Em um discurso de formatura para jornalistas, o patrono elogia a coragem dos formandos para enfrentar tempos difíceis para a profissão e os convida a subverter modelos injustos e reconstruir um jornalismo que busque a verdade e a justiça social.
Discurso UFES incentiva jornalistas a subverter modelos
1. Discurso proferido durante a colação de grau dos bacharéis em
Jornalismo da turma 2012/1 da UFES.
por Emerson Campos
Prezadas formandas e prezados formandos; mães e pais; amigos e familiares; estimados
colegas da Universidade Federal do Espírito Santo e demais presentes; boa noite!
De maneira antecipada peço desculpas a todas e a todos, mas vou direcionar minha fala
aos nossos futuros bacharéis, afinal hoje - na verdade durante toda esta semana - a festa
é deles.
Aqui, ao contrário de nossas aulas, onde vocês se acostumaram com falas sempre
inflamadas (logo extensas!), gostaria de externar meu carinho por vocês de forma pausada
e breve através de um agradecimento e, depois, de um elogio e convite.
Participar deste momento de qualquer forma, partilhando deste rito que marca a formatura
de vocês, já seria de uma alegria sem igual. Imagina então assim: honrado com o convite
para ser o patrono de jornalismo. Jornalismo! Profissão que há doze anos também escolhi
por vocação e paixão. Por isso tomo emprestada a formatura de vocês, assumindo a partir
de hoje uma dupla responsabilidade: a primeira com meu próprio juramento que fiz lá
atrás. A nova com o juramento de cada um de vocês, pois, a partir de hoje, sempre que
exercer ou ensinar aquela que não é mais a minha, mas a nossa profissão, vou ter a grande
responsabilidade de fazê-lo por vocês, lembrando deste voto de confiança que me foi
depositado. Por isso meu sincero muito, muito obrigado.
Por fim (e ao fim) o mais importante: um último elogio e um convite. Fazer jornalismo
sempre foi um ato de coragem. Em todos os momentos históricos em que o jornalismo se
propôs a cumprir aquela que é sua mais sagrada missão - a da busca incansável pela
2. verdade, pela libertação do pensamento e a consequente justiça social - foram necessários
profissionais corajosos para enfrentar uma balança quase sempre desigual, comandada
por um poder sem face, perigoso. Em outros momentos, porém, a própria mídia e suas
instituições corroboraram golpes de estado, injustiças das mais diversas, discursos
racistas, misóginos, e outros feitos que nos envergonham como jornalistas. Nesses casos,
da mesma forma, foram precisos comunicólogas e comunicólogos de coragem para mudar
as coisas vencendo o primeiro inimigo de qualquer repórter: a autocensura.
Novamente vivemos tempos difíceis, onde muitas vezes as instituições de mídia são
responsáveis por desequilibrar a democracia e perverter a essência do próprio jornalismo.
Por isso, meu mais sincero elogio por enfrentarem esse tempo: escolher o jornalismo hoje
é um ato de coragem.
Assim, certo da fibra de vocês, repito um convite feito em aula: tomando o sentido mais
revolucionário da palavra: subvertam! E depois reconstruam.
Se perceberem que os modelos são injustos: subvertam e criem novos métodos. Se
verificarem que as rotinas não funcionam mais: subvertam e inaugurem novos hábitos.
Se descobrirem que a pauta não é justa, que a fonte não é honesta, que a retranca é
maracutaia, que a apuração não foi correta, que a manchete é indigna, que o lead não é
seu, que a liberdade de expressão é fictícia e a imparcialidade é uma mentira, enfim, se
perceberem que o jornalismo que praticamos não funciona mais: subvertam! Criem um
novo jornalismo. Porque os modelos param de funcionar, mas o jornalismo, o bom
jornalismo, nas mãos de vocês, corajosos o bastante para reinventá-lo a fim de exterminar
a desigualdade neste país, nas mãos de vocês o bom jornalismo vai funcionar sempre.
Afinal, nas palavras do conterrâneo famoso, João Guimarães Rosa: "O correr da vida
embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". Parabéns pessoal!