O documento discute como Deus perdoa por amor e como isso nos leva a amar em retribuição. Ele analisa passagens bíblicas que mostram como Davi reconheceu seu pecado e foi perdoado por Deus, e como Jesus perdoou uma pecadora arrependida. O documento também explica como Paulo pregava que a fé, não as obras, é o que nos justifica perante Deus.
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
Deus perdoa porque ama; nós amamos porque fomos perdoados
1. DEUS PERDOA PORQUE AMA; NÓS AMAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS
Pe. José Bortolini – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades – Paulus, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: C – TEMPO LITÚRGICO: 11° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. As comunidades cristãs se reúnem para celebrar a fé no Filho
de Deus que nos amou e se entregou por nós. O centro de nossa
celebração é Cristo, que não morreu em vão; pelo contrário, sua
morte nos inocentou das culpas. A fé no mistério pascal, celebra-
do na Eucaristia, nos leva a exclamar com Paulo: “Eu vivo, mas
já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim” (cf. 2ª leitu-
ra Gl 2,16.19-21).
2. Ao celebrarmos a Eucaristia, tomamos consciência de nossos
pecados e fraquezas. Porém, não há pecado que esteja excluído
do perdão de Deus. Basta que as pessoas tomem consciência,
arrependam-se e se convertam ao Deus da justiça. Por outro lado,
tomamos consciência de nossa missão profética, que não teme
desmascarar os crimes cometidos contra os indefesos, pois preju-
dicá-los é pecar contra o Senhor (cf. 1ª leitura 2Sm 12,7-10.13).
3. A Eucaristia é o memorial do amor do Deus que perdoa.
Celebrá-la é sermos gratos ao Senhor, pois ele perdoa porque
ama. Junto com todos os sofredores e marginalizados, acolhemos
a salvação que Deus nos oferece em Jesus, pois ele toma refeição
com os pecadores (cf. Evangelho Lc 7,36-8,3).
II.COMENTÁRIODOSTEXTOSBÍBLICOS
1ª leitura (2Sm 12,7-10.13): Nenhum crime é maior que o
perdão de Deus. Basta que as pessoas se arrependam
4. Antes de se tornar rei de Israel, Davi liderou um grupo de
pessoas que passavam dificuldades, endividadas e descontentes
com a política de Saul, primeiro monarca (cf. 1Sm 22,2). Perse-
guindo sempre o ideal da justiça para todos, conseguiu unir ao
redor de sua pessoa todas as tribos, consolidando assim o império
e tornando-se rei sobre todo o Israel (2Sm 5,3).
5. Chefe guerreiro e suporte da justiça, tornou-se também o
chefe da linhagem messiânica: ele seria o ancestral do messias
que deveria vir. Davi foi, ao longo de toda a história de Israel, o
símbolo do rei que promoveu a justiça e a paz. De fato, as princi-
pais tarefas da autoridade política consistiam na defesa contra as
agressões externas (e para tanto o rei devia sair à guerra contra os
inimigos do povo) e na promoção e preservação da justiça dentro
do país.
6. Depois que consolidou o império, Davi deixou que o poder
lhe fizesse a cabeça. Em 2Sm 11 se diz que ele não mais vai à
guerra para defender o povo, mas fica em casa gozando as mor-
domias do poder. E o que acontece quando uma autoridade deixa
de lado os interesses do povo? Fatalmente essa pessoa usará o
poder em proveito próprio. Foi o que aconteceu com Davi. Em
vez de ir à guerra para defender o povo, serve-se dele. Torna-se
adúltero, violento, hipócrita e assassino (cf. 2Sm 11).
7. O trecho deste domingo faz parte dos acontecimentos poste-
riores ao adultério de Davi, sua hipocrisia e abuso do poder, ma-
tando Urias para lhe roubar a esposa. O profeta Natan conta ao rei
uma estorinha comovente. Este, sentindo-se responsável pela
manutenção da justiça no país e pensando que o transgressor seja
outra pessoa, dá a sentença: “Esse homem merece a morte!” Dada
a sentença, o profeta revela quem é o réu: “Você é esse homem!”
(cf. 12,7).
8. Por que Davi é réu de morte? Porque pagou com a injustiça
os favores de Deus. Os vv. 7-8 enumeram cinco desses favores:
“Eu te ungi rei de Israel, eu te salvei das mãos de Saul, eu te dei a
casa do teu senhor, eu coloquei suas mulheres em teus braços, eu
te dei a casa de Israel e de Judá, e se isso te parece pouco, vou
acrescentar outros favores”. As injustiças cometidas contra as
pessoas são crimes contra Deus, pois ele é o defensor dos fracos e
das vítimas dos abusos do poder. Davi reconhece que, adulteran-
do com a mulher de Urias, tentando hipocritamente esconder o
fato e, por fim, mandando matar Urias, pecou contra o Deus de
Israel, que é o Deus da justiça. E Deus, por meio de seus profetas,
vai à raiz da injustiça, desmascarando o mandante do crime, e não
tanto seus executores.
9. Quais as conseqüências da ganância de Davi? “Tu feriste
com a espada Urias, o hitita… por isso, a espada nunca mais se
afastará de tua casa” (vv. 9-10). A ganância de Davi levou três de
seus filhos à morte violenta: Amnon, Absalão e Adonias. Os três
foram violentos e abusaram do poder. Desse modo o trecho de
hoje mostra que, cedo ou tarde, a violência se volta contra o vio-
lento.
10. A palavra profética desnuda a arrogância do poder que ex-
plora e mata o povo. Davi reconhece seu pecado: “Pequei contra
o Senhor”. Deus, que é proposta de salvação sempre aberta, per-
doa os que se arrependem, por maior que tenha sido seu pecado:
“O Senhor perdoou o teu pecado, de modo que não morrerás!” (v.
13).
Evangelho (Lc 7,36-8,3): Deus perdoa porque ama; nós ama-
mos porque fomos perdoados
11. O episódio da pecadora perdoada, que só se encontra no
evangelho de Lucas (7,36-50), sempre inquietou os estudiosos: os
gestos da prostituta (v. 38) provocaram o perdão de Jesus, ou são
sinais de gratidão pelo perdão recebido? A maioria dos estudiosos
crê que a pecadora agiu assim porque percebeu em Jesus a mise-
ricórdia do Deus que perdoa. De fato, o amor de Deus precede o
amor humano. Deus ama e, por isso, perdoa. Nós, porque nos
sentimos perdoados, respondemos com gestos de amor e gratidão.
12. De fato, o programa libertador de Jesus consiste, entre outras
coisas, em proclamar “o ano de graça do Senhor” (cf. 4,19) para
os pobres e marginalizados. Além disso, a misericórdia é a síntese
do “sermão da planície” (6,20-49). Em Lc 7,34 Jesus é acusado
de ser comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e
dos pecadores. Em base a esses dados, podemos crer que a prosti-
tuta sentiu que algo de novo estava acontecendo em sua vida, por
causa da prática de Jesus.
a. Dois hóspedes estranhos (vv. 36-39)
13. O fariseu que convida Jesus para uma refeição é uma pessoa
influente na cidade. Por ser fariseu (palavra que significa “sepa-
rado”), adquiriu status de piedoso e cumpridor da Lei. Em cir-
cunstâncias normais, jamais teria admitido a presença de uma
prostituta dentro do seu lar, pois ela é pessoa ritualmente impura.
É, portanto, hóspede indesejada.
14. O hóspede desejado é Jesus. Mas o fariseu se escandaliza
pelo fato de o Mestre se deixar tocar, perfumar e beijar por quem
fazia dessa “arte” seu ganha-pão. Para o fariseu, Jesus estaria
aceitando o jogo perigoso da prostituta, entendendo os gestos dela
como sedução descarada. Dois hóspedes haviam entrado em sua
casa, cada qual com sua fama: um era o profeta; o outro, a prosti-
tuta; ele, convidado; ela, nem sequer tolerada, mas “convidada”,
pela prática de Jesus, a experimentar o amor do Pai.
b. A gratidão que responde ao amor gratuito (vv. 40-50)
15. Naquele tempo era costume, durante os banquetes, propor
enigmas para distração dos convidados e das pessoas que, embora
não fossem convidadas, apareciam para “apreciar” o grande acon-
tecimento. Coisa de orientais e, da parte do fariseu, ostentação de
poder. Jesus tomou a iniciativa, mostrando que está bem à vonta-
de, e provoca a “piedade” de Simão com uma questão em forma
de historieta (vv. 40-43). A conclusão é muito evidente, apesar da
cautela (“acho que…”) do fariseu: aquele ao qual foi perdoado
mais demonstrará maior gratidão.
16. O fariseu se descuidara dos principais gestos de acolhida:
oferecer água para lavar os pés, o beijo de boas-vindas, o óleo
2. derramado sobre a cabeça do hóspede (vv. 44-46). A prostituta
fez tudo isso porque “acolheu” em sua vida aquele que manifesta
a misericórdia de Deus e não discrimina as pessoas. O que ela
está fazendo são gestos de gratidão pelo fato de Jesus ter-se soli-
darizado com os marginalizados e pecadores, convivendo com
eles (cf. 7,34).
17. Mas o pecado de Simão não consiste em ter esquecido as
regras de bem acolher as pessoas. É mais grave. Ele não é capaz
de acolher Jesus enquanto revelação da misericórdia de Deus para
com os marginalizados. Ele se julga “separado” e “piedoso”. Mas
sua piedade não condiz com a proposta de Jesus. Crê não precisar
do perdão de Deus. E por assim crer, não o obtém. Por isso, a
expressão: “A quem se perdoa pouco também mostra pouco a-
mor” (v. 47b), soa desta forma: “Quem não sente necessidade de
ser perdoado, não é perdoado, e se torna exemplo clássico de
ingratidão e fechamento ao amor de Deus”. Nesse sentido, todos
são, perante Deus, igualmente devedores de uma dívida impagá-
vel. Mas o que é impossível do ponto de vista humano, é possível
por causa do amor gratuito de Deus. E a resposta das pessoas só
pode ser a gratidão que responde ao amor gratuito.
18. A exclamação dos convidados revela quem é Jesus: “Quem é
este que até perdoa pecados?” (v. 49). Jesus é aquele que veio
inaugurar o “ano de graça do Senhor” (4,19), e, a partir desse
fato, todos são convidados. Os que se consideram “separados”,
“justos” ou “piedosos” se auto-excluem da salvação e do perdão
gratuitos de Deus (cf. a parábola do fariseu e do publicano, Lc
18,9-14).
c. Os marginalizados participam do anúncio da Boa Nova do
Reino de Deus (8,1-3)
19. O início do cap. 8 está ligado ao episódio que acabamos de
ver. A prostituta — à qual Jesus diz: “Seus pecados estão perdoa-
dos… Sua fé a salvou. Vá em paz!” (7,48.50) — é símbolo de
todos os marginalizados que, com ele, constroem a nova socieda-
de.
20. Para a mentalidade daqueles tempos (e quem sabe para a
nossa também), era escandaloso um mestre ser auxiliado por
mulheres — e que tipo de mulheres! — no anúncio de suas pro-
postas. A proposta de Jesus é a Boa Nova do Reino de Deus nas
cidades e nos campos, ou seja, para todos (8,1). As mulheres que
ajudam Jesus são pessoas reintegradas em sua dignidade
(“…haviam sido curadas de maus espíritos e doenças”, v. 2) e,
sobretudo, mulheres nas quais Jesus descobriu grandes potencia-
lidades em vista do Reino de Deus.
21. Ajudando a Jesus e aos discípulos com os bens que possuí-
am, essas mulheres revelam um dos pilares sobre os quais, se-
gundo Lucas, o Reino se constrói: a partilha. De fato, o Jesus de
Lucas valoriza muito a economia de sobrevivência presente nas
aldeias, baseada na troca e na partilha. A esmola — muito cara a
Lucas (cf. 11,41; 12,33) — não consiste em dar uns trocados a
quem necessita; pelo contrário, é a partilha de tudo o que se é e se
tem. E aí o Reino lança raízes.
2ª leitura (Gl 2,16.19-21): Jesus me amou e se entregou por
mim
22. Na Carta aos gálatas Paulo não se cansa de combater um tipo
de religião mercantilizante, através da qual se pretende “comprar”
a salvação. Essa era a religião pregada pelos judeu-cristãos. Me-
diante as boas ações (cumprimento da Lei), as pessoas acredita-
vam ter direitos sobre Deus. Trata-se, no fundo, de religião per-
vertida que inverte as relações ser humano-Deus. A prática de
Jesus o demonstra muito bem: ele anunciou o amor gratuito e
primeiro de Deus (cf. evangelho), ao qual as pessoas respondem
com a fé. A fé, portanto, é abrir-se ao amor gratuito do Pai, reve-
lado em seu Filho único, que deu a vida como prova de amor.
23. O tema central da Carta aos gálatas é este: “O homem não é
justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo. Nós
abraçamos a fé em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé
em Cristo e não pelas obras da Lei, porque ninguém será justifi-
cado pelas obras da Lei” (2,16). Ao longo da carta, de forma
polêmica, Paulo desenvolve esse tema. A religião autêntica co-
meça pela fé no amor de Deus, e jamais deixa de ser resposta
amorosa ao amor primeiro do Deus que chamou à vida por meio
da morte e ressurreição de seu Filho.
24. Os judeu-cristãos impunham a prática da Lei e a circuncisão
como garantias de salvação. Ora, esse tipo de religião anula o
evento central da nossa fé: o mistério pascal. Nós já fomos salvos,
inocentados e perdoados de nossos pecados mediante a oferta de
Cristo que nos amou e se entregou por nós (cf. v. 20). A fé nele é
quem no-lo garante, não permitindo que, desejando obrigar Deus
a nos salvar por causa de nossas boas ações, invalidemos a morte
de Cristo (cf. v. 21).
25. Paulo propõe ruptura radical com a religião da Lei, que pro-
cura comprar a salvação mediante as boas obras: “Pela Lei eu
morri para a Lei, a fim de viver para Deus” (v. 19). Ser cristão é
estar em clima de contínua gratuidade pela salvação e perdão
obtidos com a morte e ressurreição de Jesus. O que vai além disso
é mercantilismo (quando não se torna também simonia), falsa
piedade, religião que coloca as pessoas acima de Deus, e este a
serviço daquelas. É a religião do fariseu (cf. evangelho); ele se
auto-exclui da salvação que Deus oferece gratuitamente, pois
tenta ganhá-la por méritos próprios (se é que os tem!), ao invés de senti-la
presente como graça.
26. “Jesus me amou e se entregou por mim”: esta, para Paulo, é
a raiz da religião. A iniciativa de perdoar e salvar vem de Deus. A
resposta das pessoas é a fé no ato de amor, mediante o qual Jesus
deu sua vida. Mas não nos iludamos: não se trata de fé extática ou
abstrata. Para Paulo, a fé em Jesus que amou e se entregou traz
como conseqüência “estar crucificado com Cristo”, fazendo dele
o centro da vida e ação: “Eu vivo, mas já não sou eu quem vive, é
Cristo que vive em mim” (vv. 19b-20a).
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
27. A 1ª leitura (2Sm 12,7-10.13) garante que nenhum pecado, por mais relevante que seja, é maior que o perdão
de Deus. Basta que quem o cometeu se arrependa e se converta. Mostra também que o profeta não teme desmasca-
rar a hipocrisia dos grandes que matam inocentes e indefesos, convocando-os ao arrependimento e reconciliação
com o Deus da vida.
28. O evangelho (Lc 7,36-8,3) afirma que “Deus perdoa porque ama; nós amamos porque fomos perdoados”. Pa-
ra ser coerente com a prática de Jesus, nossa pastoral deve direcionar-se decididamente ao encontro dos excluídos.
Que lugar ocupam na celebração eucarística e na comunidade? Somos capazes de reintegrá-los para que sejam a-
gentes na construção do Reino?
29. O trecho da Carta aos gálatas (Gl 2,16.19-21) é uma catequese sobre a verdadeira religião e sobre o sentido
da celebração eucarística. Já fomos perdoados, inocentados e salvos pelo amor de Jesus, que se entregou por nós.
O que significa, então, estar crucificados com ele, tornando-o o centro de nossa vida? Por que ainda mercantiliza-
mos a religião e suas manifestações concretas?