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Centro de Educação de Jovens e Adultos.

Goiânia, ____ de Março de 2013.

Aluno (a): __________________________________________ Turma: ________.

Bolsistas: Lucas Grima e Naira Rodrigues.

Disciplina: História                      Professora: Flávia V. Costa.




                A diáspora Africana para o Brasil


                                                                 O Navio Negreiro
                                                                    Castro Alves




                                                                  RUGENDAS, J. Negros no Porão de
                                                                  um navio negreiro, 1830.


[...]

I

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas         [...]
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
                                                   Rolai das imensidades!
V
                                                   Varrei os mares, tufão!
Senhor Deus dos desgraçados!
                                                   Quem são estes desgraçados
Dizei-me vós, Senhor Deus!
                                                   Que não encontram em vós
Se é loucura... se é verdade
                                                   Mais que o rir calmo da turba
Tanto horror perante os céus?!
                                                   Que excita a fúria do algoz?
Ó mar, por que não apagas
                                                   Quem são? Se a estrela se cala,
Co'a esponja de tuas vagas
                                                   Se a vaga à pressa resvala
De teu manto este borrão?...
                                                   Como um cúmplice fugaz,
Astros! noites! tempestades!
                                                   Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,             Ai! quanto infeliz que cede,
Musa libérrima, audaz!...           E cai p'ra não mais s'erguer!...
                                    Vaga um lugar na cadeia,
São os filhos do deserto,
                                    Mas o chacal sobre a areia
Onde a terra esposa a luz.
                                    Acha um corpo que roer.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...           Ontem a Serra Leoa,
São os guerreiros ousados           A guerra, a caça ao leão,
Que com os tigres mosqueados        O sono dormido à toa
Combatem na solidão.                Sob as tendas d'amplidão!
Ontem simples, fortes, bravos.      Hoje... o porão negro, fundo,
Hoje míseros escravos,              Infecto, apertado, imundo,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .     Tendo a peste por jaguar...
                                    E o sono sempre cortado
São mulheres desgraçadas,
                                    Pelo arranco de um finado,
Como Agar o foi também.
                                    E o baque de um corpo ao mar...
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...        Ontem plena liberdade,
Trazendo com tíbios passos,         A vontade por poder...
Filhos e algemas nos braços,        Hoje... cúm'lo de maldade,
N'alma — lágrimas e fel...          Nem são livres p'ra morrer. .
Como Agar sofrendo tanto,           Prende-os a mesma corrente
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                                    E assim zombando da morte,
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                                    Dança a lúgubre coorte
Das palmeiras no país,
                                    Ao som do açoute... Irrisão!...
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...             Senhor Deus dos desgraçados!
Passa um dia a caravana,            Dizei-me vós, Senhor Deus,
Quando a virgem na cabana           Se eu deliro... ou se é verdade
Cisma da noite nos véus ...         Tanto horror perante os céus?!...
... Adeus, ó choça do monte,        Ó mar, por que não apagas
... Adeus, palmeiras da fonte!...   Co'a esponja de tuas vagas
... Adeus, amores... adeus!...      Do teu manto este borrão?
                                    Astros! noites! tempestades!
Depois, o areal extenso...
                                    Rolai das imensidades!
Depois, o oceano de pó.
                                    Varrei os mares, tufão! ...
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A diáspora Africana

  • 1. Centro de Educação de Jovens e Adultos. Goiânia, ____ de Março de 2013. Aluno (a): __________________________________________ Turma: ________. Bolsistas: Lucas Grima e Naira Rodrigues. Disciplina: História Professora: Flávia V. Costa. A diáspora Africana para o Brasil O Navio Negreiro Castro Alves RUGENDAS, J. Negros no Porão de um navio negreiro, 1830. [...] I 'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas [...] Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas... Rolai das imensidades! V Varrei os mares, tufão! Senhor Deus dos desgraçados! Quem são estes desgraçados Dizei-me vós, Senhor Deus! Que não encontram em vós Se é loucura... se é verdade Mais que o rir calmo da turba Tanto horror perante os céus?! Que excita a fúria do algoz? Ó mar, por que não apagas Quem são? Se a estrela se cala, Co'a esponja de tuas vagas Se a vaga à pressa resvala De teu manto este borrão?... Como um cúmplice fugaz, Astros! noites! tempestades! Perante a noite confusa...
  • 2. Dize-o tu, severa Musa, Ai! quanto infeliz que cede, Musa libérrima, audaz!... E cai p'ra não mais s'erguer!... Vaga um lugar na cadeia, São os filhos do deserto, Mas o chacal sobre a areia Onde a terra esposa a luz. Acha um corpo que roer. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... Ontem a Serra Leoa, São os guerreiros ousados A guerra, a caça ao leão, Que com os tigres mosqueados O sono dormido à toa Combatem na solidão. Sob as tendas d'amplidão! Ontem simples, fortes, bravos. Hoje... o porão negro, fundo, Hoje míseros escravos, Infecto, apertado, imundo, Sem luz, sem ar, sem razão. . . Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado São mulheres desgraçadas, Pelo arranco de um finado, Como Agar o foi também. E o baque de um corpo ao mar... Que sedentas, alquebradas, De longe... bem longe vêm... Ontem plena liberdade, Trazendo com tíbios passos, A vontade por poder... Filhos e algemas nos braços, Hoje... cúm'lo de maldade, N'alma — lágrimas e fel... Nem são livres p'ra morrer. . Como Agar sofrendo tanto, Prende-os a mesma corrente Que nem o leite de pranto — Férrea, lúgubre serpente — Têm que dar para Ismael. Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte, Lá nas areias infindas, Dança a lúgubre coorte Das palmeiras no país, Ao som do açoute... Irrisão!... Nasceram crianças lindas, Viveram moças gentis... Senhor Deus dos desgraçados! Passa um dia a caravana, Dizei-me vós, Senhor Deus, Quando a virgem na cabana Se eu deliro... ou se é verdade Cisma da noite nos véus ... Tanto horror perante os céus?!... ... Adeus, ó choça do monte, Ó mar, por que não apagas ... Adeus, palmeiras da fonte!... Co'a esponja de tuas vagas ... Adeus, amores... adeus!... Do teu manto este borrão? Astros! noites! tempestades! Depois, o areal extenso... Rolai das imensidades! Depois, o oceano de pó. Varrei os mares, tufão! ... Depois no horizonte imenso Desertos... desertos só... [...] E a fome, o cansaço, a sede...