A Tempestade

Vanda Marques
Vanda MarquesTeacher em Agrupamento de Escolas de Mourão

Texto "A Tempestade"

Episódio “A Tempestade”
Os Lusíadas, Luís de Camões
70
Mas neste passo,assi prontosestando,
Eis o mestre,que olhandoosaresanda,
O apitotoca: acordam, despertando,
Os marinheirosdüae doutrabanda.
E, porque o ventovinharefrescando,
Os traquetesdasgáveastomarmanda.
- «Alerta(disse) estai,que oventocrece
Daquelanuvemnegraque aparece!»
71
Não eramos traquetesbemtomados,
Quandodá a grande e súbitaprocela.
- «Amaina(disse omestre agrandes
brados),
Amaina(disse),amainaagrande vela!»
Não esperamosventosindinados
Que amainassem,mas,juntosdandonela,
Em pedaçosa fazemcum ruído
Que o Mundo pareceuserdestruído!
72
O céu fere comgritosnistoa gente,
Cum súbitotemore desacordo;
Que,no romperda vela,anau pendente
Toma grão suma d'água pelo bordo.
- «Alija(disse omestre rijamente),
Alijatudoao mar,não falte acordo!
Vãooutros dar à bomba,não cessando;
À bomba,que nosimosalagando!»
73
Corremlogoos soldadosanimosos
A dar à bomba;e, tantoque chegaram,
Os balançosque osmares temerosos
Deram à nau,num bordoos derribaram.
Três marinheiros,durose forçosos,
A menearoleme nãobastaram;
Talhaslhe punham, düae doutra parte,
Semaproveitardoshomensforçae arte.
74
Os ventoseramtaisque não puderam
Mostrar maisforça d'ímpetocruel,
Se pera derribarentãovieram
fortíssimaTorre de Babel,
Nosaltíssimosmares,que cresceram,
A pequenagranduradumbatel
Mostra a possante nau,que move espanto,
Vendoque se sustémnasondastanto.
75
A nau grande,emque vai Pauloda Gama,
Quebradolevaomasto pelomeio,
Quási toda alagada;a gente chama
Aquele que asalvaro mundoveio.
Não menosgritosvãosao ar derrama
Toda a nau de Coelho,comreceio,
Conquantoteve omestre tantotento
Que primeiroamainouque desse ovento.
Episódio “A Tempestade”
Os Lusíadas, Luís de Camões
76
Agora sobre as nuvensossubiam
As ondasde Neptunofuribundo;
Agora a verparece que deciam
As íntimasentranhasdoProfundo.
Noto,Austro,Bóreas,Áquilo,queriam
Arruinara máquinado Mundo;
A noite negrae feiase alumia
Cos raiosemque o Pólotodo ardia!
77
As Alcióniasavestriste canto
Juntoda costa brava levantaram,
Lembrando-se de seupassadopranto,
Que as furiosaságuaslhe causaram.
Os delfinsnamorados,entretanto,
Lá nascovas marítimasentraram,
Fugindoà tempestade e ventosduros,
Que nemno fundoosdeixaestarseguros.
78
Nuncatão vivosraiosfabricou
Contra a ferasoberbadosGigantes
O grão ferreirosórdidoque obrou
Do enteadoasarmas radiantes;
Nemtantoo grão Tonante arremessou
Relâmpadosaomundo,fulminantes,
No grão dilúviodondesósviveram
Os dousque emgente as pedras
converteram.
79
Quantosmontes,então,que derribaram
As ondasque batiamdenodadas!
Quantasárvoresvelhasarrancaram
Do ventobravoas fúriasindinadas!
As forçosasraízesnão cuidaram
Que nunca perao céu fossemviradas
Nemas fundasareiasque pudessem
Tanto os maresque emcima as
revolvessem.
80
VendoVascoda Gama que tão perto
Do fimde seudesejose perdia,
Vendoorao mar até o Infernoaberto,
Ora com nova fúriaao Céusubia,
Confusode temor,davidaincerto,
Onde nenhumremédiolhe valia,
Chama aquele remédiosantoe forte
Que o impossíbil pode,destasorte:
81
- «DivinaGuarda,angélica,celeste,
Que os céus,o mar e terra senhoreias:
Tu, que a todo Israel refúgiodeste
Por metade daságuas Eritreias;
Tu, que livraste Pauloe defendeste
Das Sirtesarenosase ondasfeias,
E, guardaste,cos filhos,osegundo
Povoadordoalagadoe vácuo mundo:
Episódio “A Tempestade”
Os Lusíadas, Luís de Camões
82
Se tenhonovosmedosperigosos
Doutra Cilae Caríbdis jápassados,
Outras Sirtese baxosarenosos,
OutrosAcroceráuniosinfamados;
No fimde tantoscasos trabalhosos,
Porque somosde Ti desamparados,
Se este nossotrabalhonão te ofende,
Mas antesteuserviçosópretende?
83
Oh ditososaquelesque puderam
Entre as agudaslançasAfricanas
Morrer, enquantofortessustiveram
A santa Fé nas terrasMauritanas;
De quemfeitosilustresse souberam,
De quemficammemóriassoberanas,
De quemse ganhaa vidacom perdê-la,
Doce fazendoamorte as honras dela!»
84
Assi dizendo,osventos, que lutam
Comotouros indómitos,bramando,
Mais e maisa tormentaacrecentavam,
Pelamiúdaenxárciaassoviando.
Relâmpadosmedonhosnãocessavam,
Ferostrovões,que vêmrepresentando
Cair o Céudoseixossobre aTerra,
ConsigoosElementosteremguerra.
85
Mas jáa amorosaEstrelacintilava
Diante doSol claro,no horizonte,
Mensageiradodia,e visitava
A terra e o largo mar, com ledafronte.
A Deusaque nosCéusa governava,
De quemfoge oensíferoOrionte,
Tanto que o mar e a cara armada vira,
Tocada juntofoi de medoe de ira.
86
- «Estasobras de Baco são, por certo
(Disse),masnãoseráque avante leve
Tão danada tenção,que descoberto
Me será sempre omal a que se atreve.»
Istodizendo,dece aomar aberto,
No caminhogastandoespaçobreve,
Enquantomanda as Ninfasamorosas
Grinaldasnascabeças pôr de rosas.
87
Grinaldasmandapôr de várias cores
Sobre cabeloslourosaporfia.
Quemnão diráque nacem roxasflores
Sobre ouro natural,que Amorenfia?
Abrandardetermina,poramores,
Dos ventosa nojosacompanhia,
Mostrando-lhe asamadasNinfasbelas,
Que maisfermosasvinhamque asestrelas.
Episódio “A Tempestade”
Os Lusíadas, Luís de Camões
88
Assi foi;porque,tantoque chegaram
À vistadelas,logolhe falecem
As forçascom que dantespelejaram,
E já como rendidoslhe obedecem;
Os pése mãos parece que lhe ataram
Os cabelosque osraiosescurecem.
A Bóreas,que dopeitomaisqueria,
Assi disse abelíssimaOritia:
89
- «Nãocreias,feroBóreas,que te creio
Que me tiveste nuncaamorconstante,
Que brandura é de amor maiscertoarreio
E não convémfurora firme amante.
Se já não põesa tanta insâniafreio,
Não esperesde mi,daqui emdiante,
Que possamais amar-te,mastemer-te;
Que amor, contigo,emmedose converte.»
90
Assi mesmoa fermosaGalateia
Diziaao feroNoto,que bemsabe
Que dias há que em vê-lase recreia,
E bem crê que comele tudoacabe.
Não sabe o bravotanto bemse o creia,
Que o coração nopeitolhe nãocabe;
De contente de verque a dama o manda,
Poucocuida que faz,se logoabranda.
91
Destamaneiraas outras amansavam
Subitamente osoutrosamadores;
E logo à lindaVénusse entregavam,
Amansadasas irase os furores.
Ela lhe prometeu,vendoque amavam,
Sempiternofavoremseusamores,
Nas belasmãostomando-lhehomenagem
De lhe seremleaisestaviagem.
92
Já a manhã clara dava nosouteiros
Por onde o Gangesmurmurandosoa,
Quandoda celsagáveaos marinheiros
Enxergaramterra alta,pelaproa.
Já fora de tormentae dos primeiros
Mares, o temorvão dopeitovoa.
Disse alegre opilotoMelindano:
- «Terraé de Calecu,se não me engano.
93
«Esta é,por certo,a terra que buscais
Da verdadeiraÍndia,que aparece;
E se do mundomaisnãodesejais,
Vossotrabalholongoaqui fenece.»
Sofreraqui não pôde o Gama mais,
De ledoemverque a terra se conhece;
Os giolhosnochão, as mãos ao Céu,
A mercê grande a Deusagardeceu.
Episódio “A Tempestade”
Os Lusíadas, Luís de Camões
94
As graças a Deusdava, e razão tinha,
Que não somente aterra lhe mostrava
Que,com tantotemor,buscandovinha,
Por quemtantotrabalhoexprimentava,
Mas via-se livrado,tãoasinha,
Da morte,que no mar lhe aparelhava
O ventoduro,férvidoe medonho,
Comoquemdespertoude horrendosonho.

Recomendados

A tempestade por
A tempestadeA tempestade
A tempestadeVanda Marques
49.3K visualizações22 slides
Os Dez Cantos d´Os Lusíadas por
Os Dez Cantos d´Os LusíadasOs Dez Cantos d´Os Lusíadas
Os Dez Cantos d´Os LusíadasMaria Gomes
16.4K visualizações3 slides
Analise os lusiadas 1 por
Analise os lusiadas 1Analise os lusiadas 1
Analise os lusiadas 1Célia Gonçalves
28K visualizações21 slides
Ilha dos Amores por
Ilha dos AmoresIlha dos Amores
Ilha dos AmoresVanda Marques
103K visualizações13 slides
Os Lusíadas Canto 8 por
Os Lusíadas Canto 8Os Lusíadas Canto 8
Os Lusíadas Canto 8Gabriel Barbosa Doria
36.7K visualizações11 slides
O adamastor por
O adamastorO adamastor
O adamastorannapaulasilva
2.3K visualizações10 slides

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Cantos i e ii lusíadas por
Cantos i e ii   lusíadasCantos i e ii   lusíadas
Cantos i e ii lusíadasCarla Souto
6.3K visualizações46 slides
Proposição por
ProposiçãoProposição
ProposiçãoPaula Oliveira Cruz
122.5K visualizações22 slides
Invocação e Dedicarória por
Invocação e DedicaróriaInvocação e Dedicarória
Invocação e DedicaróriaPaula Oliveira Cruz
119.5K visualizações20 slides
Os Lusíadas - a estrutura por
Os Lusíadas - a estruturaOs Lusíadas - a estrutura
Os Lusíadas - a estruturaRosalina Simão Nunes
73.4K visualizações10 slides
Tétis e a ilha dos amores por
Tétis e a ilha dos amoresTétis e a ilha dos amores
Tétis e a ilha dos amoresBruno Neves
16.3K visualizações17 slides
Adamastor por
AdamastorAdamastor
Adamastorsin3stesia
169.2K visualizações18 slides

Mais procurados(20)

Cantos i e ii lusíadas por Carla Souto
Cantos i e ii   lusíadasCantos i e ii   lusíadas
Cantos i e ii lusíadas
Carla Souto6.3K visualizações
Proposição por Paula Oliveira Cruz
ProposiçãoProposição
Proposição
Paula Oliveira Cruz122.5K visualizações
Invocação e Dedicarória por Paula Oliveira Cruz
Invocação e DedicaróriaInvocação e Dedicarória
Invocação e Dedicarória
Paula Oliveira Cruz119.5K visualizações
Os Lusíadas - a estrutura por Rosalina Simão Nunes
Os Lusíadas - a estruturaOs Lusíadas - a estrutura
Os Lusíadas - a estrutura
Rosalina Simão Nunes73.4K visualizações
Tétis e a ilha dos amores por Bruno Neves
Tétis e a ilha dos amoresTétis e a ilha dos amores
Tétis e a ilha dos amores
Bruno Neves16.3K visualizações
Adamastor por sin3stesia
AdamastorAdamastor
Adamastor
sin3stesia169.2K visualizações
Os Planos d'Os Lusíadas por Rosalina Simão Nunes
Os Planos d'Os LusíadasOs Planos d'Os Lusíadas
Os Planos d'Os Lusíadas
Rosalina Simão Nunes105.9K visualizações
Lusíadas - Episódio do Adamastor por cristianavieitas
Lusíadas - Episódio do AdamastorLusíadas - Episódio do Adamastor
Lusíadas - Episódio do Adamastor
cristianavieitas39K visualizações
Os lusiadas resumo por Jonatham Siqueira
Os lusiadas resumoOs lusiadas resumo
Os lusiadas resumo
Jonatham Siqueira3K visualizações
Estrutura externa e interna d'os lusíadas por claudiarmarques
Estrutura externa e interna d'os lusíadasEstrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
claudiarmarques146.9K visualizações
Os Lusíadas: sistematização dos Cantos por sin3stesia
Os Lusíadas: sistematização dos CantosOs Lusíadas: sistematização dos Cantos
Os Lusíadas: sistematização dos Cantos
sin3stesia79.4K visualizações
Lusíadas: Visão Global por Dina Baptista
Lusíadas: Visão GlobalLusíadas: Visão Global
Lusíadas: Visão Global
Dina Baptista27.7K visualizações
Consílio dos deuses por Lurdes
Consílio dos deusesConsílio dos deuses
Consílio dos deuses
Lurdes22.6K visualizações
Os lusíadas tempestade - Português 9º ano por Gabriel Lima
Os lusíadas tempestade - Português 9º anoOs lusíadas tempestade - Português 9º ano
Os lusíadas tempestade - Português 9º ano
Gabriel Lima57.7K visualizações
Camões Lírico (10.ºano/Português) por Dina Baptista
Camões Lírico (10.ºano/Português)Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)
Dina Baptista294.4K visualizações
Um mover de olhos brando e piadoso por Helena Coutinho
Um mover de olhos brando e piadosoUm mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadoso
Helena Coutinho84.9K visualizações
A ilha dos amores canto ix, estâncias52 53; 66-70 por Fernanda Pereira
A ilha dos amores canto ix, estâncias52 53; 66-70 A ilha dos amores canto ix, estâncias52 53; 66-70
A ilha dos amores canto ix, estâncias52 53; 66-70
Fernanda Pereira15.1K visualizações
10ºano camões parte C por Lurdes Augusto
10ºano camões parte C10ºano camões parte C
10ºano camões parte C
Lurdes Augusto35.5K visualizações
Análise do episódio "Consílio dos deuses" por Inês Moreira
Análise do episódio "Consílio dos deuses"Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Análise do episódio "Consílio dos deuses"
Inês Moreira212.6K visualizações
Aquela cativa Poema e Análise por Bruno Jardim
Aquela cativa Poema e AnáliseAquela cativa Poema e Análise
Aquela cativa Poema e Análise
Bruno Jardim70.3K visualizações

Similar a A Tempestade

Alexandre herculano a tempestade por
Alexandre herculano   a tempestadeAlexandre herculano   a tempestade
Alexandre herculano a tempestadeTulipa Zoá
252 visualizações3 slides
E-book de Alexandre Herculano, A tempestade por
E-book de Alexandre Herculano, A tempestadeE-book de Alexandre Herculano, A tempestade
E-book de Alexandre Herculano, A tempestadeCarla Crespo
33 visualizações3 slides
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas por
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasGigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasDina Baptista
43.3K visualizações19 slides
Os Lusíadas - Canto V - O Gigante Adamastor por
Os Lusíadas -  Canto V - O Gigante AdamastorOs Lusíadas -  Canto V - O Gigante Adamastor
Os Lusíadas - Canto V - O Gigante AdamastorMaria Inês de Souza Vitorino Justino
24.4K visualizações25 slides
SOSSEGAI por
SOSSEGAISOSSEGAI
SOSSEGAIDiaconisa Cris Silva
978 visualizações7 slides
Episódio "O Gigante Adamastor" d' Os Lusíadas por
Episódio "O Gigante Adamastor" d' Os LusíadasEpisódio "O Gigante Adamastor" d' Os Lusíadas
Episódio "O Gigante Adamastor" d' Os LusíadasAnaGomes40
6.2K visualizações11 slides

Similar a A Tempestade(20)

Alexandre herculano a tempestade por Tulipa Zoá
Alexandre herculano   a tempestadeAlexandre herculano   a tempestade
Alexandre herculano a tempestade
Tulipa Zoá252 visualizações
E-book de Alexandre Herculano, A tempestade por Carla Crespo
E-book de Alexandre Herculano, A tempestadeE-book de Alexandre Herculano, A tempestade
E-book de Alexandre Herculano, A tempestade
Carla Crespo33 visualizações
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas por Dina Baptista
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasGigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Dina Baptista43.3K visualizações
Episódio "O Gigante Adamastor" d' Os Lusíadas por AnaGomes40
Episódio "O Gigante Adamastor" d' Os LusíadasEpisódio "O Gigante Adamastor" d' Os Lusíadas
Episódio "O Gigante Adamastor" d' Os Lusíadas
AnaGomes406.2K visualizações
Salmos e hinos 102 por rafael gomide
Salmos e hinos 102Salmos e hinos 102
Salmos e hinos 102
rafael gomide2.8K visualizações
10ºano Luís de Camões parte B por Lurdes Augusto
10ºano Luís de Camões parte B10ºano Luís de Camões parte B
10ºano Luís de Camões parte B
Lurdes Augusto16.1K visualizações
Os lusiadas por juliolimampu
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
juliolimampu362 visualizações
Os lusíadas, Luís de Camões por shootingstar1313
Os lusíadas, Luís de CamõesOs lusíadas, Luís de Camões
Os lusíadas, Luís de Camões
shootingstar131319 visualizações
Os lusiadas por juliolimampu
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
juliolimampu587 visualizações
Os lusiadas por juliolimampu
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
juliolimampu245 visualizações
Episódio Adamastor - Os Lusíadas por Becre Forte da Casa
Episódio Adamastor - Os LusíadasEpisódio Adamastor - Os Lusíadas
Episódio Adamastor - Os Lusíadas
Becre Forte da Casa882 visualizações
Tempestade e Chegada à Índia por sin3stesia
Tempestade e Chegada à ÍndiaTempestade e Chegada à Índia
Tempestade e Chegada à Índia
sin3stesia101.4K visualizações
Luís vaz de camões (1524 – 1580 por Amanda Assenza Fratucci
Luís vaz de camões (1524 – 1580Luís vaz de camões (1524 – 1580
Luís vaz de camões (1524 – 1580
Amanda Assenza Fratucci1.7K visualizações
Robinson crusoe por Morganauca
Robinson crusoeRobinson crusoe
Robinson crusoe
Morganauca6.3K visualizações
104 por mocellinrbuno
104104
104
mocellinrbuno734 visualizações

Mais de Vanda Marques

Planif Anual 7.docx por
Planif Anual 7.docxPlanif Anual 7.docx
Planif Anual 7.docxVanda Marques
52 visualizações9 slides
Poesias 7 por
Poesias 7Poesias 7
Poesias 7Vanda Marques
713 visualizações12 slides
A pontuação por
A pontuaçãoA pontuação
A pontuaçãoVanda Marques
2.2K visualizações7 slides
A notícia por
A notíciaA notícia
A notíciaVanda Marques
1.6K visualizações20 slides
As lendas por
As lendasAs lendas
As lendasVanda Marques
7.7K visualizações12 slides
Funções sintáticas 1 por
Funções sintáticas 1Funções sintáticas 1
Funções sintáticas 1Vanda Marques
3.2K visualizações16 slides

Mais de Vanda Marques(20)

Planif Anual 7.docx por Vanda Marques
Planif Anual 7.docxPlanif Anual 7.docx
Planif Anual 7.docx
Vanda Marques52 visualizações
Poesias 7 por Vanda Marques
Poesias 7Poesias 7
Poesias 7
Vanda Marques713 visualizações
A pontuação por Vanda Marques
A pontuaçãoA pontuação
A pontuação
Vanda Marques2.2K visualizações
A notícia por Vanda Marques
A notíciaA notícia
A notícia
Vanda Marques1.6K visualizações
As lendas por Vanda Marques
As lendasAs lendas
As lendas
Vanda Marques7.7K visualizações
Funções sintáticas 1 por Vanda Marques
Funções sintáticas 1Funções sintáticas 1
Funções sintáticas 1
Vanda Marques3.2K visualizações
Formação de palavras por Vanda Marques
Formação de palavrasFormação de palavras
Formação de palavras
Vanda Marques6K visualizações
A história da língua por Vanda Marques
A história da línguaA história da língua
A história da língua
Vanda Marques5.2K visualizações
Inês de castro por Vanda Marques
Inês de castroInês de castro
Inês de castro
Vanda Marques3.4K visualizações
Despedidas em belém por Vanda Marques
Despedidas em belémDespedidas em belém
Despedidas em belém
Vanda Marques19.9K visualizações
Contextualizando os lusiadas por Vanda Marques
Contextualizando os lusiadasContextualizando os lusiadas
Contextualizando os lusiadas
Vanda Marques2.6K visualizações
Consílio por Vanda Marques
ConsílioConsílio
Consílio
Vanda Marques1.6K visualizações
Adamastor por Vanda Marques
AdamastorAdamastor
Adamastor
Vanda Marques4.3K visualizações
A epopeia por Vanda Marques
A epopeiaA epopeia
A epopeia
Vanda Marques676 visualizações
Contextualizando os lusiadas por Vanda Marques
Contextualizando os lusiadasContextualizando os lusiadas
Contextualizando os lusiadas
Vanda Marques7.1K visualizações
Consílio por Vanda Marques
ConsílioConsílio
Consílio
Vanda Marques4.8K visualizações
Texto a abóbada por Vanda Marques
Texto a abóbadaTexto a abóbada
Texto a abóbada
Vanda Marques23K visualizações
Trabalhos escritos por Vanda Marques
Trabalhos escritosTrabalhos escritos
Trabalhos escritos
Vanda Marques1.1K visualizações
O mundo em que vivi por Vanda Marques
O mundo em que viviO mundo em que vivi
O mundo em que vivi
Vanda Marques15.9K visualizações
Textos autobiográficos por Vanda Marques
Textos autobiográficosTextos autobiográficos
Textos autobiográficos
Vanda Marques10.3K visualizações

Último

Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele... por
Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele...Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele...
Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele...azulassessoriaacadem3
28 visualizações3 slides
A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v... por
A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v...A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v...
A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v...azulassessoriaacadem3
44 visualizações2 slides
Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do... por
Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do...Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do...
Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do...azulassessoriaacadem3
202 visualizações4 slides
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car... por
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...HelpEducacional
222 visualizações3 slides
REVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptx por
REVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptxREVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptx
REVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptxprofesfrancleite
54 visualizações10 slides
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car... por
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...HelpEducacional
556 visualizações3 slides

Último(20)

Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele... por azulassessoriaacadem3
Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele...Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele...
Dois irmãos abriram uma farmácia no bairro que moravam na década de 1970. Ele...
azulassessoriaacadem328 visualizações
A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v... por azulassessoriaacadem3
A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v...A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v...
A) Determine a média, a moda, a mediana, o desvio-padrão e o coeficiente de v...
azulassessoriaacadem344 visualizações
Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do... por azulassessoriaacadem3
Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do...Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do...
Texto: Ezequiel 1:1 – Bíblia ARA Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do...
azulassessoriaacadem3202 visualizações
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car... por HelpEducacional
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...
HelpEducacional222 visualizações
REVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptx por profesfrancleite
REVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptxREVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptx
REVISÃO PARA O PROVÃO DE HISTÓRIA.pptx
profesfrancleite54 visualizações
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car... por HelpEducacional
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...
a) Explique como ocorre a circulação do sangue dentro do coração (câmaras car...
HelpEducacional556 visualizações
apresentação-oral-Ana-Sousa-Martins-7-12-2023.ppt por anissimamente
apresentação-oral-Ana-Sousa-Martins-7-12-2023.pptapresentação-oral-Ana-Sousa-Martins-7-12-2023.ppt
apresentação-oral-Ana-Sousa-Martins-7-12-2023.ppt
anissimamente31 visualizações
3) Os AINEs são classificados de acordo com sua composição química. A esse re... por HelpEducacional
3) Os AINEs são classificados de acordo com sua composição química. A esse re...3) Os AINEs são classificados de acordo com sua composição química. A esse re...
3) Os AINEs são classificados de acordo com sua composição química. A esse re...
HelpEducacional193 visualizações
Portanto, a cada linha da tabela acima, temos a representação da execução do ... por azulassessoriaacadem3
Portanto, a cada linha da tabela acima, temos a representação da execução do ...Portanto, a cada linha da tabela acima, temos a representação da execução do ...
Portanto, a cada linha da tabela acima, temos a representação da execução do ...
azulassessoriaacadem351 visualizações
FESTEJAR O PÃO-POR-DEUS NO LAR VALE FORMOSO.pdf por Colégio Santa Teresinha
FESTEJAR O PÃO-POR-DEUS NO LAR VALE FORMOSO.pdfFESTEJAR O PÃO-POR-DEUS NO LAR VALE FORMOSO.pdf
FESTEJAR O PÃO-POR-DEUS NO LAR VALE FORMOSO.pdf
Colégio Santa Teresinha304 visualizações
MAPA - CONTABILIDADE EMPRESARIAL - 54/2023 por AaAssessoriadll
MAPA - CONTABILIDADE EMPRESARIAL - 54/2023MAPA - CONTABILIDADE EMPRESARIAL - 54/2023
MAPA - CONTABILIDADE EMPRESARIAL - 54/2023
AaAssessoriadll53 visualizações
1a. DIFERENCIE, o princípio físico na formação da imagem para método de tomog... por azulassessoriaacadem3
1a. DIFERENCIE, o princípio físico na formação da imagem para método de tomog...1a. DIFERENCIE, o princípio físico na formação da imagem para método de tomog...
1a. DIFERENCIE, o princípio físico na formação da imagem para método de tomog...
azulassessoriaacadem341 visualizações
5.1- Descreva pelo menos dois pontos positivos sobre a viabilidade de um sist... por azulassessoriaacadem3
5.1- Descreva pelo menos dois pontos positivos sobre a viabilidade de um sist...5.1- Descreva pelo menos dois pontos positivos sobre a viabilidade de um sist...
5.1- Descreva pelo menos dois pontos positivos sobre a viabilidade de um sist...
azulassessoriaacadem325 visualizações
B. Orientações para as mamães que tem bebês com mais de 7 meses de idade e qu... por azulassessoriaacadem3
B. Orientações para as mamães que tem bebês com mais de 7 meses de idade e qu...B. Orientações para as mamães que tem bebês com mais de 7 meses de idade e qu...
B. Orientações para as mamães que tem bebês com mais de 7 meses de idade e qu...
azulassessoriaacadem385 visualizações
2) Segundo, você deverá inserir imagens e explicar sobre dois exemplos de dow... por azulassessoriaacadem3
2) Segundo, você deverá inserir imagens e explicar sobre dois exemplos de dow...2) Segundo, você deverá inserir imagens e explicar sobre dois exemplos de dow...
2) Segundo, você deverá inserir imagens e explicar sobre dois exemplos de dow...
azulassessoriaacadem331 visualizações
3. Os vídeos “Filha de pais surdos dá lição de amor” e “Cadela aprende libras... por azulassessoriaacadem3
3. Os vídeos “Filha de pais surdos dá lição de amor” e “Cadela aprende libras...3. Os vídeos “Filha de pais surdos dá lição de amor” e “Cadela aprende libras...
3. Os vídeos “Filha de pais surdos dá lição de amor” e “Cadela aprende libras...
azulassessoriaacadem336 visualizações
3- Por fim, considerando as suas pesquisas bem como os estudos realizados ao ... por azulassessoriaacadem3
3- Por fim, considerando as suas pesquisas bem como os estudos realizados ao ...3- Por fim, considerando as suas pesquisas bem como os estudos realizados ao ...
3- Por fim, considerando as suas pesquisas bem como os estudos realizados ao ...
azulassessoriaacadem327 visualizações
e) Se for feita a Derivada da função lucro, qual função é obtida? por azulassessoriaacadem3
e) Se for feita a Derivada da função lucro, qual função é obtida?e) Se for feita a Derivada da função lucro, qual função é obtida?
e) Se for feita a Derivada da função lucro, qual função é obtida?
azulassessoriaacadem337 visualizações
1) Descreva como os AINEs não seletivos exercem seu mecanismo de ação, reduzi... por HelpEducacional
1) Descreva como os AINEs não seletivos exercem seu mecanismo de ação, reduzi...1) Descreva como os AINEs não seletivos exercem seu mecanismo de ação, reduzi...
1) Descreva como os AINEs não seletivos exercem seu mecanismo de ação, reduzi...
HelpEducacional100 visualizações
4) Explique a diferença dos coxibes em relação aos AINEs convencionais, consi... por HelpEducacional
4) Explique a diferença dos coxibes em relação aos AINEs convencionais, consi...4) Explique a diferença dos coxibes em relação aos AINEs convencionais, consi...
4) Explique a diferença dos coxibes em relação aos AINEs convencionais, consi...
HelpEducacional93 visualizações

A Tempestade

  • 1. Episódio “A Tempestade” Os Lusíadas, Luís de Camões 70 Mas neste passo,assi prontosestando, Eis o mestre,que olhandoosaresanda, O apitotoca: acordam, despertando, Os marinheirosdüae doutrabanda. E, porque o ventovinharefrescando, Os traquetesdasgáveastomarmanda. - «Alerta(disse) estai,que oventocrece Daquelanuvemnegraque aparece!» 71 Não eramos traquetesbemtomados, Quandodá a grande e súbitaprocela. - «Amaina(disse omestre agrandes brados), Amaina(disse),amainaagrande vela!» Não esperamosventosindinados Que amainassem,mas,juntosdandonela, Em pedaçosa fazemcum ruído Que o Mundo pareceuserdestruído! 72 O céu fere comgritosnistoa gente, Cum súbitotemore desacordo; Que,no romperda vela,anau pendente Toma grão suma d'água pelo bordo. - «Alija(disse omestre rijamente), Alijatudoao mar,não falte acordo! Vãooutros dar à bomba,não cessando; À bomba,que nosimosalagando!» 73 Corremlogoos soldadosanimosos A dar à bomba;e, tantoque chegaram, Os balançosque osmares temerosos Deram à nau,num bordoos derribaram. Três marinheiros,durose forçosos, A menearoleme nãobastaram; Talhaslhe punham, düae doutra parte, Semaproveitardoshomensforçae arte. 74 Os ventoseramtaisque não puderam Mostrar maisforça d'ímpetocruel, Se pera derribarentãovieram fortíssimaTorre de Babel, Nosaltíssimosmares,que cresceram, A pequenagranduradumbatel Mostra a possante nau,que move espanto, Vendoque se sustémnasondastanto. 75 A nau grande,emque vai Pauloda Gama, Quebradolevaomasto pelomeio, Quási toda alagada;a gente chama Aquele que asalvaro mundoveio. Não menosgritosvãosao ar derrama Toda a nau de Coelho,comreceio, Conquantoteve omestre tantotento Que primeiroamainouque desse ovento.
  • 2. Episódio “A Tempestade” Os Lusíadas, Luís de Camões 76 Agora sobre as nuvensossubiam As ondasde Neptunofuribundo; Agora a verparece que deciam As íntimasentranhasdoProfundo. Noto,Austro,Bóreas,Áquilo,queriam Arruinara máquinado Mundo; A noite negrae feiase alumia Cos raiosemque o Pólotodo ardia! 77 As Alcióniasavestriste canto Juntoda costa brava levantaram, Lembrando-se de seupassadopranto, Que as furiosaságuaslhe causaram. Os delfinsnamorados,entretanto, Lá nascovas marítimasentraram, Fugindoà tempestade e ventosduros, Que nemno fundoosdeixaestarseguros. 78 Nuncatão vivosraiosfabricou Contra a ferasoberbadosGigantes O grão ferreirosórdidoque obrou Do enteadoasarmas radiantes; Nemtantoo grão Tonante arremessou Relâmpadosaomundo,fulminantes, No grão dilúviodondesósviveram Os dousque emgente as pedras converteram. 79 Quantosmontes,então,que derribaram As ondasque batiamdenodadas! Quantasárvoresvelhasarrancaram Do ventobravoas fúriasindinadas! As forçosasraízesnão cuidaram Que nunca perao céu fossemviradas Nemas fundasareiasque pudessem Tanto os maresque emcima as revolvessem. 80 VendoVascoda Gama que tão perto Do fimde seudesejose perdia, Vendoorao mar até o Infernoaberto, Ora com nova fúriaao Céusubia, Confusode temor,davidaincerto, Onde nenhumremédiolhe valia, Chama aquele remédiosantoe forte Que o impossíbil pode,destasorte: 81 - «DivinaGuarda,angélica,celeste, Que os céus,o mar e terra senhoreias: Tu, que a todo Israel refúgiodeste Por metade daságuas Eritreias; Tu, que livraste Pauloe defendeste Das Sirtesarenosase ondasfeias, E, guardaste,cos filhos,osegundo Povoadordoalagadoe vácuo mundo:
  • 3. Episódio “A Tempestade” Os Lusíadas, Luís de Camões 82 Se tenhonovosmedosperigosos Doutra Cilae Caríbdis jápassados, Outras Sirtese baxosarenosos, OutrosAcroceráuniosinfamados; No fimde tantoscasos trabalhosos, Porque somosde Ti desamparados, Se este nossotrabalhonão te ofende, Mas antesteuserviçosópretende? 83 Oh ditososaquelesque puderam Entre as agudaslançasAfricanas Morrer, enquantofortessustiveram A santa Fé nas terrasMauritanas; De quemfeitosilustresse souberam, De quemficammemóriassoberanas, De quemse ganhaa vidacom perdê-la, Doce fazendoamorte as honras dela!» 84 Assi dizendo,osventos, que lutam Comotouros indómitos,bramando, Mais e maisa tormentaacrecentavam, Pelamiúdaenxárciaassoviando. Relâmpadosmedonhosnãocessavam, Ferostrovões,que vêmrepresentando Cair o Céudoseixossobre aTerra, ConsigoosElementosteremguerra. 85 Mas jáa amorosaEstrelacintilava Diante doSol claro,no horizonte, Mensageiradodia,e visitava A terra e o largo mar, com ledafronte. A Deusaque nosCéusa governava, De quemfoge oensíferoOrionte, Tanto que o mar e a cara armada vira, Tocada juntofoi de medoe de ira. 86 - «Estasobras de Baco são, por certo (Disse),masnãoseráque avante leve Tão danada tenção,que descoberto Me será sempre omal a que se atreve.» Istodizendo,dece aomar aberto, No caminhogastandoespaçobreve, Enquantomanda as Ninfasamorosas Grinaldasnascabeças pôr de rosas. 87 Grinaldasmandapôr de várias cores Sobre cabeloslourosaporfia. Quemnão diráque nacem roxasflores Sobre ouro natural,que Amorenfia? Abrandardetermina,poramores, Dos ventosa nojosacompanhia, Mostrando-lhe asamadasNinfasbelas, Que maisfermosasvinhamque asestrelas.
  • 4. Episódio “A Tempestade” Os Lusíadas, Luís de Camões 88 Assi foi;porque,tantoque chegaram À vistadelas,logolhe falecem As forçascom que dantespelejaram, E já como rendidoslhe obedecem; Os pése mãos parece que lhe ataram Os cabelosque osraiosescurecem. A Bóreas,que dopeitomaisqueria, Assi disse abelíssimaOritia: 89 - «Nãocreias,feroBóreas,que te creio Que me tiveste nuncaamorconstante, Que brandura é de amor maiscertoarreio E não convémfurora firme amante. Se já não põesa tanta insâniafreio, Não esperesde mi,daqui emdiante, Que possamais amar-te,mastemer-te; Que amor, contigo,emmedose converte.» 90 Assi mesmoa fermosaGalateia Diziaao feroNoto,que bemsabe Que dias há que em vê-lase recreia, E bem crê que comele tudoacabe. Não sabe o bravotanto bemse o creia, Que o coração nopeitolhe nãocabe; De contente de verque a dama o manda, Poucocuida que faz,se logoabranda. 91 Destamaneiraas outras amansavam Subitamente osoutrosamadores; E logo à lindaVénusse entregavam, Amansadasas irase os furores. Ela lhe prometeu,vendoque amavam, Sempiternofavoremseusamores, Nas belasmãostomando-lhehomenagem De lhe seremleaisestaviagem. 92 Já a manhã clara dava nosouteiros Por onde o Gangesmurmurandosoa, Quandoda celsagáveaos marinheiros Enxergaramterra alta,pelaproa. Já fora de tormentae dos primeiros Mares, o temorvão dopeitovoa. Disse alegre opilotoMelindano: - «Terraé de Calecu,se não me engano. 93 «Esta é,por certo,a terra que buscais Da verdadeiraÍndia,que aparece; E se do mundomaisnãodesejais, Vossotrabalholongoaqui fenece.» Sofreraqui não pôde o Gama mais, De ledoemverque a terra se conhece; Os giolhosnochão, as mãos ao Céu, A mercê grande a Deusagardeceu.
  • 5. Episódio “A Tempestade” Os Lusíadas, Luís de Camões 94 As graças a Deusdava, e razão tinha, Que não somente aterra lhe mostrava Que,com tantotemor,buscandovinha, Por quemtantotrabalhoexprimentava, Mas via-se livrado,tãoasinha, Da morte,que no mar lhe aparelhava O ventoduro,férvidoe medonho, Comoquemdespertoude horrendosonho.