Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
A Páscoa na visão do espírita
1.
2. Estamos mais uma vez, às vésperas de mais uma Páscoa. Deixando de lado
o apelo comercial da data, e o caráter da festividade familiar, a exemplo do
Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação
plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto
filosófico científico moral da Doutrina Espírita. Devemos comemorar a
Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitido nas
instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da
paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus? Em linhas gerais, as
instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações
específicas para marcar a data, como fazem as demais religiões ou
filosofias cristãs.
3. A origem da Páscoa é incerta. Na verdade, não se sabe exatamente quando
nem mesmo onde começou. Mas um aspecto aparece, no entanto, em todas
as versões, pesquisas, tradições, ou mesmo lenda: o significado da Páscoa
como uma festa universal, na qual os homens, independente de credo e
origem, comemoravam e louvavam o próprio fenômeno da vida. Assim,
através dos séculos, universalmente, todos os homens se preparam, para
nesta época do ano, render homenagem à ressurreição da vida. Mas, se o
sentido da Páscoa é o mesmo em todas as regiões do mundo, isto não
ocorre com sua origem bastante diversa, não só quanto à época exata em
que começou a ser festejada, mas também em relação a seu significado
inicial.
4. O termo Páscoa tem origem no hebraico (Pêssach) que significa passagem,
estando também relacionado com as celebrações pagãs entre os povos
primitivos. Embora a Páscoa tenha significados diferentes para judeus e
católicos, a celebração se tornou uma tradição para muitas culturas. No
judaísmo, a Páscoa comemora dois gloriosos eventos históricos, ambos
executados sob a firme liderança de Moisés: no primeiro, os judeus são
libertados da escravidão egípcia, assinalada a partir da travessia no Mar
Vermelho (Êxodo, 12, 13 e 14). Fala-se de uma dança cultural,
representando a vida dos povos nômades. O termo também está associado à
“Festa dos Pães Asmos”, uma homenagem que os agricultores faziam às
divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, e alimentada
pelos judeus à época de Jesus.
5. O segundo evento caracteriza a vida em liberdade do povo judeu, a
formação da nação judaica e a sua organização religiosa, culminada com
o recebimento do Decálogo ou Os Dez Mandamentos da Lei de Deus
(Êxodo 20: 1 a 21). As festividades da Páscoa judaica duram sete dias,
sendo proibida a ingestão de alimentos e bebidas fermentados durante o
período. Os pães asmos, (Este pão é feito somente de farinha e água, sem
fermento, e cozido em porções de pequena espessura. Para se comer, não
deve ser cortado, mas partido com os dedos. (Mt 14.19.), e a carne de
cordeiro são os alimentos básicos. A Páscoa católica, festejada pelas igrejas
romana e ortodoxa, refere-se à ressurreição de Jesus, após a sua morte na
cruz (Mateus, 28: 1-20; Marcos, 16: 1-20; Lucas, 24: 1-53; João, 20: 1-31 e
21: 1-25).
6. A data da comemoração da Páscoa cristã, instituída a partir do século II da
Era atual, foi motivo de muitos debates no passado. Assim, no primeiro
concílio eclesiástico católico, o Concílio Nicéia, realizado em 325 d.C., foi
estabelecido que a Páscoa católica não poderia coincidir com a judaica. A
partir daí, a Igreja de Roma segue o calendário Juliano (instituído por Júlio
César), para evitar a coincidência da Páscoa com o Pêssach. Entretanto, as
igrejas da Ásia Menor, permaneceram seguindo o calendário gregoriano, de
forma que a comemoração da Páscoa dos católicos ortodoxos coincide, vez
ou outra, com a judaica. Os cristãos adeptos da igreja reformada, em
especial a luterana, não seguem os ritos dos católicos romanos e ortodoxos,
pois não fazem vinculações da Páscoa com a ressurreição do Cristo.
7. Entendemos que a Páscoa não é de modo inicial relacionada ao martírio e
sofrimento do Cristo. Senão, vejamos, como por exemplo: no Evangelho de
Lucas (Capítulo XXII, vv. 15 e 16) a menção do próprio Jesus ao evento:
“Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da
minha paixão, porque vos declaro que não tornarei a comer até que ela se
cumpra no Reino de Deus”. Por esta passagem, fica evidente que a Páscoa
já era uma comemoração na época de Jesus. Tratava-se de uma festa
cultural, em razão do início da época da colheita do trigo, de agradecimento
aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de
suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época.
8. Ambas eram comemoradas no mês de abril e, a partir do evento bíblico
denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441
A.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo
desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.
Mas a tradição católica aproveitou o sentido da Páscoa dos judeus, para
adaptá-lo à sua maneira, dando-lhe um novo significado; associando-o à
imolação de Jesus, após a sentença de Pilatos. Criou a Semana Santa para
celebrar a paixão de Cristo, sua imolação, sua morte e sua ressurreição.
Incorporou a quarta-feira, conhecida como o dia das trevas; a quinta-feira,
dia da última ceia de Jesus com seus apóstolos; a sexta-feira, dia do
sofrimento e da crucificação; o sábado, dia da oração e do jejum; e,
finalmente, o domingo de Páscoa, dia em que Jesus ressuscitou.
9. As igrejas cristãs defendem a ideia de que Jesus “subiu aos céus” em corpo
e alma. O Espiritismo, embora sendo uma doutrina cristã, defensor da
lógica e do bom-senso, entende de forma diferente alguns ensinamentos
dessas igrejas. Em linhas gerais, não há comemoração da Páscoa; no que
concerne à chamada ressurreição, ela não existiu. A interpretação
tradicional aponta para a possibilidade da conservação da estrutura corporal
do Cristo após a morte, situação totalmente rechaçada pela ciência, em
virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. Milagre de
Deus? Mas por que iria Ele derrogar as suas próprias leis naturais?
10. Mas, então, como explicar as aparições de Jesus à Maria de Magdala e aos
discípulos? O que houve foi uma aparição do corpo espiritual do Cristo,
que chamamos de períspirito, o que é algo natural. Na realidade, existe uma
grande diferença de conceito entre a Páscoa tradicional e a Páscoa de
entendimento do espírita. Em verdade, os espíritas reconhecem esta data
como a última lição de Jesus. Que vence as iniquidades, que retorna
triunfante para asseverar que permaneceria eternamente conosco.
O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto
espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a
moral do espiritismo.
11. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura,
pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência
corpórea, é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas
que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há nenhum mal nisso. A
Páscoa, em verdade, pela interpretação da religião tradicional, acha-se
envolta num negativo contexto de culpa. “Cristo é a nossa Páscoa
(libertação), pois Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” -
(João, 1:29). João usou o termo Cordeiro, porque usava-se na época de
Moisés, sacrificar um cordeiro para agradar á Deus. Portanto, dá-se a ideia
de que, Deus sacrificou Jesus em razão dos nossos pecados, numa alusão
descabida de que todo sofrimento do Cristo teria sido realizado para nos
“salvar” dos nossos próprios erros, ...
12. ... ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, os bíblicos Adão e Eva, no
paraíso. Na prática, não há motivo para nos fixarmos na morte do Salvador.
Porque Jesus não morreu para nos salvar; Jesus viveu para nos mostrar o
caminho da salvação. É muito importante lembrarmos de reverenciar os
Seus belos exemplos, que O imortalizaram e que nos guiam, para um dia,
ainda muito longe, podermos fazer brilhar a nossa luz. Vamos tirar o Cristo
da cruz! A Páscoa cristã representa a vitória da vida sobre a morte. Os
espíritas devem comemorar uma outra Páscoa, a da libertação do “homem
velho”. "Que surja o homem novo a partir do homem velho. Que do
homem velho, coberto de egoísmo, de orgulho, de vaidade, de preconceito,
ou seja, coberto de ignorância e inobservância com relação às leis morais,
possa surgir, para ventura de todos nós, o homem novo, ...
13. ... gerado sob o influxo revitalizante das palavras e dos exemplos de Jesus
Cristo, o grande esquecido por muitos de nós, que se agitam na sociedade
tecnológica, na atual civilização dita e havida como cristã. Que este homem
novo seja um soldado da paz neste mundo em guerras. Um lavrador do bem
neste planeta de indiferença e insensibilidade. Um paladino da justiça neste
orbe de injustiças sociais e de tiranias econômicas, políticas e/ou militares.
Um defensor da verdade num plano onde imperam a mentira e o
preconceito tantas vezes em conluios sinistros com as superstições, as
crendices e o fanatismo irracional. Que este homem novo, anseio de todos
nós, seja um operário da caridade, como entendia Jesus: benevolência para
com todos, perdão das ofensas, indulgência para com as imperfeições
alheias."
14. Por isso, nós Espíritas, podemos dizer que, comemoramos a Páscoa todos
os dias. A busca desta “libertação” e/ou "renovação" é diária, e não somente
no dia e mês pré determinado. Comemore, então, a Páscoa da valorização
da própria vida.
Muita Paz
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A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados de O Livro dos
Espíritos, de O Livro dos Médiuns, e de O Evangelho Segundo o
Espiritismo.