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Discurso proferido por Antônio Terra durante a colação de grau de Comunicação Social com
habilitação em Publicidade e Propaganda do UNI-BH, das turmas do segundo semestre de 2011,
realizada no dia 07 de março de 2012.

A cultura é o registro da passagem dos povos pela Terra. É o fazer humano transmitido através das
gerações, que a linguagem e a escrita amplificaram com o passar dos anos sua possibilidade de
registro. A música é um veio cultural milenar e ajuda a contar e a compreender a história de uma
gente. É fácil compreender porque os índios compunham música para a chuva, dançavam
inclusive. Toda a explicação da vida baseava-se no culto às divindades da natureza. Também não é
difícil compreender os mantras dos monges tibetanos inspirados no barulho do vento, dadas as
condições geográficas dos montes em que vivem. E nós, hein? Moradores do fantástico mundo do
Ocidente, 2012 anos depois do nascimento de Cristo, como será que as gerações do futuro
compreenderão a nossa música? “Nossa, nossa, assim você me mata, ai se eu te pego, ai ai se eu
te pego”. “Gata me liga, mais tarde tem balada”. “O jeito é dar uma fugidinha com você, o jeito é”.
”Que isso novinho, que isso novinho, que isso”?

Vivemos numa sociedade virtualizada, que se diz prestes a se potencializar, mas parece que, na
verdade, estamos perdendo esta capacidade de potencialização, estamos mais rasos, mais
superficiais. Estamos tão acostumados com um dinheiro de plástico, especulado nas bolhas
imobiliárias, no petróleo, nos jogadores de futebol que perdemos a noção do valor real das coisas,
das pessoas? Adentramos com Hollywood e com a televisão em tantas tragédias físicas e humanas
enlatadas junto à celebração cênica da vida que espetacularizamos a nós mesmos? E então,
assumimos que somos um espetáculo e temos um milhar de amigos na internet, e contamos pra
eles tudo que a gente acha que deve ser contado. Comunicamos minuto a minuto onde estamos,
brigando pra ser prefeito de lugares imaginários e pra termos mais pontos que os outros. Mas
espera aí? Privacidade não era uma coisa importante? Os valores, os princípios, as crenças, não
acreditávamos que concebiam a “regra de ouro” que significa fazer ao outro o que quero que seja
feito a mim e conduzia um indivíduo a uma vida plena e de sucesso? Parece que não, contentamo-
nos com uma vida superficial, ditada pela indústria sobre o que é preciso fazer para ter, para ter,
para ter. Vamos olhar em volta? Vivemos em um mundo pior do que viveram nossos avós. Nosso
egoísmo está mais escancarado. Autocentrados, batemos no peito para dizer que somos
independentes e até nos orgulhamos disso. Temos imensa dificuldade de conviver com o outro,
seja este outro seu pai, seu amigo, seu colega de trabalho, seu vizinho, seu companheiro no
trânsito, no bar, ou em qualquer lugar que seja. Lugar bom? Nossa casa, trancada, com medo,
cheia de remédios nas prateleiras.

Ufa.... “Que discurso é esse professor, puxa vida, hoje é o dia da nossa formatura, e a gente
escolheu você pra falar um pouco pra gente. Tem festa sábado, a gente vai sair daqui e vai
comemorar, alivia aí...” Tenho pensado, meus queridos alunos, na essência das coisas, naquilo que
realmente é importante para mim, naquilo que traz sentido para o agora e que aponta para um
futuro mais feliz. E, ao fazer isso, me deparei com um Antônio muitas vezes pouco questionador e
pouco inteiro no que faz. Olhei em volta e vi uma sociedade idem, uma relação de consumo pouco
justa com o planeta, uma relação de trabalho de indiferença, uma relação de muitos com a escola
com vocação e profissões baseadas apenas no ter, no ter, no ter.

Qual o significado de hoje, senão a coroação da resposta que você deu aquela pergunta infame da
infância: O que você será quando crescer? Eu, do lugar que vejo vocês, espero que sejam inteiros,
que sintam o mundo e o valor das pessoas e que vivam em paz nos caminhos que trouxerem
sentido para a vida de cada um. Os lugares da escola e do conhecimento pretendem ser, antes de
tudo, o espaço de maior compreensão da vida, da cidadania, da integridade, da honestidade para
conosco e para com o outro e da FELICIDADE. Vejam só, esta velha e alentada conhecida, que pela
sociedade foi relegada a um colorido breve de vez em quando na vida de cada um. Aprendemos
até a dizer que a felicidade nem existe. Será? Você é o que você acredita. Quais são as suas
crenças senhores formandos, senhores pais, colegas professores? Somos todos feitos de medos,
de desejos, somos seres faltantes, em movimento contínuo e fluido. Quando nos encontrarmos
outra vez, já seremos outros. Isso é tão belo sobre a vida e ao mesmo tempo de tamanha
responsabilidade. Em meio a toda esta festa, tire um tempo pra você. Reveja seus sonhos, revisite
os caminhos que o trouxeram aqui. Repactue o que você realmente quer da vida e com quem
deseja estar. Planeje a partir dos sentidos. Sinta se o objetivo está conectado com a sua essência e
se te faz ser pleno e confortável com a pessoa que você é. Vocês serão para sempre muito
especiais na minha história. Muitíssimo obrigado por me incluírem neste momento tão verdadeiro
da vida de vocês e de suas famílias. Senhores pais, foi um enorme prazer conviver com cada um
destes sujeitos que aqui estão. E como sujeitos, de predicados muito diversos, estou muito certo,
têm tudo para protagonizarem a vida que desejarem. Contem comigo sempre. Quero contar com
vocês também. Com o sorriso, com o abraço, com o gesto, com as palavras. Bem-vindos ao
mercado de trabalho, meus amados alunos! Agora, colegas de profissão!

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  • 1. Discurso proferido por Antônio Terra durante a colação de grau de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda do UNI-BH, das turmas do segundo semestre de 2011, realizada no dia 07 de março de 2012. A cultura é o registro da passagem dos povos pela Terra. É o fazer humano transmitido através das gerações, que a linguagem e a escrita amplificaram com o passar dos anos sua possibilidade de registro. A música é um veio cultural milenar e ajuda a contar e a compreender a história de uma gente. É fácil compreender porque os índios compunham música para a chuva, dançavam inclusive. Toda a explicação da vida baseava-se no culto às divindades da natureza. Também não é difícil compreender os mantras dos monges tibetanos inspirados no barulho do vento, dadas as condições geográficas dos montes em que vivem. E nós, hein? Moradores do fantástico mundo do Ocidente, 2012 anos depois do nascimento de Cristo, como será que as gerações do futuro compreenderão a nossa música? “Nossa, nossa, assim você me mata, ai se eu te pego, ai ai se eu te pego”. “Gata me liga, mais tarde tem balada”. “O jeito é dar uma fugidinha com você, o jeito é”. ”Que isso novinho, que isso novinho, que isso”? Vivemos numa sociedade virtualizada, que se diz prestes a se potencializar, mas parece que, na verdade, estamos perdendo esta capacidade de potencialização, estamos mais rasos, mais superficiais. Estamos tão acostumados com um dinheiro de plástico, especulado nas bolhas imobiliárias, no petróleo, nos jogadores de futebol que perdemos a noção do valor real das coisas, das pessoas? Adentramos com Hollywood e com a televisão em tantas tragédias físicas e humanas enlatadas junto à celebração cênica da vida que espetacularizamos a nós mesmos? E então, assumimos que somos um espetáculo e temos um milhar de amigos na internet, e contamos pra eles tudo que a gente acha que deve ser contado. Comunicamos minuto a minuto onde estamos, brigando pra ser prefeito de lugares imaginários e pra termos mais pontos que os outros. Mas espera aí? Privacidade não era uma coisa importante? Os valores, os princípios, as crenças, não acreditávamos que concebiam a “regra de ouro” que significa fazer ao outro o que quero que seja feito a mim e conduzia um indivíduo a uma vida plena e de sucesso? Parece que não, contentamo- nos com uma vida superficial, ditada pela indústria sobre o que é preciso fazer para ter, para ter, para ter. Vamos olhar em volta? Vivemos em um mundo pior do que viveram nossos avós. Nosso egoísmo está mais escancarado. Autocentrados, batemos no peito para dizer que somos independentes e até nos orgulhamos disso. Temos imensa dificuldade de conviver com o outro, seja este outro seu pai, seu amigo, seu colega de trabalho, seu vizinho, seu companheiro no trânsito, no bar, ou em qualquer lugar que seja. Lugar bom? Nossa casa, trancada, com medo, cheia de remédios nas prateleiras. Ufa.... “Que discurso é esse professor, puxa vida, hoje é o dia da nossa formatura, e a gente escolheu você pra falar um pouco pra gente. Tem festa sábado, a gente vai sair daqui e vai comemorar, alivia aí...” Tenho pensado, meus queridos alunos, na essência das coisas, naquilo que realmente é importante para mim, naquilo que traz sentido para o agora e que aponta para um futuro mais feliz. E, ao fazer isso, me deparei com um Antônio muitas vezes pouco questionador e pouco inteiro no que faz. Olhei em volta e vi uma sociedade idem, uma relação de consumo pouco
  • 2. justa com o planeta, uma relação de trabalho de indiferença, uma relação de muitos com a escola com vocação e profissões baseadas apenas no ter, no ter, no ter. Qual o significado de hoje, senão a coroação da resposta que você deu aquela pergunta infame da infância: O que você será quando crescer? Eu, do lugar que vejo vocês, espero que sejam inteiros, que sintam o mundo e o valor das pessoas e que vivam em paz nos caminhos que trouxerem sentido para a vida de cada um. Os lugares da escola e do conhecimento pretendem ser, antes de tudo, o espaço de maior compreensão da vida, da cidadania, da integridade, da honestidade para conosco e para com o outro e da FELICIDADE. Vejam só, esta velha e alentada conhecida, que pela sociedade foi relegada a um colorido breve de vez em quando na vida de cada um. Aprendemos até a dizer que a felicidade nem existe. Será? Você é o que você acredita. Quais são as suas crenças senhores formandos, senhores pais, colegas professores? Somos todos feitos de medos, de desejos, somos seres faltantes, em movimento contínuo e fluido. Quando nos encontrarmos outra vez, já seremos outros. Isso é tão belo sobre a vida e ao mesmo tempo de tamanha responsabilidade. Em meio a toda esta festa, tire um tempo pra você. Reveja seus sonhos, revisite os caminhos que o trouxeram aqui. Repactue o que você realmente quer da vida e com quem deseja estar. Planeje a partir dos sentidos. Sinta se o objetivo está conectado com a sua essência e se te faz ser pleno e confortável com a pessoa que você é. Vocês serão para sempre muito especiais na minha história. Muitíssimo obrigado por me incluírem neste momento tão verdadeiro da vida de vocês e de suas famílias. Senhores pais, foi um enorme prazer conviver com cada um destes sujeitos que aqui estão. E como sujeitos, de predicados muito diversos, estou muito certo, têm tudo para protagonizarem a vida que desejarem. Contem comigo sempre. Quero contar com vocês também. Com o sorriso, com o abraço, com o gesto, com as palavras. Bem-vindos ao mercado de trabalho, meus amados alunos! Agora, colegas de profissão!