Este documento discute a etnobiologia em Portugal e no mundo. Apresenta os conceitos de etno, etnociências e etnobiologia, e discute campos de estudo como etnoecologia e conhecimento ecológico local. Também aborda metodologias como entrevistas semiestruturadas e questionários, e aplicações do conhecimento ecológico local, incluindo um estudo de caso sobre o conhecimento local de pescadores sobre a sardinha europeia em Peniche, Portugal.
1. Etnobiologia em Portugal e no
mundo
Aveiro
2020
Dr. Heitor de Oliveira Braga
Departamento de Biologia
& CESAM, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
2. - Etno e Etnociências;
- Etnobiologia;
- Campos de estudos;
- Etnoecologia e o Conhecimento ecológico local;
- Metodologias;
- Aplicação e Investigação científica;
• Ponto de
partida:
3. ETNO:
Refere-se ao sistema de conhecimento e cognição
típicos de uma dada cultura (Sturtevant, 1964)
ETNIA: Grupo de pessoas de mesma cultura, língua própria, mitos
de ancestralidade próprios, senso de solidariedade comum, vínculo
e memórias comuns, ou seja características culturais bem
delimitadas para que possamos caracterizá-los como um grupo
diferenciado”
(Berreman 1972; Hutchinson &Smith’s 1996; Ferreira et al. 2003; Baumann 2004; Costa-
Neto 2007; Google Imagens)
4. ETNOCIÊNCIAS
:
- Baseiam-se em avaliações antropológicas • SABER
• Objetivam:
Avaliar os princípios e pressupostos desse conhecimento;
• Considerando:
Possibilidade de estabelecer relações com o conhecimento
científico formal.
• Conjunto de habilidades
possíveis de serem
transmitidas
(Alves & Marques, 2005; Araújo et al. 2003, Sturtevant - 1964 )
5. ETNOCIÊNCIAS
:
• Busca entender o mundo como é percebido, conhecido e significado por
diversas culturas humanas Begossi (1993)
- Estudo: percepções, conhecimento e classificação do mundo por culturas
diferentes (Paz e Begossi, 1996).
Indígena
Popular
Tradicional
(Torres et al., 2009; Araújo et al. 2003 Google Imagens)
Local Nativo
6. ETNOBIOLOGIA
:
• Estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por
qualquer sociedade
• Disciplina que estabelece:
BIOLOGIA
Percepções,
conceitos e
classificações feitas
por comunidades
Classificações
biológicas
(taxonómicas,
morfológicas,
biológicas, ecológicas)
Contato
(Castetter, 935;1944; Posey,1987)
7. ETNOBIOLOGIA
:
• Estudo do conhecimento biológico de grupos étnicos
específicos (Anderson; 2011).
- Conhecimento cultural sobre plantas e animais e suas inter-
relações
• Estudo das interações das pessoas e do meio ambiente
(Albuquerque & Alves; 2016)
- Apresenta um potencial para integrar o conhecimento local
e global
- Conectar culturas e abordagens acadêmicas e relacionar os
aspectos biológicos e sociais da experiência humana ao meio
ambiente.
8. ETNOBIOLOGIA
:
Gestão de recursos com base na comunidade a sistemas complexos
Alternativas a Gestão Convencional da pesca em pequena
escala
• Ferramenta útil:
Mudança de perspetiva: bagagem intelectual de "recursos naturais" e “gestão”
(Berkes 2021)
9. ETNOBIOLOGIA
:
• Ferramenta útil:
Restauração de sistemas sócio-
ecológicos
Combinação de governança e
ecologia
Co-gestão e aprendizagem
social
Diálogo da Ciência e conhecimento tradicional para
Coprodução de Conhecimento
(Berkes 2021; Medina & Barbosa, 2015)
11. experiências
ETNOECOLOGI
A:
- Campo multidisciplinar que integra técnicas da Biologia,
Antropologia, Etologia, Linguística, Economia e outras áreas (Gerique, 2006)
- Pressupõem: investigação do conhecimento das populações
humanas acerca da natureza (Toledo, 1992)
crenças
Conhecimento tradicional/local
(Torres et al. 2009; Kiss J.; 2020; Google Imagens)
percepções
12. ETNOECOLOGI
A:
Produzir e reproduzir as condições materiais de sua existência
social;
Por meio de um manejo apropriado dos recursos naturais.
- Estudo dos conhecimentos, estratégias, atitudes e ferramentas que
permitem às diferentes culturas (Nazarea 1999; Marques 2002);
(Torres et al. 2009)
13. ETNOECOLOGI
A:
- Conhecimento local sobre os recursos naturais inclui também (Ellen 1999):
o conhecimento sobre a extração e utilização
dos recursos;
atividades que aumentam a adaptabilidade da
população local.
- Campo transdisciplinar sobre pensamentos, sentimentos e comportamentos
que intermedeiam (Marques, 2001)
as interações entre as populações humana que os possuem;
os demais elementos dos ecossistemas que as
incluem, bem como os impactos ambientais daí
decorrentes...”
(Molnár, Z., 2015)
14. - Confluências: Ciências Biológicas e Humanas
- Ligação direta: Conhecimento local + Conhecimento acadêmico
- Valoriza: Conhecimento em extinção
- Arcabouço teórico + metodológico: Para compreender sistemas:
ETNOECOLOGI
A:
PERCEPÇÃO COGNIÇÃO
CLASSIFICAÇÃO
(Souza & Begossi, 2007)
15. CONHECIMENTO
ECOLÓGICO LOCAL:
- Conhecimento Ecológico Tradicional (CET)/ Traditional Ecological
Knowledge (TEK) (Berkes et al. 2000)
- Corresponde a um corpo cumulativo de conhecimentos (corpus) +
práticas (práxis) + crenças (kosmos) + Transmissão cultural (Toledo & Barerra-
Bassols 2009)
(Ternes et al. 2016)
- Conhecimento Ecológico Local (CEL)/Local ecological knowledge (LEK)
(Olson & Folke 2001)
16. APLICAÇÃO DO CEL:
• Biólogos da conservação, Antropólogos, Ecológos, Etnobiólogos,
outros acadêmicos e a Indústria Farmacêutica:
- Compartilham um interesse no conhecimento tradicional por razões
científicas, sociais ou econômicas (Berkes et al. 2000)
- Fornecer modelos válidos localmente para uma vida
sustentável e avaliar a perda da biodiversidade rapidamente
(Turner et al. 2000)
- Fonte de informação sobre as espécies, seus ciclos de
vida e comportamento (Costa-Neto 2005; Begossi et al. 2019)
• O Conhecimento ecológico local (etnoecológico):
17. APLICAÇÃO DO CEL:
• Uso e manejo dos recursos naturais:
- Complementar dados ecológicos pré-existentes (Rist et al. 2010)
- Fornecer informações sobre espécies subexploradas para uma melhor
gestão dos recursos naturais em tempo hábil (Pinto et al. 2013)
- Importante para a conservação, gestão e práticas de uso de recursos
desenvolvidos localmente (Berkes et al. 2000)
18. APLICAÇÃO DO CEL:
- Contribuir para um manejo adaptativo de espécies com escassas fontes de
dados – integrando gestores, políticos, ecólogos e pescadores (Aylesworth et al. 2016);
- Gerar novas hipóteses testáveis para investigações ecológicas (Drew 2005).
- Planejamento da conservação de espécies e habitats ameaçados e o
enaltecimento da importância dos valores familiares tradicionais
responsáveis pela transferência do conhecimento oral (Smith et al. 2021)
19. APLICAÇÃO DO CEL:
• Alternativa para a gestão pesqueira:
- Sistema de gestão de pescas em zonas marinhas protegidas (Gerhardinger et al.
2009)
- Fornecimento de informações valiosas sobre as tendências históricas da
abundância de espécies piscícolas (Peñaherrera-Palma et al. 2018; Leitao et al. 2020)
- Melhorar as avaliações da dinâmica da pesca (no espaço e no tempo) e de
espécies em declínio (Zapelini et al. 2019)
(Zapelini et al. 2019)
20. APLICAÇÃO DO CEL:
• Melhorias para a pesquisa científica:
- Coleta de informações adicionais de uma determinada área
desconhecida e avaliação dos impactos ambientais (Huntington, 2000; Braga et al. 2018)
• Alterações climáticas:
- Efeitos das alterações climáticas em pescarias de ambientes marinhos
(hotspots) (Gianelli et al. 2021)
- Declínio ecológico em ambientes locais, levantando a questão de como
essas percepções influenciam o comportamento das pessoas e bem-estar
(Prober et al. 2019).
21. APLICAÇÃO DO CEL:
• Degradação ambiental e a caça:
- Fornece informações ecológicas confiáveis sobre a abundância animal e
tendências populacionais qualitativas (Afriyie et al. 2020)
- Descobertas em nível de paisagem de grande importância para priorizar
áreas para a futura conservação (Nash et al. 2016)
- Ferramenta potencial para a avaliação rápida da distribuição e abundância
relativa de animais (Brittain et al. 2020)
22. - Variedade de métodos disponíveis e seus pontos fortes e fracos;
- Quatro principais métodos não são mutuamente exclusivos
- Considerados como: pontos de partida a partir dos quais um determinado
método pode ser desenvolvido
Melhor atenda às
necessidades
Usando o conhecimento ecológico tradicional na ciência: Métodos
e aplicações - (HUNTINGTON, 2000)
- Derivam das Ciências
sociais;
Comunidades
Investigador Pesquis
a
METODOLOGIAS
23. - Envolver o uso de mapas e outros itens
- Gravações de
vídeo/aúdios.
- Ao conceber um projeto de pesquisa e a seleção de métodos de coleta de
dados
- Considerar o contexto cultural em que as interações ocorrem (Briggs 1986, Johnsone
Ruttan 1993).
Estimular a memória ou
sobre o como localizar
observações
- Princípios éticos apropriados deve ser
seguidos
Direitos comunitários e
individuais sejam
respeitados (IARPC 1992).
METODOLOGIAS
24. - Seleção dos participantes
- Se apropriado, o conselho comunitário pode ser
solicitado a ajudar a selecionar as pessoas mais bem
informadas;
- Referências de cadeia:
Seleção aos
pares
Permitir que o
pesquisador avalie a
integridade das
seleções
Cada participante
sugere o nome de
outros especialista
- Confiabilidade de um determinado participante dependerá em parte do:
• Avaliações do
grupo
• Julgamento do
investigador
• Outras fontes de
feedback local
METODOLOGIAS
25. 1. Entrevista Semidiretivas
- Os participantes são guiado nas discussões pelo
entrevistador;
- A direção e escopo da entrevista são permitidos para que siga a linha de
pensamento dos participantes;
- Não há nenhum questionário fixo, nem um limite predefinido de tempo para
discussões ou os tópicos a serem cobertos;
- O entrevistador pode ter uma lista de tópicos para discutir, que pode ser útil
para estimular discussões adicionais quando houver;
- Entrevistador também deve estar preparado para
associações inesperadas feitas pelos participantes.
METODOLOGIAS
Fonte:
elephantsandbees.com/
26. METODOLOGIAS
2. Questionário
- Entrevistador sabe antecipadamente o que ele ou ela
está procurando;
- Simplifica comparações entre respondentes;
- Quantificação, se desejado é apropriado: Questionário bem elaborado;
- Perguntas podem ser deixadas em aberto: Fornecer novas idéias e
percepções;
- Entrevistas Não Estruturadas, Estruturadas ou Semiestruturadas (Albuquerque et al.
2014)
27. METODOLOGIAS
3. Oficina analítica
- Coleta de dados adicionais não é tão desejável
como tentar interpretar o que já é conhecido;
- Simplifica comparações entre respondentes;
- Estimula novas idéias e desafia velhas suposições;
- Entender melhor a perspectiva do outro e ofereçer novas percepções;
- Cooperação na análise de dados;
- Entendimento comum para desenvolver, em conjunto, prioridades para
gerenciamento e pesquisas futuras.
Fonte: Congresso Internacional de Etnobiologia
28. METODOLOGIAS
4. Trabalho de campo colaborativo
- Oferece um excelente meio de interação por um longo período;
- Localizar locais de estudo, obter espécimes e interpretar resultados de
campo;
- Assistentes de campo locais são contratados: Contribuir para a pesquisa
Fonte: nps.gov
29. APLICAÇÃO DO CEL EM
PORTUGAL
Fishers´local ecological knowledge
(LEK) in the Atlantic Ocean (Brazil and
Portugal): The case study of the
Brazilian sardine and European pilchard
- Avaliar e compartilhar o CEL, bem como as atitudes para a conservação
da sardinha europeia (Peniche, Portugal) e da sardinha brasileira (Arraial
do Cabo, Brasil).
• Objetivo Geral:
30. Metodologia:
• Estabelecimento de uma atmosfera amigável e confiável:
- Forma de reduzir o viés das informações coletadas (Brook and McLachlan
2008).
• Primeiros contatos com a comunidade local de Arraial do Cabo e Peniche.
31. • Aspectos legais e éticos exigidos:
- Pesquisador explicou os objetivos da pesquisa e solicitou ao
entrevistado a permissão para aplicar a pesquisa respeitando a vontade
do pescador;
- As entrevistas foram aprovadas pelo Comitê de Ética da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil (CAAE:
53819116.6.0000.5285).
• Entrevistas semi-estruturadas:
- Questionário bem elaborado e pré-testado para obter
dados quali-quantitativos precisos (Huntington 2000);
- 134 entrevistas em Arraial do Cabo e 87 em Peniche em
2016.
- Dados sobre a ecologia e biologia e de atitudes em
relação à conservação da sardinha brasileira e da sardinha
europeia;
33. Insights Gerais:
Conhecimento científico
da comunidade local
Mudar atitudes na prática
quanto à conservação
Colaborar na manutenção/Valorização cultural das pescarias
artesanais
35. - Outras pruduções científicas oriundas desta tese acerca do CEL em
Portugal:
- Capítulo de livro na Springer;
36. - Outros exemplos de Revistas acadêmicas que vem publicando
progressivamente nesta área de conhecimento pelo mundo:
37. - Planeamento do trabalho de campo
(Conhecimentos Ecológicos Locais/Pesca):
- Coleta de dados: Abril/Junho de 2019 e e
Setembro/Outubro 2020.
- Alvo: Comunidades tradicionais do Rio
Minho
- Compartilhamento dessas informações em
redes sociais;
ETNOBIOLOGIA NO RIO
MINHO
• Projeto
@cooperminho
38. • Foram coletados dados da P. marinus e A. alosa acerca:
- Perfil da pesca artesanal; CEL acerca da taxonomia popular, habitat,
reprodução, migração e deslocamento; dados históricos da pesca.
Objetivos e Metodologia
- Metodologia de baixo custo;
- Ferramentas de etnobiologia;
- Roteiros de entrevista semiestruturados;
- Pescadores selecionados por amostragem aleatória e técnica bola de neve.
• Métodos:
39. - 4 aldeias piscatórias de Portugal (Seixas, Lanhelas, Caminha e Cerveira).
Objetivos e Metodologia
40. Objetivos e Metodologia
- 9 aldeias piscatórias (Caminha, Seixas, Lanhelas, Gondarém, Cerveira,
Campos, S.P da Torre, Valença e Monção).
41. • 40 entrevistas semiestruturadas;
• Amplo CEL dos pescadores sobre a lampreia marinha do Rio Minho:
Principais Resultados
- 3 novos nomes populares;
- Prováveis habitats e profundidades;
- Zonas de últimos avistamentos da lampreia
no Rio Minho;
- Principais aldeias portuguesas onde estes
anádromos desovam;
42. - Principais obstáculos à migração da lampreia:
Barreira físicas e a pesca furtiva.
- Período de migração da lampreia para alimentar e desovar;
Principais Resultados
43. • 50 entrevistas semiestruturadas;
• Amplo CEL dos pescadores sobre o sável do Rio Minho
Principais Resultados
- Tendência de envelhecimento da força de trabalho e deslocamento desse
meio de subsistência para outros setores econômicos;
- Predadores em potencial do sável: Lontra europeia e o Corvo-Marinho.
- Ocorrência de “shifting baselines syndrome” (SBS) entre os pescadores
do rio Minho;
- Pandemia de Covid-19 demonstrou ter impactado os pescadores locais no
rio Minho.
44. • Pescadores locais:
- Apresentam um Conhecimento informal da
zoologia e ecologia da lampreia e do sável, típica
de espécies anádromas;
- CEL constitui-se como um saber obtido o dia-a-
dia do exercício da sua atividade incidente sobre
essa espécie-alvo;
- Apontaram e identificaram diversos fatores
ambientais que condicionam a dinâmica das
espécies no estuário do Rio Minho.
Conclusões
Gerais
45. • Dados colhidos junto das várias comunidades piscatórias do Rio
Minho:
- Podem vir a contribuir para uma gestão participativa mais
sustentável.
• Estes tipos de ações:
- Ajudam ao desenvolvimento de medidas de conservação da pescaria
artesanal das espécies migradoras;
- Contribui na preservação dos valores tradicionais delimitados à região
Norte de Portugal e centrados no Rio Minho.
Conclusões
Gerais
47. • Coleta de dados dos pescadores acerca do berbigão na ria de Aveiro:
Trabalhos em
Andamento
- Abril/Maio de 2021.
- Costa Nova, Murtosa, Torreira e Porto de Aveiro,
- Até o momento: 38 entrevistas semiestruturadas.
48. • Coleta de dados acerca do CEL do berbigão na ria de Aveiro:
Trabalhos em
Andamento
- Parte I. Dados gerais do entrevistado (Variáveis sociodemográficas):
- Parte II. Dados do Conhecimentos locais da coleta do berbigão (Cerastoderma edule)
na Ria de Aveiro.
- Parte III. Dados do Conhecimento ecológico local (CEL) do berbigão (Cerastoderma
edule) na Ria de Aveiro.
- Parte IV. Mudanças ocorridas ao longo do tempo na coleta e CEL acerca da
conservação do berbigão na Ria de Aveiro.
- Parte V. Perceções locais dos pescadores de berbigão na Ria de Aveiro durante o
“Lockdown” total e parcial da pandemia do covid-19 entre 2020-2021.