O documento analisa o filme Germinal e o livro homônimo de Émile Zola, que retratam a dura realidade dos trabalhadores nas minas de carvão na França do século XIX. O filme mostra a exploração da classe operária e a falta de direitos, como salários e condições de trabalho precárias. Eventualmente, os trabalhadores se organizam em greve para lutar por melhores condições, enfrentando a repressão do Estado a serviço dos capitalistas. No fim, a classe operária passa a ter mais consciência política de
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO
LATINO-AMERICANA – UNILA
GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
2016.1
ANÁLISE DAS EXPRESSÕES
DA “QUESTÃO SOCIAL”
GERMINAL/FILME
DISCIPLINA: QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL
DISCENTE: FILIPE NERI
DOCENTE: MIRELLA ROCHA
FOZ DO IGUAÇU, 13 DE MAIO DE 2016.
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Germinal é uma obra cinematográfica datada de 1993 e dirigido por Claude Berri,
baseado no livro de mesmo nome do escritor francês Émile Zola, datado do final do século
XIX. Ambienta-se em três principais minas de carvão – Voreux, Deneullin e Réquillart
localizadas na cidade de Montsou – França e retrata uma época de depressão econômica.
Um filme chocante e ao mesmo tempo emocionante, nos prende do começo ao fim e
nos faz ter uma análise mais profunda da sociedade. Chega a nos provocar sensações físicas
de tanta indignação. O autor e diretor conseguem nos colocar na pele dos personagens. Com
cenas muito fortes, Germinal alude sobre o cotidiano drástico de exploração que os
trabalhadores sofriam e marra-as de uma forma nua e crua. Tem uma família que é central e
que, ao mesmo tempo, representa a composição básica de todas as outras. Pai, mãe e sete
filhos. Alta taxa de natalidade, logo, alto índice de trabalho infantil, insalubre e irregular. Os
operários só tinham direito de comer pão duro e fazer filhos.
As relações de patriarcado e de gênero (machismo visível) também são fortes e
latentes. As mulheres eram responsáveis pela comida, casa, roupas, pedir esmolas etc.
Constata-se ainda os abusos físicos, psicológicos e sexuais atentados contra as mulheres de
Montsou.
Nota-se visivelmente o antagonismo de classe, onde uns dispunham somente de força
de trabalho e outros de instrumentos e técnicas necessárias para potencializar a acumulação
primitiva do capital.
Nas minas, trabalhar para gerar lucros ao capital era mais importante que a segurança
dos trabalhadores. Estes corriam altos riscos com o grisu (espécie de gás, que em contato com
o fogo gera explosão), onde muitas pessoas acabavam morrendo.
A companhia das minas – leia-se burguesia – monopolizava-as e não respeitavam os
direitos dos trabalhadores e não obedecia as demandas da população. A classe burguesa
trabalhava em cima da caridade e repressão para com as famílias trabalhadoras das minas de
Montsou, vigiando e punindo. As famílias trabalhadoras das minas, constantemente passavam
por dificuldades em relação a alimentação, moradia e saúde. As estratégias da classe
capitalista burguesa para controlar a classe operária era fazer doações de carvão, aluguel de
vilas operárias por deis francos e disponibilização de médicos. Isso não supria suas
necessidades, tendo em vista que eram serviços débeis. Não obstante, muitas mães trocavam
suas filhas por pão, café e carne, por exemplo. Pois não tinham sequer direito de comer pão
seco todos os dias. As moradias eram completamente insalubres e não possuíam nem sequer
banheiros.
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Um fato interessante é que, em séculos de explorações feitas por um projeto de
extrativismo, os trabalhadores jamais tiveram conhecimento de quem são os donos do grande
capital. Estes estavam preocupados apenas em sua forma de acumulação primitiva, com a
política e com a economia.
O exército industrial de reserva era gritante. Quando um trabalhador morria, existia
uma enorme população sobrante pronta para substitui-lo, algum comum naquele contexto de
minas de carvão.
Muitos trabalhadores contraíram doenças e sofreram até o fim da vida com isso. As
companhias pagavam valores ínfimos aos idosos que estavam nesse tipo de trabalho desde sua
infância. O filme retrata um idoso que trabalhou por cinquenta anos, desde seus oito anos de
idade, e que tinha extrato de carvão dentro do organismo, ficando impossibilitado de exercer
suas atividades no interior das minas. Senhor “Boa Morte”.
O trabalho era completamente morbífico. Os trabalhadores eram obrigados a
permanecer diariamente em péssimas condições de sobrevivência. Passando cotidianamente
por calor, fome, cede e falta de ar. Muitos passavam mal, pois tinham que trabalhar debaixo
da terra, soterrados e espremidos.
O salário era pago de acordo com a quantidade de vargonetas (espécie de carro que
andava sob trilhos) que eram preenchidas. Esta era medida por centímetros. Cada centímetro
contava. Recebiam trinta centímetros por dia de trabalho.
Era comum acontecer pequenos e grandes desabamentos no interior das minas, por
isso existiam muitas escoras de madeiras. Cabiam aos trabalhadores fazer as escoras para
garantir minimamente sua segurança. No entanto, como ganhavam por cada vargoneta cheia,
não tinham tempo de parar a produção de minério de carvão para arrumar as escoras.
Aconteciam acidentes frequentemente e os trabalhadores acabavam por serem culpabilizados
e punidos com severas multas. Até o momento só existia classe em si.
Como estratégia para redução de salário e maior acúmulo de mais-valia, os capitalistas
começaram a descontar centímetros sobre as vargonetas mal escoradas e adotaram novas
tarifas de pagamento. Essa constrição foi o estopim.
Os trabalhadores logo começaram a revoltar-se contra o modo de produção vigente e
começaram a delinear estratégias coletivas, incentivadas por um operário recém-chegado.
Solicitando aumento de cinco centímetros por vargonetas, melhores condições de trabalho e o
não desconto sobre as escoras. No entanto, a burguesia continuava em inércia diante das
reivindicações trabalhistas e não os reconheciam enquanto sujeitos envolvidos em um
contexto sociopolítico. O que era referendado através das damas de caridade.
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Quando tentavam entrar amigavelmente em acordo com os diretores das minas,
recebiam como resposta que os capitalistas eram vítimas e estavam sofrendo as consequências
do processo de modernização para fase industrial, logo, uma greve era um desastre para todos.
Alguns trabalhadores eram favoráveis em entrar em acordo com os diretores e lutar
por melhorias na condição de vida e trabalho, outros, mais radicais, eram a favor de acabar
com tudo e tentar começar do zero. Deixando bem claro o posicionamento marxista e
anarquista por parte do proletariado e suas perspectivas distintas de lutas.
Cansados da situação de pauperização massiva, degradação – física, moral e social – e
a falta de esperança e, como não houve acordo, a vanguarda trabalhadora viu-se obrigada a
entrar em estado de greve. Entra em cena a classe para si, pois a massa toma consciência de
classe frente ao capital, reconhecem-se enquanto atores/sujeitos políticos e não aceitam as
calamidades da crise impostas pelo capital burguês. Os interesses individuais passam agora a
ser coletivizados.
Criam uma caixa de garantia/fundo de reserva para garantir minimamente a
sobrevivência dos grevistas. Dizem que é necessário criar uma sessão da Associação
Internacional dos trabalhadores na cidade de Montsou. Pois “o trabalhador sozinho não é
ninguém, mas unido representa uma grande força” e pela primeira vez os trabalhadores vão se
unir para lutar de igual para igual com os patrões.
Os trabalhadores da primeira mina fazem greve por um mês e, após assembleia,
decidem partir para as outras minas e conscientizar os demais trabalhadores a respeito da
importância da greve. Ao chegaram nas minas, os grevistas destroem os equipamentos e
impedem que os outros entrem nas minas para trabalhar. “É injusto ser egoísta enquanto os
companheiros morrem de fome”.
Enquanto o recrudescimento do pauperismo assolava a classe trabalhadora, ficando
cada vez mais miserável, a classe capitalista comia brioches e ostentavam com banquetes.
Uma das cenas mais emocionantes é quando a classe trabalhadora marcha cantando e
ao aproximarem-se da cidade, a burguesia se esconde dentro de suas casas.
Passam-se dois meses de greve e as expressões da “questão social” aumentam junto
com o recrudescimento do pauperismo. Crianças adoecem e morrem constantemente. As
companhias passam a contratar trabalhadores belgas.
Durante os confrontos, o Estado opressor, grande aliado da burguesia capitalista, mata
homens, mulheres, crianças e idosos. Reprime o movimento grevista causando verdadeiras
atrocidades na cidade e com as famílias, visando debilitar o movimento político dos operários.
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O capitalismo é cíclico, aos poucos os trabalhadores são obrigados a voltar as minas.
Mulheres e crianças principalmente. Fica a lição que nada será o mesmo, nada será como
antes A classe proletária engendrou-se de consciência política e, acima de tudo, de classe para
si. Onde houver a diferença entre pobreza extrema X capital, haverá luta de classes, pois essas
derrotas “constituíram o material histórico a partir do qual, prática e politicamente, o
proletariado começa a constituir a sua identidade como protagonista histórico-social
consciente” (NETTO, 2011, p. 55).
No decorrer do filme constatamos o exórdio da organização política da classe operária
durante o século XIX e uma manifestação fervorosa em defesa do proletariado, mostrando
concepções de luta presentes nas cenas e nas falas dos personagens de Germinal.
Quando existe uma consciência de classe, não apenas posição, o sujeito, que agora é
político, passa a agir de forma organizada nos diversos contextos socioeconômicos e culturais,
criando estratégias de sobrevivência, luta, consciência e revolução. Sendo assim protagonistas
de sua própria história no enfrentamento e reivindicações das expressões da “Questão Social”,
sendo esta considerada como “as expressões do processo de formação e desenvolvimento da
classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu
reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado” (IAMAMOTO, 2015, p.
83-84).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ZOLA, Émile. Germinal. Disponível em: <http://ciml.250x.com >. Acesso em 13 de maio de
2016.
GERMINAL. Direção e Produção de Claude Berri. França: AMLF, 1993. Disponível em:
<http://filmesonline10.evid.mobi/drama/germinal-legendado-a-l/>. Acesso em 13 de maio de
2016.
NETTO, J.P. Capitalismo monopolista e serviço social / José Paulo Netto – 8. Ed. – São Paulo:
Cortez, 2011.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil. S. Paulo:
Cortez/Celats, 1983.