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SUMÁRIO
1. O QUE É TEOLOGIA
2. O OBJETIVO DA TEOLOGIA
3. DIVISÃO CLÁSSICA DA TEOLOGIA
3.1 Teologia Exegética
3.2 Teologia Histórica
3.3 Teologia Dogmática
3.4 Teologia Bíblica
3.5 Teologia Sistemática
4. TEOLOGIA PENTECOSTAL
5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA
5.1 A teologia nas funções da igreja
6. FONTES DA TEOLOGIA
7. O TEÓLOGO
8. DOUTRINA E RELIGIÃO
9. FUNDAMENTALISMO TEOLÓGICO E FÉ
1. O QUE É TEOLOGIA
Diversos são os conceitos e entendimentos sobre a “teologia”. É
imprescindível o entendimento do termo para evitar equívocos sobre seu real
significado. De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, é difícil encontrar uma
boa e abrangente definição para a teologia, pois praticamente todas elas são, ou
simples demais, ou tendem a dar mais importância a uma das fontes de uma
teologia totalmente desenvolvida, excluindo outras.1 A teologia sofreu preconceito
em todas as eras da história e por diversas ocasiões recebeu o tratamento de
mitologia pagã. Orígenes foi o primeiro a empregá-lo no contexto cristão como “a
sublimidade e a majestade da teologia”. A partir de Eusébio de Cesaréia, a palavra
popularizou-se no cristianismo.2
A teologia não foi criada por si mesma, no sentido que a revelação e a fé
tenham-na criado ou construído. As duas palavras gregas que formam o termo
indicam o seu objetivo. “O termo teologia vem do grego theôs, "deus", e Iogos,
"estudo", "discurso", "raciocínio". Assim, essa palavra indica o estudo das coisas
relativas a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc. Uma
definição léxica diz: um corpo de doutrinas acerca de Deus, incluindo seus
atributos e relações como homem; especialmente aquele corpo de doutrinas
estabelecido por alguma igreja ou grupo religioso em particular". Essa é uma
definição restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral:
"O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da religião; além
disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da religião cristã".3
Charles Ryrie destaca que existem pelo menos três elementos incluídos no
conceito geral de teologia:
1 PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910.
2 SOARES, Esequias et. al. Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: CPAD, 2011. p.51.
3 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.396.
[1] Teologia é inteligível. Ela pode ser compreendida pela mente humana de
maneira ordenada e racional. [2] Teologia requer explicação. Isso, por sua vez,
envolve a exegese (análise dos textos no original) e a sistematização de ideias. [3]
a fé cristã tem sua base na Bíblia, por isso a teologia cristã é um estudo baseado
na Bíblia. Logo, teologia é a descoberta, a sistematização e a apresentação das
verdades a respeito de Deus.4
Para Geisler a teologia é o estudo daquilo que é referente a Deus, seja a
sua natureza, as suas obras, bem como a sua relação com a sua criação (o
homem). É um discurso racional a respeito de Deus.5 Berkhof diz em sua
sistemática que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por
meio de quem, e para quem são todas as coisas.6 Para Rahner, teologia é a
explanação e explicação consciente e metodológica da revelação divina recebida
e apreendida na fé (…) A tarefa da teologia é articular os elementos conceituais
implícitos na fé cristã.7
Na construção de um bom conceito para a teologia, Medrado faz uma
observação: De que se trata a teologia? De Deus e tudo o que se refere a ele, isto
é, o mundo universo: a criação, a Salvação e tudo o mais. E isso está já na
palavra mesma de “teologia” estudo de Deus. Mas como Deus é o determinante
de tudo, então, qualquer coisa pode ser objeto de consideração do teólogo. Deus,
com efeito, pode ser definido como a realidade que determina todas as
realidades.8
No contexto da religião cristã, Myatt afirma que “a teologia não é o estudo
de Deus como algo abstrato, mas é o estudo do Deus pessoal revelado na Bíblia.
Necessariamente isso inclui tudo o que é revelado sobre Ele e as suas obras e
relações com as criaturas”.9 Para Strong a “teologia é a ciência de Deus e das
relações entre Deus e o universo”. De acordo com Gruden, “teologia é o estudo de
4 RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. p.15.
5 GEISLER, N. Teologia Sistemática: Introdução à teologia. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
p.11.
6 BERKHOF, Louis.
7 RAHNER, apud RAUSCH, T. P. Introdução à Teologia. São Paulo: Paulus, 2004. p.15.
8 MEDRADO, Eudaldo Freitas. Introdução à Teologia. Disponível em http://www.famedrado.kit.net/
Canal%2004/01.htm. Acesso: 19.11.2015.
9 MYATT, Allan e FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica
Batista de São Paulo, 2002. p.12.
Deus e de todas as suas obras”. Para Hodge “teologia não é somente ‘a ciência
de Deus’ nem mesmo ‘a ciência de Deus e do homem’, ela também dá conta das
relações entre Deus e o universo”. Um bom conceito para a teologia deve
considerá-la como o estudo das relações do Criador (Deus) com a criatura
(homens).
Conceituar a teologia simplesmente como o estudo de Deus seria muita
presunção para o ser humano, uma vez que, Deus, transcende o entendimento
humano. Em outras palavras, a mente humana é incapaz de estudar, ou conhecer
a Deus na sua plenitude. Deus se revela ao homem, e este, é capaz de conhecê-
lo. O conhecimento produz um relacionamento, que não necessariamente, permita
um conhecimento pleno da “mente” de Deus. O relacionamento produzido por um
relacionamento íntimo com Deus permite ao homem viver na plenitude daquilo que
Deus projetou para ele. Deus é conhecido através das suas obras e das suas
atividades. Por isso a teologia dá conta destas atividades na medida que elas
acompanham o nosso conhecimento.
Deus pode ser conhecido e é possível ao homem conhecer a Deus. Isso
torna a teologia plenamente possível. De acordo com Strong existem ao menos
três possibilidades para a teologia: [a] Deus é um ser real que se relaciona com o
universo; [b] A mente humana é capaz de conhecer a Deus e perceber sua
relação com o universo; e [c] Deus provê sua revelação (João 17.3: E a vida
eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste. Efésios 1.17: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de
revelação).
Hordern destaca que a teologia é um tratado ou desenvolvimento bem
ordenado do pensamento que se possa obter a respeito de Deus. De acordo com
este autor “a palavra ‘Deus’ não pode ser definida de forma exaustiva, mas é
normalmente empregada para representar o que quer que se creia como sendo o
fato ‘último’, a fonte da qual tudo o mais teria provindo, o valor supremo ou a
origem de todos os valores da existência. Deus vem a ser o ente admitido como
sendo digno de constituir-se no alvo e no propósito da vida. A luz de tais
considerações, torna-se evidente que ninguém poderá passar sua existência sem
a adoção de alguma forma de teologia”.10
De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe o termo “teologia” pode ser
usado tanto para abranger um estudo dogmático de uma parte das Escrituras,
como do todo. Dessa forma, é correto falar da teologia do Antigo Testamento ou
da teologia do Novo Testamento. O termo “teologia”, segundo este dicionário,
assume um sentido mais amplo, ou seja, tem a finalidade de cobrir todo o
conteúdo do ensino das Escrituras que o homem pode vir a conhecer em relação
à Deus, e também o relacionamento de Deus com tudo o que Ele criou.11
A teologia cristã estruturou-se na história relacionando-se com a filosofia.
Sobre esta relação e sobre a história da teologia cristã Domingos destaca que:
Um fato importante da História da Teologia cristã, é que ela exige, inevitavelmente,
certa consideração sobre a filosofia e as influências filosóficas. A partir do século II,
quando começa a nossa história, a filosofia torna-se a principal interlocutora da
teologia, e mesmo com a oposição de alguns pais da Igreja, como por exemplo, o
teólogo cristão norte-africano Tertuliano, quando perguntou retoricamente: "O que
Atenas tem que ver com Jerusalém? E o que a Academia tem que ver com a
igreja?", querendo protestar contra o uso crescente da filosofia grega
(Atenas/academia) pelos pensadores cristãos que deveriam ter se fundamentado
exclusivamente nas escrituras e em fontes cristãs (Jerusalém/igreja). O Pai da
igreja e apologista, Justino Mártir referiu-se ao cristianismo como a "Filosofia
verdadeira", ao passo que o mestre cristão do século III, Clemente de Alexandria,
identificou o pensador grego Sócrates como um "cristão antes de Cristo", já tempos
mais tarde, no século XIII, o pensador Blaise Pascal, asseverou que o "deus dos
filósofos não é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó!" O relacionamento entre a
reflexão cristã e a filosofia constitui uma parte muito importante da história da
teologia cristã, e fornece algumas das tensões mais emocionantes dessa história.
E para seu melhor estudo, a teologia cristã foi dividida em períodos, os quais são:
[a] O período Patrístico, c. 100 - 451; [b] A idade Média e o Renascimento, c. 1050
- c.1500; [c] Os períodos das Reformas e da pós-Reforma, c. 1500 - c. 1750; [d] O
período Moderno e o pós-Moderno, c. 1750 - até os dias atuais. Fica evidente a
dificuldade de traçar linhas divisórias nítidas entre muitos desses períodos, por
10 HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. p.5.
11 PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910.
exemplo, as relações entre a idade média, o renascimento e a reforma são
controvertidas, e alguns acadêmicos entendem que os dois últimos períodos são
uma continuação do primeiro, embora outros os vejam como períodos totalmente
distintos um do outro. O que podemos afirmar é que a história da Teologia Cristã
começa no século II, cerca de cem anos depois da morte e ressurreição de Cristo,
com o início da confusão entre os cristãos no Império Romano, tanto dentro quanto
fora da Igreja. Os desafios internos principais eram semelhantes a cacofonia de
vozes que muitos cristãos em nossos dias chamariam de "seitas", ao passo que os
desafios externos eram semelhantes as vozes que muitos hoje chamariam
"céticos". É dessas vozes desafiadoras que surgiu a necessidade e os primórdios
da ortodoxia - uma declaração definitiva daquilo que é teologicamente correto.12
EXPLORANDO O TEMA NA WEB
Um bom texto sobre o conceito de teologia pode ser verificado em
http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/teologia-o-que-e.
QUESTÕES PROPOSTAS
1. A teologia é plenamente possível, ou seja, sua ação é prática. Justifique com
suas palavras essa afirmação.
2. Qual a relação do texto de Jo 17.3 e Ef 1.17 com a construção de um conceito
para a teologia?
3. Crie um conceito sobre a teologia com sua palavras.
12 OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo:
Editora Vida, 2001. p. 668.
2. O OBJETIVO DA TEOLOGIA
O alvo da teologia é permitir que o homem se relacione com seu criador e
compreenda a manifestação deste no desenvolvimento da história. O alvo da
teologia está centrado em Deus, em especial, no seu plano de salvação para o
homem por intermédio de Cristo.
A Teologia se distingue da Teodicéia, que é o conjunto de conhecimentos que o
homem pode chegar a ter de Deus sem ajuda da Revelação sobrenatural e se
limita a estudar a existência, o ser e os atributos divinos. A ciência teológica estuda
o ser de Deus, na medida em que pode ser alcançado. Não se esquece nunca que
Deus é um mistério, não é um objeto do qual se possa dar informação como dos
outros seres. Que a Teologia é a ciência de Deus significa que tudo se trata nela
principalmente desde o ponto de vista divino. A distinção tradicional é a
seguinte: [1] Objeto material – é a realidade da que propriamente se ocupa a
Teologia. O objeto é Deus e todas as realidades por Ele criadas e governadas por
seu desígnio salvador. O objeto material primário ou principal é Deus e o objeto
secundário são todas as coisas criadas enquanto ordenadas a Deus. [2] Objeto
formal, indica o ponto de vista. Um é o objeto formal “quod”: o que é próprio de
Deus. “Deus sub ratione Deitatis” e o objeto formal “quo” designa a luz intelectual
sob a que o objeto é considerado. Neste caso, a razão iluminada ou guiada pela
fé.13
A teologia deve promover a fé, deve incentivar o homem a viver de forma
justa por intermédio do desenvolvimento de uma vida de fé. Rm 1.16,17 diz:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para
salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o
justo viverá pela fé”. Para Buckland a simples fé implica uma disposição de alma
para confiar noutra pessoa. Difere de credulidade, porque aquilo em que a fé tem
13 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_
teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
confiança é verdadeiro de fato, e, ainda que muitas vezes transcenda a nossa
razão, não lhe é contrário. A credulidade, porém, alimenta-se de coisas
imaginárias, e é cultivada pela simples imaginação. A fé difere da crença porque é
uma confiança do coração e não apenas uma aquiescência intelectual. A fé é uma
atitude, e deve ser um impulso. A fé cristã é uma completa confiança em Cristo,
pela qual se realiza a união com o Seu Espírito, havendo a vontade de viver a vida
que Ele aprovaria.14
Para Frisotti a teologia pode ser compreendida com sendo uma ciência em
que a razão do crente, guiada pela fé teologal, se esforça para compreender
melhor os mistérios revelados em si mesmos e em suas conseqüências para a
existência humana.15 Sobre fé e teologia Frisotti destacou que:
A fé é assentir a uma verdade enquanto digna de ser crida. O próprio da Teologia é
analisá-la. O motivo formal da fé é a autoridade de Deus que se revela; o da
Teologia é a percepção da razão da inteligibilidade do crido. A fé é sempre
pressuposto absoluto da Teologia. De modo que a Teologia deve ser feita desde
dentro e a partir da fé, e é assim algo mais que uma simples reflexão racional
sobre os dados da revelação. Por isso afirma Agostinho: “intelligere ut credas,
credere ut intelligas” (deves entender para crer e deves crer para entender).
Anselmo de Canterbury entendia a Teologia como “fides quarens intellectum”; a fé
que busca entender, não por curiosidade, mas por amor e veneração ao mistério.
O crente não discute a fé, mas mantendo-la firme busca dar razões do por que da
fé. Portanto, a Teologia é desenvolvimento da dimensão intelectual do ato de fé. É
uma fé reflexiva, fé que pensa, compreende, pergunta e busca. Trata de elevar,
dentro do possível credere ao nível do intelligere. O Teólogo se apóia no
conhecimento de Deus pela fé, na razão humana e nas suas descobertas certas.
Então, com tudo isto, o Teólogo tenta ordenar e interpretar os dados que são
objeto de fé, de modo que se veja sua unidade tal como Deus o dispôs.16
Em seu estudo sobre a natureza da teologia, Frisotti, tem um olhar
interessante sobre ela ao observar que ela possui objetivo positivo e especulativo.
O texto abaixo é um resumo do pensamento de Frisotti.
14 BUCKLAND, A.R. “Fé”. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vida, 2007.
15 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_
teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
16 Ibidem.
A Teologia positiva é a ciência do conteúdo integral da Revelação, que
tenta determinar e traçar toda a história documental do objeto crido em sua
revelação, sua transmissão e sua proposição. Deseja conhecer o corpo ou a forma
externa do dado revelado, com o estilo metódico e exaustivo que é próprio das
ciências positivas. Faz isso para chegar a uma inteligência mais profunda da
Palavra de Deus.
Trata de responder à seguinte pergunta, qual é exatamente a verdade
revelada por Deus? Procura determinar e estabelecer o que Deus revelou e como
o revelou, se o fez diretamente o indiretamente, de modo explícito o implícito, com
expressões obscuras ou claras. E porque as doutrinas reveladas não se
encontram sempre com a mesma nitidez, costuma ser necessário um trabalho de
interpretação de termos e expressões.
Teologia especulativa: aprofunda nas verdades reveladas, mostra sua
inteligibilidade, a conexão e harmonia que reina entre elas, servindo-se da ajuda
das ciências humanas. Leva a uma compreensão mais funda do dado revelado.
Mas não deve ser confundida com uma simples especulação; não é a aplicação
de uma filosofia técnica à compreensão da doutrina revelada mas a Teologia
especulativa cai sob o controle e ob a luz do mistério de salvação. Não é uma
super-estructura da Teologia positiva, senão o pensamento especulativo se
encontra englobado na Teologia positiva. O dado de fé não é unicamente o ponto
de partida; é o princípio vital que a anima ao longo de todo seu recorrido de
reflexão crente.
A possibilidade da Teologia especulativa se fundamenta numa
epistemologia realista: a doutrina revelada pressupõe que a mente humana se
ordena à verdade e é capaz de conhecer a Deus de maneira limitada e certa. Para
isso, tem grande importância o tema da analogia. Permite-nos falar de Deus de
modo que nosso linguagem tenha sentido. Algo podemos dizer de Deus ainda que
Ele não pode ser explicado univocamente.
A Teologia especulativa possui duas grandes tarefas: compreender e
organizar o dado revelado. 1. Compreende o melhor possível o dado revelado.
Não quer dizer que os mistérios possam ser demonstrados o assimilados como si
fossem dados totalmente evidentes. Mas que é a busca do sentido preciso que se
encerra na fé e a relação dos mistérios entre si. 2. Trabalho sistemático: a
Teologia procura expor com rigor os preâmbulos da fé (mostrar que a fé, ainda
que não seja evidente, não é absurda). Apresentar una síntese dos mistérios da fé
(de modo que se mostre o melhor possível a unidade e a coerência da doutrina
revelada). E relacionar seus dados e conclusões com o mundo da ciência e da
cultura.17
EXPLORANDO O TEMA NA WEB
Você pode ler um bom texto sobre o objeto da teologia em
http://www.webartigos.com/artigos/um-ensaio-sobre-o-objeto-de-estudo-da-
teologia/54465/
QUESTÕES PROPOSTAS
1. Qual a diferença entre Teologia e Teodicéia?
2. Explique a diferença entre fé e credulidade.
3. Qual a diferença entre teologia positiva e teologia especulativa?
17 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_
teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
3. DIVISÃO CLÁSSICA DA TEOLOGIA
Antes de tratar diretamente sobre a divisão da teologia, é importante
destacar que a mesma pode ser catalogada de diversas maneiras. Charles Ryrie
aponta três tipos de teologia: [a] Por época – por exemplo, teologia patrística,
teologia medieval, teologia reformada e teologia contemporânea; [b] Por ponto de
vista – por exemplo, teologia arminiana (defendida por Armínio), teologia
calvinista (defendida por João Calvino), teologia barthiana (defendida por Karl
Barth), teologia da libertação, etc.; e [c] Por ênfase – por exemplo, teologia
histórica, teologia bíblica, teologia sistemática, teologia apologética, teologia
exegética, etc.18
A divisão clássica da teologia geralmente tem como base o tipo de teologia
por ênfase, objetivando organizar os assuntos para facilitar seu estudo e sua
compreensão. Basicamente, numa perspectiva clássica, a teologia divide-se em
cinco partes: teologia exegética, teologia histórica, teologia dogmática, teologia
bíblica e teologia sistemática. É possível encontrar em outros autores diferentes
divisões, fato que não invalida o posicionamento clássico, apenas divide a
teologia nas diversas perspectivas que ela pode ser observada. Myer Pearlman,
observa do ponto de vista clássico, a teologia classificada da seguinte maneira:
[1] A teologia exegética (exegética vem da palavra grega que significa "sacar"ou
"extrair" a verdade) procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras. Um
conhecimento das línguas originais nas quais foram escritas as Escrituras pertence
a este departamento da teologia. [2] A teologia histórica traça a história do
desenvolvimento da interpretação doutrinária, e envolve o estudo da história da
igreja. [3] A teologia dogmática é o estudo das verdades fundamentais da fé como
se nos apresentam nos credos da igreja. [4] A teologia bíblica traça o progresso da
verdade através dos diversos livros da Bíblia, e descreve a maneira de cada
escritor apresentar as doutrinas importantes. Por exemplo: segundo este método
18 RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. p.15-
16.
ao estudar a doutrina da expiação estudar-se-ia a maneira como determinado
assunto foi tratado nas diversas seções da Bíblia — no livro de Atos, nas Epístolas,
e no Apocalipse. Ou verificar-se-ia o que Cristo, Paulo, Pedro ou João disseram
acerca do assunto. Ou descobrir-se-ia o que cada livro ou seção das Escrituras
ensinou concernente às doutrinas de Deus, de Cristo, da expiação, da salvação e
de outras. [5] A teologia sistemática. Neste ramo de estudo os ensinos bíblicos
concernentes a Deus e ao homem são agrupados em tópicos, de acordo com um
sistema definido; por exemplo, as Escrituras relacionadas à natureza e à obra de
Cristo são classificadas sob o título: "Doutrina de Cristo".19
3.1 Teologia Exegética
A teologia exegética busca o verdadeiro significado das Escrituras. Esse
termo vem do grego, “ex” (fora) e “agein” (guiar), ou seja, “liderar” ou “explicar".
Champlin destaca que a palavra portuguesa exegese é usada para indicar
“narrativa”, “tradução” ou “interpretação”. Dentro do contexto teológico, a ênfase
recai sobre a interpretação de modos formais de explicação que podem ser
aplicados a algum texto, a fim de se compreender o seu sentido. Na linguagem
técnica, a exegese aponta para a interpretação de alguma passagem literária
específica, ao mesmo tempo em que os princípios gerais aplicados em tais
interpretações são chamados hermenêutica.20
O contrário da exegese é a eisegese. Sobre a eisegese Champlin diz que
este termo significa ler no texto aquilo que alguém quer encontrar ali, mas que, na
realidade, não se encontra no mesmo, ou então significa distorcer um texto para
adaptá-lo às próprias ideias do intérprete. Portanto, o quanto a exegese é séria, a
eisegese não passa de uma burla. A maioria das pessoas que se envolve na
exegese também pratica alguma eisegese.21
De acordo com Arantes a interpretação não é uma atividade tão complexa:
“A maior parte da Escritura é, na verdade, de fácil entendimento. Ninguém precisa
ser versado nos originais para compreender o seu propósito salvífico. Sua
mensagem é basicamente simples. Todo aquele que dela se aproxima pode ser
19 Ibidem. p.10-11.
20 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.2. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.617.
21 Ibidem.
educado na justiça. Contudo, existem certas partes que não são de tão fácil
compreensão, sendo de suma importância que o intérprete-leitor, tenha algumas
qualificações.”22
Milton S. Terry afirmou que as qualificações de um intérprete competente
podem ser ditas como: Intelectual, educacional e espiritual. Para ele o intelecto
entra justamente na percepção clara do significado do texto. A argumentação
lógica do autor sacro pode ser percebida por alguém que esteja atento
intelectualmente. Um exemplo é a clara divisão que o apóstolo Paulo faz da carta
aos Efésios, colocando nos capítulos 1-3 um bloco eminentemente doutrinário e
de 4-6 outro bloco eminentemente prático. Uma mente analítica, que saiba
discernir o que um texto está ensinando é muito importante para o intérprete.
A imaginação, segundo Terry precisa ser controlada. Algumas pessoas têm
uma mente fértil demais e isto pode prejudicar a boa interpretação do texto. O
intérprete deve usar sua mente para analisar, comparar e examinar a Escritura. A
razão deve ser aplicada em cada parte da Escritura. A Bíblia foi escrita em
linguagem humana, apela a nossa razão, convida a investigação e pesquisa,
condena a crença cega. A maior tarefa de um intérprete é ensinar o que aprendeu,
e ensinar outros extraírem o aprendizado da Escritura. Sem isso em mente a
interpretação não terá tanto valor. O apóstolo recomenda a Timóteo: “Ora, é
necessário que o servo do Senhor seja... apto a instruir...” (2 Tm 2:24)23
Para Terry a qualificação educacional compreende os fatos acerca dos
quais o intérprete deve estar inteirado, fatos que são aprendidos com estudo e
pesquisa. A geografia da Palestina e regiões vizinhas que influenciaram nos
escritos bíblicos. As histórias gerais e bíblicas são também importantes no que
tange a confirmação e complementação da revelação que nos é trazida na
Escritura – complementação histórica. A cronologia, o discernimento de tempos e
épocas é também de especial valor na interpretação. Os sistemas políticos que
envolveram a revelação bíblica esclarecem também a compreensão do que foi
22 ARANTES, Fernando. A Bíblia, seu intérprete e sua interpretação. Disponível em
http://www.ipjg.org.br/ed/VisaoBiblica/Textos/2007/A-Biblia-seu-Interprete-e-sua-Interpretacao-
a.doc. Acesso: 23/04/2009.
23 TERRY, Milton S., Biblical Hermeneutics. Grand Rapids, MI: Zondervan 1977. Pp.151-158.
revelado. O modo de produção, o sistema escravista, o comércio, as guerras, tudo
isto pode ser adquirido com pesquisa e estudo. Mais uma vez temos a exortação
do apóstolo que diz a Timóteo: “Até a minha chegada aplica-te à leitura, à
exortação ao ensino. Não te faças negligentes para com o dom que há em ti...”
(1Tm. 4:13, 14).24
A qualificação espiritual é, também, fundamental à interpretação bíblica,
Intelecto e estudo são importantes, mas sem contato com o Espírito Santo que é o
autor da Bíblia tudo é incompleto, afirma Terry. Portanto como ensina o Dr. Loyd
Jones “é imprescindível que haja uma aproximação espiritual no texto. O pecado
pode vendar nossos olhos a ponto de não enxergarmos com clareza a vontade de
Deus revelada em um texto estudado mesmo com empenho. O maior objetivo do
intérprete deve ser o de alcançar a verdade, preceito ou doutrina do texto
estudado. Não podemos permitir que o texto fale o que queremos ouvir, mas lutar
para ouvir o que o texto tem a nos dizer. O apóstolo Paulo nos exorta dizendo:
“Por isso o pendor da carne é inimizado contra Deus, pois não está sujeita à lei de
Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7).25
3.2 Teologia Histórica
A teologia histórica traça a história do desenvolvimento da interpretação
doutrinária, e envolve o estudo da história da igreja. Segundo Matos, a teologia
histórica também conhecida como história da teologia ou história da doutrina, tem
estreita conexão com duas áreas muito importantes: a história da Igreja e a
teologia cristã. Sobre isto Matos diz:
Levanta-se então a seguinte pergunta: A teologia histórica é primordialmente
história ou teologia? Qual das duas ênfases é predominante? Variam as posições
dos autores sobre essa questão, mas não seria incorreto dizer que ela tem estreita
e igual conexão com essas duas áreas correlatas. Inicialmente, é necessário
considerar como a teologia histórica se encaixa nas subdivisões dos estudos
históricos do cristianismo. A história da Igreja é a mais ampla das disciplinas que
24 Ibidem.
25 Ibidem.
tratam do passado cristão. É o estudo da caminhada e do desenvolvimento da
Igreja através dos séculos, em muitas áreas diferentes: missões e expansão
geográfica; culto, liturgia e sacramentos; espiritualidade e vida cristã prática;
organização, estrutura e forma de governo; pregação, arquitetura e arte sacra;
relacionamento com a sociedade, a cultura e o Estado. Enfim, pode-se afirmar que
a história da Igreja ou do cristianismo inclui tudo o que a Igreja faz no mundo,
sendo essencialmente um estudo e uma narrativa de eventos, personagens e
movimentos. Inclui o que hoje se denomina história institucional e história social.
Todavia, a história da Igreja, além de analisar a prática da Igreja, também aborda
seu pensamento, aquilo que ela ensina. Isto se relaciona mais concretamente com
a teologia histórica. Os tópicos acima podem ser considerados com base em duas
perspectivas. Por exemplo: a prática da Igreja na área de missões (história da
Igreja) e a reflexão que ela faz sobre sua missão (história da teologia), ou a
evolução de suas práticas litúrgicas (história da Igreja) e a reflexão sobre o
significado do culto e da liturgia (teologia histórica). Esse estudo do pensamento e
do ensino da Igreja pode ter várias abordagens. A história do dogma é a análise de
certos temas doutrinários particulares que receberam uma definição oficial e
normativa da Igreja. Alguns historiadores entendem que apenas três áreas de
doutrina se inserem na história do dogma: a doutrina da Trindade (definida nos
Concílios de Nicéia e de Constantinopla), a doutrina da pessoa divino-humana de
Cristo (Concílio de Calcedônia) e a doutrina da graça ou, mais especificamente, a
relação entre a graça divina e a vontade humana no que se refere à salvação. No
outro extremo está a história do pensamento cristão, que identifica um vasto
campo de investigação, incluindo tópicos que estão além dos limites da teologia
clássica, como certas questões filosóficas, éticas, políticas e sociais. Os estudiosos
também empregam os termos “história das ideias” e “história intelectual” para se
referir a esse contexto mais amplo dentro do qual se insere a teologia histórica. A
história da teologia não tem um campo tão limitado como a história do dogma, nem
tão amplo como a história do pensamento cristão, mas usa ambas as áreas em
sua elaboração. Seu objetivo é considerar o corpo de doutrinas existente na vida
da Igreja em cada período da história.26
Para Alister McGrath, a teologia histórica “é o ramo da investigação
teológica que objetiva explorar o desenvolvimento histórico das doutrinas cristãs e
identificar os fatores que influenciaram sua formulação”. Em outras palavras, a
26 MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
p.15-16.
história da teologia documenta as respostas às grandes questões do pensamento
cristão e ao mesmo tempo procura explicar os fatores que contribuíram para a
elaboração dessas respostas.27 A história da teologia é uma ferramenta
pedagógica tendo em vista que oferece informações sobre o desenvolvimento dos
grandes temas teológicos, os pontos fortes e fracos das diferentes abordagens e
os marcos mais notáveis do pensamento cristão, em termos de autores e
documentos. É também uma ferramenta crítica, pois permite ver as falhas, as
limitações e os condicionamentos de certas formulações doutrinárias, o que
possibilita seu contínuo aperfeiçoamento.28
3.3 Teologia Dogmática
Estuda as verdades fundamentais da fé de acordo com os credos e
confissões de fé da igreja. Preocupa-se também em estabelecer declarações que
darão norte para a igreja e sentido para uma prática religiosa. O pastor Esequias
Soares conceitua o credo como sendo uma interpretação precisa e autorizada das
Escrituras. São documentos que têm por objetivo sintetizar as doutrinas essenciais
do cristianismo para facilitar as confissões públicas e defender das heresias o
pensamento cristão.29
Mark Noll destacou que a construção de um credo, ou de uma declaração
de fé, deve obedecer pelo menos três funções: [a] Servir de declarações
autorizadas da fé cristã que entesouravam as novas ideias dos reformadores, sem
abandonar formas que também pudessem fornecer instrução regular para os fiéis
mais humildes; [b] Erguer um estandarte em redor do qual uma comunidade local
podia cerrar fileiras, tornando claras as diferenças com os oponentes; e [c] Tornar
possível uma reunificação da fé e da prática, visando a unidade e, ao mesmo
tempo, estabelecer uma norma para disciplinar os desregrados.
27 McGRATH, Alister apud MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São
Paulo: Mundo Cristão, 2007. p.17.
28 Ibidem. p.18.
29 SOARES, Esequias. Credos e Confissões de Fé – Breve guia histórico do cristianismo. Recife:
Bereia, 2013. p.31.
Edson Douglas de Oliveira destacou que é comum considerar a teologia
dogmática com teologia sistemática. Sobre isso ele afirma:
A Dogmática pode ser definida como um discurso da Igreja acerca da sua fé. É
uma reflexão teológica feita a partir da Igreja sobre questões às quais ela crê e que
precisa fundamentar de forma inteligível e ordenada para que expresse o ponto de
vista da igreja como uma entidade orgânica da sociedade, mas também da
comunidade cristã como um todo diante do mundo, dos incrédulos aos grupos
participantes de outros credos ou religiões. É, em suma, um discurso racional
sobre a fé que a comunidade vivencia na prática litúrgica e nas doutrinas que ela
crê e pratica. No meio fundamentalista, especialmente no norte-americano, é
comum confundir dogmática com teologia sistemática, confusão essa ainda mais
acentuada por obras como as de Stanley Horton que se apresentam como teologia
sistemática, mas que na verdade são tratados dogmáticos no seu sentido formal.
Das diversas diferenças entre ambas talvez a que soi mais importante é o fato de
que a teologia sistemática é feita a partir da reflexão teológica em diálogo com
outros ramos do conhecimento, especialmente a filosofia, buscando reler a fé a
partir das realidades sociais, culturais e econômicas de cada tempo e de que
modo, nesse contexto, pode ser pregada a palavra de Cristo, enquanto a
dogmática estuda as doutrinas da igreja, seu desenvolvimento e sua pregação no
mundo moderno, pormenor esse que até pode proporcionar alguma discussão de
natureza filosófica ou sociológica, mas que aí já não se insere no terreno da
dogmática, embora o dogmático, pelo seu próprio papel na formulação do
pensamento da igreja, termine por trazer o pensamento cristão para o mundo
moderno, como lembra Brunner: a dogmática não é a palavra de Deus. Deus pode
fazer sua Palavra triunfar sem a tologia. Mas numa época quando o pensamento
humano está muitas vezes tão confuso e pervertido pelas idéias e teorias
extraordinárias, entretecidas pela própria mente dos homens, é evidente que é
quase impossível preservar a Palavra divina sem o esforço intelectual apaixonado
para repensar seu sentido e seu conteúdo (BRUNNER Emil. Dogmática, I, p.7).30
3.4 Teologia Bíblica
30 OLIVEIRA, Edson Douglas de. Dicionário Teológico: Dogmática. Disponível em
http://comunidadewesleyana.blogspot.com.br/2009/10/dicionario-teologico_8820.html. Acesso:
27.12.2015.
Traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia.
Champlin destaca que a expressão teologia bíblica é usada de várias maneiras, a
saber:
[a] Uma atividade cuja finalidade é esclarecer os temas e as ideias da Bíblia sem
os pressupostos que inevitavelmente dão um certo colorido às interpretações
particulares. Em outras palavras, trata-se da tentativa de determinar o que a Bíblia
realmente ensina, mesmo que os resultados sejam embaraçosos para o estudioso
e sua denominação. Essa atividade, na verdade, embaraça a todas as
denominações, cuja própria existência depende da distorção de certos ensinos da
Bíblia. [b] A tentativa para articular a significação teológica da Bíblia como um
todo. Isso é uma tarefa quase impossível, porque a Bíblia não é um livro
homogêneo, conforme as pessoas gostam de acreditar. Não obstante, a tentativa
resulta em pontos positivos, a despeito de seu inevitável fracasso. [c] A tentativa de
construir um completo sistema teológico, mediante o uso da Bíblia como única
fonte informativa. Isso tem sido tentado por muitos evangélicos fundamentalistas e
conservadores. Também foi tentado por Karl Barth e sua neo-ortodoxia, ou pelos
grupos protestantes que aprovam a rejeição das tradições eclesiásticas, dos pais
da Igreja e dos concilias, como autoridade, conforme fez Lutero. [d] O pressuposto
é que todos os autores da Bíblia concordam em seus pontos de vista
fundamentais, e juntamente com exposições de ideias pretendem descobrir
exatamente quais eram os pontos de vista daqueles autores sagrados.31
De acordo com Tenney “Teologia Bíblica é aquele exercício no qual se faz
uma tentativa de se determinar as afirmações de fé da Bíblia de forma
sistemática. Esta definição reconhece a Bíblia como um livro de fé, quer dizer, ela
registra o significado redentor do encontro de Deus com o homem”.32 Este autor
observa também que o termo “sistemática” de forma alguma sugere que as
categorias da Teologia Sistemática devem dirigir este exercício. Ele afirma, que,
pelo contrário, indica que a tarefa da Teologia Bíblica é expressar as afirmações
de fé dos escritores bíblicos individual e coletivamente, de acordo com os
31 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.361-362.
32 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p.840.
padrões de expressão discerníveis na própria Bíblia. Além disso, afirma Tenney,
é feito um esforço para apresentar não somente uma declaração ordenada, mas
espera-se também uma descrição unificada da fé da Bíblia.33
Para Tenney é importante também observar que a teologia bíblica
estrutura-se numa metodologia:
[a] Unidade da Bíblia. Qualquer tentativa de sistematização do pensamento
bíblico suscita o problema da unidade. Imediatamente nos confrontamos com a
imensa variedade de material literário tanto do Antigo como do Novo
Testamentos. Existem histórias (1 e 2 Rs, At); hinos (Sl); escritos proféticos e
apocalípticos (Is, Dn e Ap); cartas (de Paulo, Pedro etc); evangelhos (Mt, Mc, etc.)
e escritos de sabedoria (Pv, Tg). Além disso, o período histórico durante o qual
essas literaturas foram compostas abrange 150 anos. Essa diversidade levanta a
questão da norma para estes livros. Devemos seguir a opinião liberal do AT e
supor que os profetas representam a religião hebraica normativa? Com relação ao
NT, devemos buscar a norma nos sinóticos, em Paulo ou em João? Parece
razoável afirmar que a diversidade deve ser admitida, mas vista como caindo sob
um testemunho comum da atividade redentora de Deus em benefício da
humanidade pecadora. Além do mais, esta unidade deve fazer um elo entre os
dois testamentos, pelo menos para os cristãos, que afirmam que Jesus, como o
Cristo ressurreto, era o Messias anunciado no AT. O AT apresenta a promessa e
o NT, seu cumprimento; esta ideia é apoiada pelas palavras de Jesus (Mt 5.17;Jo
5.39; cp. também G1 4.4). Assim, a teoria bíblica deve dar atenção ao que liga o
livro como uma unidade em termos históricos e teológicos. [b] História da
salvação. Stendahl está correto quando afirma que na Teologia Bíblica, “a história
se apresenta como o tear do tecido teológico”. A unicidade da fé bíblica baseia-se
na revelação de Deus por meio dos eventos da história. A fé judaica-cristã
mantém- se separada de todas as religiões da humanidade exatamente porque
não foi fundamentada em mitologias ou ciclos da natureza. Nem procede de
exploração filosófica ou de experiências místicas. Eldon Ladd comenta: “Ela
surgiu das experiências históricas de Israel, antigas e novas, nas quais Deus se
deu a conhecer” (“The Saving Acts of God”, ChT, III [1961], 18). O Deus de Israel
era o Deus da história, o Geschichtsgott, como os alemães dizem. Uma olhada
superficial na Bíblia comprova este fato, pois nos leva por um caminho histórico —
uma série de eventos — desde a Criação, o chamado de Abraão, o Êxodo, a
33 Ibidem.
entrada do povo em Canaâ, o estabelecimento e a conduta dos reinos, o exílio, o
retomo à Palestina, a vida de Cristo e o estabelecimento da igreja. Estes eventos
não são ocorrências acidentais na história; são atos do Deus vivo, o qual possui
um interesse redentor em seu povo. Assim, esta história é Die heilsgeschichte,
"história da salvação”, e nela Deus mostra sua natureza redentora e a traz à
existência e sustenta seu povo redimido. Von Hofinann. von Rad, G. E. Wright, O.
Cullmann, J. Danielou, E. Rust e muitos outros teólogos do Antigo e do Novo
Testamentos têm enfatizado a centralidade da história na fé judaica-cristã. Sendo
isto verdade, para ser válida em sua metodologia, a Teologia Bíblica deve mostrar
essa história da salvação, porque a revelação de Deus de si mesmo na história é
um dos pontos fundamentais do pensamento bíblico. [c] Cristo, a chave das
Escrituras. Para os cristãos, como Rust destaca, Cristo é o “Senhor das
Escrituras, assim como é Senhor da história e da vida”. Sem o NT, o AT apresenta
um quadro inacabado da redenção de Deus. É uma promessa sem cumprimento.
Significativamente, a igreja primitiva não repudiou as antigas Escrituras, não
somente porque o Mestre não repudiou, mas também porque o AT proporcionava
a única base para o entendimento e a comprovação da sua existência na história
sagrada de Israel. A chave para essa interpretação necessária era o advento de
Cristo. Três eventos em especial, registrados na história de Lucas-Atos,
intensificam este fato. (1) O caminho de Emaús (Lc 24.13-35). Concernente à
conversa do Mestre, Lucas registra: “Começando por Moisés, discorrendo por
todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as
Escrituras” (Lc 24.27). (2) A defesa de Estêvão (At 7). Obviamente, se Estêvão
tivesse a chance de tenninar seu discurso, teria demonstrado o papel de Cristo na
história. De fato, Cristo era não somente a chave, mas também o clímax redentor.
(3) Filipe e o eunuco etíope (At 8.26-39). Surpreendentemente, o eunuco estava
lendo Isaías 53. Quando admitiu que não compreendia o que estava lendo, “Filipe
explicou; e, começando por esta passagem da Escritura anunciou-lhe a Jesus” (v.
35). Cristo é o cumprimento das promessas feitas ao povo de Israel e este fato
governa o NT. É fácil afirmar que Cristo é a chave das Escrituras; entretanto, ao
se comprovar isso, levanta-se a questão hermenêutica: como Cristo se relaciona
ao AT? Devemos procurar figuras? Existe uma tipologia histórica que reconheça
legitimamente a unicidade da fé dos santos do AT, mantendo ao mesmo tempo a
equação promessa-cumprimen- to? A tarefa da Teologia Bíblica é muito exata
neste ponto. [d] Confessional e Kerigmático. A Bíblia tem uma dimensão de
testemunho. Não se trata apenas do registro de tantos eventos e fatos
relacionados a um antigo povo, mas é também uma profunda declaração de sua
fé num Deus que agiu em prol de sua salvação. Judeus e cristãos “confessam”
Deus como Salvador e pregam, por meio das Escrituras, que ele é o Salvador da
humanidade e, em particular, por meio de Jesus Cristo na fé do Novo Testamento.
Para a Teologia Bíblica, em termos de metodologia, isso significa que: (1)
algumas declarações bíblicas não devem ser tomadas primariamente como
declarações teológicas, com um apoio lógico e racional por trás delas. Elas de fato
têm significado teológico, mas em primeiro lugar são declarações de fé. Em certos
casos, isso as coloca acima da análise plena e explícita. (2) Até onde é possível,
os elementos confessionais e kerigmáticos devem ser evidentes na
sistematização do pensamento da Bíblia. Alguém pode não ir tão longe quanto G.
E. Wright, dizendo que a “Teologia Bíblica é o ensaio confessional da história,
com suas inferências”. Entretanto, a natureza confessional do material bíblico
deve ser demonstrada para que a Teologia Bíblica seja realmente bíblica. Basear-
se em abstrações filosóficas e teológicas é apresentar uma concepção truncada
da fé, e de fato perder de vista sua natureza vibrante. (3) Ao se praticar a Teologia
Bíblica é importante também “ler nas entrelinhas”. Por exemplo, enquanto a
maioria das cartas de Paulo foi escrita para tratar de problemas locais de um tipo
ou de outro e não possui o caráter altamente racional dos tratados teológicos,
implícita e, às vezes, até explicitamente, expressa uma posição teológica geral de
sua parte. Portanto, o teólogo do NT terá de extrair algumas inferências das
declarações de Paulo e então relacioná-las ao conjunto do material paulino e ao
NT como um todo. Reiterando, a Teologia Bíblica é um estudo definitivo da Bíblia,
auxiliado por todas as outras disciplinas bíblicas, na qual é feita uma tentativa de
demonstrar, por meio de alguns sistemas sugeridos biblicamente, a revelação de
Deus por meio de Cristo, expressando seu propósito de redimir a humanidade
pecadora.34
3.5 Teologia Sistemática
“A teologia sistemática não examina cada livro da Bíblia separadamente,
mas procura juntar em um todo coerente o que toda a Escritura afirma sobre dado
tópico”.35 “Teologia sistemática é uma disciplina que tenta dar uma exposição
coerente das doutrinas da fé cristã, baseada principalmente nas Escrituras,
falando às perguntas e questões da cultura e época em que ela existe, com
34 Ibidem. p.845-847.
35 ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1992. p.16.
aplicação à vida pessoal do teólogo e outros”.36 De acordo com Alln Myatt e Frank
Ferreira, ao menos três aspectos são importantes na verificação do conceito da
teologia sistemática:
[a] A Teologia Sistemática deve dar uma exposição coerente: A tarefa da Teologia
Sistemática é fazer um sistema. A Teologia Sistemática trata das doutrinas da
Bíblia através do exame do que a Bíblia inteira diz sobre aquela doutrina e a
comunicação de suas conclusões. Também, a Teologia Sistemática mostra como
as doutrinas da Bíblia se relacionam logicamente. Então, a partir de dados da
Bíblia uma cosmovisão é construída. Esta cosmovisão abrange todas as áreas da
vida que são tocadas pela própria Bíblia. Neste sentido, Teologia Sistemática é
uma teologia compreensiva. [b] Baseada nas Escrituras: A Teologia Sistemática
tenta ser compreensiva mas não vai além do que está dito na Bíblia. A Teologia
Sistemática tenta evitar a especulação, a não ser que o teólogo admita que ele
está fazendo especulação. O teólogo precisa evitar a tentação de dar às suas
próprias especulações a autoridade da Bíblia. [c] A Teologia Sistemática sempre
tem um alvo prático: É preciso tratar com questões abstratas e complicadas, mas o
teólogo deve sempre mostrar a diferença que as suas conclusões fazem na vida
cotidiana. Uma vez alguém perguntou a Francis Schaefer o que ele faria se, de
repente, surgisse evidência conclusiva que a fé cristã é falsa. Ele respondeu que
ele ainda seria teólogo, porque é o melhor jogo que há. Muitas pessoas tratam a
teologia como esta fosse um jogo, mas essa atitude é uma perversão do propósito
de teologia. Teologia não é jogo. Ela existe para que possamos melhor conhecer,
obedecer, e amor a Deus. Aquele que acha que pode ser um teólogo teórico,
fazendo um “teologia pura” se engana. Quem não faz a teologia com as
necessidades do povo nos bancos da igreja em mente não é teólogo de verdade. É
um fato que quase todos os teólogos de maior influência através dos séculos eram
pastores também.37
Basicamente a teologia sistemática divide-se da seguinte maneira:
a) Teologia própria: O estudo de Deus – João 7.16,17: “Jesus lhes
respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
36 HAMMETT, John apud MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro:
Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.13.
37 MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica
Batista de São Paulo, 2002. p.13-14.
Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é
de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”.
b) Hamartiologia: O estudo do pecado – Romanos 3.23: “Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.
c) Soteriologia: O estudo salvação – Romanos 3.24: “Sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”.
d) Paracletologia: O estudo do Espírito Santo – Romanos 8.11: “E, se o
Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele
que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos
mortais, pelo seu Espírito que em vós habita”.
e) Escatologia: O estudo das últimas coisas – Mateus 4.23: “E, estando
assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em
particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da
tua vinda e do fim do mundo?”
f) Angelologia: O estudo dos anjos – Hebreus 1.13-14: “E a qual dos anjos
disse jamais: Assenta-te à minha destra, Até que ponha a teus inimigos por
escabelo de teus pés? Não são porventura todos eles espíritos ministradores,
enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”
g) Antropologia: O estudo dos homens – Mateus 19.4: “Ele, porém,
respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio
macho e fêmea os fez”.
h) Cristologia: O estudo de Jesus Cristo – Mateus 1.18: “Ora, o nascimento
de Jesus Cristo foi assim: Que estando Maria, sua mãe, desposada com José,
antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo”.
i) Bibliologia: O estudo da Bíblia – 2Tm 3.16: “Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir,
para instruir em justiça”.
EXPLORANDO O TEMA NA WEB
Você encontra um bom texto sobre as definições de teologia e suas divisões em
http://theologiaevida.blogspot.com.br/2012/03/definicoes-da-teologia.html
QUESTÕES PROPOSTAS
1. De acordo com Charles Ryrie a teologia pode ser catalogada de diversas
maneiras. Explique.
2. Como Myer Pearlman divide a teologia.
3. O que é teologia sistemática e como ela se divide?
4. TEOLOGIA PENTECOSTAL
Isael de Araújo destaca que a diversidade mundial do pentecostalismo torna
quase impossível falar de “uma” teologia pentecostal.38 Na ótica de Isael a própria
teologia pentecostal clássica encontra dificuldade em estabelecer-se. Ele observa,
porém, que existem correntes teológicas pentecostais que são dignas de
reconhecimento.
A história da teologia pentecostal requer uma visita na história da igreja e
na história da teologia, em especial, no período da Reforma Protestante. A
Reforma Protestante foi um movimento iniciado no século XVI, que tinha o objetivo
de provocar uma profunda mudança no catolicismo. Antes do movimento
reformista, surgiram as primeiras discussões da necessidade de uma mudança na
vida religiosa cristã, dando início assim ao lançamento dos fundamentos
ideológicos da reforma. A origem destas discussões foi verificada pelos
valdenses39, ou seja, aqueles que seguiam Pedro Valdo, conhecido comerciante
de Lyon. Pedro Valdo destacou-se na história de seu povo por ter conseguido
traduzir a Bíblia para a linguagem popular. Além disso, Pedro Valdo começou a
pregá-la publicamente, mesmo não sendo sacerdote. Este movimento recebeu o
nome de Pré-Reforma.
Durante toda a Idade Média, numerosos grupos de irmãos se separaram da
Cristandade oficial para procurar uma forma de cristianismo mais puro e apegado à
simplicidade evangélica. O caminho da fé foi regado com o sangue do seu martírio.
Na Europa ocidental, cátaros e albigenses cresciam, especialmente na França e
Espanha. E nos vales alpinos do norte da Itália e no sul da Suíça, prosperaram por
vários séculos um grupo de irmãos de características singularmente especiais a
quem a história designou com o nome de Valdenses. Embora estreitamente
aparentados com os albigenses, a sua origem parece remontar-se a uma época
anterior. A antigüidade dos Valdenses é testemunhada por várias fontes, tanto
internas como externas ao movimento, e também por algumas características
muito particulares de sua fé e práticas. O inquisidor Rainero, que morreu em 1259,
38 ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p.557.
39 ABARCA, Rodrigo. A parte da história da igreja que não foi devidamente contada. Os Valdenses
- O Israel dos Alpes. Revista Águas Vivas. Ano 8, no. 45, maio-junho de 2007.
escreveu: "Entre todas estas seitas... a dos leonistas (leia-se Valdenses).. foi a que
por mais tempo tem existido, porque alguns dizem que tem perdurado desde os
tempos de Silvestre (Papa em 314-335 DC), outros, do tempo dos apóstolos".
Marco Aurelio Rorenco, pároco de São Roque em Turin, em seu reconto e história
dos mesmos, escreveu que os Valdenses são tão antigos que não se pode
precisar o tempo de origem. Além disso, os próprios Valdenses se consideravam
muito antigos e originavam a sua fé dos tempos apostólicos. Na verdade, embora
seja impossível precisar o seu início, é provável que fossem em seu núcleo
essencial um remanescente que se separou da cristandade oficial rejeitando a
união da igreja e o estado, depois da ascensão de Constantino em 311 DC (por ex:
os novacianos). Alguns deles puderam ter emigrado para os remotos e isolados
vales alpinos, onde conservaram intactas por muitos séculos a sua fé e pureza
evangélicas, alheios a todas as controvérsias e lutas posteriores. Embora mais
adiante tivesse estreita comunhão com outros grupos de irmãos perseguidos.
Os Valdenses reconheciam na Escritura a única autoridade final e definitiva para
sua fé e práticas. Criam na justificação pela fé e rejeitavam as obras meritórias
como fonte de salvação. Além da Escritura não sustentavam nenhum credo ou
confissão de fé particular. Apesar disso, conseguiram conservar quase intactas a
sua fé e as suas práticas ao longo de vários séculos; o qual prova de passagem
que o melhor remédio contra a heresia e o engano é a espiritualidade apoiada em
uma profunda fidelidade e apego à Escritura.40
Neste período, diversos nomes se destacaram na defesa desses ideais
de mudança que a igreja precisava experimentar. John Wycliffe, teólogo inglês,
Jerônimo Savonarola e John Huss, foram responsáveis em divulgar à rejeição as
diversas doutrinas católicas praticadas nesta época. Com o advento da Reforma
Protestante no século XVI, Martinho Lutero e João Calvino despontaram como os
grandes pensadores da teologia, dando à partir de então, as “coordenadas” para
um novo tempo na interpretação das Sagradas Escrituras. O movimento da
Reforma Protestante produziu cinco princípios fundamentais que se opunham aos
ensinos da Igreja Católica Apostólica Romana. Estes princípios ficaram
conhecidos como “solas”, ou seja, uma palavra latina que traduzida para o
português significa “somente”. Estes princípios serviram de base, ou pilar, para a
prática de uma vida religiosa cristã. Os cinco solas são: [a] Sola
40 Ibidem.
Scriptura: Somente a Escritura é nossa regra de fé e prática; [b] Sola Fide: a
salvação é pela Fé Somente; [c] Sola Gratia: a salvação se dá
pela Graça Somente; [d] Solus Christus: Cristo Somente é suficiente para nos
salvar; e [e] Soli Deo Gloria: Somente a Deus devemos dar a Glória.
Com a chegada do reavivamento no fim do século XVII é inicio do século XVIII na
Europa e na América do Norte, os pregadores calvinistas, luteranos e arminianos
passarem a enfatizar o arrependimento e a piedade na vida cristã. Qualquer estudo
do Pentecostalismo tem de se a ter aos eventos desse período, especialmente à
doutrina da perfeição cristã ensinada por João Weley o pai do Metodismo e pelo
seu assistente João Fletcher. A publicação por Wesley de A Short Account of
Chistian Perfection (1760) conclama seus seguiores a buscarem uma nova
dimensão espirtual. Essa Segunda obra da graça, posterior à conversão libertaria
os crentes de sua natureza moral imperfeita, que os tem induzido ao
comportamento pecaminoso.41
Os ensinamentos de Wesley alcançaram os Estados Unidos da América e
influenciaram os cristãos, em especial, na busca por um comportamento santo.
Este movimento expandiu-se e ficou conhecido como “Movimento de Santidade”.
Embora a teologia reformada haja identificado o batismo no Espírito com a
conversão, alguns reavivalistas, dentro dessa tradição, aceitavam o conceito de
uma segunda obra da graça para revestir de poder, acreditavam no conceito de
uma segunda obra da graça para revestir os cristãos no poder do alto. Entre eles
se encontrava Dwight L. Moody e R.A Torrey. Apesar desse revestimento de
poder acreditavam na santificação, mantinha-se em sua obra progressivo outro
personagem chave e o presbiteriano, A B.Simpsom, fundador da Aliança Cristã e
Missionária, cuja forma de pensar teve grande impacto na formação doutrinarias
das Assembleias de Deus, enfatizava nitidamente o batismo no Espirito Santo.42
41 SCHELLING, Sergyo A. A história do pentecostalismo no Brasil através da Assembleia de Deus.
Disponível em http://ministeriorazaoefe.webnode.com.br/products/a-historia-do-pentecostalismo-
no-brasil-atraves-da-assembleia-de-deus/. Acesso: 30.12.2015.
42 Ibidem.
A mensagem do batismo no Espírito Santo influenciou os Estados Unidos e
deu origem a diversas denominações evangélicas pentecostais. Schellling destaca
que um dos primeiros movimentos pentecostais, fruto do reavivamento norte-
americano, teve destaque em Ricgard G. Sperling, pastor batista licenciado, que
promoveu reuniões na Carolina do Norte, marcada por intensa glossolalia (falar
em línguas estranhas). Mas foi Charles Fox Parham, “evangelista metodista dos
movimentos de santidade”, quem realmente aprofundou a discussão em torno do
batismo do Espirito Santo. “Convencido pelos seus próprios estudos de Atos dos
Apóstolos e influenciado por Irwin Sandford, testemunhou Parham um
reavivamento notável na escola Bethel, em Topeka, Kansas, em janeiro de 1901.43
Em 1905 Parham criou a escola bíblica de Houston no estado do Texas. Dentre
seus alunos estava W.J. Seymour que era um pregador negro procedente de
Holiness. Convencido de que a glossolalia sinalizava o batismo do Espirito Santo,
Seymor passou a destacar esta experiência em suas pregações. Quando foi para
Los Angeles, falou em uma igreja dos nazarenos, mas acabou proibido de
continuar suas exposições, mas devido a insistência com que tratava a nova
doutrina e o escândalos aos olhos dos protestantes conversadores. Seymour
passou a realizar as reuniões em uma casa, no dia 06 de abril de 1906 oito
pessoas entre elas um menino foram batizada com o Espírito Santo e falaram
novas línguas. Seymour se se transferiu para um velho templo metodista na rua
Azuza, onde por três anos sucederam reuniões dia e noite.44
O adepto do pentecostalismo crê no poder do Espírito Santo através da
contemporaneidade dos dons espirituais. Os integrantes do movimento
pentecostal crêem que o Espírito Santo continua a se manifestar nos dias de hoje,
da mesma forma que em Pentecostes, descrita no Novo Testamento (Atos 2).
Nessa passagem, o Espírito Santo manifestou-se aos apóstolos por meio de
línguas de fogo e fez com que eles pudessem falar em outros idiomas para serem
entendidos pela multidão heterogênea que os ouvia. Para eles, sobressaem os
dons da glossolalia (o de falar línguas desconhecidas), da cura e da profecia.45
43 Ibidem.
44 Ibidem.
45 Disponível em http://www.portalbrasil.net/religiao_pentecostalismo.htm. Acesso: 23.12.2015.
São legitimamente pentecostais os que, em primeiro lugar: [a] Aceitam a
soberania da Bíblia Sagrada, como a inspirada e inerrante Palavra de Deus,
elegendo-a como infalível regra de avaliação de toda e qualquer
manifestação espiritual (2Tm 3.16); [b] Mantém a pureza da sã doutrina,
conforme a encontramos na Bíblia Sagrada (At 2.42; 1Tm 4.16); [c]
Acreditam na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons
espirituais (At 2.39); [d] Cumprem integralmente as demandas da Grande
Comissão que nos deixou o Senhor Jesus (Mc 16.15-20); [e] Têm
compromisso com a santidade, defendem o aperfeiçoamento da vida cristã
através da leitura da Bíblia, da oração e do exercício da piedade na
consolação do Espírito Santo (Gl 5.22; 1Ts 5.17-23; 1Tm 4.8).46
Os primeiros pentecostais foram os discípulos de Jesus, como resultado da
promessa do Senhor (Lc 24.49; Mc 16.17; Jo 14.16; At 1.8).Tal promessa se
concretizou por ocasião da festa de comemoração do Pentecostes, no ano 33 d.C.
(At 2).
No período da Reforma Protestante, no século XVI, Deus levantou homens
como Martinho Lutero, João Calvino e John Knox. No século XVIII, ocorreu o
Avivamento Morávio com o Conde Zinzendorf, o Grande Reavivamento na
Inglaterra com John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield e o
Reavivamento Americano com Jonathan Edwards. Nenhum destes avivamentos
foi conhecido como Pentecostal, pois o termo é do início do século XX, quando
houve o derramamento do Espírito Santo nos Estados Unidos da América,
semelhante à manifestação de Atos 2.
No fim do século XIX houveram alguns ensinamentos bastante equivocados
à respeito das escrituras sagradas. Estes ensinos produziram, entre outros, o
fortalecimento da teologia cessacionista. Quanto ao Cessacionismo, é de bom
alvitre, citar as palavras extraídas do texto “Dons Espirituais: Reflexões pastorais
sobre a interpretação e uso dos dons”, de Gordon Chown:
46 CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas de Jovens e Adultos: Movimento Pentecostal – As doutrinas da
nossa fé. 2º. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
O Cessacionismo é a teoria de que muitos milagres, bem como dons espirituais,
existiam em função da formação do cânon do Novo Testamento – quer dizer que
houve um poderoso derramamento de milagres na vida de Jesus, e dos apóstolos,
mas que cessou depois de encerrado o cânon do Novo Testamento. A ideia é que
os milagres confirmaram a divindade de Cristo (fato este que está fora de dúvida)
e, semelhantemente, confirmaram a origem divina da atuação e doutrina dos
apóstolos (outro fato inabalável). Tudo isso concorreu para os registros em todos
os livros do Novo Testamento serem reconhecidos como obra legítima e
permanente de Deus, parte integrante das Escrituras Sagradas. E isso também é
certo. Quando me converti a Cristo, a conversão envolveu a aceitação da
inspiração plenária, inerrância e infalibilidade da Bíblia. Inclusive entendo que
qualquer conceito da Bíblia que não a reconhece assim, está fora do arraial do
cristianismo”.
O teólogo pentecostal Stanley Horton destaca que a Teologia Pentecostal
tem seu fundamento nas Sagradas Escrituras e historicamente mantém o
pensamento teológico dos reformadores quanto às doutrinas cardeais da fé
cristã. De acordo com ele o estabelecimento da teologia pentecostal impediu o
avanço das ideias liberais, dando atenção especial à manifestação dos dons
espirituais, ensino este que havia sido esquecido nas discussões e textos
teológicos. Uma das provas que a teologia pentecostal considera os
fundamentos da teologia reformada é verificada, por exemplo, na concordância
existente entre ambas nos seguintes aspectos:
[1] As Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e Novo Testamento, são
inteiramente inspiradas por Deus, infalíveis na sua composição original e
completamente dignas de confiança em quaisquer áreas que venham a se
expressar, sendo também a autoridade final e suprema de fé e conduta; II Tm 3:14-
17. [2] Há um só Deus eterno, poderoso e perfeito, distinto em sua Trindade: Pai,
Filho e Espírito Santo; Dt 6:4; Mt 28:19. [3] Jesus Cristo nasceu do Espírito Santo e
da virgem Maria, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, e o único mediador
entre Deus e o homem. Somente Ele foi perfeito em natureza, ensino e obediência;
Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; 1 Tm 2.4. [4] O Espírito Santo é o regenerador e
santificador dos remidos, o doador dos frutos e dons espirituais, o Consolador
permanente e Mestre da Igreja. Ele habita nos redimidos, que devem buscar se
encher de Sua presença; Hb 9:14; I Pe 1:15-16; Lc 3:16; At 1:5; I Co 12:1-12. [5]
Em Adão a humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus. Devido à
queda de Adão, a humanidade tornou-se radicalmente corrupta e distanciada de
Deus. O essencial para o homem é a restauração de sua comunhão com Deus, a
qual o homem é incapaz de operar por si mesmo; Rm 3.23; At 3.19. [6] A salvação
eterna, dom de Deus, tem sido providenciada para o homem unicamente pela
graça do SENHOR e pela morte vicária de Jesus Cristo. Fé é o meio pelo qual o
crente se apropria dos benefícios da graça e nasce de novo; Rm 3.23; At 3.19; Jo
3:3-8; At 10:43; Rm 10:13; 3:24-26; Hb 7:25; 5:9; II Co 5:10. [7] Jesus Cristo
ressuscitou fisicamente dentre os mortos, ascendeu aos céus e voltará na
consumação dos séculos para julgar os homens; Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; I Ts
4:16-17; I Co 15:51-54. [8] A punição eterna, incluindo a separação e perda da
comunhão com Deus, é o destino final do homem não regenerado e de Satanás
com todos os seus anjos caídos. Ap 20:11-15; Mt 25:46. [9] A Igreja Cristã, o corpo
e a noiva de Cristo é consagrada à adoração a ao serviço de Deus através da
proclamação fiel da Palavra, a prática de boas obras e a observância do Batismo e
da Ceia do Senhor. Mt 28:19; Rm 6:1-6; Cl 2:12. [10] A tarefa da Igreja é ensinar a
todas as nações, fazendo com que o Evangelho produza frutos em cada aspecto
da vida e do pensamento. A missão suprema da Igreja é a salvação das almas.
Deus transforma a natureza humana, tornando-se isto, o meio para a redenção da
sociedade. Mt 28:19-20.47
O pastor Claudionor de Andrade destacou em seu artigo intitulado “a
excelência teológica dos pentecostais” que este movimento não fundamenta-se
apenas em experiências particulares, mas tem um sólido fundamento na reflexão
bíblica. Sobre esta verdade, ele afirmou o seguinte:
Antes de mais nada, porque o Movimento Pentecostal não é somente experiência,
mas o resultado de uma profunda e bem amadurecida reflexão bíblica. Aliás, entre
os primeiros crentes a receberem o batismo com o Espírito Santo, não havia só
gente simples e leiga; havia também excelentes teólogos. Haja vista o pastor
sueco Lewi Pethrus (1884-1974). Entre os pioneiros, veio ele a sobressair-se
como poeta, jornalista e expositor bíblico. Seja-me permitido citar outro literato
que, ao lado de Lewi Pethrus, emprestou às igrejas pentecostais um sólido
alicerce teológico e cultural. Refiro-me ao romancista Sven Lidman (1882-1960).
Também sueco de nascimento, teve ele, em 1917, um encontro marcante com
Deus que, de maneira piedosa e grácil, eterniza num de seus romances. Quatro
47 ICP – Instituto Cristão de Pesquisas.
anos depois, juntava-se Lidman ao nascente avivamento, pontificando-se, a partir
daí, não apenas como pregador e teólogo, mas ainda como editor da revista
Evangelii Harold. Sven é um dos nomes mais respeitados da literatura sueca.
Tivesse eu espaço, citaria outros teólogos que, desde o início do Avivamento
Pentecostal, vêm fundamentando bíblica e teologicamente a nossa fé. Como
esquecer, porém, Stanley Horton, Wayne Gruden, J. Rodman Williams e Gordon
Fee? No Brasil, lembro o pastor Antonio Gilberto que, além de teólogo, abriu-nos
um espaçoso caminho no árduo e incompreendido solo da Educação Cristã.48
O Pastor Antônio Gilberto destacou que a igreja da atualidade precisa mais
e mais conhecer, buscar, receber e exercitar a provisão divina imensurável que há
nos dons espirituais, para o seu contínuo avanço, edificação, consolidação e
vitória contra as hostes infernais, e, ao mesmo tempo, glorificar muito mais a
Cristo.49 Myer Pearlman destaca que a doutrina do Espírito Santo, a julgar pelo
lugar que ocupa nas Escrituras, está em primeiro lugar entre as verdades
redentoras. Diz ele:
Com exceção das Epístolas 2 e 3 de João, todos os livros do Novo Testamento
contêm referências à obra do Espírito; todos os Evangelhos começam com uma
promessa do derramamento do Espírito Santo. No entanto, é reconhecida como a
doutrina mais negligenciada. O formalismo e um medo indevido do fanatismo têm
produzido uma reação contra a ênfase na obra do Espírito na experiência pessoal.
Naturalmente, este fato resultou em decadência espiritual, pois não pode haver
um Cristianismo vivo sem o Espírito. Somente ele pode fazer real o que a obra de
Cristo possibilitou. Inácio, grande pastor da igreja primitiva, disse: A graça do
Espírito põe a maquinaria da redenção em conexão vital com a alma. Parte do
Espírito, a cruz permanece inerte, uma imensa máquina parada, e em volta dela
permanecem imóveis as pedras do edifício. Somente quando se colocar a "corda"
é que se poderá proceder à obra de elevar a vida do indivíduo, pela fé, e pelo
amor, para alcançar o lugar preparado para ela na igreja de Deus.50
48 ANDRADE, Claudionor de. A excelência teológica dos Pentecostais. Disponível em
http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/29/a-excelencia-teologica-dos-
pentecostais.html. Acesso: 15.12.2015.
49 GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p.195.
50 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. p.225.
EXPLORANDO O TEMA NA WEB
Você pode ler um bom texto sobre o desenvolvimento da teologia em
http://gutierresfernandes.com/2014/12/21/o-desenvolvimento-da-teologia-
pentecostal/
QUESTÕES PROPOSTAS
1. O que foram as “cinco solas”?
2. O que significa ser pentecostal e quais características são observadas na
confirmação da identidade pentecostal?
3. De acordo com Stanley Horton qual foi a contribuição do estabelecimento da
teologia pentecostal para o mundo cristão?
5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA
Santos observa que “é comum ouvirmos que a teologia mata a religião ou
que a Igreja não precisa de teologia e, sim, de vida. Ele admite que há muita coisa
por aí levando o nome de “teologia” que não passa de especulação humana, por
não se basear em pressupostos de uma hermenêutica bíblica. E até a ‘boa
teologia’, quando se torna um fim em si mesma, pode não ter qualquer uso prático
e reduzir-se a mero academicismo”.51 Sobre esta realidade este autor diz:
Como podemos conhecer a Deus sem estudar a revelação que Ele faz de Si
mesmo? Como saber quem Ele é e o que Ele tem feito e faz, quem somos nós em
relação a Ele, o que Ele requer de nós,etc., se não investigarmos o que Ele deixou
revelado para nosso conhecimento? Pois esse é o trabalho da Teologia. Esse
trabalho parte de três pressupostos: O primeiro é o de que Deus existe; o segundo,
de que Ele pode ser conhecido, embora não de modo exaustivo e completo; e o
terceiro, de que Ele tem Se revelado tanto por meio de Suas obras (criação e
providência - Revelação Geral - Sl19.1,2; At 14.17), como, principalmente, nas
Santas Escrituras (Revelação Especial - Hb1.1,2; 1 Pd 1.20,21). É porque Deus Se
revelou que podemos conhece-Lo. Nosso conhecimento de Deus não é intuitivo,
nem natural, mas comunicado por Ele mesmo através dos meios que
soberanamente escolheu. “Fazer teologia”, portanto, não é inventar teorias a
respeito de Deus e de Suas obras, nem mesmo “descobrir” a Deus, mas conhecer
e compreender a revelação que Ele próprio deu de Si. Por isso, qualquer estudo de
Deus que não tiver a Sua revelação como base, meio e princípio regulador não é
“teologia”, devidamente entendida.52
Hordern também preocupou-se em defender a teologia. Disse ele:
Com frequência, alguém diz assim: “Por que preocupar-se com assuntos de
teologia? Os teólogos passam o tempo inutilmente discutindo questões sem
qualquer importância ...” Passemos a um exame dessa maneira de pensar. Por
que será que os problemas citados são considerados sem importância? É claro
51 SANTOS, João Alves dos. A igreja precisa de teologia? Disponível em
http://www.soluschristus.com.br/2010/06/igreja-precisa-de-teologia.html. Acesso: 23.12.2015.
52 Ibidem.
que quem faz semelhante objeção tem em mente algum conceito do que se deva
admitir como sendo de mais alto valor, em comparação com o que ele se acha na
condição de asseverar que os argumentos dos teólogos lhe parecem destituídos
de importância. Isso quer dizer que tal pessoa encontra-se em determinada
posição teológica, tem uma opinião com referência à natureza de Deus, conceitos,
portanto, que o levam a proclamar como sem importância os argumentos
enunciados pelos teólogos. De modo que, mesmo um ataque assim, endereçado
contra a teologia, não passa de uma investida de natureza teológica.
Frequentemente ouvimos pessoas dizendo que não é o que alguém crê e, sim, o
que faz que tem importância. Trata-se de meia verdade, que, como acontece com
as verdades apresentadas pela metade, chega a ser perigosa. E meia verdade
porque, do ponto de vista cristão, o pensamento teológico não é nenhum fim em si
mesmo. O cristianismo é doutrina que se propõe a ser vivida. Visa a resultar em
ações. De forma que, se permanecer sempre como pensamento, torna-se algo até
mesmo destituído de verdadeiro cristianismo e, portanto, fútil.53
Geraldo Campos citou algumas razões para se “fazer” teologia, sendo elas:
[1] Nossa mente necessita de organização. Precisamos dar ordem aos
conhecimentos adquiridos. Necessitamos harmonizar, unificar, para refletir sobre
os conhecimentos. Daí surgir, por necessidade, a teologia, em atenção a nossa
mente refletidora. [2] Para desenvolvimento do caráter. Todo conhecimento de
Deus influi na vida do conhecedor. Como estudantes de teologia devemos saber
que nosso caráter deve desenvolver-se na razão direta do nosso conhecimento.
Não deve acontecer que alguém que estude teologia cristã seja mentiroso,
velhaco, fofoqueiro, malandro, ditador, imoral, mau cônjuge, mau filho ou má filha
ou que quer que seja de mau. Quem conhece a Deus desvia-se do que é maligno.
[3] Para capacitar intelectualmente a quem serve a Deus. Quem serve a Deus
deve procurar conhecer a Deus mais e mais. Deve saber manejar “a espada do
Espírito” (Ef 6.17). A igreja não espera que sejamos bons conhecedores das
ciências mundanas, mas aguarda que sejamos teólogos autênticos, conhecedores
de Deus e praticantes dos ensinos da Palavra. Precisamos apreender e transmitir
fielmente toda a verdade acerca de Deus. [4] Para dar firmeza e ousadia à igreja
no estabelecer o Reino de Deus. A igreja em geral, e os guias espirituais em
particular devem saber interpretar a Palavra de Deus de modo correto. A maneira
correta de interpretar, provoca na igreja uma maneira correta de viver, poder,
53 HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. p.5.
firmeza e ousadia. [5] Para dar cumprimento às ordens ou sugestões das
Escrituras que encorajam o exame das Escrituras (Jo 5.39); que ordenam a
pregação “a tempo e fora de tempo” (2Tm 4.2); que afirmam que o bispo “seja apto
para ensinar” (1Tm 3.2); que ordenam o bom manejo da “palavra da verdade” (2Tm
2.15). A teologia é necessária, pois enseja o exame, a pregação, o ensino, a
eficiência do conhecimento da Palavra.54
A teologia deve ser “feita” por todos. É um equívoco pensar que a teologia
deve ser feita apenas por pessoas que aspiram o ministério formal de uma
determinada denominação religiosa, ou por um grupo selecionado de pessoas. De
acordo com Solano Portela, “estudar (fazer) teologia não é uma área segregada à
academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se
preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais
mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a
respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros
anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que
Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas”.55
Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar
seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Em Mt 22.29 Jesus adveritu os homens
sobre a necessidade de conhecer as Escrituras: “Jesus, porém, respondendo,
disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. Em Mc
12.24 Jesus chama à atenção sobre o cuidado do conhecimento das Sagradas
Escrituras: “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não errais vós em razão
de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?”
Vincent Cheung afirma que uma das maiores razões para se estudar
teologia é o valor intrínseco do conhecimento sobre Deus. Cada outra categoria de
conhecimento é um meio para um fim, mas o conhecimento de Deus é um fim
digno em si mesmo. E, visto que Deus Se revelou através da Escritura, conhecer a
54 CAMPOS, Geraldo Magela. Teologia em Perguntas e Respostas. Disponível em
http://pt.scribd.com/doc/139935737/Teologia-em-Perguntas-e-Respostas-Geraldo-Magela-Campos-
pdf#scribd. Acesso: 28.12.2015.
55 PORTELA, Solano. Disponível em http://www.teologiaevida.com.br/2012/08/porque-devo-
estudar-teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
Escritura é conhecê-lo, e isto significa estudar teologia.56 Este autor afirma
também que um repúdio à teologia é também uma recusa de conhecer a Deus por
meio do modo por ele prescrito. O conhecimento da Escritura — conhecer sobre
Deus ou estudar teologia — deve estar cima de tudo da vida e pensamento
humano. A teologia define e dá significado a tudo que alguém possa pensar ou
fazer. Ela está cima de todas as outras necessidades (Lucas 10.42); nenhuma
outra tarefa ou disciplina se aproxima dela em significância. Portanto, o estudo da
teologia é a atividade humana mais importante.57
5.1 A teologia nas funções da igreja
O pesquisador Rubens Muzzio usou quatro palavras gregas para definir as
funções principais da igreja no mundo: koinonia, kerigma, diakonia e marturia.
Estas palavras refletem a atuação da igreja no mundo bem como o cumprimento
do seu propósito orientado pelas Sagradas Escrituras.
[a] Koinonia – Esta palavra expressa a comunhão que deve existir entre os
membros da igreja. O salmo 133 é um bom exemplo disso quando diz: “Oh! quão
bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre
a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas
vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de
Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”. Fazer teologia é
compreender as bases desta união e seus propósitos. Para John Stott, "Koinonia”
fala de nossa herança comum (do que compartilhamos aqui dentro), de nosso
serviço cooperativo (do que compartilhamos lá fora) e de nossa responsabilidade
recíproca (do que compartilhamos uns com os outros)”.
As significativas palavras koinõma e metochê estão entre os mais fortes conceitos
nas Escrituras judaico-cristã. Antes demais nada, elas se aplicam à participação
em um projeto e um espírito “comum”. Os cristãos participam da “natureza divina”
(2Pe 1.4). A comunhão na família de Deus vem após o novo nascimento (2Co
56 CHEUNG, Vincent. Teologia Sistemática. Disponível em: http://monergismo.com/?p=789.
Acesso: 29.12.2015.
57 Ibidem.
5.17; lJo 3.9). Os cristãos participam de Cristo (Hb 3.14) e do Espírito Santo (6.4).
A verdadeira comunhão resulta em um amor mútuo (Jo 13.34). Uma “salvação
comum” (Jd 3) e uma “fé comum” (Tt 1.4) caracterizam os verdadeiros cristãos. A
tradução significativa “fazer participante” toca a essência do espírito cristão (G1
6.6). Aquele que é ensinado na Palavra é advertido a “comunicar”. Comunhão
existe quando há “associação”. Essa era a força essencial dos cristãos primitivos.
Embora um movimento minoritário, eles compartilhavam a força de pertencer um
ao outro e a Deus.58
[b] Kerigma - Refere-se à proclamação do evangelho a todos os homens
em todas as partes do mundo. Trata da missão principal da igreja, expressa em
Mc 16.15 que nos diz: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a
toda criatura”. A teologia, por exemplo, por intermédio da hermenêutica, da
exegese e da própria homilética, fornecem ferramentas para os membros da igreja
compartilharem com eficiência as verdades do evangelho.
No grego, essa palavra significa “a coisa pregada”, o que alude ao evangelho de
Cristo. Está em foco a proclamação do evangelho. A palavra aparece por oito
vezes no Novo Testamento, duas delas acerca da pregação de Jonas (Mt 12.41 e
Lc 11.32). As outras seis ocorrências envolvem a proclamação do evangelho (Rm
16.25; 1Co 1.21; 2.4; 15:14; 2Tm 4.17 e Tt 1.3), onde são enfatizadas a morte e a
ressurreição de Cristo, com todas as suas implicações teológicas.59
[c] Diakonia – É o comportamento generoso em relação ao próximo.
Edelberto Behs, tratando da necessidade da compreensão ampla do termo
“diaconial” observou que “os efeitos da globalização econômica, que erodiu a base
da vida em muitas comunidades, e a necessidade de prestar contas da fé cristã
frente ao secularismo e ao neoliberalismo, trazem novos desafios às igrejas”.60
Fazer teologia é colocar em prática o conteúdo de nossa fé. Behs afirmou também
que:
58 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 3. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p.838-839.
59
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.3. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.699.
60 BEHS, Edelberto. Ação diaconal é uma exigência num mundo excludente, globalizado e violento.
Disponível em http://www.ieclb.org.br/noticia.php?id=7877. Acesso: 17.11.2014.
A compreensão de diaconia vincula o serviço da igreja à crítica profética sobre as
estruturas econômicas, políticas e culturais vigentes no mundo, que produzem e
perpetuam sofrimento e violência, ao mesmo tempo em que advoga condições
sociais para uma vida digna, de respeito e justiça. Tradicionalmente, a
compreensão de pregar e ensinar o evangelho e de administrar os sacramentos,
responsabilidade da Igreja, estava restrita ao ministério pastoral, segundo a
Confissão de Augsburgo. Entende-se que a pregação do Evangelho também
acontece através da ação diaconal (compreendida como o serviço ao próximo).
Diferentes modelos diaconais vêm sendo praticados em diferentes igrejas, de
acordo com a história, sociedade e o contexto em que se encontram.61
[d] Marturia – Trata-se do testemunho compartilhado pela igreja. At 1.8 diz:
“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos
confins da terra”. Fazer teologia é testemunhar, movido pelo Espírito Santo, aquilo
que experimentamos e entendemos em Cristo Jesus.
Com uma variedade de significado na Escritura, testemunho, dependendo do
contexto, indica (a) testemunho, (b) evidência que testemunha de ou a favor de
alguma coisa, (c) as tábuas de pedra nas quais a lei de Deus foi escrita, (d) a Arca,
(e) todo o livro, da lei, (f) a Palavra de Deus dada a um profeta, (g) o evangelho, ou
(h) toda a Escritura. [1] 0 primeiro destes contextos é visto em 2 Timóteo 1.8, onde
Paulo exorta Timóteo a não ficar envergonhado de seu testemunho de Cristo. [2]
Um exemplo do segundo sentido no qual a palavra é usada encontra-se em Atos
14.3, onde a BJ e ARC interpretam que Deus “dava testemunho à palavra da sua
graça”, a ARA contém “confirmava a palavra da sua graça” e a NVI traduz
“confirmava a mensagem da sua graça”. [3] Em vários exemplos no AT “o
testemunho” refere-se ao Decálogo como uma declaração da vontade de Deus (e.
g., Êx 25.16,21) do qual vem a expressão “tábuas do testemunho” (Êx 31.18;
32.15; 34.29). [4] No mesmo contexto lê-se “a arca do testemunho” (Êx 25.22;
26.33s.; 30.6; 31.7, et al.), ou simplesmente “o testemunho”, onde se tem em vista
a Arca (Êx 16.34; 27.21; Lv 16.13). [5] A expressão “testemunho” foi então
estendida para abranger todo o livro da lei de Deus (SI 19.8; 78.5; 81.5; 119.88;
122.4). [6] Em alguns casos, testemunho significa a Palavra de Deus dada a um
61 Ibidem.
profeta (Is 8.16,20). [7] Em Apocalipse 1.2,9; 12.17 et al., o uso de marturia é o do
evangelho. Em 12.17a palavra é usada para o Evangelho no sentido de um
testemunho de Cristo. [8] Toda a revelação de Deus ao homem é, às vezes,
mencionad quando “testemunhos” é usado (SI 119.22) contendo vários
exemplos.62
EXPLORANDO O TEMA NA WEB
Você pode ler um bom texto sobre a importância do estudo da teologia em
http://esdrascabral.blogspot.com.br/2012/06/necessidade-do-estudo-teologico.html
QUESTÕES PROPOSTAS
1. Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar
seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Explique com suas palavras a relação dos
textos de Mt 22.29 e Mc 12.24 com esta afirmação.
2. Quais as razões, segundo Gerlado Campos, para se “fazer teologia”?
3. Como a teologia pode ser desenvolvida no contexto das funções essenciais da
igreja?
62 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p.899-900.
6. FONTES DA TEOLOGIA
A teologia possui uma fonte, ou seja, um ponto de partida de onde flui a
teologia. Basicamente estas fontes são:
[a] Bíblia Sagrada – A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia
Sagrada. Bíblia e Escrituras são palavras sinônimas para os propósitos da
teologia. O cristianismo possui como ponto central, a fé, e, a pessoa de Cristo, ou
seja, não possui fé num livro, portanto, a fé e Cristo encontram-se intimamente
relacionadas.
A palavra portuguesa Bíblia vem do grego, biblia, que é o plural de blblion, “livro”.
Portanto, significa “Iivros”. Essa palavra deriva-se originalmente da cidade fenícia
de Biblos (no Antigo Testamento, Gebal), que era um dos antigos e importantes
centros produtores de papiro, o papel antigo. Com o tempo, esse vocábulo
terminou sendo usado para designar as Sagradas Escrituras. A palavra grega
biblos significa um livro, um escrito qualquer, tendo mesmo servido para indicar o
livro da vida, como se vê em Ap 3.5, isto é, um livro sagrado. Estritamente falando,
biblos era um livro, e biblion era um livrinho. A palavra Bíblia, mediante um
desenvolvimento histórico divinamente dirigido, segundo cremos, veio a designar o
Livro dos livros, as Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e do Novo
Testamento, a principal fonte de ensinamentos religiosos e éticos de nossa
civilização. Por volta do século II d.C., os cristãos gregos já chamavam suas
Escrituras Sagradas de Bíblia, ou seja, “os livros”. Quando esse título foi então
transferido para a versão latina, foi traduzido no singular, dando a entender que “o
Livro” é a Bíblia. [...] No Novo Testamento encontramos o vocábulo “Escrituras”,
empregado para indicar o Antigo Testamento (Mt. 21.42; Mc 14.49; Rm 15.4), ou
Sagradas Escrituras (Rm 1.2), ou, a “lei e os profetas” (Mt 5.17), ou “lei” (Jo 10.34),
ou “os oráculos de Deus” (Rm 3.2).63
A teologia cristã reconhece a Bíblia Sagrada como sua autoridade máxima.
É a regra de conduta do verdadeiro cristão, a constituição da religião cristã. “O que
torna a autoridade das Escrituras de indescritível importância para os cristãos é o
63 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.527.
fato de elas revelarem Deus ao mundo, sua natureza trinitária (Pai, Filho e Espírito
Santo), seu plano de salvação para a humanidade e sua vontade. As Escrituras,
conforme as temos, são suficientes para tal finalidade”.64 A Bíblia é a mais rica
fonte de informações sobre Cristo, em especial, quando trata de sua
messianidade. Outras fontes sobre Cristo, tendem enfatizar seu aspecto histórico,
pouco ou nada falando sobre seu poder divino de perdoar pecados. Paulo Anglada
destaca que o reconhecimento das Sagradas Escrituras como autoridade suprema
é tanto inferencial como direta:
Base Inferencial - É inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito da
inspiração divina das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da mera
inquirição espiritual dos seus autores (cf. 2Pe 1.20), mas da ação sobrenatural do
Espírito Santo (cf. 2Tm 3.16 e 2Pe 1.21), infere-se que são autoritativas. Na
linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras procede da sua autoria
divina: "porque é a Palavra de Deus." Isto não significa que cada palavra foi ditada
pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a
escreveram. Os autores bíblicos não escreveram mecanicamente. As Escrituras
não foram psicografadas, ou melhor, "pneumografadas." Os diversos livros que
compõem o cânon revelam claramente as características culturais, intelectuais,
estilísticas e circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como João
ou Pedro. Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de
Atos. Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os
autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos
de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas
características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana
também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram de
tal modo dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo que tudo o que foi
registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível, inerrante e
autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram
registrados, mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito
Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4 O fato é que, por procederem
de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas, fiéis, retas,
puras, duram para sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm 3.15).
64 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
Base Direta - Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se
fundamenta apenas em inferências. Diversos textos bíblicos reivindicam autoridade
suprema. Os profetas do Antigo Testamento reivindicam falar palavras de Deus,
introduzindo suas profecias com as assim chamadas fórmulas proféticas, dizendo:
"assim diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra que veio da parte do
Senhor." No Novo Testamento, vários textos do Antigo Testamento são citados,
sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por exemplo: "Assim diz o Espírito
Santo..." (Hb 3:7ss). A autoridade apostólica também evidencia a autoridade
suprema das Escrituras. O Apóstolo Paulo dava graças a Deus pelo fato de os
tessalonicenses terem recebido as suas palavras "não como palavra de homens, e,
sim, como em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando
eficazmente em vós, os que credes" (1Ts 2:13). Que autoridade teria Paulo para
exortar aos gálatas no sentido de rejeitarem qualquer evangelho que fosse além do
evangelho que ele lhes havia anunciado, ainda que viesse a ser pregado por
anjos? Só há uma resposta razoável: ele sabia que o evangelho por ele anunciado
não era segundo o homem; porque não o havia aprendido de homem algum, mas
mediante revelação de Jesus Cristo (Gl 1:8-12). Jesus também atesta a autoridade
suprema das Escrituras: pelo modo como a usa, para estabelecer qualquer
controvérsia: "está escrito" (exemplos: Mt 4:4,6,7,10; etc.), e ao afirmar
explicitamente a autoridade das mesmas, dizendo em João 10:35 que "a Escritura
não pode falhar”.65
[b] Tradição – “A leitura das Escrituras nunca é neutra; sempre está filiada a
alguma tradição interpretativa, e mesmo sem perceber, geralmente lemos a Bíblia
com a ótica da tradição a qual pertencemos”.66
E indiscutível que todas as denominações cristãs têm suas próprias tradições, que
lhes servem de autoridade, em complemento ou acréscimo às Escrituras, embora
algumas dessas denominações prefiram não reconhecer esse fato. A tradição faz
parte integrante da Autoridade. [1] As próprias Escrituras Sagradas preservam
várias tradições judaicas, sem falarmos em algumas tradições próprias da filosofia
helênica, como é o caso da doutrina do Logos, ou do mundo platônico em dois
65 AGLADA, Paulo. A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras. Disponível em
http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/autoridade_anglada.htm. Acesso: 29.12.2015.
66 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
níveis, conforme se vê na epístola aos Hebreus. Assim sendo, as tradições
começam nas próprias Escrituras. [2] Terminado o período do Novo Testamento,
surgiram as declarações dos chamados pais da Igreja, bem como o
desenvolvimento dos mais antigos credos. Esses credos serviram para limitar e
sistematizar as Escrituras. Na verdade, esses credos foram teologias sistemáticas
incipientes, sobre as quais as denominações cristãs atualmente repousam. [3] Os
concílios eclesiásticos manipularam esses credos e lhes fizeram adições,
apresentando interpretações das Escrituras, de onde se originaram tradições. [4]
Regras de fé, interpretações bíblicas, raciocínios e apareceram nos escritos dos
pais da Igreja. Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Orígenes e
Novaciano referira-se às suas regras de fé, que faziam parte de credos existentes
ou não. [5] O sincretismo. A medida que o cristianismo foi sendo difundido por
diferentes áreas geográficas e culturas, foram sendo incorporados elementos de
crenças e práticas locais, e isso também veio a constituir um elemento nas
tradições emergentes, geralmente de natureza negativa. [6] As tradições católicas
romanas são o supremo exemplo do entronizamento das tradições, às vezes
prejudicando as Sagradas Escrituras, pois a essas tradições também se confere ali
a aura de autoridade. É verdade que boa parte dessas tradições católicas romanas
tem um fundo bíblico; mas outra boa parte não passa de sincretismo. [7] A
Reforma Protestante presumivelmente fez a Igreja cristã retornar às "Escrituras
somente". Mas, na verdade, grande parte das tradições ocidentais teve
continuidade nos vários grupos protestantes que surgiram em cena. Mas então
novas tradições foram criadas, mediante credos rígidos, que eram interpretações
específicas das Escrituras. Todos esses credos deixam de lado certos ensinos
bíblicos, além de torcerem outros ensinos bíblicos. [8] Desenvolvimento doutrinário.
Muitos teólogos modernos insistem na tese que a doutrina deve evoluir, a fim de
que a verdade possa ser obtida em qualquer sentido ou grau significativo. Assim,
as tradições sempre haveriam de emergir, somente para serem substituídas por
outras, mais evoluídas. [9] A revolta contra a ortodoxia: as tradições liberais.
Começando no século XVIII, mas florescendo nos séculos XIX e XX, os eruditos
liberais e os críticos desenvolveram uma tradição toda própria que produziu efeitos
que minimizaram a fé nas tradições mais antigas, e rejeitaram de forma total o
autoritarismo e seus diversos conceitos de infalibilidade, sem importar-se das
próprias Escrituras. [10] Os credos modernos. Esses credos funcionam de quatro
maneiras diversas: a. Declarações. Coisas que figuram claramente nas Escrituras
são meramente declaradas e descritas. b. Interpretações. Coisas que não são
necessariamente claras, e, em certos casos, coisas que são repelentes para certas
mentes, recebem interpretações apropriadas de indivíduos ou denominações que
as provêem. c. Distorções. É patente que todas as denominações cristãs distorcem
certos trechos bíblicos, para que se adaptem ao seu esquema das coisas. d.
Omissões. Certas passagens ou versículos são simplesmente omitidos, conforme
fazem os hiper dispensacionalistas que declaram que a maior parte do Novo
Testamento não pertence à Igreja cristã, não servindo de autoridade quanto à
doutrina cristã. Não há que duvidar que as tradições tem seu uso. Algumas vezes
as tradições ultrapassam, legitimamente, as Escrituras, mas nem por isso deixam
de ser verdadeiras. Por outro lado, com frequência, essas tradições laboram em
erro, adicionando elementos prejudiciais à fé e à prática. Essas são as tradições
que devemos repelir.67
[c] Cultura - Quando alguém faz teologia, precisa levar em consideração
tanto o seu contexto cultural como o do texto bíblico que está analisando, para
aplicá-lo adequadamente em seu tempo. O estudo da cultura é importante
inclusive, por exemplo, para saber se determinados textos das Escrituras eram
aplicáveis à determinado momento histórico, ou se são validos perpetuamente.68
Costumes culturais influenciam na interpretação de um texto bíblico. Sobre isso,
Alexandre Milhoranza disse:
As pessoas que interpretam a Bíblia sem levar em consideração o contexto de uma
passagem e sem conhecer, ou considerar o período histórico do texto escrito,
podem cometer um sério erro de interpretação e acabarem criando uma heresia.
Lembre-se que os reformadores ressaltaram e retornaram ao método de
interpretação histórico-gramatical das Escrituras. Ou seja, devemos levar em conta
o período histórico de quando a passagem foi escrita e levar em consideração as
palavras e frases da passagem em seu sentido normal e claro (literal). [...] Certos
princípios ou mandamentos são contínuos ou irrevogáveis, e tratam de temas
morais e/ou teológicos, são repetidos em outras partes da Bíblia, sendo, portanto,
aplicáveis a nós hoje. Precisamos perguntar se a Bíblia dá ao mandamento um
caráter normativo. Quando a Bíblia dá uma ordem explícita e não a anula depois,
devemos entender como sendo a vontade expressa de Deus para nossas vidas,
em nosso tempo também, independente da cultura. [...] Certos princípios ou
67 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.466-467.
68 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
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_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf

  • 1.
  • 2. SUMÁRIO 1. O QUE É TEOLOGIA 2. O OBJETIVO DA TEOLOGIA 3. DIVISÃO CLÁSSICA DA TEOLOGIA 3.1 Teologia Exegética 3.2 Teologia Histórica 3.3 Teologia Dogmática 3.4 Teologia Bíblica 3.5 Teologia Sistemática 4. TEOLOGIA PENTECOSTAL 5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA 5.1 A teologia nas funções da igreja 6. FONTES DA TEOLOGIA 7. O TEÓLOGO 8. DOUTRINA E RELIGIÃO 9. FUNDAMENTALISMO TEOLÓGICO E FÉ
  • 3. 1. O QUE É TEOLOGIA Diversos são os conceitos e entendimentos sobre a “teologia”. É imprescindível o entendimento do termo para evitar equívocos sobre seu real significado. De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, é difícil encontrar uma boa e abrangente definição para a teologia, pois praticamente todas elas são, ou simples demais, ou tendem a dar mais importância a uma das fontes de uma teologia totalmente desenvolvida, excluindo outras.1 A teologia sofreu preconceito em todas as eras da história e por diversas ocasiões recebeu o tratamento de mitologia pagã. Orígenes foi o primeiro a empregá-lo no contexto cristão como “a sublimidade e a majestade da teologia”. A partir de Eusébio de Cesaréia, a palavra popularizou-se no cristianismo.2 A teologia não foi criada por si mesma, no sentido que a revelação e a fé tenham-na criado ou construído. As duas palavras gregas que formam o termo indicam o seu objetivo. “O termo teologia vem do grego theôs, "deus", e Iogos, "estudo", "discurso", "raciocínio". Assim, essa palavra indica o estudo das coisas relativas a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc. Uma definição léxica diz: um corpo de doutrinas acerca de Deus, incluindo seus atributos e relações como homem; especialmente aquele corpo de doutrinas estabelecido por alguma igreja ou grupo religioso em particular". Essa é uma definição restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral: "O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da religião; além disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da religião cristã".3 Charles Ryrie destaca que existem pelo menos três elementos incluídos no conceito geral de teologia: 1 PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910. 2 SOARES, Esequias et. al. Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: CPAD, 2011. p.51. 3 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.396.
  • 4. [1] Teologia é inteligível. Ela pode ser compreendida pela mente humana de maneira ordenada e racional. [2] Teologia requer explicação. Isso, por sua vez, envolve a exegese (análise dos textos no original) e a sistematização de ideias. [3] a fé cristã tem sua base na Bíblia, por isso a teologia cristã é um estudo baseado na Bíblia. Logo, teologia é a descoberta, a sistematização e a apresentação das verdades a respeito de Deus.4 Para Geisler a teologia é o estudo daquilo que é referente a Deus, seja a sua natureza, as suas obras, bem como a sua relação com a sua criação (o homem). É um discurso racional a respeito de Deus.5 Berkhof diz em sua sistemática que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por meio de quem, e para quem são todas as coisas.6 Para Rahner, teologia é a explanação e explicação consciente e metodológica da revelação divina recebida e apreendida na fé (…) A tarefa da teologia é articular os elementos conceituais implícitos na fé cristã.7 Na construção de um bom conceito para a teologia, Medrado faz uma observação: De que se trata a teologia? De Deus e tudo o que se refere a ele, isto é, o mundo universo: a criação, a Salvação e tudo o mais. E isso está já na palavra mesma de “teologia” estudo de Deus. Mas como Deus é o determinante de tudo, então, qualquer coisa pode ser objeto de consideração do teólogo. Deus, com efeito, pode ser definido como a realidade que determina todas as realidades.8 No contexto da religião cristã, Myatt afirma que “a teologia não é o estudo de Deus como algo abstrato, mas é o estudo do Deus pessoal revelado na Bíblia. Necessariamente isso inclui tudo o que é revelado sobre Ele e as suas obras e relações com as criaturas”.9 Para Strong a “teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo”. De acordo com Gruden, “teologia é o estudo de 4 RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. p.15. 5 GEISLER, N. Teologia Sistemática: Introdução à teologia. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. p.11. 6 BERKHOF, Louis. 7 RAHNER, apud RAUSCH, T. P. Introdução à Teologia. São Paulo: Paulus, 2004. p.15. 8 MEDRADO, Eudaldo Freitas. Introdução à Teologia. Disponível em http://www.famedrado.kit.net/ Canal%2004/01.htm. Acesso: 19.11.2015. 9 MYATT, Allan e FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.12.
  • 5. Deus e de todas as suas obras”. Para Hodge “teologia não é somente ‘a ciência de Deus’ nem mesmo ‘a ciência de Deus e do homem’, ela também dá conta das relações entre Deus e o universo”. Um bom conceito para a teologia deve considerá-la como o estudo das relações do Criador (Deus) com a criatura (homens). Conceituar a teologia simplesmente como o estudo de Deus seria muita presunção para o ser humano, uma vez que, Deus, transcende o entendimento humano. Em outras palavras, a mente humana é incapaz de estudar, ou conhecer a Deus na sua plenitude. Deus se revela ao homem, e este, é capaz de conhecê- lo. O conhecimento produz um relacionamento, que não necessariamente, permita um conhecimento pleno da “mente” de Deus. O relacionamento produzido por um relacionamento íntimo com Deus permite ao homem viver na plenitude daquilo que Deus projetou para ele. Deus é conhecido através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta destas atividades na medida que elas acompanham o nosso conhecimento. Deus pode ser conhecido e é possível ao homem conhecer a Deus. Isso torna a teologia plenamente possível. De acordo com Strong existem ao menos três possibilidades para a teologia: [a] Deus é um ser real que se relaciona com o universo; [b] A mente humana é capaz de conhecer a Deus e perceber sua relação com o universo; e [c] Deus provê sua revelação (João 17.3: E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Efésios 1.17: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação). Hordern destaca que a teologia é um tratado ou desenvolvimento bem ordenado do pensamento que se possa obter a respeito de Deus. De acordo com este autor “a palavra ‘Deus’ não pode ser definida de forma exaustiva, mas é normalmente empregada para representar o que quer que se creia como sendo o fato ‘último’, a fonte da qual tudo o mais teria provindo, o valor supremo ou a origem de todos os valores da existência. Deus vem a ser o ente admitido como sendo digno de constituir-se no alvo e no propósito da vida. A luz de tais
  • 6. considerações, torna-se evidente que ninguém poderá passar sua existência sem a adoção de alguma forma de teologia”.10 De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe o termo “teologia” pode ser usado tanto para abranger um estudo dogmático de uma parte das Escrituras, como do todo. Dessa forma, é correto falar da teologia do Antigo Testamento ou da teologia do Novo Testamento. O termo “teologia”, segundo este dicionário, assume um sentido mais amplo, ou seja, tem a finalidade de cobrir todo o conteúdo do ensino das Escrituras que o homem pode vir a conhecer em relação à Deus, e também o relacionamento de Deus com tudo o que Ele criou.11 A teologia cristã estruturou-se na história relacionando-se com a filosofia. Sobre esta relação e sobre a história da teologia cristã Domingos destaca que: Um fato importante da História da Teologia cristã, é que ela exige, inevitavelmente, certa consideração sobre a filosofia e as influências filosóficas. A partir do século II, quando começa a nossa história, a filosofia torna-se a principal interlocutora da teologia, e mesmo com a oposição de alguns pais da Igreja, como por exemplo, o teólogo cristão norte-africano Tertuliano, quando perguntou retoricamente: "O que Atenas tem que ver com Jerusalém? E o que a Academia tem que ver com a igreja?", querendo protestar contra o uso crescente da filosofia grega (Atenas/academia) pelos pensadores cristãos que deveriam ter se fundamentado exclusivamente nas escrituras e em fontes cristãs (Jerusalém/igreja). O Pai da igreja e apologista, Justino Mártir referiu-se ao cristianismo como a "Filosofia verdadeira", ao passo que o mestre cristão do século III, Clemente de Alexandria, identificou o pensador grego Sócrates como um "cristão antes de Cristo", já tempos mais tarde, no século XIII, o pensador Blaise Pascal, asseverou que o "deus dos filósofos não é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó!" O relacionamento entre a reflexão cristã e a filosofia constitui uma parte muito importante da história da teologia cristã, e fornece algumas das tensões mais emocionantes dessa história. E para seu melhor estudo, a teologia cristã foi dividida em períodos, os quais são: [a] O período Patrístico, c. 100 - 451; [b] A idade Média e o Renascimento, c. 1050 - c.1500; [c] Os períodos das Reformas e da pós-Reforma, c. 1500 - c. 1750; [d] O período Moderno e o pós-Moderno, c. 1750 - até os dias atuais. Fica evidente a dificuldade de traçar linhas divisórias nítidas entre muitos desses períodos, por 10 HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. p.5. 11 PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910.
  • 7. exemplo, as relações entre a idade média, o renascimento e a reforma são controvertidas, e alguns acadêmicos entendem que os dois últimos períodos são uma continuação do primeiro, embora outros os vejam como períodos totalmente distintos um do outro. O que podemos afirmar é que a história da Teologia Cristã começa no século II, cerca de cem anos depois da morte e ressurreição de Cristo, com o início da confusão entre os cristãos no Império Romano, tanto dentro quanto fora da Igreja. Os desafios internos principais eram semelhantes a cacofonia de vozes que muitos cristãos em nossos dias chamariam de "seitas", ao passo que os desafios externos eram semelhantes as vozes que muitos hoje chamariam "céticos". É dessas vozes desafiadoras que surgiu a necessidade e os primórdios da ortodoxia - uma declaração definitiva daquilo que é teologicamente correto.12 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Um bom texto sobre o conceito de teologia pode ser verificado em http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/teologia-o-que-e. QUESTÕES PROPOSTAS 1. A teologia é plenamente possível, ou seja, sua ação é prática. Justifique com suas palavras essa afirmação. 2. Qual a relação do texto de Jo 17.3 e Ef 1.17 com a construção de um conceito para a teologia? 3. Crie um conceito sobre a teologia com sua palavras. 12 OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 668.
  • 8. 2. O OBJETIVO DA TEOLOGIA O alvo da teologia é permitir que o homem se relacione com seu criador e compreenda a manifestação deste no desenvolvimento da história. O alvo da teologia está centrado em Deus, em especial, no seu plano de salvação para o homem por intermédio de Cristo. A Teologia se distingue da Teodicéia, que é o conjunto de conhecimentos que o homem pode chegar a ter de Deus sem ajuda da Revelação sobrenatural e se limita a estudar a existência, o ser e os atributos divinos. A ciência teológica estuda o ser de Deus, na medida em que pode ser alcançado. Não se esquece nunca que Deus é um mistério, não é um objeto do qual se possa dar informação como dos outros seres. Que a Teologia é a ciência de Deus significa que tudo se trata nela principalmente desde o ponto de vista divino. A distinção tradicional é a seguinte: [1] Objeto material – é a realidade da que propriamente se ocupa a Teologia. O objeto é Deus e todas as realidades por Ele criadas e governadas por seu desígnio salvador. O objeto material primário ou principal é Deus e o objeto secundário são todas as coisas criadas enquanto ordenadas a Deus. [2] Objeto formal, indica o ponto de vista. Um é o objeto formal “quod”: o que é próprio de Deus. “Deus sub ratione Deitatis” e o objeto formal “quo” designa a luz intelectual sob a que o objeto é considerado. Neste caso, a razão iluminada ou guiada pela fé.13 A teologia deve promover a fé, deve incentivar o homem a viver de forma justa por intermédio do desenvolvimento de uma vida de fé. Rm 1.16,17 diz: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé”. Para Buckland a simples fé implica uma disposição de alma para confiar noutra pessoa. Difere de credulidade, porque aquilo em que a fé tem 13 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_ teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
  • 9. confiança é verdadeiro de fato, e, ainda que muitas vezes transcenda a nossa razão, não lhe é contrário. A credulidade, porém, alimenta-se de coisas imaginárias, e é cultivada pela simples imaginação. A fé difere da crença porque é uma confiança do coração e não apenas uma aquiescência intelectual. A fé é uma atitude, e deve ser um impulso. A fé cristã é uma completa confiança em Cristo, pela qual se realiza a união com o Seu Espírito, havendo a vontade de viver a vida que Ele aprovaria.14 Para Frisotti a teologia pode ser compreendida com sendo uma ciência em que a razão do crente, guiada pela fé teologal, se esforça para compreender melhor os mistérios revelados em si mesmos e em suas conseqüências para a existência humana.15 Sobre fé e teologia Frisotti destacou que: A fé é assentir a uma verdade enquanto digna de ser crida. O próprio da Teologia é analisá-la. O motivo formal da fé é a autoridade de Deus que se revela; o da Teologia é a percepção da razão da inteligibilidade do crido. A fé é sempre pressuposto absoluto da Teologia. De modo que a Teologia deve ser feita desde dentro e a partir da fé, e é assim algo mais que uma simples reflexão racional sobre os dados da revelação. Por isso afirma Agostinho: “intelligere ut credas, credere ut intelligas” (deves entender para crer e deves crer para entender). Anselmo de Canterbury entendia a Teologia como “fides quarens intellectum”; a fé que busca entender, não por curiosidade, mas por amor e veneração ao mistério. O crente não discute a fé, mas mantendo-la firme busca dar razões do por que da fé. Portanto, a Teologia é desenvolvimento da dimensão intelectual do ato de fé. É uma fé reflexiva, fé que pensa, compreende, pergunta e busca. Trata de elevar, dentro do possível credere ao nível do intelligere. O Teólogo se apóia no conhecimento de Deus pela fé, na razão humana e nas suas descobertas certas. Então, com tudo isto, o Teólogo tenta ordenar e interpretar os dados que são objeto de fé, de modo que se veja sua unidade tal como Deus o dispôs.16 Em seu estudo sobre a natureza da teologia, Frisotti, tem um olhar interessante sobre ela ao observar que ela possui objetivo positivo e especulativo. O texto abaixo é um resumo do pensamento de Frisotti. 14 BUCKLAND, A.R. “Fé”. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vida, 2007. 15 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_ teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015. 16 Ibidem.
  • 10. A Teologia positiva é a ciência do conteúdo integral da Revelação, que tenta determinar e traçar toda a história documental do objeto crido em sua revelação, sua transmissão e sua proposição. Deseja conhecer o corpo ou a forma externa do dado revelado, com o estilo metódico e exaustivo que é próprio das ciências positivas. Faz isso para chegar a uma inteligência mais profunda da Palavra de Deus. Trata de responder à seguinte pergunta, qual é exatamente a verdade revelada por Deus? Procura determinar e estabelecer o que Deus revelou e como o revelou, se o fez diretamente o indiretamente, de modo explícito o implícito, com expressões obscuras ou claras. E porque as doutrinas reveladas não se encontram sempre com a mesma nitidez, costuma ser necessário um trabalho de interpretação de termos e expressões. Teologia especulativa: aprofunda nas verdades reveladas, mostra sua inteligibilidade, a conexão e harmonia que reina entre elas, servindo-se da ajuda das ciências humanas. Leva a uma compreensão mais funda do dado revelado. Mas não deve ser confundida com uma simples especulação; não é a aplicação de uma filosofia técnica à compreensão da doutrina revelada mas a Teologia especulativa cai sob o controle e ob a luz do mistério de salvação. Não é uma super-estructura da Teologia positiva, senão o pensamento especulativo se encontra englobado na Teologia positiva. O dado de fé não é unicamente o ponto de partida; é o princípio vital que a anima ao longo de todo seu recorrido de reflexão crente. A possibilidade da Teologia especulativa se fundamenta numa epistemologia realista: a doutrina revelada pressupõe que a mente humana se ordena à verdade e é capaz de conhecer a Deus de maneira limitada e certa. Para isso, tem grande importância o tema da analogia. Permite-nos falar de Deus de modo que nosso linguagem tenha sentido. Algo podemos dizer de Deus ainda que Ele não pode ser explicado univocamente. A Teologia especulativa possui duas grandes tarefas: compreender e organizar o dado revelado. 1. Compreende o melhor possível o dado revelado. Não quer dizer que os mistérios possam ser demonstrados o assimilados como si
  • 11. fossem dados totalmente evidentes. Mas que é a busca do sentido preciso que se encerra na fé e a relação dos mistérios entre si. 2. Trabalho sistemático: a Teologia procura expor com rigor os preâmbulos da fé (mostrar que a fé, ainda que não seja evidente, não é absurda). Apresentar una síntese dos mistérios da fé (de modo que se mostre o melhor possível a unidade e a coerência da doutrina revelada). E relacionar seus dados e conclusões com o mundo da ciência e da cultura.17 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre o objeto da teologia em http://www.webartigos.com/artigos/um-ensaio-sobre-o-objeto-de-estudo-da- teologia/54465/ QUESTÕES PROPOSTAS 1. Qual a diferença entre Teologia e Teodicéia? 2. Explique a diferença entre fé e credulidade. 3. Qual a diferença entre teologia positiva e teologia especulativa? 17 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_ teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
  • 12. 3. DIVISÃO CLÁSSICA DA TEOLOGIA Antes de tratar diretamente sobre a divisão da teologia, é importante destacar que a mesma pode ser catalogada de diversas maneiras. Charles Ryrie aponta três tipos de teologia: [a] Por época – por exemplo, teologia patrística, teologia medieval, teologia reformada e teologia contemporânea; [b] Por ponto de vista – por exemplo, teologia arminiana (defendida por Armínio), teologia calvinista (defendida por João Calvino), teologia barthiana (defendida por Karl Barth), teologia da libertação, etc.; e [c] Por ênfase – por exemplo, teologia histórica, teologia bíblica, teologia sistemática, teologia apologética, teologia exegética, etc.18 A divisão clássica da teologia geralmente tem como base o tipo de teologia por ênfase, objetivando organizar os assuntos para facilitar seu estudo e sua compreensão. Basicamente, numa perspectiva clássica, a teologia divide-se em cinco partes: teologia exegética, teologia histórica, teologia dogmática, teologia bíblica e teologia sistemática. É possível encontrar em outros autores diferentes divisões, fato que não invalida o posicionamento clássico, apenas divide a teologia nas diversas perspectivas que ela pode ser observada. Myer Pearlman, observa do ponto de vista clássico, a teologia classificada da seguinte maneira: [1] A teologia exegética (exegética vem da palavra grega que significa "sacar"ou "extrair" a verdade) procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras. Um conhecimento das línguas originais nas quais foram escritas as Escrituras pertence a este departamento da teologia. [2] A teologia histórica traça a história do desenvolvimento da interpretação doutrinária, e envolve o estudo da história da igreja. [3] A teologia dogmática é o estudo das verdades fundamentais da fé como se nos apresentam nos credos da igreja. [4] A teologia bíblica traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia, e descreve a maneira de cada escritor apresentar as doutrinas importantes. Por exemplo: segundo este método 18 RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. p.15- 16.
  • 13. ao estudar a doutrina da expiação estudar-se-ia a maneira como determinado assunto foi tratado nas diversas seções da Bíblia — no livro de Atos, nas Epístolas, e no Apocalipse. Ou verificar-se-ia o que Cristo, Paulo, Pedro ou João disseram acerca do assunto. Ou descobrir-se-ia o que cada livro ou seção das Escrituras ensinou concernente às doutrinas de Deus, de Cristo, da expiação, da salvação e de outras. [5] A teologia sistemática. Neste ramo de estudo os ensinos bíblicos concernentes a Deus e ao homem são agrupados em tópicos, de acordo com um sistema definido; por exemplo, as Escrituras relacionadas à natureza e à obra de Cristo são classificadas sob o título: "Doutrina de Cristo".19 3.1 Teologia Exegética A teologia exegética busca o verdadeiro significado das Escrituras. Esse termo vem do grego, “ex” (fora) e “agein” (guiar), ou seja, “liderar” ou “explicar". Champlin destaca que a palavra portuguesa exegese é usada para indicar “narrativa”, “tradução” ou “interpretação”. Dentro do contexto teológico, a ênfase recai sobre a interpretação de modos formais de explicação que podem ser aplicados a algum texto, a fim de se compreender o seu sentido. Na linguagem técnica, a exegese aponta para a interpretação de alguma passagem literária específica, ao mesmo tempo em que os princípios gerais aplicados em tais interpretações são chamados hermenêutica.20 O contrário da exegese é a eisegese. Sobre a eisegese Champlin diz que este termo significa ler no texto aquilo que alguém quer encontrar ali, mas que, na realidade, não se encontra no mesmo, ou então significa distorcer um texto para adaptá-lo às próprias ideias do intérprete. Portanto, o quanto a exegese é séria, a eisegese não passa de uma burla. A maioria das pessoas que se envolve na exegese também pratica alguma eisegese.21 De acordo com Arantes a interpretação não é uma atividade tão complexa: “A maior parte da Escritura é, na verdade, de fácil entendimento. Ninguém precisa ser versado nos originais para compreender o seu propósito salvífico. Sua mensagem é basicamente simples. Todo aquele que dela se aproxima pode ser 19 Ibidem. p.10-11. 20 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.2. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.617. 21 Ibidem.
  • 14. educado na justiça. Contudo, existem certas partes que não são de tão fácil compreensão, sendo de suma importância que o intérprete-leitor, tenha algumas qualificações.”22 Milton S. Terry afirmou que as qualificações de um intérprete competente podem ser ditas como: Intelectual, educacional e espiritual. Para ele o intelecto entra justamente na percepção clara do significado do texto. A argumentação lógica do autor sacro pode ser percebida por alguém que esteja atento intelectualmente. Um exemplo é a clara divisão que o apóstolo Paulo faz da carta aos Efésios, colocando nos capítulos 1-3 um bloco eminentemente doutrinário e de 4-6 outro bloco eminentemente prático. Uma mente analítica, que saiba discernir o que um texto está ensinando é muito importante para o intérprete. A imaginação, segundo Terry precisa ser controlada. Algumas pessoas têm uma mente fértil demais e isto pode prejudicar a boa interpretação do texto. O intérprete deve usar sua mente para analisar, comparar e examinar a Escritura. A razão deve ser aplicada em cada parte da Escritura. A Bíblia foi escrita em linguagem humana, apela a nossa razão, convida a investigação e pesquisa, condena a crença cega. A maior tarefa de um intérprete é ensinar o que aprendeu, e ensinar outros extraírem o aprendizado da Escritura. Sem isso em mente a interpretação não terá tanto valor. O apóstolo recomenda a Timóteo: “Ora, é necessário que o servo do Senhor seja... apto a instruir...” (2 Tm 2:24)23 Para Terry a qualificação educacional compreende os fatos acerca dos quais o intérprete deve estar inteirado, fatos que são aprendidos com estudo e pesquisa. A geografia da Palestina e regiões vizinhas que influenciaram nos escritos bíblicos. As histórias gerais e bíblicas são também importantes no que tange a confirmação e complementação da revelação que nos é trazida na Escritura – complementação histórica. A cronologia, o discernimento de tempos e épocas é também de especial valor na interpretação. Os sistemas políticos que envolveram a revelação bíblica esclarecem também a compreensão do que foi 22 ARANTES, Fernando. A Bíblia, seu intérprete e sua interpretação. Disponível em http://www.ipjg.org.br/ed/VisaoBiblica/Textos/2007/A-Biblia-seu-Interprete-e-sua-Interpretacao- a.doc. Acesso: 23/04/2009. 23 TERRY, Milton S., Biblical Hermeneutics. Grand Rapids, MI: Zondervan 1977. Pp.151-158.
  • 15. revelado. O modo de produção, o sistema escravista, o comércio, as guerras, tudo isto pode ser adquirido com pesquisa e estudo. Mais uma vez temos a exortação do apóstolo que diz a Timóteo: “Até a minha chegada aplica-te à leitura, à exortação ao ensino. Não te faças negligentes para com o dom que há em ti...” (1Tm. 4:13, 14).24 A qualificação espiritual é, também, fundamental à interpretação bíblica, Intelecto e estudo são importantes, mas sem contato com o Espírito Santo que é o autor da Bíblia tudo é incompleto, afirma Terry. Portanto como ensina o Dr. Loyd Jones “é imprescindível que haja uma aproximação espiritual no texto. O pecado pode vendar nossos olhos a ponto de não enxergarmos com clareza a vontade de Deus revelada em um texto estudado mesmo com empenho. O maior objetivo do intérprete deve ser o de alcançar a verdade, preceito ou doutrina do texto estudado. Não podemos permitir que o texto fale o que queremos ouvir, mas lutar para ouvir o que o texto tem a nos dizer. O apóstolo Paulo nos exorta dizendo: “Por isso o pendor da carne é inimizado contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7).25 3.2 Teologia Histórica A teologia histórica traça a história do desenvolvimento da interpretação doutrinária, e envolve o estudo da história da igreja. Segundo Matos, a teologia histórica também conhecida como história da teologia ou história da doutrina, tem estreita conexão com duas áreas muito importantes: a história da Igreja e a teologia cristã. Sobre isto Matos diz: Levanta-se então a seguinte pergunta: A teologia histórica é primordialmente história ou teologia? Qual das duas ênfases é predominante? Variam as posições dos autores sobre essa questão, mas não seria incorreto dizer que ela tem estreita e igual conexão com essas duas áreas correlatas. Inicialmente, é necessário considerar como a teologia histórica se encaixa nas subdivisões dos estudos históricos do cristianismo. A história da Igreja é a mais ampla das disciplinas que 24 Ibidem. 25 Ibidem.
  • 16. tratam do passado cristão. É o estudo da caminhada e do desenvolvimento da Igreja através dos séculos, em muitas áreas diferentes: missões e expansão geográfica; culto, liturgia e sacramentos; espiritualidade e vida cristã prática; organização, estrutura e forma de governo; pregação, arquitetura e arte sacra; relacionamento com a sociedade, a cultura e o Estado. Enfim, pode-se afirmar que a história da Igreja ou do cristianismo inclui tudo o que a Igreja faz no mundo, sendo essencialmente um estudo e uma narrativa de eventos, personagens e movimentos. Inclui o que hoje se denomina história institucional e história social. Todavia, a história da Igreja, além de analisar a prática da Igreja, também aborda seu pensamento, aquilo que ela ensina. Isto se relaciona mais concretamente com a teologia histórica. Os tópicos acima podem ser considerados com base em duas perspectivas. Por exemplo: a prática da Igreja na área de missões (história da Igreja) e a reflexão que ela faz sobre sua missão (história da teologia), ou a evolução de suas práticas litúrgicas (história da Igreja) e a reflexão sobre o significado do culto e da liturgia (teologia histórica). Esse estudo do pensamento e do ensino da Igreja pode ter várias abordagens. A história do dogma é a análise de certos temas doutrinários particulares que receberam uma definição oficial e normativa da Igreja. Alguns historiadores entendem que apenas três áreas de doutrina se inserem na história do dogma: a doutrina da Trindade (definida nos Concílios de Nicéia e de Constantinopla), a doutrina da pessoa divino-humana de Cristo (Concílio de Calcedônia) e a doutrina da graça ou, mais especificamente, a relação entre a graça divina e a vontade humana no que se refere à salvação. No outro extremo está a história do pensamento cristão, que identifica um vasto campo de investigação, incluindo tópicos que estão além dos limites da teologia clássica, como certas questões filosóficas, éticas, políticas e sociais. Os estudiosos também empregam os termos “história das ideias” e “história intelectual” para se referir a esse contexto mais amplo dentro do qual se insere a teologia histórica. A história da teologia não tem um campo tão limitado como a história do dogma, nem tão amplo como a história do pensamento cristão, mas usa ambas as áreas em sua elaboração. Seu objetivo é considerar o corpo de doutrinas existente na vida da Igreja em cada período da história.26 Para Alister McGrath, a teologia histórica “é o ramo da investigação teológica que objetiva explorar o desenvolvimento histórico das doutrinas cristãs e identificar os fatores que influenciaram sua formulação”. Em outras palavras, a 26 MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p.15-16.
  • 17. história da teologia documenta as respostas às grandes questões do pensamento cristão e ao mesmo tempo procura explicar os fatores que contribuíram para a elaboração dessas respostas.27 A história da teologia é uma ferramenta pedagógica tendo em vista que oferece informações sobre o desenvolvimento dos grandes temas teológicos, os pontos fortes e fracos das diferentes abordagens e os marcos mais notáveis do pensamento cristão, em termos de autores e documentos. É também uma ferramenta crítica, pois permite ver as falhas, as limitações e os condicionamentos de certas formulações doutrinárias, o que possibilita seu contínuo aperfeiçoamento.28 3.3 Teologia Dogmática Estuda as verdades fundamentais da fé de acordo com os credos e confissões de fé da igreja. Preocupa-se também em estabelecer declarações que darão norte para a igreja e sentido para uma prática religiosa. O pastor Esequias Soares conceitua o credo como sendo uma interpretação precisa e autorizada das Escrituras. São documentos que têm por objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo para facilitar as confissões públicas e defender das heresias o pensamento cristão.29 Mark Noll destacou que a construção de um credo, ou de uma declaração de fé, deve obedecer pelo menos três funções: [a] Servir de declarações autorizadas da fé cristã que entesouravam as novas ideias dos reformadores, sem abandonar formas que também pudessem fornecer instrução regular para os fiéis mais humildes; [b] Erguer um estandarte em redor do qual uma comunidade local podia cerrar fileiras, tornando claras as diferenças com os oponentes; e [c] Tornar possível uma reunificação da fé e da prática, visando a unidade e, ao mesmo tempo, estabelecer uma norma para disciplinar os desregrados. 27 McGRATH, Alister apud MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p.17. 28 Ibidem. p.18. 29 SOARES, Esequias. Credos e Confissões de Fé – Breve guia histórico do cristianismo. Recife: Bereia, 2013. p.31.
  • 18. Edson Douglas de Oliveira destacou que é comum considerar a teologia dogmática com teologia sistemática. Sobre isso ele afirma: A Dogmática pode ser definida como um discurso da Igreja acerca da sua fé. É uma reflexão teológica feita a partir da Igreja sobre questões às quais ela crê e que precisa fundamentar de forma inteligível e ordenada para que expresse o ponto de vista da igreja como uma entidade orgânica da sociedade, mas também da comunidade cristã como um todo diante do mundo, dos incrédulos aos grupos participantes de outros credos ou religiões. É, em suma, um discurso racional sobre a fé que a comunidade vivencia na prática litúrgica e nas doutrinas que ela crê e pratica. No meio fundamentalista, especialmente no norte-americano, é comum confundir dogmática com teologia sistemática, confusão essa ainda mais acentuada por obras como as de Stanley Horton que se apresentam como teologia sistemática, mas que na verdade são tratados dogmáticos no seu sentido formal. Das diversas diferenças entre ambas talvez a que soi mais importante é o fato de que a teologia sistemática é feita a partir da reflexão teológica em diálogo com outros ramos do conhecimento, especialmente a filosofia, buscando reler a fé a partir das realidades sociais, culturais e econômicas de cada tempo e de que modo, nesse contexto, pode ser pregada a palavra de Cristo, enquanto a dogmática estuda as doutrinas da igreja, seu desenvolvimento e sua pregação no mundo moderno, pormenor esse que até pode proporcionar alguma discussão de natureza filosófica ou sociológica, mas que aí já não se insere no terreno da dogmática, embora o dogmático, pelo seu próprio papel na formulação do pensamento da igreja, termine por trazer o pensamento cristão para o mundo moderno, como lembra Brunner: a dogmática não é a palavra de Deus. Deus pode fazer sua Palavra triunfar sem a tologia. Mas numa época quando o pensamento humano está muitas vezes tão confuso e pervertido pelas idéias e teorias extraordinárias, entretecidas pela própria mente dos homens, é evidente que é quase impossível preservar a Palavra divina sem o esforço intelectual apaixonado para repensar seu sentido e seu conteúdo (BRUNNER Emil. Dogmática, I, p.7).30 3.4 Teologia Bíblica 30 OLIVEIRA, Edson Douglas de. Dicionário Teológico: Dogmática. Disponível em http://comunidadewesleyana.blogspot.com.br/2009/10/dicionario-teologico_8820.html. Acesso: 27.12.2015.
  • 19. Traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia. Champlin destaca que a expressão teologia bíblica é usada de várias maneiras, a saber: [a] Uma atividade cuja finalidade é esclarecer os temas e as ideias da Bíblia sem os pressupostos que inevitavelmente dão um certo colorido às interpretações particulares. Em outras palavras, trata-se da tentativa de determinar o que a Bíblia realmente ensina, mesmo que os resultados sejam embaraçosos para o estudioso e sua denominação. Essa atividade, na verdade, embaraça a todas as denominações, cuja própria existência depende da distorção de certos ensinos da Bíblia. [b] A tentativa para articular a significação teológica da Bíblia como um todo. Isso é uma tarefa quase impossível, porque a Bíblia não é um livro homogêneo, conforme as pessoas gostam de acreditar. Não obstante, a tentativa resulta em pontos positivos, a despeito de seu inevitável fracasso. [c] A tentativa de construir um completo sistema teológico, mediante o uso da Bíblia como única fonte informativa. Isso tem sido tentado por muitos evangélicos fundamentalistas e conservadores. Também foi tentado por Karl Barth e sua neo-ortodoxia, ou pelos grupos protestantes que aprovam a rejeição das tradições eclesiásticas, dos pais da Igreja e dos concilias, como autoridade, conforme fez Lutero. [d] O pressuposto é que todos os autores da Bíblia concordam em seus pontos de vista fundamentais, e juntamente com exposições de ideias pretendem descobrir exatamente quais eram os pontos de vista daqueles autores sagrados.31 De acordo com Tenney “Teologia Bíblica é aquele exercício no qual se faz uma tentativa de se determinar as afirmações de fé da Bíblia de forma sistemática. Esta definição reconhece a Bíblia como um livro de fé, quer dizer, ela registra o significado redentor do encontro de Deus com o homem”.32 Este autor observa também que o termo “sistemática” de forma alguma sugere que as categorias da Teologia Sistemática devem dirigir este exercício. Ele afirma, que, pelo contrário, indica que a tarefa da Teologia Bíblica é expressar as afirmações de fé dos escritores bíblicos individual e coletivamente, de acordo com os 31 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.361-362. 32 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.840.
  • 20. padrões de expressão discerníveis na própria Bíblia. Além disso, afirma Tenney, é feito um esforço para apresentar não somente uma declaração ordenada, mas espera-se também uma descrição unificada da fé da Bíblia.33 Para Tenney é importante também observar que a teologia bíblica estrutura-se numa metodologia: [a] Unidade da Bíblia. Qualquer tentativa de sistematização do pensamento bíblico suscita o problema da unidade. Imediatamente nos confrontamos com a imensa variedade de material literário tanto do Antigo como do Novo Testamentos. Existem histórias (1 e 2 Rs, At); hinos (Sl); escritos proféticos e apocalípticos (Is, Dn e Ap); cartas (de Paulo, Pedro etc); evangelhos (Mt, Mc, etc.) e escritos de sabedoria (Pv, Tg). Além disso, o período histórico durante o qual essas literaturas foram compostas abrange 150 anos. Essa diversidade levanta a questão da norma para estes livros. Devemos seguir a opinião liberal do AT e supor que os profetas representam a religião hebraica normativa? Com relação ao NT, devemos buscar a norma nos sinóticos, em Paulo ou em João? Parece razoável afirmar que a diversidade deve ser admitida, mas vista como caindo sob um testemunho comum da atividade redentora de Deus em benefício da humanidade pecadora. Além do mais, esta unidade deve fazer um elo entre os dois testamentos, pelo menos para os cristãos, que afirmam que Jesus, como o Cristo ressurreto, era o Messias anunciado no AT. O AT apresenta a promessa e o NT, seu cumprimento; esta ideia é apoiada pelas palavras de Jesus (Mt 5.17;Jo 5.39; cp. também G1 4.4). Assim, a teoria bíblica deve dar atenção ao que liga o livro como uma unidade em termos históricos e teológicos. [b] História da salvação. Stendahl está correto quando afirma que na Teologia Bíblica, “a história se apresenta como o tear do tecido teológico”. A unicidade da fé bíblica baseia-se na revelação de Deus por meio dos eventos da história. A fé judaica-cristã mantém- se separada de todas as religiões da humanidade exatamente porque não foi fundamentada em mitologias ou ciclos da natureza. Nem procede de exploração filosófica ou de experiências místicas. Eldon Ladd comenta: “Ela surgiu das experiências históricas de Israel, antigas e novas, nas quais Deus se deu a conhecer” (“The Saving Acts of God”, ChT, III [1961], 18). O Deus de Israel era o Deus da história, o Geschichtsgott, como os alemães dizem. Uma olhada superficial na Bíblia comprova este fato, pois nos leva por um caminho histórico — uma série de eventos — desde a Criação, o chamado de Abraão, o Êxodo, a 33 Ibidem.
  • 21. entrada do povo em Canaâ, o estabelecimento e a conduta dos reinos, o exílio, o retomo à Palestina, a vida de Cristo e o estabelecimento da igreja. Estes eventos não são ocorrências acidentais na história; são atos do Deus vivo, o qual possui um interesse redentor em seu povo. Assim, esta história é Die heilsgeschichte, "história da salvação”, e nela Deus mostra sua natureza redentora e a traz à existência e sustenta seu povo redimido. Von Hofinann. von Rad, G. E. Wright, O. Cullmann, J. Danielou, E. Rust e muitos outros teólogos do Antigo e do Novo Testamentos têm enfatizado a centralidade da história na fé judaica-cristã. Sendo isto verdade, para ser válida em sua metodologia, a Teologia Bíblica deve mostrar essa história da salvação, porque a revelação de Deus de si mesmo na história é um dos pontos fundamentais do pensamento bíblico. [c] Cristo, a chave das Escrituras. Para os cristãos, como Rust destaca, Cristo é o “Senhor das Escrituras, assim como é Senhor da história e da vida”. Sem o NT, o AT apresenta um quadro inacabado da redenção de Deus. É uma promessa sem cumprimento. Significativamente, a igreja primitiva não repudiou as antigas Escrituras, não somente porque o Mestre não repudiou, mas também porque o AT proporcionava a única base para o entendimento e a comprovação da sua existência na história sagrada de Israel. A chave para essa interpretação necessária era o advento de Cristo. Três eventos em especial, registrados na história de Lucas-Atos, intensificam este fato. (1) O caminho de Emaús (Lc 24.13-35). Concernente à conversa do Mestre, Lucas registra: “Começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). (2) A defesa de Estêvão (At 7). Obviamente, se Estêvão tivesse a chance de tenninar seu discurso, teria demonstrado o papel de Cristo na história. De fato, Cristo era não somente a chave, mas também o clímax redentor. (3) Filipe e o eunuco etíope (At 8.26-39). Surpreendentemente, o eunuco estava lendo Isaías 53. Quando admitiu que não compreendia o que estava lendo, “Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura anunciou-lhe a Jesus” (v. 35). Cristo é o cumprimento das promessas feitas ao povo de Israel e este fato governa o NT. É fácil afirmar que Cristo é a chave das Escrituras; entretanto, ao se comprovar isso, levanta-se a questão hermenêutica: como Cristo se relaciona ao AT? Devemos procurar figuras? Existe uma tipologia histórica que reconheça legitimamente a unicidade da fé dos santos do AT, mantendo ao mesmo tempo a equação promessa-cumprimen- to? A tarefa da Teologia Bíblica é muito exata neste ponto. [d] Confessional e Kerigmático. A Bíblia tem uma dimensão de testemunho. Não se trata apenas do registro de tantos eventos e fatos relacionados a um antigo povo, mas é também uma profunda declaração de sua fé num Deus que agiu em prol de sua salvação. Judeus e cristãos “confessam”
  • 22. Deus como Salvador e pregam, por meio das Escrituras, que ele é o Salvador da humanidade e, em particular, por meio de Jesus Cristo na fé do Novo Testamento. Para a Teologia Bíblica, em termos de metodologia, isso significa que: (1) algumas declarações bíblicas não devem ser tomadas primariamente como declarações teológicas, com um apoio lógico e racional por trás delas. Elas de fato têm significado teológico, mas em primeiro lugar são declarações de fé. Em certos casos, isso as coloca acima da análise plena e explícita. (2) Até onde é possível, os elementos confessionais e kerigmáticos devem ser evidentes na sistematização do pensamento da Bíblia. Alguém pode não ir tão longe quanto G. E. Wright, dizendo que a “Teologia Bíblica é o ensaio confessional da história, com suas inferências”. Entretanto, a natureza confessional do material bíblico deve ser demonstrada para que a Teologia Bíblica seja realmente bíblica. Basear- se em abstrações filosóficas e teológicas é apresentar uma concepção truncada da fé, e de fato perder de vista sua natureza vibrante. (3) Ao se praticar a Teologia Bíblica é importante também “ler nas entrelinhas”. Por exemplo, enquanto a maioria das cartas de Paulo foi escrita para tratar de problemas locais de um tipo ou de outro e não possui o caráter altamente racional dos tratados teológicos, implícita e, às vezes, até explicitamente, expressa uma posição teológica geral de sua parte. Portanto, o teólogo do NT terá de extrair algumas inferências das declarações de Paulo e então relacioná-las ao conjunto do material paulino e ao NT como um todo. Reiterando, a Teologia Bíblica é um estudo definitivo da Bíblia, auxiliado por todas as outras disciplinas bíblicas, na qual é feita uma tentativa de demonstrar, por meio de alguns sistemas sugeridos biblicamente, a revelação de Deus por meio de Cristo, expressando seu propósito de redimir a humanidade pecadora.34 3.5 Teologia Sistemática “A teologia sistemática não examina cada livro da Bíblia separadamente, mas procura juntar em um todo coerente o que toda a Escritura afirma sobre dado tópico”.35 “Teologia sistemática é uma disciplina que tenta dar uma exposição coerente das doutrinas da fé cristã, baseada principalmente nas Escrituras, falando às perguntas e questões da cultura e época em que ela existe, com 34 Ibidem. p.845-847. 35 ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1992. p.16.
  • 23. aplicação à vida pessoal do teólogo e outros”.36 De acordo com Alln Myatt e Frank Ferreira, ao menos três aspectos são importantes na verificação do conceito da teologia sistemática: [a] A Teologia Sistemática deve dar uma exposição coerente: A tarefa da Teologia Sistemática é fazer um sistema. A Teologia Sistemática trata das doutrinas da Bíblia através do exame do que a Bíblia inteira diz sobre aquela doutrina e a comunicação de suas conclusões. Também, a Teologia Sistemática mostra como as doutrinas da Bíblia se relacionam logicamente. Então, a partir de dados da Bíblia uma cosmovisão é construída. Esta cosmovisão abrange todas as áreas da vida que são tocadas pela própria Bíblia. Neste sentido, Teologia Sistemática é uma teologia compreensiva. [b] Baseada nas Escrituras: A Teologia Sistemática tenta ser compreensiva mas não vai além do que está dito na Bíblia. A Teologia Sistemática tenta evitar a especulação, a não ser que o teólogo admita que ele está fazendo especulação. O teólogo precisa evitar a tentação de dar às suas próprias especulações a autoridade da Bíblia. [c] A Teologia Sistemática sempre tem um alvo prático: É preciso tratar com questões abstratas e complicadas, mas o teólogo deve sempre mostrar a diferença que as suas conclusões fazem na vida cotidiana. Uma vez alguém perguntou a Francis Schaefer o que ele faria se, de repente, surgisse evidência conclusiva que a fé cristã é falsa. Ele respondeu que ele ainda seria teólogo, porque é o melhor jogo que há. Muitas pessoas tratam a teologia como esta fosse um jogo, mas essa atitude é uma perversão do propósito de teologia. Teologia não é jogo. Ela existe para que possamos melhor conhecer, obedecer, e amor a Deus. Aquele que acha que pode ser um teólogo teórico, fazendo um “teologia pura” se engana. Quem não faz a teologia com as necessidades do povo nos bancos da igreja em mente não é teólogo de verdade. É um fato que quase todos os teólogos de maior influência através dos séculos eram pastores também.37 Basicamente a teologia sistemática divide-se da seguinte maneira: a) Teologia própria: O estudo de Deus – João 7.16,17: “Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. 36 HAMMETT, John apud MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.13. 37 MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.13-14.
  • 24. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”. b) Hamartiologia: O estudo do pecado – Romanos 3.23: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. c) Soteriologia: O estudo salvação – Romanos 3.24: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. d) Paracletologia: O estudo do Espírito Santo – Romanos 8.11: “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita”. e) Escatologia: O estudo das últimas coisas – Mateus 4.23: “E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” f) Angelologia: O estudo dos anjos – Hebreus 1.13-14: “E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, Até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés? Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” g) Antropologia: O estudo dos homens – Mateus 19.4: “Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez”. h) Cristologia: O estudo de Jesus Cristo – Mateus 1.18: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Que estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo”. i) Bibliologia: O estudo da Bíblia – 2Tm 3.16: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça”.
  • 25. EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você encontra um bom texto sobre as definições de teologia e suas divisões em http://theologiaevida.blogspot.com.br/2012/03/definicoes-da-teologia.html QUESTÕES PROPOSTAS 1. De acordo com Charles Ryrie a teologia pode ser catalogada de diversas maneiras. Explique. 2. Como Myer Pearlman divide a teologia. 3. O que é teologia sistemática e como ela se divide?
  • 26. 4. TEOLOGIA PENTECOSTAL Isael de Araújo destaca que a diversidade mundial do pentecostalismo torna quase impossível falar de “uma” teologia pentecostal.38 Na ótica de Isael a própria teologia pentecostal clássica encontra dificuldade em estabelecer-se. Ele observa, porém, que existem correntes teológicas pentecostais que são dignas de reconhecimento. A história da teologia pentecostal requer uma visita na história da igreja e na história da teologia, em especial, no período da Reforma Protestante. A Reforma Protestante foi um movimento iniciado no século XVI, que tinha o objetivo de provocar uma profunda mudança no catolicismo. Antes do movimento reformista, surgiram as primeiras discussões da necessidade de uma mudança na vida religiosa cristã, dando início assim ao lançamento dos fundamentos ideológicos da reforma. A origem destas discussões foi verificada pelos valdenses39, ou seja, aqueles que seguiam Pedro Valdo, conhecido comerciante de Lyon. Pedro Valdo destacou-se na história de seu povo por ter conseguido traduzir a Bíblia para a linguagem popular. Além disso, Pedro Valdo começou a pregá-la publicamente, mesmo não sendo sacerdote. Este movimento recebeu o nome de Pré-Reforma. Durante toda a Idade Média, numerosos grupos de irmãos se separaram da Cristandade oficial para procurar uma forma de cristianismo mais puro e apegado à simplicidade evangélica. O caminho da fé foi regado com o sangue do seu martírio. Na Europa ocidental, cátaros e albigenses cresciam, especialmente na França e Espanha. E nos vales alpinos do norte da Itália e no sul da Suíça, prosperaram por vários séculos um grupo de irmãos de características singularmente especiais a quem a história designou com o nome de Valdenses. Embora estreitamente aparentados com os albigenses, a sua origem parece remontar-se a uma época anterior. A antigüidade dos Valdenses é testemunhada por várias fontes, tanto internas como externas ao movimento, e também por algumas características muito particulares de sua fé e práticas. O inquisidor Rainero, que morreu em 1259, 38 ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p.557. 39 ABARCA, Rodrigo. A parte da história da igreja que não foi devidamente contada. Os Valdenses - O Israel dos Alpes. Revista Águas Vivas. Ano 8, no. 45, maio-junho de 2007.
  • 27. escreveu: "Entre todas estas seitas... a dos leonistas (leia-se Valdenses).. foi a que por mais tempo tem existido, porque alguns dizem que tem perdurado desde os tempos de Silvestre (Papa em 314-335 DC), outros, do tempo dos apóstolos". Marco Aurelio Rorenco, pároco de São Roque em Turin, em seu reconto e história dos mesmos, escreveu que os Valdenses são tão antigos que não se pode precisar o tempo de origem. Além disso, os próprios Valdenses se consideravam muito antigos e originavam a sua fé dos tempos apostólicos. Na verdade, embora seja impossível precisar o seu início, é provável que fossem em seu núcleo essencial um remanescente que se separou da cristandade oficial rejeitando a união da igreja e o estado, depois da ascensão de Constantino em 311 DC (por ex: os novacianos). Alguns deles puderam ter emigrado para os remotos e isolados vales alpinos, onde conservaram intactas por muitos séculos a sua fé e pureza evangélicas, alheios a todas as controvérsias e lutas posteriores. Embora mais adiante tivesse estreita comunhão com outros grupos de irmãos perseguidos. Os Valdenses reconheciam na Escritura a única autoridade final e definitiva para sua fé e práticas. Criam na justificação pela fé e rejeitavam as obras meritórias como fonte de salvação. Além da Escritura não sustentavam nenhum credo ou confissão de fé particular. Apesar disso, conseguiram conservar quase intactas a sua fé e as suas práticas ao longo de vários séculos; o qual prova de passagem que o melhor remédio contra a heresia e o engano é a espiritualidade apoiada em uma profunda fidelidade e apego à Escritura.40 Neste período, diversos nomes se destacaram na defesa desses ideais de mudança que a igreja precisava experimentar. John Wycliffe, teólogo inglês, Jerônimo Savonarola e John Huss, foram responsáveis em divulgar à rejeição as diversas doutrinas católicas praticadas nesta época. Com o advento da Reforma Protestante no século XVI, Martinho Lutero e João Calvino despontaram como os grandes pensadores da teologia, dando à partir de então, as “coordenadas” para um novo tempo na interpretação das Sagradas Escrituras. O movimento da Reforma Protestante produziu cinco princípios fundamentais que se opunham aos ensinos da Igreja Católica Apostólica Romana. Estes princípios ficaram conhecidos como “solas”, ou seja, uma palavra latina que traduzida para o português significa “somente”. Estes princípios serviram de base, ou pilar, para a prática de uma vida religiosa cristã. Os cinco solas são: [a] Sola 40 Ibidem.
  • 28. Scriptura: Somente a Escritura é nossa regra de fé e prática; [b] Sola Fide: a salvação é pela Fé Somente; [c] Sola Gratia: a salvação se dá pela Graça Somente; [d] Solus Christus: Cristo Somente é suficiente para nos salvar; e [e] Soli Deo Gloria: Somente a Deus devemos dar a Glória. Com a chegada do reavivamento no fim do século XVII é inicio do século XVIII na Europa e na América do Norte, os pregadores calvinistas, luteranos e arminianos passarem a enfatizar o arrependimento e a piedade na vida cristã. Qualquer estudo do Pentecostalismo tem de se a ter aos eventos desse período, especialmente à doutrina da perfeição cristã ensinada por João Weley o pai do Metodismo e pelo seu assistente João Fletcher. A publicação por Wesley de A Short Account of Chistian Perfection (1760) conclama seus seguiores a buscarem uma nova dimensão espirtual. Essa Segunda obra da graça, posterior à conversão libertaria os crentes de sua natureza moral imperfeita, que os tem induzido ao comportamento pecaminoso.41 Os ensinamentos de Wesley alcançaram os Estados Unidos da América e influenciaram os cristãos, em especial, na busca por um comportamento santo. Este movimento expandiu-se e ficou conhecido como “Movimento de Santidade”. Embora a teologia reformada haja identificado o batismo no Espírito com a conversão, alguns reavivalistas, dentro dessa tradição, aceitavam o conceito de uma segunda obra da graça para revestir de poder, acreditavam no conceito de uma segunda obra da graça para revestir os cristãos no poder do alto. Entre eles se encontrava Dwight L. Moody e R.A Torrey. Apesar desse revestimento de poder acreditavam na santificação, mantinha-se em sua obra progressivo outro personagem chave e o presbiteriano, A B.Simpsom, fundador da Aliança Cristã e Missionária, cuja forma de pensar teve grande impacto na formação doutrinarias das Assembleias de Deus, enfatizava nitidamente o batismo no Espirito Santo.42 41 SCHELLING, Sergyo A. A história do pentecostalismo no Brasil através da Assembleia de Deus. Disponível em http://ministeriorazaoefe.webnode.com.br/products/a-historia-do-pentecostalismo- no-brasil-atraves-da-assembleia-de-deus/. Acesso: 30.12.2015. 42 Ibidem.
  • 29. A mensagem do batismo no Espírito Santo influenciou os Estados Unidos e deu origem a diversas denominações evangélicas pentecostais. Schellling destaca que um dos primeiros movimentos pentecostais, fruto do reavivamento norte- americano, teve destaque em Ricgard G. Sperling, pastor batista licenciado, que promoveu reuniões na Carolina do Norte, marcada por intensa glossolalia (falar em línguas estranhas). Mas foi Charles Fox Parham, “evangelista metodista dos movimentos de santidade”, quem realmente aprofundou a discussão em torno do batismo do Espirito Santo. “Convencido pelos seus próprios estudos de Atos dos Apóstolos e influenciado por Irwin Sandford, testemunhou Parham um reavivamento notável na escola Bethel, em Topeka, Kansas, em janeiro de 1901.43 Em 1905 Parham criou a escola bíblica de Houston no estado do Texas. Dentre seus alunos estava W.J. Seymour que era um pregador negro procedente de Holiness. Convencido de que a glossolalia sinalizava o batismo do Espirito Santo, Seymor passou a destacar esta experiência em suas pregações. Quando foi para Los Angeles, falou em uma igreja dos nazarenos, mas acabou proibido de continuar suas exposições, mas devido a insistência com que tratava a nova doutrina e o escândalos aos olhos dos protestantes conversadores. Seymour passou a realizar as reuniões em uma casa, no dia 06 de abril de 1906 oito pessoas entre elas um menino foram batizada com o Espírito Santo e falaram novas línguas. Seymour se se transferiu para um velho templo metodista na rua Azuza, onde por três anos sucederam reuniões dia e noite.44 O adepto do pentecostalismo crê no poder do Espírito Santo através da contemporaneidade dos dons espirituais. Os integrantes do movimento pentecostal crêem que o Espírito Santo continua a se manifestar nos dias de hoje, da mesma forma que em Pentecostes, descrita no Novo Testamento (Atos 2). Nessa passagem, o Espírito Santo manifestou-se aos apóstolos por meio de línguas de fogo e fez com que eles pudessem falar em outros idiomas para serem entendidos pela multidão heterogênea que os ouvia. Para eles, sobressaem os dons da glossolalia (o de falar línguas desconhecidas), da cura e da profecia.45 43 Ibidem. 44 Ibidem. 45 Disponível em http://www.portalbrasil.net/religiao_pentecostalismo.htm. Acesso: 23.12.2015.
  • 30. São legitimamente pentecostais os que, em primeiro lugar: [a] Aceitam a soberania da Bíblia Sagrada, como a inspirada e inerrante Palavra de Deus, elegendo-a como infalível regra de avaliação de toda e qualquer manifestação espiritual (2Tm 3.16); [b] Mantém a pureza da sã doutrina, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada (At 2.42; 1Tm 4.16); [c] Acreditam na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais (At 2.39); [d] Cumprem integralmente as demandas da Grande Comissão que nos deixou o Senhor Jesus (Mc 16.15-20); [e] Têm compromisso com a santidade, defendem o aperfeiçoamento da vida cristã através da leitura da Bíblia, da oração e do exercício da piedade na consolação do Espírito Santo (Gl 5.22; 1Ts 5.17-23; 1Tm 4.8).46 Os primeiros pentecostais foram os discípulos de Jesus, como resultado da promessa do Senhor (Lc 24.49; Mc 16.17; Jo 14.16; At 1.8).Tal promessa se concretizou por ocasião da festa de comemoração do Pentecostes, no ano 33 d.C. (At 2). No período da Reforma Protestante, no século XVI, Deus levantou homens como Martinho Lutero, João Calvino e John Knox. No século XVIII, ocorreu o Avivamento Morávio com o Conde Zinzendorf, o Grande Reavivamento na Inglaterra com John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield e o Reavivamento Americano com Jonathan Edwards. Nenhum destes avivamentos foi conhecido como Pentecostal, pois o termo é do início do século XX, quando houve o derramamento do Espírito Santo nos Estados Unidos da América, semelhante à manifestação de Atos 2. No fim do século XIX houveram alguns ensinamentos bastante equivocados à respeito das escrituras sagradas. Estes ensinos produziram, entre outros, o fortalecimento da teologia cessacionista. Quanto ao Cessacionismo, é de bom alvitre, citar as palavras extraídas do texto “Dons Espirituais: Reflexões pastorais sobre a interpretação e uso dos dons”, de Gordon Chown: 46 CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas de Jovens e Adultos: Movimento Pentecostal – As doutrinas da nossa fé. 2º. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
  • 31. O Cessacionismo é a teoria de que muitos milagres, bem como dons espirituais, existiam em função da formação do cânon do Novo Testamento – quer dizer que houve um poderoso derramamento de milagres na vida de Jesus, e dos apóstolos, mas que cessou depois de encerrado o cânon do Novo Testamento. A ideia é que os milagres confirmaram a divindade de Cristo (fato este que está fora de dúvida) e, semelhantemente, confirmaram a origem divina da atuação e doutrina dos apóstolos (outro fato inabalável). Tudo isso concorreu para os registros em todos os livros do Novo Testamento serem reconhecidos como obra legítima e permanente de Deus, parte integrante das Escrituras Sagradas. E isso também é certo. Quando me converti a Cristo, a conversão envolveu a aceitação da inspiração plenária, inerrância e infalibilidade da Bíblia. Inclusive entendo que qualquer conceito da Bíblia que não a reconhece assim, está fora do arraial do cristianismo”. O teólogo pentecostal Stanley Horton destaca que a Teologia Pentecostal tem seu fundamento nas Sagradas Escrituras e historicamente mantém o pensamento teológico dos reformadores quanto às doutrinas cardeais da fé cristã. De acordo com ele o estabelecimento da teologia pentecostal impediu o avanço das ideias liberais, dando atenção especial à manifestação dos dons espirituais, ensino este que havia sido esquecido nas discussões e textos teológicos. Uma das provas que a teologia pentecostal considera os fundamentos da teologia reformada é verificada, por exemplo, na concordância existente entre ambas nos seguintes aspectos: [1] As Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e Novo Testamento, são inteiramente inspiradas por Deus, infalíveis na sua composição original e completamente dignas de confiança em quaisquer áreas que venham a se expressar, sendo também a autoridade final e suprema de fé e conduta; II Tm 3:14- 17. [2] Há um só Deus eterno, poderoso e perfeito, distinto em sua Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; Dt 6:4; Mt 28:19. [3] Jesus Cristo nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, e o único mediador entre Deus e o homem. Somente Ele foi perfeito em natureza, ensino e obediência; Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; 1 Tm 2.4. [4] O Espírito Santo é o regenerador e santificador dos remidos, o doador dos frutos e dons espirituais, o Consolador permanente e Mestre da Igreja. Ele habita nos redimidos, que devem buscar se encher de Sua presença; Hb 9:14; I Pe 1:15-16; Lc 3:16; At 1:5; I Co 12:1-12. [5]
  • 32. Em Adão a humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus. Devido à queda de Adão, a humanidade tornou-se radicalmente corrupta e distanciada de Deus. O essencial para o homem é a restauração de sua comunhão com Deus, a qual o homem é incapaz de operar por si mesmo; Rm 3.23; At 3.19. [6] A salvação eterna, dom de Deus, tem sido providenciada para o homem unicamente pela graça do SENHOR e pela morte vicária de Jesus Cristo. Fé é o meio pelo qual o crente se apropria dos benefícios da graça e nasce de novo; Rm 3.23; At 3.19; Jo 3:3-8; At 10:43; Rm 10:13; 3:24-26; Hb 7:25; 5:9; II Co 5:10. [7] Jesus Cristo ressuscitou fisicamente dentre os mortos, ascendeu aos céus e voltará na consumação dos séculos para julgar os homens; Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; I Ts 4:16-17; I Co 15:51-54. [8] A punição eterna, incluindo a separação e perda da comunhão com Deus, é o destino final do homem não regenerado e de Satanás com todos os seus anjos caídos. Ap 20:11-15; Mt 25:46. [9] A Igreja Cristã, o corpo e a noiva de Cristo é consagrada à adoração a ao serviço de Deus através da proclamação fiel da Palavra, a prática de boas obras e a observância do Batismo e da Ceia do Senhor. Mt 28:19; Rm 6:1-6; Cl 2:12. [10] A tarefa da Igreja é ensinar a todas as nações, fazendo com que o Evangelho produza frutos em cada aspecto da vida e do pensamento. A missão suprema da Igreja é a salvação das almas. Deus transforma a natureza humana, tornando-se isto, o meio para a redenção da sociedade. Mt 28:19-20.47 O pastor Claudionor de Andrade destacou em seu artigo intitulado “a excelência teológica dos pentecostais” que este movimento não fundamenta-se apenas em experiências particulares, mas tem um sólido fundamento na reflexão bíblica. Sobre esta verdade, ele afirmou o seguinte: Antes de mais nada, porque o Movimento Pentecostal não é somente experiência, mas o resultado de uma profunda e bem amadurecida reflexão bíblica. Aliás, entre os primeiros crentes a receberem o batismo com o Espírito Santo, não havia só gente simples e leiga; havia também excelentes teólogos. Haja vista o pastor sueco Lewi Pethrus (1884-1974). Entre os pioneiros, veio ele a sobressair-se como poeta, jornalista e expositor bíblico. Seja-me permitido citar outro literato que, ao lado de Lewi Pethrus, emprestou às igrejas pentecostais um sólido alicerce teológico e cultural. Refiro-me ao romancista Sven Lidman (1882-1960). Também sueco de nascimento, teve ele, em 1917, um encontro marcante com Deus que, de maneira piedosa e grácil, eterniza num de seus romances. Quatro 47 ICP – Instituto Cristão de Pesquisas.
  • 33. anos depois, juntava-se Lidman ao nascente avivamento, pontificando-se, a partir daí, não apenas como pregador e teólogo, mas ainda como editor da revista Evangelii Harold. Sven é um dos nomes mais respeitados da literatura sueca. Tivesse eu espaço, citaria outros teólogos que, desde o início do Avivamento Pentecostal, vêm fundamentando bíblica e teologicamente a nossa fé. Como esquecer, porém, Stanley Horton, Wayne Gruden, J. Rodman Williams e Gordon Fee? No Brasil, lembro o pastor Antonio Gilberto que, além de teólogo, abriu-nos um espaçoso caminho no árduo e incompreendido solo da Educação Cristã.48 O Pastor Antônio Gilberto destacou que a igreja da atualidade precisa mais e mais conhecer, buscar, receber e exercitar a provisão divina imensurável que há nos dons espirituais, para o seu contínuo avanço, edificação, consolidação e vitória contra as hostes infernais, e, ao mesmo tempo, glorificar muito mais a Cristo.49 Myer Pearlman destaca que a doutrina do Espírito Santo, a julgar pelo lugar que ocupa nas Escrituras, está em primeiro lugar entre as verdades redentoras. Diz ele: Com exceção das Epístolas 2 e 3 de João, todos os livros do Novo Testamento contêm referências à obra do Espírito; todos os Evangelhos começam com uma promessa do derramamento do Espírito Santo. No entanto, é reconhecida como a doutrina mais negligenciada. O formalismo e um medo indevido do fanatismo têm produzido uma reação contra a ênfase na obra do Espírito na experiência pessoal. Naturalmente, este fato resultou em decadência espiritual, pois não pode haver um Cristianismo vivo sem o Espírito. Somente ele pode fazer real o que a obra de Cristo possibilitou. Inácio, grande pastor da igreja primitiva, disse: A graça do Espírito põe a maquinaria da redenção em conexão vital com a alma. Parte do Espírito, a cruz permanece inerte, uma imensa máquina parada, e em volta dela permanecem imóveis as pedras do edifício. Somente quando se colocar a "corda" é que se poderá proceder à obra de elevar a vida do indivíduo, pela fé, e pelo amor, para alcançar o lugar preparado para ela na igreja de Deus.50 48 ANDRADE, Claudionor de. A excelência teológica dos Pentecostais. Disponível em http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/29/a-excelencia-teologica-dos- pentecostais.html. Acesso: 15.12.2015. 49 GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p.195. 50 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. p.225.
  • 34. EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre o desenvolvimento da teologia em http://gutierresfernandes.com/2014/12/21/o-desenvolvimento-da-teologia- pentecostal/ QUESTÕES PROPOSTAS 1. O que foram as “cinco solas”? 2. O que significa ser pentecostal e quais características são observadas na confirmação da identidade pentecostal? 3. De acordo com Stanley Horton qual foi a contribuição do estabelecimento da teologia pentecostal para o mundo cristão?
  • 35. 5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA Santos observa que “é comum ouvirmos que a teologia mata a religião ou que a Igreja não precisa de teologia e, sim, de vida. Ele admite que há muita coisa por aí levando o nome de “teologia” que não passa de especulação humana, por não se basear em pressupostos de uma hermenêutica bíblica. E até a ‘boa teologia’, quando se torna um fim em si mesma, pode não ter qualquer uso prático e reduzir-se a mero academicismo”.51 Sobre esta realidade este autor diz: Como podemos conhecer a Deus sem estudar a revelação que Ele faz de Si mesmo? Como saber quem Ele é e o que Ele tem feito e faz, quem somos nós em relação a Ele, o que Ele requer de nós,etc., se não investigarmos o que Ele deixou revelado para nosso conhecimento? Pois esse é o trabalho da Teologia. Esse trabalho parte de três pressupostos: O primeiro é o de que Deus existe; o segundo, de que Ele pode ser conhecido, embora não de modo exaustivo e completo; e o terceiro, de que Ele tem Se revelado tanto por meio de Suas obras (criação e providência - Revelação Geral - Sl19.1,2; At 14.17), como, principalmente, nas Santas Escrituras (Revelação Especial - Hb1.1,2; 1 Pd 1.20,21). É porque Deus Se revelou que podemos conhece-Lo. Nosso conhecimento de Deus não é intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele mesmo através dos meios que soberanamente escolheu. “Fazer teologia”, portanto, não é inventar teorias a respeito de Deus e de Suas obras, nem mesmo “descobrir” a Deus, mas conhecer e compreender a revelação que Ele próprio deu de Si. Por isso, qualquer estudo de Deus que não tiver a Sua revelação como base, meio e princípio regulador não é “teologia”, devidamente entendida.52 Hordern também preocupou-se em defender a teologia. Disse ele: Com frequência, alguém diz assim: “Por que preocupar-se com assuntos de teologia? Os teólogos passam o tempo inutilmente discutindo questões sem qualquer importância ...” Passemos a um exame dessa maneira de pensar. Por que será que os problemas citados são considerados sem importância? É claro 51 SANTOS, João Alves dos. A igreja precisa de teologia? Disponível em http://www.soluschristus.com.br/2010/06/igreja-precisa-de-teologia.html. Acesso: 23.12.2015. 52 Ibidem.
  • 36. que quem faz semelhante objeção tem em mente algum conceito do que se deva admitir como sendo de mais alto valor, em comparação com o que ele se acha na condição de asseverar que os argumentos dos teólogos lhe parecem destituídos de importância. Isso quer dizer que tal pessoa encontra-se em determinada posição teológica, tem uma opinião com referência à natureza de Deus, conceitos, portanto, que o levam a proclamar como sem importância os argumentos enunciados pelos teólogos. De modo que, mesmo um ataque assim, endereçado contra a teologia, não passa de uma investida de natureza teológica. Frequentemente ouvimos pessoas dizendo que não é o que alguém crê e, sim, o que faz que tem importância. Trata-se de meia verdade, que, como acontece com as verdades apresentadas pela metade, chega a ser perigosa. E meia verdade porque, do ponto de vista cristão, o pensamento teológico não é nenhum fim em si mesmo. O cristianismo é doutrina que se propõe a ser vivida. Visa a resultar em ações. De forma que, se permanecer sempre como pensamento, torna-se algo até mesmo destituído de verdadeiro cristianismo e, portanto, fútil.53 Geraldo Campos citou algumas razões para se “fazer” teologia, sendo elas: [1] Nossa mente necessita de organização. Precisamos dar ordem aos conhecimentos adquiridos. Necessitamos harmonizar, unificar, para refletir sobre os conhecimentos. Daí surgir, por necessidade, a teologia, em atenção a nossa mente refletidora. [2] Para desenvolvimento do caráter. Todo conhecimento de Deus influi na vida do conhecedor. Como estudantes de teologia devemos saber que nosso caráter deve desenvolver-se na razão direta do nosso conhecimento. Não deve acontecer que alguém que estude teologia cristã seja mentiroso, velhaco, fofoqueiro, malandro, ditador, imoral, mau cônjuge, mau filho ou má filha ou que quer que seja de mau. Quem conhece a Deus desvia-se do que é maligno. [3] Para capacitar intelectualmente a quem serve a Deus. Quem serve a Deus deve procurar conhecer a Deus mais e mais. Deve saber manejar “a espada do Espírito” (Ef 6.17). A igreja não espera que sejamos bons conhecedores das ciências mundanas, mas aguarda que sejamos teólogos autênticos, conhecedores de Deus e praticantes dos ensinos da Palavra. Precisamos apreender e transmitir fielmente toda a verdade acerca de Deus. [4] Para dar firmeza e ousadia à igreja no estabelecer o Reino de Deus. A igreja em geral, e os guias espirituais em particular devem saber interpretar a Palavra de Deus de modo correto. A maneira correta de interpretar, provoca na igreja uma maneira correta de viver, poder, 53 HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. p.5.
  • 37. firmeza e ousadia. [5] Para dar cumprimento às ordens ou sugestões das Escrituras que encorajam o exame das Escrituras (Jo 5.39); que ordenam a pregação “a tempo e fora de tempo” (2Tm 4.2); que afirmam que o bispo “seja apto para ensinar” (1Tm 3.2); que ordenam o bom manejo da “palavra da verdade” (2Tm 2.15). A teologia é necessária, pois enseja o exame, a pregação, o ensino, a eficiência do conhecimento da Palavra.54 A teologia deve ser “feita” por todos. É um equívoco pensar que a teologia deve ser feita apenas por pessoas que aspiram o ministério formal de uma determinada denominação religiosa, ou por um grupo selecionado de pessoas. De acordo com Solano Portela, “estudar (fazer) teologia não é uma área segregada à academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas”.55 Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Em Mt 22.29 Jesus adveritu os homens sobre a necessidade de conhecer as Escrituras: “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. Em Mc 12.24 Jesus chama à atenção sobre o cuidado do conhecimento das Sagradas Escrituras: “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” Vincent Cheung afirma que uma das maiores razões para se estudar teologia é o valor intrínseco do conhecimento sobre Deus. Cada outra categoria de conhecimento é um meio para um fim, mas o conhecimento de Deus é um fim digno em si mesmo. E, visto que Deus Se revelou através da Escritura, conhecer a 54 CAMPOS, Geraldo Magela. Teologia em Perguntas e Respostas. Disponível em http://pt.scribd.com/doc/139935737/Teologia-em-Perguntas-e-Respostas-Geraldo-Magela-Campos- pdf#scribd. Acesso: 28.12.2015. 55 PORTELA, Solano. Disponível em http://www.teologiaevida.com.br/2012/08/porque-devo- estudar-teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
  • 38. Escritura é conhecê-lo, e isto significa estudar teologia.56 Este autor afirma também que um repúdio à teologia é também uma recusa de conhecer a Deus por meio do modo por ele prescrito. O conhecimento da Escritura — conhecer sobre Deus ou estudar teologia — deve estar cima de tudo da vida e pensamento humano. A teologia define e dá significado a tudo que alguém possa pensar ou fazer. Ela está cima de todas as outras necessidades (Lucas 10.42); nenhuma outra tarefa ou disciplina se aproxima dela em significância. Portanto, o estudo da teologia é a atividade humana mais importante.57 5.1 A teologia nas funções da igreja O pesquisador Rubens Muzzio usou quatro palavras gregas para definir as funções principais da igreja no mundo: koinonia, kerigma, diakonia e marturia. Estas palavras refletem a atuação da igreja no mundo bem como o cumprimento do seu propósito orientado pelas Sagradas Escrituras. [a] Koinonia – Esta palavra expressa a comunhão que deve existir entre os membros da igreja. O salmo 133 é um bom exemplo disso quando diz: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”. Fazer teologia é compreender as bases desta união e seus propósitos. Para John Stott, "Koinonia” fala de nossa herança comum (do que compartilhamos aqui dentro), de nosso serviço cooperativo (do que compartilhamos lá fora) e de nossa responsabilidade recíproca (do que compartilhamos uns com os outros)”. As significativas palavras koinõma e metochê estão entre os mais fortes conceitos nas Escrituras judaico-cristã. Antes demais nada, elas se aplicam à participação em um projeto e um espírito “comum”. Os cristãos participam da “natureza divina” (2Pe 1.4). A comunhão na família de Deus vem após o novo nascimento (2Co 56 CHEUNG, Vincent. Teologia Sistemática. Disponível em: http://monergismo.com/?p=789. Acesso: 29.12.2015. 57 Ibidem.
  • 39. 5.17; lJo 3.9). Os cristãos participam de Cristo (Hb 3.14) e do Espírito Santo (6.4). A verdadeira comunhão resulta em um amor mútuo (Jo 13.34). Uma “salvação comum” (Jd 3) e uma “fé comum” (Tt 1.4) caracterizam os verdadeiros cristãos. A tradução significativa “fazer participante” toca a essência do espírito cristão (G1 6.6). Aquele que é ensinado na Palavra é advertido a “comunicar”. Comunhão existe quando há “associação”. Essa era a força essencial dos cristãos primitivos. Embora um movimento minoritário, eles compartilhavam a força de pertencer um ao outro e a Deus.58 [b] Kerigma - Refere-se à proclamação do evangelho a todos os homens em todas as partes do mundo. Trata da missão principal da igreja, expressa em Mc 16.15 que nos diz: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. A teologia, por exemplo, por intermédio da hermenêutica, da exegese e da própria homilética, fornecem ferramentas para os membros da igreja compartilharem com eficiência as verdades do evangelho. No grego, essa palavra significa “a coisa pregada”, o que alude ao evangelho de Cristo. Está em foco a proclamação do evangelho. A palavra aparece por oito vezes no Novo Testamento, duas delas acerca da pregação de Jonas (Mt 12.41 e Lc 11.32). As outras seis ocorrências envolvem a proclamação do evangelho (Rm 16.25; 1Co 1.21; 2.4; 15:14; 2Tm 4.17 e Tt 1.3), onde são enfatizadas a morte e a ressurreição de Cristo, com todas as suas implicações teológicas.59 [c] Diakonia – É o comportamento generoso em relação ao próximo. Edelberto Behs, tratando da necessidade da compreensão ampla do termo “diaconial” observou que “os efeitos da globalização econômica, que erodiu a base da vida em muitas comunidades, e a necessidade de prestar contas da fé cristã frente ao secularismo e ao neoliberalismo, trazem novos desafios às igrejas”.60 Fazer teologia é colocar em prática o conteúdo de nossa fé. Behs afirmou também que: 58 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 3. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.838-839. 59 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.3. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.699. 60 BEHS, Edelberto. Ação diaconal é uma exigência num mundo excludente, globalizado e violento. Disponível em http://www.ieclb.org.br/noticia.php?id=7877. Acesso: 17.11.2014.
  • 40. A compreensão de diaconia vincula o serviço da igreja à crítica profética sobre as estruturas econômicas, políticas e culturais vigentes no mundo, que produzem e perpetuam sofrimento e violência, ao mesmo tempo em que advoga condições sociais para uma vida digna, de respeito e justiça. Tradicionalmente, a compreensão de pregar e ensinar o evangelho e de administrar os sacramentos, responsabilidade da Igreja, estava restrita ao ministério pastoral, segundo a Confissão de Augsburgo. Entende-se que a pregação do Evangelho também acontece através da ação diaconal (compreendida como o serviço ao próximo). Diferentes modelos diaconais vêm sendo praticados em diferentes igrejas, de acordo com a história, sociedade e o contexto em que se encontram.61 [d] Marturia – Trata-se do testemunho compartilhado pela igreja. At 1.8 diz: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Fazer teologia é testemunhar, movido pelo Espírito Santo, aquilo que experimentamos e entendemos em Cristo Jesus. Com uma variedade de significado na Escritura, testemunho, dependendo do contexto, indica (a) testemunho, (b) evidência que testemunha de ou a favor de alguma coisa, (c) as tábuas de pedra nas quais a lei de Deus foi escrita, (d) a Arca, (e) todo o livro, da lei, (f) a Palavra de Deus dada a um profeta, (g) o evangelho, ou (h) toda a Escritura. [1] 0 primeiro destes contextos é visto em 2 Timóteo 1.8, onde Paulo exorta Timóteo a não ficar envergonhado de seu testemunho de Cristo. [2] Um exemplo do segundo sentido no qual a palavra é usada encontra-se em Atos 14.3, onde a BJ e ARC interpretam que Deus “dava testemunho à palavra da sua graça”, a ARA contém “confirmava a palavra da sua graça” e a NVI traduz “confirmava a mensagem da sua graça”. [3] Em vários exemplos no AT “o testemunho” refere-se ao Decálogo como uma declaração da vontade de Deus (e. g., Êx 25.16,21) do qual vem a expressão “tábuas do testemunho” (Êx 31.18; 32.15; 34.29). [4] No mesmo contexto lê-se “a arca do testemunho” (Êx 25.22; 26.33s.; 30.6; 31.7, et al.), ou simplesmente “o testemunho”, onde se tem em vista a Arca (Êx 16.34; 27.21; Lv 16.13). [5] A expressão “testemunho” foi então estendida para abranger todo o livro da lei de Deus (SI 19.8; 78.5; 81.5; 119.88; 122.4). [6] Em alguns casos, testemunho significa a Palavra de Deus dada a um 61 Ibidem.
  • 41. profeta (Is 8.16,20). [7] Em Apocalipse 1.2,9; 12.17 et al., o uso de marturia é o do evangelho. Em 12.17a palavra é usada para o Evangelho no sentido de um testemunho de Cristo. [8] Toda a revelação de Deus ao homem é, às vezes, mencionad quando “testemunhos” é usado (SI 119.22) contendo vários exemplos.62 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre a importância do estudo da teologia em http://esdrascabral.blogspot.com.br/2012/06/necessidade-do-estudo-teologico.html QUESTÕES PROPOSTAS 1. Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Explique com suas palavras a relação dos textos de Mt 22.29 e Mc 12.24 com esta afirmação. 2. Quais as razões, segundo Gerlado Campos, para se “fazer teologia”? 3. Como a teologia pode ser desenvolvida no contexto das funções essenciais da igreja? 62 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.899-900.
  • 42. 6. FONTES DA TEOLOGIA A teologia possui uma fonte, ou seja, um ponto de partida de onde flui a teologia. Basicamente estas fontes são: [a] Bíblia Sagrada – A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia Sagrada. Bíblia e Escrituras são palavras sinônimas para os propósitos da teologia. O cristianismo possui como ponto central, a fé, e, a pessoa de Cristo, ou seja, não possui fé num livro, portanto, a fé e Cristo encontram-se intimamente relacionadas. A palavra portuguesa Bíblia vem do grego, biblia, que é o plural de blblion, “livro”. Portanto, significa “Iivros”. Essa palavra deriva-se originalmente da cidade fenícia de Biblos (no Antigo Testamento, Gebal), que era um dos antigos e importantes centros produtores de papiro, o papel antigo. Com o tempo, esse vocábulo terminou sendo usado para designar as Sagradas Escrituras. A palavra grega biblos significa um livro, um escrito qualquer, tendo mesmo servido para indicar o livro da vida, como se vê em Ap 3.5, isto é, um livro sagrado. Estritamente falando, biblos era um livro, e biblion era um livrinho. A palavra Bíblia, mediante um desenvolvimento histórico divinamente dirigido, segundo cremos, veio a designar o Livro dos livros, as Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e do Novo Testamento, a principal fonte de ensinamentos religiosos e éticos de nossa civilização. Por volta do século II d.C., os cristãos gregos já chamavam suas Escrituras Sagradas de Bíblia, ou seja, “os livros”. Quando esse título foi então transferido para a versão latina, foi traduzido no singular, dando a entender que “o Livro” é a Bíblia. [...] No Novo Testamento encontramos o vocábulo “Escrituras”, empregado para indicar o Antigo Testamento (Mt. 21.42; Mc 14.49; Rm 15.4), ou Sagradas Escrituras (Rm 1.2), ou, a “lei e os profetas” (Mt 5.17), ou “lei” (Jo 10.34), ou “os oráculos de Deus” (Rm 3.2).63 A teologia cristã reconhece a Bíblia Sagrada como sua autoridade máxima. É a regra de conduta do verdadeiro cristão, a constituição da religião cristã. “O que torna a autoridade das Escrituras de indescritível importância para os cristãos é o 63 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.527.
  • 43. fato de elas revelarem Deus ao mundo, sua natureza trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo), seu plano de salvação para a humanidade e sua vontade. As Escrituras, conforme as temos, são suficientes para tal finalidade”.64 A Bíblia é a mais rica fonte de informações sobre Cristo, em especial, quando trata de sua messianidade. Outras fontes sobre Cristo, tendem enfatizar seu aspecto histórico, pouco ou nada falando sobre seu poder divino de perdoar pecados. Paulo Anglada destaca que o reconhecimento das Sagradas Escrituras como autoridade suprema é tanto inferencial como direta: Base Inferencial - É inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito da inspiração divina das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da mera inquirição espiritual dos seus autores (cf. 2Pe 1.20), mas da ação sobrenatural do Espírito Santo (cf. 2Tm 3.16 e 2Pe 1.21), infere-se que são autoritativas. Na linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras procede da sua autoria divina: "porque é a Palavra de Deus." Isto não significa que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram mecanicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor, "pneumografadas." Os diversos livros que compõem o cânon revelam claramente as características culturais, intelectuais, estilísticas e circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como João ou Pedro. Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de Atos. Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram de tal modo dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo que tudo o que foi registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível, inerrante e autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados, mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4 O fato é que, por procederem de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas, fiéis, retas, puras, duram para sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm 3.15). 64 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da- teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
  • 44. Base Direta - Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se fundamenta apenas em inferências. Diversos textos bíblicos reivindicam autoridade suprema. Os profetas do Antigo Testamento reivindicam falar palavras de Deus, introduzindo suas profecias com as assim chamadas fórmulas proféticas, dizendo: "assim diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra que veio da parte do Senhor." No Novo Testamento, vários textos do Antigo Testamento são citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por exemplo: "Assim diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss). A autoridade apostólica também evidencia a autoridade suprema das Escrituras. O Apóstolo Paulo dava graças a Deus pelo fato de os tessalonicenses terem recebido as suas palavras "não como palavra de homens, e, sim, como em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes" (1Ts 2:13). Que autoridade teria Paulo para exortar aos gálatas no sentido de rejeitarem qualquer evangelho que fosse além do evangelho que ele lhes havia anunciado, ainda que viesse a ser pregado por anjos? Só há uma resposta razoável: ele sabia que o evangelho por ele anunciado não era segundo o homem; porque não o havia aprendido de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo (Gl 1:8-12). Jesus também atesta a autoridade suprema das Escrituras: pelo modo como a usa, para estabelecer qualquer controvérsia: "está escrito" (exemplos: Mt 4:4,6,7,10; etc.), e ao afirmar explicitamente a autoridade das mesmas, dizendo em João 10:35 que "a Escritura não pode falhar”.65 [b] Tradição – “A leitura das Escrituras nunca é neutra; sempre está filiada a alguma tradição interpretativa, e mesmo sem perceber, geralmente lemos a Bíblia com a ótica da tradição a qual pertencemos”.66 E indiscutível que todas as denominações cristãs têm suas próprias tradições, que lhes servem de autoridade, em complemento ou acréscimo às Escrituras, embora algumas dessas denominações prefiram não reconhecer esse fato. A tradição faz parte integrante da Autoridade. [1] As próprias Escrituras Sagradas preservam várias tradições judaicas, sem falarmos em algumas tradições próprias da filosofia helênica, como é o caso da doutrina do Logos, ou do mundo platônico em dois 65 AGLADA, Paulo. A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/autoridade_anglada.htm. Acesso: 29.12.2015. 66 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da- teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
  • 45. níveis, conforme se vê na epístola aos Hebreus. Assim sendo, as tradições começam nas próprias Escrituras. [2] Terminado o período do Novo Testamento, surgiram as declarações dos chamados pais da Igreja, bem como o desenvolvimento dos mais antigos credos. Esses credos serviram para limitar e sistematizar as Escrituras. Na verdade, esses credos foram teologias sistemáticas incipientes, sobre as quais as denominações cristãs atualmente repousam. [3] Os concílios eclesiásticos manipularam esses credos e lhes fizeram adições, apresentando interpretações das Escrituras, de onde se originaram tradições. [4] Regras de fé, interpretações bíblicas, raciocínios e apareceram nos escritos dos pais da Igreja. Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Orígenes e Novaciano referira-se às suas regras de fé, que faziam parte de credos existentes ou não. [5] O sincretismo. A medida que o cristianismo foi sendo difundido por diferentes áreas geográficas e culturas, foram sendo incorporados elementos de crenças e práticas locais, e isso também veio a constituir um elemento nas tradições emergentes, geralmente de natureza negativa. [6] As tradições católicas romanas são o supremo exemplo do entronizamento das tradições, às vezes prejudicando as Sagradas Escrituras, pois a essas tradições também se confere ali a aura de autoridade. É verdade que boa parte dessas tradições católicas romanas tem um fundo bíblico; mas outra boa parte não passa de sincretismo. [7] A Reforma Protestante presumivelmente fez a Igreja cristã retornar às "Escrituras somente". Mas, na verdade, grande parte das tradições ocidentais teve continuidade nos vários grupos protestantes que surgiram em cena. Mas então novas tradições foram criadas, mediante credos rígidos, que eram interpretações específicas das Escrituras. Todos esses credos deixam de lado certos ensinos bíblicos, além de torcerem outros ensinos bíblicos. [8] Desenvolvimento doutrinário. Muitos teólogos modernos insistem na tese que a doutrina deve evoluir, a fim de que a verdade possa ser obtida em qualquer sentido ou grau significativo. Assim, as tradições sempre haveriam de emergir, somente para serem substituídas por outras, mais evoluídas. [9] A revolta contra a ortodoxia: as tradições liberais. Começando no século XVIII, mas florescendo nos séculos XIX e XX, os eruditos liberais e os críticos desenvolveram uma tradição toda própria que produziu efeitos que minimizaram a fé nas tradições mais antigas, e rejeitaram de forma total o autoritarismo e seus diversos conceitos de infalibilidade, sem importar-se das próprias Escrituras. [10] Os credos modernos. Esses credos funcionam de quatro maneiras diversas: a. Declarações. Coisas que figuram claramente nas Escrituras são meramente declaradas e descritas. b. Interpretações. Coisas que não são necessariamente claras, e, em certos casos, coisas que são repelentes para certas mentes, recebem interpretações apropriadas de indivíduos ou denominações que
  • 46. as provêem. c. Distorções. É patente que todas as denominações cristãs distorcem certos trechos bíblicos, para que se adaptem ao seu esquema das coisas. d. Omissões. Certas passagens ou versículos são simplesmente omitidos, conforme fazem os hiper dispensacionalistas que declaram que a maior parte do Novo Testamento não pertence à Igreja cristã, não servindo de autoridade quanto à doutrina cristã. Não há que duvidar que as tradições tem seu uso. Algumas vezes as tradições ultrapassam, legitimamente, as Escrituras, mas nem por isso deixam de ser verdadeiras. Por outro lado, com frequência, essas tradições laboram em erro, adicionando elementos prejudiciais à fé e à prática. Essas são as tradições que devemos repelir.67 [c] Cultura - Quando alguém faz teologia, precisa levar em consideração tanto o seu contexto cultural como o do texto bíblico que está analisando, para aplicá-lo adequadamente em seu tempo. O estudo da cultura é importante inclusive, por exemplo, para saber se determinados textos das Escrituras eram aplicáveis à determinado momento histórico, ou se são validos perpetuamente.68 Costumes culturais influenciam na interpretação de um texto bíblico. Sobre isso, Alexandre Milhoranza disse: As pessoas que interpretam a Bíblia sem levar em consideração o contexto de uma passagem e sem conhecer, ou considerar o período histórico do texto escrito, podem cometer um sério erro de interpretação e acabarem criando uma heresia. Lembre-se que os reformadores ressaltaram e retornaram ao método de interpretação histórico-gramatical das Escrituras. Ou seja, devemos levar em conta o período histórico de quando a passagem foi escrita e levar em consideração as palavras e frases da passagem em seu sentido normal e claro (literal). [...] Certos princípios ou mandamentos são contínuos ou irrevogáveis, e tratam de temas morais e/ou teológicos, são repetidos em outras partes da Bíblia, sendo, portanto, aplicáveis a nós hoje. Precisamos perguntar se a Bíblia dá ao mandamento um caráter normativo. Quando a Bíblia dá uma ordem explícita e não a anula depois, devemos entender como sendo a vontade expressa de Deus para nossas vidas, em nosso tempo também, independente da cultura. [...] Certos princípios ou 67 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.466-467. 68 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da- teologia.html. Acesso: 29.12.2015.