O documento discute a diferença entre design e designer, afirmando que design é o processo enquanto designer é o profissional. Também destaca que um curso superior em design ensina conceitos, não apenas ferramentas, e que é importante verificar a formação de um profissional antes de contratá-lo.
1. Apresentação
Os textos que seguem são baseados na coluna semanal que mantenho no site
Acontecendo Aqui, especializado em comunicação e marketing em Santa Catarina.
Na coluna, trato predominantemente do tema design, seja como metáfora para as
questões do dia-a-dia, seja como observação do cotidiano, seja analisando as atitudes
dos profissionais de design.
Engenheira por formação, o design só entrou em minha vida profissional após
uma década trabalhando com robótica e empresas de tecnologia. Encantada com o
assunto, com o qual me deparei em um curso breve de comunicação e propaganda,
estudei-o a ponto de fazer um doutorado em gestão do design.
Hoje sou consultora de empresas especializada em identidade corporativa e, ape-
sar de dar aulas em cursos de graduação e pós-graduação em design e proferir pales-
tras sobre o tema, não me considero uma designer. Sou apenas alguém que observa
com olhar crítico e tenta mostrar novas abordagens para um assunto polêmico, sedu-
tor e, apesar de estar na moda, ainda muito desconhecido.
Voltado para estudantes, profissionais e interessados na área, o livro é dividido
em três partes: o designer, focado na atitude profissional; o design, que trata do
design no dia-a-dia e Etc, sobre outros assuntos tratados na coluna.
5. O design do designer
Para começar, vamos aproveitar para esclarecer alguns termos que o pessoal anda
usando por aí. O primeiro deles é design, que muita gente também diz designer. É
claro que você que está lendo esse livro agora é uma pessoa esclarecida e provavelmente
domina o inglês (o nosso “latim moderno”), mas não custa nada dar uma relembrada.
Design e designer não são sinônimos. Design se refere ao processo, ao projeto,
ao conceito. Designer é sempre uma pessoa, justamente aquele profissional que faz
design. Assim, ao contrário do que a gente vê por aí, não existe curso de webdesigner,
assim como não existe curso de pintor. Existe curso de webdesign, assim como curso
de pintura. Se a divulgação do serviço já tem esse erro, desconfie… ou o profissional
não sabe direito o que está fazendo ou a escola não sabe o que está ensinando…
Outra pergunta que não quer calar: designer tem que ter diploma? Essa é uma
polêmica que enfrenta o mesmo questionamento em outras áreas, como o jornalis-
mo. A profissão de designer ainda não é regulamentada, até porque é bem recente na
história do país, se comparada às clássicas medicina, engenharia e direito.
O fato de um sujeito freqüentar uma universidade não garante de maneira algu-
ma que ele seja um profissional competente e confiável. O que o diploma diz de um
profissional (qualquer um, de qualquer profissão), é que ele teve acesso aos conheci-
mentos necessários para exercer o trabalho. Só. Infelizmente. Todos sabemos que há
muitos meios de se obter as notas mínimas para se adquirir um diploma e não se pede
histórico escolar e nem se conversa com os professores antes de contratar alguém.
Por outro lado, pelo menos há a certeza que aquela pessoa freqüentou uma es-
cola e ouviu falar de conceitos importantíssimos para exercer sua atividade. Se você
contrata alguém que não fez um curso superior de design, o risco aumenta bastante,
pois significa que essa pessoa aprendeu sozinha. Também como em qualquer outra
profissão, pode ser que ela dê um verdadeiro banho em gente com diploma, mas não
é isso que se vê freqüentemente no mercado. É mais comum nos depararmos com
pessoas que fazem cursos que ensinam a usar um determinado software e se auto
intitulam designers.
Por isso, atenção: o fato de uma pessoa saber usar uma ferramenta, não faz dela
um designer. A maior parte dos cursos superiores de design nem ensina ferramen-
tas… o mais importante para um designer são os conceitos e a cultura do design,
a forma de conceber soluções para os problemas, o conhecimento abrangente das
conseqüências de se colocar mais um produto no mercado, a preocupação com a
6. 18 O Design do Designer
qualidade. São quatro anos onde se estuda história da arte e do design, teoria e
psicodinâmica das cores, metodologias para o desenvolvimento de projetos, ergo-
nomia, semiótica, materiais, elabora-se projetos que serão criticados e avaliados por
professores experientes, enfim, é muito chão. Não que seja impossível de aprender
isso tudo sozinho, mas certamente ficarão algumas lacunas na formação de um au-
todidata que dependerão imensamente do esforço pessoal, do acesso às informações
e às oportunidades.
Assim, cuidado. Há montes de cursos de “designer” por aí que ensinam você a “me-
xer” no CorelDraw, FireWorks, DreamWeaver, Flash e outros softwares que auxiliam
o trabalho. Muitos são excelentes e você sai dominando a ferramenta, mas isso não
transforma você em um designer. Pense bem: só porque um pedreiro é extremamente
competente na construção de uma casa, você acha que ele possui condições de projetá-
la com segurança, competência, e dentro de todas as normas? O trabalho do designer
é essencialmente de projeto. Sempre haverá trabalho para pedreiros e arquitetos, cada
um na sua função, as duas igualmente importantes. E está cheio de arquiteto bom
que nem sabe fazer uma mistura básica para cimento. Então, ficou claro? “Micreiros”
e designers podem e devem trabalhar juntos, mas são funções diferentes. É possível
exercer as duas ao mesmo tempo, desde que a pessoa se qualifique para ambas.
Então, como separar o joio do trigo? Ora, como a gente faz para ir ao dentista,
ao médico, ao cabeleireiro: pega referências com quem já fez algum tipo de trabalho
com ele, olha amostras de trabalhos anteriores, observa a postura profissional, pede
informações sobre a sua formação, verifica a escola onde estudou, vê se ele domina os
conceitos básicos. Nada que você já não tenha feito para contratar outros profissionais.
Mas por favor! Não contrate o seu sobrinho ou o vizinho do seu amigo porque o rapaz
“tem jeito para desenho” e “mexe com computador” para um trabalho de responsabi-
lidade na sua empresa. Você contrataria um leigo para fazer o parto do seu filho?