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ESTUDO DE CASO / CASE STUDY / ESTUDIO DE CASO
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 179
Hidroterapiaereabilitaçãocardiovascular:umanova
abordagem no pós-operatório tardio de cirurgia bariátrica
Hydrotherapyandcardiovascularrehabilitation:
anewapproachonlatepost-operativerecoveryafterbariatricsurgery
Hidroterapiayrehabilitacióncardiovascular:unnuevoacercamiento
delarecuperaciónpost-operatoriaretrasadadelacirugíabariatrica
RESUMO: Aobesidade é definida como patologia de pacientes que apresentam um índice de massa corporal maior que 30 kg/m.
Estudosepidemiológicosdemonstramqueestáassociadaaoaumentodoíndicededoençascardiovasculares,diminuindoassim,a
expectativa de vida destes pacientes.Agastroplastia emYde Roux consiste na secção do estômago, delimitando um reservatório
com capacidade de aproximadamente 30 ml. Objetiva-se apresentar a hidroterapia e a reabilitação cardiovascular como recursos
para a recuperação pós-cirúrgica tardia de um paciente submetido à cirurgia bariátrica, a fim de verificar se há alterações na
capacidade funcional e qualidade de vida deste. Investigou-se paciente 44 anos, sexo feminino, submetida a duas sessões sema-
nais de hidroterapia e três de fisioterapia em solo, durante 4 meses. Como instrumentos de avaliação foram utilizados o teste de
caminhada de 6 minutos e o questionário de qualidade de vida SF-36. No TC6’, houve aumento de 90 metros da distância percor-
rida, e no SF-36, melhora na pontuação em 6 dos 8 itens avaliados. Houve melhora na qualidade de vida e na capacidade funcional
do paciente estudado.
DESCRITORES:Obesidademórbida-cirurgia,Hidroterapia,Reabilitaçãocardiovascular
ABSTRACT:Obesityisdefinedasapathologythataffectspatientspresentingabodymassindexgreaterthat30kg/m.Epidemiological
studies demonstrate that it is associated with the increase of the rate of cardiovascular illnesses, thus diminishing these patients’life
expectancy.ThegastroplastywithRoux-en-Ysectionsthestomachfordelimitingareservoirofapproximately30ml.Topresenthydro-
therapy and cardiovascular rehabilitation as resources for late post-operative recovery of a patient submitted to bariatric surgery in
ordertoverifyiftherearealterationsinherfunctionalcapacityandqualityoflife.Apatient44yearsold,femininesex, submittedtotwo
weekly sessions of hydrotherapy and three of ground physiotherapy for a period of 4 months.As evaluation instruments the test of 6
minuteswalkandtheSF-36questionnaireofqualityoflifehadbeenused. IntheTC6‘,therehadbeenanincreaseof90metersinthe
covereddistance,andintheSF-36improvementinthepunctuationof6from8evaluateditems. Therehadbeenanimprovementinthe
quality of life and the functional capacity of the studied patient.
KEYWORDS:MorbidObesity–surgery,Hydrotherapy,Cardiovascularrehabilitation
RESUMEN:Laobesidadsedefinecomopatologíadelospacientesquepresentanuníndicedemasacorporalmásgrandeque30Kg./m.
Estudiosepidemiólogosdemuestranqueestáasociadaalaumentodelíndicedeenfermedadescardiovasculares,disminuyendoasílaexpec-
tativa devidadeesospacientes.LadesviacióngástricaRoux-en-Yconsisteenunaseccióndelestómago,delimitandoundepósitocon
aproximadamente30mililitrosdecapacidad.Seobjetivapresentarlahidroterapiaylarehabilitacióncardiovascularcomorecursosparala
recuperaciónpost-operatoriaretrasadadeunpacientesometidoalacirugíabariatrica,paraverificarsihuboalteracionesensucapacidad
funcionalycalidaddevida.Pacientede44años,sexofemenino,sometidoadossesionessemanalesdehidroterapiaytresdeFisioterapiaen
suelo,durante4meses.Comoinstrumentosdeevaluaciónlapruebadecaminadode6minutosyelcuestionariodecalidaddelavidaSF-36
hansidoutilizados. EnelTC6',huboaumentode90metrosenladistanciacubierta,yenelSF-36,hubomejoraenlapuntuaciónen6de
los8 ítemsevaluados.Hubomejoraenlacalidaddevidaylacapacidadfuncionaldelpacienteestudiado.
PALLABRASLLAVE:Obesidadmórbida-cirugía,Hidroterapia,Rehabilitacióncardiovascular
Tiago José Piedade Vasconcellos Silva*
Gabriel Cunali Queiroz Telles*
Rafaela Okano Gimenes* *
Renata Trimer**
*
Fisioterapeutas graduados no Centro Universitário São Camilo.
**
Fisioterapeutas e docentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo.
tiago_vasconcellos@ig.com.b
HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM
NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA
180 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184
Introdução
A obesidade é atualmente a
doença crônica mais comum do
mundo ocidental, definida como
doença de pacientes que apresen-
tam um índice de massa corporal
(IMC) [(IMCpeso (kg)/altura (m)_)]
maior que 30 kg/m. Por definição,
um IMC de 25 é considerado como
normal (eutrófico). Entre 25-30 de
IMC já é considerado sobrepeso,
entre 30-35 de IMC, obesidade grau
I, entre 35-40 de IMC, obesidade de
grau II e acima de 40 de IMC, obesi-
dade de grau III ou clinicamente
mórbida (Lins et al., 1999; Zilbers-
tain et al., 2002).
O débito cardíaco aumenta de
forma diretamente proporcional ao
ganho de peso corpóreo. A volemia
também aumenta, uma vez que
mais sangueénecessárioparaper-
fundir o excesso de tecido corporal.
A volemia e o débito cardíaco au-
mentadossobrecarregamocoração,
o que eventualmente leva a hiper-
trofia miocárdica, hipoxemia crô-
nica, hipertensão pulmonar e fa-
lência ventricular direta. Estima-
sequesejamnecessáriosde2a3ml
de sangue para perfundir 100g de
tecido adiposo. Um paciente com
100 quilos de excesso de gordura
necessita de 3l/min no débito car-
díaco. Há um aumento do consu-
mo de oxigênio devido ao aumen-
to do tecido adiposo. Como a dife-
rença arteriovenosa encontra-se
normal, o aumento do consumo
de oxigênio necessita de aumento
do débito cardíaco. O aumento do
débito cardíaco ocorre às custas de
aumento do volume sistólico, pois
não há modificações da freqüência
cardíaca. (Lins et al., 1999; Mady,
2002; Oliveira Filho et al., 2002).
Ocorre aumento do consumo
de oxigênio e da produção de gás
carbônico no paciente obeso como
resultado da alta demanda meta-
bólica e do gasto energético neces-
sário para suprir a grande massa
corporal. O tecido gorduroso das
caixas torácica e abdominal reduz
a complacência torácica, sendo en-
tãonecessárioummaioresforçopa-
ra a movimentação do gradil costal.
A síndrome de hipoventilação da
obesidade (Síndrome de Pickwick)
é caracterizada por sonolência, hi-
poventilação, policitemia e aumen-
to da área cardíaca (Santos et al.,
1998, Lins et al., 1999).
A indicação de tratamento ci-
rúrgico da obesidade baseia-se em
análise abrangente de múltiplos as-
pectos clínicos do doente. A indica-
ção cirúrgica foi reforçada por fato-
res como:
1. Presença de morbidade que re-
sulta da obesidade ou é por ela
agravada, como a síndrome da
apnéia obstrutiva do sono que
écaracterizadaporparadasres-
piratórias durante o sono em
decorrência da obstrução das
vias aéreas superiores, decor-
rente do relaxamento natural
da musculatura durante o so-
no. Entre os portadores da sín-
drome da apnéia obstrutiva do
sono já diagnosticada, cerca de
70% são obesos. A dificuldade
de locomoção, o diabetes, a hi-
pertensão arterial, hiperlipe-
mias e arteriosclerose.
2. Excessodepesodepelomenos
45 quilos ou índice de massa
corpórea (IMC) acima de 40Kg/
m_,esteslimitespodemreduzir-
se para 40 quilos ou IMC maior
que 35 Kg/m_ em presença de
complicaçõesseverasdeobesida-
de, e uma circunferência abdo-
minal maior que 94 centíme-
tros nos homens e 80 nas mu-
lheres foi identificada como
marcadora de risco; e valores
maiores que 102 nos homens
e 88 nas mulheres identificam
alto risco para as doenças rela-
cionadas à obesidade.
3. Fracassodemétodosconserva-
dores de emagrecimento, bem
conduzidos.
4. Ausência de causas endócrinas
de obesidade, como hipopitui-
tarismo ou a Síndrome de Cu-
shing que decorre da exposição
a um excesso de glicocorticóide
na circulação sangüínea.
5. Avaliaçãofavoráveldaspossibi-
lidades psíquicas de o paciente
suportarastransformaçõesradi-
cais de comportamento impos-
taspelaoperação.(Garridoetal.,
2000; Lorenzi Filho, 2002; Spó-
sito et al, 2002)
Não há indicação cirúrgica nas
condições em que os riscos se
tornem inaceitáveis ou impeçam
a adaptação pós-operatória, tais
como:
– Pneumopatias graves, como
enfizema avançado ou embo-
lias pulmonares repetidas.
– Insuficiência renal.
– Lesão acentuada do miocárdio.
– Cirrose hepática.
– Distúrbios psiquiátricos ou de-
pendência de álcool ou drogas.
– Não aderência a tratamentos
prévios. (Garrido, 2000; 2002)
Como resultado do tratamento
cirúrgico, o hábito alimentar do pa-
ciente melhora reduzindo a inges-
tão maciça e assegurando que ele
vai comer em pequena quantidade
e mastigando bem cada porção de
alimento (Zilberstein et. al., 2002).
A abordagem inicial deve en-
volver programa de educação com
aconselhamento sobre dieta, mu-
dança de hábitos alimentares, es-
tilo de vida e programa de exercí-
cios, além de prever acompanha-
mento de longo prazo, mais in-
tenso nos primeiros meses e anos
de pós-operatório (Zilberstein et.
al. 2002).
A gastroplastia em Y de Roux
(Capella), objeto de estudo, con-
sistenasecçãodoestômagodefor-
ma a delimitar um pequeno reser-
vatório e conectá-lo ao intestino,
com capacidade de aproximada-
mente 30 mililitros. Todo o restante
do estômago, assim como o duo-
HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM
NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 181
deno e os primeiros 30 centíme-
tros de jejuno ficam permanente-
mente excluídos do trânsito ali-
mentar. O pequeno reservatório
gástrico é anastomosado a uma al-
çajejunalemYdeRouxeseuesva-
ziamento é limitado por um orifício
de 1,3 cm de diâmetro (Garrido,
2000; Zilberstein, 2002).
Material e método
A paciente foi submetida a
duas sessões semanais de hidro-
terapia com a duração de 50 mi-
nutos cada, e três sessões por se-
mana de fisioterapia no solo, com
duração de 50 minutos cada, du-
rante 4 meses.
Foram realizadas duas avalia-
ções no solo, sendo a primeira no
primeiro dia de tratamento e a
segunda no último. Como méto-
dos de avaliação, foram utilizados
o teste de caminhada de 6 minu-
tos (TC6’) e o questionário de qua-
lidade de vida SF-36. Os que apli-
caram o protocolo eram cegos em
relação à intervenção.
Na avaliação da capacidade fí-
sica, o TC6’ avalia a capacidade
funcional e também a habilidade
de empreender atividades na vida
diária. Essa aferição tem se mos-
trado importante na avaliação di-
nâmica e no manejo clínico de in-
divíduos (Rodrigues et al, 2004).
O questionário SF-36 (Medical
Outcomes Study 36 — Item
Short-form Health Survey) é um
instrumento genérico de avalia-
ção de saúde, de fácil administra-
ção e compreensão, composto
por 36 questões, englobadas em
oito itens: Capacidade Funcional
(CF), que abrange 10 questões; as-
pecto físico (AF), 4 questões; dor
(D), 2 questões; estado geral de
saúde (EGS), 5 questões; vitalidade
(V), 4 questões; aspectos sociais
(AS), 2 questões; aspectos emocio-
nais (AE), 3 questões; saúde men-
tal (SM), 5 questões (Ciconelli et
al., 1999).
Protocolodefisioterapiaaquática
• Aquecimento. Marcha anterior,
lateral e posterior com turbu-
lência e mudança de direção
(10 minutos).
• Treinamentoaeróbio.Corridaes-
tacionária(cintoelástico)enado
estacionário (batida de perna
com prancha e cinto elástico)
(15 minutos).
• Trabalhodefortalecimentomus-
cular (10 minutos).
• MMSS.MétodoBadRagazeequi-
pamentos flutuadores.
• Tronco. Método Bad Ragaz e
método Halliwick.
• MMII. Método Bad Ragaz.
• Desaquecimento (15 minutos),
Método Watsu.
Protocolodesolo
• Aquecimento. Circuito, cama
elástica e atividades com bola
de MMSS e MMII (10 minutos).
• Treinamento aeróbio. Bicicleta e
esteira, treinamento com resis-
tênciaemMMSS comhalteres(au-
mentando a intensidade pro-
gressivamente) (30 minutos).
• Desaquecimento. pompages e
alongamento global (10 mi-
nutos).
Gráfico I
HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM
NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA
182 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184
Resultadosediscussão
Na revisão da literatura, foram
encontrados 16 artigos referentes
a cirurgia bariátrica. Nenhum de-
les, porém, envolvia a hidrotera-
pia e a reabilitação cardiovascular
como terapêuticas utilizadas no
pós operatório desta, ponto de
maior dificuldade para a elabora-
ção do desenvolvimento do estu-
do proposto.
A qualidade de vida dos indiví-
duos em geral é um dos assuntos
mais discutidos na atualidade,
contudo, ainda há necessidade de
se criarem métodos que mensu-
rem de forma fidedigna e quanti-
tativa a qualidade de vida da po-
pulação, pois segundo Ciconelli et
al. (1999) esses métodos em sua
maioria foram formulados na lín-
gua inglesa, para a utilização da
população que fala este idioma.
O SF-36, por ser um instrumen-
to genérico de avaliação de quali-
dade de vida, de fácil administra-
ção e compreensão, foi escolhido
como um dos métodos de avalia-
ção para este estudo.
Ciconelli et al. (1999) relatam
em seu estudo que na fase de vali-
dação do SF-36, quando compara-
do com outros parâmetros clínicos-
laboratoriais, o componente capa-
cidade funcional é o que melhor
apresenta resultados clínica e esta-
tisticamente fiéis.
Segundo Lins et al. (1999) e Zil-
berstein et al. (2002), a obesidade
é atualmente a doença crônica
mais comum do mundo ocidental,
trazendo consigo implicações so-
cioeconômicas representativas, e
tendo como conseqüências uma
piora considerável da qualidade
de vida, como dispnéia de esforço
(que evolui para dispnéia de repou-
so em casos mais graves), hiper-
tensão, dislipidemia e doenças car-
diovasculares,associadaaofatode
que pacientes morbidamente obe-
sos têm uma expectativa de vida
menor que indivíduos não obesos.
Combasenaobservaçãodesses
dados, ressaltamos a necessidade
de utilizarmos métodos de avalia-
ção como o SF-36, a fim de determi-
narmos a melhora ou piora do pa-
ciente de uma forma global, facili-
tando assim o traçado de objetivos
e condutas dentro de um programa
de tratamento.
Analisando os resultados obti-
dos no questionário SF-36,observa-
mos que a melhora de pontos na
avaliação final da capacidade fun-
cional pode ser devida a fatores co-
mo diminuição importante do peso
corporal e ao protocolo de reabili-
tação utilizado visar principalmen-
te o condicionamento físico.
Emrelaçãoaoaspectofísico,os
pontos se mantiveram nas duas
avaliações uma vez que a paciente
semprefoiativa,eofatodeserobe-
sanão era fator predominante para
que não realizasse suas tarefas.
No aspecto dor, a paciente teve
uma melhora de 33 pontos, que po-
de ser justificada pela perda signi-
ficativadepeso,resultandoemuma
descompressãoarticularfavorecen-
do uma maior mobilidade, que per-
mitiu-lhe realizar então as tarefas
de uma forma mais adequada, evi-
tandoposiçõesantálgicas.
O estado geral de saúde pode
ter melhorado porque os fatores de
risco que estão ligados à obesida-
de mórbida diminuíram drastica-
mentecomareduçãodepeso,com
a reeducação alimentar e pelos
exercícios propostos durante o pro-
grama de tratamento.
A vitalidade está intrinseca-
mente ligada ao condicionamento
físico,quetrazparaopacientemais
vigor, vontade e força para reali-
zar suas atividade de vida diária.
O aspecto social pode ter me-
lhorado porque com a redução de
peso e com o programa de trata-
mento a paciente obteve um ganho
no condicionamento físico e na sua
auto-estima.
Não houve diferença em rela-
ção ao aspecto emocional, porque
Valores dos 2 TC6’, pré e pós-teste, indicando as variáveis: (FC) Freqüência cardíaca, (Sat O2
)
Saturação de oxigênio e (FR) Freqüência respiratória
TC6’
1º TESTE Distância inicial percorrida 590 metros FC Sat O2
FR
Repouso 75 96 19
Final 98 98 18
Após 3 min 96 98 19
2º TESTE Distância final percorrida 680 metros
Repouso 67 97 17
Final 115 98 21
Após 3 min 71 98 18
Tabela I
HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM
NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 183
suas atividades nunca deixaram de
serrealizadas,independentemente
de suas condições.
Em relação à saúde mental, a
paciente teve uma melhora impor-
tante, o que pode ser justificado pe-
la aplicação do programa de trata-
mento, sugerindo que a atividade
física promove este bem estar.
O TC6’, de acordo com Moreira
et al (2001), tem sido preconizado
e utilizado na avaliação dos resul-
tadosdeprogramasdereabilitação.
Segundo Grace et al, (2002) o
TC6’ é um teste confiável, de fácil
aplicação,bemaceitopelospacien-
tes e não requer equipamentos
dispendiosos.Essetestesemostrou
efetivo para detectar pequenas
mudanças clinicamente importan-
tes, determinando assim, a inten-
sidadedeexercíciosqueopaciente
poderá realizar.
Durante o teste de caminhada
no final do programa de tratamen-
to, alguns parâmetros como FC e
FR final apresentaram um aumen-
to, se comparados aos testes reali-
zados no início do programa. Este
aumento dos valores do primeiro
para o segundo teste pode ser jus-
tificado pelo fato de que a paciente
percorreu 90 metros a mais na ava-
liação final, necessitando assim de
um aumento no débito cardíaco e
na freqüência respiratória. Segun-
do Moreira et al (2001), a freqüên-
cia cardíaca aumenta linearmente
com a intensidade do esforço físico
e com o aumento do consumo de
oxigênio (VO2
). A intensidade do
exercício físico é o principal deter-
minante do aumento da freqüên-
cia cardíaca durante o exercício.
Devemostambémressaltarque
após três minutos de repouso, os
valores aferidos no segundo teste
tiveram um decréscimo considerá-
vel em relação aos obtidos no pri-
meiro teste, chegando próximos
aos valores basais. Esse resultado
positivo vem provar a eficiência do
programa de tratamento no con-
dicionamento cardiovascular.
O treinamento cardiovascular
caracteriza-se pela busca da dose
apropriada de exercício, a qual ma-
ximizaráosbenefícioseminimizará
os riscos e efeitos colaterais (Araú-
jo et al., 2004).
Osexercíciosaeróbiossãoaque-
les que envolvem grandes grupos
oumassasmusculares,capazesde
elevar o consumo de oxigênio vá-
rias vezes acima do nível de re-
pouso. A intensidade do exercício
deve ser individualizada e, prefe-
rencialmente, definida a partir de
dados objetivos obtidos no teste de
exercício. É controlada mais obje-
tivamente pela medida da freqüên-
ciacardíaca(FC),ouaindapelasen-
sação subjetiva de cansaço, variá-
veisessasqueserelacionamdireta-
mente dentro de uma faixa bastan-
te ampla, com o consumo de oxi-
gênio e o gasto calórico (Araújo et
al., 2004).
De acordo com Koury (2000) o
treinamento aquático intermitente
para pacientes descondicionados é
o mais recomendado, além do que
o treinamento aeróbio de baixa in-
tensidadeelongaduraçãodeveser
precedido de um trabalho anaeró-
bio de alta intensidade.
Christie et al. (1990) relataram
que durante o exercício em água
aquecida são liberados metabólitos
pela atividade muscular, causando
vasodilatação e aumento progres-
sivo do fluxo sangüíneo, podendo
aumentar futuramente a fase sub-
máxima e máxima do exercício.
Segundo Koury et al. (2000), as
fasesdeaquecimentoerecuperação
são períodos inerentes à sessão de
treinamento.Nafaseinicialdoexer-
cício realiza-se o aquecimento dos
músculos e do sistema cardiorespi-
ratório, visando alcançar maior efi-
ciênciametabólicaeprevenirlesões
osteomioarticulares. A fase de re-
cuperaçãooudesaquecimentoper-
mite um decréscimo de intensida-
deparaascondiçõesderepousode
maneira planejada.
De acordo com a literatura pes-
quisada, sabe-se que os princípios
físicos da água, associados a seus
efeitos terapêuticos, promovem al-
terações fisiológicas que, se forem
acompanhadas por um profissional
da área, trazem benefícios aos pa-
cientes, fazendo com que haja um
alto gasto energético.
Segundo Koury (2000) a ativi-
dade aeróbia aquática utiliza uma
porcentagem maior de gordura co-
mo fonte de energia (77,2%) em
uma estimativa de trinta minutos
de tratamento.
Hall et al. (1990) relatam que a
ejeção cardíaca aumenta 34% du-
ranteaimersão,equeassociada ao
débito cardíaco aumenta propor-
cionalmente a atividade física reali-
zada, variando com a temperatura
da água, a resistência, profundida-
de e pressão hidrostática.
É possível dizer então, que a
hidroterapia é um recurso que de-
ve ser utilizado para pacientes que
apresentam um déficit no condi-
cionamento cardiovascular, inclu-
sive os que realizaram a cirurgia
bariátrica, uma vez que na água
existe uma redução importante do
efeito da força da gravidade e,
conseqüentemente, do impacto
por ela provocado, fator este que
determina o tipo de atividade que
deve ser realizada.
Apesar do protocolo ter sido
aplicado em apenas um paciente,
justifica-se a continuidade da apli-
cabilidade dessa terapêutica, inclu-
sive em um maior número de pa-
cientes, uma vez que não houve re-
sultados maléficos a este paciente.
Conclusão
Concluímos que houve melhora
naqualidadedevidaenacapacidade
funcional do paciente estudado.
Sugerimos que estudos clíni-
cos futuros sejam realizados, a fim
de evidenciarmos a efetividade
desse protocolo no pós-operató-
rio tardio de cirurgia bariátrica.
HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM
NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA
184 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184
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Rodrigues SL et al. Teste de caminhada de seis minutos: estudo do efeito do aprendizado em portadores de doença pulmonar.
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Sposito AC et al. Avaliação do risco cardiovascular no excesso de peso e obesidade. Arq Bras Cardiol 2002; 76.
Zilberstein B et al. O papel da cirurgia no tratamento da obesidade. Rev Bras Med 2002;59(4).
Recebidoem14desetembrode2005
Versão atualizada em 4 de outubro de 2005
Aprovado em 28 de outubro de 2005

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Hidroterapia reabilita obesos pós-cirurgia

  • 1. ESTUDO DE CASO / CASE STUDY / ESTUDIO DE CASO O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 179 Hidroterapiaereabilitaçãocardiovascular:umanova abordagem no pós-operatório tardio de cirurgia bariátrica Hydrotherapyandcardiovascularrehabilitation: anewapproachonlatepost-operativerecoveryafterbariatricsurgery Hidroterapiayrehabilitacióncardiovascular:unnuevoacercamiento delarecuperaciónpost-operatoriaretrasadadelacirugíabariatrica RESUMO: Aobesidade é definida como patologia de pacientes que apresentam um índice de massa corporal maior que 30 kg/m. Estudosepidemiológicosdemonstramqueestáassociadaaoaumentodoíndicededoençascardiovasculares,diminuindoassim,a expectativa de vida destes pacientes.Agastroplastia emYde Roux consiste na secção do estômago, delimitando um reservatório com capacidade de aproximadamente 30 ml. Objetiva-se apresentar a hidroterapia e a reabilitação cardiovascular como recursos para a recuperação pós-cirúrgica tardia de um paciente submetido à cirurgia bariátrica, a fim de verificar se há alterações na capacidade funcional e qualidade de vida deste. Investigou-se paciente 44 anos, sexo feminino, submetida a duas sessões sema- nais de hidroterapia e três de fisioterapia em solo, durante 4 meses. Como instrumentos de avaliação foram utilizados o teste de caminhada de 6 minutos e o questionário de qualidade de vida SF-36. No TC6’, houve aumento de 90 metros da distância percor- rida, e no SF-36, melhora na pontuação em 6 dos 8 itens avaliados. Houve melhora na qualidade de vida e na capacidade funcional do paciente estudado. DESCRITORES:Obesidademórbida-cirurgia,Hidroterapia,Reabilitaçãocardiovascular ABSTRACT:Obesityisdefinedasapathologythataffectspatientspresentingabodymassindexgreaterthat30kg/m.Epidemiological studies demonstrate that it is associated with the increase of the rate of cardiovascular illnesses, thus diminishing these patients’life expectancy.ThegastroplastywithRoux-en-Ysectionsthestomachfordelimitingareservoirofapproximately30ml.Topresenthydro- therapy and cardiovascular rehabilitation as resources for late post-operative recovery of a patient submitted to bariatric surgery in ordertoverifyiftherearealterationsinherfunctionalcapacityandqualityoflife.Apatient44yearsold,femininesex, submittedtotwo weekly sessions of hydrotherapy and three of ground physiotherapy for a period of 4 months.As evaluation instruments the test of 6 minuteswalkandtheSF-36questionnaireofqualityoflifehadbeenused. IntheTC6‘,therehadbeenanincreaseof90metersinthe covereddistance,andintheSF-36improvementinthepunctuationof6from8evaluateditems. Therehadbeenanimprovementinthe quality of life and the functional capacity of the studied patient. KEYWORDS:MorbidObesity–surgery,Hydrotherapy,Cardiovascularrehabilitation RESUMEN:Laobesidadsedefinecomopatologíadelospacientesquepresentanuníndicedemasacorporalmásgrandeque30Kg./m. Estudiosepidemiólogosdemuestranqueestáasociadaalaumentodelíndicedeenfermedadescardiovasculares,disminuyendoasílaexpec- tativa devidadeesospacientes.LadesviacióngástricaRoux-en-Yconsisteenunaseccióndelestómago,delimitandoundepósitocon aproximadamente30mililitrosdecapacidad.Seobjetivapresentarlahidroterapiaylarehabilitacióncardiovascularcomorecursosparala recuperaciónpost-operatoriaretrasadadeunpacientesometidoalacirugíabariatrica,paraverificarsihuboalteracionesensucapacidad funcionalycalidaddevida.Pacientede44años,sexofemenino,sometidoadossesionessemanalesdehidroterapiaytresdeFisioterapiaen suelo,durante4meses.Comoinstrumentosdeevaluaciónlapruebadecaminadode6minutosyelcuestionariodecalidaddelavidaSF-36 hansidoutilizados. EnelTC6',huboaumentode90metrosenladistanciacubierta,yenelSF-36,hubomejoraenlapuntuaciónen6de los8 ítemsevaluados.Hubomejoraenlacalidaddevidaylacapacidadfuncionaldelpacienteestudiado. PALLABRASLLAVE:Obesidadmórbida-cirugía,Hidroterapia,Rehabilitacióncardiovascular Tiago José Piedade Vasconcellos Silva* Gabriel Cunali Queiroz Telles* Rafaela Okano Gimenes* * Renata Trimer** * Fisioterapeutas graduados no Centro Universitário São Camilo. ** Fisioterapeutas e docentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo. tiago_vasconcellos@ig.com.b
  • 2. HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA 180 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 Introdução A obesidade é atualmente a doença crônica mais comum do mundo ocidental, definida como doença de pacientes que apresen- tam um índice de massa corporal (IMC) [(IMCpeso (kg)/altura (m)_)] maior que 30 kg/m. Por definição, um IMC de 25 é considerado como normal (eutrófico). Entre 25-30 de IMC já é considerado sobrepeso, entre 30-35 de IMC, obesidade grau I, entre 35-40 de IMC, obesidade de grau II e acima de 40 de IMC, obesi- dade de grau III ou clinicamente mórbida (Lins et al., 1999; Zilbers- tain et al., 2002). O débito cardíaco aumenta de forma diretamente proporcional ao ganho de peso corpóreo. A volemia também aumenta, uma vez que mais sangueénecessárioparaper- fundir o excesso de tecido corporal. A volemia e o débito cardíaco au- mentadossobrecarregamocoração, o que eventualmente leva a hiper- trofia miocárdica, hipoxemia crô- nica, hipertensão pulmonar e fa- lência ventricular direta. Estima- sequesejamnecessáriosde2a3ml de sangue para perfundir 100g de tecido adiposo. Um paciente com 100 quilos de excesso de gordura necessita de 3l/min no débito car- díaco. Há um aumento do consu- mo de oxigênio devido ao aumen- to do tecido adiposo. Como a dife- rença arteriovenosa encontra-se normal, o aumento do consumo de oxigênio necessita de aumento do débito cardíaco. O aumento do débito cardíaco ocorre às custas de aumento do volume sistólico, pois não há modificações da freqüência cardíaca. (Lins et al., 1999; Mady, 2002; Oliveira Filho et al., 2002). Ocorre aumento do consumo de oxigênio e da produção de gás carbônico no paciente obeso como resultado da alta demanda meta- bólica e do gasto energético neces- sário para suprir a grande massa corporal. O tecido gorduroso das caixas torácica e abdominal reduz a complacência torácica, sendo en- tãonecessárioummaioresforçopa- ra a movimentação do gradil costal. A síndrome de hipoventilação da obesidade (Síndrome de Pickwick) é caracterizada por sonolência, hi- poventilação, policitemia e aumen- to da área cardíaca (Santos et al., 1998, Lins et al., 1999). A indicação de tratamento ci- rúrgico da obesidade baseia-se em análise abrangente de múltiplos as- pectos clínicos do doente. A indica- ção cirúrgica foi reforçada por fato- res como: 1. Presença de morbidade que re- sulta da obesidade ou é por ela agravada, como a síndrome da apnéia obstrutiva do sono que écaracterizadaporparadasres- piratórias durante o sono em decorrência da obstrução das vias aéreas superiores, decor- rente do relaxamento natural da musculatura durante o so- no. Entre os portadores da sín- drome da apnéia obstrutiva do sono já diagnosticada, cerca de 70% são obesos. A dificuldade de locomoção, o diabetes, a hi- pertensão arterial, hiperlipe- mias e arteriosclerose. 2. Excessodepesodepelomenos 45 quilos ou índice de massa corpórea (IMC) acima de 40Kg/ m_,esteslimitespodemreduzir- se para 40 quilos ou IMC maior que 35 Kg/m_ em presença de complicaçõesseverasdeobesida- de, e uma circunferência abdo- minal maior que 94 centíme- tros nos homens e 80 nas mu- lheres foi identificada como marcadora de risco; e valores maiores que 102 nos homens e 88 nas mulheres identificam alto risco para as doenças rela- cionadas à obesidade. 3. Fracassodemétodosconserva- dores de emagrecimento, bem conduzidos. 4. Ausência de causas endócrinas de obesidade, como hipopitui- tarismo ou a Síndrome de Cu- shing que decorre da exposição a um excesso de glicocorticóide na circulação sangüínea. 5. Avaliaçãofavoráveldaspossibi- lidades psíquicas de o paciente suportarastransformaçõesradi- cais de comportamento impos- taspelaoperação.(Garridoetal., 2000; Lorenzi Filho, 2002; Spó- sito et al, 2002) Não há indicação cirúrgica nas condições em que os riscos se tornem inaceitáveis ou impeçam a adaptação pós-operatória, tais como: – Pneumopatias graves, como enfizema avançado ou embo- lias pulmonares repetidas. – Insuficiência renal. – Lesão acentuada do miocárdio. – Cirrose hepática. – Distúrbios psiquiátricos ou de- pendência de álcool ou drogas. – Não aderência a tratamentos prévios. (Garrido, 2000; 2002) Como resultado do tratamento cirúrgico, o hábito alimentar do pa- ciente melhora reduzindo a inges- tão maciça e assegurando que ele vai comer em pequena quantidade e mastigando bem cada porção de alimento (Zilberstein et. al., 2002). A abordagem inicial deve en- volver programa de educação com aconselhamento sobre dieta, mu- dança de hábitos alimentares, es- tilo de vida e programa de exercí- cios, além de prever acompanha- mento de longo prazo, mais in- tenso nos primeiros meses e anos de pós-operatório (Zilberstein et. al. 2002). A gastroplastia em Y de Roux (Capella), objeto de estudo, con- sistenasecçãodoestômagodefor- ma a delimitar um pequeno reser- vatório e conectá-lo ao intestino, com capacidade de aproximada- mente 30 mililitros. Todo o restante do estômago, assim como o duo-
  • 3. HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 181 deno e os primeiros 30 centíme- tros de jejuno ficam permanente- mente excluídos do trânsito ali- mentar. O pequeno reservatório gástrico é anastomosado a uma al- çajejunalemYdeRouxeseuesva- ziamento é limitado por um orifício de 1,3 cm de diâmetro (Garrido, 2000; Zilberstein, 2002). Material e método A paciente foi submetida a duas sessões semanais de hidro- terapia com a duração de 50 mi- nutos cada, e três sessões por se- mana de fisioterapia no solo, com duração de 50 minutos cada, du- rante 4 meses. Foram realizadas duas avalia- ções no solo, sendo a primeira no primeiro dia de tratamento e a segunda no último. Como méto- dos de avaliação, foram utilizados o teste de caminhada de 6 minu- tos (TC6’) e o questionário de qua- lidade de vida SF-36. Os que apli- caram o protocolo eram cegos em relação à intervenção. Na avaliação da capacidade fí- sica, o TC6’ avalia a capacidade funcional e também a habilidade de empreender atividades na vida diária. Essa aferição tem se mos- trado importante na avaliação di- nâmica e no manejo clínico de in- divíduos (Rodrigues et al, 2004). O questionário SF-36 (Medical Outcomes Study 36 — Item Short-form Health Survey) é um instrumento genérico de avalia- ção de saúde, de fácil administra- ção e compreensão, composto por 36 questões, englobadas em oito itens: Capacidade Funcional (CF), que abrange 10 questões; as- pecto físico (AF), 4 questões; dor (D), 2 questões; estado geral de saúde (EGS), 5 questões; vitalidade (V), 4 questões; aspectos sociais (AS), 2 questões; aspectos emocio- nais (AE), 3 questões; saúde men- tal (SM), 5 questões (Ciconelli et al., 1999). Protocolodefisioterapiaaquática • Aquecimento. Marcha anterior, lateral e posterior com turbu- lência e mudança de direção (10 minutos). • Treinamentoaeróbio.Corridaes- tacionária(cintoelástico)enado estacionário (batida de perna com prancha e cinto elástico) (15 minutos). • Trabalhodefortalecimentomus- cular (10 minutos). • MMSS.MétodoBadRagazeequi- pamentos flutuadores. • Tronco. Método Bad Ragaz e método Halliwick. • MMII. Método Bad Ragaz. • Desaquecimento (15 minutos), Método Watsu. Protocolodesolo • Aquecimento. Circuito, cama elástica e atividades com bola de MMSS e MMII (10 minutos). • Treinamento aeróbio. Bicicleta e esteira, treinamento com resis- tênciaemMMSS comhalteres(au- mentando a intensidade pro- gressivamente) (30 minutos). • Desaquecimento. pompages e alongamento global (10 mi- nutos). Gráfico I
  • 4. HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA 182 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 Resultadosediscussão Na revisão da literatura, foram encontrados 16 artigos referentes a cirurgia bariátrica. Nenhum de- les, porém, envolvia a hidrotera- pia e a reabilitação cardiovascular como terapêuticas utilizadas no pós operatório desta, ponto de maior dificuldade para a elabora- ção do desenvolvimento do estu- do proposto. A qualidade de vida dos indiví- duos em geral é um dos assuntos mais discutidos na atualidade, contudo, ainda há necessidade de se criarem métodos que mensu- rem de forma fidedigna e quanti- tativa a qualidade de vida da po- pulação, pois segundo Ciconelli et al. (1999) esses métodos em sua maioria foram formulados na lín- gua inglesa, para a utilização da população que fala este idioma. O SF-36, por ser um instrumen- to genérico de avaliação de quali- dade de vida, de fácil administra- ção e compreensão, foi escolhido como um dos métodos de avalia- ção para este estudo. Ciconelli et al. (1999) relatam em seu estudo que na fase de vali- dação do SF-36, quando compara- do com outros parâmetros clínicos- laboratoriais, o componente capa- cidade funcional é o que melhor apresenta resultados clínica e esta- tisticamente fiéis. Segundo Lins et al. (1999) e Zil- berstein et al. (2002), a obesidade é atualmente a doença crônica mais comum do mundo ocidental, trazendo consigo implicações so- cioeconômicas representativas, e tendo como conseqüências uma piora considerável da qualidade de vida, como dispnéia de esforço (que evolui para dispnéia de repou- so em casos mais graves), hiper- tensão, dislipidemia e doenças car- diovasculares,associadaaofatode que pacientes morbidamente obe- sos têm uma expectativa de vida menor que indivíduos não obesos. Combasenaobservaçãodesses dados, ressaltamos a necessidade de utilizarmos métodos de avalia- ção como o SF-36, a fim de determi- narmos a melhora ou piora do pa- ciente de uma forma global, facili- tando assim o traçado de objetivos e condutas dentro de um programa de tratamento. Analisando os resultados obti- dos no questionário SF-36,observa- mos que a melhora de pontos na avaliação final da capacidade fun- cional pode ser devida a fatores co- mo diminuição importante do peso corporal e ao protocolo de reabili- tação utilizado visar principalmen- te o condicionamento físico. Emrelaçãoaoaspectofísico,os pontos se mantiveram nas duas avaliações uma vez que a paciente semprefoiativa,eofatodeserobe- sanão era fator predominante para que não realizasse suas tarefas. No aspecto dor, a paciente teve uma melhora de 33 pontos, que po- de ser justificada pela perda signi- ficativadepeso,resultandoemuma descompressãoarticularfavorecen- do uma maior mobilidade, que per- mitiu-lhe realizar então as tarefas de uma forma mais adequada, evi- tandoposiçõesantálgicas. O estado geral de saúde pode ter melhorado porque os fatores de risco que estão ligados à obesida- de mórbida diminuíram drastica- mentecomareduçãodepeso,com a reeducação alimentar e pelos exercícios propostos durante o pro- grama de tratamento. A vitalidade está intrinseca- mente ligada ao condicionamento físico,quetrazparaopacientemais vigor, vontade e força para reali- zar suas atividade de vida diária. O aspecto social pode ter me- lhorado porque com a redução de peso e com o programa de trata- mento a paciente obteve um ganho no condicionamento físico e na sua auto-estima. Não houve diferença em rela- ção ao aspecto emocional, porque Valores dos 2 TC6’, pré e pós-teste, indicando as variáveis: (FC) Freqüência cardíaca, (Sat O2 ) Saturação de oxigênio e (FR) Freqüência respiratória TC6’ 1º TESTE Distância inicial percorrida 590 metros FC Sat O2 FR Repouso 75 96 19 Final 98 98 18 Após 3 min 96 98 19 2º TESTE Distância final percorrida 680 metros Repouso 67 97 17 Final 115 98 21 Após 3 min 71 98 18 Tabela I
  • 5. HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 183 suas atividades nunca deixaram de serrealizadas,independentemente de suas condições. Em relação à saúde mental, a paciente teve uma melhora impor- tante, o que pode ser justificado pe- la aplicação do programa de trata- mento, sugerindo que a atividade física promove este bem estar. O TC6’, de acordo com Moreira et al (2001), tem sido preconizado e utilizado na avaliação dos resul- tadosdeprogramasdereabilitação. Segundo Grace et al, (2002) o TC6’ é um teste confiável, de fácil aplicação,bemaceitopelospacien- tes e não requer equipamentos dispendiosos.Essetestesemostrou efetivo para detectar pequenas mudanças clinicamente importan- tes, determinando assim, a inten- sidadedeexercíciosqueopaciente poderá realizar. Durante o teste de caminhada no final do programa de tratamen- to, alguns parâmetros como FC e FR final apresentaram um aumen- to, se comparados aos testes reali- zados no início do programa. Este aumento dos valores do primeiro para o segundo teste pode ser jus- tificado pelo fato de que a paciente percorreu 90 metros a mais na ava- liação final, necessitando assim de um aumento no débito cardíaco e na freqüência respiratória. Segun- do Moreira et al (2001), a freqüên- cia cardíaca aumenta linearmente com a intensidade do esforço físico e com o aumento do consumo de oxigênio (VO2 ). A intensidade do exercício físico é o principal deter- minante do aumento da freqüên- cia cardíaca durante o exercício. Devemostambémressaltarque após três minutos de repouso, os valores aferidos no segundo teste tiveram um decréscimo considerá- vel em relação aos obtidos no pri- meiro teste, chegando próximos aos valores basais. Esse resultado positivo vem provar a eficiência do programa de tratamento no con- dicionamento cardiovascular. O treinamento cardiovascular caracteriza-se pela busca da dose apropriada de exercício, a qual ma- ximizaráosbenefícioseminimizará os riscos e efeitos colaterais (Araú- jo et al., 2004). Osexercíciosaeróbiossãoaque- les que envolvem grandes grupos oumassasmusculares,capazesde elevar o consumo de oxigênio vá- rias vezes acima do nível de re- pouso. A intensidade do exercício deve ser individualizada e, prefe- rencialmente, definida a partir de dados objetivos obtidos no teste de exercício. É controlada mais obje- tivamente pela medida da freqüên- ciacardíaca(FC),ouaindapelasen- sação subjetiva de cansaço, variá- veisessasqueserelacionamdireta- mente dentro de uma faixa bastan- te ampla, com o consumo de oxi- gênio e o gasto calórico (Araújo et al., 2004). De acordo com Koury (2000) o treinamento aquático intermitente para pacientes descondicionados é o mais recomendado, além do que o treinamento aeróbio de baixa in- tensidadeelongaduraçãodeveser precedido de um trabalho anaeró- bio de alta intensidade. Christie et al. (1990) relataram que durante o exercício em água aquecida são liberados metabólitos pela atividade muscular, causando vasodilatação e aumento progres- sivo do fluxo sangüíneo, podendo aumentar futuramente a fase sub- máxima e máxima do exercício. Segundo Koury et al. (2000), as fasesdeaquecimentoerecuperação são períodos inerentes à sessão de treinamento.Nafaseinicialdoexer- cício realiza-se o aquecimento dos músculos e do sistema cardiorespi- ratório, visando alcançar maior efi- ciênciametabólicaeprevenirlesões osteomioarticulares. A fase de re- cuperaçãooudesaquecimentoper- mite um decréscimo de intensida- deparaascondiçõesderepousode maneira planejada. De acordo com a literatura pes- quisada, sabe-se que os princípios físicos da água, associados a seus efeitos terapêuticos, promovem al- terações fisiológicas que, se forem acompanhadas por um profissional da área, trazem benefícios aos pa- cientes, fazendo com que haja um alto gasto energético. Segundo Koury (2000) a ativi- dade aeróbia aquática utiliza uma porcentagem maior de gordura co- mo fonte de energia (77,2%) em uma estimativa de trinta minutos de tratamento. Hall et al. (1990) relatam que a ejeção cardíaca aumenta 34% du- ranteaimersão,equeassociada ao débito cardíaco aumenta propor- cionalmente a atividade física reali- zada, variando com a temperatura da água, a resistência, profundida- de e pressão hidrostática. É possível dizer então, que a hidroterapia é um recurso que de- ve ser utilizado para pacientes que apresentam um déficit no condi- cionamento cardiovascular, inclu- sive os que realizaram a cirurgia bariátrica, uma vez que na água existe uma redução importante do efeito da força da gravidade e, conseqüentemente, do impacto por ela provocado, fator este que determina o tipo de atividade que deve ser realizada. Apesar do protocolo ter sido aplicado em apenas um paciente, justifica-se a continuidade da apli- cabilidade dessa terapêutica, inclu- sive em um maior número de pa- cientes, uma vez que não houve re- sultados maléficos a este paciente. Conclusão Concluímos que houve melhora naqualidadedevidaenacapacidade funcional do paciente estudado. Sugerimos que estudos clíni- cos futuros sejam realizados, a fim de evidenciarmos a efetividade desse protocolo no pós-operató- rio tardio de cirurgia bariátrica.
  • 6. HIDROTERAPIA E REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR: UMA NOVA ABORDAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIABARIÁTRICA 184 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 179-184 REFERÊNCIAS Araújo et al. Normatização dos equipamentos e técnicas da reabilitação cardiovascular supervisionada. Arq Bras Cardiol 2004; 83 (5). Ciconelli RM et al. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol 1999; 39 (3). Christie JL et al. Cardiovascular regulation during head-out water immersion exercise. The American Physiological Society. Mar. 1990. Garrido AAA et al. Cirurgia em obesos mórbidos, experiência pessoal. Endocrinol Metab 2000; 44(1). Garrido A, Fernandes F. Tratamento cirúrgico da obesidade aspectos cardiovasculares. Arq Bras Cardiol 2002; 78. Grace W, Saderson B, Bittner V. The 6-minute walk test: how important is the learning effect?. Am Heart J 2002; 146 (1). Hall J. et. al. The fisiology of immersion. Physiotherapy 1990; 76 (9). Koury JMM. Programa de fisioterapia aquática. [S.l]: Manole; 2002. Lins AAA et al. Anestesia para gastroplastia no paciente obeso. Rev Bras Anestesiol 1999; 49 (4):282-287. Lorenzi Filho G. Apnéia obstrutiva do sono, obesidade e doenças cardiovasculares. Arq Bras Cardiol 2002; 78. Mady C, Fernandes F. Cardiomiopatia da obesidade. Arq Bras Cardiol 2002; 76. Moreira MAC, Moraes MR, Tannus R. Teste da caminhada de 6 minutos em pacientes com DPOC durante programa de reabilitação. J Pneumol 2001; 27(6). Oliveira Filho GR et al. Problemas cardíacos pré-anestésicos de pacientes morbidamente obesos submetidos a cirurgias bariátricas: comparação com pacientes não obesos. Rev Brás Anestesiol 2002; 52(2):217-222. Rodrigues SL et al. Teste de caminhada de seis minutos: estudo do efeito do aprendizado em portadores de doença pulmonar. J Bras Pneumol 2004;30(2). Sposito AC et al. Avaliação do risco cardiovascular no excesso de peso e obesidade. Arq Bras Cardiol 2002; 76. Zilberstein B et al. O papel da cirurgia no tratamento da obesidade. Rev Bras Med 2002;59(4). Recebidoem14desetembrode2005 Versão atualizada em 4 de outubro de 2005 Aprovado em 28 de outubro de 2005