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FFF L O R E S T A N F E R N A N D E S
R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 6 - 8 8, M A R Ç O / M A I O 1 9 9 686
N
ada soa mais falso que um político
profissional querer passar-se como
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completo faz fé. Alguém que se do-
brou à ditadura, prestou-lhe serviços
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partido do Ocidente” e agente da sua ativida-
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Legislativo e no Executivo, jamais poderia
retratar-se como o avesso do político. Não há
memória histórica no Brasil e essa circuns-
tância favorece a cir-
culação de mentiras
nada convencionais.
Porém,todaopçãoim-
plica um preço político e ideológico. Realizá-
la e negar-se ao crivo da verdade define o pior
tipo de oportunismo político, que infelizmen-
te grassa em nossa terra como tiririca. Porque
repousa em um profissionalismo político tra-
dicionalista, o qual confere ao político a liber-
dade de prometer tudo, de recorrer ao
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e, conforme as condições conjunturais, ao
populismo e à demagogia – e depois dar o dito
por não dito, curvando-se ao reacionarismo,
ao conservadorismo, ao culto narcisístico do
ego e do poder. Sujeito diligente da reprodu-
ção da ordem, da associação entre arcaico e
moderno, assim se ca-
racterizaoperfildopo-
lítico tradicionalista
brasileiro,servodesua
F L O R E S T A N F E R N A N D E S
O A R D I L D O S P O L Í T I C O S
Este texto foi publicado originalmente
na Revista USP no
3, em 1989, pp. 143-4.
R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 6 - 8 8, M A R Ç O / M A I O 1 9 9 6 87
Em Brasília, 1994,
durante o 9º Encontro
Nacional do PT
88 R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 6 - 8 8, M A R Ç O / M A I O 1 9 9 6
grei e de seus próprios interesses ou alvos pes-
soais.
Pensoqueéimpossívelinterpretaraposição
dosr.FernandoCollordeMellodeoutramanei-
ra, de uma perspectiva psicossociológica. O
politicismocansouopovo,repugnaoscidadãos
revoltados contra a manipulação do poder esta-
tal.Ocandidatoassumiuoantipoliticismoelan-
çou-se à arena eleitoral como ferrenho adversá-
rio do politicismo, ignorando sua longa e com-
provada vocação politicista. Combater Sarney
nãoé,nosdiasquecorrem,aúnicavirtude–nem
mesmo a principal virtude – de um candidato à
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fletida. Nenhum político autêntico pode deixar
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çãoprolongada(eissoimportaemcondenarum
governodesacreditadoeseuchefenominal).No
entanto, o sr. José Sarney Costa e o sr. Fernando
Collor de Mello não são apenas “farinha do
mesmo saco”. Ambos estão congenitamente
presosaumprovincianismoconstrangedoreapa-
recem,apesardasanimosidadesrecíprocas,como
irmãossiamesesnaartedapolíticatradicionalis-
ta. Não que um revele, hoje, o que o outro será
amanhã. O dilema é mais grave. Ambos são
portadoresdeumamentalidadepolíticaanáloga
e refletem um molde comum, do qual jamais
poderia nascer um estadista e que tem infestado
o Brasil como uma praga devastadora. Desse
ângulo, um se contrapõe ao outro no estilo dos
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bicadas:oespaçohistóriconãocomportaosdois,
enquanto seus objetivos forem divergentes. De-
pois... Ora, depois, pior para nós!
Étrágicoquesemelhantefigurasejafisgada
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dato ideal à Presidência. Ficamos de novo ata-
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mosmaisunsdezouvinteanosdenossahistória,
sem falar que a transição lenta, gradual e segura
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administrativas indefinidamente. Não haverá a
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tica se instaurará com a rapidez indispensável.
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teladas, para “garantir a paz social”. Em suma,
atravésdessesespécimesdepró-homensimpro-
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  • 1. FFF L O R E S T A N F E R N A N D E S R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 6 - 8 8, M A R Ç O / M A I O 1 9 9 686 N ada soa mais falso que um político profissional querer passar-se como não sendo “político”. Um curriculum completo faz fé. Alguém que se do- brou à ditadura, prestou-lhe serviços (e foi por ela recompensado), anuiu ao papel de escudeiro de Paulo Salim Maluf e engalanou-se com o seu reconhecimento de valor, fruto do PDS em sua fase de “maior partido do Ocidente” e agente da sua ativida- de, com uma carreira que abrange postos no Legislativo e no Executivo, jamais poderia retratar-se como o avesso do político. Não há memória histórica no Brasil e essa circuns- tância favorece a cir- culação de mentiras nada convencionais. Porém,todaopçãoim- plica um preço político e ideológico. Realizá- la e negar-se ao crivo da verdade define o pior tipo de oportunismo político, que infelizmen- te grassa em nossa terra como tiririca. Porque repousa em um profissionalismo político tra- dicionalista, o qual confere ao político a liber- dade de prometer tudo, de recorrer ao clientelismo,aopaternalismo,aomandonismo e, conforme as condições conjunturais, ao populismo e à demagogia – e depois dar o dito por não dito, curvando-se ao reacionarismo, ao conservadorismo, ao culto narcisístico do ego e do poder. Sujeito diligente da reprodu- ção da ordem, da associação entre arcaico e moderno, assim se ca- racterizaoperfildopo- lítico tradicionalista brasileiro,servodesua F L O R E S T A N F E R N A N D E S O A R D I L D O S P O L Í T I C O S Este texto foi publicado originalmente na Revista USP no 3, em 1989, pp. 143-4.
  • 2. R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 6 - 8 8, M A R Ç O / M A I O 1 9 9 6 87 Em Brasília, 1994, durante o 9º Encontro Nacional do PT
  • 3. 88 R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 6 - 8 8, M A R Ç O / M A I O 1 9 9 6 grei e de seus próprios interesses ou alvos pes- soais. Pensoqueéimpossívelinterpretaraposição dosr.FernandoCollordeMellodeoutramanei- ra, de uma perspectiva psicossociológica. O politicismocansouopovo,repugnaoscidadãos revoltados contra a manipulação do poder esta- tal.Ocandidatoassumiuoantipoliticismoelan- çou-se à arena eleitoral como ferrenho adversá- rio do politicismo, ignorando sua longa e com- provada vocação politicista. Combater Sarney nãoé,nosdiasquecorrem,aúnicavirtude–nem mesmo a principal virtude – de um candidato à Presidência que deva merecer uma escolha re- fletida. Nenhum político autêntico pode deixar sem resposta o que significa o Estado de transi- çãoprolongada(eissoimportaemcondenarum governodesacreditadoeseuchefenominal).No entanto, o sr. José Sarney Costa e o sr. Fernando Collor de Mello não são apenas “farinha do mesmo saco”. Ambos estão congenitamente presosaumprovincianismoconstrangedoreapa- recem,apesardasanimosidadesrecíprocas,como irmãossiamesesnaartedapolíticatradicionalis- ta. Não que um revele, hoje, o que o outro será amanhã. O dilema é mais grave. Ambos são portadoresdeumamentalidadepolíticaanáloga e refletem um molde comum, do qual jamais poderia nascer um estadista e que tem infestado o Brasil como uma praga devastadora. Desse ângulo, um se contrapõe ao outro no estilo dos desentendimentos provincianos e da ordem das bicadas:oespaçohistóriconãocomportaosdois, enquanto seus objetivos forem divergentes. De- pois... Ora, depois, pior para nós! Étrágicoquesemelhantefigurasejafisgada para a produção em massa da imagem do candi- dato ideal à Presidência. Ficamos de novo ata- dos aos arcaísmos do passado remoto e recente. Se a farsa continuar e conseguir êxito, perdere- mosmaisunsdezouvinteanosdenossahistória, sem falar que a transição lenta, gradual e segura permanecerá garantida em suas bases político- administrativas indefinidamente. Não haverá a sonhadarupturacomoestadodecoisasexisten- te e tampouco a necessária revolução democrá- tica se instaurará com a rapidez indispensável. Continuaremos no mais ou menos, nas ilusões de mudanças iminentes, que sempre serão pro- teladas, para “garantir a paz social”. Em suma, atravésdessesespécimesdepró-homensimpro- visados as elites das classes dominantes fazem fria e calculadamente o seu jogo, como se fos- sem capazes de criar história. Quando o povo descobrir o engodo, será tarde e as mesmas arti- manhasserãoreativadassoboutrosartifíciosmais atraentes,agoragraçasàmodernizaçãoeà“cul- tura da comunicação em massa”. Será tudo tão simples?Opovonuncapassarádebigornaama- lho? E quando isso transcorrer, que cabeças ro- larão,queinteressesdeclassesterãodesersoter- rados, que mundo social acabará destruído? O uso e o abuso de técnicas sociais ultrapassadas envolvem riscos insondáveis, em um certo mo- mento, e as forças sociais que constroem a his- tória de uma nação com desenvolvimento capi- talistadesigualnãoestãoàvendanempodemser controladas a partir de um centro inviolável de poder. Se fosse assim, não haveria Revolução Russa,RevoluçãoChinesaouRevoluçãoCuba- na.“Searrependimentomatasse”,aselitescegas e paralíticas diante dos enigmas históricos en- frentados por seus estamentos ou por suas clas- ses e por suas nações ainda exerceriam o mono- pólio do poder, da riqueza e da cultura... Voltemos ao tema deste artigo. É cedo para dizer quem sairá vencedor nas próximas elei- çõespresidenciais.Porém,nãopossuímosacul- tura cívica e a estabilidade política dos Estados Unidos e do Canadá para “pré-fabricar” presi- dentes ou primeiros-ministros, como se fossem sabonetes,perfumesouroupasdamoda.“Fabri- car um presidente”, nas condições concretas do Brasil atual, constitui uma ação irresponsável e temerária. Dadas as minhas convicções políti- cas,deveriaescreverexatamenteoinverso.Mas, por que provocar riscos prematuros e explosi- vos, que não servirão para nada, a não ser para conterosritmosdenossodesenvolvimentoeco- nômico,tecnológicoecultural?Paraquefomen- tarsaídasilusórias,queaumentarãoodesespero dos de baixo e sua exasperação, decuplicando o desamor ao País e o ódio à política, em troca de nada? Não é ainda certo que a forjicação de um candidato pré-fabricado prepondere. Todavia, paraseinstaurarumademocraciacomdoispólos contraditórios ativos, um burguês e outro operá- rio, temos de apagar páginas amargas e demolir hábitos e técnicas de dominação política ou de hegemonia cultural que são por si mesmos destrutivos(e,aindamais,aniquiladoresporseus efeitosecontinuidade).Nadatenhopessoalmen- te contra o sr. Fernando Collor de Mello. Entre- tanto, desde criança aprendi pela experiência o que significa sua prática e sua fraseologia vazia “antipoliticistas”. Temos de enveredar por cami- nhos novos – desafiar o presente e o futuro. As ambigüidades e as astúcias dos políticos que pre- tendem pairar “acima das classes” bloqueiam tais caminhosenoscondenamaocaldeirãoferventede uma ordem social fechada dentro do mundo sem humanidade de sua imensidão de iniqüidades.