Eleonora Menicucci, atual ministra do governo Dilma, relatou ao Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais que sofreu tortura em 1971 em um quartel militar em Juiz de Fora, incluindo choques elétricos e socos. Sua filha de um ano na época também foi ameaçada. O depoimento reforça os horrores vividos por militantes de esquerda em Minas durante a ditadura e a importância de esclarecer esses fatos pela Comissão da Verdade.
1. E STA D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 2 5 D E J U N H O D E 2 0 1 2
3
POLÍTICA
EDITOR: Baptista Chagas de Almeida
EDITOR-ASSISTENTE: Renato Scapolatempore
E-MAIL: politica.em@uai.com.br
TELEFONE: (31) 3263-5293
Eleonora Menicucci contou ao Conselho de Direitos Humanos de Minas que sofreu em 1971,
num quartel de Juiz de Fora, castigos semelhantes aos aplicados à amiga Dilma Rousseff
MINISTRA RELATA TORTURA IANO ANDRADE/CB/D.A PRESS - 10/2/12
SANDRA KIEFER próprio quartel com choques elétricos, tapas, anos, ela perdeu o pai, Norberto Nhering, mor-
socos e muita ameaça psicológica que não vol- to pelas forças da repressão em São Paulo, em
A presidente Dilma Rousseff não é a única taria viva para São Paulo, que voltaria separada 1960.“Deinício,aideiaerafazerumfilmesobre
integrante do atual governo que prestou de- de Ricardo (Prata Soares, seu marido), que eles aépocadaditadura,masaocomeçarafilmaros
poimento ao Conselho de Direitos Humanos me matariam durante a viagem e depois di- depoimentos dos sobreviventes começamos a
de Minas Gerais (Conedh-MG) relatando as riam que foi um acidente, que prenderiam no- verquenós,filhosdemilitantespolíticos,contá-
torturas que sofreu no período da ditadura. vamente a minha filha”. vamos uma história parecida de dor, que havia
Nos arquivos localizados no Edifício Maletta, Em outro momento, Eleonora, que disse no sido sufocada pela censura”, explica.
Centro de Belo Horizonte, também está guar- texto não lembrar o nome dos torturadores,
dado o processo da ministra Eleonora Meni- conta que pediu ao carcereiro uma revista para SEM PERDÃO A ministra Eleonora Menicucci
cucci, hoje com 68 anos, nomeada em feverei- lerequerecebeucomorespostaocatálogotele- foiouvidaontemànoitepeloEstado de Minas,
ro para a Secretaria de Políticas para as Mulhe- fônicodeBeloHorizonte.Ocarcereiroentãolhe voltando da Rio +20, no Rio de Janeiro, onde se
res. Embora sem a mesma riqueza de detalhes disse: “Se quiser ler, leia isto que lhe fará muito encontrou com a presidente Dilma Rousseff,
contados por Dilma em 2001, o documento bem, é divertido, é uma leitura leve e vocês ter- masnãotevechancedeconversarcomaantiga
referente à ministra reforça o horror vivido roristas não necessitam mais que isso, sobretu- companheirademilitânciaemBHsobreasérie
pelos militantes de esquerda em Minas du- do as mulheres que têm filhas como você”. de reportagens a respeito das torturas sofridas
rante os anos de chumbo. Eleonora conta que AfilhadeEleonora,MariadeOliveiraSoares, emMinas–que disseestaracompanhando.Por
sofreu choques elétricos e socos, além de é um capítulo à parte nesta história, documen- telefone, a ministra fez questão de ressaltar a
ameaças psicológicas envolvendo a filha de tado no curta 15 filhos, disponível para down- importância do esclarecimento dos fatos pela
pouco mais de um ano e o marido. loadgratuitonoYouTube.Publicitáriaeprodu- Comissão da Verdade, para impedir que se re-
O depoimento de Eleonora, que o Estado tora que hoje mora em Nova York, ela viveu pitamepisódiosdetortura:“AComissãodaVer-
Eleonora ganha abraço de Dilma na solenidade de posse como ministra de Minas revela com exclusividade, não foi com a avó até os 3 anos. Só então se reencon- dade será fundamental para recuperar a me-
feito pessoalmente. Em 7 de maio de 2001, ela trou com a mãe, que era socióloga e militava móriahistóricadaépocadaditadura.Oesclare-
escreveu as suas agruras ao Conselho para rei- com o marido no Partido Operário Comunista cimentodoqueocorreunaqueleperíodoservi-
vindicar o direito à indenização de R$ 30 mil (POC). Nessa e nas prisões seguintes de Eleono- rá para evitar que se repitam as torturas viven-
oferecida pelo governo de Minas aos que fo- ra, os militares ameaçavam voltar a capturar ciadaspormilharesdejovensbrasileirosetam-
ram torturados no estado. No texto, ela relata sua filha e também matar o marido dela, ten- bém as que ainda existem hoje.”
dois momentos de terror vividos em novem- tando arrancar confissões nos interrogatórios. Eleonoranãosepronunciouquantoanome
bro de 1971 no quartel militar de Juiz de Fora, Nofilme15 filhosécontadoodramadadita- de torturadores e manteve o mesmo tom do
para onde foi levada presa depois de viajar dura do ponto de vista dos filhos de militantes que havia dito anteriormente a presidente:
“brutalmente algemada” num camburão des- políticos que foram presos e torturados. Além “Nãotenhoódionemmagoa,éumsentimento
de o Presídio Tiradentes, em São Paulo. Numa deMaria,filhadaministra,assinaaproduçãodo de não perdão, de superação. Sou uma pessoa
Fac-símile com trecho do depoimento de Eleonora Menicucci noite, ela foi retirada da cela. “Fui torturada no filme a cineasta Marta Nhering, de 48. Aos 6 que superei”, disse.