1) O documento descreve a evolução da ciência desde a Antiguidade até a era moderna, destacando as contribuições pré-científicas de civilizações como a indiana, árabe e chinesa para o desenvolvimento da matemática e outras áreas.
2) Grandes avanços foram feitos na matemática, astronomia, medicina e outras áreas pelo Egito Antigo, Índia, Grécia e civilizações árabes, embora sem o uso do método científico moderno.
3) A ciência moderna
A GÊNESE DA CIÊNCIA E SUA EVOLUÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA
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A GÊNESE DA CIÊNCIA E SUA EVOLUÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA
Fernando Alcoforado*
Este artigo visa apresentar a gênese da ciência e sua evolução desde a Antiguidade até a
era contemporânea. Os filósofos da ciência e cientistas consideram as investigações
antigas da natureza como sendo pré-científicas. Mesmo sem o uso do método científico
inaugurado por Galileu Galilei na Idade Média, as investigações da natureza anteriores a
este período, consideradas pré-científicas, contribuíram enormemente para o avanço da
ciência. Desde o seu início na Suméria (no atual Iraque) por volta de 3599 a.C. as pessoas
da Mesopotâmia começaram a tentar registrar algumas observações do mundo usando
dados numéricos. Mas suas observações e medições não eram feitas com base nas leis da
ciência.
Houve grande contribuição considerada pré-científica dos árabes, hindus e gregos no
desenvolvimento da Matemática que é um alicerce fundamental da ciência moderna. Por
volta dos séculos IX e VIII a.C, a Matemática era pouco desenvolvida na Babilônia. Os
babilônios e os egípcios já tinham uma álgebra e uma geometria, mas somente o que
bastasse para as suas necessidades práticas, e não uma ciência organizada. Avanços
significativos do Egito Antigo incluem astronomia, matemática e medicina. Os habitantes
da civilização hindu também tentaram padronizar a medição do comprimento com alta
precisão. Eles criaram uma régua - régua Moenjodaro - cujas unidades de medida (3,4
centímetros) eram divididas em dez partes iguais. A Matemática só passou a ser
considerada como ciência, no sentido moderno da palavra, a partir dos séculos VI e V
a.C. na Grécia.
Na Índia, foi desenvolvido outro tipo de cultura matemática: a Álgebra e a Aritmética. Os
hindus, com Brahmagupta, introduziram um símbolo completamente novo no sistema de
numeração até então conhecido: o zero. Isto causou uma verdadeira revolução na "arte de
calcular". A cultura dos hindus foi propagada pelos árabes. Estes levaram à Europa os
denominados "algarismos arábicos" inventados pelos hindus quando ocuparam a
península ibérica de 711 a 1492. O astrônomo e matemático indiano Aryabhata introduziu
na Matemática várias funções trigonométricas como seno e cosseno e algoritmos de
álgebra.
Como investigação considerada de natureza pré-científica, Brahmagupta trabalhou em
um preciso modelo heliocêntrido da gravitação, incluindo órbitas elípticas, considerando
a circunferência da Terra e a distância dos planetas em relação ao Sol. No século
VII, Brahmagupta reconheceu a existência da força de gravidade como uma força de
atração. Traduções árabes dos textos astronômicos estiveram logo disponíveis para o
mundo islâmico ao introduzir o que se tornaria os algarismos arábicos, sistema numérico
hindu erroneamente denominado arábico para o mundo islâmico do século IX e que
atualmente é largamente usado no mundo.
Os historiadores ocidentais da ciência geralmente sustentam que os fundamentos da
trigonometria como uma ciência independente foram estabelecidas pelo matemático e
astrônomo alemão Regiomontanus. No entanto, o real crédito pela fundação da
trigonometria pertence ao matemático árabe Nasir al-Din al-Tusi. Os cientistas árabes
muçulmanos contribuíram para o desenvolvimento de vários ramos da ciência e
tecnologia através de vários trabalhos em matemática, botânica, química, medicina e
cirurgia, ótica, anatomia, astronomia, instrumentos e dispositivos astronômicos e
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geografia. Um tratado sobre matemática foi escrito por Al-Khwarizmi e matemáticos
muçulmanos inventaram o símbolo x (que significa no árabe shay = coisa / algo
indefinido), para expressar uma quantidade desconhecida. Este símbolo chegou à Europa
via Espanha islâmica.
Os matemáticos mulçumanos Ibn al-Haytham, Al-Tusi e Albiruni fizeram contribuições
altamente originais para a geometria e trigonometria, que superaram as teorias e métodos
do matemático grego Euclides. O crédito pela fundação da trigonometria pertence a Al-
Tusi. Os físicos muçulmanos colocaram muita ênfase em experimentos na busca da
verdade científica. Isso levou ao desenvolvimento de um método científico inicial no
mundo muçulmano começando com os experimentos de Ibn al-Haytham na ótica nos anos
1000, em seu Book of Optics. Ibn al-Haytham é também considerado como o pai da ótica.
O desenvolvimento mais importante do método científico foi no uso de experimentos para
distinguir entre um conjunto de teorias científicas concorrentes geralmente com uma
orientação empírica.
Roger Bacon é considerado o fundador do método experimental em ciência sendo
grandemente influenciado pelas opiniões de cientistas muçulmanos, matemáticos e
físicos, incluindo Ibn al-Haytham, Al-Razi, Ibn Zuhr e Al-Zahrawi, que séculos antes de
Bacon, enfatizaram que o método experimental estava no coração da pesquisa científica.
Os cientistas muçulmanos deram grande ênfase à observação cuidadosa do fenômeno
natural, à uma avaliação objetiva e imparcial de todo conhecimento científico e, acima de
tudo, na confirmação de conclusões através do método científico. O crédito pela invenção
do método experimental na ciência deveria ser atribuída a cientistas muçulmanos, como
Ibn al-Haytham, Al-Razi, Ibn Zuhr e Albiruni. Foi Ibn al-Haytham quem apresentou pela
primeira vez um novo caráter metódico nas ciências naturais, uma metodologia que
claramente distingue-o da abordagem grega e da época de Galileu, ligada à modernidade.
A Matemática grega se distingue da babilônica e egípcia porque os gregos fizeram-na
uma ciência sem a preocupação com suas aplicações práticas. Do ponto de vista de
estrutura, a Matemática grega se distingue da anterior, por ter levado em conta problemas
relacionados com processos infinitos, movimento e continuidade. As diversas tentativas
dos gregos de resolverem tais problemas fizeram com que surgisse o método axiomático-
dedutivo. Este método consiste em admitir como verdadeiras certas proposições (mais ou
menos evidentes) e a partir delas, por meio de um encadeamento lógico, chegar a
proposições mais gerais. As dificuldades com que os gregos se depararam ao estudar os
problemas relativos a processos infinitos (sobretudo problemas sobre números
irracionais) talvez sejam as causas que os desviaram da Álgebra, encaminhando-os em
direção à Geometria. Realmente, é na Geometria que os gregos se destacam, culminando
com a Geometria do grande matemático Euclides.
Na Grécia, Arquimedes, que ficou muito famoso por causa de suas revolucionárias
invenções como o denominado Parafuso de Arquimedes utilizado para elevar água,
as catapultas usadas como armas de guerra e o uso das alavancas para mover cargas
pesadas, desenvolve, também, a Geometria introduzindo um novo método que seria um
verdadeiro germe do qual mais tarde iria brotar um importante ramo de Matemática
(teoria dos limites). Apolônio de Perga, contemporâneo de Arquimedes, dá início aos
estudos das denominadas curvas cônicas: a elipse, a parábola, e a hipérbole, que
desempenham, na matemática atual, papel muito importante. Depois de Apolônio e
Arquimedes, a Matemática grega entra no seu ocaso.
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Ainda como investigação considerada de natureza pré-científica, pode-se citar a
experiência da China que possui uma longa e rica história de contribuição científica e
tecnológica. As 4 grandes invenções da China são a bússola, pólvora, produção de papel
e impressão. Essas quatro descobertas tiveram um enorme impacto no desenvolvimento
da civilização da China e um impacto global com um alcance ainda maior. Francis Bacon
identificou o papel, bússola magnética, pólvora e impressão como as principais invenções
que separavam o mundo moderno do mundo tradicional. Ele não sabia que cada uma
dessas invenções teve origem na China. Há muitos contribuintes notáveis no campo da
ciência chinesa. Um dos melhores exemplos seria Shen Kuo (1031–1095), um cientista e
homem de estado polímata que foi o primeiro a descrever a bússola de agulha
magnetizada usada para a navegação, descobriu o conceito de norte verdadeiro e projetou
o uso de diques secos para consertar os barcos.
O Renascimento marcou um período único e inigualável na história da ciência porque é
considerado como um momento crítico ou ponto de virada na história europeia com o
nascimento da ciência moderna, o advento da modernidade, o florescimento da arte e da
arquitetura moderna e o início do capitalismo. É importante observar que o Renascimento
ocorrido na Europa contou com o intercâmbio cultural, transferência de conhecimento,
confluência de ideias, ciência e tecnologia que reconectou a Europa ao Oriente através da
Andaluzia, Sicília, Veneza, Gênova e o comércio com o Levante. Os fatos que relatamos
sobre a contribuição dos hindus, árabes e chineses aos avanços científicos demonstram
que houve na Europa a apropriação desses conhecimentos e o não reconhecimento de seus
verdadeiros autores.
Em seu livro The Theft of History, Jack Goody usa uma metáfora evocativa – o “roubo
da história” – para descrever um aspecto particularmente iníquo do Eurocentrismo de se
apropriar dos avanços científicos do Oriente. O roubo da história, segundo Goody, refere-
se à aquisição ou expropriação da história pelo Ocidente, especialmente pela Europa
Ocidental e imposta ao resto do mundo. O roubo da história ou o "roubo" pelo Ocidente
das conquistas de outras culturas, segundo Goody, é refletido na visão amplamente
difundida entre intelectuais e historiadores ocidentais de que uma das instituições-chave
dos tempos modernos, como a ciência, foi inventadas na Europa. Goody argumenta que
a Europa negligenciou ou deliberadamente subestimou a história do resto do mundo.
Percebe-se, pelo exposto, que as investigações consideradas de natureza pré-científicas
contribuíram enormemente para o avanço da ciência não devendo ser consideradas
pejorativamente como pré-científicas e sim como científicas porque os hindus, árabes,
chineses e gregos construíram os alicerces do grande edifício da ciência moderna.
Oficialmente a ciência moderna tal qual a conhecemos começa com Galileu Galilei com
o seu método de matematizar a natureza. Ciência não é apenas técnica, não é
apenas experiência, mas, segundo o método de Galileu, visa traduzir a experiência
matematicamente. Galileu considerou que os fenômenos da natureza devem ser
traduzidos quantitativamente, devem ser mensuráveis e baseados em leis matemáticas.
A Matemática é a ciência do raciocínio lógico que tem seu desenvolvimento ligado à
pesquisa, ao interesse por descobrir o novo e investigar situações de alta complexidade.
Atualmente, a Matemática é a ciência mais importante do mundo moderno porque ela
está presente em todas as áreas científicas. A Revolução Científica, que começou no
século XV, tornou o conhecimento mais estruturado e mais prático, absorvendo o
empirismo como mecanismo para consolidar as constatações. Em meio a toda a
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efervescência favorável à Revolução Científica, a Matemática ganhou espaço e se
desenvolveu com grande relevância para o desenvolvimento de um método científico
mais rigoroso e crítico. A Matemática passou a descrever verdades científicas.
As grandes revoluções científicas na história da humanidade contemplam os avanços
ocorridos no campo da metodologia científica como a quebra do paradigma aristotélico e
sua substituição pelo método científico, na evolução da Matemática da Antiguidade à era
contemporânea, com a evolução da teoria Geocêntrica para a Heliocêntrica, no
desenvolvimento da Mecânica Clássica, com a evolução da Alquimia à Química
Moderna, dos paradigmas estabelecidos na Mecânica Clássica aos novos paradígmas
resultantes da Teoria da Relatividade, dos paradígmas deterministicos da Mecânica
Clássica aos novos paradígmas probabilísticos resultantes da Mecânica Quântica, do
determinismo científico criado pelas Ciências Clássicas à Teoria do Caos e do
conhecimento parcial sobre o Universo até a descoberta recente da existência da matéria
e da energia escura.
Ainda com relação às grandes revoluções científicas na história da humanidade houve
mudanças na concepção do mundo com os avanços nas ciências da saúde que evoluiu dos
parcos conhecimentos sobre a saúde humana à Medicina Moderna, da crença religiosa na
criação divina à teoria da evolução das espécies de Charles Darwin e do desconhecimento
sobre o corpo humano (DNA) ao mapeamento de todos os genes através do Projeto
Genoma Humano. Houve, também, mudanças na concepção do mundo com os avanços
nas ciências sociais quando se evoluiu da tradição da Psicologia como ciência da
consciência estudada exclusivamente por filósofos ao status de ciência, dos parcos
conhecimentos em Economia até a descoberta das leis que governam os sistemas
econômicos e dos parcos conhecimentos sobre a realidade social à transformação da
Sociologia em ciência.
Finalmente, na parte relativa às grandes revoluções científicas, estão contempladas as
mudanças na concepção do mundo com os avanços nas ciências da sustentabilidade
ambiental com o conhecimento aprofundado das forças da natureza e de seu impacto e da
sociedade humana sobre o clima no planeta que possibilitou a formulação do modelo de
desenvolvimento sustentável e o avanço do conhecimento sobre a transformação e
utilização das várias formas de energia, sobretudo as fontes renováveis de energia, os
avanços na ciência da educação quando se evoluiu da educação tradicional baseada na
fragmentação do ensino à proposta de sua substituição pelo ensino transdisciplinar e
integral e os avanços na ciência da informação com a evolução dos sistemas de
informação desde a invenção da imprensa com Gutenberg até o surgimento dos
computadores e da Internet no século XX e o desenvolvimento da inteligência artificial
no século XXI.
Modernamente, a ciência e a tecnologia são desenvolvidas nas universidades e nas
empresas. Hoje, qualquer pesquisa inclusive aquela desenvolvida fora das consagradas
intituições de P&D precisa ser validada pela comunidade científica. Esta tem sido a
prática em todos os campos da ciência desde Galileu na Idade Média. A regra adotada
pela ciência moderna desde Galileu é a de que toda tese científica tem que ser comprovada
experimentalmente e acatada pela comunidade científica para ter validade. Hoje, a
Ciência é um conjunto de conhecimentos empíricos e teóricos sobre a natureza produzido
por uma comunidade mundial de pesquisadores fazendo uso de métodos sistematizados e
validados dentro dessa comunidade, que dá ênfase à observação, explicação e predição
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de fenômenos reais do mundo por meio de exploração e experimentação. Se não fosse
assim, haveria o caos instalado na ciência.
REFERÊNCIAS
ALCOFORADO, Fernando. As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais
que Mudaram o Mundo. Curitiba: Editora CRV, 2016.
GOODY, Jack. The Theft of History. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
MOMIN, Professor A. R. Como a Ciência Islâmica mudou a Europa. Disponível no
website <https://historiaislamica.com.br/ciencia-isla/>.
RONAN, Colin A. História Ilustrada da Ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
ROONEY, Anne. História da Matemática. São Paulo: M. Books, 2012.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização
e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século
XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions
of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).