O documento descreve um estudo que avaliou diferentes métodos de higienização das mãos em estudantes de medicina. Os alunos coletaram amostras de suas mãos após diferentes tratamentos (sem tratamento, com detergente, com álcool ou com ambos) e cultivaram em placas de Petri. Em geral, houve maior crescimento bacteriano onde não houve tratamento. O uso de álcool sozinho ou combinado com detergente foi mais eficaz na redução de bactérias nas mãos.
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Avaliação comparativa da eficácia de métodos antissépticos na higienização das mãos
1. AVALIAÇÃO COMPARATIVA DE MÉTODOS ANTISSÉPTICOS NA HI-
GIENIZAÇÃO DAS MÃOS.*
Camila Bacelar Bastos**, Camilla Frascaroli Pujoni da Silva**, Emanuelly Durães Ro-
cha**, Felipe Ferraz Trindade**, Inah Araújo de Almeida Murta**, Sara Gomes
Brito**.
* Estudo realizado no Laboratório de Microbiologia das Faculdades Integradas Pitágoras de
Montes Claros (FIPMoc)
**Discentes do 5º Período de Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Cla-
ros (FIPMoc)
1. INTRODUÇÃO
O corpo humano é continuamente habitado por vários microrganismos
diferentes, em sua maioria bactérias que, em condições normais e em um indivíduo
sadio, são inofensivos e podem até ser benéficos. A composição da microbiota varia
qualitativa e quantitativamente em função de fatores como: idade, estímulos
hormonais, hábitos alimentares e condições ambientais. Récem-nascido sadio
adquire sua microbiota normal a partir da alimentação e do ambiente, incluindo outros
seres humanos. (MARTINEZ, 2009)
A microbiota pode ser dividida em: residente e transitória. A residente é aquela
composta por microorganismos que são comumente encontrados nos indivíduos de
uma mesma população, são eles, por exemplo: S. epidermidis na pele, Lactobacillus
na mucosa vaginal. Já a transitória é aquela que existe temporariamente, sendo
eliminada pelos mecanismos normais ou por métodos de limpeza. (SANTOS, 2007)
Na microbiota da pele é possível encontrar: Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus Staphylococcus epidermidis (predominante) Streptococcus
spp. (irregular) S.pyogenes e Bacilos Gram-positivos: Corynebacterium spp.
Propionibacterium acnes. Algumas dessas espécies são possivelmente patógenas
como o Staphylococcus aureus que é considerado um patógeno humano oportunista
e frequentemente está associado a infecções adquiridas na comunidade e no
ambiente hospitalar. As infecções mais comuns envolvem a pele (celulite, impetigo) e
feridas em sítios diversos. Algumas infecções por S. aureus são agudas e podem
disseminar para diferentes tecidos e provocar focos metastáticos. Episódios mais
graves, como bacteremia, pneumonia, osteomielite, endocardite, miocardite,
2. pericardite e meningite, também podem ocorrer. Como vários desses micro-
organismos são patógenos em potencial a lavagem e antissepsia das mãos é de
crucial importância. (ANVISA, 2007)
Os micro-organismos contaminam artigos hospitalares, colonizam pacientes
graves e podem provocar infecções mais difíceis de serem tratadas. O risco de
contraí-las depende, no entanto, do número e da virulência dos micro-organismos
presentes e, acima de tudo, da resistência anti-infecciosa local, sistêmica e
imunológica do paciente e da consciência dos médicos e paramédicos que atuam no
estabelecimento. Cerca de 30% dos casos de infecções relacionadas à assistência à
saúde são considerados preveníveis por medidas simples, sendo a lavagem correta
das mãos pelos profissionais de saúde a mais efetiva delas. São as mãos que
transportam o maior número de micro-organismos aos pacientes, por meio contato
direto ou através de objetos (MORIYA, 2008).
A lavagem das mãos é indicada antes de ministrar medicamentos por via oral
e preparar a nebulização, antes e após a realização de trabalhos hospitalares, atos e
funções fisiológicas ou pessoais, antes e depois do manuseio de cada paciente, do
preparo de materiais ou equipamentos, da coleta de espécimes, da aplicação de
medicamentos injetáveis e da higienização e troca de roupa dos pacientes. Apesar de
a importância da transmissão de infecções relacionadas à assistência à saúde pelo
contato das mãos ser aceita mundialmente, o cumprimento das normas técnicas para
a sua prevenção é limitado, principalmente entre os profissionais da categoria médica,
tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, sendo inferior
a 50%. (MARTINEZ, 2009)
Para eliminar a microbiota que potencialmente seria patológica, são usadas
algumas medidas, principalmente a assepsia, a antissepsia e a esterilização. A
assepsia: é o conjunto de medidas que utilizamos para impedir a penetração de micro-
organismos num ambiente que logicamente não os tem, logo um ambiente asséptico
é aquele que está livre de infecção. Antissepsia: é o conjunto de medidas propostas
para inibir o crescimento de microorganismos ou removê-los de um determinado
ambiente, podendo ou não destruí-los e para tal fim utilizamos antissépticos ou
desinfetantes. E a esterilização: é processo de destruição de todas as formas de vida
microbiana (bactérias nas formas vegetativas e esporuladas, fungos e vírus) mediante
3. a aplicação de agentes físicos e ou químicos, toda esterilização deve ser precedida
de lavagem e enxaguadura do artigo para remoção de detritos (MORIYA, 2008).
Além disso, na rotina, os termos antissépticos, desinfetantes e germicidas são
empregados como sinônimos, fazendo que não haja diferenças absolutas entre
desinfetantes e antissépticos. Entretanto, caracterizamos como antisséptico quando a
empregamos em tecidos vivo e desinfetante quando a utilizamos em objetos
inanimados (MORIYA, 2008).
2. OBJEITVOS
O presente estudo objetivou avaliar e quantificar a concentração de
Staphylococcus epidermidis na superfície das mãos (epiderme) após diferentes
medidas de antissepsia. Além disso, buscou compará-las entre si, bem como com a
concentração da bactéria na epiderme sem nenhum método antisséptico.
Foi objetivo também a fixação do Staphylococcus epidermidis em uma lâmina
para que se pudesse observar a conformação da bactéria predominante em cada
aluno por meio da visualização através do microscópio óptico.
3. METODOLOGIA
Foi feita uma avaliação da concentração de Staphylococcus epidermidis na
epiderme das mãos dos alunos do 5º período do curso de Medicina da FIP-MOC, a
fim de comparar a eficácia dos métodos antissépticos entre si e com a ausência de
método antisséptico. A avaliação foi feita através de duas aulas práticas no laboratório
de Microbiologia, utilizando o meio de cultura Ágar nutriente a fim de tornar possível a
cultura da bactéria.
Para que fosse possível a análise, cada aluno recebeu um meio de cultura e
um lápis para que fosse desenhado no fundo do meio 4 quadrantes. Em cada um dos
quadrantes foi colocada as seguintes iniciais: S (sujo), A (álcool), D (detergente) e AD
(álcool e detergente). Dessa forma, em cada um dos quadrantes o aluno passaria o
dedo obedecendo o comando de cada quadrante. Assim, primeiro foi passado o dedo
4. sem realizar nenhum tipo de antissepsia no quadrante S, depois fez-se a antissepsia
apenas com álcool e passou o dedo indicador no quadrante A, após foi feita a lavagem
das mãos apenas com detergente e passado no quadrante D. E por fim, foi feita a
lavagem das mãos e antissepsia com álcool e assim passou o indicador no quadrante
DA.
Na deposição do material coletado sobre a placa de cultura foi necessário o
uso de calor para que o meio não fosse contaminado pelo ar quando entrasse em
contato com o mesmo. Assim, fez-se uso de fogo através da utilização do Bico de
Bunsen para evitar tal contaminação por elementos suspensos no ar. Os meios de
cultura foram introduzidos na estufa e após 03 dias foram para a geladeira. Na outra
aula prática, cada aluno recolheu seu meio de cultura, para avaliação de sua
microbiota cutânea. Assim, a professora disponibilizou a cada aluno uma lâmina para
que fosse feito o método de coloração de Gram e assim fosse possível a visualização
microscópica.
Foi solicitado que os alunos seguissem os seguintes passos: Pegar uma lâmina
limpa no recipiente, identificar o lado da lâmina onde será feito o esfregaço; flambar a
alça bacteriológica deixá-la esfriar e colocar na lâmina uma gota de solução salina
fisiológica; flambar a agulha bacteriológica, deixar esfriar próximo a chama, abrir a
placa com a cultura teste e tocar a colônia escolhida para retirada da
amostra, esfregar o material com movimentos de rotação; deixar secar nas estufa;
fixar o esfregaço passando a lâmina (lado oposto ao esfregaço) 3 vezes na chama
do bico de Bunsen (rapidamente). Cobrir toda a lâmina com solução cristal
violeta (corante roxo), aguardar um minuto; lavar rapidamente em água destilada;
cobrir a lâmina com solução de Iugol por um minuto; lavar em água destilada; inclinar
a lâmina e gotejar álcool-acetona ou álcool absoluto (cerca de 15 segundos). Lavar a
lâmina rapidamente em água corrente; cobrir com fucsina de gram e aguardar 30
segundos; lavar a lâmina em água destilada e secar (sem esfregar); colocar uma gota
de óleo de cedro sobre a lâmina e observar em objetiva de imersão (IOOX).
Ao fim desse processo, levou-se ao microscópio para observar a cultura em um
aumento de 100x sendo possível, portanto, a observação e determinação do arranjo
e conformação bacteriana.
5. 4. RESULTADOS
Após uma semana da semeadura do material na placa de Petri, foi possível
observar que houve um maior crescimento bacteriano no quadrante S, no qual não foi
usado nenhum método de antissepsia. Já no quadrante DA, cujo material foi obtido
depois da lavagem da mão com detergente e do uso de álcool, ocorreu pouca ou
nenhuma formação de colônias de bactérias.
Como mostra o gráfico 1, na placa 1 houve formação de 22 unidades
formadoras de colônias no quadrante S, 10 UFC no quadrante D, 1 UFC no quadrante
A e não ocorreu proliferação bacteriana no quadrante DA.
Legenda: S= Sujo; D= Detergente; A= Álcool; DA= Detergente e álcool.
Com relação à placa 2, mostrada no gráfico 2, houve formação de 7 unidades
formadoras de colônias no quadrante S, 63 UFC no quadrante D, 2 UFC no quadrante
A e não ocorreu proliferação bacteriana no quadrante DA.
0
5
10
15
20
25
S D A DA
GRÁFICO 1- Contagem, em unidades formadoras de
colônias (UFC), do crescimento bacteriano na placa
de Petri dividida por quadrantes.
Placa 1
6. Legenda: S= Sujo; D= Detergente; A= Álcool; DA= Detergente e álcool.
Conforme mostrado no gráfico 3, na placa 3 houve formação de 290 unidades
formadoras de colônias no quadrante S, 24 UFC no quadrante D, 0 UFC no quadrante
A e 65 no quadrante DA.
Legenda: S= Sujo; D= Detergente; A= Álcool; DA= Detergente e álcool.
Já na placa 4 (mostrada no gráfico 4) houve formação de 103 unidades forma-
doras de colônias no quadrante S, 42 UFC no quadrante D, 0 UFC no quadrante A e
no quadrante DA.
0
10
20
30
40
50
60
70
S D A DA
GRÁFICO 2- Contagem, em unidades formadoras de
colônias (UFC), do crescimento bacteriano na placa
de Petri dividida por quadrantes.
Placa 2
0
100
200
300
400
S D A DA
GRÁFICO 3- Contagem, em unidades formadoras de
colônias (UFC), do crescimento bacteriano na placa
de Petri dividida por quadrantes.
Placa 3
7. Legenda: S= Sujo; D= Detergente; A= Álcool; DA= Detergente e álcool.
Referente à placa 5, mostrada no gráfico 5, houve formação de 440 unidades
formadoras de colônias no quadrante S, 9 UFC no quadrante D, 0 UFC no quadrante
A e 8 UFC no quadrante DA.
Legenda: S= Sujo; D= Detergente; A= Álcool; DA= Detergente e álcool.
Com relação à microscopia, as lâminas preparadas continham a bactéria Sta-
phylococcus epidermidis corada em azul.
0
20
40
60
80
100
120
S D A DA
GRÁFICO 4- Contagem, em unidades formadoras de
colônias (UFC), do crescimento bacteriano na placa
de Petri dividida por quadrantes.
Placa 4
0
100
200
300
400
500
S D A DA
GRÁFICO 5- Contagem, em unidades formadoras de
colônias (UFC), do crescimento bacteriano na placa
de Petri dividida por quadrantes.
Placa 5
8. 5. DISCUSSÃO
No presente estudo, as bactérias Staphylococcus aureus e Staphylococcus
epidermidis, analisadas neste experimento que foi realizado em sala de aula pelos
acadêmicos de medicina, apresentaram crescimentos diferentes relacionado a cada
microambiente. Segundo os gráficos 1,3,4 e 5 construídos conforme os experimentos,
o microambiente do quadro S(sujo) demonstrou ser o que mais proliferou o quadro em
questão. Em contrapartida o gráfico 2 apresentou um padrão de proliferação
bacteriano diferenciado com número de bactérias maior no quadro D no qual houve
utilização de detergente.
É possível notar também que a proliferação das bactérias no microambiente
com utilização de álcool foi inexistente devido destruição da parede celular
microbiana, entretanto o crescimento de 2 unidades no gráfico 1 pode apresentar um
erro durante a preparação do estudo. Em todos quadros avaliados, há proliferação
bacteriana no microambiente D (detergente), e no quadrante DA (detergente e álcool)
só houve proliferação bacteriana nos gráficos 5 e 3.
6. CONCLUSÃO
Diante dos resultados expostos, conclui-se de maneira perfunctória que a
utilização de métodos antissépticos na higienização das mãos mostra-se eficaz na
redução da carga microbiana em comparação com as mãos isentas dessa medida,
sejam eles quais forem. Apesar da literatura comprovar que a utilização do Álcool 70
mostra-se mais efetiva na higienização das mãos do que a lavagem simples cotidiana,
e a combinação desses dois métodos mostra-se tão mais ainda, não há indícios fortes
que demonstrem esses dados no atual estudo. Isto posto, é evidente a necessidade
de realização de novos estudos com protocolos de execução mais rígidos para que
não haja viés de mensuração na realização do ensaio.
9. REFERÊNCIAS
ANVISA, Resistência microbiana- Mecanismo e impacto clínico, 2007. Disponível
em:<http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opa
s_web/modulo3/gramp_staphylo.htm>. Acessado em 27/03/2014
Santos AL, Santos DO, Freitas CC, Ferreira BLA, Afonso IF, Rodrigues CR, et al.
Staphylococcus aureus: visitando uma cepa de importância hospitalar. J Bras Patol
Med Lab. 2007;43(6):413-23.
Martinez MR, Campos LAAF, Nogueira PCK. Adesão à técnica de lavagem de mãos
em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Rev paul pediatr. 2009; 27: 179-85.
MORIYA, T.; MÓDENA, J. L. P. Assepsia e antissepsia: técnicas de esterilização.
Medicina (Ribeirão Preto), v. 41, n. 3, p. 265-73, 2008.