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Professor Yago Martins
Prolegômenos: aprendendo a pensar teologicamente
Aula 1 – Você precisa de introdução a teologia
Por que um curso sobre introdução à teologia? Quando eu mesmo comecei a estudar
teologia, não tinha nenhum material introdutório que me ajudasse a chegar em um ponto
de conforto intelectual para começar a estudar teologia sozinho. Comecei a estudar
teologia na internet e comecei a aprender várias coisas difusas. Então, quando fui para o
seminário, percebi que tudo aquilo que julgava ser sabedoria teológica nada mais era
que uma coleção de informações vazia de qualquer poder de concatenação. Eu tinha
ideias difusas e não conseguia encaixar essas ideias no todo do conhecimento de Deus.
E quanto mais eu pesquisava na internet, mais eu recebia materiais muito divergentes.
Fossem materiais com posições contrárias, fossem materiais com níveis teológicos
muito distintos, fossem materiais cujos pressupostos por trás deles fossem os mais
discrepantes e variados. Eu não conseguia entender nem reconhecer isso. Eu sentia falta
de materiais que fossem introdutórios o bastante e amplos o bastante para me dar um
bom panorama do conhecimento de Deus para que eu pudesse a partir disso estudar por
mim mesmo. A questão é que a maioria dos materiais teológicos, mesmo que se diziam
introdutórios, na verdade, ainda pressupõem muito daquele que vai fazer essa leitura. É
muito difícil achar um material para aqueles que estão começando e desejosos de rever
as suas bases.
James Sawyer, em sua Introdução à teologia, diz que muitos dos materiais introdutórios
de hoje são destinados a estudantes mais avançados. Isso faz com que algumas pessoas
sejam escravas de certos tutores para que possam estudar teologia. E deixe-me ser claro:
você precisa de um tutor para estudar teologia! Mas é importante que você em algum
momento também aprenda a caminhar com as próprias pernas. Então, é importante que
os materiais teológicos introdutórios sejam criados por tutores interessados em lhe
progredir no caminho do conhecimento. Uma boa teologia é muito diferente de certos
modelos terapeuticos onde o terapeuta entende que ele é necessário para o seu progresso
e crescimento. Certas teorias de terapia curta, como a teoria cognitivo-comportamental
da psicologia não creem nessas coisas. Já outro movimento, como na psicanálise, crê-se
que o terapeuta é fundamental. Nessa analogia, a boa teologia está mais próxima de uma
terapia curta que de uma psicanálise. O interesse é que você não seja escravo de um
tutor específico.
A palavra de Deus diz que na Nova Aliança somos ensinados por Deus. Não precisamos
de alguém que seja um intermediário entre Deus e homens além de Cristo Jesus. Então
nossa função como mestres, pastores, teólogos e professores é fazê-lo conhecer Deus e
conhecer como conhecer Deus.
Essas questões introdutórias que trataremos aqui no curso em toda a amplitude que
queremos dar a ele é fundamental para que você possa ter os bons fundamentos da
compreensão de Deus. Um bom jogador de futebol não é um craque porque joga muitos
jogos, mas porque está sempre de novo e de novo revendo os fundamentos: treinando
passes, treinando toques de bola de novo, de novo...
Como diz novamente James Sawyer em sua Introdução à teologia, “questões
introdutórias são vitais tanto para o estudante novato quanto para o estudante
experiente” Temos uma história teológica profundamente rica e é importante que
possamos volta a ela e nos posicionarmos em um debate que é muito maior que nós.
Conhecermos os termos, conhecermos a linguagem, entendermos qual é o estado da
questão dos assuntos teológicos e fazermos isso a partir do zero e progredirmos até
chegarmos em algum lugar.
Muitos falam que só podemos ver mais longe ao estarmos nos ombros dos gigantes.
Então é importante que entendamos que estamos numa história que existe a partir de
pelo menos dois mil anos a partir de Cristo. Estamos num bonde teológico que está
andando. A história teológica é um bonde andando, e não tem como fugir disso. Você
não vai reinventar a roda, não vai avançar o saber de Deus enquanto não entender onde
você está.
Temos que preservar a fé bíblica que veio e é passada por nós através dos antigos até
aqui. Por isso temos que dialogar constantemente com o pensamento teológico que veio
antes de nós e estabelecer verdade e doutrina para o nosso tempo. Um curso de
introdução à teologia é fundamental para que possamos nos posicionar a partir da
imaturidade, a partir de um momento inicial da nossa vida e então chegarmos em algum
lugar. O objetivo desse curso é justamente pegar você pela mão e trazê-lo ao
conhecimento de Deus, fazendo com que você possa a partir dessas aulas abrir um livro
de teologia sistemática, abrir um material teológico e entender o que está escrito ali. Só
então avançar para níveis que você nunca tenha imaginado.
Nesse primeiro módulo, falaremos sobre como pensar teologicamente. E introduzí-lo a
algumas questões para que os módulos a seguir sejam ainda mais úteis para sua vida e
você esteja ainda mais preparado para aprender da Palavra de Deus. Temos grupos
secretos e privados, específicos e exclusivos, para você que é nosso aluno. Tanto no
Facebook, como no Telegram, você pode colocar suas perguntas ou mesmo aqui na
plataforma do Hotmart e poderemos interagir e conversar acerca da Palavra de Deus.
Não deixe de assistir seja ao vivo, sejam as gravações de nossas lives onde tentaremos
responder as perguntas de todos os alunos semanalmente para tentarmos então
progredirmos no caminho da palavra da verdade. Seja muito bem-vindo a esse caminho
dessa jornada maravilhosa que queremos desenvolver aqui no Teologia Descomplicada,
o nosso curso de Teologia aqui no Dois Dedos de Teologia.
Aula 2 –Somos todos teólogos
Precisamos de teologia? Às vezes isso pode ser uma coisa esquisita nas igrejas que
desprezam o saber e o conhecimento teológico, como se teologia fosse uma coisa que
você pudesse escolher ter ou não de alguma forma. Conta-se que o famoso evangelista
D.L. Moody foi desafiado por uma senhora que lhe disse “eu não concordo com a sua
teologia! ” e ele respondeu, “mas, senhora, eu nem sabia que tinha uma teologia”. A
palavra teologia vem de théos, do grego, Deus, e logos, estudo, saber ou conhecimento.
Teologia significa conhecimento, saber, ou ciência, talvez, acerca de Deus. É diferente
de teontologia - que vem de théos, que é também Deus, onto, que vem de indivíduo, ser,
a própria pessoa em si, e logos, que é o conhecimento – que é o estudo da pessoa de
Deus propriamente dito. O nosso próximo módulo, teontologia, vai estudar a pessoa de
Deus. Teologia já é tudo aquilo que fala acerca do que é divino. Isso significa que se
você tem algum conhecimento, qualquer ideia acerca da pessoa de Deus, você tem uma
teologia. Qualquer declaração ou saber que diga respeito ao transcendente, à vida da fé,
à espiritualidade, isso é teológico de alguma forma. Para onde vamos quando
morrermos? Qual é a forma correta de viver para agradar a Deus? Como o nosso culto
deve acontecer? Por onde Deus fala? Que texto tenho que ler para conhecer o Senhor?
Tudo isso é teologia. Posso ou não ter essa ou aquela prática? Posso me engajar nesse
ou naquele comportamento? São perguntas que respondemos a partir da teologia cristã.
Sempre que pensamos ou elaboramos uma ideia acerca de Deus, estamos fazendo
teologia.
A teologia é uma ciência porque busca um conhecimento da realidade, no caso, o
conhecimento de Deus. R.C. Sproul diz no seu livro Somos todos teólogos que “a
teologia não poderia ser chamada corretamente de ciência se o conhecimento de Deus
fosse impossível. A busca por conhecimento é a essência da ciência” (SPROUL, 23).
Dessa forma a ciência da teologia é uma tentativa de obter um conhecimento coerente e
consciente de Deus. Nisso podemos entender que a teologia consiste numa sapientia, ou
seja, uma sabedoria; uma ciência; e uma ortopraxia, uma ação correta. Nesse tripé da
teologia temos a teologia como sabedoria como um esforço para dar orientação para o
relacionamento do cristão com a vida e com Deus. Dessa forma, a teologia não se
resume a proposições acerca do transcendental e não envolve somente a aceitação de
crenças abstratas, mas busca um relacionamento pessoal do homem com Deus. A
teologia como ciência é vista como uma síntese do conhecimento acerca de Deus. Ela é
a sistematização da crença que temos acerca dele e daquilo que ele diz a nosso respeito.
E a teologia como ortopraxia, como ação correta, é a síntese das duas verdades
anteriores. Ou seja, tanto a sabedoria quanto a ciência devem produzir no ser humano
uma disposição a obedecer e honrar a Deus.
Em 1 Coríntios 14.20, Paulo exorta a igreja a deixar de ser criança e a pensar como
adultos. Pensar como adulto passa por um processo de conhecer o Senhor, de conhecer
o que ele espera de nós. É a teologia que nos amadurece, é o conhecimento de Deus que
nos faz progredir intelectualmente, emocionalmente e vivencialmente na nossa fé e no
nosso relacionamento com Deus. É verdade que a teologia sozinha pode virar uma
ortodoxia morta, sem prática, sem realidade na nossa vida. Porém, uma ortodoxia, ou
seja, um pensamento correto, vivida de forma profunda cria um relacionamento com
Deus que o mundo não entende e que apenas aqueles que têm essa experiência de fé
realmente podem experimentar. Uma má teologia faz com que vivamos longe de Deus
vidas que não representam aquilo que ele espera de seu povo. O povo de Deus perece,
porque lhe falta conhecimento (Oséias 4.6). Encontrar sabedoria e conhecimento de
Deus é fundamental para que saibamos como viver a vida do Senhor. Não estudamos
Deus como se disseca um sapo em laboratório, mas estudamos Deus como um marido
apaixonado lê e tenta compreender o que agrada a sua noiva.
Teologia faz diferença na nossa vida. Pense na História e na forma como a religião foi
mal-usada muitas vezes para criar catástrofes, mortes e opressão das mais variadas
formas. Uma má teologia pode levar homens a agirem de forma falsa e errada. Uma boa
teologia vai lhe ajudar a viver a vida que Deus espera que você viva. Ainda mais em
tempos como os nossos, em que a Palavra de Deus é deturpada para satisfazer anseios
dos mais variados e onde a Bíblia usada e a igreja é trazida para um relacionamento com
visões de mundo um tanto espúrias, conhecermos bem a Palavra de Deus nos protege
das heresias públicas, das falsidades à nossa volta e nos dá uma fé que realmente
representa o interesse de Deus para a nossa vida.
Teologia não é exclusiva para profissionais, pessoas eruditas, para gente que está
trancada num seminário, para gente em salas e escritórios cheios de livros. A boa
teologia é dada a todo crente. Como diz Deuteronômio 30.14, a palavra de Deus está
próxima, perto do nosso coração, perto da nossa boca. A palavra de Deus está
disponível e é a ela que nós recorremos a nossa vida.
Jesus diz, em Mateus 22.37, que devemos amar o Senhor de todo nosso coração, de toda
nossa alma e de todo nosso entendimento. Pedro diz que devemos estar prontos para
responder a razão da nossa fé (1 Pe 3.15). Uma boa teologia nos ajuda a amar a Deus
com toda nossa mente e nos ajuda a responder aquilo que o mundo realmente
acredita sobre Deus. Então a boa teologia nos afeta horizontalmente e verticalmente -
ela nos afeta nos relacionamentos com os outros e com nosso relacionamento com
Deus.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
SPROUL, R.C. Somos todos teólogos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2017
Aula 3- O teólogo como preservador, cientista e contextualizador
O que é um teólogo? Um teológo é um guardião da verdade, um cientista e um
contextualizador. Como guardião da verdade, o teólogo entende que Biblia é a Palavra
de Deus que traz verdades acerca dele ao longo de uma grande narrativa por meio dos
livros que a compõem. A Bíblia não é simplesmente um compêndio de proposições
doutrinárias. As verdades bíblicas são percebidas através do estudo daquilo que Deus
revela ao homem. A tarefa do teólogo é apresentar essas verdades para que as pessoas
possam ser conduzidas à fé em Deus. Essa atitude de fé é a mesma que foi descrita por
Agostinho e Anselmo: uma fé que busca o entendimento, a fides quarem
intellectum. Ao passo que o racionalista compreende para crer – primeiro entende para
depois depositar fé – o teólogo vai à fé para então compreender o objeto de crença.
Conforme desenvolve-se o estudo teológico, a compreensão aumentada do objeto da fé
conduz à maturidade.
Muitas vezes seremos confrontados com elementos de fé que não entendemos bem. Se
você me perguntar sobre todos os detalhes dos mistérios de Deus, as complexas relações
na Trindade, as conciliações entre soberania e responsabilidade, eu mesmo não saberei
lhe dar uma resposta coerente. Entretanto, pela fé, creio naquilo que a Escritura diz e
busco compreensão daquilo que ela diz. A fé não é fideísta. Ela não impede uma
racionalidade que a justifique, mas a fé é anterior à própria capacidade de explicar
logica e filosoficamente muitas coisas. Não porque as coisas não seriam explicáveis
logicamente, mas porque muitas vezes o que Deus cobra de nós é que acreditemos antes
de entender.
Infelizmente, ainda existem aqueles que entendem a teologia como algo puramente frio.
Os sistemas de crença “inertes” são trocados por “experiências de adoração” onde o
individualismo é incentivado. O que mais importa é o que o adorador experimenta, no
lugar do sistema de crenças que ele carrega. Esse é um dos aspectos da heresia. Que trai
o papel do teólogo como um guardião da verdade. Ela satisfaz os desejos do coração
humano, refletindo as coisas como gostaríamos que fosse e não como de fato são. Nesse
sentido, a heresia é mais uma questão de escolha do que de entendimento.
Por causa disso, a ortodoxia deve levar à elaboração de credos que servem como mapas
que norteiam o pensamento correto. Esses mapas, entretanto, não servem como fim em
si mesmos. Eles devem conduzir a uma realidade maior. O papel da tradição nesse
sentido é importante, pois, com base no que já foi dito sobre um assunto antes de
formarmos nossas ideias a respeito de algo podemos trilhar um caminho mais seguro
para a ortodoxia. O apelo cristão às Escrituras não pode ficar isolado. Isso não é um
abandono das Escrituras como única regra de fé, mas é simplesmente considerar e
analisar uma a história da igreja para que possamos constatar com mais segurança que
as posições que temos seguido não são heréticas. É bom lembrar que quando alguém se
desvincula da análise da tradição, é fácil recorrer em erros sob o pretexto de ter recebido
uma nova verdade. Os concílios que transmitem a tradição não inventam novas
doutrinas, mas apenas as preservaram.
O teólogo também é um cientista. Ele é aquele que está em busca da verdade. Ou seja,
ele admite que ela existe e pode ser encontrada. Como cientista ele investiga de forma
analítica e crítica as fontes que estão disponíveis. Seu papel é apontar as fontes de sua
pesquisa para que outras pessoas possam avaliar as conclusões dele e entender a base
sobre a qual os teólogos estão apoiados. Sendo assim, os teólogos olham em três
direções: para o texto das Escrituras; para a revelação geral e para a obra dos teólogos
do passado.
Obviamente, as Escrituras possuem prioridade e primazia nessa análise. Analisando as
Escrituras, os teólogos devem buscar um refinamento do que tem sido proposto ao logo
dos séculos. A ideia não é tanto descobrir algo novo, mas desenvolver corretamente o
que já tem sido proclamado ao longo dos anos. O teólogo irá respeitar o distanciamento
linguístico, cultural e histórico da Bíblia. Ele analisará as línguas originais e caso não
tenha acesso ao grego e ao hebraico, ele vai comparar as várias traduções. E vai agir
com humildade entendendo que as traduções possuem limitações comparadas às línguas
originais. Ele também vai perceber e dar importância aos conceitos culturais que são
distintos para não impor algo de nossa cultura à Bíblia, entendendo bem o que ela quer
dizer ao relatar determinado aspecto.
Através da revelação geral, o teólogo percebe e recebe a grandeza de Deus. E através
das obras dos teólogos do passado analisamos o que já foi proposto com nossas próprias
opiniões podemos traçar um caminho rumo a uma conclusão e a uma conclusão pessoal
mais sólida acerca de determinado problema teológico.
O modo como a teologia avança e se desenvolve é muito próximo daquilo que Thomas
Khun chamou de revolução dos paradigmas científicos. Ele desenvolveu uma
importante contribuição sobre a avaliação e constatação de paradigmas científicos. Ele
sugere que no desenvolvimento de uma ciência existirão vários paradigmas em
competição. O paradigma escolhido, a ideia do momento, por assim dizer, é a que foi
escolhida pela comunidade científica de um tempo porque melhor responde aos
questionamentos feitos pela comunidade. Esse paradigma permanece até que surjam
várias questões que não são respondidas pelo modelo vigente. Assim, o cientista terá
que reavaliar seus estudos para propor um novo paradigma que responda a essas
questões. Dessa forma, se aplicarmos Thomas Khun à teologia, veremos que as
doutrinas se desenvolvem, ou são reformuladas, quando perguntas que continuam sem
resposta e essa busca por novas respostas a questões teológicas pode proporcionar o
desenvolvimento doutrinário, um aperfeiçoamento da teologia, ou uma nova perspectiva
acerca da abordagem de determinado tema. A própria Reforma Protestante é um
exemplo disso. Cria-se em um paradigma teológico – o da Igreja Católica Apostólica
Romana – que os reformadores julgaram que tinha problemas quanto dar respostas
adequadas para as perguntas feitas. Então, algumas proposições foram reavaliadas e um
novo paradigma – o da justificação pela fé somente – o qual foi percebido e crido como
ortodoxia. Os reformadores perceberam que a igreja estava se baseando em paradigmas
errados que consequentemente conduziram sua conduta equivocada. Então, um novo
paradigma surgiu para poder abarcar melhor as questões de ordem teológica.
É por causa disso que o teólogo está constantemente explorando o mundo. Agindo
realmente como um explorador. Ele reconhece que a tradição tem seu papel, mas que
elementos novos podem ser incorporados para desenvolver a teologia, porque ela é
dinâmica, não estática. O teólogo explora elementos que podem aprimorar a teologia
vigente.
Isso está relacionado ao terceiro papel do teólogo. O teólogo como um tradutor, ou um
contextualizador. Ele deve fazer uma viagem de ida ao contexto do autor original e de
volta ao seu contexto. Nem pode se reduzir ao seu nem pode ficar só no do autor. O
teólogo tem que explicar para seus contemporâneos as verdades expostas na Bíblia. Ele
deve analisar também o contexto em que as declarações foram ditas para que elas não
adquiram significados diferentes daquilo que foi intentado originalmente. Algo que
deturparia as doutrinas a serem desenvolvidas.
A contextualização toma aquilo que foi dito em determinado momento, encontra o
âmago do ensinamento e o transporta numa cultura do ouvinte moderno. Se uma cultura
não sabe o papel de um pastor de ovelhas, João 10 não fará muito sentido. Uma cultura
que não entenda o tamanho de uma semente de mostarda e seu crescimento não
entenderá a parábola de Jesus e assim por diante.
É bem conhecido que durante a idade antiga e na Idade Média, a Bíblia ainda era vista
como um livro contemporâneo. Os teólogos não se preocupavam em entender como os
autores bíblicos pensavam em seu tempo. Eles consideravam que os seus pensamentos
eram os mesmos daqueles dos autores antigos e não conseguiam suplantar as barreiras
culturais e as diferenças linguísticas de mentalidade que existia naquele tempo para
entender corretamente como aplicar a Escritura em tempos modernos. Foi somente com
a Renascença e a Reforma que veio a compreensão que o contexto bíblico era diferente
do contemporâneo e que isso precisava ser considerado na interpretação.
O método histórico-crítico do Iluminismo apontou as “digitais humanas num sentido
real e essencial” na Bíblia. Ou seja, os autores estavam imersos em um contexto
diferente e transmitiam isso em sua escrita. Esse método, apesar de suas consequências
desastrosas em algum momento, trouxe em questão de percebemos corretamente a
cultura antiga antes de fazermos nossa interpretação. Dessa forma, uma boa
hermenêutica e uma boa exegese consideram o significado das coisas em seu tempo
enquanto uma boa teologia sistemática traz essas coisas para cá.
Eu disse que o teólogo atua como tradutor, nesse sentido que ele é um contextualizador.
Por tradutor, quero dizer o seguinte: O teólogo atua no mundo da linguística
diferenciando as estruturas superficiais das estruturas profundas da linguagem. Na
estrutura superficial está a gramática, vocabulário, pronúncia ou qualquer outro
elemento que constitui uma língua. Através disso, o significado é transmitido. Porém, a
tradução acontece quando o teólogo percebe a estrutura profunda, aquilo que está para
além da superficial e que fala das teias de significado que fazem parte de uma
mentalidade e de uma cultura. Essas estruturas profundas podem por sua vez serem
transmitidas através de outras estruturas de superfície como, por exemplo, em outra
língua. É nesse nível, abaixo da estrutura superficial que jaz o significado universal. Ele
pode ser comunicado em outras línguas (forma) porque sua estrutura profunda
(conteúdo) foi preservada. Dessa forma, o teólogo é chamado para entender essas
estruturas, pegando a mensagem e o significado de um texto, e traduzir para seu tempo
apresentando a mensagem poderosa do evangelho.
Aula 4 – A pirâmide de Erickson
Todas as doutrinas são iguais? Elas têm a mesma centralidade para a fé? Quero
apresentar para você a pirâmide de Erickson. Chamo assim a classificação das
autoridades teológicas que Millard Erickson dá em sua Teologia Sistemática. Imagine
uma pirâmide. Na base dela, você tem as afirmações diretas da Escritura. Aquilo que a
Bíblia fala diretamente e diz algo a respeito de forma clara e objetiva. São certamente
muito mais centrais e devem ser tratadas como algo muito mais importante, doutrinas
bíblicas que são declaradas diretamente pela Palavra de Deus com clareza. Esses
assuntos são importantes corolários, são nosso núcleo duro – citando o teórico Lakatos
quando fala que toda ideia tem um núcleo duro e um cinturão protetor, onde no cinturão
protetor você tem ideias que são um pouco mais maleáveis, enquanto no núcleo duro
você tem ideias centrais que nunca podem ser negadas por determinada corrente de
pensamento. Se forem, aquela corrente deixa de ser o que realmente é. Declarações
diretas da Escritura fazem parte do núcleo central do cristianismo.
No segundo nível da pirâmide, temos implicações diretas da Escritura. São inferências
que podemos fazer a partir daquilo que está escrito. Aqui precisamos levantar uma
distinção entre implicação necessária e implicação lógica. Implicações lógicas são
muitas vezes ideias que se encaixam com determinada declaração da Escritura, mas que
não derivam necessariamente daquela aplicação. Não é disso que estamos falando.
Estamos falando de inferências necessárias, ou seja, coisas que derivam diretamente
daquilo que é dito no texto bíblico. Não é a declaração do texto em si, mas são
aplicações lógicas claras daquilo que está escrito.
Um nível acima temos implicações prováveis e mais acima conclusões indutivas. Ou
seja, aqui já estamos nos afastando bastante da intenção original do autor quando ele
fala a respeito de determinado assunto para induções que podemos fazer a partir do que
é dito na passagem e conclusões que podemos induzir através de método lógico usando
premissas e conclusões. Nisso já estamos um pouco mais longe do que é dito na
passagem para tentar formular teorias em cima daquilo que é escrito num texto.
Num nível acima, já bem fora do aspecto teológico tradicional, temos conclusões
inferidas da revelação geral, onde podemos ao observar a realidade compreender
alguma coisa acerca do divino. E, por último, questões inteiramente especulativas, as
quais são pontos que devemos discutir a partir de outras ciências, mas que em termo
teológico é especulação. Alguns vão dizer que não é teologia de fato, outros chamarão
de teologia especulativa. São assuntos que estão dentro do tema da teologia, mas que
muitas vezes não são discutidos e nem é possível discutir teologicamente aquele assunto
de forma completa e total.
Essa pirâmide do Erickson é importante porque nos ajuda a ter humildade e consciência
no nosso fazer teológico. Determinada doutrina ou crença é baseada em que?
Declarações diretas da Escritura? Em implicações prováveis? Em conclusões indutivas?
Em conclusões inferidas da revelação geral? Ou é algo profundamente especulativo.
Quando começamos a analisar nossa própria teologia com base nisso, passamos a ter
mais autoconsciência em nossa forma de fazer teologia e ter mais humildade na nossa
própria avaliação teológica e mais capacidade de avaliar certas doutrinas à nossa volta.
É o exercício que você precisa fazer quando estiver lendo um livro, um material
teológico. Essa declaração provém diretamente do que é dito no texto? Era intenção
original do autor ao escrever essa passagem? Isso é só uma explicação provável? É uma
conclusão indutiva? O que é isso? Isso vem como a partir da passagem?
É um bom exercício para ser feito e uma boa lição para, nesse momento, você analisar
alguma doutrina que para você é importante a partir dessa metodologia.
Aula 5 – Teologia bíblica, histórica e sistemática.
Teologia é um termo bem amplo, então quais são as principais divisões no estudo
teológico? Se pensar em uma pirâmide novamente, terá na base pelo menos três
elementos principais: Os idiomas bíblicos, os contextos culturais, elementos
arqueológicos e seus pressupostos hermenêuticos, ou seja, aquilo que vai te levar
diretamente à interpretação do texto. Acima disso, há a exegese do texto bíblico. Ela é
exatamente a interpretação das passagens em suas línguas originais. Subindo na
pirâmide, há pelo menos três grandes tipos ou modos de fazer teologia que compõe a
metodologia para encontrarmos respostas para nossas questões de fé.
Há a teologia bíblica, ao seu lado teologia histórica e acima, no topo da pirâmide,
teologia sistemática. Teologia bíblica é uma forma de fazer teologia que procura
mostrar o modo como certas compreensões acerca de Deus progrediram ao longo da
história da revelação bíblica, mostrando como as coisas eram cridas em determinado
período ou em determinado autor da Escritura. Por isso que se fala de teologoa bíblica
de Paulo ou teologia bíblica de João. É um jeito de respeitar os contextos de cada autor
do livro bíblico e respeitar cada modo como um deles faz teologia.A teologia bíblica,
por exemplo, é quem vai localizar determinado escopo de crença em um período
específico da história da revelação como no período de Adão e Eva, Noé, no judaísmo,
ou em outros momentos. Seja o modo como Isaías ou Jeremias usam determinada
palavra ou a visão que eles têm acerca do Messias. Seja no Novo Testamento quando
você considera cada autor como um centro em si mesmo de doutrina antes de compará-
lo com as doutrinas de outro autor. Assim você consegue respeitar melhor o aspecto
humano da escrita do livro bíblico. Por mais que o autor seja divino, também há um
autor humano que deixou traços de sua literalidade no texto. A teologia bíblica não está
preocupada em responder sobre o que é que esse texto significa para minha vida, ou a
forma correta de agir nessa ou naquela situação. A teologia bíblica está preocupada em
entender como o autor bíblico, em determinado contexto, descreveu algo acerca de Deus
e dos homens.
Foi B.B.Warfield, o téologo famoso de Princeton, que disse que a tarefa da teologia
bíblica é coordenar os dados que nós recebemos no processo exegético. A teologia
bíblica é que dá base e fundamentação para uma boa teologia sistemática, porque dá o
conteúdo teológico mais profundo, visto de forma mais correta dentro de um contexto
específico para que então seja sistematizado todo esse grande escopo de conhecimento
de uma forma que responda às questões filosóficas, teóricas e práticas do nosso tempo.
Ao lado da teologia bíblica temos a teologia histórica. Como o próprio nome já diz, visa
ver como a compreensão de Deus mudou e evoluiu ao longo da história da igreja. Como
cada tempo e cada autor descreveu acerca da ideia do divino e como a igreja com o
passar dos tempos mudou ou continuou no seu processo de interpretação das doutrinas e
das passagens bíblicas. A história da doutrina nos ajuda a perceber muito das formas
como a igreja caiu muitas vezes em erro e evoluiu na sua compreensão acerca de Deus.
Ele nos ajuda a termos argumentos muito mais coerentes para interpretarmos a
passagem bíblica, entendendo que não estamos em um vácuo, mas recebemos de uma
longa tradição de interpretes que nos ajudam a ter material para trabalharmos,
concordarmos ou discordarmos da nossa leitura da Escritura.
Com base na teologia histórica e na teologia bíblica, temos a teologia sistemática. Ela
tenta formar um esquema que junte todos os dados bíblicos dentro de um ponto de
resposta comum. Quando pergunto, “um crente pode comer carne de porco? ”, não
quero saber se um judeu podia ou não comer carne de porco, nem quero saber o que
Paulo quer dizer aos Coríntios quando ele fala sobre carne de porco. Quero uma
resposta que comunique à minha vida, mas, para fazer isso, tenho que ver todo o escopo
da revelação e entender o que posso aprender com o que foi dito no Antigo Testamento,
com o que Jesus tratou do assunto, como os apóstolos levantaram a questão, como a
igreja vivenciou isso no livro de Atos e, a partir disso tudo, criar uma resposta que seja
comum à vida privada ou à vida social. No fim das contas, a teologia sistemática é que
dá as respostas práticas e pastorais para nossa vida. É aqui, na teologia sistemática, que
temos o diálogo com as outas ciências, com a filosofia, sociologia, economia, psicologia
e com outras formas de ver o mundo, as quais daremos respostas, ou os aproveitarmos
de certas compreensões que essas ciências fornecem.
Imagem cedida pelo aluno André Luís Toledo baseada na classificação de James
Sawyer.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:
SAWYER, M. James. . Uma introdução à teologia: das questões preliminares da
vocação e do labor teológico. São Paulo: Editora Vida, 2009.
Aula 7 – Analogia Fidei e Analogia Entis
Uma das diferenças entre a igreja católica e a protestante é como cada uma vê a forma
como Deus pode ser conhecido. Thomás de Aquino e João Calvino são fundamentais
para essa diferenciação. Ainda que Aquino seja muito citado e referênciado por ambas
teologias católica e protestante, ele se distingue de Calvino na compreensão do
conhecimento de Deus. Tradicionalmente, a Igreja Católica segue o pensamento de
Aquino. Ele seguia aquilo que é chamado de analogia entis ou analogia do ser.
A analogia entis é dita ser a essência do catolicismo por próprios representantes do
catolicismo como Steven Bevans. A analogia do ser está alicerçada na filosofia
aristotélica empregada por Aquino. Ela tem como ponto de partida o princípio da
inteligibilidade, o qual diz que se o ente é o objeto do intelecto, logo ele pode ser
conhecido.Ou seja, o ser humano pode conhecer o ser naturalmente. Isso se dá através
das experiências que o ser humano tem no mundo.
Existe uma continuidade entre o ser de Deus e tudo mais que foi criado. Todas as coisas
têm sua existência derivada a partir de um só ser. Aquino, para se livrar de uma
associação com o panteísmo, fez uma distinção entre forma e matéria, ou ato e potência.
Ele disse que somente uma coisa é o Ser (Deus) e tudo mais tem ser com potenciais
diferentes. As coisas que existem no mundo existem em potência. Uma mesa existe em
potência numa árvore. A árvore precisa ser cortada, trabalhada e transformada em mesa.
Esse processo de “tornar-se”é possivel porque as coisas sõ compostas de ato e potência.
Pode-se dizer que na media que realizamos a potência de uma coisa ela está em ato. De
volta ao exemplo da mesa: a mesa só existe em ato, como mesa, na medida em que sua
potência, o trabalho de transformação, é realizada. Porém, Deus é o ato puro. Deus não
tem potência porque isso o faria mutável, mas Deus como ser criador de tudo e supremo
a tudo não muda. Todas as demais coisas criadas são análogas ao Ser, portanto finitas e
mesclando ato e potência.
Assim, podemos conhecer Deus a partir da observação e experimentação do mundo,
mas sempre por analogia, nunca e totalidade. Podemos dizer que Deus é justiça, amor,
ou santidade por analogia com o que observamos. As cinco vias de Aquino são o
resultado desse pensamento. Através do uso da razão, o ser humano pode fazer
analogias e chegar ao conhecimento de Deus.
Esse conhecimento, porém, nunca é um conhecimento de identidade. Se o fosse, Deus
seria limitado. Assim, podemos conhecer mais Deus pelo que ele não é, do que pelo que
é. Deus não é conhecido em sua esssência, porque ele ainda é transcendente à criatura.
Dessa forma, as Escrituras se tornam apenas mais uma fonte de conhecimento de Deus.
Assim, o catolicismo entende que o homem não precisa da Bíblia para discernir Deus da
criação. A partir desse pressuposto, várias doutrinas católicas surgem. O resultado do
pensamento de Aquino é que Deus é totalmente acessível através da teologia natural,
mas por outro lado ele é desconhecido, porque é ato puro. Isso pode causar uma
confusão. Se falamos que Deus é amor, até que ponto essa afirmação não torna o amor o
próprio Deus em identidade? Até que ponto o amor de Deus é análogo ao de um pai por
um filho, mas em que ponto ele é totalmente diferente? A analogia entis pode levar a
sérios problemas acerca da compreensão de quem Deus é.
Outra abordagem é chamada de analogia fidei. A analogia fidei ou analogia da fé diz
que nunca poderemos chegar ao conhecimento de Deus por si mesmos. Isso só pode
acontecer por meio da revelação que Deus faz e quanto esta nos alcança. O
conhecimento de Deus se dá em sua Palavra, por meio do ES. Ou seja, só podemos
conhecer a Deus a partir da revelação especial que ele faz de si mesmo.
A própria capacidade de perceber as Escrituras como revelação de Deus e um dom
divino e não depende de nós mesmos. A analogia fidei nos leva a não procurar saber
mais do que a própria Bíblia nos fala acerca de Deus. As Escrituras são nossa regra de
fé e nossa única forma de conhecer a Deus conforme ele pretendeu se revelar.
A analogia fidei busca entender o que o autor bíblico falou em seu próprio contexto e
peça literária. Cada autor tem suas características e peculiaridades que o distinguem dos
outros. Ela também advoga que a Escritura é a própria interperte de si mesma. Textos
paralelos complementam a compreensão do que está sendo trabalhado em comum.
Entretanto, um risco que podemos correr aqui é interpretar um autor segundo os termos
outro. Às vezes, na busca de aplicar a analogia da fé cometemos o erro hermeneutico de
não deixar um autor falar dentro de seus próprios termos e acabar misturando categorias
de autores diferentes, causando assim uma confusão doutrinária. Isso não quer dizer que
a Bíblia se contradiz, mas que cada autor abordou temas de uma forma peculiar e que
pode ser distinta em abordagem de outros. De tal forma, que se aplicarmos indistinta e
impensadamente tudo o que Tiago fala sobre fé à Paulo, teremos um problema acerca da
compreensão da justificação. É preciso analisar o propósito, contexto e cotexto dos
autores antes de aplicar a máxima “textos mais claros interpretam textos mais
obscuros”. Devemos entender que pode ser propósito do autor deixar um texto obscuro.
Essa máxima pode ser utilizada para dizer que o NT interpreta o AT. O que pode nos
levar a pensar: “Como os leitores do AT interepretavam seus textos antes do NT? Eles
não precisariam dele?” A resposta de outros é que o AT tem seu contexto próprio e
interpreta a si mesmo, assim como o NT interpreta a si mesmo. A diferença entre os
testamentos se dá na progressão da revelação que torna as coisas mais claras. Portanto,
de forma resumida, a analogia fidei nos aponta que Deus só pode ser conhecido tal qual
ele quer ser conhecido por meio de uma revelação especial. Moisés não deduziu que a
sarça em chamas era Deus se revelando, foi Deus quem se revelou a ele. Da mesma
forma, Deus se revela através das Escrituras hoje para nós. É através dela que
conhecemos quem ele é pelas analogias que estão reveladas.
Aula 8 – O liberalismo teológico
É provável que você já tenha ouvido falar nos termos Liberalismo Teológico e
Neortodoxia. Esses movimentos ocorreram no século XX e muitas vezes são falados de
forma que as pessoas não entendem suas bases filosófico-teológicas. Algumas vezes
chegam até a tratá-los como sinônimos quando na verdade não são. Para isso é preciso
entender suas origens e seus pressupostos.
Primeiro de tudo, o Liberalismo Teológico veio antes da Neortodoxia e suas bases
derivam diretamente do Iluminismo, um movimento filosófico do século XVIII que
visava ser uma resposta ao tradicionalismo religioso da Idade Média e colocou o
homem como o centro da existência. Nessa época, a Razão humana foi elevada ao ponto
de se acreditar que o conhecimento de Deus poderia ser alcançado através do uso dela.
O iluminismo deu origem ao que atualmente entendemos como mentalidade moderna.
A qual tem algumas características:
• Início da história científica
• A Razão pode justificar qualquer verdade
• A natureza é a fonte primária da existência humana
• A liberdade é necessária para o progresso humano
• A herança histórica é legitimada pela crítica literária e histórica, além da
necessidade de uma crítica filosófica.
• A ética independe da religião.
• A autoridade da religião ou de uma tradição de postular uma verdade é posta em
dúvida através da razão
• A ciência é o meio pelo qual o homem pode encontrar a verdade
Um nome bastante importante desse período foi Immanuel Kant. Ele revolucionou a
forma de pensar porque se opôs tanto aos racionalistas – que diziam que o
conhecimento vinha da própria mente – quanto aos empiristas – que diziam que o
conhecimento vinha de fora, de experiências. Kant postulou que o conhecimento surge
da união entre a informação que vem até nós através dos cinco sentidos com categorias
inatas da mente humana. Mais tarde, Kant postulou que a realidade está dividida em
duas categorias: a fenomenal (aquilo que pode ser experimentado) e a numenal (uma
realidade espiritual/metafísica). O ser humano não possui categorias inatas para adquirir
informações do mundo numenal. Dessa forma, tudo que podemos conhecer é o que é
experimentado, por mais que a realidade seja mais do que isso.
Para Kant, Deus estava no mundo numenal, portanto era impossível conhecê-lo através
do uso da razão. Isso não o caracteriza como ateu. Ele acreditava em Deus, mas dizia
que era impossível de conhecê-lo. Assim, Deus deve ser conhecido por meios dos
aspectos morais que podemos experimentar e somente isso.
No século XIX, Georg Wihelm Friedrich Hegel postulou o que é conhecido como
dialética hegeliana. Para ele, a mente ou o espírito se manifesta no processo histórico e a
história carrega um significado próprio. Dessa forma, existe um processo contínuo de
progresso cultural e racional. Esse processo de evolução histórica dependia da solução
do problema entre uma tese e uma antítese que passavam a gerar uma síntese. Por sua
vez, a sintese se torna uma tese que terá sua antítese e dará origem a uma nova sintese e
assim por diante.
Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher é considerado o paid a teologia liberal, ou
moderna. Ele foi um grande teólogo que nasceu em meio o fervor iluminista e kantiano.
Ele foi educado no pietismo dos morávios. [1] Por causa disso, Schleiermacher teve
suas primeiras experiências religiosas. Quando estudava os morávios ele se deparou
com a crítica neologiana [2] sobre a ortodoxia protestante histórica. Ele rejeitou o
substituto racionalista e moralista e nessa época foi apresentado ao movimento
romântico, uma resposta ao racionalista crítico e analítico do século XVIII.
Schleiermacher se baseava em três premissas: 1) a crítica iluminista da ortodoxia
dogmática protestante; 2) a filosofia idealista romântica fundamenta a fé cristã melhor
que o racionalismo superficial do iluminismo; 3) o idealismo pode interpretar a teologia
cristã. A partir desses três pontos, Schleiermacher revolucionou o método teológico
tradicional. Ele entendia que todo homem possui uma consciência de Deus que faz o
homem ser dependente de Deus. Assim, a revelação passou a ser subjetiva onde a
experiência era a causa da doutrina. As afirmações teológicas não descrevem a realidade
objetiva, mas é o meio pelo qual nos relacionamos com Deus e percebemos essa
dependência. A autoridade final passou a ser essa experiência de dependência.
O ser humano precisa lembrar-se de Deus e ter uma experiência com Cristo em
comunidade para ser redimido. Para ele, o sacríficio na cruz não foi expiatório, mas um
grande exemplo no qual o homem toma consciência e é transformado.
Outro nome importante para o liberalismo é Albrecht Ritschl. Ele, por sua vez, via a
religião em termos de moralidade e esforço pessoal para estabelecer o Reino de Deus.
Para Ritschl e seus seguidores, é impossível conhecer a Deus como ele é em sua
essência. Ritschl seguiu uma epistemologia kantiana que entendia que tudo que o ser
humano pode compreender é aquilo que é experimentado. Ele afirmava que ninguém
poderia conhecer as coisas em si mesmas, mas apenas a forma como elas são
apresentadas no fenômeno. Como Deus está fora do domínio teórico, o ser humano não
pode percebê-lo. O homem tem que estar devoto a Jesus Cristo como aquele que revela
Deus. Assim, o empirismo ritschliano passou a investigar a vida de Cristo na história.
Quando alguém era confrontado com Jesus Cristo havia uma comunicação de uma
verdade religiosa que não era teórica. Assim, a verdader religiosa não era mais
encontrada em proposições teológicas, mas em experiências subjetivas. Com isso, a
compreensão de Deus fica sujeita ao homem. Ele não pode entender quem Deus é, mas
pode ter sua manifestação em Jesus. A experiência de Deus, seja ele qual for, é o
conhecimento religioso.
Para Ritschl, Deus era pessoal, mas não era capaz de ser conhecido. O conhecimento
dele era mediado por Cristo, o qual pudesse ser encontrado na Bíblia, a pessoa não
poderia ter conhecimento de sua morte expiatória e segunda vinda. A alma humana não
pode conhecer Deus porque está limitada aos fenômenos. Portanto, a comunhão com
Cristo consiste em imitá-lo num esforço moral em favor de seu Reino.
Um terceiro fator que contribuiu para o desenvolvimento do liberalismo foi o estudo das
religiões comparadas. A filosofia romântica levou à busca por outras religiões e a sua
forma de expressão humana. A colonização pelo mundo e o conhecimento de novos
povos e culturas permitiu o contato com diferentes expressões de religiosidade. Com
isso, a Bíblia foi estudada em seu contexto cultural. As religiões comparadas entendem
que todas as religiões expressam a verdade de formas diferentes aplicadas a seu
contexto cultural. Isso não seria diferente na questão da Bíblia. Deus havia se
manifestado de determinada forma no período do AT e do NT para seu povo localizado
no entorno de Israel, Egito, Mesopotâmia, mas isso não faria as religiões de outros
povos serem menos verdade, mas são expressões diferentes do mesmo Deus.
Adolf von Harnack também é um importante nome na teologia liberal. Ele foi
historiador do cristianismo e escreveu um livro chamado A História do dogma. Ele
operou totalmente na base do liberalismo chegando até mesmo a considerar que o NT
fora deturpado. Na medida em que o cristianismo saia do contexto judaico e entrava no
contexto helenista, essa deturpação aumentava e a religião se perdia. Ele entendia que as
influências helenísticas deveriam ser removidas para que o puro cristianismo surgisse.
Harnarck entendia que Paulo modificou a doutrina a pessoa de Cristo segundo suas
próprias compreensões. Paulo também seria o responsável por postular a morte e
ressurreição de Cristo como fatores fundamentais para a salvação. Harnack defende em
sua obra O que é o cristianismo? a paternidade universal de Deus, a fraternidade
universal do homem e o valor infinito da alma humana individual. Jesus Cristo é um
exemplo supremo e o homem está consciente o tempo todo de Deus, o qual é
perfeitamente imanente. Essas são as três características básicas do liberalismo:
• Paternidade universal de Deus.“Todos são filhos amados de Deus”. Deus está em
comunhão com sua criação. Deus é totalmente imanente e tudo passa a ser um
milagre.
• Fraternidade universal do homem. O ser humano não é visto como um pecador e
não havia distinção qualitativa entre Deus e o homem. Deus poderia ser conhecido
pelo homem e a eternidade era uma questão deimortalidade de espírito, mas não de
uma ressurreição corpórea
• Jesus Cristo é um exemplo.O liberalismo nega que Jesus é Deus. Jesus teria se
tornado o homem perfeito porque tomou consciência de Deus. Assim, ele se torna
o exxemplo perfeito que o homem deve seguir para se relacionar com Deus.
Essas doutrinas geram algumas consequências.
• A autoridade religiosa da Bíblia é desfeita. A autoridade passa a habitar no
indivíduo e não em uma fonte externa de conhecimento. A bíblia é somente um
registro dessas experiências que pode conter imprecisões e erros.
• A salvação tem um aspecto meritório. O homem passa a seguir os passos e vida de
Jesus e entre em comunhão com Deus.
• Deus trabalha no mundo de forma totalmente imanente por meio de pessoas. Isso
significa que ele não é um ser transcendente, mas que passa a ser conhecidos por
meio de princípios morais.
Algumas coisas percisam ser analisadas em relação ao liberalismo. Sua ênfase
exarcebada na imanência divina remove a distinção Deus-criação.Dessa forma, a
imanência levou à negação do sobrenatural para a ênfase só no natural. Por causa disso,
os milagres não foram mais cridos como algo forma do ordinário. Tudo passava a ser
milagre. Por causa da perda do transcendente, houve uma perda da doutrina do pecado.
Deus é distinto de sua criação por essência, fundamentalmente, mas também porque o
homem e a criação estão sob o pecado. Uma vez que essa separação é abolida para dar
lugar a uma ênfase na imanência, o conceito de pecado é perdido, não sendo mais
tratado como um mal que deturpou totalmente o homem, mas meros equívocos.
Se não há pecado, não há necessidade de salvação. O homem só precisa tomar
consciência de Deus e de que já é filho. A perda do aspecto sobrenatural levou a crítica
bíblica a considerar dificuldades interpretativas, ou limitações de revelação como erros
ou imprecisões. A Bíblia é apenas um livro humano que relata as experiências religiosas
de um povo em determinada cultura durante certo tempo. Por fim, o que restava é que a
pessoa de Cristo fosse remodelada. Para os liberais o Cristo da fé é diferente do Cristo
da história. O Cristo da fé é produto das experiências religiosas do povo e que portanto
varia de pessoa para pessoa. A crítica visa buscar o Jesus histórico, o homem que existiu
na terra e o qual devemos seguir. Ela faz isso picotando a Bíblia segundo seus critérios
para dizer quais textos são genuínos ou não para que possamos conhecer o Jesus
histórico. Esse Jesus histórico não era divino, o ser divino é produto da experiência
religiosa pessoal do indivíduo, mas um homem que andou na terra e nos deixou um
grande exemplo de como se relacionar com Deus.
Aula 9 – A neo-ortodoxia
O movimento da Neo-ortodoxia surgiu em 1920 como uma resposta ao Liberalismo. Os
teólogos neo-ortodoxos visaram combater os principais pontos do liberalismo
devolvendo à teologia a noção de transcendência de Deus, pecado do homem, aspecto
sobrenatural da salvação e as Escrituras como fonte e centro da teologia.
As implicações do liberalismo repercutiram no século XIX e início do século XX
conduzindo as pessoas a não estarem restritas às ideias de busca de perfeição moral,
arrependimento, caindo em uma profunda imoralidade e depravação. A Bíblia tornou-se
um livro de profunda análise crítica. Ela passou a ser tratada como um livro humano
passível de interpolações históricas e desprovida de seu caráter sobrenatural. Estudos no
Pentateuco levaram à formulação da hipótese documentária a qual dizia que o
Pentateuco teve sua origem de 4 fontes diferentes e que não foi Moisés que o escreveu.
Isaías foi dividido em dois autores e Daniel foi considerado como tendo escrito no
período intertestamentário. Já no NT, homens como F.C. Baur aplicaram a dialética
hegeliana para interpretar seus textos levando a concluir que as epístolas de Paulo foram
na verdade escritas por seus seguidores. Isso para dizer somente alguns ataques que a
Bíblia sofreu.
Com o advento da 1ª Guerra mundial, a mentalidade do progresso humano encontrou
um entrave. A ideia de que o homem estava progredindo em bondade se tornou vazia.
Se Deus é totalmente imanente na história como ele pode agir de tal forma que aconteça
tal catástrofe? Nesse contexto, surgiram homens como Karl Barth, Emil Brunner,
Reinhold Niebuhr e Dietrich Bonhoeffer.
Karl Barth foi um grande teólogo do século XX.Filho de pastor de uma igreja reformada
suíça estudou a filosofia kantiana, a teologia de Schleiermacher, também estudou com
Adolf von Harnack e com o teólogo bíblico e conservador Adolf Schlatter. Barth foi
exposto à teologia liberal, mas nunca a achou satisfatória. Aos 23 anos foi ordenado
para o ministério o qual durou 10 anos (1911-1921). Durante esse tempo, ele descobriu
um Deus diferente do que aprendera no seminário. Na Bíblia, ele viu Deus como
transcendente. As influências que Barth iam recebendo faziam com ele fosse se
distanciando da teologia liberal cada vez mais.
Em 1918, ele terminou a primeira edição de seu comentário de Romanos. Ele foi
influenciado por Soren Kierjegaard, do qual obteve a metodologia teológica
característica: dialética, paradoxo, decisão e crise. Quando a segunda edição de seu
comentário foi publicado todo liberalismo de Barth havia desaparecido. Em 1927, Barth
publicou a Dogmática Cristã, onde se opôs ao catolicismo e ao liberalismo. Ele
entendia a Palavra de três formas: a Palavra revelada (encarnada), a Palavra escrita e a
Palavra proclamada. A revelação vem apenas por meio de Cristo, a Palavra de Deus
revelada. Porém, o ES é uma necessário para o apreendimento da Palavra de Deus
objetiva. Para Barth, a Trindade se opõe se contrapõe a toda teologia natural e
antropocêntrica. Barth também foi influenciado por Anselmo da Cantuária quando este
diz que a fé progride em conhecimento de Deus. A fé é o começo e o fim. O
conhecimento de Deus do homem é impulsionado pela fé e sempre será incompleto,
sendo fruto da graça divina.
Emil Brunner nasceu em 1889, passou pela Universidade de Zurique e de Berlim,
obtendo seu Ph.D em 1913. Ele seguiu carreira pastoral e chegou a lecionar teologia na
Universidade de Zurique, onde estudou. Seu pensamento foi independente de Barth,
mas seguiu um caminhou similar. Seu pensamento foi moldado por uma perspectiva
socialista cristocêntrica e pelo método dialético. Ele estava convencido que a teologia
dialética tinha origem no ES, diferentemente de qualquer outro sistema filosófico ou
teológico. Brunner estudou Lutero, Calvino e sua teologia foi influenciada por
refomadores.
Ele também foi influenciado pelo filósofo Martin Buber, cujo pensamento estava
baseado em Kierkegaard. A filosofia do “eu-tu” de Buber lançou base para Buber
expressar a sua antropologia. Assim, concluiu que o conceito bíblico de verdade
envolve um encontro necessário com Deus para seu entendimento. Sem isso, é
impossível conhecer a verdade. Brunner divergiu de Barth porque admitiu uma teologia
natural. Ambos debateram. Brunner publicou a obra Nature and Grace: A discussion
with Karl Barth a qual gerou a resposta de Barth: Nein! [Não!]. Brunner passou a
enfatizar o encontro com Cristo como central à fé cristã. Ou seja, a verdade sobre Cristo
não é descoberta em discussões teológicas, mas a partir de um encontro com ele. Ele foi
responsável pela restauração das doutrinas do pecado, encarnação, ressurreição. Ele
também devolveu às Escrituras o papel normativo na Igreja.
Reinhold Niebuhr também foi bastante influente na primeira metade do século XX. Ele
era filho de luteranos e estudou no Seminário Teológico Éden, continuando seus estudos
na Escola de Divindade em Yale. Niebuhr foi bastante influenciado pela teologia liberal,
mas a considerou insuficiente para responder às questões que sua congregação
demandava. Em 1928, deixou o ministério pastoral para se dedicar como professor no
Seminário União em Nova York.
Ele foi influenciado por Kierkegaard e Barth, mas estava insatisfeito no trato deles das
questões éticas. Sua primeira importante obra foi Moral man in Immoral Society, em
1932 e depois escreveu The nature and destiny of man, em 1939. Niebuhr se opôs ao
liberalismo e formulou o que é conhecido como realismo cristão. Para ele, o homem
deveria pensar a si mesmo como pecador e santo, estando sujeito às forças da História,
mas sendo formador delas, era uma criatura de Deus, mas era um criador de coisas. A
cruz foi vista como aquilo que venceu as forças pecaminosas do mundo.
Niebuhr entendia que o pecado era um problema para o homem. O homem era
depravado em sua raiz. Os melhores esforços humanos eram infectados pelo pecado.
Sua doutrina era uma sintese entre o que a Renascença e a Reforma ensinavam.
Outro nome importante da Neo-ortodoxia foi Dietrich Bonhoeffer. Ele nasceu em 1906
e estudou filosofia e teologia em Berlim e Tübingen. Foi educado na teologia liberal
sendo aluno de Harnack, Deissmann e Seeberb, mas rejeitou o liberalismo e defendia
pontos parecidos com Barth. Ele foi ordenado como pastor luterano em Barcelona.
Passou um tempo estudando no Seminário União em Nova York e depois voltou para
ser professor de teologia em Berlim.
Ele tornou-se o líder da igreja confessante, a qual fazia parte da igeja luterana estatal e
se opunha ao programa nazista da época (1934). Bonhoeffer ficou conhecido por sua
oposição ao nazismo e a Hitler. Essa oposição foi tão forte que ele envolveu-se numa
conspiração para assassinar Hitler, mas foi descoberto e condenado à forca poucos dias
antes da queda do Terceiro Reich. Por causa disso, ele é considerado um martir por
muitos.
As características gerais do movimento neo-ortodoxo são as seguintes:
1. Dialética como método teológico. Esse método pressupõe que há uma diferença de
qualidade entre Deus e a criação, e que a verdade não pode ser afirmada de forma
análoga. A verdade é encontrada por meio da dialética (tese-antitese-sintese) das
declarações que são aparentemente paradoxais nas Escrituras: Jesus como Deus e
Homem; Transcendência de Deus e sua autorevelação; seres humanos são pecadores e
livres etc.
2. Deus é totalmente outro. Isso é totalmente diferente do liberalismo. Dizer que Deus é
totalmente outro significa que ele é um ser completamente distinto de toda a sua
criação, ou seja, totalmente transcendente. Essa resposta de ênfase na transcendência foi
dada devido o antropocentrismo evidencidado pelo liberalismo.
3. A Bíblia contém a Palavra de Deus. Isso siginifica dizer que neo-ortodoxos não
criam que a Bíblia é a Palavra de Deus em si mesma. Isto é, eles não defendiam a
inspiração verbal das Escrituras. Para eles, as Escrituras são um registro do encontro de
Deus com os escritores. Assim, Deus usa o texto para ter um encontro com os leitores. É
nesse momento, desse encontro, que Deus se revela ao leitor, é nesse momento que as
Escrituras se tornam a Palavra de Deus. Como livro humano, a Bíblia é falível,
entretanto Deus usa esse registro para proporcionar um encontro com os leitores.
4. Rejeição da teologia natural. A teologia natural – tanto a vertente tomista da igreja
católica, quanto a do liberalismo – foi rejeitada pela tradição neo-ortodoxa. Uma vez
que neo-ortodoxos consideram Deus totalmente transcendente, é impossivel que a
revelação geral comunique algo redentivo a seu respeito. Aquilo que Brunner admitia
era o conhecimento rudimentar de Deus, mas não era salvífico.
5. Cristologia. Jesus é visto como o Deus-homem, 100% Deus, 100% homem. Barth
afirma que a morte de Cristo é expiatória e de fato reconcilia a humanidade com Deus.
Porém, a expiação na visão de Barth tem indícios de universalismo. Ainda que ele tenha
se recusado a afirmar tal doutrina, ela parecia ser a conclusão lógica de suas
considerações.
6. Realismo bíblico. Esse era o conhecido ensino de Reinhold Niebuhr. O ensino
reafirmava a natureza totalmente depravada do ser humano. A neo-ortodoxia reafirmou
que o homem se encontra num estado de rebelião contra Deus e uma separação radical
dele.
7. Teologia Bíblica. A neo-ortodoxia proporcionou o surgimento de estudos na área de
teologia bíblica. Com a publicação de Der Römerbrief de Barth, várias obras foram
publicadas. Esse movimento enfatizava o estudo da Bíblia em suas próprias categorias.
Isso significa entender a cosmovisão por detrás daquele período.
8. Revelação na história. O movimento neo-ortodoxo entendia que a revelação não era
proposicional, mas que era o entendimento humano de como Deus se encontrava com
seu povo. Isso se opõe ao entendimento fundamentalista que vê a Bíblia como um livro
de proposições religiosas e verdades eternas, e ao liberalismo, que vê a Bíblia como
somente uma expressão religiosa de determinado povo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
SAWYER, M. James. Uma introdução à teologia: das questões preliminares, da
vocação e do labor teológico. SP: Editora Vida, 2009.
Teontologia: o Ser de Deus e seus atributos
Aula 1 – Teorias sobre a existência de Deus
Existem muitas teorias acerca da existência de Deus, as chamadas Teorias de
Divindade, ideias sobre a existência ou não-existência de Deus. E, se Deus existe, como
é que ele existe.
A primeira delas é o teísmo. "Teísmo" vem da palavra grega θεός [theós], "deus".
Teísmo significa acreditar que existe um deus, qualquer deus que seja. O teísmo se
manifesta de muitas formas, como no teísmo cristão, no teísmo islâmico, no teísmo
indígena etc. Existe um teísmo para cada divindade adorada pelos homens.
É justamente do termo "teísmo" que temos a segunda posição que é o ateísmo. A
partícula “a-“ aparece geralmente como uma negação. Ateísmo seria a negação de Deus.
Tecnicamente, todo ser humano é meio ateu. Se sou teísta com relação ao Deus cristão,
sou ateu em relação a deuses hindus, por exemplo. Quem é teísta para um deus é,
geralmente, ateu para outros deuses. Mesmo assim, geralmente alguém se apresenta
como ateu ou se fala do termo ateísmo em referência a uma negação de toda e qualquer
divindade.
Próximo disso, você tem o agnosticismo. No grego, γνοσκω [gnosko] fala de
conhecimento. O agnóstico é alguém que nega o conhecimento – mas não o
conhecimento absoluto. Mais apropriadamente, o agnóstico nega a possibilidade do
conhecimento a respeito de Deus. O agnóstico nega que é possível conhecer se Deus
existe ou não. Esse termo foi usado pela primeira vez por um biólogo e filósofo inglês
chamado Thomas Huxley. Ele usou esse termo para falar sobre a ideia de uma crença
suspensa. Muito chateado com os dogmas da igreja, ele decidiu que não valia a pena
mais fazer alegações a respeito da divindade.
Há quem diga que o agnóstico é o ateu covarde, alguém que não acredita em Deus, mas
não tem muita coragem de falar a respeito. Não é uma forma muito correta (nem muito
educada) de se referir aos agnósticos. Agnósticos são pessoas que duvidam da
possibilidade de discutir o metafísico e de chegar à conclusões válidas a respeito
daquilo que, segundo eles, está fora do campo normal da argumentação. Nós podemos
argumentar sobre assuntos científicos, coisas que podem ser provadas no laboratório,
aquilo que é sensível; questões metafísicas, para além da matéria, são assuntos que não
poderiam chegar, de forma alguma, à mente do ser humano. São assuntos que seria
inócuo discutir e tentar debater a respeito disso.
Dentro dos teísmos mais comuns, nós temos o politeísmo. No grego, o termo πόλυς
[pólus] significa "muitos". Assim, politeísmo seria a ideia que existem várias
divindades, talvez em competição, talvez em harmonia, à nossa volta. Dentro do
politeísmo, existem a monolatria e a polilatria. Uma vez que existam vários deuses
dentro do politeísmo, você pode adorar apenas um desses deuses, que é a monolatria,
onde "mono" vem de "único" e "latria" vem de "adoração", ou adorar vários deuses, que
seria a polilatria. Um politeísta monólatra é alguém que acredita em vários deuses, mas
adora um único deus contra os outros. Enquanto um politeísta que comete polilatria é
um politeísta que acredita na adoração de vários deuses. A monolatria também é
conhecida como henoteísmo, com hen- significando “um”, em grego. Foi Max Miller,
um historiador alemão das religiões, que cunhou esse termo para falar de pessoas que
vivem no contexto da existência de vários deuses, mas que escolhem um único deus
para adorar.
Existe também o panteísmo. No grego, παντα [panta], πας [pas] e πασιν [pasin] muitas
vezes são usados para falar de "tudo" e "todos" de alguma forma. Falar de panteísmo é
falar que deus é tudo, que deus se manifesta através de tudo, que as coisas são deus de
alguma forma. Ou seja, acredita-se numa íntima relação entre a existência e a identidade
de deus e a existência e identidade das coisas. O que as coisas são, o que somos e o que
deus é confundido numa coisa só.
O panteísmo tem uma variação chamada de panenteísmo, que é a ideia que deus está
em tudo. Por mais que não exista uma confusão tão profunda de identidade entre quem
é deus e o que são as coisas, ainda assim deus está contido em todas as coisas.
Muito próximo da ideia de panteísmo, temos o que é chamado de monismo, que vem do
termo grego "apenas", "só" ou "único". O termo foi cunhado pela primeira vez por um
filósofo alemão chamado Christian von Wolff e é uma prática e uma visão muito
comuns no hinduísmo, por exemplo. E é muito próximo do panteísmo como
conhecemos.
Por fim, temos o deísmo. O deísmo é a perspectiva de que existe um deus e esse deus
criou tudo e mesmo assim se afastou do universo. Ele deu o pontapé inicial, colocou as
engrenagens do relógio para girar, mas então não se envolve mais com a criação. O
deísta é um teísta. Ele acredita em deus, mas um deus que está distante, longe e que não
pode ser alcançado.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
Antonio Gilberto (et al.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro, RJ: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 2008, p. 53-55.
Aula 2 – Podemos conhecer Deus?
Daremos início ao nosso curso falando de onde tudo começa: com a pessoa de Deus.
Tudo começa com esse Senhor que criou tudo, segundo a teologia cristã, e deu sentido
para todas as coisas. Quem é Deus? Como percebemos Deus? Como é que Deus cuida
de tudo? Como é que Deus se revela? Esse é o assunto da teontologia, ou da teologia
propriamente dita.
O termo teologia significa, basicamente, o estudo de Deus. “Teo” [θεος], do grego,
significa “Deus”, e logia [λόγος] vem de palavra, estudo, razão,
conhecimento. Teologia virou o nome de todo o estudo sobre Deus, de tudo aquilo que
se fala a respeito de quem é o Senhor. Então, dentro da teologia sistemática, quando
você monta as várias doutrinas que compõe o cristianismo, seja bibliologia – o estudo
da Bíblia – ou cristologia – o estudo de Cristo –, se eu chamar teologia do estudo de
Deus, estarei dizendo que outras coisas não são teologia. Então, muitos teólogos tiveram
que dar um jeito para nomear a matéria que estuda o nome do Senhor. Enquanto
Teologia estuda tudo aquilo que fala a respeito de Deus, Teontologia se tornou um jeito
de chamar essa doutrina dentro da sistemática, ou o que os teólogos também chamam de
teologia propriamente dita – a qual seria teologia como o estudo de Deus diretamente.
Nesse primeiro módulo falaremos justamente de teontologia, a teologia propriamente
dita, do estudo a respeito do nome do nosso Senhor.
É possível conhecermos de fato Deus? É possível realmente conhecermos Deus? É
possível entendermos e compreendermos o Senhor? Canções populares chegam a dizer
que ninguém explica Deus e, de fato, em nível último e absoluto, nunca conseguiremos
ter um conhecimento exaustivo do Senhor. É impossível que consigamos entender Deus
em sua completude e totalidade. Ele é eterno, ele é imutável, ele transcendente, ele é
aquilo que teólogos do século XX chamavam de totalmente outro. Ele não é
completamente acessível pela mente humana. É comum que na teologia tenhamos
dúvidas e fiquemos com certas questões não respondidas, e isso justamente mostra o
fato que Deus é muito maior que nós. É normal não termos todas as respostas porque
Deus é a verdade acima de qualquer coisa e está muito acima das nossas compreensões.
Calangos não entendem seres humanos da mesma forma que seres humanos entendem
os calangos (aqui no Ceará, calango é o nome dado para aquelas lagartixas que ficam
nas paredes). Se você tentar imaginar um inseto, uma pulga, por exemplo, tentando
compreender o ser humano, isso não é possível, mas nós compreendemos as pulgas e os
insetos muito melhor do que vice-versa.
Deus nos deu uma revelação e uma mente para compreender as coisas, mas, ainda
assim, não conseguimos compreender tudo de forma completa. Quando lemos 1
Coríntios 13, Paulo diz que hoje vemos as coisas como que por um espelho. Nós vemos
as coisas reveladas num momento pequeno, breve, suficiente, mas haverá um dia em
que conheceremos a Deus como hoje somos conhecidos. Por mais que haja polêmicas
interpretativas em 1 Coríntios 13 – e certamente abordaremos isso em algum momento
do curso – a ideia do texto é que nós hoje, mesmo através da revelação da Escritura,
vemos Deus por meio de um material de bronze que por ser bem polido e brilhoso
conseguimos perceber algum reflexo, mas ainda assim não conseguimos ver Deus em
sua grandeza e totalidade.
Isso entra em uma das grandes polêmicas da teologia sistemática e da revelação de
Deus, que é sobre a teologia positiva e a teologia negativa – respectivamente, a
teologia catafática e teologia apofática. Apofático vem de aposfemi, no grego, que
significa basicamente negar. Portanto, a teologia apofática, também conhecida como
teologia negativa, é a ideia que fazemos teologia basicamente através de negações. É
um estudo de Deus, principalmente, através de suas diferenças. Ela se recusa a
interpretar Deus a partir da realidade e que simplesmente precisa entender o que
Deus não é antes de entender o que Deus é. Ao contrário disso temos a teologia
catafática que é própria da tradição ocidental. Ela tenta encontrar Deus justamente a
partir daquilo que é dito sobre ele, seus nomes e atributos.
A teologia negativa, por mais que tenha alguns intelectuais que a seguiram no ocidente,
é muito próxima de teologias místicas e de pessoas que não seguem uma perspectiva
próxima do cristianismo geralmente. A teologia positiva é a ideia de que há um Deus
que se revela, que se manifesta, que se mostra, que se dá a conhecer através de alguma
revelação. Revelação essa que os cristãos acreditam ser a Palavra de Deus. Nós
estudamos teologia propriamente dita antes de estudar bibliologia porque a revelação é
uma revelação de um Deus. Cometemos um erro metodológico, por assim dizer, porque
a Escritura é a base do que vamos discutir acerca de Deus, mas cometemos uma
coerência lógica, no sentido de que entendemos que Deus vem antes de sua própria
revelação. Ao ler a Bíblia, lemos sobre um Deus que se revela positivamente. Fazemos
teologia propositiva, sim, cremos em uma teologia positiva, mas sem desconsiderar a
grande lição da teologia negativa de que não conseguimos nunca entender Deus em sua
completude e em sua totalidade.
É claro que ninguém explica Deus de forma extensiva e absoluta. Mesmo assim, Deus
se revela, se explica, se mostra, se apresenta e nisso podemos construir teologia de
forma positiva, de forma proposicional, entendendo aquilo que a revelação fala sobre o
nosso Senhor. É claro que Deus se revela a nós fora da Bíblia – falaremos melhor disso
em bibliologia. Temos um Deus que se revela na natureza, que se mostra através das
coisas criadas e que podemos percebê-lo através da criação. Porém, esse mesmo Deus
se revela de forma extensiva, mais clara, justamente na sua revelação especial. Essas são
as diferenças de termos que iremos estudar em Bibliologia. Revelação geral é a
revelação de Deus na natureza e a revelação especial que é a revelação de Deus na
Palavra.
Esse Deus que se revela na palavra permite que o conheçamos para além da simples
manifestação dele na natureza. Se você olhar para natureza, de fato perceberá algumas
coisas sobre Deus. Na carta de Paulo aos romanos, no primeiro capítulo, a partir do
verso 18, diz que Deus se revela de alguma forma nos céus e na coisa criada, mostrando
o seu imenso poder. Se você olha à sua volta, percebe que existe uma divindade, que
existe um Senhor, um Deus que criou tudo e que formou todas as coisas. Ele é criativo
por causa da criatividade da criação. Ele é poderoso por causa do poder dos fenômenos
naturais. Ele é bondoso por causa de todas as coisas maravilhosas que encontramos na
criação. Ele possui uma ira que se manifesta na coisa criada por causa de todo furor que
nós encontramos à nossa volta. Há um Deus que é revelado na criação, mas não de
forma total, completa. Na Escritura, temos muito mais a respeito de quem é esse Deus e
nela podemos fazer uma teologia positiva, uma teologia que se baseia em fazer
proposições acerca do Senhor.
Claro que toda verdade sobre Deus é uma verdade diminuta. Existe um nível de
humildade que tem que nos fazer acreditar que de fato não iremos conseguir mesmo
através das revelações teológicas entender Deus em sua grandeza. É bom entender que
Deus, ao falar na Palavra, balbucia a respeito de si mesmo. Ainda que leiamos que ele é
soberano, bom, justo, isso ou aquilo, no fim das contas estamos ouvindo uma
aproximação da nossa mente daquilo que Deus é. Ele é tão poderoso, incrível e tão além
de nós que de fato ele se diminui para que possamos compreendê-lo. De fato, quando
ele se revela, ele balbucia acerca de si mesmo. É como explicar para uma criança a
complexidade do ser humano: é uma verdade o que é dito, mas é uma verdade dita
numa linguagem infantil. Deus se revela e nos apegamos a essa revelação como verdade
porque ela já é elevada para nosso raciocínio. A doutrina da Trindade é elevadíssima
para nossa compreensão humana, ainda assim é uma verdade mesmo que não
consigamos sequer tocar nas profundidades da grandeza de quem é o Senhor.
Todo pregador, no fim das contas, é um fracassado. Quando um pastor prega num
domingo, por exemplo, ele precisa sair sabendo que fracassou na sua missão em algum
nível. Se a missão dele é mostrar como Deus é grande, como Deus é bom, justo,
maravilhoso, ele pode até falar por horas, e ainda assim ele não terá conseguido mostrar
como Deus é grandioso, bondoso e incrível.
O teólogo, pastor e missionário americano Paul Washer diz que o pregador não é um
microscópio que pega coisas pequenas e aumenta para os outros verem. Pelo contrário,
ele é um telescópio que pega astros, estrelas enormes e deixa pequeno para que nosso
olho entenda. A teologia é uma forma de tentar apreender Deus em sua grandeza. É um
trabalho fracassado, mas é maravilhoso, porque Deus se revelou em um nível que
podemos compreender.
C. S. Lewis, famoso autor protestante escritor de As Crônicas de Nárnia, disse que
Deus não se faz de doutor diante de uma lavadeira. Deus não se fez de doutor diante de
homens pequenos como nós e deixou que nós o compreendêssemos. Ele deixou que nós
o entendêssemos.
Nesse módulo de teologia propriamente dita, entraremos nessa jornada de olhar para
aquilo que Deus revelou si mesmo.
Aula 3 – Os Nomes de Deus
Deus é chamado de muitas formas na Bíblia. O nome mais simples usado para
representar Deus na Bíblia é ’el (‫ֵא‬‫ל‬), do hebraico. De acordo com a maioria dos
filólogos, aqueles que estudam línguas e palavras, essa palavra significa o Senhor mais
preeminente ou primário, ou aquele que é forte e poderoso. O nome ’eloah (‫ֶא‬‫)ֹלה‬,
singular de ’elohim (‫ֶא‬‫ם‬‫י‬ ִ‫)ֹלה‬, procede da mesma raiz que ’el e aponta para Deus como o
Deus-Forte ou como objeto de temor. O nome no singular é mais poético e raramente
usado, já o plural é o nome comum de Deus.
Alguns argumentam que se referir a Deus no plural, 'elohim, evidenciaria o uso hebraico
chamado de “plural de majestade”, o qual é um plural para se referir a alguém muito
importante. Porém, vários teólogos argumentam que isso nunca é usado na Escritura e
que esse argumento é só uma tentativa de fazer parecer que a Trindade já não estava
manifesta no Antigo Testamento e que não existia nenhuma pluralidade na pessoa de
Deus nas Escrituras hebraicas. 'Elohim, o termo plural para se referir a Deus, evidencia
a Trindade e essa pluralidade dentro da figura divina. Outros argumentam que
como 'Elohim aparece muitas vezes com um adjetivo ou com um verbo no singular,
seria melhor interpretá-lo como um plural de abstração (segundo Ewald) ou como um
plural de quantidade, que é usado para se referir a uma entidade ilimitada (segundo
Oehler), ou como plural intensivo que serviria para expressar a plenitude de poder de
Deus (segundo Delitzch). De fato, poucas vezes 'Elohim aparece na Escritura com um
adjetivo ou verbo no plural (Gn 20.13; 28.13s; 35.7; Êx 32.4, 8; Js 24.19; 1 Sm 4.8;
17.26; 2 Sm 7.23; 1 Rs 12.28; Sl 58.11 [12 TM]; 121.5; Jó 35.10; Jr 10.10). No
singular, aparece apenas 57 vezes no Antigo Testamento hebraico, sendo 41 só no livro
de Jó, enquanto que no plural encontramos 2.570 vezes.
Referências a Deus no plural também ocorrem com outras palavras
como qedoshim (‫ְק‬‫ם‬‫י‬ ִ
‫דֹוש‬ Pv 9.10; Os 11.12 [12.1 TM]), em ’osim ( ‫ע‬
‫ים‬ ִ
‫ש‬ , Jó 35.10; Sl
149.2; Is 54.5), em bôr’îm (‫ים‬ ִ
‫א‬ ְ
‫בֹור‬, Ec 12.1) em Adonai (‫ְא‬‫ָי‬‫נ‬ֹ‫)ד‬. Esse último nome é muito
importante para se referir a Deus no Antigo Testamento. A palavra aparece exatamente
449 vezes no Antigo Testamento como referência ao Senhor. Em 134 vezes, aparece
sozinho, e em conexão com YHWH, 3I5 vezes. Por isso, alguns teólogos argumentam
que Adonai é um dos nomes de Deus. O nome que expressa soberania e senhorio sobre
o universo e que não seria apenas um título atribuído a ele. O termo Adonai, no
hebraico, significa literalmente, “meu Senhor”, e nunca é usado como pronome de
tratamento. Para isso, o hebraico usa Adoni ou Adon, nunca Adonai. Todas essas
construções plurais evidenciam Deus como completo, pleno. Sendo ele a plenitude da
vida e do poder. Para muitos teólogos, isso apresenta essa característica mais plural da
pessoa divina, evidenciando já no Antigo Testamento uma Trindade.
A palavra ’elyon (‫ֶע‬‫ן‬‫יֹו‬ִ‫)ל‬ também é usada para se referir a Deus, possuindo o prefixo ’el e
significa aquele que é exaltado acima de todas as coisas (Gn 14.18; Nm 24.16; Is
14.14). Porém, esse nome não é usado para se referir somente a Deus no Antigo
Testamento. Essa palavra também é usada para se referir a falsos deuses, e a ídolos,
quando as pessoas cometem idolatria e adoram essas falsas divindades (Gn 33.12; Êx
7.1; 4.16) e autoridades (Êx 12.12; 21.5-6; 22.7; Lv 19.32; Nm 33.4; Jz 5.8; 1 Sm 2.25;
Sl 58.1; 82.1), mas é um nome usual também pelo qual Deus é designado.
El Shaddai (‫ֶא‬ ‫ל‬
‫י‬‫ד‬‫ש‬ ) designa Deus como aquele que generosamente supre todas as coisas
(Gn 17.1; 28.3; 35.11; 43.14; 48.3; 49.25; Êx 6.3; Nm 24.4). El Shaddai é o Deus que
faz com que todos os poderes da natureza sejam sujeitos e subservientes à obra da graça
no mundo. Esse nome evidencia Deus como aquele que se dá ao seu povo e garante o
cumprimento de suas promessas. É a palavra usada para falar do Deus de Abraão,
Isaque e Jacó (Gn 24.12; 28.13; Êx 3.6), do Deus dos patriarcas (Êx 3.13, 15), dos
hebreus (Êx 3.18), de Israel (Gn 33.20). Significa, literalmente, “Deus todo poderoso”.
Por mais que existam esses nomes que são usados para se referir a Deus e falar sobre
ele, o nome pelo qual ele é mais conhecido no Antigo Testamento é o famoso
tetragrama (‫)יהוה‬. Tetragrama porque são quatro letras que compõe o nomo próprio de
Deus. Ele tem um nome que é descrito em quatro letras. A pronúncia desse nome foi
perdida. Como os antigos judeus não escreviam as vogais das letras, mas o registro da
língua hebraica se dava apenas com as consoantes e o som era passado apenas por
tradição oral, com o tempo as pessoas pararam de falar o nome de Deus, por causa do
medo de falá-lo e pararam de falá-lo de forma total, ao ponto da tradição oral não ter
preservado qual era a pronúncia do nome de Deus. Nós temos quatro consoantes, mas
não as vogais. Essas consoantes, se fossem traduzidas para o português, seriam YHWH.
Um grupo de judeus conhecido por massoretas começou a criar grafias para representar
o som das vogais no hebraico. Se você pegar o texto massorético, notará certas
pequenas marcações abaixo das consoantes que representam o som das palavras. O
motivo que pelo qal aparecem mais acentos nas vogais no hebraico é porque ela não
caberia como uma letra em manuscritos antigos. Eles tinham que conseguir pegar um
manuscrito pronto e adicioná-las. Não tinha como criar um espaçamento maior entre as
letras, então as vogais ficaram como pequenas marcações abaixo de cada consoante. O
que aconteceu é que como ninguém sabia quais eram as vogais do tetragrama,
adicionou-se as vogais de Adonai – que era um nome muito usado para falar de Deus.
Por isso, o nome comum do Senhor é pronunciado como Jeová, Javé ou Yeowah e
algumas derivações que apresentam essa tentativa de reconstruir qual é o nome de
Deus.Muitas bíblias traduzem simplesmente SENHOR apresentando Deus como
alguém que é o Senhor Adonai sobre tudo e sobre todos.
Muitos interpretam que o nome de Deus tem um significado que é compreensível e
encontrado na Escritura. Significaria Deus como aquele que é ontem, hoje e sempre.
Deus se revelou a Moisés através desse nome, justamente como aquele que é. Para
Abraão, esse nome significou provisão para o sacrifício do seu filho Isaque. Ele
apareceu como Jeová Jireh – o SENHOR que provê (Gn 22.14). Prometendo livrar os
filhos de Israel daquelas pragas e daquelas enfermidades que sobrevinham e dos
egípcios, ele se manifestou como Jeová Rafá – o SENHOR que sara/cura (Ex 15.26).
Na época de angústia dos juízes de Israel, ele apareceu a Gideão como Jeová Shalom –
o SENHOR é a paz (Jz 6.24). A todos que peregrinaram na terra, ele se apresentou
como Jeová Ra’a – o SENHOR é meu pastor (Sl 23.1). Yahweh Tskednu significa
SENHOR justiça nossa (Jr 23. 6). e Jeová Nissi significa o SENHOR é a minha
bandeira (Ex 17.15). Ele se revela assim na batalha contra o mal e contra o pecado. E no
futuro – talvez já nos novos céus e nova terra, para os aliancistas, ou no milênio, para os
dispensacionalistas (assunto para o módulo de escatologia) –, ele será chamado
de Jeová Shamá, o SENHOR está ali (Ez 48.35).
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
Esequias Soares (et al.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro, RJ: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 2008, p. 53-55.
Aula 4 – O que são atributos de Deus?
Quando falamos sobre quem é Deus, geralmente estamos discutindo sobre os atributos
de Deus. Para definir quem é o Senhor, iremos defini-lo a partir de suas características.
Quando você vai definir alguém, precisa trazer à tona coisas a respeito dele. Ele é alto,
baixo, loiro, negro, branco, feio, gordo que nem eu, magro como você etc. As pessoas
possuem características e o que difere uma pessoa de outra é aquilo que as pessoas são.
Quando falamos sobre quem Deus é, estamos falando sobre os atributos de Deus, esse é
o nome que é dado na teologia, quem Deus é e quais são as suas características.
Definindo atributos de Deus, atributos de Deus, Erickson define como "aquelas
qualidades de Deus que constituem o que ele é – as características exatas de sua
natureza". Ele continua:
Os atributos são qualidades como um todo. Não devem ser confundidos com
propriedades, que, falando tecnicamente, são as características distintivas das diversas
pessoas da Trindade. As propriedades são funções (gerais), atividades (mais
específicas) ou atos (os mais específicos) de cada membro da divindade. (ERICKSON,
256-257).
Isto é, o Deus-Pai teria uma característica, o Filho outra característica, o Espírito Santo
outra característica. Essas características mais distintas não são atributos, mas
propriedades. Por exemplo, quem morreu na cruz? Quem morreu na cruz foi o Deus-
Filho. Quem foi enviado depois do Deus-Filho para a terra? Foi o Espírito Santo. Não
foi o Espírito Santo que morreu na cruz, foi Jesus. Não foi Jesus que foi enviado depois
que Jesus subiu, afinal, ele disse que enviaria o outro consolador depois de sua ascensão
– que seria o Espírito Santo. Esses detalhes serão trabalhados melhor em cristologia e
pneumatologia.
Cada pessoa da Trindade possui características, atos e ações na realidade diferentes
umas das outras. Essas coisas não são atributos distintos, mas propriedades distintas.
Isso está atrelado ao que falaremos posteriormente sobre Trindade econômica e
Trindade ontológica. Existem os atributos ontológicos da Trindade – aqueles que são
próprios de quem a Trindade é. Mas também existe uma economia da Trindade – suas
manifestações em contato com a realidade.
Em seus atributos, Pai, Filho e Espírito Santo são idênticos. Já em suas propriedades,
como disse Erickson acima, eles têm atuações distintas.Ele diz que essas propriedades
são funções, atividades ou atos de cada membro da Trindade e continua dizendo que “os
atributos são essas qualidades intrisecas, que não podem ser adquiridas nem perdidas”
(ERICKSON, 257). Já o teólogo Norman Geisler argumenta que atributo é
a “característica que pode ser atribuída à natureza de Deus – um traço essencial de
Deus. Outros termos para atributo são ‘propriedade’, ‘perfeição’ ou ‘nome’”
(GEISLER, 17). Onde o que é dito sobre o nome de Deus é dito sobre a pessoa em si, a
característica de quem é a pessoa. Quando digo que louvo o nome de Deus, estou
louvando quem Deus é por aquilo que ele se manifesta.
Já Louis Berkhof não gosta muito desse tipo de nomenclatura. Ele é um teólogo
presbiteriano que possui uma sistemática muito famosa no Brasil. Ele diz:
O nome “atributos” não é ideal, desde que transmite a noção de acrescentar ou
consignar alguma coisa a alguém, e , portanto, pode criar a impressão de alguma coisa
é acrescentada ao ser divino. Indubitavelmente o termo “propriedade” é melhor, no
sentido de indicar algo que é próprio de Deus e de Deus somente[...] Os atributos de
Deus podem ser definidos como as perfeições que constituem predicados do Ser divino
na Escritura, ou que são visivelmente exercidas por ele em suas obras de criação,
providência e redenção. (BERKHOF, 51).
Herman Bavinck, que escreveu uma coleção de quatro volumes de sistemática que
temos em português – um texto bem longo e denso acerca do Senhor e dos temas da
teologia –, diz que “cada atributo é idêntico ao ser de Deus; ele é aquilo
que possui” (BAVINCK,121). Não é como se Deus tivesse atributos, como se tivesse
amor, tivesse santidade, tivesse paciência e misericórdia. De fato, um atributo que Deus
possui é um atributo que Deus é. De forma que ao ser definido como alguém amoroso,
significa que ele é amor. Quando Deus é definido como alguém misericordioso,
ele é misericórdia.
É interessante que 1 João diz justamente isso, que Deus é amor. Há até igrejas que
seguem exatamente esse nome. A ideia não só que Deus manifesta amor, mas que ele é
o amor que ele possui. Então para o Bavinck não existe uma divisão muito clara entre
aquilo que Deus tem como atributo e aquilo que ele é como ser.
Isso é bem diferente daquilo que somos como seres humanos. Eu tenho amor, mas não
sou amor. Eu tenho misericórdia, mas não sou misericórdia. Tenho santidade, mas não
sou santidade. Deus, por outro lado, é aquilo que possui, segundo Herman Bavinck,
porque mostra justamente essa grandeza e esse relacionamento absoluto entre as
características que Deus tem e o próprio ser que Deus é.
Tanto que ele vai dizer que “tudo o que Deus é ele o é completa e simultaneamente”
(BAVINCK,121). Um jeito muito bonito de se referir ao Senhor. Considerando o que
são esses atributos, temos que falar sobre as classificações dos atributos, os tipos de
atributos de Deus. Mas isso é assunto para a próxima aula.
Bibliografia utilizada:
BAVINCK, Herman. Dogmática reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
GEISLER, Norman. Systematic Theology, Volume two. Minnesota: Bethany House
Publishers, 2003.
Aula 5 – As classificações dos atributos
Antes de explicarmos quais são os atributos de Deus, precisamos falar sobre as suas
classificações. Vamos usar o termo atributo porque ele é o mais comum dentro da
teologia, mas já explicamos sobre terminologias na aula passada. Esses atributos de
Deus também têm sido classificados em tipos dentro da teologia. Geralmente existem
quatro tipos de classificações comuns. Dessas quartas, escolheremos uma.
A primeira classificação – a mais comum e conhecida – é entre aibutos comunicáveis e
atributos incomunicáveis. Segundo Millard Erickson, “atributos comunicáveis são
aquelas qualidades de Deus para as quais se pode encontrar ao menos uma correlação
parcial em suas criaturas humanas” (ERICKSON, 258). Ou seja, são atributos que você
pode encontrar também naquilo que é criado por Deus. Segundo Franklin Ferreira e
Alan Myatt, “os atributos comunicáveis revelam a condescendência de Deus, e são as
virtudes divinas que se refletem, de forma derivada e limitada, em suas criaturas”
(FERREIRA e MYATT, 216). Berkhof se refere aos atributos comunicáveis como “os
quais as propriedades do espírito humano têm alguma analogia como poder, bondade,
misericórdia, retidão etc” (BERKHOF, 54)..
Logo, os atributos incomunicáveis são aqueles que não podem ser atribuídos a nenhuma
criatura. São “aquelas qualidades singulares para as quais não se encontra qualquer
correlação nos seres humanos” (ERICKSON, 258). São aqueles “aos quais nada
análogo existe na criatura” (BERKHOF, 54). Atributos que só Deus possui e que nós
não possuímos.
Outros criam distinções entre atributos naturais e atributos morais. Os primeiros seriam
os atributos que pertencem à natureza constitutiva de Deus, de maneira distinta de sua
vontade (BERKHOF, 53), são os “superlativos não morais de Deus” (ERICKSON,
258). Os outros o qualificam como um ser moral. O problema com essa classificação é
que os atributos ditos naturais também têm características morais. Os atributos naturais
seriam auto-existência, simplicidade, infinidade etc. E os morais seriam bondade,
misericórdia, justiça, santidade etc.
Uma terceira divisão é entre atributos absolutos e atributos relativos. Atributos
absolutos pertencem à existência de Deus, em si mesma, e atributos relativos pertencem
à essência divina, em relação a sua criação (BERKHOF, 54). Os absolutos seriam
eternidade, imensidade, auto-existência etc. Os relativos seriam onipresença, onisciência
e tudo aquilo que diz diretamente sobre a coisa criada.
A quarta classificação fala sobre os atributos imanentes ou intransitivos e os emanentes
ou transitivos. Os primeiros são aqueles que não se expõem nem operam fora da
essência divina, mas permanecem imanentes (BERKHOF, 52), ou seja, pertencem à
própria natureza de Deus (ERICKSON, 258) e estão contidos nele (e.g., imensidade,
simplicidade, eternidade etc.). Ou outros são os que se expõem e produzem efeitos
externos quanto a Deus (BERKHOF,52), isto é, emanam dele (ERICKSON, 258) (e.g.,
onipotência, benignidade, justiça etc).
Bibliografia utilizada:
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica,
bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007
Aula 6 – A pessoalidade de Deus
Pessoalidade é certamente um dos principais atributos de Deus e os vários outros
acabam tocando no tema da pessoalidade. A ideia é que Deus é pessoal. Ele não é uma
força, não é uma energia. Deus é uma pessoa. Existem várias coisas na Escritura que
apresentam justamente essa ideia de um Deus que se relaciona, que fala, que conversa,
que vê, que usa constantemente linguagens antropomórficas para falar a respeito de si
mesmo e se identifica com o ser humano das mais variadas formas. O fato de Deus ser
relacional e viver interagindo com o ser humano apresenta justamente essa ideia de que
nós estamos nos relacionando com um ser autoconsciente, pessoal, que possui
individualidade e uma autoconsciência.
É importante sabermos disso no modo como nos enxergamos e nos relacionamos com o
Deus cristão. Ele não é um totem, uma pedra ou um item de barro. Ele é um ser que
interage porque tem autoconsciência. Ele tem ciência da sua própria consciência. Ele se
conhece, assim como o ser humano se conhece e se entende de alguma forma. Ele
possui identidade, ele sabe quem ele é e o que ele é em diferença ao que os outros são.
Essa identidade é distintiva. Ela não é uma identidade que se confunde com as outras
coisas, mas uma identidade que é própria dele. Ele tem raciocínio, inteligência,
criatividade, comunicação. Temos um Deus que fala e se revela na Escritura
constantemente.
Quando Moisés pergunta quem ele é, ele responde “eu sou o que sou”, porque ele é o
ser perfeito, a ontologia última. Nós somos em referência a algo. Eu sou homem, sou
isso, sou aquilo. Deus é o único que é, porque Deus é a própria existência. E, sendo a
própria existência de quem todas as outras existências derivam, ele é aquele ser pessoal
o qual organizou tudo de acordo com a sua vontade.
Tanto que o termo imagem e semelhança que fala a respeito da criação do homem – isso
será tratado melhor em antropologia – é usado para falar que nós como seres humanos
nos assemelhamos a Deus, refletimos Deus. Imagem e semelhança são termos
intercambiáveis, significam basicamente a mesma coisa. Ser imagem de Deus significa
que somos parecidos com Deus e refletimos Deus. Ser a semelhança de Deus significa
justamente que temos essa imagem assemelhada parecida com a dele. Uma vez que
somos imagem e semelhança podemos por analogia entender que Deus tem algum traço
de humanidade. Não que ele seja homem, mas que ele tem algumas características que
nós possuímos de forma derivada.
Podemos falar de Deus como criador, como alguém criativo, como alguém consciente,
como alguém pessoal. Imagens antigas de um deus totêmico, animalesco, ou um deus
que não tem consciência, raciocínio ou identidade são imagens que não correspondem
ao Deus cristão, o qual chamamos de pessoa. Por isso que dizemos que existem três
pessoas na Trindade. A ideia de pessoa não é uma ideia errada, mas é muito coerente
com esses traços de pessoalidade que aplicamos a Deus. Não que ele seja um ser
humano como somos, mas uma divindade com quem podemos nos relacionar, porque
ele é um ser senciente, inteligente, que compreende as coisas, que entende tudo, que tem
uma identidade própria. E esse é um atributo que faz com que seja possível nos
relacionarmos pessoalmente com esse Deus, orarmos e falarmos com Deus, sabendo
que estamos falando com uma pessoa que nos entende e que nos responde.
Bibliografia utilizada:
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica,
bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova,
1999.
Aula 7 – Infinitude e eternidade
O primeiro bloco sobre os atributos de Deus que é bom tratamos são aqueles chamados
por Millard Erickson de atributos de grandeza. O primeiro atributo de grandeza é a
infinitude ou infinidade. Para Berkhof: "É a perfeição de Deus pela qual ele é isento de
toda e qualquer limitação. Ao atribuí-la a Deus, negamos que haja ou que possa haver
quaisquer limitações do Ser divino e dos seus atributos” (BERKHOF, 59). Ou seja,
ninguém pode restringir, controlar, limitar quem Deus é. Erickson continua dizendo que
"Isso não significa que é somente ilimitado, mas é ilimitável[...]Deus é diferente de tudo
o que experimentamos. Mesmo aquilo que o senso comum, antes, afirmava ser infinito
ou sem limites, agora é considerado limitado" (ERICKSON,264), porque ele é a
ilimitação em sua grandeza e totalidade. Bavinck vai dizer o seguinte:
Trata-se de uma ‘infinitude de essência. Deus é infinito em sua essência característica,
absolutamente perfeito, infinito em um sentido intensivo, qualitativo e positivo [...] a
infinitude de Deus é sinônima de perfeição e não tem de ser discutida separadamente
(BAVINCK, 164).
Nós percebemos a infinitude de Deus em certas características que aparecem na
Escritura falando sobre Deus como alguém que é incontrolável, alguém que não pode
ser contido, alguém que está em todos os lugares. A infinitude é um atributo que é
derivado logicamente de outros atributos de Deus. Se você pedir bases bíblicas para
mostrar que Deus é infinito, você encontrará bases bíblicas demonstrando outras
características de Deus que quando juntas mostram justamente esse aspecto de Deus ser
maior do que tudo e de não ser possível contê-lo e limitá-lo de forma alguma.
Um desses atributos é justamente o atributo da eternidade. A Escritura não fala de um
começo ou mesmo de um fim para Deus. E muitas pessoas se opondo ao cristianismo
dizem, “quem criou Deus? ” e a resposta simples é “ninguém”. Se tudo o que criado tem
uma causa, como diz o famoso argumento cosmológico, chega uma hora que é preciso
algo não-criado para dar início a tudo. E esse algo não-criado tem que ser algo que faça
parte da infinidade passada, que está fora dos nossos conceitos de tempo e que sempre
existiu.
A Escritura diz várias vezes que ele é o primeiro e o último (Is 44.6), que ele existia
antes que o mundo existisse (Gn 1.1), que ele é Deus de eternidade à eternidade (Sl
90.2; 93.2), eterno (Is 40.28; Rm 16.26), habita na eternidade (Is 57.15), imortal (Rm
1.23; 1 Tm 6.15).
Sobre a eternidade, Bavinck afirma que “entre eternidade e tempo há uma distinção não
somente em quantidade, e em grau, mas também em qualidade e essência” (BAVINCK,
165). Deus ser eterno não significa simplesmente dizer que ele tem muito tempo,
significa dizer que ele tem um relacionamento diferente com o tempo em nível
qualitativo. Ele tem outra essência de relacionamento. Ele tem outra Além do próprio
tempo, coisas que nem conseguimos entender.
Quando nascemos e vivemos, estamos presos ao tempo. É impossível se compreender e
se interpretar fora do tempo. É difícil que imaginemos como seria esse tipo de
existência. É como um cego de nascença tentando ver. É como alguém que nunca ouviu
nada tentando entender o que é ouvir. É como se tentássemos entender cores acima do
ultra-violeta ou abaixo do infra-vermelho. São coisas que estão além de nossa
capacidade e Deus é alguém que está além do tempo. Bavinck dizer o seguinte:
a natureza essencial do tempo não diz respeito à finitude ou infinitude do antes ou do
depois, mas que ele abrange uma sucessão de momentos, que há nele um período que é
passado, um período que é presente e um período que vem depois. Mas, daí, segue-se
que o tempo – tempo intrínseco – é o modo de existência que é característico de todos
os seres criados e finitos[...] Tempo é duração da existência da criatura [...] Deus não
é um processo de tornar-se, mas um ser eterno[...] Ele não pode ser submetido à
medida ou à contagem de sua duração [...] A eternidade de Deus, portanto, deve ser
imaginada como um presente eterno, sem passado nem futuro (BAVINCK, 166).
Ele continua dizendo que Deus “continua sendo eterno e habita a eternidade, mas usa o
tempo para manifestar seus pensamentos e perfeições eternas. Ele faz que o tempo seja
subserviente à eternidade e, assim, prova ser o Rei das eras (1 Tm 7.17)" (BAVINCK,
167).
Em Cristo, Deus encarnou no tempo. Em Cristo, Deus não somente recebeu essa
natureza humana, mas em Cristo Deus se tornou temporal, uma vez que ele se encarnou,
cresceu e viveu como homem que nem nós.
Bibliografia Utilizada:
BAVINCK, Herman. Dogmática reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
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  • 2. Prolegômenos: aprendendo a pensar teologicamente Aula 1 – Você precisa de introdução a teologia Por que um curso sobre introdução à teologia? Quando eu mesmo comecei a estudar teologia, não tinha nenhum material introdutório que me ajudasse a chegar em um ponto de conforto intelectual para começar a estudar teologia sozinho. Comecei a estudar teologia na internet e comecei a aprender várias coisas difusas. Então, quando fui para o seminário, percebi que tudo aquilo que julgava ser sabedoria teológica nada mais era que uma coleção de informações vazia de qualquer poder de concatenação. Eu tinha ideias difusas e não conseguia encaixar essas ideias no todo do conhecimento de Deus. E quanto mais eu pesquisava na internet, mais eu recebia materiais muito divergentes. Fossem materiais com posições contrárias, fossem materiais com níveis teológicos muito distintos, fossem materiais cujos pressupostos por trás deles fossem os mais discrepantes e variados. Eu não conseguia entender nem reconhecer isso. Eu sentia falta de materiais que fossem introdutórios o bastante e amplos o bastante para me dar um bom panorama do conhecimento de Deus para que eu pudesse a partir disso estudar por mim mesmo. A questão é que a maioria dos materiais teológicos, mesmo que se diziam introdutórios, na verdade, ainda pressupõem muito daquele que vai fazer essa leitura. É muito difícil achar um material para aqueles que estão começando e desejosos de rever as suas bases. James Sawyer, em sua Introdução à teologia, diz que muitos dos materiais introdutórios de hoje são destinados a estudantes mais avançados. Isso faz com que algumas pessoas sejam escravas de certos tutores para que possam estudar teologia. E deixe-me ser claro: você precisa de um tutor para estudar teologia! Mas é importante que você em algum momento também aprenda a caminhar com as próprias pernas. Então, é importante que os materiais teológicos introdutórios sejam criados por tutores interessados em lhe progredir no caminho do conhecimento. Uma boa teologia é muito diferente de certos modelos terapeuticos onde o terapeuta entende que ele é necessário para o seu progresso e crescimento. Certas teorias de terapia curta, como a teoria cognitivo-comportamental da psicologia não creem nessas coisas. Já outro movimento, como na psicanálise, crê-se que o terapeuta é fundamental. Nessa analogia, a boa teologia está mais próxima de uma terapia curta que de uma psicanálise. O interesse é que você não seja escravo de um tutor específico. A palavra de Deus diz que na Nova Aliança somos ensinados por Deus. Não precisamos de alguém que seja um intermediário entre Deus e homens além de Cristo Jesus. Então nossa função como mestres, pastores, teólogos e professores é fazê-lo conhecer Deus e conhecer como conhecer Deus. Essas questões introdutórias que trataremos aqui no curso em toda a amplitude que queremos dar a ele é fundamental para que você possa ter os bons fundamentos da compreensão de Deus. Um bom jogador de futebol não é um craque porque joga muitos jogos, mas porque está sempre de novo e de novo revendo os fundamentos: treinando passes, treinando toques de bola de novo, de novo... Como diz novamente James Sawyer em sua Introdução à teologia, “questões introdutórias são vitais tanto para o estudante novato quanto para o estudante experiente” Temos uma história teológica profundamente rica e é importante que possamos volta a ela e nos posicionarmos em um debate que é muito maior que nós.
  • 3. Conhecermos os termos, conhecermos a linguagem, entendermos qual é o estado da questão dos assuntos teológicos e fazermos isso a partir do zero e progredirmos até chegarmos em algum lugar. Muitos falam que só podemos ver mais longe ao estarmos nos ombros dos gigantes. Então é importante que entendamos que estamos numa história que existe a partir de pelo menos dois mil anos a partir de Cristo. Estamos num bonde teológico que está andando. A história teológica é um bonde andando, e não tem como fugir disso. Você não vai reinventar a roda, não vai avançar o saber de Deus enquanto não entender onde você está. Temos que preservar a fé bíblica que veio e é passada por nós através dos antigos até aqui. Por isso temos que dialogar constantemente com o pensamento teológico que veio antes de nós e estabelecer verdade e doutrina para o nosso tempo. Um curso de introdução à teologia é fundamental para que possamos nos posicionar a partir da imaturidade, a partir de um momento inicial da nossa vida e então chegarmos em algum lugar. O objetivo desse curso é justamente pegar você pela mão e trazê-lo ao conhecimento de Deus, fazendo com que você possa a partir dessas aulas abrir um livro de teologia sistemática, abrir um material teológico e entender o que está escrito ali. Só então avançar para níveis que você nunca tenha imaginado. Nesse primeiro módulo, falaremos sobre como pensar teologicamente. E introduzí-lo a algumas questões para que os módulos a seguir sejam ainda mais úteis para sua vida e você esteja ainda mais preparado para aprender da Palavra de Deus. Temos grupos secretos e privados, específicos e exclusivos, para você que é nosso aluno. Tanto no Facebook, como no Telegram, você pode colocar suas perguntas ou mesmo aqui na plataforma do Hotmart e poderemos interagir e conversar acerca da Palavra de Deus. Não deixe de assistir seja ao vivo, sejam as gravações de nossas lives onde tentaremos responder as perguntas de todos os alunos semanalmente para tentarmos então progredirmos no caminho da palavra da verdade. Seja muito bem-vindo a esse caminho dessa jornada maravilhosa que queremos desenvolver aqui no Teologia Descomplicada, o nosso curso de Teologia aqui no Dois Dedos de Teologia. Aula 2 –Somos todos teólogos Precisamos de teologia? Às vezes isso pode ser uma coisa esquisita nas igrejas que desprezam o saber e o conhecimento teológico, como se teologia fosse uma coisa que você pudesse escolher ter ou não de alguma forma. Conta-se que o famoso evangelista D.L. Moody foi desafiado por uma senhora que lhe disse “eu não concordo com a sua teologia! ” e ele respondeu, “mas, senhora, eu nem sabia que tinha uma teologia”. A palavra teologia vem de théos, do grego, Deus, e logos, estudo, saber ou conhecimento. Teologia significa conhecimento, saber, ou ciência, talvez, acerca de Deus. É diferente de teontologia - que vem de théos, que é também Deus, onto, que vem de indivíduo, ser, a própria pessoa em si, e logos, que é o conhecimento – que é o estudo da pessoa de Deus propriamente dito. O nosso próximo módulo, teontologia, vai estudar a pessoa de Deus. Teologia já é tudo aquilo que fala acerca do que é divino. Isso significa que se você tem algum conhecimento, qualquer ideia acerca da pessoa de Deus, você tem uma teologia. Qualquer declaração ou saber que diga respeito ao transcendente, à vida da fé, à espiritualidade, isso é teológico de alguma forma. Para onde vamos quando morrermos? Qual é a forma correta de viver para agradar a Deus? Como o nosso culto
  • 4. deve acontecer? Por onde Deus fala? Que texto tenho que ler para conhecer o Senhor? Tudo isso é teologia. Posso ou não ter essa ou aquela prática? Posso me engajar nesse ou naquele comportamento? São perguntas que respondemos a partir da teologia cristã. Sempre que pensamos ou elaboramos uma ideia acerca de Deus, estamos fazendo teologia. A teologia é uma ciência porque busca um conhecimento da realidade, no caso, o conhecimento de Deus. R.C. Sproul diz no seu livro Somos todos teólogos que “a teologia não poderia ser chamada corretamente de ciência se o conhecimento de Deus fosse impossível. A busca por conhecimento é a essência da ciência” (SPROUL, 23). Dessa forma a ciência da teologia é uma tentativa de obter um conhecimento coerente e consciente de Deus. Nisso podemos entender que a teologia consiste numa sapientia, ou seja, uma sabedoria; uma ciência; e uma ortopraxia, uma ação correta. Nesse tripé da teologia temos a teologia como sabedoria como um esforço para dar orientação para o relacionamento do cristão com a vida e com Deus. Dessa forma, a teologia não se resume a proposições acerca do transcendental e não envolve somente a aceitação de crenças abstratas, mas busca um relacionamento pessoal do homem com Deus. A teologia como ciência é vista como uma síntese do conhecimento acerca de Deus. Ela é a sistematização da crença que temos acerca dele e daquilo que ele diz a nosso respeito. E a teologia como ortopraxia, como ação correta, é a síntese das duas verdades anteriores. Ou seja, tanto a sabedoria quanto a ciência devem produzir no ser humano uma disposição a obedecer e honrar a Deus. Em 1 Coríntios 14.20, Paulo exorta a igreja a deixar de ser criança e a pensar como adultos. Pensar como adulto passa por um processo de conhecer o Senhor, de conhecer o que ele espera de nós. É a teologia que nos amadurece, é o conhecimento de Deus que nos faz progredir intelectualmente, emocionalmente e vivencialmente na nossa fé e no nosso relacionamento com Deus. É verdade que a teologia sozinha pode virar uma ortodoxia morta, sem prática, sem realidade na nossa vida. Porém, uma ortodoxia, ou seja, um pensamento correto, vivida de forma profunda cria um relacionamento com Deus que o mundo não entende e que apenas aqueles que têm essa experiência de fé realmente podem experimentar. Uma má teologia faz com que vivamos longe de Deus vidas que não representam aquilo que ele espera de seu povo. O povo de Deus perece, porque lhe falta conhecimento (Oséias 4.6). Encontrar sabedoria e conhecimento de Deus é fundamental para que saibamos como viver a vida do Senhor. Não estudamos Deus como se disseca um sapo em laboratório, mas estudamos Deus como um marido apaixonado lê e tenta compreender o que agrada a sua noiva. Teologia faz diferença na nossa vida. Pense na História e na forma como a religião foi mal-usada muitas vezes para criar catástrofes, mortes e opressão das mais variadas formas. Uma má teologia pode levar homens a agirem de forma falsa e errada. Uma boa teologia vai lhe ajudar a viver a vida que Deus espera que você viva. Ainda mais em tempos como os nossos, em que a Palavra de Deus é deturpada para satisfazer anseios dos mais variados e onde a Bíblia usada e a igreja é trazida para um relacionamento com visões de mundo um tanto espúrias, conhecermos bem a Palavra de Deus nos protege das heresias públicas, das falsidades à nossa volta e nos dá uma fé que realmente representa o interesse de Deus para a nossa vida. Teologia não é exclusiva para profissionais, pessoas eruditas, para gente que está trancada num seminário, para gente em salas e escritórios cheios de livros. A boa
  • 5. teologia é dada a todo crente. Como diz Deuteronômio 30.14, a palavra de Deus está próxima, perto do nosso coração, perto da nossa boca. A palavra de Deus está disponível e é a ela que nós recorremos a nossa vida. Jesus diz, em Mateus 22.37, que devemos amar o Senhor de todo nosso coração, de toda nossa alma e de todo nosso entendimento. Pedro diz que devemos estar prontos para responder a razão da nossa fé (1 Pe 3.15). Uma boa teologia nos ajuda a amar a Deus com toda nossa mente e nos ajuda a responder aquilo que o mundo realmente acredita sobre Deus. Então a boa teologia nos afeta horizontalmente e verticalmente - ela nos afeta nos relacionamentos com os outros e com nosso relacionamento com Deus. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: SPROUL, R.C. Somos todos teólogos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2017 Aula 3- O teólogo como preservador, cientista e contextualizador O que é um teólogo? Um teológo é um guardião da verdade, um cientista e um contextualizador. Como guardião da verdade, o teólogo entende que Biblia é a Palavra de Deus que traz verdades acerca dele ao longo de uma grande narrativa por meio dos livros que a compõem. A Bíblia não é simplesmente um compêndio de proposições doutrinárias. As verdades bíblicas são percebidas através do estudo daquilo que Deus revela ao homem. A tarefa do teólogo é apresentar essas verdades para que as pessoas possam ser conduzidas à fé em Deus. Essa atitude de fé é a mesma que foi descrita por Agostinho e Anselmo: uma fé que busca o entendimento, a fides quarem intellectum. Ao passo que o racionalista compreende para crer – primeiro entende para depois depositar fé – o teólogo vai à fé para então compreender o objeto de crença. Conforme desenvolve-se o estudo teológico, a compreensão aumentada do objeto da fé conduz à maturidade. Muitas vezes seremos confrontados com elementos de fé que não entendemos bem. Se você me perguntar sobre todos os detalhes dos mistérios de Deus, as complexas relações na Trindade, as conciliações entre soberania e responsabilidade, eu mesmo não saberei lhe dar uma resposta coerente. Entretanto, pela fé, creio naquilo que a Escritura diz e busco compreensão daquilo que ela diz. A fé não é fideísta. Ela não impede uma racionalidade que a justifique, mas a fé é anterior à própria capacidade de explicar logica e filosoficamente muitas coisas. Não porque as coisas não seriam explicáveis logicamente, mas porque muitas vezes o que Deus cobra de nós é que acreditemos antes de entender. Infelizmente, ainda existem aqueles que entendem a teologia como algo puramente frio. Os sistemas de crença “inertes” são trocados por “experiências de adoração” onde o individualismo é incentivado. O que mais importa é o que o adorador experimenta, no lugar do sistema de crenças que ele carrega. Esse é um dos aspectos da heresia. Que trai o papel do teólogo como um guardião da verdade. Ela satisfaz os desejos do coração humano, refletindo as coisas como gostaríamos que fosse e não como de fato são. Nesse sentido, a heresia é mais uma questão de escolha do que de entendimento.
  • 6. Por causa disso, a ortodoxia deve levar à elaboração de credos que servem como mapas que norteiam o pensamento correto. Esses mapas, entretanto, não servem como fim em si mesmos. Eles devem conduzir a uma realidade maior. O papel da tradição nesse sentido é importante, pois, com base no que já foi dito sobre um assunto antes de formarmos nossas ideias a respeito de algo podemos trilhar um caminho mais seguro para a ortodoxia. O apelo cristão às Escrituras não pode ficar isolado. Isso não é um abandono das Escrituras como única regra de fé, mas é simplesmente considerar e analisar uma a história da igreja para que possamos constatar com mais segurança que as posições que temos seguido não são heréticas. É bom lembrar que quando alguém se desvincula da análise da tradição, é fácil recorrer em erros sob o pretexto de ter recebido uma nova verdade. Os concílios que transmitem a tradição não inventam novas doutrinas, mas apenas as preservaram. O teólogo também é um cientista. Ele é aquele que está em busca da verdade. Ou seja, ele admite que ela existe e pode ser encontrada. Como cientista ele investiga de forma analítica e crítica as fontes que estão disponíveis. Seu papel é apontar as fontes de sua pesquisa para que outras pessoas possam avaliar as conclusões dele e entender a base sobre a qual os teólogos estão apoiados. Sendo assim, os teólogos olham em três direções: para o texto das Escrituras; para a revelação geral e para a obra dos teólogos do passado. Obviamente, as Escrituras possuem prioridade e primazia nessa análise. Analisando as Escrituras, os teólogos devem buscar um refinamento do que tem sido proposto ao logo dos séculos. A ideia não é tanto descobrir algo novo, mas desenvolver corretamente o que já tem sido proclamado ao longo dos anos. O teólogo irá respeitar o distanciamento linguístico, cultural e histórico da Bíblia. Ele analisará as línguas originais e caso não tenha acesso ao grego e ao hebraico, ele vai comparar as várias traduções. E vai agir com humildade entendendo que as traduções possuem limitações comparadas às línguas originais. Ele também vai perceber e dar importância aos conceitos culturais que são distintos para não impor algo de nossa cultura à Bíblia, entendendo bem o que ela quer dizer ao relatar determinado aspecto. Através da revelação geral, o teólogo percebe e recebe a grandeza de Deus. E através das obras dos teólogos do passado analisamos o que já foi proposto com nossas próprias opiniões podemos traçar um caminho rumo a uma conclusão e a uma conclusão pessoal mais sólida acerca de determinado problema teológico. O modo como a teologia avança e se desenvolve é muito próximo daquilo que Thomas Khun chamou de revolução dos paradigmas científicos. Ele desenvolveu uma importante contribuição sobre a avaliação e constatação de paradigmas científicos. Ele sugere que no desenvolvimento de uma ciência existirão vários paradigmas em competição. O paradigma escolhido, a ideia do momento, por assim dizer, é a que foi escolhida pela comunidade científica de um tempo porque melhor responde aos questionamentos feitos pela comunidade. Esse paradigma permanece até que surjam várias questões que não são respondidas pelo modelo vigente. Assim, o cientista terá que reavaliar seus estudos para propor um novo paradigma que responda a essas questões. Dessa forma, se aplicarmos Thomas Khun à teologia, veremos que as doutrinas se desenvolvem, ou são reformuladas, quando perguntas que continuam sem resposta e essa busca por novas respostas a questões teológicas pode proporcionar o desenvolvimento doutrinário, um aperfeiçoamento da teologia, ou uma nova perspectiva
  • 7. acerca da abordagem de determinado tema. A própria Reforma Protestante é um exemplo disso. Cria-se em um paradigma teológico – o da Igreja Católica Apostólica Romana – que os reformadores julgaram que tinha problemas quanto dar respostas adequadas para as perguntas feitas. Então, algumas proposições foram reavaliadas e um novo paradigma – o da justificação pela fé somente – o qual foi percebido e crido como ortodoxia. Os reformadores perceberam que a igreja estava se baseando em paradigmas errados que consequentemente conduziram sua conduta equivocada. Então, um novo paradigma surgiu para poder abarcar melhor as questões de ordem teológica. É por causa disso que o teólogo está constantemente explorando o mundo. Agindo realmente como um explorador. Ele reconhece que a tradição tem seu papel, mas que elementos novos podem ser incorporados para desenvolver a teologia, porque ela é dinâmica, não estática. O teólogo explora elementos que podem aprimorar a teologia vigente. Isso está relacionado ao terceiro papel do teólogo. O teólogo como um tradutor, ou um contextualizador. Ele deve fazer uma viagem de ida ao contexto do autor original e de volta ao seu contexto. Nem pode se reduzir ao seu nem pode ficar só no do autor. O teólogo tem que explicar para seus contemporâneos as verdades expostas na Bíblia. Ele deve analisar também o contexto em que as declarações foram ditas para que elas não adquiram significados diferentes daquilo que foi intentado originalmente. Algo que deturparia as doutrinas a serem desenvolvidas. A contextualização toma aquilo que foi dito em determinado momento, encontra o âmago do ensinamento e o transporta numa cultura do ouvinte moderno. Se uma cultura não sabe o papel de um pastor de ovelhas, João 10 não fará muito sentido. Uma cultura que não entenda o tamanho de uma semente de mostarda e seu crescimento não entenderá a parábola de Jesus e assim por diante. É bem conhecido que durante a idade antiga e na Idade Média, a Bíblia ainda era vista como um livro contemporâneo. Os teólogos não se preocupavam em entender como os autores bíblicos pensavam em seu tempo. Eles consideravam que os seus pensamentos eram os mesmos daqueles dos autores antigos e não conseguiam suplantar as barreiras culturais e as diferenças linguísticas de mentalidade que existia naquele tempo para entender corretamente como aplicar a Escritura em tempos modernos. Foi somente com a Renascença e a Reforma que veio a compreensão que o contexto bíblico era diferente do contemporâneo e que isso precisava ser considerado na interpretação. O método histórico-crítico do Iluminismo apontou as “digitais humanas num sentido real e essencial” na Bíblia. Ou seja, os autores estavam imersos em um contexto diferente e transmitiam isso em sua escrita. Esse método, apesar de suas consequências desastrosas em algum momento, trouxe em questão de percebemos corretamente a cultura antiga antes de fazermos nossa interpretação. Dessa forma, uma boa hermenêutica e uma boa exegese consideram o significado das coisas em seu tempo enquanto uma boa teologia sistemática traz essas coisas para cá. Eu disse que o teólogo atua como tradutor, nesse sentido que ele é um contextualizador. Por tradutor, quero dizer o seguinte: O teólogo atua no mundo da linguística diferenciando as estruturas superficiais das estruturas profundas da linguagem. Na estrutura superficial está a gramática, vocabulário, pronúncia ou qualquer outro
  • 8. elemento que constitui uma língua. Através disso, o significado é transmitido. Porém, a tradução acontece quando o teólogo percebe a estrutura profunda, aquilo que está para além da superficial e que fala das teias de significado que fazem parte de uma mentalidade e de uma cultura. Essas estruturas profundas podem por sua vez serem transmitidas através de outras estruturas de superfície como, por exemplo, em outra língua. É nesse nível, abaixo da estrutura superficial que jaz o significado universal. Ele pode ser comunicado em outras línguas (forma) porque sua estrutura profunda (conteúdo) foi preservada. Dessa forma, o teólogo é chamado para entender essas estruturas, pegando a mensagem e o significado de um texto, e traduzir para seu tempo apresentando a mensagem poderosa do evangelho. Aula 4 – A pirâmide de Erickson Todas as doutrinas são iguais? Elas têm a mesma centralidade para a fé? Quero apresentar para você a pirâmide de Erickson. Chamo assim a classificação das autoridades teológicas que Millard Erickson dá em sua Teologia Sistemática. Imagine uma pirâmide. Na base dela, você tem as afirmações diretas da Escritura. Aquilo que a Bíblia fala diretamente e diz algo a respeito de forma clara e objetiva. São certamente muito mais centrais e devem ser tratadas como algo muito mais importante, doutrinas bíblicas que são declaradas diretamente pela Palavra de Deus com clareza. Esses assuntos são importantes corolários, são nosso núcleo duro – citando o teórico Lakatos quando fala que toda ideia tem um núcleo duro e um cinturão protetor, onde no cinturão protetor você tem ideias que são um pouco mais maleáveis, enquanto no núcleo duro você tem ideias centrais que nunca podem ser negadas por determinada corrente de pensamento. Se forem, aquela corrente deixa de ser o que realmente é. Declarações diretas da Escritura fazem parte do núcleo central do cristianismo. No segundo nível da pirâmide, temos implicações diretas da Escritura. São inferências que podemos fazer a partir daquilo que está escrito. Aqui precisamos levantar uma distinção entre implicação necessária e implicação lógica. Implicações lógicas são muitas vezes ideias que se encaixam com determinada declaração da Escritura, mas que não derivam necessariamente daquela aplicação. Não é disso que estamos falando. Estamos falando de inferências necessárias, ou seja, coisas que derivam diretamente daquilo que é dito no texto bíblico. Não é a declaração do texto em si, mas são aplicações lógicas claras daquilo que está escrito. Um nível acima temos implicações prováveis e mais acima conclusões indutivas. Ou seja, aqui já estamos nos afastando bastante da intenção original do autor quando ele fala a respeito de determinado assunto para induções que podemos fazer a partir do que é dito na passagem e conclusões que podemos induzir através de método lógico usando premissas e conclusões. Nisso já estamos um pouco mais longe do que é dito na passagem para tentar formular teorias em cima daquilo que é escrito num texto. Num nível acima, já bem fora do aspecto teológico tradicional, temos conclusões inferidas da revelação geral, onde podemos ao observar a realidade compreender alguma coisa acerca do divino. E, por último, questões inteiramente especulativas, as quais são pontos que devemos discutir a partir de outras ciências, mas que em termo teológico é especulação. Alguns vão dizer que não é teologia de fato, outros chamarão de teologia especulativa. São assuntos que estão dentro do tema da teologia, mas que
  • 9. muitas vezes não são discutidos e nem é possível discutir teologicamente aquele assunto de forma completa e total. Essa pirâmide do Erickson é importante porque nos ajuda a ter humildade e consciência no nosso fazer teológico. Determinada doutrina ou crença é baseada em que? Declarações diretas da Escritura? Em implicações prováveis? Em conclusões indutivas? Em conclusões inferidas da revelação geral? Ou é algo profundamente especulativo. Quando começamos a analisar nossa própria teologia com base nisso, passamos a ter mais autoconsciência em nossa forma de fazer teologia e ter mais humildade na nossa própria avaliação teológica e mais capacidade de avaliar certas doutrinas à nossa volta. É o exercício que você precisa fazer quando estiver lendo um livro, um material teológico. Essa declaração provém diretamente do que é dito no texto? Era intenção original do autor ao escrever essa passagem? Isso é só uma explicação provável? É uma conclusão indutiva? O que é isso? Isso vem como a partir da passagem? É um bom exercício para ser feito e uma boa lição para, nesse momento, você analisar alguma doutrina que para você é importante a partir dessa metodologia. Aula 5 – Teologia bíblica, histórica e sistemática. Teologia é um termo bem amplo, então quais são as principais divisões no estudo teológico? Se pensar em uma pirâmide novamente, terá na base pelo menos três elementos principais: Os idiomas bíblicos, os contextos culturais, elementos arqueológicos e seus pressupostos hermenêuticos, ou seja, aquilo que vai te levar diretamente à interpretação do texto. Acima disso, há a exegese do texto bíblico. Ela é exatamente a interpretação das passagens em suas línguas originais. Subindo na pirâmide, há pelo menos três grandes tipos ou modos de fazer teologia que compõe a metodologia para encontrarmos respostas para nossas questões de fé. Há a teologia bíblica, ao seu lado teologia histórica e acima, no topo da pirâmide, teologia sistemática. Teologia bíblica é uma forma de fazer teologia que procura mostrar o modo como certas compreensões acerca de Deus progrediram ao longo da
  • 10. história da revelação bíblica, mostrando como as coisas eram cridas em determinado período ou em determinado autor da Escritura. Por isso que se fala de teologoa bíblica de Paulo ou teologia bíblica de João. É um jeito de respeitar os contextos de cada autor do livro bíblico e respeitar cada modo como um deles faz teologia.A teologia bíblica, por exemplo, é quem vai localizar determinado escopo de crença em um período específico da história da revelação como no período de Adão e Eva, Noé, no judaísmo, ou em outros momentos. Seja o modo como Isaías ou Jeremias usam determinada palavra ou a visão que eles têm acerca do Messias. Seja no Novo Testamento quando você considera cada autor como um centro em si mesmo de doutrina antes de compará- lo com as doutrinas de outro autor. Assim você consegue respeitar melhor o aspecto humano da escrita do livro bíblico. Por mais que o autor seja divino, também há um autor humano que deixou traços de sua literalidade no texto. A teologia bíblica não está preocupada em responder sobre o que é que esse texto significa para minha vida, ou a forma correta de agir nessa ou naquela situação. A teologia bíblica está preocupada em entender como o autor bíblico, em determinado contexto, descreveu algo acerca de Deus e dos homens. Foi B.B.Warfield, o téologo famoso de Princeton, que disse que a tarefa da teologia bíblica é coordenar os dados que nós recebemos no processo exegético. A teologia bíblica é que dá base e fundamentação para uma boa teologia sistemática, porque dá o conteúdo teológico mais profundo, visto de forma mais correta dentro de um contexto específico para que então seja sistematizado todo esse grande escopo de conhecimento de uma forma que responda às questões filosóficas, teóricas e práticas do nosso tempo. Ao lado da teologia bíblica temos a teologia histórica. Como o próprio nome já diz, visa ver como a compreensão de Deus mudou e evoluiu ao longo da história da igreja. Como cada tempo e cada autor descreveu acerca da ideia do divino e como a igreja com o passar dos tempos mudou ou continuou no seu processo de interpretação das doutrinas e das passagens bíblicas. A história da doutrina nos ajuda a perceber muito das formas como a igreja caiu muitas vezes em erro e evoluiu na sua compreensão acerca de Deus. Ele nos ajuda a termos argumentos muito mais coerentes para interpretarmos a passagem bíblica, entendendo que não estamos em um vácuo, mas recebemos de uma longa tradição de interpretes que nos ajudam a ter material para trabalharmos, concordarmos ou discordarmos da nossa leitura da Escritura. Com base na teologia histórica e na teologia bíblica, temos a teologia sistemática. Ela tenta formar um esquema que junte todos os dados bíblicos dentro de um ponto de resposta comum. Quando pergunto, “um crente pode comer carne de porco? ”, não quero saber se um judeu podia ou não comer carne de porco, nem quero saber o que Paulo quer dizer aos Coríntios quando ele fala sobre carne de porco. Quero uma resposta que comunique à minha vida, mas, para fazer isso, tenho que ver todo o escopo da revelação e entender o que posso aprender com o que foi dito no Antigo Testamento, com o que Jesus tratou do assunto, como os apóstolos levantaram a questão, como a igreja vivenciou isso no livro de Atos e, a partir disso tudo, criar uma resposta que seja comum à vida privada ou à vida social. No fim das contas, a teologia sistemática é que dá as respostas práticas e pastorais para nossa vida. É aqui, na teologia sistemática, que temos o diálogo com as outas ciências, com a filosofia, sociologia, economia, psicologia e com outras formas de ver o mundo, as quais daremos respostas, ou os aproveitarmos de certas compreensões que essas ciências fornecem.
  • 11. Imagem cedida pelo aluno André Luís Toledo baseada na classificação de James Sawyer. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS: SAWYER, M. James. . Uma introdução à teologia: das questões preliminares da vocação e do labor teológico. São Paulo: Editora Vida, 2009. Aula 7 – Analogia Fidei e Analogia Entis Uma das diferenças entre a igreja católica e a protestante é como cada uma vê a forma como Deus pode ser conhecido. Thomás de Aquino e João Calvino são fundamentais para essa diferenciação. Ainda que Aquino seja muito citado e referênciado por ambas teologias católica e protestante, ele se distingue de Calvino na compreensão do conhecimento de Deus. Tradicionalmente, a Igreja Católica segue o pensamento de Aquino. Ele seguia aquilo que é chamado de analogia entis ou analogia do ser. A analogia entis é dita ser a essência do catolicismo por próprios representantes do catolicismo como Steven Bevans. A analogia do ser está alicerçada na filosofia aristotélica empregada por Aquino. Ela tem como ponto de partida o princípio da inteligibilidade, o qual diz que se o ente é o objeto do intelecto, logo ele pode ser conhecido.Ou seja, o ser humano pode conhecer o ser naturalmente. Isso se dá através das experiências que o ser humano tem no mundo. Existe uma continuidade entre o ser de Deus e tudo mais que foi criado. Todas as coisas têm sua existência derivada a partir de um só ser. Aquino, para se livrar de uma associação com o panteísmo, fez uma distinção entre forma e matéria, ou ato e potência. Ele disse que somente uma coisa é o Ser (Deus) e tudo mais tem ser com potenciais diferentes. As coisas que existem no mundo existem em potência. Uma mesa existe em potência numa árvore. A árvore precisa ser cortada, trabalhada e transformada em mesa. Esse processo de “tornar-se”é possivel porque as coisas sõ compostas de ato e potência. Pode-se dizer que na media que realizamos a potência de uma coisa ela está em ato. De volta ao exemplo da mesa: a mesa só existe em ato, como mesa, na medida em que sua
  • 12. potência, o trabalho de transformação, é realizada. Porém, Deus é o ato puro. Deus não tem potência porque isso o faria mutável, mas Deus como ser criador de tudo e supremo a tudo não muda. Todas as demais coisas criadas são análogas ao Ser, portanto finitas e mesclando ato e potência. Assim, podemos conhecer Deus a partir da observação e experimentação do mundo, mas sempre por analogia, nunca e totalidade. Podemos dizer que Deus é justiça, amor, ou santidade por analogia com o que observamos. As cinco vias de Aquino são o resultado desse pensamento. Através do uso da razão, o ser humano pode fazer analogias e chegar ao conhecimento de Deus. Esse conhecimento, porém, nunca é um conhecimento de identidade. Se o fosse, Deus seria limitado. Assim, podemos conhecer mais Deus pelo que ele não é, do que pelo que é. Deus não é conhecido em sua esssência, porque ele ainda é transcendente à criatura. Dessa forma, as Escrituras se tornam apenas mais uma fonte de conhecimento de Deus. Assim, o catolicismo entende que o homem não precisa da Bíblia para discernir Deus da criação. A partir desse pressuposto, várias doutrinas católicas surgem. O resultado do pensamento de Aquino é que Deus é totalmente acessível através da teologia natural, mas por outro lado ele é desconhecido, porque é ato puro. Isso pode causar uma confusão. Se falamos que Deus é amor, até que ponto essa afirmação não torna o amor o próprio Deus em identidade? Até que ponto o amor de Deus é análogo ao de um pai por um filho, mas em que ponto ele é totalmente diferente? A analogia entis pode levar a sérios problemas acerca da compreensão de quem Deus é. Outra abordagem é chamada de analogia fidei. A analogia fidei ou analogia da fé diz que nunca poderemos chegar ao conhecimento de Deus por si mesmos. Isso só pode acontecer por meio da revelação que Deus faz e quanto esta nos alcança. O conhecimento de Deus se dá em sua Palavra, por meio do ES. Ou seja, só podemos conhecer a Deus a partir da revelação especial que ele faz de si mesmo. A própria capacidade de perceber as Escrituras como revelação de Deus e um dom divino e não depende de nós mesmos. A analogia fidei nos leva a não procurar saber mais do que a própria Bíblia nos fala acerca de Deus. As Escrituras são nossa regra de fé e nossa única forma de conhecer a Deus conforme ele pretendeu se revelar. A analogia fidei busca entender o que o autor bíblico falou em seu próprio contexto e peça literária. Cada autor tem suas características e peculiaridades que o distinguem dos outros. Ela também advoga que a Escritura é a própria interperte de si mesma. Textos paralelos complementam a compreensão do que está sendo trabalhado em comum. Entretanto, um risco que podemos correr aqui é interpretar um autor segundo os termos outro. Às vezes, na busca de aplicar a analogia da fé cometemos o erro hermeneutico de não deixar um autor falar dentro de seus próprios termos e acabar misturando categorias de autores diferentes, causando assim uma confusão doutrinária. Isso não quer dizer que a Bíblia se contradiz, mas que cada autor abordou temas de uma forma peculiar e que pode ser distinta em abordagem de outros. De tal forma, que se aplicarmos indistinta e impensadamente tudo o que Tiago fala sobre fé à Paulo, teremos um problema acerca da compreensão da justificação. É preciso analisar o propósito, contexto e cotexto dos autores antes de aplicar a máxima “textos mais claros interpretam textos mais obscuros”. Devemos entender que pode ser propósito do autor deixar um texto obscuro.
  • 13. Essa máxima pode ser utilizada para dizer que o NT interpreta o AT. O que pode nos levar a pensar: “Como os leitores do AT interepretavam seus textos antes do NT? Eles não precisariam dele?” A resposta de outros é que o AT tem seu contexto próprio e interpreta a si mesmo, assim como o NT interpreta a si mesmo. A diferença entre os testamentos se dá na progressão da revelação que torna as coisas mais claras. Portanto, de forma resumida, a analogia fidei nos aponta que Deus só pode ser conhecido tal qual ele quer ser conhecido por meio de uma revelação especial. Moisés não deduziu que a sarça em chamas era Deus se revelando, foi Deus quem se revelou a ele. Da mesma forma, Deus se revela através das Escrituras hoje para nós. É através dela que conhecemos quem ele é pelas analogias que estão reveladas. Aula 8 – O liberalismo teológico É provável que você já tenha ouvido falar nos termos Liberalismo Teológico e Neortodoxia. Esses movimentos ocorreram no século XX e muitas vezes são falados de forma que as pessoas não entendem suas bases filosófico-teológicas. Algumas vezes chegam até a tratá-los como sinônimos quando na verdade não são. Para isso é preciso entender suas origens e seus pressupostos. Primeiro de tudo, o Liberalismo Teológico veio antes da Neortodoxia e suas bases derivam diretamente do Iluminismo, um movimento filosófico do século XVIII que visava ser uma resposta ao tradicionalismo religioso da Idade Média e colocou o homem como o centro da existência. Nessa época, a Razão humana foi elevada ao ponto de se acreditar que o conhecimento de Deus poderia ser alcançado através do uso dela. O iluminismo deu origem ao que atualmente entendemos como mentalidade moderna. A qual tem algumas características: • Início da história científica • A Razão pode justificar qualquer verdade • A natureza é a fonte primária da existência humana • A liberdade é necessária para o progresso humano • A herança histórica é legitimada pela crítica literária e histórica, além da necessidade de uma crítica filosófica. • A ética independe da religião. • A autoridade da religião ou de uma tradição de postular uma verdade é posta em dúvida através da razão • A ciência é o meio pelo qual o homem pode encontrar a verdade Um nome bastante importante desse período foi Immanuel Kant. Ele revolucionou a forma de pensar porque se opôs tanto aos racionalistas – que diziam que o conhecimento vinha da própria mente – quanto aos empiristas – que diziam que o conhecimento vinha de fora, de experiências. Kant postulou que o conhecimento surge da união entre a informação que vem até nós através dos cinco sentidos com categorias inatas da mente humana. Mais tarde, Kant postulou que a realidade está dividida em duas categorias: a fenomenal (aquilo que pode ser experimentado) e a numenal (uma realidade espiritual/metafísica). O ser humano não possui categorias inatas para adquirir
  • 14. informações do mundo numenal. Dessa forma, tudo que podemos conhecer é o que é experimentado, por mais que a realidade seja mais do que isso. Para Kant, Deus estava no mundo numenal, portanto era impossível conhecê-lo através do uso da razão. Isso não o caracteriza como ateu. Ele acreditava em Deus, mas dizia que era impossível de conhecê-lo. Assim, Deus deve ser conhecido por meios dos aspectos morais que podemos experimentar e somente isso. No século XIX, Georg Wihelm Friedrich Hegel postulou o que é conhecido como dialética hegeliana. Para ele, a mente ou o espírito se manifesta no processo histórico e a história carrega um significado próprio. Dessa forma, existe um processo contínuo de progresso cultural e racional. Esse processo de evolução histórica dependia da solução do problema entre uma tese e uma antítese que passavam a gerar uma síntese. Por sua vez, a sintese se torna uma tese que terá sua antítese e dará origem a uma nova sintese e assim por diante. Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher é considerado o paid a teologia liberal, ou moderna. Ele foi um grande teólogo que nasceu em meio o fervor iluminista e kantiano. Ele foi educado no pietismo dos morávios. [1] Por causa disso, Schleiermacher teve suas primeiras experiências religiosas. Quando estudava os morávios ele se deparou com a crítica neologiana [2] sobre a ortodoxia protestante histórica. Ele rejeitou o substituto racionalista e moralista e nessa época foi apresentado ao movimento romântico, uma resposta ao racionalista crítico e analítico do século XVIII. Schleiermacher se baseava em três premissas: 1) a crítica iluminista da ortodoxia dogmática protestante; 2) a filosofia idealista romântica fundamenta a fé cristã melhor que o racionalismo superficial do iluminismo; 3) o idealismo pode interpretar a teologia cristã. A partir desses três pontos, Schleiermacher revolucionou o método teológico tradicional. Ele entendia que todo homem possui uma consciência de Deus que faz o homem ser dependente de Deus. Assim, a revelação passou a ser subjetiva onde a experiência era a causa da doutrina. As afirmações teológicas não descrevem a realidade objetiva, mas é o meio pelo qual nos relacionamos com Deus e percebemos essa dependência. A autoridade final passou a ser essa experiência de dependência. O ser humano precisa lembrar-se de Deus e ter uma experiência com Cristo em comunidade para ser redimido. Para ele, o sacríficio na cruz não foi expiatório, mas um grande exemplo no qual o homem toma consciência e é transformado. Outro nome importante para o liberalismo é Albrecht Ritschl. Ele, por sua vez, via a religião em termos de moralidade e esforço pessoal para estabelecer o Reino de Deus. Para Ritschl e seus seguidores, é impossível conhecer a Deus como ele é em sua essência. Ritschl seguiu uma epistemologia kantiana que entendia que tudo que o ser humano pode compreender é aquilo que é experimentado. Ele afirmava que ninguém poderia conhecer as coisas em si mesmas, mas apenas a forma como elas são apresentadas no fenômeno. Como Deus está fora do domínio teórico, o ser humano não pode percebê-lo. O homem tem que estar devoto a Jesus Cristo como aquele que revela Deus. Assim, o empirismo ritschliano passou a investigar a vida de Cristo na história. Quando alguém era confrontado com Jesus Cristo havia uma comunicação de uma verdade religiosa que não era teórica. Assim, a verdader religiosa não era mais encontrada em proposições teológicas, mas em experiências subjetivas. Com isso, a
  • 15. compreensão de Deus fica sujeita ao homem. Ele não pode entender quem Deus é, mas pode ter sua manifestação em Jesus. A experiência de Deus, seja ele qual for, é o conhecimento religioso. Para Ritschl, Deus era pessoal, mas não era capaz de ser conhecido. O conhecimento dele era mediado por Cristo, o qual pudesse ser encontrado na Bíblia, a pessoa não poderia ter conhecimento de sua morte expiatória e segunda vinda. A alma humana não pode conhecer Deus porque está limitada aos fenômenos. Portanto, a comunhão com Cristo consiste em imitá-lo num esforço moral em favor de seu Reino. Um terceiro fator que contribuiu para o desenvolvimento do liberalismo foi o estudo das religiões comparadas. A filosofia romântica levou à busca por outras religiões e a sua forma de expressão humana. A colonização pelo mundo e o conhecimento de novos povos e culturas permitiu o contato com diferentes expressões de religiosidade. Com isso, a Bíblia foi estudada em seu contexto cultural. As religiões comparadas entendem que todas as religiões expressam a verdade de formas diferentes aplicadas a seu contexto cultural. Isso não seria diferente na questão da Bíblia. Deus havia se manifestado de determinada forma no período do AT e do NT para seu povo localizado no entorno de Israel, Egito, Mesopotâmia, mas isso não faria as religiões de outros povos serem menos verdade, mas são expressões diferentes do mesmo Deus. Adolf von Harnack também é um importante nome na teologia liberal. Ele foi historiador do cristianismo e escreveu um livro chamado A História do dogma. Ele operou totalmente na base do liberalismo chegando até mesmo a considerar que o NT fora deturpado. Na medida em que o cristianismo saia do contexto judaico e entrava no contexto helenista, essa deturpação aumentava e a religião se perdia. Ele entendia que as influências helenísticas deveriam ser removidas para que o puro cristianismo surgisse. Harnarck entendia que Paulo modificou a doutrina a pessoa de Cristo segundo suas próprias compreensões. Paulo também seria o responsável por postular a morte e ressurreição de Cristo como fatores fundamentais para a salvação. Harnack defende em sua obra O que é o cristianismo? a paternidade universal de Deus, a fraternidade universal do homem e o valor infinito da alma humana individual. Jesus Cristo é um exemplo supremo e o homem está consciente o tempo todo de Deus, o qual é perfeitamente imanente. Essas são as três características básicas do liberalismo: • Paternidade universal de Deus.“Todos são filhos amados de Deus”. Deus está em comunhão com sua criação. Deus é totalmente imanente e tudo passa a ser um milagre. • Fraternidade universal do homem. O ser humano não é visto como um pecador e não havia distinção qualitativa entre Deus e o homem. Deus poderia ser conhecido pelo homem e a eternidade era uma questão deimortalidade de espírito, mas não de uma ressurreição corpórea • Jesus Cristo é um exemplo.O liberalismo nega que Jesus é Deus. Jesus teria se tornado o homem perfeito porque tomou consciência de Deus. Assim, ele se torna o exxemplo perfeito que o homem deve seguir para se relacionar com Deus. Essas doutrinas geram algumas consequências.
  • 16. • A autoridade religiosa da Bíblia é desfeita. A autoridade passa a habitar no indivíduo e não em uma fonte externa de conhecimento. A bíblia é somente um registro dessas experiências que pode conter imprecisões e erros. • A salvação tem um aspecto meritório. O homem passa a seguir os passos e vida de Jesus e entre em comunhão com Deus. • Deus trabalha no mundo de forma totalmente imanente por meio de pessoas. Isso significa que ele não é um ser transcendente, mas que passa a ser conhecidos por meio de princípios morais. Algumas coisas percisam ser analisadas em relação ao liberalismo. Sua ênfase exarcebada na imanência divina remove a distinção Deus-criação.Dessa forma, a imanência levou à negação do sobrenatural para a ênfase só no natural. Por causa disso, os milagres não foram mais cridos como algo forma do ordinário. Tudo passava a ser milagre. Por causa da perda do transcendente, houve uma perda da doutrina do pecado. Deus é distinto de sua criação por essência, fundamentalmente, mas também porque o homem e a criação estão sob o pecado. Uma vez que essa separação é abolida para dar lugar a uma ênfase na imanência, o conceito de pecado é perdido, não sendo mais tratado como um mal que deturpou totalmente o homem, mas meros equívocos. Se não há pecado, não há necessidade de salvação. O homem só precisa tomar consciência de Deus e de que já é filho. A perda do aspecto sobrenatural levou a crítica bíblica a considerar dificuldades interpretativas, ou limitações de revelação como erros ou imprecisões. A Bíblia é apenas um livro humano que relata as experiências religiosas de um povo em determinada cultura durante certo tempo. Por fim, o que restava é que a pessoa de Cristo fosse remodelada. Para os liberais o Cristo da fé é diferente do Cristo da história. O Cristo da fé é produto das experiências religiosas do povo e que portanto varia de pessoa para pessoa. A crítica visa buscar o Jesus histórico, o homem que existiu na terra e o qual devemos seguir. Ela faz isso picotando a Bíblia segundo seus critérios para dizer quais textos são genuínos ou não para que possamos conhecer o Jesus histórico. Esse Jesus histórico não era divino, o ser divino é produto da experiência religiosa pessoal do indivíduo, mas um homem que andou na terra e nos deixou um grande exemplo de como se relacionar com Deus. Aula 9 – A neo-ortodoxia O movimento da Neo-ortodoxia surgiu em 1920 como uma resposta ao Liberalismo. Os teólogos neo-ortodoxos visaram combater os principais pontos do liberalismo devolvendo à teologia a noção de transcendência de Deus, pecado do homem, aspecto sobrenatural da salvação e as Escrituras como fonte e centro da teologia. As implicações do liberalismo repercutiram no século XIX e início do século XX conduzindo as pessoas a não estarem restritas às ideias de busca de perfeição moral, arrependimento, caindo em uma profunda imoralidade e depravação. A Bíblia tornou-se um livro de profunda análise crítica. Ela passou a ser tratada como um livro humano passível de interpolações históricas e desprovida de seu caráter sobrenatural. Estudos no Pentateuco levaram à formulação da hipótese documentária a qual dizia que o Pentateuco teve sua origem de 4 fontes diferentes e que não foi Moisés que o escreveu. Isaías foi dividido em dois autores e Daniel foi considerado como tendo escrito no período intertestamentário. Já no NT, homens como F.C. Baur aplicaram a dialética hegeliana para interpretar seus textos levando a concluir que as epístolas de Paulo foram
  • 17. na verdade escritas por seus seguidores. Isso para dizer somente alguns ataques que a Bíblia sofreu. Com o advento da 1ª Guerra mundial, a mentalidade do progresso humano encontrou um entrave. A ideia de que o homem estava progredindo em bondade se tornou vazia. Se Deus é totalmente imanente na história como ele pode agir de tal forma que aconteça tal catástrofe? Nesse contexto, surgiram homens como Karl Barth, Emil Brunner, Reinhold Niebuhr e Dietrich Bonhoeffer. Karl Barth foi um grande teólogo do século XX.Filho de pastor de uma igreja reformada suíça estudou a filosofia kantiana, a teologia de Schleiermacher, também estudou com Adolf von Harnack e com o teólogo bíblico e conservador Adolf Schlatter. Barth foi exposto à teologia liberal, mas nunca a achou satisfatória. Aos 23 anos foi ordenado para o ministério o qual durou 10 anos (1911-1921). Durante esse tempo, ele descobriu um Deus diferente do que aprendera no seminário. Na Bíblia, ele viu Deus como transcendente. As influências que Barth iam recebendo faziam com ele fosse se distanciando da teologia liberal cada vez mais. Em 1918, ele terminou a primeira edição de seu comentário de Romanos. Ele foi influenciado por Soren Kierjegaard, do qual obteve a metodologia teológica característica: dialética, paradoxo, decisão e crise. Quando a segunda edição de seu comentário foi publicado todo liberalismo de Barth havia desaparecido. Em 1927, Barth publicou a Dogmática Cristã, onde se opôs ao catolicismo e ao liberalismo. Ele entendia a Palavra de três formas: a Palavra revelada (encarnada), a Palavra escrita e a Palavra proclamada. A revelação vem apenas por meio de Cristo, a Palavra de Deus revelada. Porém, o ES é uma necessário para o apreendimento da Palavra de Deus objetiva. Para Barth, a Trindade se opõe se contrapõe a toda teologia natural e antropocêntrica. Barth também foi influenciado por Anselmo da Cantuária quando este diz que a fé progride em conhecimento de Deus. A fé é o começo e o fim. O conhecimento de Deus do homem é impulsionado pela fé e sempre será incompleto, sendo fruto da graça divina. Emil Brunner nasceu em 1889, passou pela Universidade de Zurique e de Berlim, obtendo seu Ph.D em 1913. Ele seguiu carreira pastoral e chegou a lecionar teologia na Universidade de Zurique, onde estudou. Seu pensamento foi independente de Barth, mas seguiu um caminhou similar. Seu pensamento foi moldado por uma perspectiva socialista cristocêntrica e pelo método dialético. Ele estava convencido que a teologia dialética tinha origem no ES, diferentemente de qualquer outro sistema filosófico ou teológico. Brunner estudou Lutero, Calvino e sua teologia foi influenciada por refomadores. Ele também foi influenciado pelo filósofo Martin Buber, cujo pensamento estava baseado em Kierkegaard. A filosofia do “eu-tu” de Buber lançou base para Buber expressar a sua antropologia. Assim, concluiu que o conceito bíblico de verdade envolve um encontro necessário com Deus para seu entendimento. Sem isso, é impossível conhecer a verdade. Brunner divergiu de Barth porque admitiu uma teologia natural. Ambos debateram. Brunner publicou a obra Nature and Grace: A discussion with Karl Barth a qual gerou a resposta de Barth: Nein! [Não!]. Brunner passou a enfatizar o encontro com Cristo como central à fé cristã. Ou seja, a verdade sobre Cristo não é descoberta em discussões teológicas, mas a partir de um encontro com ele. Ele foi
  • 18. responsável pela restauração das doutrinas do pecado, encarnação, ressurreição. Ele também devolveu às Escrituras o papel normativo na Igreja. Reinhold Niebuhr também foi bastante influente na primeira metade do século XX. Ele era filho de luteranos e estudou no Seminário Teológico Éden, continuando seus estudos na Escola de Divindade em Yale. Niebuhr foi bastante influenciado pela teologia liberal, mas a considerou insuficiente para responder às questões que sua congregação demandava. Em 1928, deixou o ministério pastoral para se dedicar como professor no Seminário União em Nova York. Ele foi influenciado por Kierkegaard e Barth, mas estava insatisfeito no trato deles das questões éticas. Sua primeira importante obra foi Moral man in Immoral Society, em 1932 e depois escreveu The nature and destiny of man, em 1939. Niebuhr se opôs ao liberalismo e formulou o que é conhecido como realismo cristão. Para ele, o homem deveria pensar a si mesmo como pecador e santo, estando sujeito às forças da História, mas sendo formador delas, era uma criatura de Deus, mas era um criador de coisas. A cruz foi vista como aquilo que venceu as forças pecaminosas do mundo. Niebuhr entendia que o pecado era um problema para o homem. O homem era depravado em sua raiz. Os melhores esforços humanos eram infectados pelo pecado. Sua doutrina era uma sintese entre o que a Renascença e a Reforma ensinavam. Outro nome importante da Neo-ortodoxia foi Dietrich Bonhoeffer. Ele nasceu em 1906 e estudou filosofia e teologia em Berlim e Tübingen. Foi educado na teologia liberal sendo aluno de Harnack, Deissmann e Seeberb, mas rejeitou o liberalismo e defendia pontos parecidos com Barth. Ele foi ordenado como pastor luterano em Barcelona. Passou um tempo estudando no Seminário União em Nova York e depois voltou para ser professor de teologia em Berlim. Ele tornou-se o líder da igreja confessante, a qual fazia parte da igeja luterana estatal e se opunha ao programa nazista da época (1934). Bonhoeffer ficou conhecido por sua oposição ao nazismo e a Hitler. Essa oposição foi tão forte que ele envolveu-se numa conspiração para assassinar Hitler, mas foi descoberto e condenado à forca poucos dias antes da queda do Terceiro Reich. Por causa disso, ele é considerado um martir por muitos. As características gerais do movimento neo-ortodoxo são as seguintes: 1. Dialética como método teológico. Esse método pressupõe que há uma diferença de qualidade entre Deus e a criação, e que a verdade não pode ser afirmada de forma análoga. A verdade é encontrada por meio da dialética (tese-antitese-sintese) das declarações que são aparentemente paradoxais nas Escrituras: Jesus como Deus e Homem; Transcendência de Deus e sua autorevelação; seres humanos são pecadores e livres etc. 2. Deus é totalmente outro. Isso é totalmente diferente do liberalismo. Dizer que Deus é totalmente outro significa que ele é um ser completamente distinto de toda a sua criação, ou seja, totalmente transcendente. Essa resposta de ênfase na transcendência foi dada devido o antropocentrismo evidencidado pelo liberalismo.
  • 19. 3. A Bíblia contém a Palavra de Deus. Isso siginifica dizer que neo-ortodoxos não criam que a Bíblia é a Palavra de Deus em si mesma. Isto é, eles não defendiam a inspiração verbal das Escrituras. Para eles, as Escrituras são um registro do encontro de Deus com os escritores. Assim, Deus usa o texto para ter um encontro com os leitores. É nesse momento, desse encontro, que Deus se revela ao leitor, é nesse momento que as Escrituras se tornam a Palavra de Deus. Como livro humano, a Bíblia é falível, entretanto Deus usa esse registro para proporcionar um encontro com os leitores. 4. Rejeição da teologia natural. A teologia natural – tanto a vertente tomista da igreja católica, quanto a do liberalismo – foi rejeitada pela tradição neo-ortodoxa. Uma vez que neo-ortodoxos consideram Deus totalmente transcendente, é impossivel que a revelação geral comunique algo redentivo a seu respeito. Aquilo que Brunner admitia era o conhecimento rudimentar de Deus, mas não era salvífico. 5. Cristologia. Jesus é visto como o Deus-homem, 100% Deus, 100% homem. Barth afirma que a morte de Cristo é expiatória e de fato reconcilia a humanidade com Deus. Porém, a expiação na visão de Barth tem indícios de universalismo. Ainda que ele tenha se recusado a afirmar tal doutrina, ela parecia ser a conclusão lógica de suas considerações. 6. Realismo bíblico. Esse era o conhecido ensino de Reinhold Niebuhr. O ensino reafirmava a natureza totalmente depravada do ser humano. A neo-ortodoxia reafirmou que o homem se encontra num estado de rebelião contra Deus e uma separação radical dele. 7. Teologia Bíblica. A neo-ortodoxia proporcionou o surgimento de estudos na área de teologia bíblica. Com a publicação de Der Römerbrief de Barth, várias obras foram publicadas. Esse movimento enfatizava o estudo da Bíblia em suas próprias categorias. Isso significa entender a cosmovisão por detrás daquele período. 8. Revelação na história. O movimento neo-ortodoxo entendia que a revelação não era proposicional, mas que era o entendimento humano de como Deus se encontrava com seu povo. Isso se opõe ao entendimento fundamentalista que vê a Bíblia como um livro de proposições religiosas e verdades eternas, e ao liberalismo, que vê a Bíblia como somente uma expressão religiosa de determinado povo. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: SAWYER, M. James. Uma introdução à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor teológico. SP: Editora Vida, 2009.
  • 20. Teontologia: o Ser de Deus e seus atributos Aula 1 – Teorias sobre a existência de Deus Existem muitas teorias acerca da existência de Deus, as chamadas Teorias de Divindade, ideias sobre a existência ou não-existência de Deus. E, se Deus existe, como é que ele existe. A primeira delas é o teísmo. "Teísmo" vem da palavra grega θεός [theós], "deus". Teísmo significa acreditar que existe um deus, qualquer deus que seja. O teísmo se manifesta de muitas formas, como no teísmo cristão, no teísmo islâmico, no teísmo indígena etc. Existe um teísmo para cada divindade adorada pelos homens. É justamente do termo "teísmo" que temos a segunda posição que é o ateísmo. A partícula “a-“ aparece geralmente como uma negação. Ateísmo seria a negação de Deus. Tecnicamente, todo ser humano é meio ateu. Se sou teísta com relação ao Deus cristão, sou ateu em relação a deuses hindus, por exemplo. Quem é teísta para um deus é, geralmente, ateu para outros deuses. Mesmo assim, geralmente alguém se apresenta como ateu ou se fala do termo ateísmo em referência a uma negação de toda e qualquer divindade. Próximo disso, você tem o agnosticismo. No grego, γνοσκω [gnosko] fala de conhecimento. O agnóstico é alguém que nega o conhecimento – mas não o conhecimento absoluto. Mais apropriadamente, o agnóstico nega a possibilidade do conhecimento a respeito de Deus. O agnóstico nega que é possível conhecer se Deus existe ou não. Esse termo foi usado pela primeira vez por um biólogo e filósofo inglês chamado Thomas Huxley. Ele usou esse termo para falar sobre a ideia de uma crença suspensa. Muito chateado com os dogmas da igreja, ele decidiu que não valia a pena mais fazer alegações a respeito da divindade. Há quem diga que o agnóstico é o ateu covarde, alguém que não acredita em Deus, mas não tem muita coragem de falar a respeito. Não é uma forma muito correta (nem muito educada) de se referir aos agnósticos. Agnósticos são pessoas que duvidam da possibilidade de discutir o metafísico e de chegar à conclusões válidas a respeito daquilo que, segundo eles, está fora do campo normal da argumentação. Nós podemos argumentar sobre assuntos científicos, coisas que podem ser provadas no laboratório, aquilo que é sensível; questões metafísicas, para além da matéria, são assuntos que não poderiam chegar, de forma alguma, à mente do ser humano. São assuntos que seria inócuo discutir e tentar debater a respeito disso. Dentro dos teísmos mais comuns, nós temos o politeísmo. No grego, o termo πόλυς [pólus] significa "muitos". Assim, politeísmo seria a ideia que existem várias divindades, talvez em competição, talvez em harmonia, à nossa volta. Dentro do politeísmo, existem a monolatria e a polilatria. Uma vez que existam vários deuses dentro do politeísmo, você pode adorar apenas um desses deuses, que é a monolatria, onde "mono" vem de "único" e "latria" vem de "adoração", ou adorar vários deuses, que seria a polilatria. Um politeísta monólatra é alguém que acredita em vários deuses, mas adora um único deus contra os outros. Enquanto um politeísta que comete polilatria é um politeísta que acredita na adoração de vários deuses. A monolatria também é conhecida como henoteísmo, com hen- significando “um”, em grego. Foi Max Miller,
  • 21. um historiador alemão das religiões, que cunhou esse termo para falar de pessoas que vivem no contexto da existência de vários deuses, mas que escolhem um único deus para adorar. Existe também o panteísmo. No grego, παντα [panta], πας [pas] e πασιν [pasin] muitas vezes são usados para falar de "tudo" e "todos" de alguma forma. Falar de panteísmo é falar que deus é tudo, que deus se manifesta através de tudo, que as coisas são deus de alguma forma. Ou seja, acredita-se numa íntima relação entre a existência e a identidade de deus e a existência e identidade das coisas. O que as coisas são, o que somos e o que deus é confundido numa coisa só. O panteísmo tem uma variação chamada de panenteísmo, que é a ideia que deus está em tudo. Por mais que não exista uma confusão tão profunda de identidade entre quem é deus e o que são as coisas, ainda assim deus está contido em todas as coisas. Muito próximo da ideia de panteísmo, temos o que é chamado de monismo, que vem do termo grego "apenas", "só" ou "único". O termo foi cunhado pela primeira vez por um filósofo alemão chamado Christian von Wolff e é uma prática e uma visão muito comuns no hinduísmo, por exemplo. E é muito próximo do panteísmo como conhecemos. Por fim, temos o deísmo. O deísmo é a perspectiva de que existe um deus e esse deus criou tudo e mesmo assim se afastou do universo. Ele deu o pontapé inicial, colocou as engrenagens do relógio para girar, mas então não se envolve mais com a criação. O deísta é um teísta. Ele acredita em deus, mas um deus que está distante, longe e que não pode ser alcançado. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: Antonio Gilberto (et al.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2008, p. 53-55. Aula 2 – Podemos conhecer Deus? Daremos início ao nosso curso falando de onde tudo começa: com a pessoa de Deus. Tudo começa com esse Senhor que criou tudo, segundo a teologia cristã, e deu sentido para todas as coisas. Quem é Deus? Como percebemos Deus? Como é que Deus cuida de tudo? Como é que Deus se revela? Esse é o assunto da teontologia, ou da teologia propriamente dita. O termo teologia significa, basicamente, o estudo de Deus. “Teo” [θεος], do grego, significa “Deus”, e logia [λόγος] vem de palavra, estudo, razão, conhecimento. Teologia virou o nome de todo o estudo sobre Deus, de tudo aquilo que se fala a respeito de quem é o Senhor. Então, dentro da teologia sistemática, quando você monta as várias doutrinas que compõe o cristianismo, seja bibliologia – o estudo da Bíblia – ou cristologia – o estudo de Cristo –, se eu chamar teologia do estudo de Deus, estarei dizendo que outras coisas não são teologia. Então, muitos teólogos tiveram que dar um jeito para nomear a matéria que estuda o nome do Senhor. Enquanto Teologia estuda tudo aquilo que fala a respeito de Deus, Teontologia se tornou um jeito de chamar essa doutrina dentro da sistemática, ou o que os teólogos também chamam de
  • 22. teologia propriamente dita – a qual seria teologia como o estudo de Deus diretamente. Nesse primeiro módulo falaremos justamente de teontologia, a teologia propriamente dita, do estudo a respeito do nome do nosso Senhor. É possível conhecermos de fato Deus? É possível realmente conhecermos Deus? É possível entendermos e compreendermos o Senhor? Canções populares chegam a dizer que ninguém explica Deus e, de fato, em nível último e absoluto, nunca conseguiremos ter um conhecimento exaustivo do Senhor. É impossível que consigamos entender Deus em sua completude e totalidade. Ele é eterno, ele é imutável, ele transcendente, ele é aquilo que teólogos do século XX chamavam de totalmente outro. Ele não é completamente acessível pela mente humana. É comum que na teologia tenhamos dúvidas e fiquemos com certas questões não respondidas, e isso justamente mostra o fato que Deus é muito maior que nós. É normal não termos todas as respostas porque Deus é a verdade acima de qualquer coisa e está muito acima das nossas compreensões. Calangos não entendem seres humanos da mesma forma que seres humanos entendem os calangos (aqui no Ceará, calango é o nome dado para aquelas lagartixas que ficam nas paredes). Se você tentar imaginar um inseto, uma pulga, por exemplo, tentando compreender o ser humano, isso não é possível, mas nós compreendemos as pulgas e os insetos muito melhor do que vice-versa. Deus nos deu uma revelação e uma mente para compreender as coisas, mas, ainda assim, não conseguimos compreender tudo de forma completa. Quando lemos 1 Coríntios 13, Paulo diz que hoje vemos as coisas como que por um espelho. Nós vemos as coisas reveladas num momento pequeno, breve, suficiente, mas haverá um dia em que conheceremos a Deus como hoje somos conhecidos. Por mais que haja polêmicas interpretativas em 1 Coríntios 13 – e certamente abordaremos isso em algum momento do curso – a ideia do texto é que nós hoje, mesmo através da revelação da Escritura, vemos Deus por meio de um material de bronze que por ser bem polido e brilhoso conseguimos perceber algum reflexo, mas ainda assim não conseguimos ver Deus em sua grandeza e totalidade. Isso entra em uma das grandes polêmicas da teologia sistemática e da revelação de Deus, que é sobre a teologia positiva e a teologia negativa – respectivamente, a teologia catafática e teologia apofática. Apofático vem de aposfemi, no grego, que significa basicamente negar. Portanto, a teologia apofática, também conhecida como teologia negativa, é a ideia que fazemos teologia basicamente através de negações. É um estudo de Deus, principalmente, através de suas diferenças. Ela se recusa a interpretar Deus a partir da realidade e que simplesmente precisa entender o que Deus não é antes de entender o que Deus é. Ao contrário disso temos a teologia catafática que é própria da tradição ocidental. Ela tenta encontrar Deus justamente a partir daquilo que é dito sobre ele, seus nomes e atributos. A teologia negativa, por mais que tenha alguns intelectuais que a seguiram no ocidente, é muito próxima de teologias místicas e de pessoas que não seguem uma perspectiva próxima do cristianismo geralmente. A teologia positiva é a ideia de que há um Deus que se revela, que se manifesta, que se mostra, que se dá a conhecer através de alguma revelação. Revelação essa que os cristãos acreditam ser a Palavra de Deus. Nós estudamos teologia propriamente dita antes de estudar bibliologia porque a revelação é uma revelação de um Deus. Cometemos um erro metodológico, por assim dizer, porque a Escritura é a base do que vamos discutir acerca de Deus, mas cometemos uma
  • 23. coerência lógica, no sentido de que entendemos que Deus vem antes de sua própria revelação. Ao ler a Bíblia, lemos sobre um Deus que se revela positivamente. Fazemos teologia propositiva, sim, cremos em uma teologia positiva, mas sem desconsiderar a grande lição da teologia negativa de que não conseguimos nunca entender Deus em sua completude e em sua totalidade. É claro que ninguém explica Deus de forma extensiva e absoluta. Mesmo assim, Deus se revela, se explica, se mostra, se apresenta e nisso podemos construir teologia de forma positiva, de forma proposicional, entendendo aquilo que a revelação fala sobre o nosso Senhor. É claro que Deus se revela a nós fora da Bíblia – falaremos melhor disso em bibliologia. Temos um Deus que se revela na natureza, que se mostra através das coisas criadas e que podemos percebê-lo através da criação. Porém, esse mesmo Deus se revela de forma extensiva, mais clara, justamente na sua revelação especial. Essas são as diferenças de termos que iremos estudar em Bibliologia. Revelação geral é a revelação de Deus na natureza e a revelação especial que é a revelação de Deus na Palavra. Esse Deus que se revela na palavra permite que o conheçamos para além da simples manifestação dele na natureza. Se você olhar para natureza, de fato perceberá algumas coisas sobre Deus. Na carta de Paulo aos romanos, no primeiro capítulo, a partir do verso 18, diz que Deus se revela de alguma forma nos céus e na coisa criada, mostrando o seu imenso poder. Se você olha à sua volta, percebe que existe uma divindade, que existe um Senhor, um Deus que criou tudo e que formou todas as coisas. Ele é criativo por causa da criatividade da criação. Ele é poderoso por causa do poder dos fenômenos naturais. Ele é bondoso por causa de todas as coisas maravilhosas que encontramos na criação. Ele possui uma ira que se manifesta na coisa criada por causa de todo furor que nós encontramos à nossa volta. Há um Deus que é revelado na criação, mas não de forma total, completa. Na Escritura, temos muito mais a respeito de quem é esse Deus e nela podemos fazer uma teologia positiva, uma teologia que se baseia em fazer proposições acerca do Senhor. Claro que toda verdade sobre Deus é uma verdade diminuta. Existe um nível de humildade que tem que nos fazer acreditar que de fato não iremos conseguir mesmo através das revelações teológicas entender Deus em sua grandeza. É bom entender que Deus, ao falar na Palavra, balbucia a respeito de si mesmo. Ainda que leiamos que ele é soberano, bom, justo, isso ou aquilo, no fim das contas estamos ouvindo uma aproximação da nossa mente daquilo que Deus é. Ele é tão poderoso, incrível e tão além de nós que de fato ele se diminui para que possamos compreendê-lo. De fato, quando ele se revela, ele balbucia acerca de si mesmo. É como explicar para uma criança a complexidade do ser humano: é uma verdade o que é dito, mas é uma verdade dita numa linguagem infantil. Deus se revela e nos apegamos a essa revelação como verdade porque ela já é elevada para nosso raciocínio. A doutrina da Trindade é elevadíssima para nossa compreensão humana, ainda assim é uma verdade mesmo que não consigamos sequer tocar nas profundidades da grandeza de quem é o Senhor. Todo pregador, no fim das contas, é um fracassado. Quando um pastor prega num domingo, por exemplo, ele precisa sair sabendo que fracassou na sua missão em algum nível. Se a missão dele é mostrar como Deus é grande, como Deus é bom, justo, maravilhoso, ele pode até falar por horas, e ainda assim ele não terá conseguido mostrar como Deus é grandioso, bondoso e incrível.
  • 24. O teólogo, pastor e missionário americano Paul Washer diz que o pregador não é um microscópio que pega coisas pequenas e aumenta para os outros verem. Pelo contrário, ele é um telescópio que pega astros, estrelas enormes e deixa pequeno para que nosso olho entenda. A teologia é uma forma de tentar apreender Deus em sua grandeza. É um trabalho fracassado, mas é maravilhoso, porque Deus se revelou em um nível que podemos compreender. C. S. Lewis, famoso autor protestante escritor de As Crônicas de Nárnia, disse que Deus não se faz de doutor diante de uma lavadeira. Deus não se fez de doutor diante de homens pequenos como nós e deixou que nós o compreendêssemos. Ele deixou que nós o entendêssemos. Nesse módulo de teologia propriamente dita, entraremos nessa jornada de olhar para aquilo que Deus revelou si mesmo. Aula 3 – Os Nomes de Deus Deus é chamado de muitas formas na Bíblia. O nome mais simples usado para representar Deus na Bíblia é ’el (‫ֵא‬‫ל‬), do hebraico. De acordo com a maioria dos filólogos, aqueles que estudam línguas e palavras, essa palavra significa o Senhor mais preeminente ou primário, ou aquele que é forte e poderoso. O nome ’eloah (‫ֶא‬‫)ֹלה‬, singular de ’elohim (‫ֶא‬‫ם‬‫י‬ ִ‫)ֹלה‬, procede da mesma raiz que ’el e aponta para Deus como o Deus-Forte ou como objeto de temor. O nome no singular é mais poético e raramente usado, já o plural é o nome comum de Deus. Alguns argumentam que se referir a Deus no plural, 'elohim, evidenciaria o uso hebraico chamado de “plural de majestade”, o qual é um plural para se referir a alguém muito importante. Porém, vários teólogos argumentam que isso nunca é usado na Escritura e que esse argumento é só uma tentativa de fazer parecer que a Trindade já não estava manifesta no Antigo Testamento e que não existia nenhuma pluralidade na pessoa de Deus nas Escrituras hebraicas. 'Elohim, o termo plural para se referir a Deus, evidencia a Trindade e essa pluralidade dentro da figura divina. Outros argumentam que como 'Elohim aparece muitas vezes com um adjetivo ou com um verbo no singular, seria melhor interpretá-lo como um plural de abstração (segundo Ewald) ou como um plural de quantidade, que é usado para se referir a uma entidade ilimitada (segundo Oehler), ou como plural intensivo que serviria para expressar a plenitude de poder de Deus (segundo Delitzch). De fato, poucas vezes 'Elohim aparece na Escritura com um adjetivo ou verbo no plural (Gn 20.13; 28.13s; 35.7; Êx 32.4, 8; Js 24.19; 1 Sm 4.8; 17.26; 2 Sm 7.23; 1 Rs 12.28; Sl 58.11 [12 TM]; 121.5; Jó 35.10; Jr 10.10). No singular, aparece apenas 57 vezes no Antigo Testamento hebraico, sendo 41 só no livro de Jó, enquanto que no plural encontramos 2.570 vezes. Referências a Deus no plural também ocorrem com outras palavras como qedoshim (‫ְק‬‫ם‬‫י‬ ִ ‫דֹוש‬ Pv 9.10; Os 11.12 [12.1 TM]), em ’osim ( ‫ע‬ ‫ים‬ ִ ‫ש‬ , Jó 35.10; Sl 149.2; Is 54.5), em bôr’îm (‫ים‬ ִ ‫א‬ ְ ‫בֹור‬, Ec 12.1) em Adonai (‫ְא‬‫ָי‬‫נ‬ֹ‫)ד‬. Esse último nome é muito importante para se referir a Deus no Antigo Testamento. A palavra aparece exatamente 449 vezes no Antigo Testamento como referência ao Senhor. Em 134 vezes, aparece sozinho, e em conexão com YHWH, 3I5 vezes. Por isso, alguns teólogos argumentam que Adonai é um dos nomes de Deus. O nome que expressa soberania e senhorio sobre o universo e que não seria apenas um título atribuído a ele. O termo Adonai, no
  • 25. hebraico, significa literalmente, “meu Senhor”, e nunca é usado como pronome de tratamento. Para isso, o hebraico usa Adoni ou Adon, nunca Adonai. Todas essas construções plurais evidenciam Deus como completo, pleno. Sendo ele a plenitude da vida e do poder. Para muitos teólogos, isso apresenta essa característica mais plural da pessoa divina, evidenciando já no Antigo Testamento uma Trindade. A palavra ’elyon (‫ֶע‬‫ן‬‫יֹו‬ִ‫)ל‬ também é usada para se referir a Deus, possuindo o prefixo ’el e significa aquele que é exaltado acima de todas as coisas (Gn 14.18; Nm 24.16; Is 14.14). Porém, esse nome não é usado para se referir somente a Deus no Antigo Testamento. Essa palavra também é usada para se referir a falsos deuses, e a ídolos, quando as pessoas cometem idolatria e adoram essas falsas divindades (Gn 33.12; Êx 7.1; 4.16) e autoridades (Êx 12.12; 21.5-6; 22.7; Lv 19.32; Nm 33.4; Jz 5.8; 1 Sm 2.25; Sl 58.1; 82.1), mas é um nome usual também pelo qual Deus é designado. El Shaddai (‫ֶא‬ ‫ל‬ ‫י‬‫ד‬‫ש‬ ) designa Deus como aquele que generosamente supre todas as coisas (Gn 17.1; 28.3; 35.11; 43.14; 48.3; 49.25; Êx 6.3; Nm 24.4). El Shaddai é o Deus que faz com que todos os poderes da natureza sejam sujeitos e subservientes à obra da graça no mundo. Esse nome evidencia Deus como aquele que se dá ao seu povo e garante o cumprimento de suas promessas. É a palavra usada para falar do Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Gn 24.12; 28.13; Êx 3.6), do Deus dos patriarcas (Êx 3.13, 15), dos hebreus (Êx 3.18), de Israel (Gn 33.20). Significa, literalmente, “Deus todo poderoso”. Por mais que existam esses nomes que são usados para se referir a Deus e falar sobre ele, o nome pelo qual ele é mais conhecido no Antigo Testamento é o famoso tetragrama (‫)יהוה‬. Tetragrama porque são quatro letras que compõe o nomo próprio de Deus. Ele tem um nome que é descrito em quatro letras. A pronúncia desse nome foi perdida. Como os antigos judeus não escreviam as vogais das letras, mas o registro da língua hebraica se dava apenas com as consoantes e o som era passado apenas por tradição oral, com o tempo as pessoas pararam de falar o nome de Deus, por causa do medo de falá-lo e pararam de falá-lo de forma total, ao ponto da tradição oral não ter preservado qual era a pronúncia do nome de Deus. Nós temos quatro consoantes, mas não as vogais. Essas consoantes, se fossem traduzidas para o português, seriam YHWH. Um grupo de judeus conhecido por massoretas começou a criar grafias para representar o som das vogais no hebraico. Se você pegar o texto massorético, notará certas pequenas marcações abaixo das consoantes que representam o som das palavras. O motivo que pelo qal aparecem mais acentos nas vogais no hebraico é porque ela não caberia como uma letra em manuscritos antigos. Eles tinham que conseguir pegar um manuscrito pronto e adicioná-las. Não tinha como criar um espaçamento maior entre as letras, então as vogais ficaram como pequenas marcações abaixo de cada consoante. O que aconteceu é que como ninguém sabia quais eram as vogais do tetragrama, adicionou-se as vogais de Adonai – que era um nome muito usado para falar de Deus. Por isso, o nome comum do Senhor é pronunciado como Jeová, Javé ou Yeowah e algumas derivações que apresentam essa tentativa de reconstruir qual é o nome de Deus.Muitas bíblias traduzem simplesmente SENHOR apresentando Deus como alguém que é o Senhor Adonai sobre tudo e sobre todos. Muitos interpretam que o nome de Deus tem um significado que é compreensível e encontrado na Escritura. Significaria Deus como aquele que é ontem, hoje e sempre. Deus se revelou a Moisés através desse nome, justamente como aquele que é. Para
  • 26. Abraão, esse nome significou provisão para o sacrifício do seu filho Isaque. Ele apareceu como Jeová Jireh – o SENHOR que provê (Gn 22.14). Prometendo livrar os filhos de Israel daquelas pragas e daquelas enfermidades que sobrevinham e dos egípcios, ele se manifestou como Jeová Rafá – o SENHOR que sara/cura (Ex 15.26). Na época de angústia dos juízes de Israel, ele apareceu a Gideão como Jeová Shalom – o SENHOR é a paz (Jz 6.24). A todos que peregrinaram na terra, ele se apresentou como Jeová Ra’a – o SENHOR é meu pastor (Sl 23.1). Yahweh Tskednu significa SENHOR justiça nossa (Jr 23. 6). e Jeová Nissi significa o SENHOR é a minha bandeira (Ex 17.15). Ele se revela assim na batalha contra o mal e contra o pecado. E no futuro – talvez já nos novos céus e nova terra, para os aliancistas, ou no milênio, para os dispensacionalistas (assunto para o módulo de escatologia) –, ele será chamado de Jeová Shamá, o SENHOR está ali (Ez 48.35). BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: Esequias Soares (et al.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2008, p. 53-55. Aula 4 – O que são atributos de Deus? Quando falamos sobre quem é Deus, geralmente estamos discutindo sobre os atributos de Deus. Para definir quem é o Senhor, iremos defini-lo a partir de suas características. Quando você vai definir alguém, precisa trazer à tona coisas a respeito dele. Ele é alto, baixo, loiro, negro, branco, feio, gordo que nem eu, magro como você etc. As pessoas possuem características e o que difere uma pessoa de outra é aquilo que as pessoas são. Quando falamos sobre quem Deus é, estamos falando sobre os atributos de Deus, esse é o nome que é dado na teologia, quem Deus é e quais são as suas características. Definindo atributos de Deus, atributos de Deus, Erickson define como "aquelas qualidades de Deus que constituem o que ele é – as características exatas de sua natureza". Ele continua: Os atributos são qualidades como um todo. Não devem ser confundidos com propriedades, que, falando tecnicamente, são as características distintivas das diversas pessoas da Trindade. As propriedades são funções (gerais), atividades (mais específicas) ou atos (os mais específicos) de cada membro da divindade. (ERICKSON, 256-257). Isto é, o Deus-Pai teria uma característica, o Filho outra característica, o Espírito Santo outra característica. Essas características mais distintas não são atributos, mas propriedades. Por exemplo, quem morreu na cruz? Quem morreu na cruz foi o Deus- Filho. Quem foi enviado depois do Deus-Filho para a terra? Foi o Espírito Santo. Não foi o Espírito Santo que morreu na cruz, foi Jesus. Não foi Jesus que foi enviado depois que Jesus subiu, afinal, ele disse que enviaria o outro consolador depois de sua ascensão – que seria o Espírito Santo. Esses detalhes serão trabalhados melhor em cristologia e pneumatologia. Cada pessoa da Trindade possui características, atos e ações na realidade diferentes umas das outras. Essas coisas não são atributos distintos, mas propriedades distintas. Isso está atrelado ao que falaremos posteriormente sobre Trindade econômica e Trindade ontológica. Existem os atributos ontológicos da Trindade – aqueles que são
  • 27. próprios de quem a Trindade é. Mas também existe uma economia da Trindade – suas manifestações em contato com a realidade. Em seus atributos, Pai, Filho e Espírito Santo são idênticos. Já em suas propriedades, como disse Erickson acima, eles têm atuações distintas.Ele diz que essas propriedades são funções, atividades ou atos de cada membro da Trindade e continua dizendo que “os atributos são essas qualidades intrisecas, que não podem ser adquiridas nem perdidas” (ERICKSON, 257). Já o teólogo Norman Geisler argumenta que atributo é a “característica que pode ser atribuída à natureza de Deus – um traço essencial de Deus. Outros termos para atributo são ‘propriedade’, ‘perfeição’ ou ‘nome’” (GEISLER, 17). Onde o que é dito sobre o nome de Deus é dito sobre a pessoa em si, a característica de quem é a pessoa. Quando digo que louvo o nome de Deus, estou louvando quem Deus é por aquilo que ele se manifesta. Já Louis Berkhof não gosta muito desse tipo de nomenclatura. Ele é um teólogo presbiteriano que possui uma sistemática muito famosa no Brasil. Ele diz: O nome “atributos” não é ideal, desde que transmite a noção de acrescentar ou consignar alguma coisa a alguém, e , portanto, pode criar a impressão de alguma coisa é acrescentada ao ser divino. Indubitavelmente o termo “propriedade” é melhor, no sentido de indicar algo que é próprio de Deus e de Deus somente[...] Os atributos de Deus podem ser definidos como as perfeições que constituem predicados do Ser divino na Escritura, ou que são visivelmente exercidas por ele em suas obras de criação, providência e redenção. (BERKHOF, 51). Herman Bavinck, que escreveu uma coleção de quatro volumes de sistemática que temos em português – um texto bem longo e denso acerca do Senhor e dos temas da teologia –, diz que “cada atributo é idêntico ao ser de Deus; ele é aquilo que possui” (BAVINCK,121). Não é como se Deus tivesse atributos, como se tivesse amor, tivesse santidade, tivesse paciência e misericórdia. De fato, um atributo que Deus possui é um atributo que Deus é. De forma que ao ser definido como alguém amoroso, significa que ele é amor. Quando Deus é definido como alguém misericordioso, ele é misericórdia. É interessante que 1 João diz justamente isso, que Deus é amor. Há até igrejas que seguem exatamente esse nome. A ideia não só que Deus manifesta amor, mas que ele é o amor que ele possui. Então para o Bavinck não existe uma divisão muito clara entre aquilo que Deus tem como atributo e aquilo que ele é como ser. Isso é bem diferente daquilo que somos como seres humanos. Eu tenho amor, mas não sou amor. Eu tenho misericórdia, mas não sou misericórdia. Tenho santidade, mas não sou santidade. Deus, por outro lado, é aquilo que possui, segundo Herman Bavinck, porque mostra justamente essa grandeza e esse relacionamento absoluto entre as características que Deus tem e o próprio ser que Deus é. Tanto que ele vai dizer que “tudo o que Deus é ele o é completa e simultaneamente” (BAVINCK,121). Um jeito muito bonito de se referir ao Senhor. Considerando o que são esses atributos, temos que falar sobre as classificações dos atributos, os tipos de atributos de Deus. Mas isso é assunto para a próxima aula. Bibliografia utilizada:
  • 28. BAVINCK, Herman. Dogmática reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015. GEISLER, Norman. Systematic Theology, Volume two. Minnesota: Bethany House Publishers, 2003. Aula 5 – As classificações dos atributos Antes de explicarmos quais são os atributos de Deus, precisamos falar sobre as suas classificações. Vamos usar o termo atributo porque ele é o mais comum dentro da teologia, mas já explicamos sobre terminologias na aula passada. Esses atributos de Deus também têm sido classificados em tipos dentro da teologia. Geralmente existem quatro tipos de classificações comuns. Dessas quartas, escolheremos uma. A primeira classificação – a mais comum e conhecida – é entre aibutos comunicáveis e atributos incomunicáveis. Segundo Millard Erickson, “atributos comunicáveis são aquelas qualidades de Deus para as quais se pode encontrar ao menos uma correlação parcial em suas criaturas humanas” (ERICKSON, 258). Ou seja, são atributos que você pode encontrar também naquilo que é criado por Deus. Segundo Franklin Ferreira e Alan Myatt, “os atributos comunicáveis revelam a condescendência de Deus, e são as virtudes divinas que se refletem, de forma derivada e limitada, em suas criaturas” (FERREIRA e MYATT, 216). Berkhof se refere aos atributos comunicáveis como “os quais as propriedades do espírito humano têm alguma analogia como poder, bondade, misericórdia, retidão etc” (BERKHOF, 54).. Logo, os atributos incomunicáveis são aqueles que não podem ser atribuídos a nenhuma criatura. São “aquelas qualidades singulares para as quais não se encontra qualquer correlação nos seres humanos” (ERICKSON, 258). São aqueles “aos quais nada análogo existe na criatura” (BERKHOF, 54). Atributos que só Deus possui e que nós não possuímos. Outros criam distinções entre atributos naturais e atributos morais. Os primeiros seriam os atributos que pertencem à natureza constitutiva de Deus, de maneira distinta de sua vontade (BERKHOF, 53), são os “superlativos não morais de Deus” (ERICKSON, 258). Os outros o qualificam como um ser moral. O problema com essa classificação é que os atributos ditos naturais também têm características morais. Os atributos naturais seriam auto-existência, simplicidade, infinidade etc. E os morais seriam bondade, misericórdia, justiça, santidade etc. Uma terceira divisão é entre atributos absolutos e atributos relativos. Atributos absolutos pertencem à existência de Deus, em si mesma, e atributos relativos pertencem à essência divina, em relação a sua criação (BERKHOF, 54). Os absolutos seriam eternidade, imensidade, auto-existência etc. Os relativos seriam onipresença, onisciência e tudo aquilo que diz diretamente sobre a coisa criada. A quarta classificação fala sobre os atributos imanentes ou intransitivos e os emanentes ou transitivos. Os primeiros são aqueles que não se expõem nem operam fora da
  • 29. essência divina, mas permanecem imanentes (BERKHOF, 52), ou seja, pertencem à própria natureza de Deus (ERICKSON, 258) e estão contidos nele (e.g., imensidade, simplicidade, eternidade etc.). Ou outros são os que se expõem e produzem efeitos externos quanto a Deus (BERKHOF,52), isto é, emanam dele (ERICKSON, 258) (e.g., onipotência, benignidade, justiça etc). Bibliografia utilizada: BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015. FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007 Aula 6 – A pessoalidade de Deus Pessoalidade é certamente um dos principais atributos de Deus e os vários outros acabam tocando no tema da pessoalidade. A ideia é que Deus é pessoal. Ele não é uma força, não é uma energia. Deus é uma pessoa. Existem várias coisas na Escritura que apresentam justamente essa ideia de um Deus que se relaciona, que fala, que conversa, que vê, que usa constantemente linguagens antropomórficas para falar a respeito de si mesmo e se identifica com o ser humano das mais variadas formas. O fato de Deus ser relacional e viver interagindo com o ser humano apresenta justamente essa ideia de que nós estamos nos relacionando com um ser autoconsciente, pessoal, que possui individualidade e uma autoconsciência. É importante sabermos disso no modo como nos enxergamos e nos relacionamos com o Deus cristão. Ele não é um totem, uma pedra ou um item de barro. Ele é um ser que interage porque tem autoconsciência. Ele tem ciência da sua própria consciência. Ele se conhece, assim como o ser humano se conhece e se entende de alguma forma. Ele possui identidade, ele sabe quem ele é e o que ele é em diferença ao que os outros são. Essa identidade é distintiva. Ela não é uma identidade que se confunde com as outras coisas, mas uma identidade que é própria dele. Ele tem raciocínio, inteligência, criatividade, comunicação. Temos um Deus que fala e se revela na Escritura constantemente. Quando Moisés pergunta quem ele é, ele responde “eu sou o que sou”, porque ele é o ser perfeito, a ontologia última. Nós somos em referência a algo. Eu sou homem, sou isso, sou aquilo. Deus é o único que é, porque Deus é a própria existência. E, sendo a própria existência de quem todas as outras existências derivam, ele é aquele ser pessoal o qual organizou tudo de acordo com a sua vontade. Tanto que o termo imagem e semelhança que fala a respeito da criação do homem – isso será tratado melhor em antropologia – é usado para falar que nós como seres humanos nos assemelhamos a Deus, refletimos Deus. Imagem e semelhança são termos intercambiáveis, significam basicamente a mesma coisa. Ser imagem de Deus significa que somos parecidos com Deus e refletimos Deus. Ser a semelhança de Deus significa justamente que temos essa imagem assemelhada parecida com a dele. Uma vez que somos imagem e semelhança podemos por analogia entender que Deus tem algum traço
  • 30. de humanidade. Não que ele seja homem, mas que ele tem algumas características que nós possuímos de forma derivada. Podemos falar de Deus como criador, como alguém criativo, como alguém consciente, como alguém pessoal. Imagens antigas de um deus totêmico, animalesco, ou um deus que não tem consciência, raciocínio ou identidade são imagens que não correspondem ao Deus cristão, o qual chamamos de pessoa. Por isso que dizemos que existem três pessoas na Trindade. A ideia de pessoa não é uma ideia errada, mas é muito coerente com esses traços de pessoalidade que aplicamos a Deus. Não que ele seja um ser humano como somos, mas uma divindade com quem podemos nos relacionar, porque ele é um ser senciente, inteligente, que compreende as coisas, que entende tudo, que tem uma identidade própria. E esse é um atributo que faz com que seja possível nos relacionarmos pessoalmente com esse Deus, orarmos e falarmos com Deus, sabendo que estamos falando com uma pessoa que nos entende e que nos responde. Bibliografia utilizada: ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015. FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999. Aula 7 – Infinitude e eternidade O primeiro bloco sobre os atributos de Deus que é bom tratamos são aqueles chamados por Millard Erickson de atributos de grandeza. O primeiro atributo de grandeza é a infinitude ou infinidade. Para Berkhof: "É a perfeição de Deus pela qual ele é isento de toda e qualquer limitação. Ao atribuí-la a Deus, negamos que haja ou que possa haver quaisquer limitações do Ser divino e dos seus atributos” (BERKHOF, 59). Ou seja, ninguém pode restringir, controlar, limitar quem Deus é. Erickson continua dizendo que "Isso não significa que é somente ilimitado, mas é ilimitável[...]Deus é diferente de tudo o que experimentamos. Mesmo aquilo que o senso comum, antes, afirmava ser infinito ou sem limites, agora é considerado limitado" (ERICKSON,264), porque ele é a ilimitação em sua grandeza e totalidade. Bavinck vai dizer o seguinte: Trata-se de uma ‘infinitude de essência. Deus é infinito em sua essência característica, absolutamente perfeito, infinito em um sentido intensivo, qualitativo e positivo [...] a infinitude de Deus é sinônima de perfeição e não tem de ser discutida separadamente (BAVINCK, 164). Nós percebemos a infinitude de Deus em certas características que aparecem na Escritura falando sobre Deus como alguém que é incontrolável, alguém que não pode ser contido, alguém que está em todos os lugares. A infinitude é um atributo que é derivado logicamente de outros atributos de Deus. Se você pedir bases bíblicas para mostrar que Deus é infinito, você encontrará bases bíblicas demonstrando outras características de Deus que quando juntas mostram justamente esse aspecto de Deus ser maior do que tudo e de não ser possível contê-lo e limitá-lo de forma alguma.
  • 31. Um desses atributos é justamente o atributo da eternidade. A Escritura não fala de um começo ou mesmo de um fim para Deus. E muitas pessoas se opondo ao cristianismo dizem, “quem criou Deus? ” e a resposta simples é “ninguém”. Se tudo o que criado tem uma causa, como diz o famoso argumento cosmológico, chega uma hora que é preciso algo não-criado para dar início a tudo. E esse algo não-criado tem que ser algo que faça parte da infinidade passada, que está fora dos nossos conceitos de tempo e que sempre existiu. A Escritura diz várias vezes que ele é o primeiro e o último (Is 44.6), que ele existia antes que o mundo existisse (Gn 1.1), que ele é Deus de eternidade à eternidade (Sl 90.2; 93.2), eterno (Is 40.28; Rm 16.26), habita na eternidade (Is 57.15), imortal (Rm 1.23; 1 Tm 6.15). Sobre a eternidade, Bavinck afirma que “entre eternidade e tempo há uma distinção não somente em quantidade, e em grau, mas também em qualidade e essência” (BAVINCK, 165). Deus ser eterno não significa simplesmente dizer que ele tem muito tempo, significa dizer que ele tem um relacionamento diferente com o tempo em nível qualitativo. Ele tem outra essência de relacionamento. Ele tem outra Além do próprio tempo, coisas que nem conseguimos entender. Quando nascemos e vivemos, estamos presos ao tempo. É impossível se compreender e se interpretar fora do tempo. É difícil que imaginemos como seria esse tipo de existência. É como um cego de nascença tentando ver. É como alguém que nunca ouviu nada tentando entender o que é ouvir. É como se tentássemos entender cores acima do ultra-violeta ou abaixo do infra-vermelho. São coisas que estão além de nossa capacidade e Deus é alguém que está além do tempo. Bavinck dizer o seguinte: a natureza essencial do tempo não diz respeito à finitude ou infinitude do antes ou do depois, mas que ele abrange uma sucessão de momentos, que há nele um período que é passado, um período que é presente e um período que vem depois. Mas, daí, segue-se que o tempo – tempo intrínseco – é o modo de existência que é característico de todos os seres criados e finitos[...] Tempo é duração da existência da criatura [...] Deus não é um processo de tornar-se, mas um ser eterno[...] Ele não pode ser submetido à medida ou à contagem de sua duração [...] A eternidade de Deus, portanto, deve ser imaginada como um presente eterno, sem passado nem futuro (BAVINCK, 166). Ele continua dizendo que Deus “continua sendo eterno e habita a eternidade, mas usa o tempo para manifestar seus pensamentos e perfeições eternas. Ele faz que o tempo seja subserviente à eternidade e, assim, prova ser o Rei das eras (1 Tm 7.17)" (BAVINCK, 167). Em Cristo, Deus encarnou no tempo. Em Cristo, Deus não somente recebeu essa natureza humana, mas em Cristo Deus se tornou temporal, uma vez que ele se encarnou, cresceu e viveu como homem que nem nós. Bibliografia Utilizada: BAVINCK, Herman. Dogmática reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.