Dor da lembrança: Dilma relata tortura sofrida em Minas durante a ditadura
1. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 2 4 D E J U N H O D E 2 0 1 2
3
POLÍTICA
EDITOR: Baptista Chagas de Almeida
EDITOR-ASSISTENTE: Renato Scapolatempore
E-MAIL: politica.em@uai.com.br
TELEFONE: (31) 3263-5293
Relato de integrantes da comissão mineira que ouviram o depoimento da ex-militante em 2001
ilustra a emoção que tomou conta da presidente ao relembrar o sofrimento vivido no cárcere
DOR DA LEMBRANÇA SANDRA KIEFER Mas desabou ao falar sobre o tratamento feito para de Paula, 36 anos, única filha com o companheiro de ções sobre a tortura em 2003, ao ser convidada para
conter a hemorragia no útero. “Não sei se foi pelo fa- militância Carlos Franklin Paixão de Araújo. Em se- ocupar um ministério no governo Lula. Num dos
Para ter direito à indenização às vítimas de tortu- to de ser mulher, mas nessa passagem ela não con- tembro de 2010, tornou-se avó de Gabriel, que nas- trechos de maior destaque Dilma fala sobre sangra-
raoferecidapeloConselhodeDefesadeDireitosHu- seguiu se segurar”, diz o filósofo Robson Sávio, en- ceu durante a campanha presidencial. O Hospital mentos de útero: “Hemorragia mesmo, que nem
manos de Minas Gerais (Conedh-MG), não bastava tão com 31 anos e presidente da Comissão Especial das Clínicas confirma a existência dos arquivos, mas menstruação. Eles tiveram que me levar para o Hos-
ter sido perseguido político durante o regime mili- de Indenização às Vítimas de Tortura de Minas Ge- informa que o acesso a eles é permitido apenas com pital Central do Exército. Encontrei uma menina da
tar. Era necessário denunciar a tortura sofrida em rais (Ceivit-MG). autorização da paciente. ALN (Ação Libertadora Nacional). Ela disse: ‘Pula um
território mineiro, revelando as técnicas usadas pe- Diantedorigornostrabalhosdacomissãominei- Caroline ajudou a tomar o depoimento de Dilma pouco no quarto para a hemorragia não parar e vo-
los algozes, pormenores do ambiente das celas e, se ra, a arredia Dilma Rousseff não teve saída. Contou, em Porto Alegre, que foi prestado na sala da Secreta- cê não ter de voltar’”.
possível, a identidade dos torturadores. “A pessoa pela primeira vez, ter sido torturada nos cárceres de ria de Estado de Justiça do governo gaúcho. O teste-
precisava dizer como foi torturada. É por isso que o Minas, e não só em São Paulo e no Rio de Janeiro, co- munhodurouemtornode40minutosenãofoigra- REVELAÇÕES Mas não só Dilma se abalou no depoi-
depoimento da Dilma conta a violência que ela so- mo se pensava antes. E mais. Depois de tirar o nó vado em áudio nem em vídeo, para não intimidar a mento à comissão mineira quando toca no assun-
freu em Minas”, pontua Caroline Bastos Dantas, que preso na garganta por 30 anos (ela havia sido tortu- vítima e impedir que o material tivesse um uso ina- to. Os jovens contratados para ouvi-la também se
tinha 25 anos em 25 de outubro de 2001. Ela havia radaemJuizdeFora,em1971),Dilmaemocionou-se dequado no futuro. Durante a madrugada, no com- renderam à emoção. Outras cinco vítimas de tortu-
sido contratada como secretária-executiva da co- ao revelar ter sofrido uma hemorragia de útero, de putador emprestado do hotel, Caroline repassou o ra política de Minas, que haviam se refugiado em
missão mineira, encarregada de digitar os depoi- tanto apanhar. “Na primeira vez, foi na Oban (Ope- que havia digitado. Sem laptops (caros demais há 11 Porto Alegre para escapar da ditadura, foram ouvi-
mentos pessoais. Trechos do testemunho de Dilma ração Bandeirantes). Me deram uma injeção e disse- anos),odepoimentodeDilmafoitransferidoeman- das. “Praticamente obrigávamos a pessoa a revelar,
abriram a série de reportagens que o Estado de Mi- ram para não me bater naquele dia”, descreveu tigos disquetes quadrados, depois reutilizados. no intervalo de meia hora, uma hora, momentos da
nas publica desde domingo passado sobre a tortu- aquela que, nove anos mais tarde, seria a primeira Sagitariana convicta, Dilma sempre evitou expor vida que ela tinha levado 30, 40 anos tentando es-
ra a que a presidente foi submetida nos porões da mulher eleita presidente do Brasil. o lado pessoal. Soube separar o privado do público, quecer. Não era fácil”, lembra a ex-secretária-execu-
ditadura em Juiz de Fora. Dilma contou também ter feito tratamento pa- à frente de movimentos sociais e cargos de governo. tiva da comissão, Caroline, que só concordou em
Caroline não sabia que estava sendo testemunha ra conter a hemorragia no Hospital das Clínicas. “Em Com isso, evitou reviver a tortura, mesmo antes de participar da reportagem depois de muita insistên-
ocular de um momento histórico, quando a então Minas, quando comecei a ter hemorragia, chama- chegar à Presidência da República e de se empenhar cia. “Eu tinha 25 anos e estava muitas vezes diante
secretária das Minas e Energia do Rio Grande do Sul ram alguém que me deu comprimido e depois in- pessoalmente pela instalação da Comissão Nacional de um homem de 70 anos que, em determinado
e futura presidente, conhecida por sua postura fir- jeção. Mas me davam choque elétrico e depois para- da Verdade, em maio. Não consta o depoimento de- momento, pedia ao filho que o acompanhava para
me e decidida, deixou a emoção aflorar e chorou. vam. Acho que tem registros disso no fim da minha la no livro Brasil: tortura nunca mais, volumoso es- sair da sala. Ele então contava ter sofrido violência
Dilma já havia se emocionado em outros momen- prisão, pois fiz um tratamento no Hospital das Clí- tudo sobre a repressão exercida pelo regime militar. sexual durante sua juventude política. Não se trata-
tos da conversa, quando revelou ter sido colocada nicas” , revelou a ex-militante política de codinome Novamente, Dilma sairia ilesa no livro Mulheres va de relembrar um passado heroico de militância,
no pau de arara, levado choque elétrico e um soco Estela, que, apesar do medo de se tornar infértil, não que foram à luta armada, de Luiz Maklouf, de 1998. mas uma fase ruim”, conta a hoje advogada e pro-
no maxilar que fez o dente se deslocar e apodrecer. teriaproblemasparaengravidar.Apresidenteémãe O repórter só conseguiria que ela lhe desse declara- fessora em duas faculdades de direito.
❚ SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE DILMA NO PERÍODO DA DITADURA GANHOU O MUNDO
Domingo Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira
Início da série de reportagens em que o EM revela com Bilhetes endereçados a Dilma Comissão da Verdade reage ao Identidade do torturador mineiro Ao lado do depoimento da
exclusividade o depoimento da presidente Dilma Rousseff interceptados por agentes militares foram depoimento da presidente Dilma que levou Dilma a vivenciar cenas presidente estão guardados
em outubro de 2001, no qual ela relata a tortura a que foi os responsáveis por levar a militante a e mobiliza historiadores de Minas de verdadeiro terror nos porões do quase mil processos, em que
submetida em Juiz de Fora, sob o codinome Estela. novas sessões de tortura em Minas. para analisar o testemunho. estado ainda é mistério companheiros de luta
contam com detalhes
técnicas de tortura adotadas
pelos seus algozes
341
Total de citações na imprensa
brasileira e estrangeira
PUBLICAÇÕES QUE REPERCUTIRAM A NOTÍCIA
Rússia Itália Espanha México Chile Colômbia
Pravda Quotidiano El Mundo Articulo 7 El Mercurio La F.M.
Bulgária Ansa ABC Univision Noticias Cooperativa República Sexta -feira
Focus Agence Corriere della Sera El Financieiro Argentina Peru Dominicana Inquérito militar “enquadra”Dilma como
La Stampa Te Interessa El Clarín 24 Horas El Nuevo Diario coordenadora da doutrina ideológica nas escolas.
Marrocos Il Secolo XIX 20 Minutos
Aufait El Comercial El Comercio Equador Prisão dos companheiros dela em Minas marca
Il Messagero La Vanguardia Crónica Viva início do fim do Comando de Libertação Nacional
França Il Cittadino El Comercio Cuba El Diario
El País CubaDebate El Comercio (Colina), organização a que pertenciam.
AFP La Gazzetta del Diario vasco El Liberal
Mezzogiorno La Rioja Rádio Havana
Portugal Página 12
Diário de Notícias
La Provincia Estados Unidos RV7 Rádio Paraguai Ontem
di Varese La Tribuna Hispana Tucumán Vanguardia A presidente Dilma Rousseff fala pela primeira vez
Público
MSN.News
Alemanha Bolívia Uruguai Venezuela sobre as reportagens: “Não tenho pelos
TM News torturadores qualquer sentimento, nem ódio nem
Spiegel EJU!TV El Esp El Informador
Gionarllettismo vingança. Tampouco perdão”.