O conto "Shirley Paixão" de Conceição Evaristo descreve a história de Shirley cuidando de suas filhas e das filhas de seu marido após a morte da mãe delas. Ela descobre que o marido abusava sexualmente da filha mais velha, Seni. Shirley quase mata o marido para proteger Seni. Anos depois, Seni se tornou médica pediatra e continua se recuperando do trauma. O conto explora temas de abuso infantil, justiça e cura.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA –
PARFOR/PA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA
PORTUGUESA
Conto “Shirley Paixão ”
Conceição Evaristo
DISCIPLINA: Estudos das Narrativas Orais e Histórias de Vida
DOCENTE: Mirna Lúcia Moraes
DISCENTES: Francisco Cleison Gomes Araújo
Gilkid da Silva Oliveira
2. Conceição Evaristo
► Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 29 de
novembro de 1946, em Belo Horizonte (MG)
► A autora é uma notável professora e escritora brasileira
contemporânea sendo especialmente ativa nos movimentos
pela luta negra.
► Principais obras de Conceição Evaristo
► Ponciá Vicêncio, 2003 (romance)
► Becos da Memória, 2006 (romance)
► Poemas da recordação e outros movimentos, 2008 (poesia)
► Insubmissas lágrimas de mulheres, 2011 (contos)
► Olhos d’água, 2014 (contos)
► Histórias de leves enganos e parecenças, 2016 (contos e
novela)
► Canção para ninar menino grande, 2018 (romance)"
3. Shirley Paixão
► Foi assim- me contou Shirley Paixão – quando vi caído o corpo
ensanguentado daquele que tinha sido meu homem, nenhuma
compaixão tive.
► queria acabar com aquele malacafento, mas ele é tão ruim que
não morreu!
► Quando ele veio para minha casa, trouxe as três menina. Elas
eram ainda pequenas, as minhas duas regulavam idades com as
deles. As cinco meninas tinham idade entre cinco a nove anos.
► O desamparo delas, a silenciosa lembrança da mãe morta, de
quem elas não falavam nunca, tudo me fez enternecer por
elas.
► As meninas filhas dele, se tornaram tão minhas quanto as
minhas.
4. Shirley Paixão
► Uma batalha nos esperava e, no centro do combate, o inimigo
seria ele. Mas como? Porque ele?
► Até que o tempo me deu a amarga resposta e entendi, então,
os sinais que eu intuía e que recusava decifrar.
► Seni, a mais velha de minhas filhas, a menina que havia
chegado em minha casa quando faltavam três meses para
completar nove anos, sempre foi a mais arredia.
► Em meio as cinco sobressaia pela timidez.
► Pelos seus doze anos, já era uma mocinha feita, zelosa com ela
mesma e, mais ainda com suas irmãs.
5. Shirley Paixão
► Encarei o homem que ainda era o meu marido. Ele olhava de
modo estranho para filha. Ele olhava de modo estranho para
filha.
► Temi por ela e por mim. Gritei, com raiva, para que ele saísse
da sala e me deixasse com Seni, que era filha dele.
► Por ela e pelas as outras eu morreria ou mataria se preciso
fosse.
► E necessário foi o gesto extremado meu de quase matá-lo.
► Foi com uma precisão quase mortal que golpeei a cabeça do
infame.
► Ao relembrar o acontecido sinto o mesmo ódio.
6. Shirley Paixão
► O homem não estava morto. Recuperou a vida na cadeia. Eu vivi ainda
tempos de minha meia morte, atrás das grades, longe de minhas filhas e
de toda a minha gente, por ter quase matado aquele animal.
► Hoje quase trinta anos depois desse dolorosos fatos, continuamos a vida.
► Das meninas, três já me deram netos, estão felizes. Semi e a mais nova
continuam morando comigo.
► A nossa irmandade, a confraria de mulheres, é agora fortalecida por
uma geração de meninas netas que desponta.
► Seni continua buscando formas de suplantar as dores do passado. Creio
que ao longo do tempo vem conseguindo.
► Entretanto, aprofunda a cada dia, o seu dom de proteger e cuidar das
pessoas. É uma excelente médica. Escolheu o ramo da pediatria.
10. ► A pessoa vitima de violência sexual, desde que tenha o acolhimento,
tem tudo para dar a volta por cima.
11. ► Segundo Le Goff (2003), as Narrativas Orais a linguagem
falada pela pessoa a obriga a buscar vocabulário próprio,
organizar seu discurso de acordo com seus valores, sua
forma de ver o mundo, sua forma de ver o mundo, sua
constituição cultural (crenças, valores, hábitos) e sua
história de vida.
► “Uma batalha nos esperava e no centro do combate o
inimigo seria ele” (EVARISTO, 2016, p. 26).
12. ► De acordo com Evaristo (2011), a memória e invenção são dois
elementos que fazem parte da mistura diária da sua escrita, isto é, ela
“traça[r] uma escrevivência”, ato que (con)funde a escrita e a vida, as
histórias ouvidas e as histórias vividas.
► Segundo Ecléa Bosi (2003), a “memória oral é um instrumento precioso
pelo qual desejamos constituir a crônica do quotidiano (sic)”. Por ela
faz-se “intervir pontos de vista contraditórios, pelo menos distintos entre
eles, e aí se encontra a maior riqueza”.
► “Ouvindo depoimentos orais constatamos que o sujeito mnêmico não
lembra uma ou outra imagem. Ele evoca, dá voz, faz , diz de novo o
conteúdo de suas vivências.” (Bosi, 2003, p. 44)
►
13. Considerações finais
Ao registrar as narrativas orais através de textos literários é possível
preservar e levar estas histórias para o conhecimento do público, levando a
estes determinados assuntos que nos leva a repensar e analisar criticamente
de forma enfática determinadas situações presentes na sociedade.
“Não existirá um porvir verdadeiro para humanidade e não existirá um
verdadeiro progresso, se o futuro não tiver um ‘coração antigo’, isto é, se o
futuro não se basear na memória do passado” (Distante, 1998, p. 84).
14. Referências
BOSI, Eclea. Tempo de lembrar. In: BOSI, Eclea. Memória e Sociedade:
lembrança de velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1994, p. 73-92.
LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e memória. 5 ed. Campinas:
UNICAMP,2003, p. 419-476
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Dossiê. História Oral e narrativa: tempo,
memória e identidade.
EVARISTO, Conceição. Insubmissas-Lagrimas-de-Mulheres. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Malê, 2016.
PERAZZO, Priscila. Dossiê: Narrativas Orais de Histórias de Vida- Comunicação &
inovação, PPGCOM/USCS. V, 16, n. 30 (121-131) jan-abr 2015.