1) O documento resume 10 coisas que uma criança com autismo gostaria que as pessoas soubessem, incluindo que o autismo afeta cada criança de forma única e que os sentidos das crianças podem estar desordenados, causando desconforto.
2) Também ressalta a importância de se comunicar de forma visual com a criança, ao invés de apenas verbalmente, e de se concentrar nos pontos fortes da criança ao invés de suas limitações.
3) Pede para que a criança seja amada incondicionalmente e que
1. Dez Coisas que
Toda Criança com Autismo
Gostaria que Você Soubesse
Trecho condensado do livro de Ellen Notbohm
2. Há dias em que a única coisa previsível é a imprevisibilidade; e que o único atributo constante é a inconstância.
O autismo é intrigante, mesmo para aqueles que convivem com ele durante toda a vida. A criança com autismo
pode parecer “normal”, mas seu comportamento pode ser desconcertante e dificílimo.
O autismo já foi considerado um “distúrbio incurável”. Mas essa ideia caiu por terra diante do conhecimento
cada vez maior desse quadro e das constantes descobertas que estão sendo feitas, até mesmo neste momento,
enquanto você lê este texto. Todos os dias, indivíduos com autismo nos mostram que são capazes de superar
as dificuldades, compensar e administrar muitos dos aspectos desafiadores do autismo. Preparar as pessoas
que convivem com nossos filhos, fazer com que elas entendam os elementos básicos do autismo tem um
enorme impacto no caminho dessas crianças rumo a uma vida adulta produtiva e independente.
3. O autismo é um distúrbio complexo, mas, segundo minha experiência, suas inúmeras características
encaixam-se em quatro áreas fundamentais: dificuldades de processamento sensorial, atrasos e
comprometimento da comunicação, dificuldade no desenvolvimento das habilidades de interação social e as
questões da criança como um todo/autoestima.
Embora esses quatro elementos possam ser comuns a várias crianças com autismo, lembre-se de que a razão
de ser chamado de espectro é que não há duas (nem dez, nem vinte) crianças com autismo exatamente iguais.
Cada criança se encontra num ponto diferente do espectro. É importante lembrar também que cada pai,
professor e cuidador tem um grau diferente de compreensão do espectro. Criança ou adulto, cada um terá o seu
conjunto único de necessidades.
4. Eu sou uma
criança
Meu autismo é apenas parte do que sou, e não tudo o que sou. Você é
uma coisa só ou alguém com pensamentos, sentimentos, preferências,
ideias, talentos e sonhos? Você é gordo (está acima do peso), míope (usa
óculos) ou desajeitado (não tem coordenação)? Essas podem ser as
primeiras características que vejo quando o conheço, mas você é mais
do que isso, não é?
Sendo adulto, você tem certo controle sobre a maneira como define a si
mesmo. Se quiser destacar uma característica em particular, pode fazer
isso. Como sou criança, ainda estou em fase de desenvolvimento. Nem
você nem eu sabemos ainda do que sou capaz. Se você me definir por
apenas uma das minhas características, correrá o risco de ter
expectativas muito limitadas. Além disso, se eu perceber que você não
acha que “sou capaz”, minha resposta natural será: “Por que tentar”?
01.
5. Meus sentidos
estão
desordenados
Isso significa que imagens, sons, cheiros, sabores e toques normais que
talvez você nem note podem ser extremamente dolorosos para mim. O
próprio ambiente muitas vezes me parece hostil. Eu posso parecer
distante, agressivo ou mau, mas estou apenas tentando me defender.
Uma simples ida ao supermercado pode ser um inferno para mim.
Minha audição pode ser hipersensível. Dezenas de pessoas falam ao
mesmo tempo, o alto-falante alardeia a oferta do dia e a música ecoa do
sistema de som. Tem também o barulho de caixas registradoras, do
moedor de café e do moedor de carne, choro de bebê, carrinhos
rangendo e o zunido das lâmpadas fluorescentes. Meu cérebro não
consegue filtrar todos esses estímulos e fico sobrecarregado!
02.
6. Meu olfato pode ser aguçadíssimo. O peixe no balcão da peixaria não
está muito fresco, o rapaz ao nosso lado não tomou banho hoje, o setor
de frios oferece degustação de linguiças, o bebê à nossa frente na fila
sujou a fralda, estão usando amoníaco para limpar o chão do corredor
três, onde caiu um vidro de picles. Tenho vontade de vomitar.
Tem tanta coisa agredindo os meus olhos! A luz fluorescente é clara
demais e, ainda por cima, pisca. O ambiente parece estar se mexendo; a
luz pulsante se reflete em tudo e distorce o que estou vendo. Há objetos
demais para que eu consiga manter o foco (meu cérebro pode
compensar restringindo o meu campo visual), ventiladores de teto e um
monte de gente andando de um lado para o outro. Tudo isso afeta o
modo como eu me sinto, e agora eu não consigo nem saber onde meu
corpo se encontra no espaço.
Meus sentidos
estão
desordenados
02.
7. Procure
distinguir entre
“não quero”
(escolho não
fazer) e “não
consigo” (não
sou capaz de
fazer)
Não é que eu não ouça as instruções, é que eu não consigo entender
você. Quando você me chama do outro lado da sala, o que ouço é:
“*&^%$#@, Jordan. Em vez disso, venha até mim, ganhe a minha
atenção e fale diretamente comigo usando palavras simples: “Jordan,
ponha o seu livro na estante. Está na hora de almoçar”. Dessa maneira,
eu entendo o que você quer que eu faça e o que vai acontecer em
seguida. Assim é muito mais fácil para eu fazer o que você pediu.
03.
8. Eu penso de
forma concreta.
Eu interpreto a
linguagem
literalmente
Você me deixa confuso quando diz “Pé na tábua!”, quando o que
realmente quer dizer é, “Corra!”. Não me diga que algo é “moleza”
quando não há nenhum objeto mole ali e o que você quer dizer é que
“aquilo será uma coisa fácil de fazer”. Quando você diz que “está
chovendo canivetes”, eu vejo canivetes caindo do céu. Diga apenas:
“Está chovendo muito”.
Expressões idiomáticas, trocadilhos, sutilezas de linguagem, duplos
sentidos, inferências, metáforas, insinuações e sarcasmos são
incompreensíveis para mim.
04.
9. “Ouça” todas as
maneiras pelas
quais eu tento
me comunicar
Tenho dificuldade de dizer o que preciso, pois não sei como descrever o
que estou sentindo. Posso estar com fome, frustrado, assustado ou
confuso, mas por enquanto essas palavras estão além da minha
capacidade de expressão. Fique atento à minha linguagem corporal,
isolamento, agitação ou outros sinais de que algo está errado. Eles estão
lá.
Pode ser também que, para compensar o fato de não conhecer todas as
palavras de que preciso, eu pareça um pequeno professor ou artista de
cinema, recitando palavras ou roteiros inteiros que estão bem além de
meu estágio de desenvolvimento. São mensagens que memorizei do
mundo ao meu redor, pois sei que esperam que eu responda alguma
coisa quando falam comigo. Posso ter aprendido essas palavras nos
livros, na televisão ou ouvindo outras pessoas. Os adultos chamam isso
de “ecolalia”. Isso não quer dizer que eu entenda o contexto ou a
terminologia que estou usando. Só sei que assim eu saio do aperto
quando tenho de dar uma resposta.
05.
10. Veja só! Minha
orientação é
visual
Mostre-me como fazer algo, em vez de apenas me dizer como. E esteja
preparado para me mostrar várias vezes. Repetições me ajudam a
aprender.
Um quadro da minha rotina diária feito com recursos visuais me ajuda
ao longo do dia. Ele me poupa do estresse de ter de me lembrar do que
devo fazer em seguida, torna mais suave a transição entre uma atividade
e outra e me ajuda a administrar o meu tempo e a corresponder às suas
expectativas.
Eu preciso ver algo para aprender, pois, para mim, as palavras faladas
são como fumaça, elas somem rapidamente antes que eu tenha chance
de entendê-las. Não tenho capacidade de processamento instantâneo.
As instruções e informações apresentadas visualmente podem ficar
diante de mim pelo tempo que eu precisar, e não terão mudado quando
eu consultá-las de novo mais tarde. Sem isso, fico constantemente
frustrado, pois sei que perdi muitas informações e que não atendi às
suas expectativas, e não há nada que eu possa fazer a esse respeito.
06.
11. Concentre-se
naquilo que eu
consigo fazer, e
não naquilo que
eu não consigo
fazer
Assim como qualquer outro ser humano, eu não consigo aprender num
ambiente onde sou constantemente levado a sentir que não sou bom o
suficiente e que preciso de “conserto”. Evito tentar qualquer coisa nova
quando tenho certeza de que só receberei críticas, por mais
“construtivas” que você ache que elas são. Procure meus pontos fortes e
você vai encontrá-los. Quase sempre, há mais de uma maneira certa de
fazer as coisas.
07.
12. Ajude-me a
interagir
socialmente
Pode parecer que eu não quero brincar com as outras crianças no
parquinho, mas a verdade é que simplesmente não sei como iniciar uma
conversa ou entrar numa brincadeira. Ensine-me a brincar com as
outras crianças. Incentive-as a me convidar para brincar com elas; talvez
eu fique muito contente por ser incluído.
Eu me saio melhor em atividades estruturadas que tenham começo e
fim bem definidos. Não sei interpretar as expressões faciais, a
linguagem corporal e as emoções dos outros. Se eu der risada quando a
Emily cair do escorregador, isso não significa que eu tenha achado
engraçado, mas, sim, que não sei o que dizer. Fale comigo sobre os
sentimentos da Emily e me ensine a perguntar: “Você está bem”?
08.
13. Identifique a
causa dos meus
descontroles
Descontroles emocionais e explosões são mais terríveis para mim do
que para você. Eles ocorrem porque um ou mais dos meus sentidos
estão sobrecarregados, ou então porque fui forçado além dos limites
das minhas habilidades sociais. Se você conseguir descobrir o que
desencadeia minhas crises, poderá evitá-las. Faça um registro de
horários, lugares, pessoas e atividades em que isso acontece. Assim,
talvez você identifique um padrão.
Lembre-se de que tudo o que eu faço é uma forma de comunicação.
Mostra aquilo que minhas palavras não conseguem expressar, como
estou reagindo a algo que está acontecendo à minha volta.
Meu comportamento pode ter uma causa física. Alergias e intolerâncias
alimentares, distúrbios do sono e problemas gastrintestinais podem
afetar meu comportamento. Procure sinais, pois talvez eu não seja
capaz de lhe falar sobre essas coisas.
09.
14. Ame-me
incondicional-
mente
Elimine pensamentos do tipo: “Se ele ao menos…” e “Por que ele não
tenta…?”. Provavelmente você não correspondeu a todas as expectativas
que seus pais tinham em relação a você e não gostaria de ser lembrado
disso a todo momento. Eu não escolhi ter autismo. Lembre-se de que
isto está acontecendo comigo, e não com você. Sem seu apoio, minhas
chances de obter sucesso e ser um adulto independente são ínfimas.
Com seu apoio e orientação, as possibilidades são muito maiores do que
você possa imaginar.
Três palavras que nós dois temos de ter sempre em mente são:
paciência, paciência e paciência. Encare meu autismo como uma
habilidade diferente, e não como uma incapacidade. Não se atenha
àquilo que talvez você considere minhas limitações; veja meus pontos
fortes. Posso ter dificuldade de fazer contato visual e conversar, mas
você já percebeu que eu não minto, não trapaceio nos jogos e
brincadeiras, nem julgo os outros? Eu dependo de você. Tudo o que eu
posso vir a ser não se transformará em realidade sem ter você como
base. Seja meu defensor e meu guia, ame-me pelo que eu sou e
veremos até onde sou capaz de chegar.
10.
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