2. Poeta lírico, satírico e filósofo Quinto Horácio Flaco nasceu em Venúsia,
posteriormente Venosa, Itália. Filho de um escravo liberto que recebia o
dinheiro público nos leilões, graças aos recursos de seu pai, teve uma boa
educação para alguém de sua origem social.
Seus estudos iniciaram em Venúsia na escola do mestre Flávio, prosseguiu
em Roma e foram completados em Atenas, onde estudou filosofia em 44
a.C.
Quando ocorreu o assassinato de Julio César, Horácio e vários de seus
colegas de estudos acolheram com entusiasmo o feito de Brutus, e quando
foi organizado um exército republicano em 42 a.C para combater, em
Filipos, o triunvirato, com apenas vinte anos ele recebeu o comando de uma
legião.
Apesar da derrota dos republicanos na batalha de Filipos, pôde retornar à
Roma graças a uma anistia do segundo triunvirato que permitia os
adversários regressarem.
Apulia, região onde fica Venosa
3. Apesar de ter conseguido anistia, Horácio perdeu o que lhe restava dos bens
paternos, tendo que trabalhar em Roma como escrivão de Questor
(Procurador), o que permitiu a ele poder divulgar seus primeiros versos e a
fazer amizade com o poeta Vergílio.
Horácio foi apresentado por Vergílio ao ministro do imperador Augusto,
Caio Mecenas, rico político e diplomata romano de descendência etrusca.
Este, por apreciar as qualidades e o talento de Horácio, se tornou amigo do
poeta e o incluiu nos círculos literários. Graças a amizade entre Horácio e
Mecenas, o poeta pôde conseguir sua ascensão, visitando freqüentemente o
palácio imperial e tornando-se também amigo do imperador.
Mecenas ainda concedeu à Horácio uma casa de campo, próxima a Tibur,
hoje Tivoli a uma hora de Roma onde os imperadores descansavam nas
vilas luxuosas que beiravam o vale. Daí em diante dedicou-se totalmente à
poesia, chegando a recusar o pedido de Augusto para ser seu secretário
particular. Dessa forma passou o resto de sua vida, se dedicando às suas
obras e gozando de visitas de amigos e intelectuais que iam até sua casa
onde morreu em 27 de Novembro do ano de 8 a.C., pouco tempo após a
morte de seu amigo Mecenas.
4. Horácio reagiu contra a escola de Catulo, procurando os seus modelos nos
velhos líricos da escola lesbiana. Em seus versos, de notável perfeição
formal, encontramos a moral epicurista, ou seja, não se entregue a ambição,
goze com moderação dos bens da vida e não se preocupe como o futuro
(carpe diem). Dentre suas características literárias, destaca-se a
importância em se aproveitar o presente sem demonstrar muita
preocupação com o futuro reconhecendo a brevidade da vida, uma idéia
semelhante aos pensamentos do filósofo grego Epicuro, que reconhecia as
necessidades surgidas a partir da idéia de aproveitar cada momento antes
da morte, como o amor e outras.
Horácio é o grande inovador da poesia latina, na qual introduz novos
critérios métricos e uma concepção original dos quatro gêneros que
cultivava:
EPODOS – SÁTIRAS - ODES - EPISTOLAS
5. Suas obras literárias:
EPODOS, ou Iambos
Uma coleção de 17 poemas escritos na mocidade, que tratavam de assuntos
romanos e imitava, tanto no metro como no espírito satírico, o poeta
Arquíloco, parecidos com as Sátiras, inclui-se uma das obras-primas de
Horácio, o Beatus ille, canto à vida tranqüila do campo.
ODES ou Carminas
Divididos em quatro livros de longos poemas líricos sobre assuntos
diversos, geralmente sobre mitologia, em hexâmetros. As Odes são a sua
obra-prima. Os temas que nelas trata, muito simples, são a expressão lírica
da própria vida: o amor, especialmente a amizade, a beleza da natureza
independentemente da sua utilidade, os prazeres quotidianos, a passagem
do tempo, a inevitável chegada da morte… Horácio tem consciência de criar
um lirismo novo que lega às gerações futuras, pois escreve: “Levantei um
monumento mais duradouro que o bronze. “
6. CANTO SECULAR
Composta a pedido de Augusto. (20 a. C.) - hino epistolar de caráter
litúrgico dedicado a Apolo e Diana;
EPISTOLAS
Coleção de cartas sobre assuntos variados: recomendações, convites e
discussões filosóficas e morais. As Epístolas, cartas em verso, são também
peças poéticas, se bem que nelas predomine a reflexão sobre o lirismo. A
mais conhecida é a Arte Poética, em que expõe uma série de conselhos para
a criação literária.
SATIRICAS ou Sermones
Baseado em assuntos literários ou morais, discute questões éticas, retrata a
ironia de seu tempo dividida em dois livros escritos em hexâmetros. Nas
Sátiras, o cuidado formal é mais importante que os temas, muito variados
como relatos de viagens, descrição de um banquete ridículo, retrato de uma
pessoa vagarosa, etc.
7. Composições:
(35 a.C.) Sermonum liber primus ou Sátira I
(30 a.C.) Epodes
(30 a.C.) Sermonum liber secundus ou Sátira II
(23 a.C.) Carminum liber primus ou Odes I
(23 a.C.) Carminum liber secundus ou Odes II
(23 a.C.) Carminum liber tertius ou Odes III
(20 a.C.) Epistularum liber primus
(18 a.C.) Ars Poetica, ou A Espístola aos Pisões
(17 a.C.) Carmen Saeculare ou Canto secular
(14 a.C.) Epistularum liber secundus
(13 a.C.) Carminum liber quartus ou Odes IV
8. Horácio (Roma, Séc. I a.C.), Ode XI, Livro I
Tu ne quaesieris scire nefas quem mihi quem tibi
finem di dederint Leuconoe nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius quidquid erit pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias vina liques et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.
9. "Não procures, Leuconoe, - ímpio será sabê-lo -
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
não consultes sequer os números babilónicos:
Melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê ainda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa esperança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
que nunca o de amanhã merece confiança."