1. 1 BREVE HISTÓRICO DA LÍNGUA INGLESA E SUA EXPANSÃO NO
MUNDO
A língua inglesa vem conquistando cada vez mais, no atual mundo
globalizado, espaço nas múltiplas áreas do conhecimento e regiões.
De acordo com Le Breton (2005), ate o momento não há registros na
história da humanidade de outra língua que tenha atingido o patamar do inglês,
constituindo-se esta como “língua global”; no entanto, o mesmo aponta que
existem mais falantes não nativos do que nativos do idioma.
Nesse contexto globalizado, a língua inglesa vem assumindo diferentes
papéis em toda a sociedade desde o século XIX até a “língua global” ou “língua
franca” apontada por Rajagopalan (2005) no século XXI.
Block (2006) afirma que o crescimento e expansão da língua inglesa se
deram devido alguns acontecimentos históricos, tais como a Batalha de
Hastings, de 1066, que se constituiu no evento de cunho histórico-político mais
relevante para a constituição do reino da Inglaterra – nação-mãe da língua
inglesa.
Ainda de acordo com o autor supracitado, esse evento além de ter
possibilitado uma grande reorganização política, alterou também os rumos da
língua inglesa, uma vez que foi a última invasão “linguística”, nesse caso de
origem normanda, que a Inglaterra presenciou.
Para Bagno (2007) a Batalha de Hastings desencadeou o período
chamado Middle English, ou seja, período que foi marcado pela influencia e
forte presença da língua francesa no inglês e que durante quase três séculos
ininterruptos, foi o padrão utilizado e aceito pelos governantes da Inglaterra.
Isso ocasionou um considerável número de contribuições lexicais dentro do
vocabulário de língua inglesa.
No entanto, Ortis (2004) destaca que no período pós-batalha, a língua
inglesa era adotada somente pelos camponeses enquanto que a língua oficial,
tanto na fala quanto na escrita, utilizada pelo governo continuava sendo o
2. francês. Mas que, ao ser pressionado pela população, a mesma foi sendo
substituída, com modificações, até ser instituída como língua oficial.
Desta forma, esse novo vocabulário foi sendo incorporado juntamente
com o surgimento de novos conceitos sociais, administrativos e políticos, que
não tinham equivalência no inglês. É possível observar que até o final do
século XV o inglês estava cada dia mais presente na sociedade ingleses
substituindo o francês e o latim até mesmo como idioma oficial para redação de
documentos (ORTIS, 2004).
De acordo com Le Breton (2005), a língua inglesa, do ponto de vista
histórico, é constituída pela composição latina, celta, germânica e francesa em
meados do século XVI e vem sendo falada e modificada há mais de 1.500 anos
na Inglaterra constituindo-se atualmente e mundialmente como “inglês global”
adquirindo, nesse processo, novas características culturais e linguísticas.
Assim, “A língua inglesa, era uma língua nacional nos séculos XVI e XVII,
tornou-se uma língua imperial nos séculos XVIII e XIX e, por fim, língua
mundial durante a segunda metade do século XIX” (LE BRETON, 2005, p.14).
Ainda segundo Le Breton (2005), dois fenômenos favoreceram a
propagação e difusão da língua inglesa a nível mundial: a guerra fria e a
descolonização, em 1960, que enfraqueceu as antigas potencias coloniais não
europeias com diferentes características culturais e adquirindo sotaques
próprios.
Pode-se perceber por meio das informações histórica-politicas que o
fato da língua inglesa ocupar uma posição de destaque em relação aos demais
idiomas deve-se a algumas características que mencionam desde aspectos
etimológicos até questões políticas.
Para Burgess (2006, p. 21):
“Inglês” significa todos os diversos tipos de inglês falados a partir
daquele exato momento em que os primeiros falantes da língua se
estabeleceram na Inglaterra até os dias de hoje. Mas significa
também todos os diversos tipos de inglês falados em diferentes
lugares, em um determinado momento.
3. Assim, a língua inglesa é utilizada entre varias nações, possuem
diferentes características e sotaques próprios e é resultante do amplo processo
de colonização, do imperialismo e da globalização, constituindo-se, dessa
forma, em uma consolidação dos avanços políticos e econômicos, inicialmente
da Inglaterra e depois dos Estados Unidos (LE BRETON, 2005).
Segundo Scheyerl e Siqueira (2006), o inglês corresponde a setenta e
cinco por cento (75%) de toda comunicação internacional escrita, e que oitenta
por cento (85%) da informação armazenada em computadores do mundo
inteiro e disponibilizada pela Internet é em língua inglesa.
Portanto, a língua inglesa como “língua global1” se deu devido a
diferentes fatores históricos, principalmente pelo poder político de seu povo, e
que se constitui, neste ponto de vista, uma língua, que apesar de ser global,
que não pertence a nenhum país em especial.
1 O inglês é utilizado como língua oficial ou semioficial em mais de 60 países, e tem um lugar de
destaque emoutros 20. Da mesma forma, é dominante ou bem estabelecido em todos os seis continentes.
4. 2 A LÍNGUA INGLESA E SUA CONTRIBUIÇÃO DE ACESSO A OUTRAS
LÍNGUAS E CULTURAS
No capítulo anterior pode-se perceber que o fato de que o inglês ter se
tornado uma língua mundial, permite-se que a mesma sirva de mediação para
a comunicação interlingual e intercultural.
Diante dessa assertiva, Crystal (2008) afirma que a comunicação
interlingual revela que o inglês possui características de uma língua ponte, ou
seja, uma língua intermediária, na qual as pessoas buscam aprender uma
segunda língua para se adequar a nova conjuntura.
Para compreender que existe uma diversidade da língua inglesa em
diversas partes do mundo é necessário entender que esta diversidade esta
ligada à questão sócio política e cultural de cada localidade em que a língua
esta sendo usada em detrimento do das questões da forma certa ou errada da
utilização da língua inglesa (CRYSTAL, 2008).
As afirmativas de Crystal (2008) corroboram com os de Bhatia (2001)
que também defende que uma vez que a língua é condicionada a fatores
internos e sociais e que estes são condicionados as variações conjunturais, é
necessário pensar em termos de línguas inglesas do mundo, e não na língua
inglesa como única variedade monolítica do inglês.
Com relação aos condicionadores da variação, Câmara Jr. (2001, p.
17) mostra que:
Ela (a língua) varia no espaço, criando no seu território o conceito dos
dialetos regionais. Também varia na hierarquia social, estabelecendo
o que hoje se chama os dialetos sociais (...). Varia ainda, para um
mesmo indivíduo, conforme a situação em que se acha (...)
estabelecendo o que um grupo moderno de linguistas ingleses
denomina os registros.
5. Essa afirmação mostra que as variantes podem ser classificadas em
diatópicas, diastráticas e diafásicas, como aponta Carvalho (2002).
As variantes diatópicas referem-se a diferenças em função do espaço
geográfico. As variantes diastráticas consistem nas diferenças
linguísticas conforme aspectos sociais, como sexo, idade, classe
social, etnia etc. Já as variantes diafásicas são relacionadas aos
diferentes estilos de língua, dos mais formais aos mais informais,
conforme as situações de uso da língua (Carvalho, 2002, p. 57).
Percebe-se que assim, que como em qualquer outro idioma a língua
inglesa não é estática uma vez que quanto mais s e expande, mais está sujeita
a passara por alterações necessárias devido ás características locais das
diferentes regiões que utilizam a língua inglesa. No entanto, as diversidades de
uma língua, não são descontroladas, fortuitas, a ponto de promoverem um
caos linguístico. As mesmas são restritas por fatores internos, da própria
língua, e por fatores externos à língua, especialmente por fatores sociais
(SCHERRE, 1996).
Para Crystal (2008) essa peculiaridade da língua inglesa, denominada
pelo referido estudioso de Local Englishes, pode esclarecer que a língua
inglesa não é mais pertencente a um país específico, ela passa a fazer parte
de toda e qualquer cultura que faz uso desse idioma e que o modifica com seus
modos de ver e de agir no mundo.
Nesse contexto, afirma ainda o linguista, existe a possibilidade de falar
sobre inglês britânico, americano, australiano, sul-africano, indiano, e outros
tantos “Englishes” e que para subsidia-los já estão sendo compilados
dicionários com léxicos distintos encontrados nessas regiões.
Diante do exposto, percebe-se que as diferentes culturas anglófonas
tendem a se sentir autônoma uma vez que a linguagem utilizada foi organizada
levando em consideração o contexto e a cultura local. Assim, a diferença
linguística não consiste somente na utilização das palavras que estão no
dicionário, mas também em vocábulos específicos do local, que também é
6. mutável e vai sendo reinventada de acordo com as necessidades desta
sociedade.
Para Gnerre (2003) geralmente uma variante é prestigiada quando
seus usuários têm status considerado superior e, assim, passa a ser
reproduzida pelos outros usuários. Por outro lado, algumas variantes, tendem a
ser mais usada por falantes de estratos mais baixos de uma comunidade e com
isso são estigmatizadas.
Assim, uma variedade linguística tende a valer como reflexo das
autoridades e do poder que alguns têm nas relações econômicas e sociais,
assim como, também é julgada com base no falante deste dialeto,
marginalizado pela sociedade por causa de certos perfis considerados
negativamente, no qual são levados em consideração a classe social ou de
sociedades menos desenvolvidas de um determinado país.
No contexto em que uma variante linguística é prestigiada, sejam por
motivações politicas, econômicas e históricas, outras variedades tendem a ser
rejeitadas e alvo do chamado preconceito linguístico, que se constitui também
em um preconceito social sofrido pelas populações falantes das classes ou
regiões mais oprimidas de uma sociedade.
Possenti (1984b) ao falar sobre a distinção entre as variedades mais
prestigiadas e as variedades mais estigmatizadas, reforça que as diferenças
entre essas variantes mais significativas realmente giram entorno e estão
vinculadas à avaliação social que delas se faz, com base no valor atribuído
pela sociedade aos usuários típicos de cada variedade.
É importante salientar que a norma padrão, assim como, as variedades
mais prestigiadas nunca são totalmente coincidentes, e nesse contexto, muitos
dos traços linguísticos usados pelos falantes destas variedades geralmente são
considerados erros na norma padrão. No entanto, como também tendem a ser
usados por falantes detentores de status mais elevado, estes traços também
são prestigiados pela comunidade em que estes falantes estão inseridos.
A este propósito, Yule (1996) considera que:
de um ponto de vista linguístico, nenhuma variedade é melhor que
outra. São simplesmente diferentes. De um ponto de vista social,
entretanto, algumas variedades tornaram-se mais prestigiadas. De
fato, a variedade que se desenvolve como língua padrão tem sido
usualmente um dialeto de prestígio social, originalmente ligado ao
7. centro político ou cultural (...). No entanto, sempre continua tendo
outras variedades de uma língua, faladas em diferentes regiões
(YULE, 1996, p. 228).
Diante do exposto, percebe-se que cada dialeto deve ser adequado às
necessidades e características do grupo a que pertence o falante, ou à
situação em que essa língua falada ocorre. Assim, todos eles devem
igualmente ser válidos como ferramenta de comunicação, uma vez que diante
do que já foi apontado, não há nenhuma evidência linguística na qual afirmasse
que um dialeto é mais expressivo, mais correto ou mais lógico que qualquer
outro; e nessa ótica, todos eles são sistemas linguísticos igualmente
complexos, lógicos, estruturados.
Assim, a padronização de um dialeto ocorre muito mais devido as
razões sociais do que propriamente linguístico, pois são no cenário social que
estão envolvidos as atitudes em relação às variantes dialetais, ou seja, o que
se leva em consideração na avaliação não é o dialeto propriamente dito, mas a
pessoa, com sua origem, classe social, escolaridade, etc. que faz uso deste
dialeto.