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Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,
para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça - 2tm 3:1
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CETADEB - Centro Educacional Teológico
das Assembléias de Deus do Brasi!
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Aluno (a):
Teologia Pastoral I
TEOLOGIA PASTORAL I
TEOLOGIA PRÁTICA PARA O
EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO
Pr João Antônio de Souza Filho
Copyright © 2010 by João Antônio de Souza Filho
Capa e Designer: Márcio Rochinski
Diagramação: Hércules Carvalho Denobi
Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os
direitos reservados a Denobi e Acioli Empreendimentos
Educacionais.
O conteúdo dessa obra é de inteira responsabilidade do autor.
Todas as citações foram extraídas da versão Almeida Revista e
Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação
entre parêntesis ao lado do texto indicando outra fonte.
IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Lex Ltda
1§ Edição-Abr/2010
2
CETADEB Teologia Pastoral I
DIRETORIAS E CONSELHOS
Diretor
Pr Hércules Carvalho Denobi
Vice-Diretora
Eliane Pagani Acioli Denobi
Conselho Consultivo
Pr Daniel Sales Acioli - Apucarana-PR
Pr Perci Fontoura - Umuarama-PR
Pr José Polini - Ponta Grossa-PR
Pr Valter Ignácio - Guaíra-PR
Coordenação Pedagógica
Dagma Matildes de Souza dos Santos - Guaíra-PR
Coordenação Teológica
Pr Genildo Simplício - São Paulo-SP
Dc Márcio de Souza Jardim - Guaíra-PR
Assessoria Jurídica
Dr Mauro José Araújo dos Santos - Apucarana-PR
Dr Carlos Eduardo Neres Lourenço - Curitiba-PR
Dr Altenar Aparecido Alves - Umuarama-PR
Dr Wilson Roberto Penharbel - Apucarana-PR
3
CETADEB Teologia Pastoral I
Autores dos Materiais Didáticos
Pr José Polini
Pr Ciro Sanches Zibordi
Pr Genildo Simplício
Pr Paulo Juarez Ignácio
Pr Jamiel de Oliveira Lopes
Pr Marcos Antonio Fornasieri
Pr Sérgio Aparecido Guimarães
Pr José Lima de Jesus
Pr José Mathias Acácio
Pr Reinaldo Pinheiro
Pr Edson Alves Agostinho
Rubeneide 0. Lima Fernandes
4
CETADEB Teologia Pastoral I
NOSSO CREDO
ÊO Em um só Deus, eternamente subsistente em três
pessoas: O Pai, Filho e o Espírito Santo. (Dt 6.4; Mt
28.19; Mc 12.29).
E3 Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra
infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão
(2Tm 3.14-17).
03 Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e
expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os
mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm
8.34 e At 1.9).
EB Na pecaminosidade do homem que o destituiu da
glória de Deus, e que somente o arrependimento e a
fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que
pode restaurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19).
Bà Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé
em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da
Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino
dos Céus (Jo 3.3-8).
CO No perdão dos pecados, na salvação presente e
perfeita e na eterna justificação da alma recebidos
gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado
por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13;
3.24-26 e Hb 7.25; 5.9).
d No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo
inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor
Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12).
5
CETADEB Teologia Pastoral I
tQ Na necessidade e na possibilidade que temos de viver
vida santa mediante a obra expiatória e redentora de
Jesus no Calvário, através do poder regenerador,
inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos
capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de
Cristo (Hb 9.14 e IP e 1.15).
ÊQ No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado
por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a
evidência inicial de falar em outras línguas, conforme
a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).
£Q Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo
Espírito Santo à igreja para sua edificação, conforme a
sua soberana vontade (IC o 12.1-12).
CQ Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases
distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar
a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação;
segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada,
para reinar sobre o mundo durante mil anos (lT s 4.16.
17; ICo 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14).
EQl Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal
de Cristo, para receber recompensa dos seus feitos em
favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10).
EQ No juízo vindouro que recompensará os fiéis e
condenará os infiéis (Ap 20.11-15).
E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de
tristeza e tormento para os infiéis (Mt 25.46).
Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil - CGADB
CETADEB Teologia Pastoral I
ABREVIAÇÕES
a.C. - antes de Cristo.
ARA - Almeida Revista e Atualizada
ARC-Almeida Revista e Corrida
AT - Antigo Testamento
B V - Bíblia Viva
BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje
c. - Cerca de, aproximadamente,
cap. - capítulo; caps. - capítulos,
cf. - confere, compare.
d.C. - depois de Cristo.
e.g. - por exemplo.
Fig. - Figurado.
fig. - figurado; figuradamente,
gr. - grego
hb. - hebraico
i.e. - isto é.
IBB-Imprensa Bíblica Brasileira
Km - Símbolo de quilometro
lit. - literal, literalmente.
LXX - Septuaginta (versão grega do AT)
m - Símbolo de metro.
MSS - manuscritos
NT - Novo Testamento
NVI - Nova Versão Internacional
p.-página.
ref. - referência; refs. - referências
ss. - e os seguintes (isto é, os versículos consecutivos de um capítulo até o
seu final. Por exemplo: IPe 2.1ss, significa IPe 2.1-25).
séc. - século (s).
v. - versículo;
vv. - versículos.
ver - veja
7
CETADEB Teologia Pastoral I
8
CETADEB Teologia Pastoral I
SUMÁRIO
LIÇÃO |- O M inistro e o seu c h a m a m e n t o .......................................... 11
ATIVIDADES - LIÇÃO 1.............................................................................39
LIÇÃO II - 0 CHAMAMENTO e a prepa ra çã o para o M in ist é r io ........41
ATIVIDADES-U ÇÃ O || .........................................................................68
LIÇÃO III - o MINISTRO: SEU SUSTENTO E VIDA DE ESTUDOS...................69
ATIVIDADES- LIÇÃO ||| ........................................................................97
LIÇÃO I V - 0 MINISTRO E SUA VIDA DE ORAÇÃO
A ESPOSA DO MINISTRO...................................................................... 99
ATIVIDADES - LIÇÃO IV ..................................................................... 130
UÇÃO V - 0 MINISTRO E SUA FAMÍLIA....................................................... 131
ATIVIDADES - LIÇÃO V .......................................................................164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................165
9
CETADEB Teologia Pastoral I
CETADEB Teologia Pastoral I
Lição I
cs*c°>
CTCfDSD□=□=□BUD1GC°>
CETADEB Teologia Pastoral I
12
CETADEB Teologia Pastoral I
Introdução
T
eologia pastoral é o estudo das ciências que
dizem respeito à vida do pastor, contendo os
ensinamentos bíblicos e a verdade prática de
seu dia-a-dia ministerial. Trata-se, na realidade
da contextualização dos princípios bíblicos
ministeriais às necessidades que se
apresentam todos os dias na vida do ministro
no século XXI.
O aluno aprenderá as verdades bíblicas deixadas por Jesus e
seus apóstolos, tanto as explícitas, isto é, diretamente ensinadas
por eles, quanto as implícitas, situações não existentes no tempo da
igreja primitiva, e que precisam ser solucionadas nos dias atuais.
Defrontar-se-á diante das questões éticas que os apóstolos não
enfrentaram em seus dias, e que são enfrentadas quase todos os
dias no exercício do ministério.
O livro-texto está dividido em lições, com temas e sub-
temas. De início serão tratados assuntos relacionados ao
chamamento para o ministério, respondendo perguntas sobre como
ocorre o chamamento, as implicações do chamamento na vida do
obreiro e em relação à obra de Deus, a preparação para o ministério
e seu sustento.
Na continuidade, o aluno aprenderá sobre a importância do
estudo para o obreiro, sua vida de oração, o papel da esposa do
obreiro em seu ministério, além de uma temática dedicada
unicamente à família do obreiro, tratando do relacionamento
conjugal e da criação dos filhos.
No livro Teologia Pastoral II trataremos da vida sexual do
obreiro, tarefas do dia-a-dia do ministro, da importância do
13
CETADEB Teologia Pastoral I
gabinete do ministro, como local de aconselhamento e estudo do
ministro e seu comportamento no púlpito, além de tratar do
equilíbrio tão necessário entre carisma e caráter.
Por fim, o aluno estudará a vida de Jesus como exemplo de
Pastor, como modelo ministerial; logo estudará a vida de Paulo, o
apóstolo, o homem que mais ensinamentos deixou escrito depois
de Cristo, e estudará sobre a vida de Barnabé, exemplo de
dedicação apostólica. O módulo será concluído com a temática
sobre o ministro e seus relacionamentos e a questão da fama, do
orgulho e da honra no ministério.
São temas de muita importância para o obreiro, e, por certo
o aluno saberá tirar de cada tema abordado, lições preciosas para o
seu dia a dia ministerial.
No fim do livro o aluno verá as referências bibliográficas
importantes para futuras consultas.
Este manual de Teologia Pastoral, por certo, terá grande
utilidade para o obreiro não somente enquanto estuda o tema; por
certo, o ministro haverá de recorrer muitas vezes ao livro ao longo
de sua carreira ministerial.
Bom estudo.
14
CETADEB Teologia Pastoral I
O MINISTRO ESEU CHAMAMENTO
I - Introdução
No princípio deste estudo, o tema a ser tratado é uma
abordagem bíblica sobre o ministro e seu chamamento. Será
apresentada a base bíblico-teológica, buscando definir o que é
ministério e como ocorre o chamamento, em que o aluno se
defrontará com uma análise da chamada para o ministério à luz das
Escrituras.
Posteriormente, o estudante verá a chamada e suas
implicações na vida do obreiro a partir da experiência de homens no
Antigo e no Novo Testamento. Na sequencia, será abordado o tema
do chamamento e a obra de Deus.
Em seguida, será desenvolvido o tema de como uma pessoa
pode se preparar para o ministério. Por fim, o aluno estudará sobre
o sustento do obreiro, e de como ele pode viver na obra de Deus, se
necessário até trabalhando com as próprias mãos.
Depois do estudo deste livro, o aluno conseguirá definir a
questão do chamamento, entendendo as implicações e
responsabilidades que tem diante de Deus, da igreja e do mundo.
É aconselhável que o aluno examine os textos bíblicos
sugeridos, pois essa fundamentação bíblica é muito importante para
quem quer desenvolver uma vida ministerial satisfatória.
II - Definindo O Que É Ministério
Nesta primeira lição, o aluno aprenderá a definir o que é
ministro e o que é ministério e, logo em seguida, verá como ocorre
o chamamento. Essas definições ajudarão, o estudante à luz das
escrituras, a entender melhor o chamamento.
15
CETADEB Teologia Pastoral I
1. Definindo A Palavra Ministro
A palavra ministro que aparece na maioria das traduções
bíblicas em português já não tem mais o mesmo sentido
apresentado nas primeiras traduções da Bíblia porque as palavras,
no decorrer dos anos, vão perdendo seu sentido original, sendo
substituídas por outras.
Ministro, nos dias atuais, passou a ter uma conotação de
"pessoa que possui um alto cargo", de alguém com alta função,
especialmente na esfera governamental. Isso não tem sido
diferente na igreja, já que ministro parece ser uma pessoa que se
sobrepõe às demais pelo cargo que exerce, geralmente o de pastor.
Mas este não é o verdadeiro sentido de ministro no Novo
Testamento.
Assim, o aluno estudará o tema analisando três palavras
gregas do Novo Testamento, diferentes entre si, mas que foram
traduzidas, na maioria das versões bíblicas como ministro.
1.1. M inistro Como Tradução Do Verbo Servir ^
Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é
a tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa
servir. Pode-se observar que a palavra diakonos foi traduzida como
ministro nos seguintes textos e para as seguintes situações:
Referindo-se a autoridades governamentais, como em
 Romanos 13.4 que diz: "Visto que a autoridade é ministro de Deus
para teu bem". Nesse versículo, entende-se ministro como alguém
que tem autoridade a "serviço" de Deus, isto é, um governo, policial
ou juiz que serve a Deus punindo os maus.
Referindo-se a "servo" ou "serviço" a Deus, no texto de 2
Coríntios 3.6 em que Paulo afirma que os obreiros foram habilitados
para serem "ministros de uma nova aliança", isto é, servos de uma
nova aliança.
Em 2 Coríntios 6.4 também: "Pelo contrário, em tudo
recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita
16
CETADEB Teologia Pastoral I
paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias...", ou seja, o
obreiro tem de ter em mente que ele é um servo a serviço de Deus
em todos os momentos: na paciência, nas aflições, nas angústias.
Pode-se examinar ainda diversos outros textos do Novo
Testamento em que essa palavra é a mesma para diácono nas
seguintes passagens: (2 Co 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Cl 1.7,23,
25; 4.7; 1 Tm 4.6).
A partir dessa leitura fica fácil para o estudante observar
que os tradutores usaram no passado a palavra ministro para
exprimir o sentido de servo ou servir, mas que o sentido de ministro
perdeu sua simplicidade no idioma português de hoje.
O comentarista James Strong (Strongs Exaustive
Concordance of the Bible) define essa palavra nos textos
apresentados, falando de "um servidor", alguém que exerce um
serviço obedecendo a uma autoridade superior.
Portanto, basicamente, ministro é alguém que serve, e não
quem é servido. Assim, cada obreiro é também um ministro, ou
chamado para ser servo do rei Jesus.
A segunda palavra grega, huperetes, é também traduzida
como ministro, e aparece, em 1 Coríntios 4.1, com o significado de
subordinação e trabalho. Nesse versículo: "Assim, pois, importa que
os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros
dos mistérios de Deus", percebe-se que a palavra ministro foi usada
para indicar uma ação subordinada sob a direção de Deus.
Esse sentido é muito mais forte do que o anterior, pois
carrega em si o conceito de alguém que trabalha sob obrigação ou
que só faz o que lhe é ordenado. Significa que no serviço cristão,
não se exerce o ministério por conta e vontade própria, mas sob
autoridade de alguém, ou melhor, o ministro do Senhor Jesus estará
sempre às ordens de seu Supremo Chefe, Jesus que o chamou para
o serviço.
Outros textos bíblicos apresentam huperetes, com o mesmo
sentido, ou seja, alguém que está subordinado a outra pessoa e que
17
CETADEB Teologia Pastoral I
cumpre ordens e trabalha somente sob ordens. Nesse tipo de
chamamento a pessoa está engajada de forma compulsória.
Esta é a razão de Paulo exclamar: "Ai de mim, se não pregar
o Evangelho" (1 Co 9.16). Para Paulo não havia escape, ele teria que
obedecer sem resistência, sob pena de ser castigado.
Era mais que uma ordem. Era um dever. Fugir do
chamamento, no caso de Paulo, seria impossível, porque Deus lhe
pronunciou uma sentença: "Dura coisa é recalcitrares contra os
aguilhões" (At 26.14).
Paulo levava a sério seu chamamento, não como algo
opcional, e sim compulsório, pois implicava ser castigado por aquele
que o chamou, caso desobedecesse as suas ordens. É possível que
alguém esteja no ministério por opção, por amar a Jesus, amar a
Igreja e por querer cumprir seu propósito. Não era o caso de Paulo.
Ele foi convocado para ser um auxiliar, por isso usa o termo
huperetes para dar ênfase ao seu chamamento.
Em João 18.3, 12, 18, esta mesma palavra aparece com o
sentido de servos ou ajudantes que trabalham sob as ordens de um
governador. Jesus afirmou: "O meu reino não é deste mundo. Se o
meu reino fosse desse mundo, os meus ministros se empenhariam
por mim...". Isto significa que, se Jesus fosse um governador, os que
trabalhassem sob sua autoridade sairiam em sua defesa.
1.2. M inistro C om o Liturgo
A terceira palavra grega traduzida como ministro é "liturgo"
(leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que dispõe de recursos
próprios a serviço do reino ou da sociedade. Essa palavra, na época
de Paulo, era utilizada para designar uma classe social grega que
exercia cargos públicos ou ajudava a sociedade com seus próprios
recursos.
Essa atitude espontânea passou a designar, na Bíblia,
pessoas que serviam a Deus de maneira espontânea. Pode-se
confirmar esta verdade examinando-se dois textos bíblicos.
18
CETADEB Teologia Pastoral I
Em Atos 13.2, os mestres e profetas não estavam jejuando
ou orando por obrigação, mas como um serviço espontâneo a Jesus,
por isso o texto é tão claro: "E, servindo eles ao Senhor e jejuando,
disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a
obra a que os tenho chamado".
Em Romanos 15.27, Paulo usa a mesma palavra, para se
referir à espontaneidade das contribuições financeiras que os
gentios davam aos judeus: "Isto lhes pareceu bem, como devedores
que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes
dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os
temporais" ou como diz a versão atualizada, "servi-los com bens
materiais".
A partir das três definições apresentadas, pode-se concluir
que todas apontam para o mesmo sentido: serviço ou dedicação,
apesar da procedência e das características específicas.
É importante ressaltar que em nenhuma delas há a
conotação de superioridade tão comum nos dias atuais. Portanto,
quando se almeja o ministério, não se pode esquecer o
compromisso que espera o obreiro de ter uma vida de abnegação e
de serviço, nunca de privilégios.
2. Chamada E Vocação J
O chamamento e a vocação não podem ser analisados à luz
do Antigo Testamento, pois naquele tempo havia uma separação
entre "clero" e "leigo ou laicato", já que a tribo de Levi era uma
espécie de "clero" que servia o povo nas questões rituais, e
intermediava entre Deus e o povo de Israel.
No entanto, com a nova ordem ou nova aliança, todas as
pessoas passaram a pertencer a uma mesma ordem ou ofício,
passaram a ser sacerdotes do Deus Altíssimo, pois Cristo, ao assumir
a função de sumo sacerdote, abriu essa possibilidade de cada crente
ser também um sacerdote.
Assim, a separação que existia entre o povo e os líderes do
Antigo Testamento deixou de existir, fazendo com que a igreja
19
CETADEB Teologia Pastoral I
passasse a ser um "reino de sacerdotes" em que todos os membros
tivessem acesso direto a Deus e pudessem interceder em favor dos
demais, ou seja, cada novo membro do corpo de Cristo passou a ter
acesso a Deus da mesma maneira que seu líder, pastor ou
presbítero.
Neste sentido, todos na nova aliança são ministros a serviço
de Deus. Isso mostra que não há necessidade de títulos para
trabalhar para Deus.
Esta mudança de conceito sacerdotal foi percebida
claramente por Pedro, quando afirmou: "Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, afim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9). Nesse versículo,
percebe-se que Pedro se refere a todo o povo como reino
sacerdotal, isto é, todos são sacerdotes de Deus.
Assim como Pedro, a igreja primitiva, através de seus
primeiros apóstolos, também percebeu que todos os membros do
corpo de Cristo deviam trabalhar sem se preocupar com títulos, pois
sabiam que a tarefa de evangelizar, orar, expulsar demônios e curar
os enfermos não era somente para pastores e líderes, mas de todos
(Mc 16.14-16).
Outro fator que comprova essa ausência de distinção entre
povo e líderes no Novo Testamento está no fato das pessoas serem
tratadas diretamente pelo nome: Mateus, Paulo, Dorcas, Filipe, etc.
Essa informalidade no modo de tratamento não impediu o
respeito do povo a esses líderes, responsáveis por conduzi-los nos
caminhos de Deus.
Apesar de toda essa mudança conceituai ocorrida no Novo
Testamento, algumas igrejas ainda mantêm dentro de seu sistema
de governo a idéia de que o "clero" é exercido por alguém
vocacionado e deve ser pago, e que os "leigos" devem servir.
Esse é um erro que tem de ser corrigido, pois na igreja
primitiva nunca houve a idéia de que os pastores deveriam ser
20
CETADEB Teologia Pastoral I
pagos para fazerem a obra, ao contrário, todos entendiam que
deveriam trabalhar, servir ou ministrar, zelar pela vida dos novos
convertidos, orar, curar e expulsar demônios.
Assim é necessário entender que todos, em escala menor
ou maior, conforme os dons que de Deus recebem ou conforme a
capacitação concedida pelo Espírito Santo de Deus, são chamados
para servir. Isto significa que todos podem cooperar e trabalhar
para Deus, mesmo aqueles que têm poucos dons disponíveis.
Os textos de 1 Coríntios 12.28 e Efésios 4.11 mostram que,
apesar de todos servirem e ministrarem a Deus e ao próximo -
indistintamente de sexo - Deus, em sua soberania decidiu dispor de
alguns para chamamentos especiais.
Coríntios revela que "a uns estabeleceu Deus na igreja...".
Efésios: "ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres".
Esses versículos mostram que Deus se reserva o direito de
conceder dons ministeriais a algumas pessoas para que essas
executem determinadas tarefas. Entre esses chamamentos
especiais encontramos o de Paulo. Paulo seguia para a cidade de
Damasco a fim de prender e maltratar os discípulos de Jesus,
quando encontrou Jesus. Ao encontrá-lo, teve como única opção a
aceitação ao chamamento.
Como ele, muitos também têm como única opção a
aceitação. Esse chamamento de Paulo era tão especial, que ele o
descreve da seguinte maneira:
"E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que mefalava
em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa
é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu perguntei: Quem és
tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues. Mas levanta-te efirma-te sobre teus pés, porque por isto
te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das
coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei
ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio,
para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da
21
CETADEB Teologia Pastoral I
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são santificados pelafé
em mim..." (At 26.14-19).
0 chamamento de Paulo tinha uma missão especial,
definida nas palavras de Jesus em Atos 26.14-19: "... te apareci, para
te constituir ministro e testemunha", afirmou Jesus a Paulo,
especificando que seu ministério seria entre os gentios "para os
quais eu te envio".
Em Atos 22.14-15, Paulo ouviu de um homem comum,
Ananias, um servo de Deus, a seguinte palavra: "O Deus de nossos
pais, de antemão, te escolheu para conheceres a sua vontade...
porque terás de ser sua testemunha diante de todos os homens, das
coisas que tens visto e ouvido...".
Assim, diante de tal chamamento, para Paulo a única opção
era obedecer, exercendo o ministério sob constrangimento, isto é,
"fisgado" por Jesus.
Por isso, suas palavras aos crentes de Corinto: “Se anuncio o
evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço
de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a
responsabilidade de despenseiro que me está confiada" (1 Co 9.16-
17).
Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para
servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a alguns
o Senhor dá um chamamento especial, como deu aos setenta, aos
doze e a Paulo, em que "prende" e "agarra" para si como se fazia
antigamente a um escravo, deixando a pessoa sem opções.
Era servir, ou servir. Por isso, Paulo constantemente
afirmava: "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo,
separado para o evangelho de Deus..." (Rm 1.1). É importante
ressaltar que a palavra servo (doutos) tinha o sentido de escravo.
Era assim que Paulo se considerava: um escravo de Jesus,
assunto que repetia constantemente (Tt 1.1). Como Paulo, muitos
22
CETADEB Teologia Pastoral I
foram chamados e vocacionados por Jesus, muitos cumpriram sua
missão, muitos desistiram no meio do caminho ou se desviaram do
chamamento especial.
3. Como Ocorre O Chamamento
Não existe consenso entre os teólogos para definir se o
chamamento começa primeiramente no coração de Deus e depois
no homem, ou primeiramente no coração do homem e depois no de
Deus.
O que se percebe à luz da escritura é que as duas verdades
interagem, isto é, o chamado pode começar em Deus e também no
homem. Um dos indicativos é bem evidente na declaração de Jesus
aos discípulos: "Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande obreiros
para a sua seara" (Mt 9.38), o que indica que diante da necessidade
de novos obreiros, ora-se a Deus e ele faz a sua parte chamando as
pessoas.
Quando alguém roga a Deus que envie obreiros, parte do
pressuposto de que ele irá chamá-los. Mas o ministério pode
começar também no coração do homem quando este se dispõe a
servir a Jesus enfrentando todas e quaisquer circunstâncias.
Deus sempre olha para o coração e para as motivações do
indivíduo. Assim, o chamamento para o ministério vem sempre
através da parceria Deus e homem.
3 .1 .0 Ch a m am en to V em Pela Co n sa g ra çã o
O chamamento, via de regra, ocorre como fruto da
consagração e do compromisso com Deus. Este é um tema que será
abordado com mais detalhes no capítulo seguinte.
A afirmação de Jesus de que o pai procura adoradores que o
adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23), é um exemplo do que
ser propõe afirmar.
Ele vê o obreiro se consagrando e se dedicando e o convoca
para a sua obra. Não é pecado afirmar que Deus tem um olfato
23
CETADEB Teologia Pastoral I
apurado e localiza rapidamente os que o servem e o adoram de
todo coração.
Deus costuma sair ao encontro de tais pessoas. E começa, a
partir daí, o verdadeiro ministério ou serviço do homem para Deus.
Quando Deus encontra o que procura, coloca do seu desejo
e de sua vontade no coração do homem, e este começa a anelar
mais e mais de Deus e a fazer a sua vontade.
3 .2 .0 Ch am am en to Pode Su rg ir Atra vés Do Incentivo D e Irm ãos
Em Po sição M aio r D e A utoridade
O chamamento pode ocorrer através de obreiros que
supervisionam a obra de alguém que está envolvido no trabalho de
Deus. Vários são os exemplos deste tipo de chamamento no Novo
testamento.
O primeiro deles é Barnabé. Este, até o momento de seu
chamamento especial, era um seguidor dos ensinamentos de Cristo,
apenas mais um ajudante na igreja de Jerusalém que tinha colocado
todos os seus bens à disposição da igreja (At 4.36-37).
Mas os apóstolos de Jerusalém viram em Barnabé um
verdadeiro servo de Deus. Assim o enviaram a Antioquia para cuidar
da emergente igreja, onde muitos gregos haviam se convertido à Fé.
Isto comprova que Deus não apenas chama diretamente
uma pessoa, mas confirma o chamamento através de terceiros. Ele
utiliza líderes para encontrar novos ministros para sua obra.
O segundo exemplo é o de Saulo de Tarso. Barnabé
procedeu da mesma maneira em relação a Saulo. Assim como os
apóstolos viram em Barnabé um obreiro chamado, Barnabé viu em
Saulo um homem de grande potencial na obra de Deus. Durante o
estudo, o estudante verá a vida de Paulo e de como Deus o chamou
para o ministério.
No entanto, vale lembrar que Saulo, depois de convertido,
tentou uma aproximação com os apóstolos em Jerusalém, mas não
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CETADEB Teologia Pastoral I
foi bem aceito. Desanimado, regressou à sua cidade, Tarso, e lá
ficou trabalhando até que Barnabé o encontrou e o levou para
trabalhar ao seu lado na cidade de Antioquia.
Um terceiro exemplo é o de João Marcos. Acostumado às
lidas da igreja e ativo na igreja de Jerusalém, foi levado, na primeira
oportunidade, por seu primo Barnabé para uma viagem missionária
(At 13.5).
Sua missão era servir e auxiliar os primeiros apóstolos.
Quando uma pessoa se sente vocacionada para o ministério, o
melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes. Como
homens de Deus, saberão identificar na pessoa a chamada para o
ministério.
Um quarto caso é o de Timóteo. Paulo viu no jovem um
obreiro promissor e o levou consigo nas viagens missionárias. Todos
esses exemplos de chamamentos serão revistos ao longo deste
livro, dos quais o aluno extrairá lições preciosas para seu serviço a
Deus.
Como se vê, Deus também utiliza seus obreiros para que
observem aqueles que têm o coração no Senhor e em sua obra.
Assim, uma pessoa pode estar sendo observada por Deus através de
um líder, pois Deus, especialista em vocação, vê apenas o coração
dos seus servos, não a aparência. Isto pode ser comprovado com a
orientação dada a Samuel (16.7): "Não atentes para a sua
aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei, porque o Senhor
não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor,
o coração".
Do mesmo modo que Samuel, aquele que é líder não deve
se deter nas aparências, mas no coração dos servos de Deus. Por
outro lado, uma pessoa que se sente vocacionada para o ministério,
o melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes, que
como homens de Deus saberão identificar na pessoa a chamada
para o ministério.
Depois de expor o sentido do ministério e de como alguns
homens foram chamados, o aluno verá na sequencia, a questão da
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CETADEB Teologia Pastoral I
chamada em si, e de como poderá identificar a chamada de Deus
em sua vida.
Questões para reflexão: Meu chamamento tem sido apenas
emocional, ou tenho certeza de que preciso cumprir com o
propósito de Deus na terra?
Centralidade da reflexão: Deus vê o coração. Deus vê
também o que fazemos. E quando o que fazemos procede de uma
atitude correta, de todo coração, com verdadeiro desprendimento,
ele nos recompensa, dando-nos a certeza de nosso chamamento.
II - A Ch a m a d a
No capítulo anterior o estudante viu, de maneira sucinta,
que a chamada para o serviço ou ministério começa em Deus e
encontra sua contrapartida no coração do homem; e que ocorre
quando Deus e homem se encontram, começando a partir daí uma
parceria para levar adiante seu propósito na terra.
Essa parceria pode ter início de diversas maneiras, por isso
cada pessoa deve aprender a identificar o seu chamamento e não
comparar o chamamento de uma pessoa com a outra.
Cada chamamento tem uma particularidade ou propósito, o
que pode ser visto nos chamamentos de Abraão, Moisés, Josué,
Davi, e também de alguns dos profetas e dos servos de Deus do
Novo Testamento. Neste capítulo, o objetivo é mostrar que, em
algum momento, a pessoa saberá identificar seu chamado para
alguma missão especial.
Um dos grandes conflitos que as pessoas enfrentam é o de
saber o momento de tomar uma decisão e agir, pois toda pessoa
que sente o fogo de Deus ardendo em seu coração tem a tendência
de agir imediatamente, o que leva alguns a romper os laços
familiares, ignorando o cuidado da casa, da esposa e dos filhos,
(assuntos que será abordado com clareza quando tratarmos do
obreiro e sua família), largam seus empregos, e decidem que,
daquele momento em diante querem entrar para o ministério. Nem
sempre esta é a melhor solução.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Daí a recomendação de Jesus: "Ninguém que, tendo posto a
mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus" (Lc 9.62).
1. P r in c íp io s Q u e N o r t e ia m O C h a m a m e n t o Dos H o m e n s
D e D e u s
0 chamamento deve ser norteado por princípios
encontrados na escrituras sagradas. Estudando a vida e o
chamamento de pessoas no Antigo e no Novo Testamento, pode-se
extrair lições que ajudam o obreiro a entender o que está
acontecendo com ele.
Para tanto será necessário estudar o chamado e a
obediência de Abraão, Moisés, Josué, Davi e Paulo - apenas estes -
e ver que o chamamento destes servos de Deus está alinhado ou de
acordo com o propósito eterno de Deus.
1.1 - C ham ado E O bed iên cia
Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os
demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao
chamado de Deus.
Vários deles vacilaram diante da grandeza do chamamento,
mas foram convencidos por Deus de que deveriam obedecer. Entre
estes é possível citar Moisés e o profeta Jeremias.
Ainda que ninguém mais tenha recebido um chamamento
como o de Abraão, de Moisés, ou de Davi, para citar apenas estes,
pode-se aprender com a história deles algumas lições que ajudam a
entender o chamamento.
A braão
Abraão recebeu uma missão: peregrinar na terra que seria
de seus descendentes. Não teria residência fixa, mas viveria em
tendas em Canaã.
Todo chamamento tem uma missão. Este princípio é
percebido tanto nos personagens do Antigo quanto do Novo
Testamento.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Ao estudar cada um destes casos, percebe-se que os
homens chamados por Deus receberam uma missão a cumprir.
A missão de Abraão era de peregrinar na terra que lhe foi
prometida. Ao chegar a Canaã Deus lhe disse: "Levanta-te, percorre
essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei"
(Gn 13.17).
Abraão obedeceu. "Pela fé, Abraão, quando chamado,
obedeceu, afim de ir para um lugar que devia receber por herança;
e partiu sem saber aonde ia" (Hb 11.8).
A obediência de Abraão é citada em Romanos 4.16-25 e
Hebreus 11.8-19 como modelo de fé a todo cristão.
M oisés
Com a morte de Abraão, Deus levou Jacó a morar no Egito
onde seu filho José fora empossado como governador, e a
descendência dele permaneceu no Egito durante quatrocentos e
trinta anos, cumprindo a palavra dada a Abraão em Gênesis 15.12-
16.
Moisés, no deserto onde se refugiara durante quarenta
anos, fugindo da ira de Faraó, recebeu de Deus a incumbência de
tirar o povo de Israel do Egito.
Ele viu o fogo no arbusto que não se consumia, e ao se
aproximar, ouviu a voz de Deus lhe dizendo: "Vem, agora, e eu te
enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel do
Egito" (Ex 3.10). “A este Moisés, a quem negaram reconhecer,
dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus
como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu
na sarça. Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito,
assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos"
(At 7.35-36).
Moisés obedeceu. Depois de quarenta anos no deserto,
decidiu retornar ao Egito. "Tomou, pois, Moisés a sua mulher e os
seus filhos; fê-los montar num jumento e voltou para a terra do
Egito. Moisés levava na mão o bordão de Deus" (Ex 4.20).
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CETADEB Teologia Pastoral I
A belíssima história de Moisés retratada em romances e
filmes revela um homem de coração obediente que entendeu sua
missão na terra.
O escritor aos Hebreus diz de Moisés: “E Moisés era fiel, em
toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que
haviam de ser anunciadas" (Hb 3.5).
Josué
Josué recebeu também uma missão: Fazer o povo entrar na
terra de Canaã. Com a morte de Moisés, Deus o chamou e o
incumbiu especificamente desta tarefa. "Ordenou o Senhor a Josué,
filho de Num, e disse: Sê forte e corajoso, porque tu introduzirás os
filhos de Israel na terra que, sob juramento, lhes prometi; e eu serei
contigo" (Dt 31.23 e Js 1.1-9).
Josué obedeceu. Logo que Deus lhe falou (Js 1.1-9), Josué
arregimentou o exército e preparou o povo para entrar na terra
prometida. A história de como o povo conquistou Canaã pode ser
estudada no livro de Josué. É a história da obediência.
Davi
Davi foi chamado para ser rei e pastor de Israel. Esta era sua
missão. Apesar de jovem e inexperiente, Deus ordenou a Samuel, o
profeta que ungisse a Davi, rei de Israel. "Enche um chifre de azeite
e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos,
me provi de um rei" (1 Sm 16.1). "Também escolheu a Davi, seu
servo, e o tomou dos redis das ovelhas; tirou-o do cuidado das
ovelhas e suas crias, para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel,
sua herança. E ele os apascentou consoante a integridade do seu
coração e os dirigiu com mãos precavidas" (SI 78.70-72).
Não há registro algum nas escrituras de que Deus tenha
falado particularmente a Davi sobre seu chamamento. Deus o
chamou através do profeta Samuel para substituir a Saul. A respeito
de Davi, disse Deus: "Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo
óleo o ungi" (SI 89.20).
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CETADEB Teologia Pastoral I
Paulo
Diferentemente dos demais, Paulo recebeu de Deus a
missão de ser o pregador aos gentios, isto é, de levar as boas novas
da salvação em Cristo a todos os povos não judeus que habitavam
no mundo conhecido da época.
O relato de seu chamamento está em Atos 9.1-30. Que seu
chamamento era para os gentios, ele deixou bem claro ao se
encontrar com os demais apóstolos em Jerusalém: ele e Barnabé
pregariam aos povos não judeus, e os demais apóstolos pregariam
aos judeus. "Afim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para
a circuncisão" (Gl 2.9).
Ele tinha uma missão e nela permaneceu firme até o fim.
Deus lhe disse: "Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque
por isso te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto
das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei
ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio,
para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé
em mim" (At 26.16-18).
Paulo obedeceu. Falando para o governador Agripa disse:
"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas
anunciei primeiramente aos de Damasco em Jerusalém, por toda a
região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se
convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento"
(At 26.19-20).
No fim da vida podia afirmar: "Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé" (2 Tm 4.7). O exemplo de Paulo
será visto ao longo deste curso.
A pessoa chamada recebe de Deus uma comissionamento e
tem de obedecer. Missão e obediência são dois pontos que devem
ser considerados neste estudo. Afinal, cada um de nós é chamado
para a missão de pregar o evangelho e é preciso obedecer.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2. Conhecendo O Propósito Eterno De Deus
Para que o aluno entenda o chamamento ministerial no
Novo Testamento é necessário que se proceda aqui a um
retrospecto do propósito de Deus em chamar Abraão, formando
uma nação e um povo que levasse o seu nome.
Quando Deus disse: "de ti farei uma grande nação", o
objetivo de Deus era a formação de um povo que realizasse na terra
o propósito divino.
A igreja, nos dias de hoje é a continuação daquele projeto
divino que começou na chamada Abraão e na formação do povo de
Israel.
2.1 - A Essência Do Propósito Eterno: Um Povo P ara Deus -J
Quando Deus formou o homem, colocando no Éden a
primeira família, seu objetivo era formar um povo que estivesse em
íntima comunhão com ele. Por isso, todas as tardes visitava o Éden
e dialogava com o homem que ele criara (Gn 3.8).
A queda do homem interrompeu por algum tempo a
execução do projeto divino. Mais tarde Deus chamou a Noé e sua
família para recomeçar na terra o seu projeto, mas novamente o
pecado e a transgressão interromperam o propósito de Deus na
terra.
A partir de Gênesis 12, o propósito de ter uma família ou
povo na terra é novamente iniciado com Abraão. Como se vê, o
chamamento de Deus para Abraão era claro e específico. Ele
habitaria na terra de Canaã e iniciaria o projeto de Deus na terra.
Quatrocentos e trinta anos depois de Abraão, Deus chamou
a Moisés no monte Sinai e novamente deixou claro o seu propósito
em tirar o povo do Egito: "Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso
Deus" (Ex 6.7). A idéia de um povo separado para Deus, portanto,
começa em Gênesis e termina no Apocalipse.
31
CETADEB Teologia Pastoral I
2.2 - U m a Nação De Sa cerd o tes E A d o rad o res
Quando o povo estava a caminho de Canaã, Moisés recebeu
ordem de Deus de construir o tabernáculo. Todos os elementos e
rituais do tabernáculo apontavam para a mesma finalidade: Deus
queria habitar entre o povo. "E habitarei no meio dosfilhos de Israel
e serei o seu Deus" (Ex 29.45).
Quando Deus apareceu no monte Sinai, ele queria se
manifestar a todo o povo. Na realidade, o povo viu a glória de Deus,
mas ficou com medo. "E Moisés levou o povo fora do arraial ao
encontro de Deus" (Ex 19.17).
Os líderes chamaram a Moisés e lhe disseram: “Eis aqui o
Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua glória e a sua grandeza... hoje
vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo. Chega-
te, e ouve tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e tu nos dirás
tudo o que te disser o Senhor” (Dt 5.24,27).
O objetivo de Deus era o de habitar entre o povo,
manifestar-se, falar com as pessoas, mas o povo com medo recusou
ouvir a Deus, rogando a Moisés que servisse de intermediador entre
o povo e Deus.
Aqui também transparece a idéia de clero e laicato, tema
que foi visto anteriormente, em que uma pessoa tem acesso a Deus
e as demais ouvem. Não era este o propósito de Deus.
Ele queria uma nação de adoradores, um povo de serviço
que o representasse na terra. “Agora, pois, se diligentemente
ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a
minha propriedade peculiar dentre todos os povos. Vós me sereis
reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19.5-6).
O conceito de povo de Deus e de reino sacerdotal está em
todo o Antigo e Novo Testamento. Deus quer ter um povo no meio
do qual possa habitar.
O propósito inicial de Deus está em Êxodo 19.6: “Vós me
sereis reino de sacerdotes e nação santa". A intenção de Deus não
32
CETADEB Teologia Pastoral I
era a de haver uma tribo especial, mas que todos fizessem parte do
sacerdócio.
A idéia de "povo de Deus" é vista em toda a Bíblia. "Somos o
seu povo e rebanho do seu pastoreio" (SI 100.3). Sugere-se ao
estudante que, com uma chave bíblica investigue todas as
passagens em que aparece a expressão povo, nação e Israel de
Deus.
2.3 - A Ig reja É O Povo De Deus
A igreja é a continuação do propósito de Deus desde a
criação do homem, pois Deus jamais recuou do seu propósito. Com
o surgimento da igreja, a mesma mensagem do passado é
proclamada pelos apóstolos do Novo Testamento. Pedro, um dos
apóstolos, repete para os primeiros cristãos o mesmo discurso de
Deus proferido ao povo de Israel quando este vagava pelo deserto
dois mil anos antes. (Veja Êxodo 19.5-6).
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de
Deus" (1 Pe 2.9-10).
Assim, a idéia ou propósito inicial de Deus é de que todos o
sirvam em sua presença; que todos sejam adoradores e que sejam
habitação de Deus na terra.
A idéia inicial de Gênesis 12 em Abraão, com Moisés, Davi e
todo o Israel é levada adiante na igreja, e culminará com o reino de
Deus na terra no final dos tempos. Por isso, em Apocalipse está
escrito: "Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o
tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles
serão povo de Deus, e Deus mesmo estará com eles... contemplarão
a sua face, e na sua fronte está o nome dele" (Ap 21.3 e 22.4).
Portanto, é possível afirmar que hoje todos são chamados
para servir a Deus, e o chamamento individual não pode fugir dessa
33
CETADEB Teologia Pastoral I
linha mestra, isto é, que Deus tem um propósito com o homem na
terra. Assim, existe um chamamento geral para todos. Tema que
será desenvolvido a seguir.
3. O Chamamento De Deus E O Cumprimento De Seu
Propósito Para Todos
Pode-se observar acima, que Deus chama pessoas dando-
lhes um chamamento específico com a finalidade de cumprir o seu
propósito na terra. Antes de se abordar a questão do chamamento
individual, que é o objetivo desta lição, seria bom o aluno analisar o
que a escritura tem a dizer sobre o chamamento para todos.
3 .1 .0 C h a m a m en to G eral E O Específico
Alguns acham que Deus não chama mais as pessoas para o
ministério, de maneira audível, em sonhos, em visões ou através de
uma profecia: basta a pessoa obedecer à vontade moral de Deus e
este irá abençoar e apoiar quaisquer que sejam as decisões que a
pessoa tomar, isto é: quando alguém tem comunhão com Deus e
um coração puro, a decisão que tomar tem a aprovação de Deus.
Respeitando-se esta posição teológica, não se deve negligenciar que
Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente e que pode utilizar
quaisquer métodos para falar ao coração de uma pessoa chamando-
a para o ministério.
No entanto, é preciso deixar bem claro que as escrituras
enfatizam o envolvimento de todos os santos no ministério, ou na
obra de Deus.
Para isto ele delegou poderes concedendo “uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo" (Ef 4.11-12 - grifo do autor).
Quer dizer: os ministérios foram dados à igreja para
aperfeiçoar o desempenho dos santos na obra de Deus. Ora, o texto
34
CETADEB Teologia Pastoral i
acima deixa bem claro que todos podem ser aperfeiçoados para
trabalhar na obra de Deus.
Neste texto é possível observar o chamamento específico -
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres - e o
chamamento geral (os santos) para a obra de Deus.
Os ministérios de Efésios 4.11 são para o aperfeiçoamento
de todos os santos. A palavra grega para "aperfeiçoamento" é
katartismos que tem o sentido de "consertar", "remendar" ou
"aperfeiçoar". A melhor tradução seria "colocar em ordem os santos
para o desempenho do seu serviço".
Assim, num só texto é possível ver os ministérios específicos
de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, e o
ministério geral de todos os santos.
3.2. T o d o s So m o s M in istro s D e J esus
De maneira geral, todo cristão comprometido é um ministro
de Jesus, porque serve a Deus, indistintamente de títulos e de
reconhecimento dos homens. Para tanto, o crente o serve com os
dons naturais e com os dons sobrenaturais.
Os dons naturais estão listados em Romanos 12: "Tendo,
porém, diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada: se
profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério (serviço)
dediquemo-nos ao ministério (serviço); ou o que ensina esmere-se
no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui
com liberalidade; o que preside (lidera), com diligência; quem exerce
misericórdia, com alegria" (Rm 12.6-8 - acréscimos do autor).
Os dons sobrenaturais distribuídos pelo Espírito Santo aos
membros da igreja estão em 1 Coríntios 12.4-11. Palavra de
sabedoria, palavra de conhecimento, discernimento de espíritos,
dons de curar, operações de milagres, fé, profecia, línguas e
interpretação de línguas.
Cada pessoa pode "ministrar" ou servir a Deus a partir desta
capacitação espiritual. No entanto, é preciso acentuar que Deus
ainda chama algumas pessoas para ministérios específicos.
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CETADEB Teologia Pastoral I
4. Chamamentos Específicos
No ponto anterior o estudante entendeu que todos os
crentes são chamados para o serviço de Deus, e, portanto,
habilitados pelo Espírito Santo. Todos servem a Cristo no corpo, que
é a igreja, e entendeu também que, para alguns Deus tem um
chamamento especial, ou ofícios indicados por Jesus. Enquanto os
dons são para todos, o chamamento é para alguns.
Paulo refere-se a esse chamamento usando a expressão "a
uns Deus estabeleceu", indicando que entre muitos, alguns têm uma
vocação especial.
Logo que termina sua abordagem sobre os dons
sobrenaturais, concedidos a todos, Paulo afirma que "a uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo
lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de
milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas" (1 Co 12.28).
Nesse versículo, Paulo está afirmando que os dons estão
disponíveis a todos, mas que Deus estabelece alguns na igreja com
ministérios específicos.
Deus chama os que estão ocupados, exercendo seus dons
na igreja, e é aqui que cada pessoa precisa discernir quando Deus a
está chamando e incluindo-a no seleto grupo menor de que Paulo
fala. "A uns Deus...". Apesar de se trabalhar na obra como todos os
crentes, contribuindo com talentos, deve-se ficar atento para o
momento em que Deus chama especificamente uma pessoa para
alguma tarefa na igreja.
Às vezes é preciso deixar o emprego, dedicando-se
totalmente ao serviço (ministério) para o qual foi convocado, afinal
Deus continua falando a homens e mulheres, separando-os para o
ministério.
É preciso enfatizar novamente que o chamamento é
individual e a experiência de cada pessoa diferente da outra.
36
CETADEB Teologia Pastoral I
Tratando deste tema, o pastor Erwin Lutzer, da igreja Memorial
Moody em Chicago arriscou uma definição de chamado: "O
chamado de Deus é uma convicção interior, dada pelo Espírito Santo
e pelo corpo de Cristo" (Erwin Lutzer em De Pastor Para Pastor,
Editora Vida, p. 14).
Lutzer apresenta três parâmetros ou linhas seguras que
podem orientar e servir de baliza às decisões que um obreiro tomar:
Convicção interior; a ação do Espírito Santo; e a opinião dos
membros do corpo de Cristo. Estas três coisas serão analisadas a
seguir.
A convicção interior é importante, porque nenhum
obstáculo é grande o suficiente para impedir que uma pessoa
vocacionada se dedique integralmente ao serviço de Deus. Esta
convicção não pode ser fruto apenas das emoções, porque as
emoções vêm e vão.
Mas, quando a convicção vem por parte do Espírito de Deus,
as decisões são firmes e corretas. Uma pessoa convicta de seu
chamamento enfrenta os demônios e o inferno.
É aqui que a pessoa precisa contar com o terceiro elemento:
a opinião da igreja, pois a igreja é composta da totalidade dos
crentes que formam o corpo de Cristo, e esta percebe quando uma
pessoa tem o chamamento ou não para o ministério. Estes três
fatores citados por Lutzer - convicção interior, a voz do Espírito
Santo e a confirmação pelo corpo de Cristo - juntas são ótimas
balizas para que um obreiro tenha certeza do chamamento.
Muitos irmãos atendem ao pedido de consagração ao
ministério feito por pastores que apelam para as emoções dos seus
ouvintes, esquecendo-se que, sempre que só a emoção é ativada,
no decorrer dos anos alguns desistem.
Pelo fato de algumas pessoas serem movidas pela emoção,
certos líderes - entre eles Lutero e Spurgeon - não incentivavam
ninguém a entrar para o ministério da palavra. É possível tratar
deste tema evitando os extremos.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Charles H. Spurgeon precisava selecionar os candidatos que
vinham estudar em sua escola, e desabafou: "É sempre uma tarefa
difícil para mim, desanimar um jovem que solicita matrícula nesta
escola. Meu coração sempre se inclina para o lado mais bondoso,
mas o dever para com as igrejas me impele a julgar com severa
discriminação. Se me convenço de que o Senhor não o chamou, me
sinto obrigado a dizer-lhe isso" (SPURGEON, Charles H. In A
Transparência no Ministério (Edson Queirós), Editora Vida p. 31).
Certamente esses homens de Deus, na época em que
viveram tinham lá suas razões, e deve-se respeitar o que esses
servos de Deus pensavam quanto ao chamamento de obreiros, no
entanto, alguns são inclinados a pensar como Paulo que incentivava
os discípulos para o ministério. Ele escreve a Timóteo: "Fiel é esta
palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja" (1
Tm 3.1).
Alguns eruditos afirmam que naquela época já havia
pessoas interessadas no ministério como um emprego, contudo,
exercer o ministério nos primeiros séculos da era cristã era colocar a
vida em risco. Ninguém aspiraria o ministério por interesses
financeiros.
É possível que Paulo esteja afirmando que é importante
examinar a motivação do coração, porque ali pode estar um desejo
colocado por Deus.
Quando se estuda as cartas de Paulo a seu discípulo
Timóteo, pode-se ver no colaborador um moço tímido e calado, a
ponto de Paulo animá-lo com tantas palavras. “Não te faças
negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido
mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério" (1 Tm
4.14).
No decorrer do curso, este texto será examinado com maior
profundidade. Na próxima lição o aluno estudará sobre o
chamamento e a obra de Deus, e o assunto ficará ainda mais claro
diante de seus olhos.
38
CETADEB Teologia Pastoral I
Questão para reflexão: Estou me precipitando ao tomar a
decisão de abandonar tudo a favor do ministério, ou pesei os prós e
contras, ponderando atentamente sobre cada aspecto de minha
vida? Entendo, perfeitamente que o chamamento de Deus para
minha vida não pode fugir ao seu propósito eterno?
Centralidade da reflexão: Lucas 14.25-33. Jesus nos ensinou
que temos de calcular o custo de um empreendimento.
Atividades - Lição I
> Marque "C" para Certo e "E" para Errado
1) □ Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é a
tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa
servir.
2) 0 Basicamente, ministro é alguém que é servido, e não quem
serve.
3) O A palavra grega traduzida como ministro é "liturgo"
(leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que não dispõe de
recursos próprios a serviço do reino ou da sociedade.
4) IE J Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para
servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a
alguns o Senhor dá um chamamento especial.
5) 0 3 Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os
demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao
chamado de Deus.
□6) LU Deus chama os que estão ocupados.
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CETADEB Teologia Pastoral I
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CETADEB Teologia Pastoral I
42
CETADEB Teologia Pastoral I
O Cham am ento E A Hora De Deus
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esta lição estudaremos sobre o
chamamento pessoal e específico,
buscando entender o momento certo de
tomar decisões, já que qualquer decisão
ministerial traz a reboque conflitos
pessoais, que se não forem bem
administrados, deixarão marcas para toda a vida.
O momento de agir, de tomar uma decisão, de abandonar o
emprego ou de deixar de seguir uma carreira profissional, como
pôde ser visto no capítulo anterior requer convicção, direção do
Espírito Santo e apoio da igreja.
Resumindo, é preciso tomar uma decisão, e a igreja, ou os
irmãos em Cristo da congregação podem ajudar o obreiro nesta
tarefa. Sem a ajuda dos irmãos pode-se até duvidar do
chamamento. Quanto tempo uma pessoa deve esperar para
avançar. O que fazer?
O aluno poderá tirar lições preciosas de homens de Deus,
observando a maneira como reagiram diante de um chamamento
divino. Também verá os critérios utilizados pelos apóstolos para o
ministério na Casa de Deus. Este tema, portanto é imprescindível a
todo o que quer servir ao Senhor.
1. O b s e r v a n d o O C o m p o r t a m e n t o D e A lg u n s H o m e n s
D e D eu s
Dentre os muitos casos da Bíblia, o aluno verá o
chamamento de Davi, no Antigo Testamento, e o de Paulo, no Novo
Testamento, de cujas vidas tirará preciosas lições. Na vida destes
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CETADEB Teologia Pastoral I
dois homens de Deus percebe-se a existência de um período de
transição e de espera entre o chamamento e o cumprimento da
chamada, e o que o aluno aprender à luz da vida deles servirá de
ajuda, evitando que cometa enganos, seja apressando-se a cumprir
logo a missão ou demorando a cumpri-la.
Na lição anterior, estudou-se o chamamento específico de
Davi para ser rei e pastor de Israel. Agora, quer se destacar que
entre o chamamento, quando foi ungido por Samuel até o dia em
que foi colocado como rei de Israel, tomando posse definitiva como
rei, passaram-se vinte e um anos. Conforme a cronologia bíblica, ele
foi ungido rei em 974 a.C., e tomou posse do reino em 953 a.C.
1.1. A Pa ciên cia E Respo n sabilid a d e D e Davi
Depois de ungido rei de Israel, Davi voltou para o campo
cuidar das ovelhas de seu pai e esperou em Deus que se encarregou
de colocá-lo no palácio de Saul. Qualquer pessoa, no lugar de Davi
quereria se proclamar rei de Israel no dia seguinte, mas não foi o
que fez Davi. É isso que se vê nos registros de 1 Samuel 16 e 17.
Tempos depois, quando Saul começou a ter ataques
malignos, foi recomendado por seus servos a ouvir um pouco de
música, e ele imediatamente ordena: "Buscai-me, pois, um homem
que saiba tocar bem e trazei-mo". "Casualmente" um dos moços
que servia a Saul no palácio conhecia Davi e o recomendou ao rei.
Assim, Deus tira Davi do campo e o coloca no palácio.
Davi sempre esperou o movimento de Deus. Pelo que se
depreende das escrituras, ele cumpria sua tarefa na casa de Saul e
regressava para o campo de Belém. "Davi, porém, ia a Saul e voltava
para apascentar as ovelhas de seu pai, em Belém" (1 Sm 17.15). Ao
estourar a guerra entre os filisteus e o povo de Israel, Davi foi
enviado por Jessé ao fronte da guerra para levar alimentos aos seus
irmãos e saber notícias deles.
Nesse momento, Deus deu o próximo passo e tornou Davi
famoso em toda a nação ao permitir que Davi enfrentasse e
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CETADEB Teologia Pastoral I
vencesse Golias, que durante quarenta dias ameaçava o exército de
Israel (vv. 16 e 23).
Essa passagem bíblica permite perceber que quando Deus
chama, também toma as providências e toma a iniciativa. O mais
difícil para qualquer pessoa é aprender a esperar o próximo
movimento de Deus. Ninguém deve se apressar e sair à busca de
cargos e posições.
Dois episódios na vida do jovem Davi mostram seu alto grau
de responsabilidade. Antes de tomar a estrada para levar pães e
queijos a seus irmãos que estavam no fronte da batalha com os
filisteus, ele deixou as ovelhas aos cuidados de um ajudante. E
quando chegou onde seus irmãos estavam, deixou o material que
levava com o guarda da bagagem.
Estes dois versículos evidenciam a importância do obreiro
ser responsável naquilo que lhe é confiado. "Davi, pois, no dia
seguinte, se levantou de madrugada, deixou as ovelhas com um
guarda, carregou-se e partiu...” (1 Sm 17.20) e "deixando o que
trouxera aos cuidados do guarda da bagagem, correu à batalha: e,
chegando, perguntou a seus irmãos se estavam bem" (1 Sm 17.22).
Em nenhum momento Davi descuidou-se de suas
responsabilidades. Seguindo o exemplo de Davi, o obreiro deve
permanecer fiél sendo responsável com o que lhe é confiado.
Se nas atividades do dia-a-dia da obra do Senhor, na igreja,
no emprego e com a família ele não mostrar responsabilidade, não
estará apto para o ministério ou serviço cristão. Deus o observa
para certificar-se de que é responsável, pois apenas estes são aptos
ao chamamento divino.
Na parábola dos talentos, Jesus conta que um dos homens
recebeu cinco talentos, outro, dois e o terceiro apenas um talento,
"segundo a sua própria capacidade” (Mt 25.15). Neste texto Jesus
dá a chave para o sucesso ministerial: capacitação e
responsabilidade. Quando alguém demonstra responsabilidade
habilita-se a receber responsabilidades ainda maiores.
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CETADEB Teologia Pastoral I
1.2. Pa u lo : Exem plo De Espera
Depois de seu encontro com Deus na estrada de Damasco,
Paulo precisou aprender a esperar que Deus guiasse seus passos, e
esperou o momento de agir. Ele mesmo dá a entender que logo
depois de sua conversão não subiu imediatamente para os
apóstolos em Jerusalém; tomou a direção contrária, indo para as
regiões da Arábia retornando depois para Damasco (Gl 1.15-17).
Apesar da convicção de que fora chamado por Deus para ser
pregador aos gentios, Paulo não se apressou a fazer parte do círculo
de apóstolos de Jerusalém, antes se retirou para o deserto e
somente três anos depois subiu para Jerusalém (Gl 1.18-24 e At
9.26-30), até porque os apóstolos que estavam em Jerusalém
desconfiavam de sua conversão, e evitavam encontrar-se com ele.
Na primeira viagem a Jerusalém depois de convertido,
somente Barnabé o acolheu como discípulo de Cristo. Este o
apresentou aos demais apóstolos, mas devido a ameaças de
perseguição contra a igreja os apóstolos recomendaram a Paulo que
fugisse de Jerusalém, o que ele fez voltando para sua cidade natal,
e, ao que parece, continuou com fabricação de tendas para poder
se sustentar.
O próximo movimento de Deus na vida de Paulo ocorreu
novamente através de Barnabé. Este "Filho da Exortação" foi
enviado pelos apóstolos para cuidar de uma emergente igreja
gentílica em Antioquia, e sentiu que Paulo poderia ser de grande
ajuda, por isso, “partiu Barnabé para Tarso à procura de Saulo; e
tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia" (At 11.25-26).
Na cidade de Antioquia, Paulo ficou esperando o próximo
movimento de Deus. Depois de servir humildemente ao Senhor, ao
lado de Barnabé durante um ano inteiro, o Espírito Santo o chamou
para pregar aos gentios.
O encontro de Paulo com Deus e seu chamamento não
encontram paralelo no Novo Testamento, isto é, não há registro de
algo semelhante, no entanto, apesar da grande experiência de
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CETADEB Teologia Pastoral I
conversão e chamamento - tudo num só pacote - não se apressou.
Além dos três anos na Arábia, Paulo residiu algum tempo em
Damasco e dali partiu para sua cidade natal, Tarso. Quando Barnabé
saiu à procura dele encontrou-o em Tarso, certamente não só
trabalhando, mas também estudando as escrituras, o que era
comum fazerem os rabinos daquela época.
Estes dois exemplos bíblicos são evidências de que entre o
chamamento e o desenvolvimento da missão, muitas vezes, é
necessário esperar em Deus, enquanto se cumpre com as
responsabilidades sociais, trabalhando, cuidando da família, etc.
Esta é a melhor espera.
Além dos exemplos de Davi e Paulo aqui citados, o
estudante, a seguir, verá alguns exemplos do Novo Testamento,
tentando identificar neles alguns critérios que os líderes apostólicos
usaram para identificar os irmãos que tinham a chamada de Deus
para o ministério.
Os apóstolos se depararam com a necessidade de
estabelecer critérios para identificar e constituir no serviço de Deus
ou ministério as pessoas que tinham um chamamento divino.
2. Critérios Usados Pelos A póstolos
Estudando o Novo Testamento, percebe-se que os obreiros
e os envolvidos no serviço do Mestre eram pessoas da comunidade
local, isto é, exerciam algum tipo de atividade na cidade onde
moravam, e passavam a exercer seu ministério tendo como base,
primeiramente, a igreja da cidade.
Com exceção dos doze apóstolos, de Paulo e de Apoio,
todos os demais obreiros referidos no Novo Testamento eram
pessoas conhecidas na própria cidade onde a igreja se estabelecia.
Ao que parece, os pais apostólicos perceberam a necessidade de
estabelecer alguns critérios na escolha dos obreiros, como veremos
a seguir.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2.1. Raízes Co m u n itá ria s
O estabelecimento de critérios surgiu bem no começo da
igreja quando os apóstolos tiveram que decidir quem ocuparia o
lugar de Judas, o traidor, completando o número de doze apóstolos.
E estabeleceram um critério: Deveria ser alguém que
conhecesse a Jesus desde o dia quando este foi batizado, e que
tivesse acompanhado a vida de Jesus até o dia em que subiu ao céu.
"É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o
tempo que o Senhor Jesus andou entre nós começando no batismo
de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um
destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição" (At 1.21).
Dois nomes foram sugeridos: José e Matias. Estes dois
preenchiam os requisitos apostólicos porque acompanharam o
ministério de Jesus desde o batismo de João, e por conhecerem a
Jesus tanto tempo, preenchiam o primeiro critério, habilitando-se a
serem incluídos no rol dos doze apóstolos.
Anos mais tarde, os apóstolos usaram critérios semelhantes
para indicar quem deveria acompanhar a Paulo e a Barnabé, logo
após o Concílio da igreja em Jerusalém, para evangelizar os gentios,
e escolheram Judas e Silas para acompanharem a Paulo e a Barnabé
na missão de orientar os novos cristãos quanto às decisões tomadas
no Concílio (At 15.26-27). Novamente estabeleceram um critério:
"Homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo" (At 15.26). Estes dois, "que eram também profetas,
consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram" (At
15.26,32).
Fica evidente, portanto, que José (Judas) e Silas foram
contemporâneos de Jesus, e preenchiam os requisitos: deveriam
conhecer Jesus desde que começou seu ministério ao ser batizado
por João.
Isto é o que se convém chamar de "raízes comunitárias",
isto é, pessoas que eram conhecidas de todos os habitantes de um
determinado lugar.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2.2. Q u alid ad es Espiritu a is E Caráter
Quando a igreja precisou escolher seus auxiliares, os
apóstolos estabeleceram os parâmetros de conduta: Deveriam ser
"homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria" (At
6.2-3).
É importante ressaltar que das qualidades acima, a
reputação é a única que não se adquire numa semana, adquire-se
durante os anos de vivência numa localidade. Os frutos de uma
pessoa não aparecem logo que ela se converte. Uma série de
fatores pode ajudar a entender se uma pessoa frutificou ou não.
Quando se é jovem, querendo entrar no ministério, mas não
se tem raiz comunitária, o melhor que a pessoa pode fazer é
permanecer numa igreja local, numa cidade e ali criar raízes. Deve
ser discipulada a Cristo, trabalhar para ganhar o sustento, criar
reputação, e só então, estará qualificada para o ministério.
Barnabé foi escolhido para cuidar da recém formada igreja
de Antioquia porque apresentava a qualidade espiritual necessária:
"porque era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé" (At 11.22-
24).
Não apenas isto: ele tinha bom testemunho na cidade de
Jerusalém. "José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de
Barnabé, que quer dizerfilho de exortação, levita, natural de Chipre,
como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou
aos pés dos apóstolos" (At 5.36-37).
Barnabé tinha raízes em Jerusalém, era conhecido por seu
caráter, por ser um homem bom e cheio do Espírito Santo. Tinha
raiz comunitária.
2.3. Bom T estem u n ho
A palavra pedigree serviria para identificar a qualidade dos
obreiros, não fosse ela uma palavra usada para identificar a
qualidade ou raça de animais. Mas aqui, é usada, sem querer ferir a
CETADEB Teologia Pastoral I
dignidade de ninguém, para mostrar que os obreiros escolhidos no
Novo Testamento eram homens e mulheres de qualidade de vida
inquestionável.
Traduzindo para os dias de hoje, tinham CPF, ID e não
constavam na lista dos devedores da cidade, ou seja, tinham
pedigree. Este pedigree pode ser visto em duas pessoas que
acompanharam os apóstolos em suas viagens: Timóteo e João
Marcos.
Paulo viu no jovem Timóteo um potencial para a obra de
Deus. "Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia
crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos
em Listra e Icônio" (At 16.1-2 - grifo do autor).
Timóteo tinha bom testemunho das pessoas da cidade, isto
é, raízes na cidade onde crescera, e os irmãos de Listra e de Icônio o
recomendaram a Paulo. Esse "bom testemunho" é o pedigree do
obreiro.
João Marcos era um jovem que se envolveu desde cedo na
obra de Deus. Na casa dele em Jerusalém, a igreja se reuniu durante
a ferrenha perseguição que resultou na morte de Tiago (At 12.12).
Quando o Espírito Santo enviou a Barnabé e a Saulo para os
gentios, João Marcos viajou com eles pregando o evangelho (At
13.5). A escritura não nos diz por que Marcos abandonou a Paulo e
Barnabé, voltando para Jerusalém (At 13.13), atitude gerou uma
séria desavença entre Paulo e Barnabé que se dali em diante se
separam também (At 15.36-40). Mas João Marcos, apesar de tudo,
não desistiu, e é visto ajudando a Paulo quando este está no fim da
vida (Cl 4.10 e 2 Tm 4.11).
Pelo que se pode observar, João Marcos possui uma
identificação com a igreja e os apóstolos, porque desde menino
acompanhou as atividades de Jesus, residindo em Jerusalém, onde a
igreja se reunia na casa dele.
Através da atividade na igreja local os jovens obreiros
podem criar raízes e serem observados no serviço ao Senhor. Os
apóstolos levavam a sério esse detalhe.
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Teologia Pastoral I
Os obreiros por eles escolhidos eram homens conhecidos
também em suas cidades. Um líder local conhece os costumes e o
jeito de ser do povo. Ele consegue evangelizar e treinar discípulos
porque tem relacionamentos na cidade.
Conhece o barbeiro, o funcionário dos Correios, o dono da
loja, o gerente do Banco, o dono da sapataria, o garçom, o dono do
restaurante, o diretor da escola de seus filhos, o delegado, o
prefeito, etc. Ele é gente do povo, da cidade, e através dos seus
relacionamentos que pode levar muitos a buscarem a Deus.
3. Vida De Trabalho
Outro aspecto que deve ser seriamente considerado no
chamamento, é que Deus não vocaciona preguiçosos. Ele chama os
mais ocupados. Através de uma vida de serviço, o obreiro dá
testemunho de que é trabalhador e passa a ser observado pelo
pastor e pela igreja.
É na vida congregacional que se aprende a servir a Deus e
aos irmãos. Todos os que foram chamados por Deus para alguma
missão no Antigo ou Novo Testamento estavam ocupados em
alguma atividade profissional. Deve-se ter em mente Moisés que
pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro quando Deus o atraiu na
sarça ardente (Ex 3.1).
Outro exemplo é de Gideão que estava malhando o trigo -
que certamente acabara de ceifar - quando o anjo do Senhor o
encontrou e o chamou (Jz 6.11). Davi cuidava das ovelhas de seu
pai, quando foi chamado para ser ungido rei de Israel (1 Sm 16.11).
Eliseu arava o campo à frente de doze juntas de bois,
quando Elias o encontrou jogando sobre ele seu manto (1 Rs 19.19).
Amós trabalhava como boieiro e colhedor de sicômoros, quando foi
chamado (Am 7.14). Pedro, Tiago e João, pescadores, lançavam as
redes, quando o Senhor Jesus os chamou (Lc 5.1-10).
Mateus recebia os impostos, quando foi chamado a seguir a
Jesus (Lc 5.27-28). Paulo, a serviço dos sacerdotes, perseguia e
prendia os discípulos de Jesus, e fabricava de tendas (At 8.3; 18.3).
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CETADEB Teologia Pastoral I
Tudo isso pode ser resumido numa frase: Deus não chama os
preguiçosos.
4. Vida De Submissão
Ainda outro aspecto é o da submissão à autoridade. O texto
bíblico "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores;
porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que
aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os
que resistem trarão sobre si mesmos condenação" (Rm 13.1-2), é
peça-chave para entendermos que a questão da submissão à
autoridade abrange todas as áreas da vida de uma pessoa, não
apenas a vida espiritual.
Quando alguém não aprendeu a submeter-se aos pais, ao
professor e ao patrão, terá sérias dificuldades em submeter-se
também ao seu pastor e ao Espírito Santo. Deus não espera de seus
servos apenas obediência irrestrita, mas também o
desenvolvimento de um espírito de submissão.
Quando isto não acontece, a pessoa terá muita dificuldade
em relacionar-se com os demais colegas de ministério. As heresias
que surgiram no seio da igreja desde os primeiros séculos, têm aí
suas raízes; vieram por pessoas que não souberam ouvir os mais
velhos nem se submeteram às autoridades da igreja.
É importante que os obreiros que viajam e têm um
ministério itinerante, também estejam debaixo da autoridade de
um obreiro mais antigo e experimentado na obra de Deus. O
ministério itinerante é quando o obreiro não se fixa no trabalho de
uma igreja local, mas viaja constantemente de um lugar a outro
pregando a palavra de Deus.
É preciso, portanto, deixar uma palavra àqueles que
decidem por este tipo de ministério que só é duradouro e eficaz se
o ministro estiver submisso à autoridade de um ministério, de outro
pastor ou da igreja onde é membro, do contrário poderá ser
questionado.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Há muitos pregadores sem referencial congregacional, que a
ninguém prestam contas, seja ao pastor da localidade, ao ministério
da igreja, ou à sua ordem de ministros, buscando uma oportunidade
de pregar nas igrejas sem a devida autoridade de alguém que lhe
seja superior.
Todo pregador ou ministro que opta por um ministério
itinerante tem que necessariamente ter o respaldo de um
supervisor e de uma igreja na cidade de origem. Certos obreiros
itinerantes pressionam igrejas e pastores para que os recebam em
suas igrejas, no entanto, como já foi mencionado, o verdadeiro
homem de Deus não precisa fazer pressão à cata de espaço para
pregar a palavra de Deus, porque o verdadeiro servo está sempre
com a agenda lotada.
Estes devem examinar a fundamentação de seu ministério à
luz do ensino do Novo Testamento, especialmente nas cartas de
Paulo, criando raízes na cidade antes de se aventurarem na obra.
Ainda que o chamado do obreiro seja para o ministério
itinerante, necessário se faz que crie raízes na igreja local,
submetendo-se a um ministério, presbitério ou concílio que apóie e
ore a seu favor. Trata-se de cobertura espiritual. Nenhum homem
de Deus vive só. A solidão é a ruptura pela qual o Diabo seduz o
melhor homem de Deus. Prestar contas a alguém é fundamental
para o sucesso ministerial.
5. Conselhos Práticos A os Obreiros.
Finalizando este tema, duas orientações são importantes
aos novos obreiros do Senhor.
Não se deve buscar resultados imediatos. Os frutos de um
ministério só serão vistos anos depois, e não de imediato como
tantos anelam ver. Certas semeaduras produzem com rapidez,
como o feijão, o arroz e o trigo - rapidamente colhidos e
consumidos, e precisam ser plantados ano após ano; mas,
determinadas árvores demoram anos para que seus frutos
apareçam, e depois frutificam regularmente a cada estação do ano.
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CETADEB Teologia Pastoral I
A videira produz uva todos os anos, seus ramos velhos e
retorcidos - alguns com quase um século de vida brotam
sistematicamente, de quando em quando, e a safra de seus vinhos
são sempre as melhores. É possível ver velhas oliveiras dando
frutos, e videiras ainda frutificando. Assim deve ser o ministério.
Produzem-se frutos ao longo de toda a vida.
Deve-se colocar no coração o desejo de desenvolver um
ministério que influencie positivamente a geração em que se vive,
sem se deixar impregnar pela nódoa da mentira, da falsidade, do
egoísmo, da inveja, do adultério, da prostituição e do amor próprio.
Do contrário, o ministério será como o fruto azedo de uma
árvore que não pode ser apreciado, mas lançado fora. É necessário
marcar a geração da qual se faz parte, isto é, marcar a vida daqueles
que andam e vivem lado a lado, tornando-se conhecido como planta
frutífera que produz fruto apreciado por todos.
Logo, não se deve ter pressa. O mesmo Deus que chama,
dará a recompensa.
Não se deve fazer do ministério um emprego. O ministério
exige do obreiro renúncia a toda ganância material. Equivoca-se o
obreiro que pensa em enriquecer pela via ministerial,
demonstrando que não entendeu o chamamento divino nem a
dimensão do propósito de Deus. Os dons que Deus concede ao
obreiro não têm como objetivo o benefício próprio, mas a
edificação dos outros.
A vida ministerial é de despojamento contínuo; é uma vida
de entrega diária, de morte, de negação do eu, das riquezas e da
fama. Trilhar pelo caminho ministerial pensando em
enriquecimento é um grande equívoco.
Aliás, viver a vida cristã, independentemente de ser um
ministro do evangelho ou não, pensando em enriquecimento, é um
desvio do propósito de Cristo e de seu evangelho; é andar na
contramão de Deus, pois todo crente deveria obedecer ao
evangelho de Cristo, fugindo da ganância, do desejo de se
enriquecer, e viver a vida cristã dentro dos moldes do evangelho.
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CETADEB Teologia Pastoral I
A teologia da prosperidade não encontra respaldo nos
ensinamentos de Cristo. Há uma prosperidade que vem pelo
evangelho, e por ela o cristão é contemplado enquanto vive.
O ministério não terá base, se o obreiro não estiver
alicerçado na vida da igreja local, se não estiver submisso a pastores
ou aos órgãos da igreja, se não estiver fundamentado nas escrituras
e no ensino apostólico. Esses parâmetros, certamente servirão de
orientação à vida ministerial.
Questão para reflexão: A quem presto contas de minhas
atividades? Estou submisso a alguém, ou sou totalmente
independente?
Centralidade da reflexão: A submissão e a prestação de
contas são fundamentais para o crescimento do obreiro. Leve-se em
conta que toda independência e rebelião têm sua origem em
Satanás, e que a obediência tem sua origem em Jesus Cristo.
A Preparação Para O M inistério
N
esta lição o estudante terá
esclarecimentos de como uma pessoa
pode se preparar para o ministério,
desempenhando a tarefa que lhe foi por
Deus designada agindo com sabedoria,
prudência e plena de capacitação.
A preparação para o ministério pode ser bastante
diversificada. No passado, quando não havia treinamento teológico
em escolas bíblicas, cursos por correspondências, seminários e
afins, algumas igrejas reuniam pessoas de diversas cidades e
realizavam seminários intensivos para capacitá-las como obreiros
para o ministério.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Hoje as facilidades do mundo das comunicações agilizaram
o processo desse aprendizado bíblico através de livros
especializados no tema, de programas de rádio, de televisão e da
Internet.
Não importa o meio utilizado, o mais importante é ter em
mente que, por ser o ministério uma honra e privilégio outorgados
por Deus o obreiro precisa fazer sua parte preparando-se
academicamente para o exercício do ministério.
1. A Preparação
Preparar-se não é desperdiçar tempo nem dinheiro. João
kolenda, costumava ilustrar o tempo gasto por um aluno em seus
estudos, a alguém que afia o machado antes de entrar na floresta
para cortar árvores. Enquanto os outros lenhadores cortam poucas
árvores, o que afia seu machado ainda os alcança, tempos depois e
os supera no trabalho. O tempo que se gasta na preparação não
tempo jogado fora. Joga-se fora o tempo de outras maneiras, mas
nunca se dedicando ao estudo e a oração.
O obreiro deve se preparar para servir a Deus oferecen
lhe o melhor de seu tempo e de sua vida, porque quer trabalhar
para Deus. Ele se prepara sem se preocupar com os títulos e cargos
na igreja. Ele tem em mente Deus e sua obra.
Os títulos nem sempre mostram o peso e a envergadura do
ministério - por isso não se deve cobiçá-los nem nutrir por eles
grande apreço. Quando se é jovem anela-se os títulos porque eles
dão uma falsa noção e posição de governo e autoridade, mas ao
longo dos anos descobre-se que o que concede autoridade e poder
ao obreiro é a comunhão diária com Deus e os frutos do ministério.
Isto pode ser confirmado pela experiência de Paulo.
Paulo, logo que começou seu ministério, ao que parece,
queria ser reconhecido como os demais apóstolos que andaram
com Jesus, por isso defendia e se empenhava em ter seu
chamamento reconhecido, uma vez que muitos irmãos não o
reconheciam como apóstolo.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Ele se defendia argumentando: “Porque suponho em nada
ter sido inferior a esses tais apóstolos" e "eu sou apóstolo dos
gentios" (2 Co 11.5; Rm 11.13). Depois, no decorrer dos anos, Paulo
não mais se interessou pelo que os homens pensavam dele, mas
com a opinião de Deus a seu respeito.
Ser um apóstolo não era mais motivo de orgulho, e sim de
desprezo. "Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os
apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte;
porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a
homens" (ICo 4.9).
Que contraste com os que se dizem apóstolos nos dias
atuais. Mais tarde, Paulo afirma ser "o menor dos apóstolos" (1 Co
15.9). Imagine o homem que recebeu de Jesus, nos céus, a
revelação do "mistério oculto", não queria se sobressair sobre os
demais.
E finalmente, não reivindica direito algum, apenas
reconhece sua real condição: "Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (lTm 1.15).
Tratando do ministério e da grandeza do chamamento, o
comentarista Mathew Henry, (Mathew Henry's Commentary,
Zondervan Publishing House, p 1821), dissertando sobre o texto de
1 Coríntios 14.1-6, escreveu:
"É nossa opinião de ministros, que deveríamos evitar os
extremos. Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são
ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas
servos de Cristo e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão,
pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e
designando tarefas aos demais. Veja, é um grande abuso querer ser
senhor dos servos, quando se é também servo, e exigir que se
obedeça à sua autoridade. Pois os apóstolos não passavam de
servos de Cristo, empregados dele, por ele enviados para serem
despenseiros dos mistérios de Deus; mistérios que estavam
guardados por gerações. Não arrogavam ter autoridade querendo
dominar sobre os demais, apenas proclamavam a mensagem de
Cristo."
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CETADEB Teologia Pastoral I
Tendo em vista os comentários de Henry, pode-se afirmar
que o ministério é um chamamento especial com o fim de se levar
adiante o propósito de Deus na terra. O obreiro é chamado para
representar a misericórdia, o amor, a graça e a justiça divina, isto é,
representar a Deus na terra, como embaixadores dele. "De sorte
que somos embaixadores em nome de Cristo" (2 Co 5.20).
O embaixador, sempre que fala, pronuncia-se em nome de
seu presidente ou do rei. O obreiro representa a Jesus na terra.
Deus valoriza o homem, por seu coração quebrantado, humildade e
obediência, e não pelo título. "O obedecer é melhor do que
sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros" (1 Sm
15.22).
O que torna nobre o ministério não são as posições nem os
cargos que se galgam no meio denominacional - conseguido às
vezes por meios discutíveis - mas a verticalidade da comunhão com
Deus e a execução dos propósitos divinos na terra.
Portanto, uma pessoa não deve se preparar para o
ministério visando a um título ou a um cargo; mas deve preparar-se
para Deus.
Neste sentido, sempre é bom manter viva a chama do
chamamento e ter em mente as palavras de Paulo: "Toda a
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra" (2 Tm 3.16-17).
2. Mantendo O Vigor Profético Do Chamamento
Para que o chamamento ministerial não arrefeça e diminua
diante das dificuldades, o obreiro deve manter o foco da visão e os
olhos fitos em Deus, sem jamais esquecer seu chamamento. Paulo
afirmou: "Sou grato para com aquele me fortaleceu, Cristo Jesus,
nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o
ministério" (1 Tm 1.12). Paulo se fortalecia em Cristo Jesus.
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CETADEB Teologia Pastoral I
É até possível que as atividades da igreja sufoquem o vigor
da chamada, especialmente quando o serviço se torna uma rotina,
ou quando se tenta "abraçar" tudo o que vêm à mão. Paulo teve
que lembrar a Timóteo do chamamento que tivera: "Este é o dever
de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que
antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom
combate" (1 Tm 1.18).
Timóteo precisava refletir sobre a ocasião em que recebeu
imposição de mãos com profecias; e, certamente, através das
profecias Deus lhe falou.
As profecias podem fazer parte do chamamento de uma
pessoa. Uma palavra profética proferida por alguém que nunca viu
aquela pessoa antes, alguém que esteve na cidade ou na igreja de
passagem, ou proferida pelos líderes locais, serve de confirmação
ao que Deus de antemão vinha falando ao coração.
Refletir sobre as profecias revigoram o chamamento. O
obreiro haverá de se lembrar de alguma profecia, visão ou sonho
que confirmou seu chamamento para o ministério.
"Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu
progresso a todos seja manifesto" (1 Tm 4.15), disse Paulo a
Timóteo. O sentido de "diligente", conforme o dicionário é de
alguém zeloso, cuidadoso; vigilante e atento.
Quando se medita no que Deus falou ao coração, o espírito
se revigora e o chamamento volta a ficar aquecido. E, ao que tudo
indica, o próprio Paulo impôs as mãos sobre Timóteo e sobre ele
profetizou, pois adverte novamente: "Por esta razão, pois, te
admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição
das minhas mãos" (2 Tm 1.6).
A seguir, o estudante terá algumas orientações que o
ajudarão a manter acessa a chama do chamamento.
59
CETADEB Teologia Pastoral I
3. Cuidando Das Disciplinas Do Espírito
A maior parte dos teólogos acredita que o ser humano é
tripartite, isto, cada um de nós tem corpo, alma e espírito; e o
"homem interior" de que a Bíblia fala situa-se na área do espírito.
O corpo é a parte exterior; a alma, a vontade, emoção e
intelecto. Portanto, cultivar o espírito significa ir além da esfera da
alma. Como cultivar o homem interior? Paulo afirmou: "O mesmo
Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo
sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.23).
É no espírito do homem, em seu ser homem interior, que é
cultivada a comunhão com Deus. Neste versículo, Paulo usa três
palavras gregas distintas: pneuma, que é sopro ou vento e refere-se
ao espírito; psique, aqui traduzida como alma (mente); e soma que
é a palavra grega para corpo.
Um dos elementos do homem interior é a consciência.
Quando o espírito é purificado ou limpo, a pessoa tem uma "boa
consciência". O escritor da carta aos Hebreus exorta os crentes a
terem uma consciência purificada. "Aproximemo-nos, com sincero
coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má
consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10.22 - grifo do
autor).
Outros textos que tratam sobre o tema estão em Hebreus
13.18, ensinando a ter boa consciência. 1 Pedro 2.19 exorta o crente
a ter boa consciência para com Deus, e 1 Pedro 3.16 fala em viver
sem problemas de consciência diante da sociedade.
Aqueles que ensinam a palavra de Deus e lidam com
pessoas devem demonstrar o conhecimento de Deus na terra,
encarando as questões da vida interior como tema de
transcendental importância, porque o cultivo da vida interior é que
determinará o sucesso do ministério na terra.
Evelyn Underhill no início do século vinte disse: “É requisito
básico que um ministro de Deus mantenha sua vida interior em
60
CETADEB Teologia Pastoral I
perfeito estado de saúde. Sua comunhão diária com Deus deve ser
sólida e verdadeira. Creio que o ministro deve ter em mente, de
forma clara, plena de riqueza e profundidade a majestade e
esplendor de Deus; depois contrastar seu interior, sua alma, com
esse magnífico esplendor. Logo, possuir clareza quanto ao tipo de
vida interior que seu chamamento requer." (UNDERHILL, Evelyn,
Concerning the Inner Life of the House of the Soul (Tratado da Vida
Interior e da Casa da Alma), London: Methuen & Co. Ltd. 1926).
Por certo, a autora, referia-se à experiência de Isaías que viu
contrastada na glória de Deus o negrume de seu pecado e de sua
vida interior.
3.1. C ultive O T em o r A D eus
0 temor a Deus mantém o obreiro afastado do pecado,
mantém o espírito limpo e permite ao homem viver uma vida de
intimidade com o Senhor. "A intimidade do Senhor é para os que o
temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança" (SI 25.14).
Este texto de Salmos mostra que a intimidade com Deus
vem pelo temor. "É para os que o temem". Quando o obreiro perde
o temor de Deus - e passa a tratar o ministério de maneira vulgar,
técnica, profissional e empregatícia - perde também o referencial
de seu chamamento que é a comunhão com Deus.
O caminho para a intimidade com Deus passa pelo temor a
Deus, pois é a única coisa que o mantém afastado do pecado. Por
que as pessoas vivem em pecado? Porque perdem o temor a Deus.
Paulo aborda extensamente este tema. "Para que, segundo
a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com
poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Ef 3.16),
indicando que o fortalecimento e aperfeiçoamento do homem
interior é realizado única e exclusivamente pelo Espírito Santo.
Pedro orienta as irmãs a não cuidarem apenas do seu exterior, mas
a adornarem o seu interior (1 Pe 3.4).
As disciplinas espirituais mantêm o espírito, a alma e o
corpo purificados. "Tendo, pois, ó amados, tais promessas,
61
CETADEB Teologia Pastoral I
purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito,
aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Co 7.1).
Recomenda-se que este tema seja estudado com maior
profundidade, pois dele depende a vida ministerial.
Algumas frases curtas, de homens de Deus no passado
ilustram a importância de se cultivar o temor a Deus. O temor a
Deus livra o homem de ser violento. Essa foi a dedução de Abraão
(Gn 20.11). O temor do Senhor é o começo de toda sabedoria (Pv
1.7). O temor leva sempre à sabedoria, isto é, ao próprio Deus (Pv
2.1-22). Quando o homem teme a Deus desvia-se do mal (Pv 3.7).
A escritura registra que Jó se desviava do mal, e foi essa
atitude que o manteve fiel a Deus (Jó 1.1). O temor a Deus mantém
o crente na rota certa.
O caminho para a intimidade com Deus passa por uma vida
de retidão e de justiça. Deus dá muito valor à vida interior do
homem. As palavras "intimidade" e "conhecer" na Bíblia são as
mesmas usadas quando a escritura trata do relacionamento sexual
entre homem e mulher. Homem e Deus relacionam-se intimamente
tal qual homem e mulher dentro da intimidade do casamento.
4. Cultive A Mente
É bom recordar que cada crente foi lavado, purificado pelo
sangue de Jesus e aperfeiçoado no homem interior, no entanto, se
não cuidar da mente, e a cultivar com coisas boas, ela se
contaminará e prejudicará o chamamento.
A psique ou mente, é a parte manifesta da alma, que é
composta de intelecto, vontade e emoções que precisam ficar sob o
controle do Espírito Santo. Com o intelecto o ser humano pensa,
analisa, reflete e assimila coisas boas ou ruins. Com a vontade, tem
o poder da decisão, de querer ou não. E com as emoções, ele ri,
chora, pula, alegra-se, se entristece, fica tomado de raiva, dá vazão
à ira, etc. Este é um tema que o estudante verá ao longo do curso.
62
CETADEB Teologia Pastoral I
O intelecto, como um jardim, tem de ser cultivado. É preciso
alimentá-lo com boas leituras sejam de livros evangélicos ou
culturais.
Existe muita literatura de editoras não evangélicas que
tratam de temas cristãos. Romancistas como Sholen Asch, judeu-
polonês, que escreveu Moisés, Maria, o Apóstolo, o Profeta e o
Nazareno apresentam dados históricos e culturais que muito
edificam. Taylor Caldwell, romancista inglesa, que escreveu o
clássico Médico de Almas, que trata da vida de Lucas; e o Apóstolo,
falando de Paulo; e John Milton, escritor de O Paraíso Perdido, são
obras que ajudam a cultivar o intelecto, especialmente
recomendadas para o obreiro cristão.
E existem muitos outros autores. Todo obreiro do Senhor
deve manter a mente ocupada com boas leituras.
Paulo sabia que não podia depender de sua retórica e de
seu conhecimento para pregar a palavra de Deus, e sempre realizou
milagres e curas, e converteu tanta gente, unicamente pela
capacitação do Espírito Santo, mas Paulo conhecia muito bem a
literatura de sua época, falava hebraico, latim e grego
fluentemente, e testemunhou que fora educado aos pés de
Gamalliel, um dos maiores sábios da época.
Além de seu conhecimento bíblico, Paulo conhecia as leis
romanas e gregas que emergem aqui e ali nas páginas do livro de
Atos dos Apóstolos.
Conhecia a tradição hebraica, pois menciona Janes e
Jambres (2 Tm 3.8), e não conseguia ficar longe de seus livros e dos
pergaminhos (2 Tm 4.13). Ele cita o poeta Epimênides que viveu
quinhentos anos antes de Cristo (Tt 1.12), e podia discorrer sobre
qualquer tema de sua época.
Paulo escreve sobre o tema: “Transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). E mente aqui
neste texto não é psique, mas intelecto, do grego nous. Paulo está
afirmando que o intelecto também precisa ser renovado ou
63
CETADEB Teologia Pastoral I
atualizado. Quantos obreiros ficam "ultrapassados" com o tempo,
exatamente por não renovarem suas mentes.
É evidente que quem faz a obra é Deus, mas o
conhecimento é o acessório necessário para a realização desta.
Serve-se a Deus com aquilo que é de Deus. Nada, a não ser o que é
dado por Deus pode ser usado no serviço do Senhor.
4.1. Cu id an d o Dos Pen sa m en to s O u Im ag in a çõ es
Através dos pensamentos entram coisas boas e ruins na
mente humana. Quando se dá vazão à imaginação pode-se cair num
mundo irreal e ser por ele tragado. Talvez por isto, Paulo pede que o
crente leve "cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e
estando prontos para punir toda desobediência" (2 Co 10.5).
Os pensamentos do obreiro devem ficar atrelados a Cristo,
em obediência a Deus. E que coisas devem ocupar seus
pensamentos? As demandas do apóstolo nesta área são muito
fortes.
Só devem ocupar os pensamentos o que for verdadeiro,
nobre, correto, puro, amável, de boa fama, e se nessas coisas
houver algo de excelente e de louvor (Veja o texto de Filipenses
4.8). É um desafio, para o obreiro ter a mente em Cristo (1 Co 2.16).
Levar todo pensamento à obediência de Cristo significa
subjugar a imaginação para que tudo que é mau, pernicioso, lascivo,
egoísta, imoral, errado e demoníaco fique rigidamente sob controle.
Vive-se hoje num mundo em que não adianta controlar as
pessoas com proibições, mas orientá-las a viver de maneira sadia,
por isso, uma das maneiras de conservar vivo o chamamento é a
santidade, mantendo a mente limpa, alimentando-a somente com
coisas que a edificam.
4.2. C uid an d o Das Em o çõ es
Com as emoções choramos, rimos, pulamos, gritamos,
gememos, etc. Jesus também, só que ele controlava bem suas
emoções. Chorou, emocionou-se e irou-se quando foi preciso. Este
64
CETADEB Teologia Pastoral I
controle emocional é recomendado por Tiago: "Seja pronto para
ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg 1.19).
Obreiros há que não cultivam a paciência, a sobriedade e o
equilíbrio, por isso perdem o controle por qualquer coisa. Como
obreiros, as emoções devem ficar sob o controle da "mente de
Cristo". Paulo fala a Timóteo que Deus "não nos deu espírito de
covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio" (1 Tm 1.7 - NVI) ou
moderação.
E, moderação ou equilíbrio vem da mesma palavra grega
para disciplina e autocontrole. Este tema será tratado com maior
profundidade quando for abordada a questão do equilíbrio entre
caráter e dons.
4.3. C u id an d o Do Co rpo
O corpo é a morada do Espírito. Existe a tendência de se
viver os extremos, menosprezando o corpo, por considerá-lo
pecaminoso, ou valorizando-o mais que a alma e o espírito.
Todo obreiro deve buscar o equilíbrio no trato com o corpo,
zelando por ele como o faz com a alma e o espírito, afinal, o corpo
faz parte de um todo conforme está explicdo neste capítulo.
Quando Paulo fala, “esmurro o meu corpo e o reduzo à
escravidão" (1 Co 9.27), não se refere ao corpo em si, como se
estivesse mutilando-se fisicamente, mas ao todo. Ele entendia que
todo o seu ser precisava ficar sob severa disciplina. Existem ocasiões
em que o corpo precisa ser dominado para alcançar a recompensa.
Nos versículos anteriores a este texto, Paulo fala do "atleta
que em tudo se domina" (1 Co 9.25) para alcançar o alvo. E quando
anela abandonar o corpo por uma habitação celestial (2 Co 5.1- 4) é
porque se sentia desgastado pelas constantes viagens e cuidados
com a igreja.
Paulo vivia numa sociedade em que este assunto era
discutido amplamente pelos gregos. Quando chegou a Atenas os
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O chamamento do ministro
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O chamamento do ministro

  • 2. Pastordigital007@hotmail.com Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça - 2tm 3:1
  • 3. jGENiljRQ ‘E QÜCA f c í ^ »GO K r a a s s e m b l e i asTdeip e u s ^ CETADEB - Centro Educacional Teológico das Assembléias de Deus do Brasi! Av. Cel. Otávio Tosta, 51 - l e Andar Cx. Postal 250 85980-000 - Guaíra - PR Fone/Fax: (44) 3642-5311 / Celular: (44) 9131-6417 E-Mail: contato@ cetadeb.com .br Site: w w w .cetadeb.com .br Aluno (a):
  • 4. Teologia Pastoral I TEOLOGIA PASTORAL I TEOLOGIA PRÁTICA PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO Pr João Antônio de Souza Filho Copyright © 2010 by João Antônio de Souza Filho Capa e Designer: Márcio Rochinski Diagramação: Hércules Carvalho Denobi Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados a Denobi e Acioli Empreendimentos Educacionais. O conteúdo dessa obra é de inteira responsabilidade do autor. Todas as citações foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação entre parêntesis ao lado do texto indicando outra fonte. IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Lex Ltda 1§ Edição-Abr/2010 2
  • 5. CETADEB Teologia Pastoral I DIRETORIAS E CONSELHOS Diretor Pr Hércules Carvalho Denobi Vice-Diretora Eliane Pagani Acioli Denobi Conselho Consultivo Pr Daniel Sales Acioli - Apucarana-PR Pr Perci Fontoura - Umuarama-PR Pr José Polini - Ponta Grossa-PR Pr Valter Ignácio - Guaíra-PR Coordenação Pedagógica Dagma Matildes de Souza dos Santos - Guaíra-PR Coordenação Teológica Pr Genildo Simplício - São Paulo-SP Dc Márcio de Souza Jardim - Guaíra-PR Assessoria Jurídica Dr Mauro José Araújo dos Santos - Apucarana-PR Dr Carlos Eduardo Neres Lourenço - Curitiba-PR Dr Altenar Aparecido Alves - Umuarama-PR Dr Wilson Roberto Penharbel - Apucarana-PR 3
  • 6. CETADEB Teologia Pastoral I Autores dos Materiais Didáticos Pr José Polini Pr Ciro Sanches Zibordi Pr Genildo Simplício Pr Paulo Juarez Ignácio Pr Jamiel de Oliveira Lopes Pr Marcos Antonio Fornasieri Pr Sérgio Aparecido Guimarães Pr José Lima de Jesus Pr José Mathias Acácio Pr Reinaldo Pinheiro Pr Edson Alves Agostinho Rubeneide 0. Lima Fernandes 4
  • 7. CETADEB Teologia Pastoral I NOSSO CREDO ÊO Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas: O Pai, Filho e o Espírito Santo. (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). E3 Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17). 03 Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9). EB Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19). Bà Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo 3.3-8). CO No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9). d No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12). 5
  • 8. CETADEB Teologia Pastoral I tQ Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Cristo (Hb 9.14 e IP e 1.15). ÊQ No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). £Q Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade (IC o 12.1-12). CQ Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (lT s 4.16. 17; ICo 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14). EQl Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo, para receber recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10). EQ No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis (Ap 20.11-15). E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento para os infiéis (Mt 25.46). Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil - CGADB
  • 9. CETADEB Teologia Pastoral I ABREVIAÇÕES a.C. - antes de Cristo. ARA - Almeida Revista e Atualizada ARC-Almeida Revista e Corrida AT - Antigo Testamento B V - Bíblia Viva BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje c. - Cerca de, aproximadamente, cap. - capítulo; caps. - capítulos, cf. - confere, compare. d.C. - depois de Cristo. e.g. - por exemplo. Fig. - Figurado. fig. - figurado; figuradamente, gr. - grego hb. - hebraico i.e. - isto é. IBB-Imprensa Bíblica Brasileira Km - Símbolo de quilometro lit. - literal, literalmente. LXX - Septuaginta (versão grega do AT) m - Símbolo de metro. MSS - manuscritos NT - Novo Testamento NVI - Nova Versão Internacional p.-página. ref. - referência; refs. - referências ss. - e os seguintes (isto é, os versículos consecutivos de um capítulo até o seu final. Por exemplo: IPe 2.1ss, significa IPe 2.1-25). séc. - século (s). v. - versículo; vv. - versículos. ver - veja 7
  • 11. CETADEB Teologia Pastoral I SUMÁRIO LIÇÃO |- O M inistro e o seu c h a m a m e n t o .......................................... 11 ATIVIDADES - LIÇÃO 1.............................................................................39 LIÇÃO II - 0 CHAMAMENTO e a prepa ra çã o para o M in ist é r io ........41 ATIVIDADES-U ÇÃ O || .........................................................................68 LIÇÃO III - o MINISTRO: SEU SUSTENTO E VIDA DE ESTUDOS...................69 ATIVIDADES- LIÇÃO ||| ........................................................................97 LIÇÃO I V - 0 MINISTRO E SUA VIDA DE ORAÇÃO A ESPOSA DO MINISTRO...................................................................... 99 ATIVIDADES - LIÇÃO IV ..................................................................... 130 UÇÃO V - 0 MINISTRO E SUA FAMÍLIA....................................................... 131 ATIVIDADES - LIÇÃO V .......................................................................164 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................165 9
  • 13. CETADEB Teologia Pastoral I Lição I cs*c°> CTCfDSD□=□=□BUD1GC°>
  • 15. CETADEB Teologia Pastoral I Introdução T eologia pastoral é o estudo das ciências que dizem respeito à vida do pastor, contendo os ensinamentos bíblicos e a verdade prática de seu dia-a-dia ministerial. Trata-se, na realidade da contextualização dos princípios bíblicos ministeriais às necessidades que se apresentam todos os dias na vida do ministro no século XXI. O aluno aprenderá as verdades bíblicas deixadas por Jesus e seus apóstolos, tanto as explícitas, isto é, diretamente ensinadas por eles, quanto as implícitas, situações não existentes no tempo da igreja primitiva, e que precisam ser solucionadas nos dias atuais. Defrontar-se-á diante das questões éticas que os apóstolos não enfrentaram em seus dias, e que são enfrentadas quase todos os dias no exercício do ministério. O livro-texto está dividido em lições, com temas e sub- temas. De início serão tratados assuntos relacionados ao chamamento para o ministério, respondendo perguntas sobre como ocorre o chamamento, as implicações do chamamento na vida do obreiro e em relação à obra de Deus, a preparação para o ministério e seu sustento. Na continuidade, o aluno aprenderá sobre a importância do estudo para o obreiro, sua vida de oração, o papel da esposa do obreiro em seu ministério, além de uma temática dedicada unicamente à família do obreiro, tratando do relacionamento conjugal e da criação dos filhos. No livro Teologia Pastoral II trataremos da vida sexual do obreiro, tarefas do dia-a-dia do ministro, da importância do 13
  • 16. CETADEB Teologia Pastoral I gabinete do ministro, como local de aconselhamento e estudo do ministro e seu comportamento no púlpito, além de tratar do equilíbrio tão necessário entre carisma e caráter. Por fim, o aluno estudará a vida de Jesus como exemplo de Pastor, como modelo ministerial; logo estudará a vida de Paulo, o apóstolo, o homem que mais ensinamentos deixou escrito depois de Cristo, e estudará sobre a vida de Barnabé, exemplo de dedicação apostólica. O módulo será concluído com a temática sobre o ministro e seus relacionamentos e a questão da fama, do orgulho e da honra no ministério. São temas de muita importância para o obreiro, e, por certo o aluno saberá tirar de cada tema abordado, lições preciosas para o seu dia a dia ministerial. No fim do livro o aluno verá as referências bibliográficas importantes para futuras consultas. Este manual de Teologia Pastoral, por certo, terá grande utilidade para o obreiro não somente enquanto estuda o tema; por certo, o ministro haverá de recorrer muitas vezes ao livro ao longo de sua carreira ministerial. Bom estudo. 14
  • 17. CETADEB Teologia Pastoral I O MINISTRO ESEU CHAMAMENTO I - Introdução No princípio deste estudo, o tema a ser tratado é uma abordagem bíblica sobre o ministro e seu chamamento. Será apresentada a base bíblico-teológica, buscando definir o que é ministério e como ocorre o chamamento, em que o aluno se defrontará com uma análise da chamada para o ministério à luz das Escrituras. Posteriormente, o estudante verá a chamada e suas implicações na vida do obreiro a partir da experiência de homens no Antigo e no Novo Testamento. Na sequencia, será abordado o tema do chamamento e a obra de Deus. Em seguida, será desenvolvido o tema de como uma pessoa pode se preparar para o ministério. Por fim, o aluno estudará sobre o sustento do obreiro, e de como ele pode viver na obra de Deus, se necessário até trabalhando com as próprias mãos. Depois do estudo deste livro, o aluno conseguirá definir a questão do chamamento, entendendo as implicações e responsabilidades que tem diante de Deus, da igreja e do mundo. É aconselhável que o aluno examine os textos bíblicos sugeridos, pois essa fundamentação bíblica é muito importante para quem quer desenvolver uma vida ministerial satisfatória. II - Definindo O Que É Ministério Nesta primeira lição, o aluno aprenderá a definir o que é ministro e o que é ministério e, logo em seguida, verá como ocorre o chamamento. Essas definições ajudarão, o estudante à luz das escrituras, a entender melhor o chamamento. 15
  • 18. CETADEB Teologia Pastoral I 1. Definindo A Palavra Ministro A palavra ministro que aparece na maioria das traduções bíblicas em português já não tem mais o mesmo sentido apresentado nas primeiras traduções da Bíblia porque as palavras, no decorrer dos anos, vão perdendo seu sentido original, sendo substituídas por outras. Ministro, nos dias atuais, passou a ter uma conotação de "pessoa que possui um alto cargo", de alguém com alta função, especialmente na esfera governamental. Isso não tem sido diferente na igreja, já que ministro parece ser uma pessoa que se sobrepõe às demais pelo cargo que exerce, geralmente o de pastor. Mas este não é o verdadeiro sentido de ministro no Novo Testamento. Assim, o aluno estudará o tema analisando três palavras gregas do Novo Testamento, diferentes entre si, mas que foram traduzidas, na maioria das versões bíblicas como ministro. 1.1. M inistro Como Tradução Do Verbo Servir ^ Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é a tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa servir. Pode-se observar que a palavra diakonos foi traduzida como ministro nos seguintes textos e para as seguintes situações: Referindo-se a autoridades governamentais, como em Romanos 13.4 que diz: "Visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem". Nesse versículo, entende-se ministro como alguém que tem autoridade a "serviço" de Deus, isto é, um governo, policial ou juiz que serve a Deus punindo os maus. Referindo-se a "servo" ou "serviço" a Deus, no texto de 2 Coríntios 3.6 em que Paulo afirma que os obreiros foram habilitados para serem "ministros de uma nova aliança", isto é, servos de uma nova aliança. Em 2 Coríntios 6.4 também: "Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita 16
  • 19. CETADEB Teologia Pastoral I paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias...", ou seja, o obreiro tem de ter em mente que ele é um servo a serviço de Deus em todos os momentos: na paciência, nas aflições, nas angústias. Pode-se examinar ainda diversos outros textos do Novo Testamento em que essa palavra é a mesma para diácono nas seguintes passagens: (2 Co 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Cl 1.7,23, 25; 4.7; 1 Tm 4.6). A partir dessa leitura fica fácil para o estudante observar que os tradutores usaram no passado a palavra ministro para exprimir o sentido de servo ou servir, mas que o sentido de ministro perdeu sua simplicidade no idioma português de hoje. O comentarista James Strong (Strongs Exaustive Concordance of the Bible) define essa palavra nos textos apresentados, falando de "um servidor", alguém que exerce um serviço obedecendo a uma autoridade superior. Portanto, basicamente, ministro é alguém que serve, e não quem é servido. Assim, cada obreiro é também um ministro, ou chamado para ser servo do rei Jesus. A segunda palavra grega, huperetes, é também traduzida como ministro, e aparece, em 1 Coríntios 4.1, com o significado de subordinação e trabalho. Nesse versículo: "Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus", percebe-se que a palavra ministro foi usada para indicar uma ação subordinada sob a direção de Deus. Esse sentido é muito mais forte do que o anterior, pois carrega em si o conceito de alguém que trabalha sob obrigação ou que só faz o que lhe é ordenado. Significa que no serviço cristão, não se exerce o ministério por conta e vontade própria, mas sob autoridade de alguém, ou melhor, o ministro do Senhor Jesus estará sempre às ordens de seu Supremo Chefe, Jesus que o chamou para o serviço. Outros textos bíblicos apresentam huperetes, com o mesmo sentido, ou seja, alguém que está subordinado a outra pessoa e que 17
  • 20. CETADEB Teologia Pastoral I cumpre ordens e trabalha somente sob ordens. Nesse tipo de chamamento a pessoa está engajada de forma compulsória. Esta é a razão de Paulo exclamar: "Ai de mim, se não pregar o Evangelho" (1 Co 9.16). Para Paulo não havia escape, ele teria que obedecer sem resistência, sob pena de ser castigado. Era mais que uma ordem. Era um dever. Fugir do chamamento, no caso de Paulo, seria impossível, porque Deus lhe pronunciou uma sentença: "Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões" (At 26.14). Paulo levava a sério seu chamamento, não como algo opcional, e sim compulsório, pois implicava ser castigado por aquele que o chamou, caso desobedecesse as suas ordens. É possível que alguém esteja no ministério por opção, por amar a Jesus, amar a Igreja e por querer cumprir seu propósito. Não era o caso de Paulo. Ele foi convocado para ser um auxiliar, por isso usa o termo huperetes para dar ênfase ao seu chamamento. Em João 18.3, 12, 18, esta mesma palavra aparece com o sentido de servos ou ajudantes que trabalham sob as ordens de um governador. Jesus afirmou: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse desse mundo, os meus ministros se empenhariam por mim...". Isto significa que, se Jesus fosse um governador, os que trabalhassem sob sua autoridade sairiam em sua defesa. 1.2. M inistro C om o Liturgo A terceira palavra grega traduzida como ministro é "liturgo" (leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que dispõe de recursos próprios a serviço do reino ou da sociedade. Essa palavra, na época de Paulo, era utilizada para designar uma classe social grega que exercia cargos públicos ou ajudava a sociedade com seus próprios recursos. Essa atitude espontânea passou a designar, na Bíblia, pessoas que serviam a Deus de maneira espontânea. Pode-se confirmar esta verdade examinando-se dois textos bíblicos. 18
  • 21. CETADEB Teologia Pastoral I Em Atos 13.2, os mestres e profetas não estavam jejuando ou orando por obrigação, mas como um serviço espontâneo a Jesus, por isso o texto é tão claro: "E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado". Em Romanos 15.27, Paulo usa a mesma palavra, para se referir à espontaneidade das contribuições financeiras que os gentios davam aos judeus: "Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais" ou como diz a versão atualizada, "servi-los com bens materiais". A partir das três definições apresentadas, pode-se concluir que todas apontam para o mesmo sentido: serviço ou dedicação, apesar da procedência e das características específicas. É importante ressaltar que em nenhuma delas há a conotação de superioridade tão comum nos dias atuais. Portanto, quando se almeja o ministério, não se pode esquecer o compromisso que espera o obreiro de ter uma vida de abnegação e de serviço, nunca de privilégios. 2. Chamada E Vocação J O chamamento e a vocação não podem ser analisados à luz do Antigo Testamento, pois naquele tempo havia uma separação entre "clero" e "leigo ou laicato", já que a tribo de Levi era uma espécie de "clero" que servia o povo nas questões rituais, e intermediava entre Deus e o povo de Israel. No entanto, com a nova ordem ou nova aliança, todas as pessoas passaram a pertencer a uma mesma ordem ou ofício, passaram a ser sacerdotes do Deus Altíssimo, pois Cristo, ao assumir a função de sumo sacerdote, abriu essa possibilidade de cada crente ser também um sacerdote. Assim, a separação que existia entre o povo e os líderes do Antigo Testamento deixou de existir, fazendo com que a igreja 19
  • 22. CETADEB Teologia Pastoral I passasse a ser um "reino de sacerdotes" em que todos os membros tivessem acesso direto a Deus e pudessem interceder em favor dos demais, ou seja, cada novo membro do corpo de Cristo passou a ter acesso a Deus da mesma maneira que seu líder, pastor ou presbítero. Neste sentido, todos na nova aliança são ministros a serviço de Deus. Isso mostra que não há necessidade de títulos para trabalhar para Deus. Esta mudança de conceito sacerdotal foi percebida claramente por Pedro, quando afirmou: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, afim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9). Nesse versículo, percebe-se que Pedro se refere a todo o povo como reino sacerdotal, isto é, todos são sacerdotes de Deus. Assim como Pedro, a igreja primitiva, através de seus primeiros apóstolos, também percebeu que todos os membros do corpo de Cristo deviam trabalhar sem se preocupar com títulos, pois sabiam que a tarefa de evangelizar, orar, expulsar demônios e curar os enfermos não era somente para pastores e líderes, mas de todos (Mc 16.14-16). Outro fator que comprova essa ausência de distinção entre povo e líderes no Novo Testamento está no fato das pessoas serem tratadas diretamente pelo nome: Mateus, Paulo, Dorcas, Filipe, etc. Essa informalidade no modo de tratamento não impediu o respeito do povo a esses líderes, responsáveis por conduzi-los nos caminhos de Deus. Apesar de toda essa mudança conceituai ocorrida no Novo Testamento, algumas igrejas ainda mantêm dentro de seu sistema de governo a idéia de que o "clero" é exercido por alguém vocacionado e deve ser pago, e que os "leigos" devem servir. Esse é um erro que tem de ser corrigido, pois na igreja primitiva nunca houve a idéia de que os pastores deveriam ser 20
  • 23. CETADEB Teologia Pastoral I pagos para fazerem a obra, ao contrário, todos entendiam que deveriam trabalhar, servir ou ministrar, zelar pela vida dos novos convertidos, orar, curar e expulsar demônios. Assim é necessário entender que todos, em escala menor ou maior, conforme os dons que de Deus recebem ou conforme a capacitação concedida pelo Espírito Santo de Deus, são chamados para servir. Isto significa que todos podem cooperar e trabalhar para Deus, mesmo aqueles que têm poucos dons disponíveis. Os textos de 1 Coríntios 12.28 e Efésios 4.11 mostram que, apesar de todos servirem e ministrarem a Deus e ao próximo - indistintamente de sexo - Deus, em sua soberania decidiu dispor de alguns para chamamentos especiais. Coríntios revela que "a uns estabeleceu Deus na igreja...". Efésios: "ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres". Esses versículos mostram que Deus se reserva o direito de conceder dons ministeriais a algumas pessoas para que essas executem determinadas tarefas. Entre esses chamamentos especiais encontramos o de Paulo. Paulo seguia para a cidade de Damasco a fim de prender e maltratar os discípulos de Jesus, quando encontrou Jesus. Ao encontrá-lo, teve como única opção a aceitação ao chamamento. Como ele, muitos também têm como única opção a aceitação. Esse chamamento de Paulo era tão especial, que ele o descreve da seguinte maneira: "E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que mefalava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te efirma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da 21
  • 24. CETADEB Teologia Pastoral I potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pelafé em mim..." (At 26.14-19). 0 chamamento de Paulo tinha uma missão especial, definida nas palavras de Jesus em Atos 26.14-19: "... te apareci, para te constituir ministro e testemunha", afirmou Jesus a Paulo, especificando que seu ministério seria entre os gentios "para os quais eu te envio". Em Atos 22.14-15, Paulo ouviu de um homem comum, Ananias, um servo de Deus, a seguinte palavra: "O Deus de nossos pais, de antemão, te escolheu para conheceres a sua vontade... porque terás de ser sua testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido...". Assim, diante de tal chamamento, para Paulo a única opção era obedecer, exercendo o ministério sob constrangimento, isto é, "fisgado" por Jesus. Por isso, suas palavras aos crentes de Corinto: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada" (1 Co 9.16- 17). Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a alguns o Senhor dá um chamamento especial, como deu aos setenta, aos doze e a Paulo, em que "prende" e "agarra" para si como se fazia antigamente a um escravo, deixando a pessoa sem opções. Era servir, ou servir. Por isso, Paulo constantemente afirmava: "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus..." (Rm 1.1). É importante ressaltar que a palavra servo (doutos) tinha o sentido de escravo. Era assim que Paulo se considerava: um escravo de Jesus, assunto que repetia constantemente (Tt 1.1). Como Paulo, muitos 22
  • 25. CETADEB Teologia Pastoral I foram chamados e vocacionados por Jesus, muitos cumpriram sua missão, muitos desistiram no meio do caminho ou se desviaram do chamamento especial. 3. Como Ocorre O Chamamento Não existe consenso entre os teólogos para definir se o chamamento começa primeiramente no coração de Deus e depois no homem, ou primeiramente no coração do homem e depois no de Deus. O que se percebe à luz da escritura é que as duas verdades interagem, isto é, o chamado pode começar em Deus e também no homem. Um dos indicativos é bem evidente na declaração de Jesus aos discípulos: "Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande obreiros para a sua seara" (Mt 9.38), o que indica que diante da necessidade de novos obreiros, ora-se a Deus e ele faz a sua parte chamando as pessoas. Quando alguém roga a Deus que envie obreiros, parte do pressuposto de que ele irá chamá-los. Mas o ministério pode começar também no coração do homem quando este se dispõe a servir a Jesus enfrentando todas e quaisquer circunstâncias. Deus sempre olha para o coração e para as motivações do indivíduo. Assim, o chamamento para o ministério vem sempre através da parceria Deus e homem. 3 .1 .0 Ch a m am en to V em Pela Co n sa g ra çã o O chamamento, via de regra, ocorre como fruto da consagração e do compromisso com Deus. Este é um tema que será abordado com mais detalhes no capítulo seguinte. A afirmação de Jesus de que o pai procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23), é um exemplo do que ser propõe afirmar. Ele vê o obreiro se consagrando e se dedicando e o convoca para a sua obra. Não é pecado afirmar que Deus tem um olfato 23
  • 26. CETADEB Teologia Pastoral I apurado e localiza rapidamente os que o servem e o adoram de todo coração. Deus costuma sair ao encontro de tais pessoas. E começa, a partir daí, o verdadeiro ministério ou serviço do homem para Deus. Quando Deus encontra o que procura, coloca do seu desejo e de sua vontade no coração do homem, e este começa a anelar mais e mais de Deus e a fazer a sua vontade. 3 .2 .0 Ch am am en to Pode Su rg ir Atra vés Do Incentivo D e Irm ãos Em Po sição M aio r D e A utoridade O chamamento pode ocorrer através de obreiros que supervisionam a obra de alguém que está envolvido no trabalho de Deus. Vários são os exemplos deste tipo de chamamento no Novo testamento. O primeiro deles é Barnabé. Este, até o momento de seu chamamento especial, era um seguidor dos ensinamentos de Cristo, apenas mais um ajudante na igreja de Jerusalém que tinha colocado todos os seus bens à disposição da igreja (At 4.36-37). Mas os apóstolos de Jerusalém viram em Barnabé um verdadeiro servo de Deus. Assim o enviaram a Antioquia para cuidar da emergente igreja, onde muitos gregos haviam se convertido à Fé. Isto comprova que Deus não apenas chama diretamente uma pessoa, mas confirma o chamamento através de terceiros. Ele utiliza líderes para encontrar novos ministros para sua obra. O segundo exemplo é o de Saulo de Tarso. Barnabé procedeu da mesma maneira em relação a Saulo. Assim como os apóstolos viram em Barnabé um obreiro chamado, Barnabé viu em Saulo um homem de grande potencial na obra de Deus. Durante o estudo, o estudante verá a vida de Paulo e de como Deus o chamou para o ministério. No entanto, vale lembrar que Saulo, depois de convertido, tentou uma aproximação com os apóstolos em Jerusalém, mas não 24
  • 27. CETADEB Teologia Pastoral I foi bem aceito. Desanimado, regressou à sua cidade, Tarso, e lá ficou trabalhando até que Barnabé o encontrou e o levou para trabalhar ao seu lado na cidade de Antioquia. Um terceiro exemplo é o de João Marcos. Acostumado às lidas da igreja e ativo na igreja de Jerusalém, foi levado, na primeira oportunidade, por seu primo Barnabé para uma viagem missionária (At 13.5). Sua missão era servir e auxiliar os primeiros apóstolos. Quando uma pessoa se sente vocacionada para o ministério, o melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes. Como homens de Deus, saberão identificar na pessoa a chamada para o ministério. Um quarto caso é o de Timóteo. Paulo viu no jovem um obreiro promissor e o levou consigo nas viagens missionárias. Todos esses exemplos de chamamentos serão revistos ao longo deste livro, dos quais o aluno extrairá lições preciosas para seu serviço a Deus. Como se vê, Deus também utiliza seus obreiros para que observem aqueles que têm o coração no Senhor e em sua obra. Assim, uma pessoa pode estar sendo observada por Deus através de um líder, pois Deus, especialista em vocação, vê apenas o coração dos seus servos, não a aparência. Isto pode ser comprovado com a orientação dada a Samuel (16.7): "Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei, porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração". Do mesmo modo que Samuel, aquele que é líder não deve se deter nas aparências, mas no coração dos servos de Deus. Por outro lado, uma pessoa que se sente vocacionada para o ministério, o melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes, que como homens de Deus saberão identificar na pessoa a chamada para o ministério. Depois de expor o sentido do ministério e de como alguns homens foram chamados, o aluno verá na sequencia, a questão da 25
  • 28. CETADEB Teologia Pastoral I chamada em si, e de como poderá identificar a chamada de Deus em sua vida. Questões para reflexão: Meu chamamento tem sido apenas emocional, ou tenho certeza de que preciso cumprir com o propósito de Deus na terra? Centralidade da reflexão: Deus vê o coração. Deus vê também o que fazemos. E quando o que fazemos procede de uma atitude correta, de todo coração, com verdadeiro desprendimento, ele nos recompensa, dando-nos a certeza de nosso chamamento. II - A Ch a m a d a No capítulo anterior o estudante viu, de maneira sucinta, que a chamada para o serviço ou ministério começa em Deus e encontra sua contrapartida no coração do homem; e que ocorre quando Deus e homem se encontram, começando a partir daí uma parceria para levar adiante seu propósito na terra. Essa parceria pode ter início de diversas maneiras, por isso cada pessoa deve aprender a identificar o seu chamamento e não comparar o chamamento de uma pessoa com a outra. Cada chamamento tem uma particularidade ou propósito, o que pode ser visto nos chamamentos de Abraão, Moisés, Josué, Davi, e também de alguns dos profetas e dos servos de Deus do Novo Testamento. Neste capítulo, o objetivo é mostrar que, em algum momento, a pessoa saberá identificar seu chamado para alguma missão especial. Um dos grandes conflitos que as pessoas enfrentam é o de saber o momento de tomar uma decisão e agir, pois toda pessoa que sente o fogo de Deus ardendo em seu coração tem a tendência de agir imediatamente, o que leva alguns a romper os laços familiares, ignorando o cuidado da casa, da esposa e dos filhos, (assuntos que será abordado com clareza quando tratarmos do obreiro e sua família), largam seus empregos, e decidem que, daquele momento em diante querem entrar para o ministério. Nem sempre esta é a melhor solução. 26
  • 29. CETADEB Teologia Pastoral I Daí a recomendação de Jesus: "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus" (Lc 9.62). 1. P r in c íp io s Q u e N o r t e ia m O C h a m a m e n t o Dos H o m e n s D e D e u s 0 chamamento deve ser norteado por princípios encontrados na escrituras sagradas. Estudando a vida e o chamamento de pessoas no Antigo e no Novo Testamento, pode-se extrair lições que ajudam o obreiro a entender o que está acontecendo com ele. Para tanto será necessário estudar o chamado e a obediência de Abraão, Moisés, Josué, Davi e Paulo - apenas estes - e ver que o chamamento destes servos de Deus está alinhado ou de acordo com o propósito eterno de Deus. 1.1 - C ham ado E O bed iên cia Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao chamado de Deus. Vários deles vacilaram diante da grandeza do chamamento, mas foram convencidos por Deus de que deveriam obedecer. Entre estes é possível citar Moisés e o profeta Jeremias. Ainda que ninguém mais tenha recebido um chamamento como o de Abraão, de Moisés, ou de Davi, para citar apenas estes, pode-se aprender com a história deles algumas lições que ajudam a entender o chamamento. A braão Abraão recebeu uma missão: peregrinar na terra que seria de seus descendentes. Não teria residência fixa, mas viveria em tendas em Canaã. Todo chamamento tem uma missão. Este princípio é percebido tanto nos personagens do Antigo quanto do Novo Testamento. 27
  • 30. CETADEB Teologia Pastoral I Ao estudar cada um destes casos, percebe-se que os homens chamados por Deus receberam uma missão a cumprir. A missão de Abraão era de peregrinar na terra que lhe foi prometida. Ao chegar a Canaã Deus lhe disse: "Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei" (Gn 13.17). Abraão obedeceu. "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, afim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia" (Hb 11.8). A obediência de Abraão é citada em Romanos 4.16-25 e Hebreus 11.8-19 como modelo de fé a todo cristão. M oisés Com a morte de Abraão, Deus levou Jacó a morar no Egito onde seu filho José fora empossado como governador, e a descendência dele permaneceu no Egito durante quatrocentos e trinta anos, cumprindo a palavra dada a Abraão em Gênesis 15.12- 16. Moisés, no deserto onde se refugiara durante quarenta anos, fugindo da ira de Faraó, recebeu de Deus a incumbência de tirar o povo de Israel do Egito. Ele viu o fogo no arbusto que não se consumia, e ao se aproximar, ouviu a voz de Deus lhe dizendo: "Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel do Egito" (Ex 3.10). “A este Moisés, a quem negaram reconhecer, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu na sarça. Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos" (At 7.35-36). Moisés obedeceu. Depois de quarenta anos no deserto, decidiu retornar ao Egito. "Tomou, pois, Moisés a sua mulher e os seus filhos; fê-los montar num jumento e voltou para a terra do Egito. Moisés levava na mão o bordão de Deus" (Ex 4.20). 28
  • 31. CETADEB Teologia Pastoral I A belíssima história de Moisés retratada em romances e filmes revela um homem de coração obediente que entendeu sua missão na terra. O escritor aos Hebreus diz de Moisés: “E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas" (Hb 3.5). Josué Josué recebeu também uma missão: Fazer o povo entrar na terra de Canaã. Com a morte de Moisés, Deus o chamou e o incumbiu especificamente desta tarefa. "Ordenou o Senhor a Josué, filho de Num, e disse: Sê forte e corajoso, porque tu introduzirás os filhos de Israel na terra que, sob juramento, lhes prometi; e eu serei contigo" (Dt 31.23 e Js 1.1-9). Josué obedeceu. Logo que Deus lhe falou (Js 1.1-9), Josué arregimentou o exército e preparou o povo para entrar na terra prometida. A história de como o povo conquistou Canaã pode ser estudada no livro de Josué. É a história da obediência. Davi Davi foi chamado para ser rei e pastor de Israel. Esta era sua missão. Apesar de jovem e inexperiente, Deus ordenou a Samuel, o profeta que ungisse a Davi, rei de Israel. "Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos, me provi de um rei" (1 Sm 16.1). "Também escolheu a Davi, seu servo, e o tomou dos redis das ovelhas; tirou-o do cuidado das ovelhas e suas crias, para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel, sua herança. E ele os apascentou consoante a integridade do seu coração e os dirigiu com mãos precavidas" (SI 78.70-72). Não há registro algum nas escrituras de que Deus tenha falado particularmente a Davi sobre seu chamamento. Deus o chamou através do profeta Samuel para substituir a Saul. A respeito de Davi, disse Deus: "Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi" (SI 89.20). 29
  • 32. CETADEB Teologia Pastoral I Paulo Diferentemente dos demais, Paulo recebeu de Deus a missão de ser o pregador aos gentios, isto é, de levar as boas novas da salvação em Cristo a todos os povos não judeus que habitavam no mundo conhecido da época. O relato de seu chamamento está em Atos 9.1-30. Que seu chamamento era para os gentios, ele deixou bem claro ao se encontrar com os demais apóstolos em Jerusalém: ele e Barnabé pregariam aos povos não judeus, e os demais apóstolos pregariam aos judeus. "Afim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão" (Gl 2.9). Ele tinha uma missão e nela permaneceu firme até o fim. Deus lhe disse: "Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isso te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim" (At 26.16-18). Paulo obedeceu. Falando para o governador Agripa disse: "Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento" (At 26.19-20). No fim da vida podia afirmar: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (2 Tm 4.7). O exemplo de Paulo será visto ao longo deste curso. A pessoa chamada recebe de Deus uma comissionamento e tem de obedecer. Missão e obediência são dois pontos que devem ser considerados neste estudo. Afinal, cada um de nós é chamado para a missão de pregar o evangelho e é preciso obedecer. 30
  • 33. CETADEB Teologia Pastoral I 2. Conhecendo O Propósito Eterno De Deus Para que o aluno entenda o chamamento ministerial no Novo Testamento é necessário que se proceda aqui a um retrospecto do propósito de Deus em chamar Abraão, formando uma nação e um povo que levasse o seu nome. Quando Deus disse: "de ti farei uma grande nação", o objetivo de Deus era a formação de um povo que realizasse na terra o propósito divino. A igreja, nos dias de hoje é a continuação daquele projeto divino que começou na chamada Abraão e na formação do povo de Israel. 2.1 - A Essência Do Propósito Eterno: Um Povo P ara Deus -J Quando Deus formou o homem, colocando no Éden a primeira família, seu objetivo era formar um povo que estivesse em íntima comunhão com ele. Por isso, todas as tardes visitava o Éden e dialogava com o homem que ele criara (Gn 3.8). A queda do homem interrompeu por algum tempo a execução do projeto divino. Mais tarde Deus chamou a Noé e sua família para recomeçar na terra o seu projeto, mas novamente o pecado e a transgressão interromperam o propósito de Deus na terra. A partir de Gênesis 12, o propósito de ter uma família ou povo na terra é novamente iniciado com Abraão. Como se vê, o chamamento de Deus para Abraão era claro e específico. Ele habitaria na terra de Canaã e iniciaria o projeto de Deus na terra. Quatrocentos e trinta anos depois de Abraão, Deus chamou a Moisés no monte Sinai e novamente deixou claro o seu propósito em tirar o povo do Egito: "Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus" (Ex 6.7). A idéia de um povo separado para Deus, portanto, começa em Gênesis e termina no Apocalipse. 31
  • 34. CETADEB Teologia Pastoral I 2.2 - U m a Nação De Sa cerd o tes E A d o rad o res Quando o povo estava a caminho de Canaã, Moisés recebeu ordem de Deus de construir o tabernáculo. Todos os elementos e rituais do tabernáculo apontavam para a mesma finalidade: Deus queria habitar entre o povo. "E habitarei no meio dosfilhos de Israel e serei o seu Deus" (Ex 29.45). Quando Deus apareceu no monte Sinai, ele queria se manifestar a todo o povo. Na realidade, o povo viu a glória de Deus, mas ficou com medo. "E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus" (Ex 19.17). Os líderes chamaram a Moisés e lhe disseram: “Eis aqui o Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua glória e a sua grandeza... hoje vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo. Chega- te, e ouve tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o Senhor” (Dt 5.24,27). O objetivo de Deus era o de habitar entre o povo, manifestar-se, falar com as pessoas, mas o povo com medo recusou ouvir a Deus, rogando a Moisés que servisse de intermediador entre o povo e Deus. Aqui também transparece a idéia de clero e laicato, tema que foi visto anteriormente, em que uma pessoa tem acesso a Deus e as demais ouvem. Não era este o propósito de Deus. Ele queria uma nação de adoradores, um povo de serviço que o representasse na terra. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos. Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19.5-6). O conceito de povo de Deus e de reino sacerdotal está em todo o Antigo e Novo Testamento. Deus quer ter um povo no meio do qual possa habitar. O propósito inicial de Deus está em Êxodo 19.6: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa". A intenção de Deus não 32
  • 35. CETADEB Teologia Pastoral I era a de haver uma tribo especial, mas que todos fizessem parte do sacerdócio. A idéia de "povo de Deus" é vista em toda a Bíblia. "Somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio" (SI 100.3). Sugere-se ao estudante que, com uma chave bíblica investigue todas as passagens em que aparece a expressão povo, nação e Israel de Deus. 2.3 - A Ig reja É O Povo De Deus A igreja é a continuação do propósito de Deus desde a criação do homem, pois Deus jamais recuou do seu propósito. Com o surgimento da igreja, a mesma mensagem do passado é proclamada pelos apóstolos do Novo Testamento. Pedro, um dos apóstolos, repete para os primeiros cristãos o mesmo discurso de Deus proferido ao povo de Israel quando este vagava pelo deserto dois mil anos antes. (Veja Êxodo 19.5-6). “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus" (1 Pe 2.9-10). Assim, a idéia ou propósito inicial de Deus é de que todos o sirvam em sua presença; que todos sejam adoradores e que sejam habitação de Deus na terra. A idéia inicial de Gênesis 12 em Abraão, com Moisés, Davi e todo o Israel é levada adiante na igreja, e culminará com o reino de Deus na terra no final dos tempos. Por isso, em Apocalipse está escrito: "Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povo de Deus, e Deus mesmo estará com eles... contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele" (Ap 21.3 e 22.4). Portanto, é possível afirmar que hoje todos são chamados para servir a Deus, e o chamamento individual não pode fugir dessa 33
  • 36. CETADEB Teologia Pastoral I linha mestra, isto é, que Deus tem um propósito com o homem na terra. Assim, existe um chamamento geral para todos. Tema que será desenvolvido a seguir. 3. O Chamamento De Deus E O Cumprimento De Seu Propósito Para Todos Pode-se observar acima, que Deus chama pessoas dando- lhes um chamamento específico com a finalidade de cumprir o seu propósito na terra. Antes de se abordar a questão do chamamento individual, que é o objetivo desta lição, seria bom o aluno analisar o que a escritura tem a dizer sobre o chamamento para todos. 3 .1 .0 C h a m a m en to G eral E O Específico Alguns acham que Deus não chama mais as pessoas para o ministério, de maneira audível, em sonhos, em visões ou através de uma profecia: basta a pessoa obedecer à vontade moral de Deus e este irá abençoar e apoiar quaisquer que sejam as decisões que a pessoa tomar, isto é: quando alguém tem comunhão com Deus e um coração puro, a decisão que tomar tem a aprovação de Deus. Respeitando-se esta posição teológica, não se deve negligenciar que Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente e que pode utilizar quaisquer métodos para falar ao coração de uma pessoa chamando- a para o ministério. No entanto, é preciso deixar bem claro que as escrituras enfatizam o envolvimento de todos os santos no ministério, ou na obra de Deus. Para isto ele delegou poderes concedendo “uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.11-12 - grifo do autor). Quer dizer: os ministérios foram dados à igreja para aperfeiçoar o desempenho dos santos na obra de Deus. Ora, o texto 34
  • 37. CETADEB Teologia Pastoral i acima deixa bem claro que todos podem ser aperfeiçoados para trabalhar na obra de Deus. Neste texto é possível observar o chamamento específico - apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres - e o chamamento geral (os santos) para a obra de Deus. Os ministérios de Efésios 4.11 são para o aperfeiçoamento de todos os santos. A palavra grega para "aperfeiçoamento" é katartismos que tem o sentido de "consertar", "remendar" ou "aperfeiçoar". A melhor tradução seria "colocar em ordem os santos para o desempenho do seu serviço". Assim, num só texto é possível ver os ministérios específicos de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, e o ministério geral de todos os santos. 3.2. T o d o s So m o s M in istro s D e J esus De maneira geral, todo cristão comprometido é um ministro de Jesus, porque serve a Deus, indistintamente de títulos e de reconhecimento dos homens. Para tanto, o crente o serve com os dons naturais e com os dons sobrenaturais. Os dons naturais estão listados em Romanos 12: "Tendo, porém, diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério (serviço) dediquemo-nos ao ministério (serviço); ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui com liberalidade; o que preside (lidera), com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria" (Rm 12.6-8 - acréscimos do autor). Os dons sobrenaturais distribuídos pelo Espírito Santo aos membros da igreja estão em 1 Coríntios 12.4-11. Palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, discernimento de espíritos, dons de curar, operações de milagres, fé, profecia, línguas e interpretação de línguas. Cada pessoa pode "ministrar" ou servir a Deus a partir desta capacitação espiritual. No entanto, é preciso acentuar que Deus ainda chama algumas pessoas para ministérios específicos. 35
  • 38. CETADEB Teologia Pastoral I 4. Chamamentos Específicos No ponto anterior o estudante entendeu que todos os crentes são chamados para o serviço de Deus, e, portanto, habilitados pelo Espírito Santo. Todos servem a Cristo no corpo, que é a igreja, e entendeu também que, para alguns Deus tem um chamamento especial, ou ofícios indicados por Jesus. Enquanto os dons são para todos, o chamamento é para alguns. Paulo refere-se a esse chamamento usando a expressão "a uns Deus estabeleceu", indicando que entre muitos, alguns têm uma vocação especial. Logo que termina sua abordagem sobre os dons sobrenaturais, concedidos a todos, Paulo afirma que "a uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas" (1 Co 12.28). Nesse versículo, Paulo está afirmando que os dons estão disponíveis a todos, mas que Deus estabelece alguns na igreja com ministérios específicos. Deus chama os que estão ocupados, exercendo seus dons na igreja, e é aqui que cada pessoa precisa discernir quando Deus a está chamando e incluindo-a no seleto grupo menor de que Paulo fala. "A uns Deus...". Apesar de se trabalhar na obra como todos os crentes, contribuindo com talentos, deve-se ficar atento para o momento em que Deus chama especificamente uma pessoa para alguma tarefa na igreja. Às vezes é preciso deixar o emprego, dedicando-se totalmente ao serviço (ministério) para o qual foi convocado, afinal Deus continua falando a homens e mulheres, separando-os para o ministério. É preciso enfatizar novamente que o chamamento é individual e a experiência de cada pessoa diferente da outra. 36
  • 39. CETADEB Teologia Pastoral I Tratando deste tema, o pastor Erwin Lutzer, da igreja Memorial Moody em Chicago arriscou uma definição de chamado: "O chamado de Deus é uma convicção interior, dada pelo Espírito Santo e pelo corpo de Cristo" (Erwin Lutzer em De Pastor Para Pastor, Editora Vida, p. 14). Lutzer apresenta três parâmetros ou linhas seguras que podem orientar e servir de baliza às decisões que um obreiro tomar: Convicção interior; a ação do Espírito Santo; e a opinião dos membros do corpo de Cristo. Estas três coisas serão analisadas a seguir. A convicção interior é importante, porque nenhum obstáculo é grande o suficiente para impedir que uma pessoa vocacionada se dedique integralmente ao serviço de Deus. Esta convicção não pode ser fruto apenas das emoções, porque as emoções vêm e vão. Mas, quando a convicção vem por parte do Espírito de Deus, as decisões são firmes e corretas. Uma pessoa convicta de seu chamamento enfrenta os demônios e o inferno. É aqui que a pessoa precisa contar com o terceiro elemento: a opinião da igreja, pois a igreja é composta da totalidade dos crentes que formam o corpo de Cristo, e esta percebe quando uma pessoa tem o chamamento ou não para o ministério. Estes três fatores citados por Lutzer - convicção interior, a voz do Espírito Santo e a confirmação pelo corpo de Cristo - juntas são ótimas balizas para que um obreiro tenha certeza do chamamento. Muitos irmãos atendem ao pedido de consagração ao ministério feito por pastores que apelam para as emoções dos seus ouvintes, esquecendo-se que, sempre que só a emoção é ativada, no decorrer dos anos alguns desistem. Pelo fato de algumas pessoas serem movidas pela emoção, certos líderes - entre eles Lutero e Spurgeon - não incentivavam ninguém a entrar para o ministério da palavra. É possível tratar deste tema evitando os extremos. 37
  • 40. CETADEB Teologia Pastoral I Charles H. Spurgeon precisava selecionar os candidatos que vinham estudar em sua escola, e desabafou: "É sempre uma tarefa difícil para mim, desanimar um jovem que solicita matrícula nesta escola. Meu coração sempre se inclina para o lado mais bondoso, mas o dever para com as igrejas me impele a julgar com severa discriminação. Se me convenço de que o Senhor não o chamou, me sinto obrigado a dizer-lhe isso" (SPURGEON, Charles H. In A Transparência no Ministério (Edson Queirós), Editora Vida p. 31). Certamente esses homens de Deus, na época em que viveram tinham lá suas razões, e deve-se respeitar o que esses servos de Deus pensavam quanto ao chamamento de obreiros, no entanto, alguns são inclinados a pensar como Paulo que incentivava os discípulos para o ministério. Ele escreve a Timóteo: "Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja" (1 Tm 3.1). Alguns eruditos afirmam que naquela época já havia pessoas interessadas no ministério como um emprego, contudo, exercer o ministério nos primeiros séculos da era cristã era colocar a vida em risco. Ninguém aspiraria o ministério por interesses financeiros. É possível que Paulo esteja afirmando que é importante examinar a motivação do coração, porque ali pode estar um desejo colocado por Deus. Quando se estuda as cartas de Paulo a seu discípulo Timóteo, pode-se ver no colaborador um moço tímido e calado, a ponto de Paulo animá-lo com tantas palavras. “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério" (1 Tm 4.14). No decorrer do curso, este texto será examinado com maior profundidade. Na próxima lição o aluno estudará sobre o chamamento e a obra de Deus, e o assunto ficará ainda mais claro diante de seus olhos. 38
  • 41. CETADEB Teologia Pastoral I Questão para reflexão: Estou me precipitando ao tomar a decisão de abandonar tudo a favor do ministério, ou pesei os prós e contras, ponderando atentamente sobre cada aspecto de minha vida? Entendo, perfeitamente que o chamamento de Deus para minha vida não pode fugir ao seu propósito eterno? Centralidade da reflexão: Lucas 14.25-33. Jesus nos ensinou que temos de calcular o custo de um empreendimento. Atividades - Lição I > Marque "C" para Certo e "E" para Errado 1) □ Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é a tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa servir. 2) 0 Basicamente, ministro é alguém que é servido, e não quem serve. 3) O A palavra grega traduzida como ministro é "liturgo" (leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que não dispõe de recursos próprios a serviço do reino ou da sociedade. 4) IE J Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a alguns o Senhor dá um chamamento especial. 5) 0 3 Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao chamado de Deus. □6) LU Deus chama os que estão ocupados. 39
  • 43. CETADEB Teologia Pastoral I ©DCZU ti0 O n ® 0 D O © § 1 © Lição II » e b
  • 45. CETADEB Teologia Pastoral I O Cham am ento E A Hora De Deus N esta lição estudaremos sobre o chamamento pessoal e específico, buscando entender o momento certo de tomar decisões, já que qualquer decisão ministerial traz a reboque conflitos pessoais, que se não forem bem administrados, deixarão marcas para toda a vida. O momento de agir, de tomar uma decisão, de abandonar o emprego ou de deixar de seguir uma carreira profissional, como pôde ser visto no capítulo anterior requer convicção, direção do Espírito Santo e apoio da igreja. Resumindo, é preciso tomar uma decisão, e a igreja, ou os irmãos em Cristo da congregação podem ajudar o obreiro nesta tarefa. Sem a ajuda dos irmãos pode-se até duvidar do chamamento. Quanto tempo uma pessoa deve esperar para avançar. O que fazer? O aluno poderá tirar lições preciosas de homens de Deus, observando a maneira como reagiram diante de um chamamento divino. Também verá os critérios utilizados pelos apóstolos para o ministério na Casa de Deus. Este tema, portanto é imprescindível a todo o que quer servir ao Senhor. 1. O b s e r v a n d o O C o m p o r t a m e n t o D e A lg u n s H o m e n s D e D eu s Dentre os muitos casos da Bíblia, o aluno verá o chamamento de Davi, no Antigo Testamento, e o de Paulo, no Novo Testamento, de cujas vidas tirará preciosas lições. Na vida destes 43
  • 46. CETADEB Teologia Pastoral I dois homens de Deus percebe-se a existência de um período de transição e de espera entre o chamamento e o cumprimento da chamada, e o que o aluno aprender à luz da vida deles servirá de ajuda, evitando que cometa enganos, seja apressando-se a cumprir logo a missão ou demorando a cumpri-la. Na lição anterior, estudou-se o chamamento específico de Davi para ser rei e pastor de Israel. Agora, quer se destacar que entre o chamamento, quando foi ungido por Samuel até o dia em que foi colocado como rei de Israel, tomando posse definitiva como rei, passaram-se vinte e um anos. Conforme a cronologia bíblica, ele foi ungido rei em 974 a.C., e tomou posse do reino em 953 a.C. 1.1. A Pa ciên cia E Respo n sabilid a d e D e Davi Depois de ungido rei de Israel, Davi voltou para o campo cuidar das ovelhas de seu pai e esperou em Deus que se encarregou de colocá-lo no palácio de Saul. Qualquer pessoa, no lugar de Davi quereria se proclamar rei de Israel no dia seguinte, mas não foi o que fez Davi. É isso que se vê nos registros de 1 Samuel 16 e 17. Tempos depois, quando Saul começou a ter ataques malignos, foi recomendado por seus servos a ouvir um pouco de música, e ele imediatamente ordena: "Buscai-me, pois, um homem que saiba tocar bem e trazei-mo". "Casualmente" um dos moços que servia a Saul no palácio conhecia Davi e o recomendou ao rei. Assim, Deus tira Davi do campo e o coloca no palácio. Davi sempre esperou o movimento de Deus. Pelo que se depreende das escrituras, ele cumpria sua tarefa na casa de Saul e regressava para o campo de Belém. "Davi, porém, ia a Saul e voltava para apascentar as ovelhas de seu pai, em Belém" (1 Sm 17.15). Ao estourar a guerra entre os filisteus e o povo de Israel, Davi foi enviado por Jessé ao fronte da guerra para levar alimentos aos seus irmãos e saber notícias deles. Nesse momento, Deus deu o próximo passo e tornou Davi famoso em toda a nação ao permitir que Davi enfrentasse e 44
  • 47. CETADEB Teologia Pastoral I vencesse Golias, que durante quarenta dias ameaçava o exército de Israel (vv. 16 e 23). Essa passagem bíblica permite perceber que quando Deus chama, também toma as providências e toma a iniciativa. O mais difícil para qualquer pessoa é aprender a esperar o próximo movimento de Deus. Ninguém deve se apressar e sair à busca de cargos e posições. Dois episódios na vida do jovem Davi mostram seu alto grau de responsabilidade. Antes de tomar a estrada para levar pães e queijos a seus irmãos que estavam no fronte da batalha com os filisteus, ele deixou as ovelhas aos cuidados de um ajudante. E quando chegou onde seus irmãos estavam, deixou o material que levava com o guarda da bagagem. Estes dois versículos evidenciam a importância do obreiro ser responsável naquilo que lhe é confiado. "Davi, pois, no dia seguinte, se levantou de madrugada, deixou as ovelhas com um guarda, carregou-se e partiu...” (1 Sm 17.20) e "deixando o que trouxera aos cuidados do guarda da bagagem, correu à batalha: e, chegando, perguntou a seus irmãos se estavam bem" (1 Sm 17.22). Em nenhum momento Davi descuidou-se de suas responsabilidades. Seguindo o exemplo de Davi, o obreiro deve permanecer fiél sendo responsável com o que lhe é confiado. Se nas atividades do dia-a-dia da obra do Senhor, na igreja, no emprego e com a família ele não mostrar responsabilidade, não estará apto para o ministério ou serviço cristão. Deus o observa para certificar-se de que é responsável, pois apenas estes são aptos ao chamamento divino. Na parábola dos talentos, Jesus conta que um dos homens recebeu cinco talentos, outro, dois e o terceiro apenas um talento, "segundo a sua própria capacidade” (Mt 25.15). Neste texto Jesus dá a chave para o sucesso ministerial: capacitação e responsabilidade. Quando alguém demonstra responsabilidade habilita-se a receber responsabilidades ainda maiores. 45
  • 48. CETADEB Teologia Pastoral I 1.2. Pa u lo : Exem plo De Espera Depois de seu encontro com Deus na estrada de Damasco, Paulo precisou aprender a esperar que Deus guiasse seus passos, e esperou o momento de agir. Ele mesmo dá a entender que logo depois de sua conversão não subiu imediatamente para os apóstolos em Jerusalém; tomou a direção contrária, indo para as regiões da Arábia retornando depois para Damasco (Gl 1.15-17). Apesar da convicção de que fora chamado por Deus para ser pregador aos gentios, Paulo não se apressou a fazer parte do círculo de apóstolos de Jerusalém, antes se retirou para o deserto e somente três anos depois subiu para Jerusalém (Gl 1.18-24 e At 9.26-30), até porque os apóstolos que estavam em Jerusalém desconfiavam de sua conversão, e evitavam encontrar-se com ele. Na primeira viagem a Jerusalém depois de convertido, somente Barnabé o acolheu como discípulo de Cristo. Este o apresentou aos demais apóstolos, mas devido a ameaças de perseguição contra a igreja os apóstolos recomendaram a Paulo que fugisse de Jerusalém, o que ele fez voltando para sua cidade natal, e, ao que parece, continuou com fabricação de tendas para poder se sustentar. O próximo movimento de Deus na vida de Paulo ocorreu novamente através de Barnabé. Este "Filho da Exortação" foi enviado pelos apóstolos para cuidar de uma emergente igreja gentílica em Antioquia, e sentiu que Paulo poderia ser de grande ajuda, por isso, “partiu Barnabé para Tarso à procura de Saulo; e tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia" (At 11.25-26). Na cidade de Antioquia, Paulo ficou esperando o próximo movimento de Deus. Depois de servir humildemente ao Senhor, ao lado de Barnabé durante um ano inteiro, o Espírito Santo o chamou para pregar aos gentios. O encontro de Paulo com Deus e seu chamamento não encontram paralelo no Novo Testamento, isto é, não há registro de algo semelhante, no entanto, apesar da grande experiência de 46
  • 49. CETADEB Teologia Pastoral I conversão e chamamento - tudo num só pacote - não se apressou. Além dos três anos na Arábia, Paulo residiu algum tempo em Damasco e dali partiu para sua cidade natal, Tarso. Quando Barnabé saiu à procura dele encontrou-o em Tarso, certamente não só trabalhando, mas também estudando as escrituras, o que era comum fazerem os rabinos daquela época. Estes dois exemplos bíblicos são evidências de que entre o chamamento e o desenvolvimento da missão, muitas vezes, é necessário esperar em Deus, enquanto se cumpre com as responsabilidades sociais, trabalhando, cuidando da família, etc. Esta é a melhor espera. Além dos exemplos de Davi e Paulo aqui citados, o estudante, a seguir, verá alguns exemplos do Novo Testamento, tentando identificar neles alguns critérios que os líderes apostólicos usaram para identificar os irmãos que tinham a chamada de Deus para o ministério. Os apóstolos se depararam com a necessidade de estabelecer critérios para identificar e constituir no serviço de Deus ou ministério as pessoas que tinham um chamamento divino. 2. Critérios Usados Pelos A póstolos Estudando o Novo Testamento, percebe-se que os obreiros e os envolvidos no serviço do Mestre eram pessoas da comunidade local, isto é, exerciam algum tipo de atividade na cidade onde moravam, e passavam a exercer seu ministério tendo como base, primeiramente, a igreja da cidade. Com exceção dos doze apóstolos, de Paulo e de Apoio, todos os demais obreiros referidos no Novo Testamento eram pessoas conhecidas na própria cidade onde a igreja se estabelecia. Ao que parece, os pais apostólicos perceberam a necessidade de estabelecer alguns critérios na escolha dos obreiros, como veremos a seguir. 47
  • 50. CETADEB Teologia Pastoral I 2.1. Raízes Co m u n itá ria s O estabelecimento de critérios surgiu bem no começo da igreja quando os apóstolos tiveram que decidir quem ocuparia o lugar de Judas, o traidor, completando o número de doze apóstolos. E estabeleceram um critério: Deveria ser alguém que conhecesse a Jesus desde o dia quando este foi batizado, e que tivesse acompanhado a vida de Jesus até o dia em que subiu ao céu. "É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição" (At 1.21). Dois nomes foram sugeridos: José e Matias. Estes dois preenchiam os requisitos apostólicos porque acompanharam o ministério de Jesus desde o batismo de João, e por conhecerem a Jesus tanto tempo, preenchiam o primeiro critério, habilitando-se a serem incluídos no rol dos doze apóstolos. Anos mais tarde, os apóstolos usaram critérios semelhantes para indicar quem deveria acompanhar a Paulo e a Barnabé, logo após o Concílio da igreja em Jerusalém, para evangelizar os gentios, e escolheram Judas e Silas para acompanharem a Paulo e a Barnabé na missão de orientar os novos cristãos quanto às decisões tomadas no Concílio (At 15.26-27). Novamente estabeleceram um critério: "Homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (At 15.26). Estes dois, "que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram" (At 15.26,32). Fica evidente, portanto, que José (Judas) e Silas foram contemporâneos de Jesus, e preenchiam os requisitos: deveriam conhecer Jesus desde que começou seu ministério ao ser batizado por João. Isto é o que se convém chamar de "raízes comunitárias", isto é, pessoas que eram conhecidas de todos os habitantes de um determinado lugar. 48
  • 51. CETADEB Teologia Pastoral I 2.2. Q u alid ad es Espiritu a is E Caráter Quando a igreja precisou escolher seus auxiliares, os apóstolos estabeleceram os parâmetros de conduta: Deveriam ser "homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria" (At 6.2-3). É importante ressaltar que das qualidades acima, a reputação é a única que não se adquire numa semana, adquire-se durante os anos de vivência numa localidade. Os frutos de uma pessoa não aparecem logo que ela se converte. Uma série de fatores pode ajudar a entender se uma pessoa frutificou ou não. Quando se é jovem, querendo entrar no ministério, mas não se tem raiz comunitária, o melhor que a pessoa pode fazer é permanecer numa igreja local, numa cidade e ali criar raízes. Deve ser discipulada a Cristo, trabalhar para ganhar o sustento, criar reputação, e só então, estará qualificada para o ministério. Barnabé foi escolhido para cuidar da recém formada igreja de Antioquia porque apresentava a qualidade espiritual necessária: "porque era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé" (At 11.22- 24). Não apenas isto: ele tinha bom testemunho na cidade de Jerusalém. "José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizerfilho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos" (At 5.36-37). Barnabé tinha raízes em Jerusalém, era conhecido por seu caráter, por ser um homem bom e cheio do Espírito Santo. Tinha raiz comunitária. 2.3. Bom T estem u n ho A palavra pedigree serviria para identificar a qualidade dos obreiros, não fosse ela uma palavra usada para identificar a qualidade ou raça de animais. Mas aqui, é usada, sem querer ferir a
  • 52. CETADEB Teologia Pastoral I dignidade de ninguém, para mostrar que os obreiros escolhidos no Novo Testamento eram homens e mulheres de qualidade de vida inquestionável. Traduzindo para os dias de hoje, tinham CPF, ID e não constavam na lista dos devedores da cidade, ou seja, tinham pedigree. Este pedigree pode ser visto em duas pessoas que acompanharam os apóstolos em suas viagens: Timóteo e João Marcos. Paulo viu no jovem Timóteo um potencial para a obra de Deus. "Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio" (At 16.1-2 - grifo do autor). Timóteo tinha bom testemunho das pessoas da cidade, isto é, raízes na cidade onde crescera, e os irmãos de Listra e de Icônio o recomendaram a Paulo. Esse "bom testemunho" é o pedigree do obreiro. João Marcos era um jovem que se envolveu desde cedo na obra de Deus. Na casa dele em Jerusalém, a igreja se reuniu durante a ferrenha perseguição que resultou na morte de Tiago (At 12.12). Quando o Espírito Santo enviou a Barnabé e a Saulo para os gentios, João Marcos viajou com eles pregando o evangelho (At 13.5). A escritura não nos diz por que Marcos abandonou a Paulo e Barnabé, voltando para Jerusalém (At 13.13), atitude gerou uma séria desavença entre Paulo e Barnabé que se dali em diante se separam também (At 15.36-40). Mas João Marcos, apesar de tudo, não desistiu, e é visto ajudando a Paulo quando este está no fim da vida (Cl 4.10 e 2 Tm 4.11). Pelo que se pode observar, João Marcos possui uma identificação com a igreja e os apóstolos, porque desde menino acompanhou as atividades de Jesus, residindo em Jerusalém, onde a igreja se reunia na casa dele. Através da atividade na igreja local os jovens obreiros podem criar raízes e serem observados no serviço ao Senhor. Os apóstolos levavam a sério esse detalhe. 50
  • 53. Teologia Pastoral I Os obreiros por eles escolhidos eram homens conhecidos também em suas cidades. Um líder local conhece os costumes e o jeito de ser do povo. Ele consegue evangelizar e treinar discípulos porque tem relacionamentos na cidade. Conhece o barbeiro, o funcionário dos Correios, o dono da loja, o gerente do Banco, o dono da sapataria, o garçom, o dono do restaurante, o diretor da escola de seus filhos, o delegado, o prefeito, etc. Ele é gente do povo, da cidade, e através dos seus relacionamentos que pode levar muitos a buscarem a Deus. 3. Vida De Trabalho Outro aspecto que deve ser seriamente considerado no chamamento, é que Deus não vocaciona preguiçosos. Ele chama os mais ocupados. Através de uma vida de serviço, o obreiro dá testemunho de que é trabalhador e passa a ser observado pelo pastor e pela igreja. É na vida congregacional que se aprende a servir a Deus e aos irmãos. Todos os que foram chamados por Deus para alguma missão no Antigo ou Novo Testamento estavam ocupados em alguma atividade profissional. Deve-se ter em mente Moisés que pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro quando Deus o atraiu na sarça ardente (Ex 3.1). Outro exemplo é de Gideão que estava malhando o trigo - que certamente acabara de ceifar - quando o anjo do Senhor o encontrou e o chamou (Jz 6.11). Davi cuidava das ovelhas de seu pai, quando foi chamado para ser ungido rei de Israel (1 Sm 16.11). Eliseu arava o campo à frente de doze juntas de bois, quando Elias o encontrou jogando sobre ele seu manto (1 Rs 19.19). Amós trabalhava como boieiro e colhedor de sicômoros, quando foi chamado (Am 7.14). Pedro, Tiago e João, pescadores, lançavam as redes, quando o Senhor Jesus os chamou (Lc 5.1-10). Mateus recebia os impostos, quando foi chamado a seguir a Jesus (Lc 5.27-28). Paulo, a serviço dos sacerdotes, perseguia e prendia os discípulos de Jesus, e fabricava de tendas (At 8.3; 18.3). 51
  • 54. CETADEB Teologia Pastoral I Tudo isso pode ser resumido numa frase: Deus não chama os preguiçosos. 4. Vida De Submissão Ainda outro aspecto é o da submissão à autoridade. O texto bíblico "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação" (Rm 13.1-2), é peça-chave para entendermos que a questão da submissão à autoridade abrange todas as áreas da vida de uma pessoa, não apenas a vida espiritual. Quando alguém não aprendeu a submeter-se aos pais, ao professor e ao patrão, terá sérias dificuldades em submeter-se também ao seu pastor e ao Espírito Santo. Deus não espera de seus servos apenas obediência irrestrita, mas também o desenvolvimento de um espírito de submissão. Quando isto não acontece, a pessoa terá muita dificuldade em relacionar-se com os demais colegas de ministério. As heresias que surgiram no seio da igreja desde os primeiros séculos, têm aí suas raízes; vieram por pessoas que não souberam ouvir os mais velhos nem se submeteram às autoridades da igreja. É importante que os obreiros que viajam e têm um ministério itinerante, também estejam debaixo da autoridade de um obreiro mais antigo e experimentado na obra de Deus. O ministério itinerante é quando o obreiro não se fixa no trabalho de uma igreja local, mas viaja constantemente de um lugar a outro pregando a palavra de Deus. É preciso, portanto, deixar uma palavra àqueles que decidem por este tipo de ministério que só é duradouro e eficaz se o ministro estiver submisso à autoridade de um ministério, de outro pastor ou da igreja onde é membro, do contrário poderá ser questionado. 52
  • 55. CETADEB Teologia Pastoral I Há muitos pregadores sem referencial congregacional, que a ninguém prestam contas, seja ao pastor da localidade, ao ministério da igreja, ou à sua ordem de ministros, buscando uma oportunidade de pregar nas igrejas sem a devida autoridade de alguém que lhe seja superior. Todo pregador ou ministro que opta por um ministério itinerante tem que necessariamente ter o respaldo de um supervisor e de uma igreja na cidade de origem. Certos obreiros itinerantes pressionam igrejas e pastores para que os recebam em suas igrejas, no entanto, como já foi mencionado, o verdadeiro homem de Deus não precisa fazer pressão à cata de espaço para pregar a palavra de Deus, porque o verdadeiro servo está sempre com a agenda lotada. Estes devem examinar a fundamentação de seu ministério à luz do ensino do Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo, criando raízes na cidade antes de se aventurarem na obra. Ainda que o chamado do obreiro seja para o ministério itinerante, necessário se faz que crie raízes na igreja local, submetendo-se a um ministério, presbitério ou concílio que apóie e ore a seu favor. Trata-se de cobertura espiritual. Nenhum homem de Deus vive só. A solidão é a ruptura pela qual o Diabo seduz o melhor homem de Deus. Prestar contas a alguém é fundamental para o sucesso ministerial. 5. Conselhos Práticos A os Obreiros. Finalizando este tema, duas orientações são importantes aos novos obreiros do Senhor. Não se deve buscar resultados imediatos. Os frutos de um ministério só serão vistos anos depois, e não de imediato como tantos anelam ver. Certas semeaduras produzem com rapidez, como o feijão, o arroz e o trigo - rapidamente colhidos e consumidos, e precisam ser plantados ano após ano; mas, determinadas árvores demoram anos para que seus frutos apareçam, e depois frutificam regularmente a cada estação do ano. 53
  • 56. CETADEB Teologia Pastoral I A videira produz uva todos os anos, seus ramos velhos e retorcidos - alguns com quase um século de vida brotam sistematicamente, de quando em quando, e a safra de seus vinhos são sempre as melhores. É possível ver velhas oliveiras dando frutos, e videiras ainda frutificando. Assim deve ser o ministério. Produzem-se frutos ao longo de toda a vida. Deve-se colocar no coração o desejo de desenvolver um ministério que influencie positivamente a geração em que se vive, sem se deixar impregnar pela nódoa da mentira, da falsidade, do egoísmo, da inveja, do adultério, da prostituição e do amor próprio. Do contrário, o ministério será como o fruto azedo de uma árvore que não pode ser apreciado, mas lançado fora. É necessário marcar a geração da qual se faz parte, isto é, marcar a vida daqueles que andam e vivem lado a lado, tornando-se conhecido como planta frutífera que produz fruto apreciado por todos. Logo, não se deve ter pressa. O mesmo Deus que chama, dará a recompensa. Não se deve fazer do ministério um emprego. O ministério exige do obreiro renúncia a toda ganância material. Equivoca-se o obreiro que pensa em enriquecer pela via ministerial, demonstrando que não entendeu o chamamento divino nem a dimensão do propósito de Deus. Os dons que Deus concede ao obreiro não têm como objetivo o benefício próprio, mas a edificação dos outros. A vida ministerial é de despojamento contínuo; é uma vida de entrega diária, de morte, de negação do eu, das riquezas e da fama. Trilhar pelo caminho ministerial pensando em enriquecimento é um grande equívoco. Aliás, viver a vida cristã, independentemente de ser um ministro do evangelho ou não, pensando em enriquecimento, é um desvio do propósito de Cristo e de seu evangelho; é andar na contramão de Deus, pois todo crente deveria obedecer ao evangelho de Cristo, fugindo da ganância, do desejo de se enriquecer, e viver a vida cristã dentro dos moldes do evangelho. 54
  • 57. CETADEB Teologia Pastoral I A teologia da prosperidade não encontra respaldo nos ensinamentos de Cristo. Há uma prosperidade que vem pelo evangelho, e por ela o cristão é contemplado enquanto vive. O ministério não terá base, se o obreiro não estiver alicerçado na vida da igreja local, se não estiver submisso a pastores ou aos órgãos da igreja, se não estiver fundamentado nas escrituras e no ensino apostólico. Esses parâmetros, certamente servirão de orientação à vida ministerial. Questão para reflexão: A quem presto contas de minhas atividades? Estou submisso a alguém, ou sou totalmente independente? Centralidade da reflexão: A submissão e a prestação de contas são fundamentais para o crescimento do obreiro. Leve-se em conta que toda independência e rebelião têm sua origem em Satanás, e que a obediência tem sua origem em Jesus Cristo. A Preparação Para O M inistério N esta lição o estudante terá esclarecimentos de como uma pessoa pode se preparar para o ministério, desempenhando a tarefa que lhe foi por Deus designada agindo com sabedoria, prudência e plena de capacitação. A preparação para o ministério pode ser bastante diversificada. No passado, quando não havia treinamento teológico em escolas bíblicas, cursos por correspondências, seminários e afins, algumas igrejas reuniam pessoas de diversas cidades e realizavam seminários intensivos para capacitá-las como obreiros para o ministério. 55
  • 58. CETADEB Teologia Pastoral I Hoje as facilidades do mundo das comunicações agilizaram o processo desse aprendizado bíblico através de livros especializados no tema, de programas de rádio, de televisão e da Internet. Não importa o meio utilizado, o mais importante é ter em mente que, por ser o ministério uma honra e privilégio outorgados por Deus o obreiro precisa fazer sua parte preparando-se academicamente para o exercício do ministério. 1. A Preparação Preparar-se não é desperdiçar tempo nem dinheiro. João kolenda, costumava ilustrar o tempo gasto por um aluno em seus estudos, a alguém que afia o machado antes de entrar na floresta para cortar árvores. Enquanto os outros lenhadores cortam poucas árvores, o que afia seu machado ainda os alcança, tempos depois e os supera no trabalho. O tempo que se gasta na preparação não tempo jogado fora. Joga-se fora o tempo de outras maneiras, mas nunca se dedicando ao estudo e a oração. O obreiro deve se preparar para servir a Deus oferecen lhe o melhor de seu tempo e de sua vida, porque quer trabalhar para Deus. Ele se prepara sem se preocupar com os títulos e cargos na igreja. Ele tem em mente Deus e sua obra. Os títulos nem sempre mostram o peso e a envergadura do ministério - por isso não se deve cobiçá-los nem nutrir por eles grande apreço. Quando se é jovem anela-se os títulos porque eles dão uma falsa noção e posição de governo e autoridade, mas ao longo dos anos descobre-se que o que concede autoridade e poder ao obreiro é a comunhão diária com Deus e os frutos do ministério. Isto pode ser confirmado pela experiência de Paulo. Paulo, logo que começou seu ministério, ao que parece, queria ser reconhecido como os demais apóstolos que andaram com Jesus, por isso defendia e se empenhava em ter seu chamamento reconhecido, uma vez que muitos irmãos não o reconheciam como apóstolo. 56
  • 59. CETADEB Teologia Pastoral I Ele se defendia argumentando: “Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos" e "eu sou apóstolo dos gentios" (2 Co 11.5; Rm 11.13). Depois, no decorrer dos anos, Paulo não mais se interessou pelo que os homens pensavam dele, mas com a opinião de Deus a seu respeito. Ser um apóstolo não era mais motivo de orgulho, e sim de desprezo. "Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (ICo 4.9). Que contraste com os que se dizem apóstolos nos dias atuais. Mais tarde, Paulo afirma ser "o menor dos apóstolos" (1 Co 15.9). Imagine o homem que recebeu de Jesus, nos céus, a revelação do "mistério oculto", não queria se sobressair sobre os demais. E finalmente, não reivindica direito algum, apenas reconhece sua real condição: "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (lTm 1.15). Tratando do ministério e da grandeza do chamamento, o comentarista Mathew Henry, (Mathew Henry's Commentary, Zondervan Publishing House, p 1821), dissertando sobre o texto de 1 Coríntios 14.1-6, escreveu: "É nossa opinião de ministros, que deveríamos evitar os extremos. Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas servos de Cristo e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão, pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e designando tarefas aos demais. Veja, é um grande abuso querer ser senhor dos servos, quando se é também servo, e exigir que se obedeça à sua autoridade. Pois os apóstolos não passavam de servos de Cristo, empregados dele, por ele enviados para serem despenseiros dos mistérios de Deus; mistérios que estavam guardados por gerações. Não arrogavam ter autoridade querendo dominar sobre os demais, apenas proclamavam a mensagem de Cristo." 57
  • 60. CETADEB Teologia Pastoral I Tendo em vista os comentários de Henry, pode-se afirmar que o ministério é um chamamento especial com o fim de se levar adiante o propósito de Deus na terra. O obreiro é chamado para representar a misericórdia, o amor, a graça e a justiça divina, isto é, representar a Deus na terra, como embaixadores dele. "De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo" (2 Co 5.20). O embaixador, sempre que fala, pronuncia-se em nome de seu presidente ou do rei. O obreiro representa a Jesus na terra. Deus valoriza o homem, por seu coração quebrantado, humildade e obediência, e não pelo título. "O obedecer é melhor do que sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros" (1 Sm 15.22). O que torna nobre o ministério não são as posições nem os cargos que se galgam no meio denominacional - conseguido às vezes por meios discutíveis - mas a verticalidade da comunhão com Deus e a execução dos propósitos divinos na terra. Portanto, uma pessoa não deve se preparar para o ministério visando a um título ou a um cargo; mas deve preparar-se para Deus. Neste sentido, sempre é bom manter viva a chama do chamamento e ter em mente as palavras de Paulo: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Tm 3.16-17). 2. Mantendo O Vigor Profético Do Chamamento Para que o chamamento ministerial não arrefeça e diminua diante das dificuldades, o obreiro deve manter o foco da visão e os olhos fitos em Deus, sem jamais esquecer seu chamamento. Paulo afirmou: "Sou grato para com aquele me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério" (1 Tm 1.12). Paulo se fortalecia em Cristo Jesus. 58
  • 61. CETADEB Teologia Pastoral I É até possível que as atividades da igreja sufoquem o vigor da chamada, especialmente quando o serviço se torna uma rotina, ou quando se tenta "abraçar" tudo o que vêm à mão. Paulo teve que lembrar a Timóteo do chamamento que tivera: "Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate" (1 Tm 1.18). Timóteo precisava refletir sobre a ocasião em que recebeu imposição de mãos com profecias; e, certamente, através das profecias Deus lhe falou. As profecias podem fazer parte do chamamento de uma pessoa. Uma palavra profética proferida por alguém que nunca viu aquela pessoa antes, alguém que esteve na cidade ou na igreja de passagem, ou proferida pelos líderes locais, serve de confirmação ao que Deus de antemão vinha falando ao coração. Refletir sobre as profecias revigoram o chamamento. O obreiro haverá de se lembrar de alguma profecia, visão ou sonho que confirmou seu chamamento para o ministério. "Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto" (1 Tm 4.15), disse Paulo a Timóteo. O sentido de "diligente", conforme o dicionário é de alguém zeloso, cuidadoso; vigilante e atento. Quando se medita no que Deus falou ao coração, o espírito se revigora e o chamamento volta a ficar aquecido. E, ao que tudo indica, o próprio Paulo impôs as mãos sobre Timóteo e sobre ele profetizou, pois adverte novamente: "Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos" (2 Tm 1.6). A seguir, o estudante terá algumas orientações que o ajudarão a manter acessa a chama do chamamento. 59
  • 62. CETADEB Teologia Pastoral I 3. Cuidando Das Disciplinas Do Espírito A maior parte dos teólogos acredita que o ser humano é tripartite, isto, cada um de nós tem corpo, alma e espírito; e o "homem interior" de que a Bíblia fala situa-se na área do espírito. O corpo é a parte exterior; a alma, a vontade, emoção e intelecto. Portanto, cultivar o espírito significa ir além da esfera da alma. Como cultivar o homem interior? Paulo afirmou: "O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.23). É no espírito do homem, em seu ser homem interior, que é cultivada a comunhão com Deus. Neste versículo, Paulo usa três palavras gregas distintas: pneuma, que é sopro ou vento e refere-se ao espírito; psique, aqui traduzida como alma (mente); e soma que é a palavra grega para corpo. Um dos elementos do homem interior é a consciência. Quando o espírito é purificado ou limpo, a pessoa tem uma "boa consciência". O escritor da carta aos Hebreus exorta os crentes a terem uma consciência purificada. "Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10.22 - grifo do autor). Outros textos que tratam sobre o tema estão em Hebreus 13.18, ensinando a ter boa consciência. 1 Pedro 2.19 exorta o crente a ter boa consciência para com Deus, e 1 Pedro 3.16 fala em viver sem problemas de consciência diante da sociedade. Aqueles que ensinam a palavra de Deus e lidam com pessoas devem demonstrar o conhecimento de Deus na terra, encarando as questões da vida interior como tema de transcendental importância, porque o cultivo da vida interior é que determinará o sucesso do ministério na terra. Evelyn Underhill no início do século vinte disse: “É requisito básico que um ministro de Deus mantenha sua vida interior em 60
  • 63. CETADEB Teologia Pastoral I perfeito estado de saúde. Sua comunhão diária com Deus deve ser sólida e verdadeira. Creio que o ministro deve ter em mente, de forma clara, plena de riqueza e profundidade a majestade e esplendor de Deus; depois contrastar seu interior, sua alma, com esse magnífico esplendor. Logo, possuir clareza quanto ao tipo de vida interior que seu chamamento requer." (UNDERHILL, Evelyn, Concerning the Inner Life of the House of the Soul (Tratado da Vida Interior e da Casa da Alma), London: Methuen & Co. Ltd. 1926). Por certo, a autora, referia-se à experiência de Isaías que viu contrastada na glória de Deus o negrume de seu pecado e de sua vida interior. 3.1. C ultive O T em o r A D eus 0 temor a Deus mantém o obreiro afastado do pecado, mantém o espírito limpo e permite ao homem viver uma vida de intimidade com o Senhor. "A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança" (SI 25.14). Este texto de Salmos mostra que a intimidade com Deus vem pelo temor. "É para os que o temem". Quando o obreiro perde o temor de Deus - e passa a tratar o ministério de maneira vulgar, técnica, profissional e empregatícia - perde também o referencial de seu chamamento que é a comunhão com Deus. O caminho para a intimidade com Deus passa pelo temor a Deus, pois é a única coisa que o mantém afastado do pecado. Por que as pessoas vivem em pecado? Porque perdem o temor a Deus. Paulo aborda extensamente este tema. "Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Ef 3.16), indicando que o fortalecimento e aperfeiçoamento do homem interior é realizado única e exclusivamente pelo Espírito Santo. Pedro orienta as irmãs a não cuidarem apenas do seu exterior, mas a adornarem o seu interior (1 Pe 3.4). As disciplinas espirituais mantêm o espírito, a alma e o corpo purificados. "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, 61
  • 64. CETADEB Teologia Pastoral I purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Co 7.1). Recomenda-se que este tema seja estudado com maior profundidade, pois dele depende a vida ministerial. Algumas frases curtas, de homens de Deus no passado ilustram a importância de se cultivar o temor a Deus. O temor a Deus livra o homem de ser violento. Essa foi a dedução de Abraão (Gn 20.11). O temor do Senhor é o começo de toda sabedoria (Pv 1.7). O temor leva sempre à sabedoria, isto é, ao próprio Deus (Pv 2.1-22). Quando o homem teme a Deus desvia-se do mal (Pv 3.7). A escritura registra que Jó se desviava do mal, e foi essa atitude que o manteve fiel a Deus (Jó 1.1). O temor a Deus mantém o crente na rota certa. O caminho para a intimidade com Deus passa por uma vida de retidão e de justiça. Deus dá muito valor à vida interior do homem. As palavras "intimidade" e "conhecer" na Bíblia são as mesmas usadas quando a escritura trata do relacionamento sexual entre homem e mulher. Homem e Deus relacionam-se intimamente tal qual homem e mulher dentro da intimidade do casamento. 4. Cultive A Mente É bom recordar que cada crente foi lavado, purificado pelo sangue de Jesus e aperfeiçoado no homem interior, no entanto, se não cuidar da mente, e a cultivar com coisas boas, ela se contaminará e prejudicará o chamamento. A psique ou mente, é a parte manifesta da alma, que é composta de intelecto, vontade e emoções que precisam ficar sob o controle do Espírito Santo. Com o intelecto o ser humano pensa, analisa, reflete e assimila coisas boas ou ruins. Com a vontade, tem o poder da decisão, de querer ou não. E com as emoções, ele ri, chora, pula, alegra-se, se entristece, fica tomado de raiva, dá vazão à ira, etc. Este é um tema que o estudante verá ao longo do curso. 62
  • 65. CETADEB Teologia Pastoral I O intelecto, como um jardim, tem de ser cultivado. É preciso alimentá-lo com boas leituras sejam de livros evangélicos ou culturais. Existe muita literatura de editoras não evangélicas que tratam de temas cristãos. Romancistas como Sholen Asch, judeu- polonês, que escreveu Moisés, Maria, o Apóstolo, o Profeta e o Nazareno apresentam dados históricos e culturais que muito edificam. Taylor Caldwell, romancista inglesa, que escreveu o clássico Médico de Almas, que trata da vida de Lucas; e o Apóstolo, falando de Paulo; e John Milton, escritor de O Paraíso Perdido, são obras que ajudam a cultivar o intelecto, especialmente recomendadas para o obreiro cristão. E existem muitos outros autores. Todo obreiro do Senhor deve manter a mente ocupada com boas leituras. Paulo sabia que não podia depender de sua retórica e de seu conhecimento para pregar a palavra de Deus, e sempre realizou milagres e curas, e converteu tanta gente, unicamente pela capacitação do Espírito Santo, mas Paulo conhecia muito bem a literatura de sua época, falava hebraico, latim e grego fluentemente, e testemunhou que fora educado aos pés de Gamalliel, um dos maiores sábios da época. Além de seu conhecimento bíblico, Paulo conhecia as leis romanas e gregas que emergem aqui e ali nas páginas do livro de Atos dos Apóstolos. Conhecia a tradição hebraica, pois menciona Janes e Jambres (2 Tm 3.8), e não conseguia ficar longe de seus livros e dos pergaminhos (2 Tm 4.13). Ele cita o poeta Epimênides que viveu quinhentos anos antes de Cristo (Tt 1.12), e podia discorrer sobre qualquer tema de sua época. Paulo escreve sobre o tema: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). E mente aqui neste texto não é psique, mas intelecto, do grego nous. Paulo está afirmando que o intelecto também precisa ser renovado ou 63
  • 66. CETADEB Teologia Pastoral I atualizado. Quantos obreiros ficam "ultrapassados" com o tempo, exatamente por não renovarem suas mentes. É evidente que quem faz a obra é Deus, mas o conhecimento é o acessório necessário para a realização desta. Serve-se a Deus com aquilo que é de Deus. Nada, a não ser o que é dado por Deus pode ser usado no serviço do Senhor. 4.1. Cu id an d o Dos Pen sa m en to s O u Im ag in a çõ es Através dos pensamentos entram coisas boas e ruins na mente humana. Quando se dá vazão à imaginação pode-se cair num mundo irreal e ser por ele tragado. Talvez por isto, Paulo pede que o crente leve "cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência" (2 Co 10.5). Os pensamentos do obreiro devem ficar atrelados a Cristo, em obediência a Deus. E que coisas devem ocupar seus pensamentos? As demandas do apóstolo nesta área são muito fortes. Só devem ocupar os pensamentos o que for verdadeiro, nobre, correto, puro, amável, de boa fama, e se nessas coisas houver algo de excelente e de louvor (Veja o texto de Filipenses 4.8). É um desafio, para o obreiro ter a mente em Cristo (1 Co 2.16). Levar todo pensamento à obediência de Cristo significa subjugar a imaginação para que tudo que é mau, pernicioso, lascivo, egoísta, imoral, errado e demoníaco fique rigidamente sob controle. Vive-se hoje num mundo em que não adianta controlar as pessoas com proibições, mas orientá-las a viver de maneira sadia, por isso, uma das maneiras de conservar vivo o chamamento é a santidade, mantendo a mente limpa, alimentando-a somente com coisas que a edificam. 4.2. C uid an d o Das Em o çõ es Com as emoções choramos, rimos, pulamos, gritamos, gememos, etc. Jesus também, só que ele controlava bem suas emoções. Chorou, emocionou-se e irou-se quando foi preciso. Este 64
  • 67. CETADEB Teologia Pastoral I controle emocional é recomendado por Tiago: "Seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg 1.19). Obreiros há que não cultivam a paciência, a sobriedade e o equilíbrio, por isso perdem o controle por qualquer coisa. Como obreiros, as emoções devem ficar sob o controle da "mente de Cristo". Paulo fala a Timóteo que Deus "não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio" (1 Tm 1.7 - NVI) ou moderação. E, moderação ou equilíbrio vem da mesma palavra grega para disciplina e autocontrole. Este tema será tratado com maior profundidade quando for abordada a questão do equilíbrio entre caráter e dons. 4.3. C u id an d o Do Co rpo O corpo é a morada do Espírito. Existe a tendência de se viver os extremos, menosprezando o corpo, por considerá-lo pecaminoso, ou valorizando-o mais que a alma e o espírito. Todo obreiro deve buscar o equilíbrio no trato com o corpo, zelando por ele como o faz com a alma e o espírito, afinal, o corpo faz parte de um todo conforme está explicdo neste capítulo. Quando Paulo fala, “esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão" (1 Co 9.27), não se refere ao corpo em si, como se estivesse mutilando-se fisicamente, mas ao todo. Ele entendia que todo o seu ser precisava ficar sob severa disciplina. Existem ocasiões em que o corpo precisa ser dominado para alcançar a recompensa. Nos versículos anteriores a este texto, Paulo fala do "atleta que em tudo se domina" (1 Co 9.25) para alcançar o alvo. E quando anela abandonar o corpo por uma habitação celestial (2 Co 5.1- 4) é porque se sentia desgastado pelas constantes viagens e cuidados com a igreja. Paulo vivia numa sociedade em que este assunto era discutido amplamente pelos gregos. Quando chegou a Atenas os 65