)
Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)
Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)
 
340 an 13_julho_2011.okok
340 an 13_julho_2011.okok340 an 13_julho_2011.okok
340 an 13_julho_2011.okok
 
Antologia minicurso ead_amador_fev._2011
Antologia minicurso ead_amador_fev._2011Antologia minicurso ead_amador_fev._2011
Antologia minicurso ead_amador_fev._2011
 
Tabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de CamposTabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de Campos
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
resumos
resumosresumos
resumos
 
Revista literatas edição 15
Revista literatas   edição 15Revista literatas   edição 15
Revista literatas edição 15
 
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
 
Suplemento Acre edição 008
Suplemento Acre edição 008Suplemento Acre edição 008
Suplemento Acre edição 008
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 

Último

UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptxthaisamaral9365923
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasraveccavp
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptxLinoReisLino
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 

Último (20)

UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 

Álvaro de Campos: o poeta das sensações

  • 1. Análise de poemas de Álvaro de Campos “Apontamento” A minha alma partiu-se como um vaso vazio. Caiu pela escada excessivamente abaixo. Caiu das mãos da criada descuidada. Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso. Asneira? Impossível? Sei lá! Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu. Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir. Fiz barulho na queda como um vaso que se partia. Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada. E fitam os cacos que a criada deles fez de mim. Não se zanguem com ela. São tolerantes com ela. O que era eu um vaso vazio? Olham os cacos absurdamente conscientes, Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles. Olham e sorriem. Sorriem tolerantes à criada involuntária. Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas. Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros. A minha obra? A minha alma principal? A minha vida? Um caco. E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali. 1. Explique o sentido da comparação inicial. A comparação da alma com o “vaso vazio” remete, de imediato, para um sentido de privação, de ausência de um conteúdo. Tal como o vaso que, por estar vazio, se torna inútil, a alma do sujeito poético sente-se, igualmente, sem utilidade, sem valor. E se o vaso vazio fica em cacos, a alma também sentira a sua fragmentação. 2. Refira as sensações representadas ao longo do poema. No poema encontram-se representadas sensações visuais que permitem captar “um vazo vazio” a cair pelas escadas, das mãos da criada, ou o “espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir” e o caco que brilha “virado do exterior lustroso”. Há a sensação auditiva, quando se diz “Fiz barulho na queda”. Podemos também referir a sugestão de uma sensação táctil em “Caiu das mãos da criada” ou em “Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada”. 3. Identifique dois sentimentos do “eu” expressos e sugeridos pelas sensações.
  • 2. O sujeito poético te, antes da fragmentação, um sentido de inutilidade, de insignificância, sentindo-se como “um vaso vazio”. Depois tem “mais sensações” do que tinha, mas todas elas lhe causam um sentimento de frustração. Sente que não passa de “um espalhamento de cacos” “absurdamente conscientes”, que fazem “barulho na queda”, e que os deuses “fitam”. Perante a tolerância dos deuses com a criada, que “olham e sorriem”, parece que o desapontamento é maior. Sente em pedaços a sua obra, a sua alma, a sua vida. No fim, sente que nada vale, que não merece qualquer consideração, sendo um resto, “um caco” que os deuses olham “especialmente, pois não sabem porque ficou ali. 4. Explicite o papel atribuído á criada A criada aparece como intermediária da vontade dos deuses. Ela destrói involuntariamente o vaso, não é responsável, mas um instrumento nas mãos dos deuses. Os deuses que “olham e sorriem”, numa atitude de desdém pelo vaso partido, ou seja, pela alma do sujeito poético transformada em cacos, “Sorriem tolerantes á criada involuntária”. “Reticências” Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção. Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado; Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa! Vou fazer as malas para o Definitivo, Organizar Álvaro de Campos, E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre... Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei. Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir... Produtos românticos, nós todos... E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada. Assim se faz a literatura... Santos Deuses, assim até se faz a vida! Os outros também são românticos, Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres, Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar, Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos, Os outros também são eu. Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente, Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
  • 3. Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios, A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida... Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela, Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela, E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica. Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar, Fitei de frente todos os destinos pela distracção de ouvir apregoando, E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta, E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema... Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra... 1. Indique as relações de sentido que se estabelecem entre os primeiros versos. Álvaro de Campos promete “pôr prateleiras na vontade e na acção”. Quer, “como sempre quis”, pôr as suas vontades e acções arrumadas. Quanto á vontade, fica pelo “propósito claro” de querer fazer, de “arrumar a vida”; quanto á acção, dá já a perceber que o resultado permanece como sempre, ou seja, sem qualquer concretização. 2. Explique como se concretiza a atitude de “Organizar Álvaro de Campos”. A intenção de “organizar” mantém-se como vontade, mas a concretização parece mais difícil. É o próprio que reconhece que tudo se vai manter na mesma. Daí a constatação de que “ não arrumei nem uma coisa nem outra…”, e de que os outros fazem o mesmo. Por isso, considerando-se um “produto romântico”, sorri do “conhecimento antecipado” do que vai suceder, ou seja, da não concretização do seu propósito. 3. Explicite dois valores expressivos da imagem “Rodinha dentada na relojoaria da economia politica” Por um lado, a “vendedeira” participa, com o seu pregão e a sua actividade, na economia do país; por outro lado, ela apresenta-se como potencial mãe daqueles que contribuíram para a existencia do império. Foi sempre uma “Rodinha” na maquina da vida. 4. Mostre em que medida se observa, neste poema, a angústia metafisica e o cansaço do sujeito poético. O sujeito poético tem vontade, mas não consegue alterar as situações, constatando que os outros agem da mesma forma. Não consegue organizar a sua vida, pois já não controla a vontade. Além disso, deixou de crer em qualquer coisa, sentindo o destino como algo que o acompanha. Daí o cansaço angustiado, comparado a “um barco velho que apodrece na praia deserta”.
  • 4. 5. Comente a importância da comparação final com “um deus”. O “eu” poético conclui que a sua atitude de nada ter feito ou concretizado o assemelha a um deus que não precisa de arrumar nada para ser deus. Aborde, em cuidadas composições, os seguintes assuntos, atendendo a alguns dos tópicos colocados na coluna da direita. Questão Tópicos Resposta “Eu, de resto, nem sou intersecionista (ou paúlico) nem futurista. Sou eu, apenas eu, preocupado apenas comigo e com as minhas sensações” • Primeiro, o sensacionista das grandes odes. • O modernista por excelência. • O poeta do verso torrencial e livre. • O cantor das cidades e do cosmopolitis mo que cita o futurismo. • O cultor das sensações sem limite. • Depois, o poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral. • O poeta da condição humana