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O que vos nunca cuidei a dizer
Dom Dinis
O que vosnunca cuidei adizer
com gram coita,senhor,vo-lodirei,
porque me vejojápor vós morrer,
ca sabedesque nuncavosfalei
de como me matava voss'amor;
ca sabedesbemque d'outrasenhor
que eunom haviapavornem hei.
E tod'aquestomi fezfazer
o mui gram medoque eude vóshei,
e desi porvosdar a entender
que por outra morriade que hei,
bemsabedes,mui pequenopavor;
e desoimais,fremosamiasenhor,
se me matardes,bemvo-lobusquei.
E creede que haverei prazer
de me matardes,poiseucertosei
que essopoucoque hei-de viver,
que nenhumprazernuncaveerei;
e porque sõodestosabedor,
se mi quiserdesdarmorte,senhor,
por gram mercee vo-loterrei.
Apaixonado
Luan Santana
Moreninha linda
Se tu soubesses
O quanto padece
Quem tem amor
Talvez não faria
O que faz agora
Quem te adora
Não tem valor
Não vivo sem ti
Sem ti não sei viver
Se eu perder seus beijos
Juro, querida, que vou morrer
Vou sofrer por ti
Por ti vou sofrer
Se for meu destino
Apaixonado quero morrer.
Viajando solitário mergulhado na tristeza
Numa curva da estrada eu tive uma
surpresa
Uma loiraencantadorabonitapor natureza
Me pediu uma carona eu atendi com
destreza
Sentou bem pertinho de mim com muita
delicadeza
O meu carro foi o trono, eu passei a ser o
dono da rainha da beleza
Foi odiamaisfelizqueomeucoraçãosentiu
Mas meu mundo encantado de repente
destruiu
Ao ver a loura tremendo, gemendo e
suando frio
Parei o carro depressa na travessia de um
rio
Enquanto eu fui buscar a água, que tão
triste ela pediu
Ouvi cantar os pneus e me dizendo adeus
com meu carro ela sumiu
Somente um bilhetinho na estrada eu
encontrei
E quando acabei de ler emocionado eu
fiquei
No bilhete eladizia por você me apaixonei
Só peçoque me perdoe,ogolpe que eu lhe
dei
Para alimentar a esperança o seu carro eu
levarei
Me perdoe por favor, quando me der seu
amor o carro eu entregarei
Quem estiver me ouvindo preste muita
atenção
O meu carro não tem placa mas vou dar a
descrição
É branco e tem uma loura charmosa na
direção
Dou o carro de presente a quem fizer a
prisão
Por ela ter roubado o carro já tem
absolvição
Mas voulhe dar umcastigovai terque viver
comigo,
Por roubar meu coração.
As letras apresentam canções nas quais se evidencia o sofrimento
amoroso, característica da poesia lírica trovadoresca. Assim, apesar da
diferença de tempo e espaço de produção, percebemos semelhanças no tema
do amor sofredor.
As cantigas de amor trovadorescas caracterizam-se pela vassalagem do
homem à mulher amada, que era geralmente casada, tornando-se proibido o
amor entre os dois. Também há traços religiosos na poesia produzida nesse
tempo, uma vez que o pensamento do homem medieval era intensamente
influenciado pela Igreja. Nota-se ainda que o trovador busca na morte a ideia de
solução para o sofrimento amoroso.
A cantiga de amor galego-portuguesa é geralmente mais monótona que
o seu modelo provençal e, em geral, apresenta características como o amor
cortês e a lamentação da coita1.
Algumas das músicas preferidas pelos jovens dos dias de hoje, ainda
que possuam uma linguagem mais coloquial, trazem em seu discurso amoroso
a mesma submissão e coita do trovador português.
1 Coita: Desgraça

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Comparação cantigas trovadorescas e musicas atuais

  • 1. O que vos nunca cuidei a dizer Dom Dinis O que vosnunca cuidei adizer com gram coita,senhor,vo-lodirei, porque me vejojápor vós morrer, ca sabedesque nuncavosfalei de como me matava voss'amor; ca sabedesbemque d'outrasenhor que eunom haviapavornem hei. E tod'aquestomi fezfazer o mui gram medoque eude vóshei, e desi porvosdar a entender que por outra morriade que hei, bemsabedes,mui pequenopavor; e desoimais,fremosamiasenhor, se me matardes,bemvo-lobusquei. E creede que haverei prazer de me matardes,poiseucertosei que essopoucoque hei-de viver, que nenhumprazernuncaveerei; e porque sõodestosabedor, se mi quiserdesdarmorte,senhor, por gram mercee vo-loterrei.
  • 2. Apaixonado Luan Santana Moreninha linda Se tu soubesses O quanto padece Quem tem amor Talvez não faria O que faz agora Quem te adora Não tem valor Não vivo sem ti Sem ti não sei viver Se eu perder seus beijos Juro, querida, que vou morrer Vou sofrer por ti Por ti vou sofrer Se for meu destino Apaixonado quero morrer. Viajando solitário mergulhado na tristeza Numa curva da estrada eu tive uma surpresa Uma loiraencantadorabonitapor natureza Me pediu uma carona eu atendi com destreza Sentou bem pertinho de mim com muita delicadeza O meu carro foi o trono, eu passei a ser o dono da rainha da beleza Foi odiamaisfelizqueomeucoraçãosentiu Mas meu mundo encantado de repente destruiu Ao ver a loura tremendo, gemendo e suando frio Parei o carro depressa na travessia de um rio Enquanto eu fui buscar a água, que tão triste ela pediu Ouvi cantar os pneus e me dizendo adeus com meu carro ela sumiu Somente um bilhetinho na estrada eu encontrei E quando acabei de ler emocionado eu fiquei No bilhete eladizia por você me apaixonei Só peçoque me perdoe,ogolpe que eu lhe dei Para alimentar a esperança o seu carro eu levarei Me perdoe por favor, quando me der seu amor o carro eu entregarei Quem estiver me ouvindo preste muita atenção O meu carro não tem placa mas vou dar a descrição É branco e tem uma loura charmosa na direção Dou o carro de presente a quem fizer a prisão Por ela ter roubado o carro já tem absolvição Mas voulhe dar umcastigovai terque viver comigo, Por roubar meu coração.
  • 3. As letras apresentam canções nas quais se evidencia o sofrimento amoroso, característica da poesia lírica trovadoresca. Assim, apesar da diferença de tempo e espaço de produção, percebemos semelhanças no tema do amor sofredor. As cantigas de amor trovadorescas caracterizam-se pela vassalagem do homem à mulher amada, que era geralmente casada, tornando-se proibido o amor entre os dois. Também há traços religiosos na poesia produzida nesse tempo, uma vez que o pensamento do homem medieval era intensamente influenciado pela Igreja. Nota-se ainda que o trovador busca na morte a ideia de solução para o sofrimento amoroso. A cantiga de amor galego-portuguesa é geralmente mais monótona que o seu modelo provençal e, em geral, apresenta características como o amor cortês e a lamentação da coita1. Algumas das músicas preferidas pelos jovens dos dias de hoje, ainda que possuam uma linguagem mais coloquial, trazem em seu discurso amoroso a mesma submissão e coita do trovador português. 1 Coita: Desgraça