Tecnologias de caminhões de corrida impulsionam inovações para estradas
1. E STA D O D E M I N A S ● Q U A R T A - F E I R A , 1 9 D E D E Z E M B R O D E 2 0 0 7
10 VEÍCULOS
F-TRUCK
Tecnologias desenvolvidas para única competição de marcas do país ultrapassam
barreira dos boxes, passam pela engenharia das montadoras e chegam às estradas
Laboratório da pesada
DANIEL CAMARGOS (*)
De Brasília
CRISTIANO MARIZ/ESPECIAL PARA O CB DANIEL FERREIRA/CB
até conseguir o acerto ideal. Diferente-
mente do início da competição, em 1995,
quando a maioria trabalhava como cami-
Uma modelo chupa o picolé Flor do nhoneiro e os veículos tinham pequenas
Cerrado devagar e lambe o palito até ter diferenças para os de uso comum, hoje
certeza de que não resta nada. Limpa, grande parte é profissional. Djalma Foga-
disfarçadamente, os respingos na trasei- ça, que passou por diversos campeonatos
ra da calça justa e segue caminhando pe- de marcas na década de 80, pela fórmula
la área vip da última etapa da Fórmula Opel e Stock Car e está na Truck há 10
Truck, disputada em Brasília, domingo. anos, sendo sete pela Ford, acredita que o
Exibe, nos reduzidos pedaços de pano profissionalismo contribui para a evolu-
que delineiam suas generosas curvas, o ção do campeonato.
nome de uma das diversas montadoras Um exemplo bem-sucedido é do pilo-
patrocinadoras da competição. A F-Truck to Felipe Giaffone, que, depois de compe-
é a única competição nacional entre as tir vários anos em provas de Fórmula In-
marcas, ao contrário da Stock Car, em dy,nosEstadosUnidos,começouem2006
que os carros ostentam apenas uma bo- na Truck e este ano foi o campeão. “A to-
lha com as formas de diferentes veícu- cada do caminhão é bem diferente, mas o
los, tendo a mesma estrutura mecânica princípio é o mesmo. O jeito de acelerar é
e motores. Entre os caminhões, as mon- outro e o acerto também é distinto do dos
tadoras entram para valer na disputa e carros”, explica Giaffone, que, com a quar-
desenvolvem tecnologia para as pistas. ta colocação na prova de Brasília garantiu
O gerente de Desenvolvimento de o título, mesmo sem possuir carteira de
Trem de Força da Volkswagen Cami- habilitação para caminhões.
nhões e Ônibus, Rodrigo Chaves, é tam- Já seu companheiro de equipe, Renato
bém responsável pelos motores da equi- Martins, é representante da primeira ge-
pe RM Competições que usa caminhões ração, pois nunca competiu em outra ca-
da fábrica instalada em Resende (RJ) e foi Mercedes-Benz, Scania, Volvo, Volkswagen, Iveco e Ford estão entre as marcas competidoras Belas modelos compõem o circo da F-Truck tegoria do automobilismo e trabalhou co-
campeã com uma corrida de antecedên- mo caminhoneiro por 13 anos, antes de se
cia, além de contar com o piloto cam- tornar piloto profissional. “Quando come-
peão, Felipe Giafone. Segundo Chaves, diz que as calibrações feitas no motor posta rápida, por causa das altas veloci- punidos e devem ir para o box e esperar cei, em 1995, o caminhão tinha farol, roda
para a disputa nas pistas sempre se bus- para ganhar potência, principalmente, dades desenvolvidas (até 200km/h), 10 segundos. “É difícil controlar, pois to- raiada e cabine-leito”, lembra Martins.
ca a máxima eficiência em desempenho, na injeção eletrônica são adotadas na também já foram levadas para a fábrica dos buscam mais potência, mas têm que Agora, por questão de segurança, a estru-
o que permite que muitas inovações se- linha de produção. de Resende (RJ). “A pista é um grande la- encontrar o ajuste ideal”, explica o res- tura da cabine é protegida por santoanto-
jam levadas para as revendas. Outro exemplo é o sistema de arre- boratório”, afirma. ponsável pelo sistema de gerenciamen- nio construído em tubo mecânico sem
Para as estradas brasileiras, fatores fecimento, que, no veículo de competi- Na competição, a maior preocupação to eletrônico da equipe Roberval Mo- costura, o tanque de combustível é deslo-
como economia de combustível, emis- ção, precisa ser extremamente confiá- é com a relação peso/potência, pois, co- torsports, Vilson Ferrari, que trabalha no cado para o centro do chassi e o banco do
são de poluente conforme regras am- vel. “Quando o motor eletrônico es- mo os motores são iguais aos que circu- Departamento de Engenharia da Scania piloto, do tipo concha, tem cinto de segu-
bientais e outros detalhes que são típi- quenta muito, a potência é reduzida au- lam na estrada, mas com diversos ajus- e colabora com a equipe que usa o cami- rança com três pontos de fixação, assim
cos das más condições das rodovias na- tomaticamente”, explica Alleo. Dessa tes, também é preciso preocupar-se com nhão da montadora. como nos carros de competição.
cionais, estão distantes das condições forma, o arrefecimento é fundamental, a emissão de poluentes. Apesar de não
ideais de uma competição. Porém, o pois a perda de potência atrapalha o re- existir medição oficial, os caminhões COMUNICAÇÃO O que também colabo-
gerente executivo de Trem de Força da sultado final. As inovações no eixo tra- que emitem fumaça preta – fruto da ra para o desenvolvimento são as respos- ● (*) Jornalista viajou a convite da Volkswagen
VW Caminhões e Ônibus, Paulo Alleo, seiro de tração, que precisa de uma res- queima excessiva de óleo diesel – são tas que os pilotos passam para a equipe Caminhões e Ônibus