Investigar como a criação e partilha de camadas de visibilidade lésbica em mapas colaborativos em ambiente online pode empoderar mulheres sujeitas a discriminação em função da orientação sexual.
1. PROMOÇÃO DA IGUALDADE E
PRÁTICAS GEOESPACIAIS EM
AMBIENTE ONLINE
Eduarda Ferreira
CICS.NOVA, FCSH/NOVA
e.ferreira@fcsh.unl.pt
2. Espaço e identidades sociais
A desigualdade se pode perpetuar
através das formas pelas quais o espaço
é organizado, vivenciado,
representado e criado
O espaço reflete as relações de poder e
os discursos hegemónicos
Relação mútua de constituição e
reprodução entre espaço e identidades
sociais
O espaço é uma parte essencial da
constituição e reprodução das
identidades sociais
As identidades sociais, os seus
significados e relações produzem
espaços materiais, simbólicos e
metafóricos
3. Identidades homossexuais Dimensões espaciais
Espaço e identidades sexuais
» Identificação de espaços públicos específicos como seguros e livres de
discriminação (LGBT friendly)
» Assumir da orientação sexual apenas em locais específicos
» Vizinhanças auto-organizadas com ambiente amigável para gays e
lésbicas
» Marchas do Orgulho LGBT
As identidades sexuais dependem, em certa medida, de espaços
particulares para a sua produção e reprodução
4. Contexto e objetivo
Projeto: “Representing Spaces of (In)Equality: Layers of Visibility”
Objetivo
Explorar o impacto da participação pública, através de mapeamento
colaborativo em ambiente online, na promoção da igualdade e na
qualidade de vida das lésbicas e mulheres bissexuais.
Investigar como a criação e partilha de camadas de visibilidade
lésbica em mapas colaborativos em ambiente online pode
empoderar mulheres sujeitas a discriminação em função da
orientação sexual.
5. Posicionalidade
A análise deve procurar demonstrar a especificidade dos resultados de homossexuais face a
heterossexuais, para evitar que a comunicação possa ser vista como posição de grupo e
reclamação de natureza social e política, pouco adequada a encontros científicos.
Pessoal é político Académico é político
“How does the way we live our lives, the way we connect with social and political
struggles and the seemingly random opportunities that come our way, affect our
geographical imagination?” (Aitken and Valentine (2006, p. 11).
Aitken, S. & Valentine, G. (2006). Ways of knowing and ways of doing geographic research. In: S. Aitken & G.
Valentine (Eds.) Approaches to Human Geography (pp. 1-12). London: Sage.
6. Posicionalidade
“Positionality is about how people view the world from different embodied
locations. The situatedness of knowledge means whether we are researchers or
participants, we are differently situated by our social, intellectual and spatial
locations, by our intellectual history and our lived experience, all of which shape
our understandings of the world and the knowledge we produce” (England, 2006,
p. 289).
“Feminists argue that we are committed to the political and intellectual goals not
only of exposing power and privilege, but also of transforming them” (England,
2006, p. 290).
England, K. (2006). Producing Feminist Geographies: Theory, Methodologies and Research Strategies. In: S. Aitken & G.
Valentine (Eds.) Approaches to Human Geography (pp. 286-297). London: Sage.
7. Produção de um mapa colaborativo
online de Portugal, com base em
informação georeferenciada criada
por lésbicas e mulheres bissexuais
Workshop de
Mapeamento
colaborativo online
Produzir um mapa online com
informação sobre experiências
positivas de visibilidade lésbica em
espaços públicos, acessível no
próprio local através de dispositivos
móveis (Tablets, telemóveis)
Workshop Camadas
de Visibilidade
O trabalho de campo decorreu entre Janeiro e Julho 2012
Criar paisagens
8. Camadas de Visibilidade
Local – Parque das Nações, Lisboa
Os marcadores deste mapa foram selecionados a partir dos marcadores
criados pelas participantes no Workshop de Mapeamento colaborativo online.
Os marcadores selecionados estavam relacionados com experiências positivas
em espaços públicos de relações lésbicas.
13. Camadas de Visibilidade
Photos that illustrate the use of Wikitude World BrowserFotos da utilização do Wikitude World Browser
14. Camadas de Visibilidade
Inquérito online
A maioria das mulheres que respondeu ao inquérito auto identifica-se
como lésbica, vive na região de Lisboa, tem habilitações ao nível do
ensino superior, e tem mais de 30 anos. A ocupação profissional é
diversificada.
15. Camadas de Visibilidade
As respostas ao inquérito online indicam que as participantes
reconhecem o efeito do mapa online nas suas ideias e representações do
Parque das Nações.
Em particular, percecionam este espaço como mais seguro para
mulheres lésbicas e bissexuais e que é mais provável terem
expressões públicas de afeto com outra mulher neste
espaço.
16. Camadas de Visibilidade
Foi refrescante e libertador visualizar um espaço que também frequento
como sendo partilhado e palco de visibilidade e afetos por pessoas com a
mesma orientação sexual que a minha. Sinto alegria, pertença, liberdade.
Bissexual, 24 anos
Parece-me que há mais gente a assumir a sua visibilidade em alguns
espaços e isso transmite alguma segurança. Nunca tinha pensado a
visibilidade lésbica em função de espaços. Bissexual, 45 anos
Reação emocional positiva – sentimento de pertença , segurança e alegria
17. Camadas de Visibilidade
Porque imaginando-me rodeada de gente que possa partilhar dos meus ideais
sinto-me mais segura, sabendo que existe menor probabilidade de ser
discriminada. Bissexual, 24 anos
Tendo em conta que há uma maior visibilidade lésbica é provável a existência de
maior segurança. Bissexual, 19 anos
Precisamente por saber da existência desses comportamentos entre mulheres, o
que poderá contribuir para uma indiferença dos "outros" em relação a esses
comportamentos. Lésbica, 40 anos
…, porque se formos mais a fazer o mesmo, talvez os gestos se tornem mais
triviais e menos notados. Lésbica, 40 anos
Mais seguro para lésbicas e mulheres bissexuais
18. Camadas de Visibilidade
Sim porque vejo que não existe tanta discriminação como tinha imaginado e
porque pelo facto de haver mais pessoas com o mesmo comportamento que eu
(comportamento afetivo com outra mulher) acho que em caso de uma
discriminação mais ativa me sentiria mais protegida por esse grupo global, ainda
que desconhecido. Imagino que por exemplo perante alguma agressão física ou
verbal, poderia ter reações de solidariedade por parte de casais do mesmo sexo
que presenciassem a situação. Lésbica, 45 anos
Sentimento de pertença
19. Camadas de Visibilidade
Provavelmente não serei a única lésbica a passear por ali com a namorada ou a
mulher e se não tem havido reações fortemente negativas com outras também
não deve haver comigo. Bissexual, 45 anos
Fiquei a saber que é um espaço ainda mais acolhedor do que imaginava, porque
havendo outros casais que estão à vontade, isso ajuda a estar à vontade também
(para beijar, abraçar, andar de mãos dadas). Lésbica, 40 anos
Facilitador de expressões públicas de afeto
20. Camadas de Visibilidade
Principais impactos - perceção de segurança, sentimento de pertença, aumento
da probabilidade de ter expressões públicas de afeto.
A mudança mais significativa – perceção deste espaço como seguro para
lésbicas e mulheres bissexuais.
Um dos argumentos mais utilizados – expressões de afeto entre pessoas do
mesmo sexo mais frequentes podem aumentar a indiferença das pessoas a
situações de visibilidade lésbica.
21. Camadas de Visibilidade
Temos consciência que só uma única experiência de ser exposta a informação
sobre experiências positivas de relações lésbicas em espaços públicos não é
suficiente para influenciar de forma definitiva as representações, mas pode
originar reflexão o que pode vir a provocar mudanças.
Estes resultados suportam a possibilidade de se utilizar mapas online para
promover um espaço público com menos discriminação em função da
orientação sexual.
É necessário prosseguir a investigação para estudar se os impactos nas
representações perduram no tempo e se são colocadas em prática e se traduzem
em comportamentos .
22. Criar paisagens
Com base nos resultados, podemos afirmar que criar e partilhar camadas digitais
de visibilidade lésbica em mapas colaborativos online pode contribuir para criar
paisagens de espaços públicos menos discriminatórios e mais inclusivos para
lésbicas e mulheres bissexuais.
http://fcsh-unl.academia.edu/EduardaFerreira
Notas do Editor
This particular area of Lisbon has some characteristics suitable for the workshop: it is not identified as LGBT friendly (the objective of the workshop requires a hetero pervasive reality), and it is a cosmopolitan area with lots of people walking by (the cosmopolitism and peoples’ presence can provide security – this is particularly important since the map used in the workshop can create the impression of a lesbian friendly area and participants may feel safer to have same-sex public displays of affection).
The text answers contribute to better understand the effect of the web map on the participants’ representation of Parque das Nações and possible future behaviour. Some participants explicitly refer to the sense of belonging, safety and joy elicited by the visualization of the web map with positive lesbians’ experiences on this public space. The positive emotional reaction to the web map is worth mentioning if we consider that participants (as we all) live in a pervasive heteronormative public space that discriminates non-normative sexual orientations.
One interesting outcome is the increased awareness of the importance of space to lesbians and bisexual women's behaviours. Although the intimate connections between the disclosure of sexual orientation and space have been uncovered and studied by a diverse range of researchers (Valentine, 1993; Mitchell, 2000; Ferreira, 2011) it is worth mentioning that some of the individuals enduring discrimination on grounds of sexual orientation are not themselves aware of this fact.
The most evident change on the participants’ representation is an increased perception of this space as safer for lesbians and bisexual women. This change is supported by the reasoning that more frequent same-sex public displays of affection can contribute to people’s indifference and the corresponding decrease of other’s gaze (identified in the first phase of this research as one of the most unpleasant aspects of public space for non-heterosexuals and inhibitor to same-sex public displays of affection).
Another reason for the increased feeling of safety is based on the idea that other people can intervene and support in case of possible negative reactions. This idea is strongly related to a sense of belonging, of being a part of a group of anonymous people that will stand up for you. This kind of feeling is uncommon for most non-heterosexuals in public spaces, if they choose to disclose their sexual orientation, with the exception of LGBT friendly areas or specific time/space events, such as Pride marches or LGBT film festivals.
Watching and witnessing others experiences feeds our understanding of spaces. Having access to information about other lesbians and bisexual women positive experiences on public spaces can work as a facilitator to same-sex public displays of affection.