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Capítulo 6 FORMALISMOS NA LINGUÍSTICA: UMA REFLEXÃO CRÍTICA.
Introdução à Linguística 3, Fundamentos Epistemológicos. Fernanda Mussalim e
Anna Christina Bentes
É possível discernir, no discurso da linguística científica, três grandes linhas
e práticas, que podem ou não interagir, cuja delimitação pode se dar pelo lugar que a
noção de formal ocupa em cada uma delas: formal equivale a científico, formal
sinônimo de autônomo e formal remetendo a cálculo.
Na literatura recente, costuma-se fazer referência a uma oposição muitas
vezes vista como intransponível: um lingüista ou é formalista (a forma independe da
função) ou é funcionalista (a função enseja a forma). Se este é o pano de fundo, a
controvérsia propõe a analogia do ovo e da galinha. Esse impasse termina por versar
sobre se há ou não autonomia absoluta da sintaxe. Gerativistas, denominados
formalistas, aderem à tese da autonomia.
A ênfase exagerada no confronto formalismo (= gerativismo) versus
funcionalismo obscureceu o fato de que não se pode, sem distorcer o quadro de práticas
na linguística atual, equacionar formalismo a gerativismo. Gerativistas são
certamente formalistas porque além da autonomia da sintaxe enxergam a linguagem
como um cálculo, mas nem todo formalista é gerativista. Não é possível traduzir
formalismo na linguística por gerativismo (=defensor da autonomia da sintaxe), porque
há formalistas descrevendo línguas naturais que não coadunam com a tese da
autonomia. Há, assim, mesmo na linguística formal, muitas formas de ser
formalista.
Uma abordagem formalista focaliza a forma linguística, tomando-a como
central na investigação das línguas naturais. Newmeyer tem razão quando afirma que
denominar formal a abordagem formal da gramática é uma fonte de tensão e, portanto,
um recurso inadequado, já que este termo remete, nas ciências contemporâneas, ao
procedimento científico que entende que uma teoria científica deve ser passível de
matematização. Nesse sentido, qualquer cientista é formalista. Não é possível, no
entanto, aceitar a via proposta por Newmeyer porque ela equaciona formal, na
linguística contemporânea, à tese, exclusiva do gerativismo, da autonomia da sintaxe.
Ao adotar essa postura, o autor apresenta um quadro distorcido da linguística como se
houvesse apenas formalistas (=gerativistas) e funcionalistas.
O formal na ciência (ou o porquê todo lingüista deve ser formalista)
Afirmar que todo linguista deve ser formalista é seguir a linha de
pensamento que situa a prática do linguista na prática científica. Enquanto cientista,
o linguista deve se submeter a uma série de procedimentos éticos que garantem (no que
é possível a possibilidade de “replicação” do experimento e, consequentemente, a
possibilidade de refutação da teoria.
A necessidade de divulgação, de coletivização do conhecimento, que
permite o questionamento de uma teoria, demanda uma linguagem precisa. Nesse caso,
nos lembra Chomsky, o termo linguagem está sendo usado metaforicamente (assim
como é metáfora dizer que avião voa), por que essa linguagem técnica é criada pelo
homem para um fim específico, construir o discurso científico, ao passo que as línguas
naturais são simplesmente inerentes aos humanos (assim como cantar o é para os
pássaros), ninguém inventou uma língua natural. Literalmente não aprendemos, no
sentido de que não há necessidade de qualquer treinamento, nossa língua materna
(amadurece, diria Chomsky), enquanto que a aprendizagem de uma linguagem formal
demanda um longo treinamento. As linguagens formais não podem, portanto, ser
confundidas com as línguas naturais.
Alguém poderia argumentar: mas por que a linguística tem que ser
científica? Por que a linguística não pode pertencer às humanidades? Essa
evidentemente não é uma questão de resposta simples. E ela parece ser ainda mais
complexa quando o objeto de estudos é a linguagem humana, por que, talvez mais do
que outros objetos teóricos, ela é natural e humana simultaneamente (como a luz é
matéria e energia). Vamos reservar o termo ciência para o estudo naturalista da
linguagem e humanidades para falarmos sobre a visão histórica (subjetiva) da
linguagem.
A linguagem, da posição do cientista naturalista, é um sistema regulado,
passível de ser descrito matematicamente e, portanto, previsível. O objeto do humanista
é a linguagem na sua particularidade, enquanto expressão de um sujeito que é, sem
sombra de dúvidas, atravessado pela ideologia, pelo desejo...
Enquanto subjetividade, a linguagem não é passível de ser estudada por uma
metodologia naturalista precisamente porque ela marca o não-sistemático, o lapso. Se
nas ciências naturais é necessário que a teoria tenha alguma capacidade preditiva (que
pode ser probabilística), na reflexão humanista ela é impossível, porque se trata de
refletir sobre a vontade humana (o livre arbítrio, o desejo), fundamentalmente
indeterminada, não-reproduzível. Sem detalhar essa metodologia das humanidades – a
falta de coincidência aparece na questão da previsibilidade -, elas compartilham a
necessidade de uma linguagem precisa e buscam igualmente à compreensão das
comunidades que estão constituindo.
De qualquer maneira, formalistas e funcionalistas (as duas grandes tradições
de pesquisa na linguística) se inscrevem na tradição naturalista. Um estudo naturalista
da linguagem a enxerga como um objeto natural, da mesma ordem que a gravidade, as
combinações químicas, a evolução biológica, o aquecimento da Terra...
Primeira acepção de formal
Todo modelo, inclusive o linguístico, deve ser formal. Um modelo é
considerado formal se nele são dados em forma explícita e não-ambígua os objetos
primários, as asserções que os relacionam e as regras para manipulá-los (as regras para
formar ou depreender novos objetos e asserções). Idealmente, todo modelo formal
constitui um sistema matemático. Em um certo sentido, portanto, o conceito de
formalidade é equivalente ao conceito de matematicidade, precisão ou univocidade.
O formal na controvérsia forma e função: uma breve discussão
Na linguística atual, a diferença entre os programas teóricos gerativista
(identificado a formalista) e funcionalista tem sido tratada como uma questão sem
posições intermediárias (apesar de vozes dissonantes), como se o antagonismo fosse de
uma tal grandeza que um lingüista não pudesse ser ao mesmo tempo e sem contradição
funcionalista e formalista.
Parece haver consenso entre os historiadores da linguística de que se
esmiuçamos este impasse vemos que ele se sintetiza no desacordo sobre a autonomia da
sintaxe. Gerativistas afirmam que a sintaxe é um sistema autônomo, isto é, a
sintaxe, uma máquina que gera sentenças bem formadas, independe da semântica
(e certamente da pragmática) e tem um modo de operar característico (assim como
o fígado tem um funcionamento próprio). A sintaxe é assim um módulo
independente, logicamente anterior e mais central que a semântica. Funcionalistas
acreditam que a sintaxe é resultado dos usos e funções a que a língua serve. Só há
sintaxe porque há semântica/pragmática. Esse sistema, que pode inclusive ter
adquirido certo grau de autonomia da semântica, resultou das gramaticalizações do uso.
Funcionalistas podem, pois, aceitar que a sintaxe tenha se autonomizado e se constitua
hoje um sistema autônomo ou quase-autônomo, o que importa é a história dessa
autonomia.
O gerativismo clássico tem insistido na tese de que podemos chamar de
autonomia pura, embora, como veremos, ela esteja suavizada no minimalismo. É
nessa direção que se deve compreender a afirmação de Chomsky de que a
linguagem surgiu na espécie humana por um acaso. É assim que ela foi sempre
sintaxe. A linguagem não é uma consequência da comunicação, não é um sistema
de comunicação sofisticado; antes, ela surge de uma mutação genética que
permitiu ao indivíduo a possibilidade de organizar melhor sua vida mental,
tornando-o mais apto. Que a linguagem sirva à comunicação é uma conseqüência
inesperada de termos linguagem, mas não essencial. Um funcionalista contaria uma
estória bem diferente: a linguagem começou como um meio (um instrumento)
rudimentar de comunicação que foi se aperfeiçoando. Nesse sentido, sua principal
função é a comunicação e a interação social. Note que no gerativismo a linguagem
(sintaxe) é um objeto absolutamente mental, enquanto que no funcionalismo ela só
é mental porque é interação social.
Embora já latente desde os primeiros escritos, Chomsky insiste que o objeto
de estudos do gerativismo é a língua 2ª.
O senso comum na linguística afirma que o funcionalismo é indutivo ao
passo que o gerativismo seria dedutivo. O raciocínio indutivo é aquele que parte dos
dados, das manifestações efetivas produzidas por falantes reais, e elabora generalizações
que os explicam.
O estruturalismo, talvez pela repetição exaustiva e descontextualizada de
uma sentença famosa de Saussure, “a língua é uma forma e não uma substância”, foi
associado ao gerativismo: ambos seriam formais, porque, no senso comum na
linguística, o formalismo estaria associado com uma análise exclusivamente interna do
sistema. Nesse sentido, Saussure seria o primeiro formalista ao propor que a língua é
uma estrutura em que as relações de significado e significante se dão pelas semelhanças
e diferenças internas ao sistema.
No gerativismo mais recente, aquele do programa minimalista, a sintaxe é
ótima porque é a melhor resposta para as restrições impostas por módulos externos a ela
e certamente vinculados à externalidade. O gerativismo é internalista, mas não no
mesmo sentido do estruturalismo saussuriano. O interno no gerativismo é
psicológico, diz respeito ao fato de que a sintaxe é um módulo mental com
funcionamento próprio, embora ele responda às demandas das interfaces. O
gerativismo é internalista, mas nem toda abordagem formal o é. Uma abordagem
semântica veri-condicional não pode ser internalista.
Há pesquisadores que se proclamam formalistas e que rejeitam o
postulado da autonomia da sintaxe, trabalhando dentro de uma perspectiva que
considera uma relação estreita entre sintaxe, semântica e pragmática. Gerativistas
são formalistas porque utilizam uma metalinguagem técnica quase lógica, porque
privilegiam a forma gramatical como autônoma e porque admitem que as línguas
naturais são um cálculo.
A metalinguagem no gerativismo deve ser técnica, formalizável, mas
Chomsky tem insistido que as línguas naturais não são lógicas, afirmando,
inclusive, que a nossa capacidade lógico-dedutiva pertence a um outro módulo
mental. Chomsky parece ter sido vítima da confusão do termo formal. Porque colocou
ao mesmo tempo a necessidade de uma metalinguagem formal (lógico-matemática) para
a linguística científica, o compromisso ético, e a afirmação de que a gramática universal
é formal, em que formal não é sinônimo de sistema lógico dedutivo, mas de autônomo e
de cálculo.
Em vários textos, Chomsky mostra que uma propriedade característica
apenas das línguas naturais, e, portanto, ausente de qualquer sistema lógico, é o
deslocamento. Até onde sabemos, qualquer língua natural apresenta essa propriedade,
exemplificada a seguir:
O José, a Maria beijou.
Por que topicalizamos? Por que as línguas naturais realizam movimentos? A
resposta recente de Chomsky é: porque a sintaxe responde otimamente às demandas das
interfaces, isto é, as demandas do sistema sensório-motor e do sistema semântico-
intencional.
Nas línguas naturais, os domínios de interpretação não só não são definidos
a priori, antes da conversa, como o fato de usarmos um sistema para nos referirmos a
um novo universo de discurso interfere no próprio sistema. As palavras ganham
interpretação num sistema de referência (um universo discursivo), mas elas carregam
consigo uma história de suas passagens por outros sistemas, que inclui extensões que se
dão através de analogias, de metáforas, de equívocos.
Os sistemas lógicos caracterizam-se pela “ausência de dêiticos”. Porque são
sistemas dedutivos, os sistemas lógicos não precisam ter elementos cuja interpretação
depende necessariamente de uma remissão à situação de fala.
Na semântica das línguas naturais, a referencialidade é entendida como a
propriedade que permite relacionarmos, de maneira criativa, linguagem e mundo. A
questão toda é que nos cálculos formais linguagem e mundo se relacionam
univocamente, de forma mecânica, sem criatividade, nas línguas naturais, quando
entendemos o significado de uma sentença qualquer, por exemplo:
A Cecília comeu todo o bolo
Num cálculo lógico, a sentença só é verdadeira se a Cecília tiver comido
todo o bolo, sem deixar nem meia migalhinha, afinal meia migalhinha é um pouco de
bolo e a sentença seria falsa.
Como sabemos, sistemas lógicos (ao menos os clássicos) não admitem
paradoxo. As línguas naturais, no entanto, são paradoxais, precisamente porque elas se
dobram sobre si mesmas.
Só o estudo formal das línguas naturais permitiu percebermos com clareza
em que pontos as línguas naturais são diferentes das línguas formais.
Concluindo
Há autores e programas de pesquisa que trabalham dentro da perspectiva
formal, mas aderem à hipótese de um processamento pareado entre sintaxe e semântica.
De modo que é possível ser formalista sem ser gerativista.

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Formalismos na Linguística

  • 1. Capítulo 6 FORMALISMOS NA LINGUÍSTICA: UMA REFLEXÃO CRÍTICA. Introdução à Linguística 3, Fundamentos Epistemológicos. Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes É possível discernir, no discurso da linguística científica, três grandes linhas e práticas, que podem ou não interagir, cuja delimitação pode se dar pelo lugar que a noção de formal ocupa em cada uma delas: formal equivale a científico, formal sinônimo de autônomo e formal remetendo a cálculo. Na literatura recente, costuma-se fazer referência a uma oposição muitas vezes vista como intransponível: um lingüista ou é formalista (a forma independe da função) ou é funcionalista (a função enseja a forma). Se este é o pano de fundo, a controvérsia propõe a analogia do ovo e da galinha. Esse impasse termina por versar sobre se há ou não autonomia absoluta da sintaxe. Gerativistas, denominados formalistas, aderem à tese da autonomia. A ênfase exagerada no confronto formalismo (= gerativismo) versus funcionalismo obscureceu o fato de que não se pode, sem distorcer o quadro de práticas na linguística atual, equacionar formalismo a gerativismo. Gerativistas são certamente formalistas porque além da autonomia da sintaxe enxergam a linguagem como um cálculo, mas nem todo formalista é gerativista. Não é possível traduzir formalismo na linguística por gerativismo (=defensor da autonomia da sintaxe), porque há formalistas descrevendo línguas naturais que não coadunam com a tese da autonomia. Há, assim, mesmo na linguística formal, muitas formas de ser formalista. Uma abordagem formalista focaliza a forma linguística, tomando-a como central na investigação das línguas naturais. Newmeyer tem razão quando afirma que denominar formal a abordagem formal da gramática é uma fonte de tensão e, portanto, um recurso inadequado, já que este termo remete, nas ciências contemporâneas, ao procedimento científico que entende que uma teoria científica deve ser passível de matematização. Nesse sentido, qualquer cientista é formalista. Não é possível, no entanto, aceitar a via proposta por Newmeyer porque ela equaciona formal, na linguística contemporânea, à tese, exclusiva do gerativismo, da autonomia da sintaxe. Ao adotar essa postura, o autor apresenta um quadro distorcido da linguística como se houvesse apenas formalistas (=gerativistas) e funcionalistas. O formal na ciência (ou o porquê todo lingüista deve ser formalista)
  • 2. Afirmar que todo linguista deve ser formalista é seguir a linha de pensamento que situa a prática do linguista na prática científica. Enquanto cientista, o linguista deve se submeter a uma série de procedimentos éticos que garantem (no que é possível a possibilidade de “replicação” do experimento e, consequentemente, a possibilidade de refutação da teoria. A necessidade de divulgação, de coletivização do conhecimento, que permite o questionamento de uma teoria, demanda uma linguagem precisa. Nesse caso, nos lembra Chomsky, o termo linguagem está sendo usado metaforicamente (assim como é metáfora dizer que avião voa), por que essa linguagem técnica é criada pelo homem para um fim específico, construir o discurso científico, ao passo que as línguas naturais são simplesmente inerentes aos humanos (assim como cantar o é para os pássaros), ninguém inventou uma língua natural. Literalmente não aprendemos, no sentido de que não há necessidade de qualquer treinamento, nossa língua materna (amadurece, diria Chomsky), enquanto que a aprendizagem de uma linguagem formal demanda um longo treinamento. As linguagens formais não podem, portanto, ser confundidas com as línguas naturais. Alguém poderia argumentar: mas por que a linguística tem que ser científica? Por que a linguística não pode pertencer às humanidades? Essa evidentemente não é uma questão de resposta simples. E ela parece ser ainda mais complexa quando o objeto de estudos é a linguagem humana, por que, talvez mais do que outros objetos teóricos, ela é natural e humana simultaneamente (como a luz é matéria e energia). Vamos reservar o termo ciência para o estudo naturalista da linguagem e humanidades para falarmos sobre a visão histórica (subjetiva) da linguagem. A linguagem, da posição do cientista naturalista, é um sistema regulado, passível de ser descrito matematicamente e, portanto, previsível. O objeto do humanista é a linguagem na sua particularidade, enquanto expressão de um sujeito que é, sem sombra de dúvidas, atravessado pela ideologia, pelo desejo... Enquanto subjetividade, a linguagem não é passível de ser estudada por uma metodologia naturalista precisamente porque ela marca o não-sistemático, o lapso. Se nas ciências naturais é necessário que a teoria tenha alguma capacidade preditiva (que pode ser probabilística), na reflexão humanista ela é impossível, porque se trata de refletir sobre a vontade humana (o livre arbítrio, o desejo), fundamentalmente indeterminada, não-reproduzível. Sem detalhar essa metodologia das humanidades – a
  • 3. falta de coincidência aparece na questão da previsibilidade -, elas compartilham a necessidade de uma linguagem precisa e buscam igualmente à compreensão das comunidades que estão constituindo. De qualquer maneira, formalistas e funcionalistas (as duas grandes tradições de pesquisa na linguística) se inscrevem na tradição naturalista. Um estudo naturalista da linguagem a enxerga como um objeto natural, da mesma ordem que a gravidade, as combinações químicas, a evolução biológica, o aquecimento da Terra... Primeira acepção de formal Todo modelo, inclusive o linguístico, deve ser formal. Um modelo é considerado formal se nele são dados em forma explícita e não-ambígua os objetos primários, as asserções que os relacionam e as regras para manipulá-los (as regras para formar ou depreender novos objetos e asserções). Idealmente, todo modelo formal constitui um sistema matemático. Em um certo sentido, portanto, o conceito de formalidade é equivalente ao conceito de matematicidade, precisão ou univocidade. O formal na controvérsia forma e função: uma breve discussão Na linguística atual, a diferença entre os programas teóricos gerativista (identificado a formalista) e funcionalista tem sido tratada como uma questão sem posições intermediárias (apesar de vozes dissonantes), como se o antagonismo fosse de uma tal grandeza que um lingüista não pudesse ser ao mesmo tempo e sem contradição funcionalista e formalista. Parece haver consenso entre os historiadores da linguística de que se esmiuçamos este impasse vemos que ele se sintetiza no desacordo sobre a autonomia da sintaxe. Gerativistas afirmam que a sintaxe é um sistema autônomo, isto é, a sintaxe, uma máquina que gera sentenças bem formadas, independe da semântica (e certamente da pragmática) e tem um modo de operar característico (assim como o fígado tem um funcionamento próprio). A sintaxe é assim um módulo independente, logicamente anterior e mais central que a semântica. Funcionalistas acreditam que a sintaxe é resultado dos usos e funções a que a língua serve. Só há sintaxe porque há semântica/pragmática. Esse sistema, que pode inclusive ter adquirido certo grau de autonomia da semântica, resultou das gramaticalizações do uso. Funcionalistas podem, pois, aceitar que a sintaxe tenha se autonomizado e se constitua
  • 4. hoje um sistema autônomo ou quase-autônomo, o que importa é a história dessa autonomia. O gerativismo clássico tem insistido na tese de que podemos chamar de autonomia pura, embora, como veremos, ela esteja suavizada no minimalismo. É nessa direção que se deve compreender a afirmação de Chomsky de que a linguagem surgiu na espécie humana por um acaso. É assim que ela foi sempre sintaxe. A linguagem não é uma consequência da comunicação, não é um sistema de comunicação sofisticado; antes, ela surge de uma mutação genética que permitiu ao indivíduo a possibilidade de organizar melhor sua vida mental, tornando-o mais apto. Que a linguagem sirva à comunicação é uma conseqüência inesperada de termos linguagem, mas não essencial. Um funcionalista contaria uma estória bem diferente: a linguagem começou como um meio (um instrumento) rudimentar de comunicação que foi se aperfeiçoando. Nesse sentido, sua principal função é a comunicação e a interação social. Note que no gerativismo a linguagem (sintaxe) é um objeto absolutamente mental, enquanto que no funcionalismo ela só é mental porque é interação social. Embora já latente desde os primeiros escritos, Chomsky insiste que o objeto de estudos do gerativismo é a língua 2ª. O senso comum na linguística afirma que o funcionalismo é indutivo ao passo que o gerativismo seria dedutivo. O raciocínio indutivo é aquele que parte dos dados, das manifestações efetivas produzidas por falantes reais, e elabora generalizações que os explicam. O estruturalismo, talvez pela repetição exaustiva e descontextualizada de uma sentença famosa de Saussure, “a língua é uma forma e não uma substância”, foi associado ao gerativismo: ambos seriam formais, porque, no senso comum na linguística, o formalismo estaria associado com uma análise exclusivamente interna do sistema. Nesse sentido, Saussure seria o primeiro formalista ao propor que a língua é uma estrutura em que as relações de significado e significante se dão pelas semelhanças e diferenças internas ao sistema. No gerativismo mais recente, aquele do programa minimalista, a sintaxe é ótima porque é a melhor resposta para as restrições impostas por módulos externos a ela e certamente vinculados à externalidade. O gerativismo é internalista, mas não no mesmo sentido do estruturalismo saussuriano. O interno no gerativismo é psicológico, diz respeito ao fato de que a sintaxe é um módulo mental com
  • 5. funcionamento próprio, embora ele responda às demandas das interfaces. O gerativismo é internalista, mas nem toda abordagem formal o é. Uma abordagem semântica veri-condicional não pode ser internalista. Há pesquisadores que se proclamam formalistas e que rejeitam o postulado da autonomia da sintaxe, trabalhando dentro de uma perspectiva que considera uma relação estreita entre sintaxe, semântica e pragmática. Gerativistas são formalistas porque utilizam uma metalinguagem técnica quase lógica, porque privilegiam a forma gramatical como autônoma e porque admitem que as línguas naturais são um cálculo. A metalinguagem no gerativismo deve ser técnica, formalizável, mas Chomsky tem insistido que as línguas naturais não são lógicas, afirmando, inclusive, que a nossa capacidade lógico-dedutiva pertence a um outro módulo mental. Chomsky parece ter sido vítima da confusão do termo formal. Porque colocou ao mesmo tempo a necessidade de uma metalinguagem formal (lógico-matemática) para a linguística científica, o compromisso ético, e a afirmação de que a gramática universal é formal, em que formal não é sinônimo de sistema lógico dedutivo, mas de autônomo e de cálculo. Em vários textos, Chomsky mostra que uma propriedade característica apenas das línguas naturais, e, portanto, ausente de qualquer sistema lógico, é o deslocamento. Até onde sabemos, qualquer língua natural apresenta essa propriedade, exemplificada a seguir: O José, a Maria beijou. Por que topicalizamos? Por que as línguas naturais realizam movimentos? A resposta recente de Chomsky é: porque a sintaxe responde otimamente às demandas das interfaces, isto é, as demandas do sistema sensório-motor e do sistema semântico- intencional. Nas línguas naturais, os domínios de interpretação não só não são definidos a priori, antes da conversa, como o fato de usarmos um sistema para nos referirmos a um novo universo de discurso interfere no próprio sistema. As palavras ganham interpretação num sistema de referência (um universo discursivo), mas elas carregam consigo uma história de suas passagens por outros sistemas, que inclui extensões que se dão através de analogias, de metáforas, de equívocos.
  • 6. Os sistemas lógicos caracterizam-se pela “ausência de dêiticos”. Porque são sistemas dedutivos, os sistemas lógicos não precisam ter elementos cuja interpretação depende necessariamente de uma remissão à situação de fala. Na semântica das línguas naturais, a referencialidade é entendida como a propriedade que permite relacionarmos, de maneira criativa, linguagem e mundo. A questão toda é que nos cálculos formais linguagem e mundo se relacionam univocamente, de forma mecânica, sem criatividade, nas línguas naturais, quando entendemos o significado de uma sentença qualquer, por exemplo: A Cecília comeu todo o bolo Num cálculo lógico, a sentença só é verdadeira se a Cecília tiver comido todo o bolo, sem deixar nem meia migalhinha, afinal meia migalhinha é um pouco de bolo e a sentença seria falsa. Como sabemos, sistemas lógicos (ao menos os clássicos) não admitem paradoxo. As línguas naturais, no entanto, são paradoxais, precisamente porque elas se dobram sobre si mesmas. Só o estudo formal das línguas naturais permitiu percebermos com clareza em que pontos as línguas naturais são diferentes das línguas formais. Concluindo Há autores e programas de pesquisa que trabalham dentro da perspectiva formal, mas aderem à hipótese de um processamento pareado entre sintaxe e semântica. De modo que é possível ser formalista sem ser gerativista.