O documento discute um projeto de formação de jovens aprendizes realizado por uma ONG em Fortaleza, analisando se os objetivos do Programa Nacional de Aprendizagem foram atingidos. O estudo qualitativo indica que o projeto conseguiu capacitar profissionalmente os jovens e também melhorar sua autoestima e sociabilidade.
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
Artigo publicado sobre a percepção de jovens aprendizes
1.
ISSN
on-‐line:
2238-‐4170
http://revistas.es.estacio.br/index.php/gestaocontemporanea
Gestão
Contemporânea,
Vila
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Silvia
Pires
Bastos
Costa
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Universidade
Federal
do
Rio
Grande
do
Norte,
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Brasil
Denise
Pires
Bastos
Costa2
Universidade
Estadual
do
Ceará,
Fortaleza/CE
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Marcelo
Hugo
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Medeiros
Bezerra3
Universidade
Federal
do
Rio
Grande
do
Norte,
Natal/RN
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Brasil
RESUMO – Avaliação de políticas públicas para juventude: uma análise na percepção dos
beneficiários de um projeto de formação de jovens aprendizes. O desemprego é um dos maiores
problemas que aflige a juventude brasileira, especialmente nos segmentos de baixa renda. Na
ociosidade, os jovens se tornam mais vulneráveis ao envolvimento com atividades ilícitas, a violência
e a outros fatores que impedem seu exercício pleno da cidadania e desempenho profissional. Este
estudo teve como foco o Programa Nacional de Aprendizagem, mais conhecido como Programa
Jovem Aprendiz, executado sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego com a
finalidade de promover oportunidades de trabalho, emprego e renda para jovens em âmbito nacional.
O objetivo do artigo foi analisar em que medida os objetivos estabelecidos no projeto estavam sendo
atingidos no caso do curso de formação executado pela ONG Movimento de Saúde Mental
Comunitária–MSMC na cidade de Fortaleza. No intuito de alcançar o objetivo, a pesquisa se
caracterizou como exploratória, qualitativa e utilizou-se de um estudo de caso. A análise de conteúdo
de transcrições de entrevistas, depoimentos e outros documentos disponibilizados indica que muitos
objetivos do projeto foram alcançados, não apenas no âmbito da capacitação profissional, mas em
aspectos como a autoestima e a sociabilidade, dentre outros.
Palavras-chave: Políticas públicas; juventude; aprendizagem.
ABSTRACT – Evaluation of public policies for youth: an analysis on the perception of
beneficiaries of a capacity project for young apprentices. Unemployment is a major problem that
afflicts Brazilian youth, especially in low-income segments. In idleness, young people become more
vulnerable to involvement with illegal activities, violence and other factors that impede their full
citizenship and job performance. This study focused on the Programa Nacional de Aprendizagem,
better known as Programa Jovem Aprendiz, implemented under the coordination of the Ministry of
Labor in order to promote job opportunities, jobs and income for young people nationwide. The
objective is to analyze if goals set in the project were being met in the case of the training course run
by the NGO Movimento de Saúde Mental Comunitária - MSMC in Fortaleza. In order to achieve the
objective, the research was characterized as exploratory, qualitative and used a case study. The
content of the analysis of interview transcripts, testimonials and other documents available indicates
that many objectives of the project have been achieved, not only in the context of skills, but in areas
such as self-esteem and social skills, among others.
Key-words: Public policies; youth; learning.
1
Graduação em Administração de Empresas e mestrado em Administração (Universidade Estadual
do Ceará). Doutorado em Políticas Públicas em andamento (Universidade Federal do Rio Grande do
Norte). Conselheira da Federação das Associações dos Jovens Empresários do Ceará.
2
Graduação em Psicologia (Universidade Federal do Ceará); Especialização em Marketing (Escola
Superior de Propaganda e Marketing) mestrado em Administração (Universidade Estadual do
Ceará). Professora Universitária nas áreas de Marketing e Responsabilidade Social.
3
Graduando em Administração pela UFRN. Técnico em Controle Ambiental pelo IFRN. Bolsista de
Iniciação Científica - PROPESQ/CNPq - em Estratégia.
Submetido em 10/01/14
Aceito em 30/03/14
ARTIGO
ORIGINAL
AVALIAÇÃO
DE
POLÍTICAS
PÚBLICAS
PARA
JUVENTUDE:
UMA
ANÁLISE
NA
PERCEPÇÃO
DOS
BENEFICIÁRIOS
DE
UM
PROJETO
DE
FORMAÇÃO
DE
JOVENS
APRENDIZES
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1 INTRODUÇÃO
No Brasil, o desemprego se caracteriza como um fenômeno estrutural; trabalho e
capital se relacionam de forma gravemente assimétrica. Segundo Teixeira (2005,
p.29), a partir dos anos 80 o país inicia uma longa fase de desaceleração do
crescimento econômico, instabilidade monetária, reconcentração da renda e
elevadas taxas de desemprego.
Passados mais de trinta anos, a juventude brasileira, atualmente com 51,3 milhões
de pessoas entre 15 e 29 anos (PNAD, 2012), continua enfrentando muitas
situações adversas. O desemprego, a baixa renda familiar, as dificuldades de
moradia e a hipervalorização do consumo são fatores que concorrem para que os
jovens sintam-se pressionados a ingressar no mercado de trabalho, deixando com
frequência a escola antes até de concluírem a formação básica.
Os dados do último censo (IBGE, 2010) evidenciam o grave processo de evasão
precoce do sistema escolar, computando 32,2% dos jovens fora da escola sem que
tenham concluído o ensino médio. Outro dado preocupante é o aumento de
adolescentes longe dos bancos escolares, atualmente mais de dez milhões ou
16,3%. A baixa escolaridade aliada à falta de formação e experiência dificulta ainda
mais a empregabilidade dessa faixa da população.
Este artigo versa sobre o Programa Jovem Aprendiz, cujo propósito é justamente
promover oportunidades de trabalho, emprego e renda para jovens em âmbito
nacional, vinculando essa participação à frequência escolar para aqueles que não
concluíram o ensino médio e, portanto, agindo no sentido de reduzir os problemas
supracitados. O estudo teve como objetivo analisar em que medida os objetivos
estabelecidos no projeto estavam sendo atingidos no caso do curso de Formação de
Aprendizes para atuar em Apoio Administrativo e Atendimento, dirigido a jovens
entre 16 e 24 anos. A ação se desenvolve na região do Grande Bom Jardim, uma
das áreas com maiores índices de violência e mortalidade juvenil na cidade de
Fortaleza.
3. Avaliação
de
políticas
públicas
para
juventude:
uma
análise
na
percepção
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beneficiários
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2 BREVE HISTÓRICO DAS POLÍTICAS NACIONAIS DA JUVENTUDE
Até a década de 90, a juventude não havia conquistado seu espaço na agenda
nacional, não sendo verificadas políticas desenvolvidas especificamente para esta
parcela da sociedade. A publicação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)
abriu caminho para esse processo, ao lançar os olhares para públicos antes
parcamente contemplados, como as crianças e os adolescentes.
Durante o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, havia 33
programas dirigidos à juventude, sendo vários deles desenvolvidos com o intuito de
facilitar o ingresso de jovens de baixa renda no mercado de trabalho (SPOSITO,
CARRANO, 2003). Um desses programas era o Programa Nacional de
Aprendizagem, mais conhecido como Programa Jovem Aprendiz, cujas origens
datam da década de 40, tendo absorvido significativas mudanças nesse governo,
inicialmente através da publicação da Lei 10.097 de 2000.
Os primeiros anos do governo Lula pautaram-se em elementos já utilizados no
governo anterior, como as redes, o voluntariado e os cursos de curta duração, sem a
promoção de grandes mudanças. Em paralelo, no entanto, se desenvolviam vários
movimentos que culminaram com a criação da Secretaria Nacional da Juventude
(SNJ) e do Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), em 2005, marcando o
início de um processo importante para a estruturação de uma Política Nacional de
Juventude.
O principal programa com foco na juventude nessa gestão foi o Projovem Integrado,
cujo objetivo era evitar a fragmentação e desarticulação das ações no âmbito
federal. Como destaca Gonzales (2009), porém, programas importantes como o
Jovem Aprendiz deixaram de ser contemplados, posicionamento confirmado através
de consultas aos documentos das câmaras temáticas constituídas para elaborar as
diretrizes e perspectivas para a Política Nacional de Juventude, em cujos registros a
temática não é explorada (CONJUVE,2006).
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Na gestão da presidente Dilma várias iniciativas são criadas, como o Observatório
Participativo da Juventude (Participatório) e o Plano Juventude Vida, enquanto
outros são mantidos, como é o caso do ProJovem. Mais uma vez, ao consultar-se a
principal publicação da SNJ, a cartilha de Políticas Públicas para Juventude,
nenhuma menção ao Programa Jovem Aprendiz (SNJ, 2013).
Em agosto de 2013, é sancionado o Estatuto da Juventude, após quase uma década
de tramitação. Espera-se com ele obter maior atenção ao programa Jovem
Aprendiz, tendo em vista os compromissos estabelecidos no artigo 15 quanto à
adoção de políticas públicas voltadas para a promoção da aprendizagem e o
estímulo à inserção no mercado de trabalho, programa que já contribuiu para
viabilizar os projetos de vida de milhares de jovens em todo o país.
3 O PROGRAMA JOVEM APRENDIZ
O conceito de vulnerabilidade designa grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou
politicamente, na proteção ou na garantia de seus direitos de cidadania (AYRES,
2009, p. 132). Já autores como Pitanguy (2003, p. 330) visualizam a ideia da
vulnerabilidade social como eficaz para chamar a atenção sobre as condições
estruturais que colocam as pessoas em risco, para além do seu comportamento
individual.
Segundo estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e Cultura - UNESCO e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento -
BID, vulnerabilidade social é:
O resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos
materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o
acesso à estrutura de oportunidades sociais econômicas culturais que
provêm do Estado, do mercado e da sociedade [...] (VIGNOLI e
FILGUEIRA, 2001 apud CASTRO; AMBRAMOVAY, 2002, p.13).
Para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE, 2007; p. 18), o conceito é
representado por uma grande parte da mão-de-obra que trabalha por baixos
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salários, sem representação e com pobres perspectivas de melhorar suas condições
de trabalho.
Entre as iniciativas que visam contribuir para a inclusão de jovens em situação de
vulnerabilidade social no mercado de trabalho, destaca-se o Programa de
Aprendizagem, que tem como um dos aspectos diferenciais a necessidade de
construção de alianças para viabilizar sua operacionalização, promovendo a
articulação entre Governo, empresas contratantes e financiadoras, entidades do
Sistema S, ONGs e comunidade.
A intersetorialidade é caracterizada pelas atividades que têm por objetivo gerar
benefícios mútuos ou diminuir problemas sociais. De acordo com Kisil (2000, p.
107), o desenvolvimento da comunidade pode tornar-se um assunto que obrigue os
três setores a trabalhar juntos para o benefício social. Para o autor, a ideia de um
terceiro setor é complementar a um segundo setor, representado pelo mercado, cujo
interesse é regulado pelos indivíduos que dele fazem parte. Complementa, também,
um primeiro setor, o governo, que utiliza seu papel regulador no cumprimento das
decisões legais e estabelece políticas publicas.
Sobre as funções sociais do sistema da aprendizagem, Sussekind, Teixeira e
Teixeira Filho (2005, p.1021) escrevem:
[...] É uma mescla de transmissão de ensinamentos metódicos
especializados com concomitante ou subseqüente atividade prática no
próprio mister escolhido, com vistas à futura obtenção do emprego, sem a
precariedade e as condicionantes inerentes ao processo de aprendizagem.
Integra o marco regulatório desta política a Lei 10.097 de 2000, regulamentada pelo
decreto 5.598 de 2005, transcrito a seguir. Acerca da aprendizagem, o referido
decreto no artigo 2° afirma que “Aprendiz é o maior de quatorze anos e menor de
vinte e quatro anos que celebra contrato de aprendizagem, nos termos do Art. 428
da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT”. Os jovens beneficiários são
contratados por empresas como aprendizes de ofício previsto na Classificação
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Brasileira de Ocupações (CBO) do MTE ao mesmo tempo em que são matriculados
em cursos de aprendizagem, em instituições qualificadoras reconhecidas,
responsáveis pela certificação.
De acordo com a legislação, a cota de aprendizes está fixada entre 5% no mínimo, e
15%, no máximo, por estabelecimento, calculada sobre o total de empregados cujas
funções demandem formação profissional, cabendo ao empregador, dentro dos
limites fixados, contratar o número de aprendizes que melhor atender às suas
necessidades. As frações de unidade darão lugar à admissão de um aprendiz (art.
429, caput e § 1º da CLT).
O marco regulatório da aprendizagem tem se revelado muito dinâmico, com a
publicação de várias normas legais que agregaram benefícios crescentes para os
jovens, tais como o salário-mínimo hora, o vale-transporte e o direito à certificação,
além de promover diretrizes curriculares e recomendações sobre a qualidade das
executoras. Na prática, sabe-se que há dificuldades a superar, de forma a melhorar
o programa e também possibilitar sua ampliação a um número maior de jovens.
Acredita-se que para que essas melhorias sejam possíveis, é primordial ouvir os
próprios jovens, que devem ser percebidos como sujeitos de direitos e não como
beneficiários passivos das políticas públicas. A próxima seção aborda algumas
questões sobre a juventude e sua relação com o universo do trabalho.
4 JUVENTUDE: UM PERÍODO DE MUITAS TRANSFORMAÇÕES
A juventude é um período de passagem da dependência para a autonomia. Segundo
a UNESCO, corresponde à faixa etária de 16 a 24 anos, no entanto é preciso
considerar variações em função de regiões e culturas diferentes. É um período com
grandes mudanças afetivas, físicas, cognitivas e sociais, demandando atenção
especial em termos de proteção social. Segundo Benevides (1991, p.112) “falar dos
dilemas e perspectivas da juventude contemporânea é falar de sociedade de
mercado, de sociedade do conhecimento, do processo de globalização e das
crescentes desigualdades sociais”.
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Adorno (2001) analisou os tipos de vulnerabilidade a que estavam expostos os
beneficiados pelo Programa Capacitação Solidária, entre 16 a 21 anos, residentes
nas regiões metropolitanas, de baixa escolaridade e de famílias de baixa renda,
público que guarda semelhanças com o público beneficiado pelo projeto em análise.
Ele evidencia diversos tipos de vulnerabilidade, como a ausência do primeiro registro
de trabalho; a realidade de viver na periferia de grandes cidades, espaços afetados
pela violência, medo e discriminação; as questões de gênero, como a gravidez
precoce; a vulnerabilidade de ter família autoritária e de estudar em escolas
públicas.
A violência é uma das nuances que marcam fortemente a sociedade atual. Esta
vulnerabilidade é predominante em relação aos jovens do sexo masculino, sendo
neste grupo crescente o número de óbitos por causas externas (violência e suicídio).
Gadelha (2008) confirma este aspecto com base em dados de pesquisa realizada
pelo Juizado da Infância e da Adolescência em 2004 sobre os jovens em liberdade
assistida na cidade de fortaleza: mais de 70% dos adolescentes têm entre 16 e 18
anos de idade e 92% são do sexo masculino.
O impacto da violência nessa faixa etária é conseqüência do agravamento da crise
social, da falta de perspectiva e principalmente de uma crise de valores como perda
da noção entre o bem e o mal (OLIVEIRA, 2000). De acordo com Glaucíria Mota,
coordenadora Geral do Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética da
Universidade Estadual do Ceará e uma das coordenadoras da pesquisa Cartografia
da Criminalidade e da Violência em Fortaleza, os bairros que puxam os índices de
homicídios são, em primeiro lugar Jangurussu, depois Messejana, e em terceiro
lugar o Bom Jardim (ADITAL, 2009). Sarti (2004) destaca a importância de
promover o protagonismo juvenil e ir além da superficialidade para compreender os
jovens, inquirir as verdadeiras causas para comportamentos intempestivos, rebeldia,
resistências frente a regras pré-estabelecidas.
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O trabalho é indicado como um dos direitos mais importantes de cidadania, assim
como um dos direitos essenciais dos quais deveriam ser detentores. A centralidade
do trabalho para os jovens resulta sobremaneira da sua urgência enquanto
problema, instabilizador das formas de inserção social e do padrão de vida. Chama
atenção para a questão Guimarães:
O desemprego é o problema mais agudamente manifesto como aquele que
está a afligir especialmente os jovens entre 18 e 20 anos, notadamente os
rapazes (claro que não exclusivamente) com mais baixa escolaridade e
menor rendimento [...] (GUIMARAES, 2005. p. 161).
5 METODOLOGIA
Este artigo, de natureza qualitativa e exploratória, utilizou-se do método de estudo
de caso. Como técnica de coleta de dados foi adotada a análise de conteúdo. De
acordo com Bauer (2002), esta técnica pode ser realizada a partir de textos
produzidos em pesquisa e de textos produzidos para outros fins.
A presente pesquisa investigou, através da análise do conteúdo, textos produzidos
em pesquisa, como as transcrições de entrevistas e análise dos depoimentos
coletados entre os jovens selecionados, além de textos pré-existentes, como o
projeto do curso, atas de reuniões, planos de aula, fichas de inscrição e seleção,
com o intuito de contribuir para avaliar o grau de alcance dos objetivos pré-
estabelecidos no projeto.
Para a realização da pesquisa, foram “retirados” do universo de sessenta e seis
alunos contemplados pelo projeto, por sorteio, vinte alunos, aproximadamente um
terço do total. A estes foi solicitado que escrevessem depoimentos manifestando
suas percepções acerca de possíveis impactos da experiência em suas vidas. A
princípio foi construído um instrumento na forma de questionário, mas a aplicação de
pré-teste fez crer que a opção pelos depoimentos agregaria maior espontaneidade
aos textos.
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O conteúdo dos depoimentos foi analisado considerando os objetivos determinados
no projeto do curso de Formação de Jovens Aprendizes elaborado pela ONG MSMC
e credenciado pelo Conselho dos Direitos da Criança e Adolescente – COMDICA
Fortaleza. As categorias estabelecidas foram as seguintes:
- Mercado de trabalho;
- Escola;
-Inclusão virtual;
- Comunicação, organização e sociabilidade;
- Linguagem oral e escrita;
- Autoestima, protagonismo e cidadania;
- Pais e responsáveis;
- Cultura.
No estudo de caso a seguir serão apresentados trechos dos depoimentos dos
jovens, destacados de acordo com as categorias eleitas. Os comentários
explicitados tiveram como base também informações obtidas a partir de outros
documentos consultados e entrevistas com as supervisoras.
6 ESTUDO DE CASO: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE FORMAÇÃO DE JOVENS
APRENDIZES NO MSMC
A área do Grande Bom Jardim está localizada na região oeste de Fortaleza, área de
índices sociais bastante desfavoráveis, conhecida pelas altas taxas de criminalidade.
Nas décadas de 70 e 80, o êxodo rural resultou em crescimento desordenado da
capital e o bom jardim foi um dos bairros que mais cresceu em população; com isso
também aumentou a fome, a violência, a pobreza e o desemprego. Em 1996, iniciou-
se com Comunidades Eclesiais de Base um trabalho de escuta e acompanhamento
terapêutico para famílias em situação de risco. Em 1998, os voluntários fundaram o
Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim - MSMCBJ. A ONG
explicita através do site www.msmcbj.org.br sua missão: Acolher o ser humano,
10. S.
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respeitando suas dimensões bio-psico-sócio-espirituais, promovendo o
desenvolvimento dos seus potenciais, através do resgate dos valores humanos e
culturais, no sentido de favorecer a qualidade das relações pessoais, interpessoais e
comunitária para a promoção do dom da vida.
O MSMCBJ promove formação permanente para seus voluntários, educadores,
lideranças e comunidade, em Biodança, Eneagrama, Abordagem Sistêmica da
Família, Prevenção às drogas e Constelação Familiar. Proporciona atividades de
lazer e cultura para a comunidade, além de atuar em parceria com a Secretaria
Municipal de Saúde na cogestão do CAP’S – Centro de Atendimento Psicossocial,
beneficiando a população da Regional V.
- Formação de jovens para o trabalho
Em 2004, com o patrocínio de uma grande empresa local e a parceria de uma
consultoria especializada, a Ong passou a oferecer cursos de qualificação para
jovens nas áreas de Atendimento, Vendas, Recepção e Manutenção de
computadores.
A partir de 2007, percebendo a oportunidade que a lei da aprendizagem
representaria na vida dos jovens da comunidade, em termos de efetividade no
encaminhamento para empregos formais, os investimentos em qualificação de
jovens foram canalizados principalmente para esta modalidade, tendo início as duas
primeiras turmas do curso de Formação de jovens aprendizes para atuação em
Atendimento e Apoio Administrativo, com trinta e três alunos cada.
Desde 2004 mais de dois mil jovens foram beneficiados pelos diversos cursos; mais
de quatrocentos foram qualificados de acordo com a lei do Jovem Aprendiz. Alguns
dados gerais foram obtidos levando-se em consideração o número total de jovens
(66 alunos): todos os jovens possuíam entre 16 e 24 anos, 70% apresentavam renda
familiar entre R$ 30,00 e R$135,00 por pessoa. No que se refere ao nível de
escolaridade dos genitores, 85% das mães e 75% dos pais possuíam no máximo o
ensino fundamental. Como se esperava, a evolução do número de anos na escola
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de uma geração para outra é considerável, já que 95% dos jovens estavam
cursando o ensino médio ou haviam concluído os estudos.
São apresentados a seguir os resultados da pesquisa. Os depoimentos dos vinte
jovens foram coletados oito meses após o início das aulas. As entrevistas com a
supervisora ocorreram na sequência, com o intuito de esclarecer alguns aspectos
identificados nos depoimentos. Informações complementares foram obtidas a partir
de documentos pré-existentes, já especificados no item acerca da metodologia.
Objetivo1: Encaminhar 90% dos alunos para o mercado formal de trabalho como
Jovens Aprendizes
Jovem 1: [...] senti que era a oportunidade que estava precisando, não só
pelo trabalho [...]
Jovem 2: Sabia que era a minha chance. Não podia decepcionar o grupo e
nem a mim mesmo... Tinha passado na entrevista e poderia começar a
trabalhar [...]
Jovem 3: A oportunidade do primeiro emprego foi edificante ...
Jovem 6: [...] abre as portas para o mercado de trabalho [...] aprendemos e
até nos tornamos verdadeiros profissionais nas empresas em que
trabalhamos.
Jovem 7: Desde que entrei no movimento, minha vida vem mudando
bastante [...] foi através do projeto que consegui meu primeiro emprego [...]
vi que o emprego é só um fruto a colher. Jovem 9: [...] me deu oportunidade
de arrumar um emprego onesto (sic).
Jovem 10: O curso está fazendo eu (sic) crescer, encaminha nós (sic) para
o 1º emprego [...].
Jovem 12: [...] possibilita ter acesso ao primeiro emprego. Estou como
funcionário permanente na empresa em que comecei como aprendiz
Jovem 13: O projeto movimenta a vida de inúmeros jovens do Bom Jardim,
ajudando-lhes a conquistarem seu primeiro emprego.
Jovem 14: O projeto vem contribuindo para o meu sucesso profissional.
Jovem 15: Fui aprovada na seleção para uma distribuidora, não me adaptei
e tive o apoio do projeto. Hoje tenho o privilegio de participar do grupo de
colaboradores do hospital.
Jovem 16: [...] ajuda projetando-nos para o 1º emprego.
Jovem 17: [...] traz esperança ao jovem para trabalhar.
Jovem 18: [...] fundamental na minha vida, além de me colocar no primeiro
emprego [...]
Jovem 20: [...] no começo foi muito difícil, eu nem tinha dez reais para me
inscrever, finalmente minha mãe conseguiu e me deu [...] concorri com 10
pessoas e não passei na primeira entrevista [...] na segunda concorri com 5
e consegui passar [...]
A partir da análise dos contratos dos jovens aprendizes, observou-se que apenas
um não havia sido inserido no mercado de trabalho até o momento. Pôde-se
12. S.
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observar no trecho transcrito que o mesmo, desde o início tinha uma visão mais
ampla do alcance da iniciativa, além do econômico; este fator possivelmente
interferiu para a satisfação do jovem em relação ao projeto, evidenciada em várias
outras categorias. Vale ressaltar que logo depois ele foi selecionado e iniciou sua
aprendizagem em empresa do setor supermercadista.
Cinco jovens, embora trabalhando, não destacaram isto entre os aspectos que
impactaram suas vidas. É interessante observar que vários alunos enalteceram os
impactos do projeto no grupo, e não em sua condição individual (“nos tornamos
verdadeiros profissionais”; “movimenta a vida de inúmeros jovens do Bom Jardim”,
“Não podia decepcionar o grupo”; etc.), elementos que podem indicar que o fator
mercado, embora certamente um grande atrativo para a participação no projeto, não
seja tão predominante. No projeto constavam as seguintes atividades planejadas no
sentido de alcançar este objetivo: - Visitas a empresas; Telemaketing junto às
empresas já parceiras; Oficina de preparação para entrevistas e processos de
seleção para os jovens selecionados e Formalização dos convênios com as
empresas e redação dos contratos dos aprendizes. A entrevista com a supervisora
revelou que não foram realizadas muitas visitas a empresas, devido ao custo do
transporte e economia de tempo; no entanto, para alcançar a meta de 90% foram
contatadas mais de 150 empresas através do telemarketing. As oficinas de
preparação foram essenciais, proporcionando maior segurança aos candidatos.
Outras iniciativas foram necessárias, dentre as quais se destacam as seguintes:
articulação junto ao Conselho dos direitos da Criança e Adolescente para criação do
Grupo de Trabalho Jovem Aprendiz, que passou a se reunir mensalmente desde
então; as ONGs constituem uma rede integrada, sendo ressaltado o espírito de
cooperação entre os membros, que divulgam oportunidades e buscam soluções
para problemas comuns e individuais;- forte interação com a SRTE,-contato com
diversas associações empresariais para divulgação do curso.
13. Avaliação
de
políticas
públicas
para
juventude:
uma
análise
na
percepção
dos
beneficiários
de
um
projeto
de
formação
de
jovens
aprendizes
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Objetivo 2 - Incentivar a continuidade dos estudos do ensino médio
Jovem1: [...] revisão de minhas atitudes na escola.
Chamou a atenção o fato de apenas um jovem ter mencionado a escola. Um dos
esclarecimentos foi que grande parte dos jovens aprendizes já haviam terminado o
ensino médio antes da seleção, e muitos outros concluíram no final deste ano. Com
a finalidade de atingir este objetivo, constavam no projeto: Exigir o vínculo escolar
para os jovens que não concluíram o ensino médio e se afastaram da escola;
Palestras sobre planejamento de carreira; Visitas a faculdades parceiras e
acompanhamento dos boletins escolares. Constatou-se que estes só foram
acompanhados no início do projeto, o que pode ter minorado a importância atribuída
pelos alunos à evolução do desempenho escolar. O número de visitas e palestras
também deveria ter sido maior, segundo a supervisão do projeto.
Objetivo 3 - Promover a inclusão virtual
Jovem 2:O movimento começou a movimentar minha vida através do curso de
informática.
Jovem 5:Um amigo me indicou o curso de informática básica, fiz a seleção e passei
[...] me abriu portas para outros cursos como photoshop, linux [...] fui convidado a ser
monitor.
Jovem 8:Conheci o movimento através do curso de informática [...].
Apenas três jovens mencionaram a informática como contribuição do projeto. As
oficinas de informática básica previstas se revelaram desnecessárias diante da
disseminação acelerada das tecnologias. Pouquíssimos jovens não detinham este
conhecimento, sendo direcionados para as oficinas regulares, dirigidas à
comunidade em geral. Outro recurso explicitado foi o uso dos equipamentos do
telecentro que o MSMC possui. Segundo a supervisão, esta prática não ocorreu e
deveria ter sido explorada, pois facilitaria em vários casos a articulação entre teoria e
prática.
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Costa,
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Objetivo 4 - Desenvolver capacidades básicas de comunicação, organização e
sociabilidade.
Jovem 1:[...] revisão de minhas atitudes, em casa com meus pais, na
escola, com o namorado, com as pessoas em geral [...] é a principal
aprendizagem que levo do curso.
Jovem 2:[...] a convivência era o fundamento para a aprendizagem [...].
Jovem 3: Tive a emoção de conhecer novas pessoas e fazer laços de
amizade [...] aprendi como se porta em entrevistas [...] Comunicar-me
melhor com as pessoas [...] minha alimentação ficou em horários corretos e
deixei o sedentarismo [...] comento com todos os amigos como é
modificador (sic) participar do Movimento.
Jovem 5:[...] desenvolvo não apenas o meu lado profissional, mas também
o social.
Jovem 7:Descobri o quanto são legais as pessoas com as quais convivo [...]
posso compartilhar minhas alegrias, fazer amigos, contar como foi meu dia
[...].
Jovem 14:[...] respeito e carinho uns pelos outros, é isso em especial que
levarei sempre comigo desse curso que estou fazendo.
Jovem 17:Aprendi a me comunicar melhor com as pessoas [...].
Jovem 19: [...] mudou minha vida e posso falar pelos meus colegas, este
projeto movimentou suas vidas por meio das oportunidades oferecidas [...].
Os jovens expressaram de forma espontânea a importância das novas relações e da
melhoria das relações pré-existentes, deixando transparecer que essas mudanças
favoreceram a aprendizagem. A maior facilidade para comunicar-se também foi
valorizada, sendo a timidez a limitação a superar mais citada pelos candidatos no
momento da seleção.
As atividades previstas no projeto foram: módulos de comunicação, dramatização,
oficinas de autoestima, instrumentos de autoavaliação e avaliação pelos facilitadores
e supervisores nas empresas. A entrevista com a supervisão confirmou a validade
desses módulos para o processo de superação da timidez pelos jovens, aliados à
necessidade de maior interação nas empresas. O fato de um dos jovens ter
mencionado organizar-se inclusive quanto aos horários de alimentação sugerem a
amplitude dos resultados. Porém, a supervisora ressaltou que alguns se queixaram,
pois apesar das distâncias percorridas não recebem ajuda de custo ou refeição. Em
alguns casos, levam até duas horas para deslocar-se do curso ao local da
aprendizagem prática.
15. Avaliação
de
políticas
públicas
para
juventude:
uma
análise
na
percepção
dos
beneficiários
de
um
projeto
de
formação
de
jovens
aprendizes
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Velha,
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Objetivo 5 - Aprimorar a linguagem oral e escrita
Jovem 3:Aprendi a comunicar-me melhor com as pessoas [...]
Jovem 17:[...] mudou minha vida e posso falar pelos meus colegas, este
projeto movimentou suas vidas por meio das oportunidades oferecidas
neste espaço [...]
Apesar de apenas dois jovens citarem expressamente a melhora nesse sentido,
foram constatados avanços comparando as fichas de inscrição e os depoimentos
escritos dez meses depois. O módulo de comunicação foi apontado pela supervisão
como determinante para esta evolução, sobretudo no que se refere à tomada de
consciência dos jovens quanto à identificação dos erros decorrentes de vícios de
linguagem ou desatenção. A entrevistada admitiu, no entanto, que atividades
previstas e não realizadas como a gincana de leitura e, sobretudo o
acompanhamento da meta de leitura de 1 livro por bimestre certamente teriam
gerado melhor desempenho. Registra que a ONG conseguiu arrecadar doações
suficientes para montar uma biblioteca comunitária, mas a ausência de um sistema
de informatização do acervo e de profissional da área de biblioteconomia
comprometeu o alcance da meta fixada.
Objetivo 6 - Fortalecer a autoestima e desenvolver o protagonismo juvenil com
cidadania e responsabilidade socioambiental
Jovem 2: [...] feliz e grato...o movimento não me deu apenas a oportunidade
no mercado e sim a minha transformação como ser humano, ganhei
credibilidade, respeito e responsabilidade.
Jovem 3: Desde o momento que fui aprovada minha autoestima mudou. A
vida ficou com ar de esperança, conquista e realizações [...] aprendi a ter
visão empreendedora, assumir responsabilidades, ser mais solidária e ter
bom caráter.
Jovem 4: É através desses cursos que o movimento, aos poucos, vai
transformando o modo de pensar do jovem sobre a sociedade em que o
cerca, nos conscientizando da importância da natureza, de nos sentirmos
orgulhosos em ter oportunidades de ajudar outros projetos..
Jovem 5: Não imaginei que esta entidade pudesse agregar tantos valores a
minha pessoa, como profissional e principalmente como ser humano[...]fui
convidado a ser monitor de informática como voluntario, algo que eu
particularmente considero o apogeu desse meu contato com o movimento,
porque não existe nada mais gratificante do que você está(sic) apto a
ajudar alguém, você se sente até mais útil [...] a monitoria é uma
experiência, além de única e gratificante ,recíproca, porque eu ,aprendo e
fico na ânsia incessante em procurar respostas e esclarecer dúvidas que
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ficam pendentes nas aulas [...] O curso jovem aprendiz é rico tanto em
valores como em conhecimento.
Jovem 6: [...] vivências de biodança, em que lidamos com nossos medos
[...] tudo para que eu e o grande Bom Jardim movimente-se de forma
segura e sadia, modificando a realidade. Jovem 7: A cada dia no curso
aprendo uma nova lição de vida [...] Cresço como pessoa.
Jovem 9: Quando eu passo na rua com a blusa do curso as pessoas
comentam que eu devo fazer parte do projeto jovem aprendiz, eu tenho
orgulho de dizer que sim. Acho uma honra.
Jovem 11: [...] me proporcionou crescimento pessoal, autoconfiança [...] no
início nem sabia quais eram meus direitos no trabalho [...] faz com que os
jovens percebam que são capazes.
Jovem 13: [...] ajudam os jovens a se tornarem jovens de respeito, valor e
sucesso.
Jovem 15: [...] tenho o privilégio de participar do grupo de colaboradores do
hospital [...].
Jovem 16: [...] não sabia a fantástica lição de cidadania que estaria por vir,
nos tornando pessoas melhores.
Jovem 17: [...] me ajuda a ser um jovem livre.
Jovem 19: [...] a autoestima sendo valorizada a cada dia [...] contribui para a
formação do meu caráter, fazendo com que nós possamos nos tornar
cidadãos importantes para a humanidade.
Os trechos dos depoimentos transcritos sugerem grande influência da missão e
valores eleitos pela ONG executora na condução do projeto. Outros documentos
apontam para uma forte presença da racionalidade substantiva na gestão da
instituição, desde a própria missão. Treze alunos (65% da amostra) citaram
expressamente esses impactos, número superado apenas pelas referências aos
impactos do primeiro emprego (75% dos respondentes).
Objetivo 7 – Envolver pais/responsáveis no processo de evolução do jovem
Jovem 1: [...] revisão de minhas atitudes com meus pais
Jovem 2: [...] minha família sabia que seria importante para mim esse curso.
Jovem 3: [...] com o dinheiro pude ajudar na renda familiar.
Jovem 10: Com o meu emprego posso ajudar minha família.
Jovem 15: [...] a alegria pela minha seleção foi muito grande para a minha
família.
Jovem 18: Com o dinheiro que ganho posso ajudar meus pais.
Dentre os trechos supracitados, três fazem referência apenas à possibilidade de
ajuda financeira às famílias. Outros dois estão relacionados a momentos anteriores
à participação dos jovens no curso (inscrição e seleção) e, portanto, não
correspondem ao envolvimento de pais e/ou responsáveis no decorrer do processo.
Foram realizadas duas reuniões com pais/responsáveis, uma na abertura e outra no
início do segundo semestre, que contaram com a presença de pouco mais de 20%
dos convidados, de acordo com as atas registradas. Muitos jovens justificaram a
17. Avaliação
de
políticas
públicas
para
juventude:
uma
análise
na
percepção
dos
beneficiários
de
um
projeto
de
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ausência pelo fato de serem maiores de idade e residirem sozinhos ou com filhos e
cônjuges. A participação de familiares nas atividades culturais, passeios de
integração e visitas técnicas foi prejudicada pelo cancelamento da cessão dos
ônibus anteriormente liberados pela prefeitura para estes fins.
Objetivo 8 - Estimular a ampliação do universo cultural dos jovens e seus familiares
Jovem 3: Fui pela primeira vez em uma exposição de arte, e agora
pretendo ir outras vezes, pois é muito interessante.
Jovem 16: [...] nos propicia cultura.
Somente dois jovens demonstraram expressamente valorizar contribuições
recebidas na área da cultura. Constatou-se a realização de apenas duas visitas dos
grupos a centros culturais, sendo que poucos participaram da segunda, devido a
falhas de comunicação decorrentes de reforma no local das aulas. A pequena
divulgação de atividades culturais gratuitas e/ou de baixo custo para os jovens foi
justificada pela supervisão como consequência da falta de tempo alegada pelos
jovens.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como suporte teórico para a construção deste artigo foram contemplados conceitos
sobre vulnerabilidade social, aspectos relacionados à política pública de
aprendizagem profissional promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego e
alianças intersetoriais. Através da análise de conteúdo de textos relacionados à
execução do curso de Formação de Jovens Aprendizes para Apoio Administrativo e
Atendimento, um dos projetos credenciados, constatou-se que muitos objetivos
fixados foram alcançados, porém vários fatores indicaram a necessidade de reflexão
para melhoria das ações empreendidas.
Evidencia-se a necessidade de maior integração das políticas públicas. Falhas na
disponibilidade de transportes, por exemplo, comprometeram diversas atividades
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previstas no projeto em análise, impossibilitando o atingimento de objetivos como a
ampliação do universo cultural dos jovens e seus familiares e a promoção de mais
ações com foco na responsabilidade socioambiental. Ressaltam-se também as
dificuldades que enfrentaram muitos jovens no período de entrevistas nas empresas,
sendo necessário sair de casa com até três horas de antecedência para que não
ocorressem atrasos. Após as contratações, os deslocamentos entre o curso, as
empresas onde realizam vivência prática e em muitos casos até a escola foram
citados como extenuantes pela maioria dos participantes.
O objetivo de aprimorar a linguagem oral e escrita já decorre da ineficiência da
educação pública. O desafio teria sido facilitado com a disponibilidade de uma
biblioteca bem estruturada no bairro; através do esforço direto da ONG executora foi
construída uma biblioteca comunitária, mas não se conseguiu dotá-la de
profissionais qualificados e sistemas adequados.
A inserção da totalidade dos participantes no mercado de trabalho superou o
objetivo fixado, um indício da relevância da colaboração intersetorial, que envolveu
Governo, empresas privadas e organizações do terceiro setor. A exigência legal da
vinculação à escola para os jovens que não concluíram o ensino básico garantiu o
atingimento do objetivo de incentivar a continuidade dos estudos do ensino médio.
Embora apenas um aluno tenha mencionado em seu depoimento impacto
relacionado à escola, a análise dos documentos de inscrição dos participantes
comprova o atendimento da determinação expressa em lei. No entanto, no que diz
respeito à evolução da qualidade do desempenho escolar, o acompanhamento
periódico dos boletins não foi realizado, limitando-se ao momento inicial do projeto.
A realização de avaliações de progresso mensais seria recomendável para a
coordenação do projeto, pois essa sistemática facilitaria a identificação de
problemas com maior rapidez, maximizando as chances de revertê-los. A grande
maioria dos depoimentos registram impactos positivos referentes a melhorias na
autoestima, comunicação, organização e sociabilidade, o que sugere um diferencial
na condução do projeto pela ONG em questão, cuja missão consiste em “Acolher o
ser humano, respeitando suas dimensões bio-psico-sócio-espirituais, promovendo o
19. Avaliação
de
políticas
públicas
para
juventude:
uma
análise
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percepção
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jovens
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desenvolvimento dos seus potenciais, através do resgate dos valores humanos e
culturais, no sentido de favorecer a qualidade das relações pessoais, interpessoais e
comunitária para a promoção do dom da vida”.
Acredita-se que o estudo teve êxito no sentido de contribuir para a avaliação do
projeto em questão, além de possibilitar a disseminação de uma tecnologia social, a
partir da apresentação e análise de várias dinâmicas funcionais, com elementos
norteadores de sua replicabilidade.
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