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O FRADE
    O Frade apresenta-se em cena como «cortesão», o que nos revela imediatamente tratar-se
de um frade mundano, frequentador da corte e dos prazeres.

      Esta personagem traz consigo como símbolos cénicos o seu próprio hábito de frade, o
equipamento de esgrima (capacete, escudo e espada) e uma rapariga. O equipamento de
esgrima representa o lado mundano do Frade, que se dedicou, em vida, a atividades muito
pouco próprias da sua condição. A rapariga representa a quebra dos votos de castidade a que
os membros do clero eram obrigados.

    Estes símbolos cénicos estão diretamente relacionados com a intenção crítica subjacente à
construção da personagem, já que se pretende criticar, no Frade, precisamente o desajuste
que existe entre a sua condição eclesiástica e a vida que leva. Por isso, os símbolos que traz e
que representam os aspetos em que essa vida mais se afasta do dever estão diretamente
relacionados com a intenção crítica subjacente à sua construção como personagem.

        O Frade é caracterizado pelo Diabo de forma direta e ironicamente: «Gentil padre
mundanal!»; «Um padre tão namorado», «Devoto padre marido», «padre Frei Capacete». Em
todas estas expressões existe uma contradição fundamental: o Frade deveria ser, por
definição, uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, acima das coisas do mundo, mas este é
«mundanal», desobedece aos votos de castidade, prefere esgrimir a orar.

     A crítica feita ao Frade alarga-se no momento em que o Diabo pergunta:
    «Diabo – E não vos punham lá grosa / no vosso convento santo?»
     E o Frade responde:
    «Frade – E eles fazem outro tanto!»
     Esta afirmação do Frade alarga a crítica a todos os outros frades, mostrando que a quebra
dos votos de castidade do Frade, longe de ser uma exceção, era um hábito generalizado. É esta
a intenção do dramaturgo: criticar, através desta personagem, toda uma classe social – o clero
-, acusando os seus membros de viverem em desconformidade com as suas obrigações. Desta
forma, o Frade é uma personagem tipo.
      Esta personagem não nega nenhuma das acusações que lhe são feitas e, pelo contrário,
assume até com orgulho o seu passado,: «Deo gratias!Som cortesão!», «Por minha la tenho
eu, / e sempre la tive de meu», «Eu hei de ser condenado? / Um padre tão namorado / e tanto
dado à virtude?», «Por ser namorado, / e folgar com ua mulher/ se há um frade de perder»,
«Sabê que fui da pessoa».

   Na verdade, o Frade estava plenemente convencido de que, por ser frade, podia fazer tudo
o que quisesse e que não seria condenado: «E este hábito nom me val?», «se há um frade de
perder / com tanto salmo rezado?».

     A utilização da sua condição de Frade para obter a salvação vai plenamente ao encontro da
mentalidade vigente no século XVI. Pretende-se mostrar que os elementos do clero se
consideravam muito importantes e com direito a fazerem tudo o que lhes apetecesse. Tal
crítica revela um certo mal-estar entre a sociedade pelo facto de os padres e frades serem
cada vez em maior número e mais ricos e poderosos.
Também nesta cena, como nas anteriores, o cómico está fortemente presente. Podemos
detetar sobretudo cómico de situação, quando o Frade entra em cena a dançar e com a moça
pela mão ou quando dá uma lição de esgrima, mas também ao nível do vestuário, na
combinação que o Frade exibe de hábitos de frade e adereços de esgrima.

   Nesta cena, o Anjo não intervém: é o Parvo quem se dirige ao Frade quando este pretende
entrar na Barca da Glória. A recusa do Anjo em falar com o Frade mostra a gravidade dos seus
atos, como se assim considerasse ser mais grave e repugnante o Frade pecar do que qualquer
outra pessoa, uma vez que , como elemento da Igreja, teria mais obrigação e deveria dar o
exemplo.

     Ao ver que nem sequer era recebido pelo Anjo, o Frade percebe que não tem qualquer
hipótese. Afinal ele, como membro do Clero, conhecia as regras como ninguém, só que se
tinha habituado, em vida, a não as cumprir. Deste modo, resta-lhe aceitar a sua sentença – a
condenação.

 Apesar de ser uma das personagens mais duramente criticadas, o Frade é uma das mais
divertidas figuras do Auto da Barca do Inferno.
 Desde a sua chegada ao cais, a cantar e a dançar, até quase ao fim da cena, mostra-se alegre e
amigo de se divertir. Começa por se assumir como «cortesão», frequentador da corte, o que
revela imediatamente o seu lado mundano e pouco dado às clausuras próprias da sua
condição de frade. Aliás, essa sua característica é vastamente confirmada quando afirma saber
dançar o tordião e esgrimir, atributos dos jovens e galantes nobres. Não é, pois, um frade que
tivesse cumprido qualquer voto de pobreza, como não cumpriu também o seu voto de
castidade, como se comprova pela moça que traz consigo e pelas suas próprias palavras. De
resto, parece ter-se limitado a fazer o que os outros frades faziam, com a arrogância de quem
pensava que tudo lhe era permitido só por ser um membro da Igreja. É, verdadeiramente, uma
personagem tipo, através da qual se critica a forma como o clero dava razão ao velho ditado
“Como Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.”

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O frade convertido

  • 1. O FRADE O Frade apresenta-se em cena como «cortesão», o que nos revela imediatamente tratar-se de um frade mundano, frequentador da corte e dos prazeres. Esta personagem traz consigo como símbolos cénicos o seu próprio hábito de frade, o equipamento de esgrima (capacete, escudo e espada) e uma rapariga. O equipamento de esgrima representa o lado mundano do Frade, que se dedicou, em vida, a atividades muito pouco próprias da sua condição. A rapariga representa a quebra dos votos de castidade a que os membros do clero eram obrigados. Estes símbolos cénicos estão diretamente relacionados com a intenção crítica subjacente à construção da personagem, já que se pretende criticar, no Frade, precisamente o desajuste que existe entre a sua condição eclesiástica e a vida que leva. Por isso, os símbolos que traz e que representam os aspetos em que essa vida mais se afasta do dever estão diretamente relacionados com a intenção crítica subjacente à sua construção como personagem. O Frade é caracterizado pelo Diabo de forma direta e ironicamente: «Gentil padre mundanal!»; «Um padre tão namorado», «Devoto padre marido», «padre Frei Capacete». Em todas estas expressões existe uma contradição fundamental: o Frade deveria ser, por definição, uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, acima das coisas do mundo, mas este é «mundanal», desobedece aos votos de castidade, prefere esgrimir a orar. A crítica feita ao Frade alarga-se no momento em que o Diabo pergunta: «Diabo – E não vos punham lá grosa / no vosso convento santo?» E o Frade responde: «Frade – E eles fazem outro tanto!» Esta afirmação do Frade alarga a crítica a todos os outros frades, mostrando que a quebra dos votos de castidade do Frade, longe de ser uma exceção, era um hábito generalizado. É esta a intenção do dramaturgo: criticar, através desta personagem, toda uma classe social – o clero -, acusando os seus membros de viverem em desconformidade com as suas obrigações. Desta forma, o Frade é uma personagem tipo. Esta personagem não nega nenhuma das acusações que lhe são feitas e, pelo contrário, assume até com orgulho o seu passado,: «Deo gratias!Som cortesão!», «Por minha la tenho eu, / e sempre la tive de meu», «Eu hei de ser condenado? / Um padre tão namorado / e tanto dado à virtude?», «Por ser namorado, / e folgar com ua mulher/ se há um frade de perder», «Sabê que fui da pessoa». Na verdade, o Frade estava plenemente convencido de que, por ser frade, podia fazer tudo o que quisesse e que não seria condenado: «E este hábito nom me val?», «se há um frade de perder / com tanto salmo rezado?». A utilização da sua condição de Frade para obter a salvação vai plenamente ao encontro da mentalidade vigente no século XVI. Pretende-se mostrar que os elementos do clero se consideravam muito importantes e com direito a fazerem tudo o que lhes apetecesse. Tal crítica revela um certo mal-estar entre a sociedade pelo facto de os padres e frades serem cada vez em maior número e mais ricos e poderosos.
  • 2. Também nesta cena, como nas anteriores, o cómico está fortemente presente. Podemos detetar sobretudo cómico de situação, quando o Frade entra em cena a dançar e com a moça pela mão ou quando dá uma lição de esgrima, mas também ao nível do vestuário, na combinação que o Frade exibe de hábitos de frade e adereços de esgrima. Nesta cena, o Anjo não intervém: é o Parvo quem se dirige ao Frade quando este pretende entrar na Barca da Glória. A recusa do Anjo em falar com o Frade mostra a gravidade dos seus atos, como se assim considerasse ser mais grave e repugnante o Frade pecar do que qualquer outra pessoa, uma vez que , como elemento da Igreja, teria mais obrigação e deveria dar o exemplo. Ao ver que nem sequer era recebido pelo Anjo, o Frade percebe que não tem qualquer hipótese. Afinal ele, como membro do Clero, conhecia as regras como ninguém, só que se tinha habituado, em vida, a não as cumprir. Deste modo, resta-lhe aceitar a sua sentença – a condenação. Apesar de ser uma das personagens mais duramente criticadas, o Frade é uma das mais divertidas figuras do Auto da Barca do Inferno. Desde a sua chegada ao cais, a cantar e a dançar, até quase ao fim da cena, mostra-se alegre e amigo de se divertir. Começa por se assumir como «cortesão», frequentador da corte, o que revela imediatamente o seu lado mundano e pouco dado às clausuras próprias da sua condição de frade. Aliás, essa sua característica é vastamente confirmada quando afirma saber dançar o tordião e esgrimir, atributos dos jovens e galantes nobres. Não é, pois, um frade que tivesse cumprido qualquer voto de pobreza, como não cumpriu também o seu voto de castidade, como se comprova pela moça que traz consigo e pelas suas próprias palavras. De resto, parece ter-se limitado a fazer o que os outros frades faziam, com a arrogância de quem pensava que tudo lhe era permitido só por ser um membro da Igreja. É, verdadeiramente, uma personagem tipo, através da qual se critica a forma como o clero dava razão ao velho ditado “Como Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.”