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com originalidade e ousadia recriaram a nudez feminina na arte e inspiraram várias
gerações de artistas.
Souto Maior (1976:112) conclui que, mais do que qualquer outro povo, o
grego venerou a beleza, atingindo um grau incomparável nas suas concepções
artísticas. Aestética grega influenciou toda cultura ocidental e lançou sua semente
de perfeição na arte de representar a forma humana, principalmente através do nu.
Mesmo tendo sido abafada na Idade Média, teve no Renascimento seu despertar
embasada numa moral pedagógica que refletia a intenção da sociedade da época,
ao consagrar na arte o prazer do belo, propagando esse ideal de polis perfeita por
todas as gerações futuras.
BIBLIOGRAFIA
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002
CONTI, Flavio. Como Reconhecer a Arte Grega. São Paulo: Martins Fontes, 1978
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins
Fontes,1995
JANSON, H.W. e A.E. Iniciação à História da Arte. São Paulo: Martins Fontes,
1996
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 1996
SOUTO MAIOR,A. História Geral. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1976.
ASÁTIRAX,DEJUVENAL
Prof.Dr.AmósCoêlho daSilva (UERJ)
RESUMO:
Poetas que se destacaram pela sátira. Ecos satíricos em outros discursos
poéticos. Juvenal, que não soube mentir, ocupou o seu tempo tentando a educar
os romanos: Quid Romae faciam? Mentiri néscio. Que fazer em Roma? Não sei
mentir.(I, 3, 41)
A emergência urbana tornou o povo romano civilizado, mas insensato em
suas preces suplicantes de desejos aos deuses: Juvenal, Sátiras, X.
Palavras-chave: sátira; moralismo; humor; ironia.
1 – INTRODUÇÃO
O termo sátira, que não está ligado à divindade grega Sátiro, provém do
sintagma Satura lanx, que era a bandeja das primícias, oferecida à deusa Ceres
que faz crescer a seara (MOISÉS, 1974: SÁTIRA). Ceres(BRANDÃO, 1993: 79-80)
integra uma posição importantíssima no cenário religioso romano, devido à
qualidade agrícola do povo latino, assimilou características de (IDEM, 1993: 271)
Deméter: De-, variante de ‘Gç’, terra; ‘mçter’, mãe – Deméter é a terra cultivada;
Ceres personifica a Terra cultivada. Essa divindade, instituidora dos trabalhos
agrícolas, ensinou ao povo, cuja característica mais importante então era ser um
miles et agricola: Prima Ceres ferro mortalis uertere terram / Instituit, Ceres,
como pioneira, instituiu que os mortais revolvessem a terra com o arado de ferro.
Em reconhecimento à deusa da vegetação pela fartura das sementeiras,
em latim satio:
1
sãtiô, âs, âre, âvî, âtum, t.: saciar, fartar; satisfazer, saturar.
2
sãtio, ônis, f.: sementeira; campo semeado; plantação.
Da mesma família, temos ainda: satis, adv.: bastante; sãtura / sãtira, ae, f.:
prato de diversos frutos; etc. Em português, temos a continuidade latina como em
satisfazer, satisfeito, saturar, etc. Da deusa, temos cereal (Ceres é um conexo com
o v. crescere, ‘nascer, brotar; crescer, medrar’) e derivações como cerealicultor,
cerealicultura, cerealífero, cerealina, cerealista, cerealístico, cerealose, etc.
Portanto, ofertava-se a Ceres em gratidão à satisfação ou ao estar saturado
uma bandeja com os primeiros frutos colhidos. Mas em 364 a.C., Tito Lívio(séc.
Ia.C.) nos relata que o Senado tinha importado da Etrúria os ludiones ou histriones,
a fim de apaziguar o ânimo divino e arrefecer uma peste que assolava, então, o
povo romano. Surpresos e deleitados com os movimentos de dança e gracejos
indecorosos, adotou-se a novidade.
A fescennina licentia, a permissividade da cidade etrusca Fescênia, se
consagrou através das Confrarias dos IrmãosArvais (de arua, os campos lavrados)
54 55
e Sálios, cf. Varrão, De LL,V, 85: “ Salii ab salitando”, devido aos seus movimentos
rápidos e vivos, eles saltitavam; daí o nome da Confraria: os Sálios (note-se que
saltare, um iterativo intensivo antigo, foi superado por salire; salitare é um hápax
de Varrão. Esse espírito galhofeiro, presente também em festas de cantos triunfais,
se manifestou em momentos célebres, mesmo revirando às avessas compromissos
e respeito hierárquico, como reverência a grandes generais como Júlio César:
Gallias Caesar subegit, Nicomedes Caesarem.
Ecce Caesar nunc triumphat qui subegit Gallias.
Nicomedes non triumphat, qui subegit Caesarem.
César subjugou as Gálias; Nicomedes,César.
Eis César que agora triunfa porque submeteu as Gálias.
Nicomedes, que submeteu César, não triunfa.
A atitude grotesca e simplória do povo latino se depreende até na própria
antroponímia. Seja na ordenação numérica dos filhos, seja num outro indicativo,
por vezes, ridículo.Assim, herdamos Tércio, Otávio de Tertius (tertius, terceiro) e
Octauius (octavus, oitavo); se a pessoa nascesse de manhã, do latim mane, chamar-
se-ia Manius; se no mês de março, em português Márcio, do adjetivo Martius; ou,
então, um aspecto caricatural do desenho da fava, lentilha grão-de-bico, defeito
físico como, respectivamente, se apresenta a fisionomia de Fabius (relacionado
com a forma da fava), Lentulus (relacionado com a lentilha), Cicero (a forma do
grão-de-bico), Naso (de nariz comprido).
Esse sentimento rústico e coletivo consagrou o valor mágico dessa
festividade das colheitas numa forma poética com versos satúrnios.
Apreciemos uma galeria de poetas que se inspiraram na festividade latina
e construíram o estilo poético satírico:
1 – Lucílio, Caius Lucilius, (180-102 a.C.) escreveu trinta livros de sátiras,
dos quais nos restam em torno de seiscentos versos1
, com prevalência em
hexâmetros datílicos, obra que projeta a permanência deste verso nos poetas de
sátira: Horácio, Pérsio e Juvenal, bem como o estilo satírico na literatura: Dans le
dernier tiers du deuxième siècle naît à Rome un genre littéraire: la satire. O
temário das poesias satíricas é formado de uma mistura, como a própria Satura
Lanx, que era a reunião de primeiros frutos em honra da deusa Ceres.
Sermones, porque, como Lucílio, a sua linguagem poética tem o suporte
do sermo familiaris, foi o título da obra horaciana, mas a História a consagrou
como nome de Sátiras.
A expressão de Juvenal (6, 165) Rara avis já estava em Horácio (Sát. 2, 2,
26) e em Pérsio (1, 46) – neste último, o escólio define-a como proverbial, conforme
Renzo Tosi (1996: 323).Apresente intertextualidade confirma pela segunda vez (a
primeira foi o emprego do hexâmetro datílico, de acordo com o parágrafo acima) a
preocupação em eleger do cotidiano um elemento menos fugaz, já que a natureza
da sátira manifesta o fugidio ou volátil da vida: os erros e defeitos humanos. Sobre
isso, Massaud Moisés observa que a sátira perde sentido e força à medida que
o tempo passa. Raramente uma obra satírica resiste ao desgaste dos anos: para
tanto, é preciso que a causa do ataque satírico persista ao longo de todas as
transformações sociais, ou que a diatribe surpreenda uma falha inerente ao ser
humano. (1974: 470)
Os autores de sátira que ultrapassam os séculos souberam tirar do tema
rotineiro da vida dados que não se confundiam com subjetivismo ou preferência
meramente pessoal. Buscou elementos que resultaram em prejuízo coletivo que
implica um certo comportamento individual.
Assim, (2) Horácio (século I a.C.), Quintus Horatius Flaccus, trará a
poesia como tema os defeitos humanos: a sua inconstância pelo fato de estar
insatisfeito com a sua sorte e inveja a felicidade do próximo, as loucuras humanas
como a prodigalidade, a avareza, a ambição insaciável, etc. Eis uma passagem de
Horácio:
Sordidus ac diues, populi contemnere uoces
Sic solitus: “ Populus me sibilat; at mihi plaudo
Ipse domi, simul ac nummos contemplor in arca”.
Tantalus a labris sitiens fugientia captat
Flumina... Quid rides? mutato nomine de te
Fabula narratur. (65-70)
Rico, mas de sórdido, acostumou-se a desprezar os rumores do povo assim:
“O povo me apupa; mas, quando comigo mesmo,
Em casa, eu mesmo me aplaudo, enquanto contemplo as moedas na arca”.
É Tântalo sedento que tenta beber a água que foge dos lábios.
De que ris? Mudado o nome, a narrativa fala de ti.
Quantas vezes rimos de nós mesmos, quando não percebemos o nosso
comportamento ridículo se realizando diante de nós mesmos, no dia-a-dia.
Poeticamente rico é o discurso de Horácio. Tântalo é o símbolo do desejo incessante
e incontido... sempre distanciado de concretizar a posse, o que é próprio da natureza
humana. O vento tange para longe o cacho de uva quase alcançado. A água é
insuficiente para saciar a sede, escoa entre os dedos ávidos.
Desse modo, as loucuras humanas são dissecadas pelo bisturi epicurista
de um poeta satírico exemplar. Imitations of Horace, de Alexander Pope (1688-
1744), é uma dentre múltiplasindicações que o MundoOcidental dispõe do interesse
que desperta a obra horaciana.
3 - Julius Phaedrus, Fedro, nasceu na Trácia, veio para Roma como escravo
e tornou-se liberto deAugusto, que o admirava. Sua obra, que introduz a fábula em
latim, mas ele mesmo ressalta quem foi o criador: o grego Esopo. Sua obra só foi
publicada na época de Tibério ou Calígula. Devido a suas referências de censuras
sociais, sofreu processo e chegou a ser preso. Outros elos da corrente fabulista
56 57
são La Fontaine na França; no Brasil: Monteiro Lobato, Millor Fernandes etc.
Aulus Persius Flaccus, Pérsio (início do séc. I d.C.) integra o quadro
uerae gloriae, de verdadeira glória, mesmo uno libro, com um único livro, como o
afirma Quintiliano (X,1,94). O cunho moralista de sua sátira despertou estudos
como o de C. Surnier, Le rôle des satires de Perse dans la développment du néo-
stoïcisme. Há uma frase de Pérsio que retrata alma humana de modo lapidar: Vsque
adeone / Scire tuum nihil est, nisi te scire hoc sciat alter? Até que ponto é teu
algum saber, a não ser que teu saber, isso mesmo, o outro o saiba? (I, 26-7)
4 - Marcus Valerius Martialis, Marcial, (40 a 104 d.C.) elegeu o epigrama
como únicocaminho poético. Etimologicamente epigrama (de epí-, sobre e gramma,
escrita, inscrição) são quaisquer inscrições em túmulos, monumentos e diversos
objetos, em verso ou prosa; compõe também material de estudo de uma disciplina
denominada epigrafia. Tornou-se, além disso, um poema curto de temas variados,
ou seja, uma satura lanx. Em Marcial, encontramos o exemplo mais clássico de
epigrama no Livro X, 4, 8: Hoc lege quod possit vita “meus est”, Leia aquilo que
a vida possa dizer “é meu”.
Nestes poetas mencionados temos um discurso satírico em peças literárias
individualizadas, mas nada impede a presença de uma passagem dispersa de sátira
em obras caracteristicamente épicas, dramáticas ou líricas. Ou até em tratados,
como neste passo horaciano: Cur nescire pudens praue quam discere malo?, Por
que por puro pudor infundado prefiro desconhecer a aprender? (Ars Poetica, 88,
também nos versos 416 - 8)Ainterrogação tem em si este tom questionador, irônico.
Ironia em grego é pergunta, interrogação. Era este o bisturi de Sócrates diante dos
sofistas: operar um parto de uma idéia com a interrogação, isto é, com a ironia.
1.2 – Juvenal
Decimus Iunius Iuuenalis (I d.C.), coetâneo de Marcial, segue o caminho
aberto por Horácio sempre com hexâmetros datílicos. São dezesseis poemas sob o
título de Sátiras, afinal Quid Romae faciam? Mentiri nescio, Que hei de fazer em
Roma? Não sei mentir... (I, 3, 41)
Conselheiro, Juvenal tem muitos os versos que se tornaram proverbiais:
Difficile est saturam non scribere, É difícil não escrever sátira (I, 30). Imbuído de
justiça, adverte Dat ueniam coruis, uexat censura columbas, A censura é indulgente
com os corvos e se encarniça contra as pombas (II, 63). Rara auis in terris, Ave
rara no mundo (VI, 165); Panem et circenses, Pão e circo (X, 81) – as duas únicas
coisas que interessavam ao povo romano de sua época (RÓNAI, 1980: 132) Mas
Paulo Rónai estende isso a outras época quando cita José de Alencar: Cobiça e
prazer, ‘panem et circenses’– eis o que move as massas quando as desampara a
crença de liberdade e da dignidade popular. E também Camilo Castelo Branco:
Fui a casa, e aquietei o motim intestinal, como os imperadores romanos
aquietavam acanalha: ‘panem’, mas com manteiga, que os romanos não
conheceram: o ‘et circenses’, traduzi-lho em café com leite.
Isso mesmo as nossas autoridades deveriam ler, ao invés de projetos
demagógicos: Maxima debetur puero reuerentia, Deve-se o máximo respeito às
crianças (XIV, 45).
Juvenal retrata a natureza humana como avarenta: Crescit amor nummi,
quantum pecunia creuit, Cresce o amor ao dinheiro na mesma proporção em que
cresceu o patrimônio (XIV, 139)
Para Spalding (1958:114), desenvolveu para pôr a nu os vícios
abomináveis que o cercavam; e teve êxito: de todos os satíricos romanos, é o
mais completo e perfeito.
2 – O ESTILOESTÓICODA SÁTIRAX
Na X, Juvenal aborda a questão do desejo. O homem incomoda os deuses
com seus votos desarrazoados, que, se escutados, se manifestam contra o próprio
homem. Ele é cheio de desejos e, com isso, se prejudica, porque deseja a ele
mesmo. Há lá, para um observador, muito para chorar, mas há também muito para
rir: e Demócrito, no fundo, escolheu o partido certo (1-53).
Deseja-se o poder: lembrem-se da queda de Sejano, da covardia do povo
diante do favorito abatido, e será conveniente que Sejano se equivoque na sua
manobra para obter o poder. Tibério o condena à morte. Mas, para o povo, que só
quer pão e circo (81), aceitaria a condenação do próprio Tibério, se fosse este que
tivesse sido condenado à morte.
E os casos dos triúnviros Crasso (morreu em 53 a.C. numa armadilha
quando tentava uma entrevista com o general dos partos, povo que deveria ser
combatido por ele), Pompeu (apesar do seu prestígio, foi assassinado por ordem
de Ptolomeu XII que queria agradar a César) e César (foi assassinado por seu
próprio filho Brutus, que acreditava que César era um déspota) (54-113)?
Deseja-se eloqUência: foi ela que arruinou Demóstenes (384 – 322 a.C. - o
mais célebre dos oradores atenienses combateu e venceu os projetos ambiciosos
de Filipe quanto a dominar imediatamente a Grécia, mas teve de se suicidar porque
criou inimigos que desejavam destruí-lo) e Cícero (século I a. C., defensor da
República, mas projetou um inimigo cruel contra si mesmo: Marco Antônio que o
assassinou cruelmente) (114-132).
De que vale a glória militar, o destino de Aníbal nos ensina (o único
general que conseguiu enfrentar a poderosa Roma; fugiu de sua pátria Cartago
pela porta dos fundos para salvar-se da ira do povo); também o de Alexandre
(apesar de toda a conquista militar, morreu jovem) e de Xerxes (rei da Pérsia, teve
de fugir para a Ásia, porque foi derrotado em Salamina, mesmo tendo obtido outras
58 59
vitórias) (133-187).
Deseja-se longevidade: é preciso não esquecer a hediondez psíquica do
velho, suas decadências morais e intelectuais, suas dores, seus achaques... Por
exemplo, Nestor (é apresentado por Homero como sendo o mais sábio e experiente
dos gregos no cerco de Tróia) e Príamo (viu o seu reino, Tróia, incendiado pelos
gregos) não teriam tido mais vantagem se morressem mais jovem (188-288)?
Uma mãe imprevidente pede aos Céus beleza para seu filho ou sua filha.
Se ela suspeitasse os perigos que rodam a beleza: o efebo favorecido pela natureza
será exposto aos caprichos de tiranos, ou à vingança de maridos. Que proveito
tirou Hipólito (inspirou paixão incontrolável na sua madrasta Fedra, que, recusada
pelo belo rapaz, se vingou rasgando as roupas para simular um estupro diante do
pai dele, Teseu. Este apelou para seu pai divino, Posídon, pois sentiu-se impotente
para castigar o filho. Posídon fez sair do mar um monstro que assustou os cavalos
de Hipólito que cavalgavam puxando a carruagem do filho de Teseu à beira-mar em
Trezena. Como Hipólito [composto de: ‘híppos’, cavalo; ‘lýein’, desatar] se
esfacelou contra os rochedos, Fedra se enforcou de remorso.) ou Belerofonte
disso mesmo(289-345)? (Belerofonte que recebeu a purificação de um assassinato
e a hospedagem do rei Preto de Tirinto, inspirou a paixão da esposa real Antéia,
conforme Homero, ou Estenebéia, como nos trágicos. Repudiada por Belerofonte,
acusou-o de violentá-la. Preto transferiu para seu sogro que o castigo de Belerofonte,
porque teve escrúpulos quanto à hospitalidade e à purificação realizada. Tal castigo
se constituiu no combate à Quimera, o que tranqüilizou Ióbates, o sogro de Preto.
Mas com o cavalo Pégaso, conseguiu derrotar a Quimera. Outras missões perigosas
lhe foram dadas na tentativa de ele ser destruído. Ele retorna sempre vitorioso e se
vingará de Estenebéia.)
Vt tamen et poscas aliquid uoueasque sacellis
Exta et candiduli diuina tomacula porci,
Orandum est ut sit mens sana in corpore sano.
Fortem posce animum mortis terrore carentem,
Qui spatium uitae extremum inter munera ponat
Naturae, qui ferre queat quoscumque labores,
Nesciat irasci, cupiat nihil et potiores
Herculis aerumnas credat saeuosque labores,
Et uenere et cenis et pluma Sardanapalli.
Monstro quod ipse tibi possis dare; semita certe
Tranquillae per uirtutem patet unica uitae.
Nullum numen habes, si sit prudentia. Nos te,
Nos facimus, Fortuna, deam caeloque locamus.(354 - 66)
Deve-se pedir que se tenha mente sã num corpo são,
Embora, ao revés, tu peças algo mais e prometas nos templos
As entranhas e as lingüiças divinas dos porcos brancos.
Peça um ânimo forte isento do terror da morte,
Como quem põe o extremo espaço da vida entre os dons da natureza,
Como quem possa suportar alguns labores,
Saiba não se irritar, nada deseje e antes
Creia melhores as provações de Hércules e as penosas tarefas
Do que tanto o prazer amoroso quanto banquetes, bem como as plumas de Sardanapalo.
Eu mostro o que podes encontrar em ti mesmo: o caminho
Único da tranqüilidade certamente abre-se pela virtude de vida.
Não tens nenhum poder, Fortuna, se houver prudência.
Nós, apenas nós, te tornamos deusa, ó Fortuna, e te colocamos nos céus.
Como se vê, temos conselho para que se domine o desejo, se enfrente os
percalços da vida e a aceitação de suas deficiências pessoais. Hércules era para a
Antigüidade Clássica o símbolo daquele que livraria o mundo do mal sem ficar
esperando qualquer retorno que o compense pelos seus trabalhos. Portanto, uma
ação de um verdadeiro filósofo do estoicismo.
Referências bibliográficas:
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1986. 3 v.
- _______. Dicionário Mítico-etimológico da Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes,
1992.Vols.I-II.
- ______. Dicionário Mítico-etimológico da Mitologia e da Religião Romana.
Petrópolis, Vozes, 1993.
HUMBERT, Jules. Histoire Illustrée de la Littérature Latine: Précis Méthodique.
Paris:Didier,1932.
JUVÈNAL. Satires. Texte établi et traduit par Pierre de Labriolle et François
Villeneuve. Paris: Les Belles Lettres, 1950.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 1974.
MORISSET,R.&THÈVENOT,G.HistoiresLitteraire.PrincipalesOeuvres.Morceaux
Choisis. Paris: Magnard, s/d.
RÓNAI, Paulo. Não perca o seu latim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
SPALDING, Tassilo Orpheu. Pequeno Dicionário de Literatura Latina. São Paulo:
Cultrix,1968.
TOSI, Renzo. Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas. Tradução de Ivone
Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
1
(HUMBERT: 1932, 64): environ 600 vers.

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A influência da estética grega na arte ocidental

  • 1. 52 53 com originalidade e ousadia recriaram a nudez feminina na arte e inspiraram várias gerações de artistas. Souto Maior (1976:112) conclui que, mais do que qualquer outro povo, o grego venerou a beleza, atingindo um grau incomparável nas suas concepções artísticas. Aestética grega influenciou toda cultura ocidental e lançou sua semente de perfeição na arte de representar a forma humana, principalmente através do nu. Mesmo tendo sido abafada na Idade Média, teve no Renascimento seu despertar embasada numa moral pedagógica que refletia a intenção da sociedade da época, ao consagrar na arte o prazer do belo, propagando esse ideal de polis perfeita por todas as gerações futuras. BIBLIOGRAFIA CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002 CONTI, Flavio. Como Reconhecer a Arte Grega. São Paulo: Martins Fontes, 1978 COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000 GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999 HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes,1995 JANSON, H.W. e A.E. Iniciação à História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996 PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 1996 SOUTO MAIOR,A. História Geral. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1976. ASÁTIRAX,DEJUVENAL Prof.Dr.AmósCoêlho daSilva (UERJ) RESUMO: Poetas que se destacaram pela sátira. Ecos satíricos em outros discursos poéticos. Juvenal, que não soube mentir, ocupou o seu tempo tentando a educar os romanos: Quid Romae faciam? Mentiri néscio. Que fazer em Roma? Não sei mentir.(I, 3, 41) A emergência urbana tornou o povo romano civilizado, mas insensato em suas preces suplicantes de desejos aos deuses: Juvenal, Sátiras, X. Palavras-chave: sátira; moralismo; humor; ironia. 1 – INTRODUÇÃO O termo sátira, que não está ligado à divindade grega Sátiro, provém do sintagma Satura lanx, que era a bandeja das primícias, oferecida à deusa Ceres que faz crescer a seara (MOISÉS, 1974: SÁTIRA). Ceres(BRANDÃO, 1993: 79-80) integra uma posição importantíssima no cenário religioso romano, devido à qualidade agrícola do povo latino, assimilou características de (IDEM, 1993: 271) Deméter: De-, variante de ‘Gç’, terra; ‘mçter’, mãe – Deméter é a terra cultivada; Ceres personifica a Terra cultivada. Essa divindade, instituidora dos trabalhos agrícolas, ensinou ao povo, cuja característica mais importante então era ser um miles et agricola: Prima Ceres ferro mortalis uertere terram / Instituit, Ceres, como pioneira, instituiu que os mortais revolvessem a terra com o arado de ferro. Em reconhecimento à deusa da vegetação pela fartura das sementeiras, em latim satio: 1 sãtiô, âs, âre, âvî, âtum, t.: saciar, fartar; satisfazer, saturar. 2 sãtio, ônis, f.: sementeira; campo semeado; plantação. Da mesma família, temos ainda: satis, adv.: bastante; sãtura / sãtira, ae, f.: prato de diversos frutos; etc. Em português, temos a continuidade latina como em satisfazer, satisfeito, saturar, etc. Da deusa, temos cereal (Ceres é um conexo com o v. crescere, ‘nascer, brotar; crescer, medrar’) e derivações como cerealicultor, cerealicultura, cerealífero, cerealina, cerealista, cerealístico, cerealose, etc. Portanto, ofertava-se a Ceres em gratidão à satisfação ou ao estar saturado uma bandeja com os primeiros frutos colhidos. Mas em 364 a.C., Tito Lívio(séc. Ia.C.) nos relata que o Senado tinha importado da Etrúria os ludiones ou histriones, a fim de apaziguar o ânimo divino e arrefecer uma peste que assolava, então, o povo romano. Surpresos e deleitados com os movimentos de dança e gracejos indecorosos, adotou-se a novidade. A fescennina licentia, a permissividade da cidade etrusca Fescênia, se consagrou através das Confrarias dos IrmãosArvais (de arua, os campos lavrados)
  • 2. 54 55 e Sálios, cf. Varrão, De LL,V, 85: “ Salii ab salitando”, devido aos seus movimentos rápidos e vivos, eles saltitavam; daí o nome da Confraria: os Sálios (note-se que saltare, um iterativo intensivo antigo, foi superado por salire; salitare é um hápax de Varrão. Esse espírito galhofeiro, presente também em festas de cantos triunfais, se manifestou em momentos célebres, mesmo revirando às avessas compromissos e respeito hierárquico, como reverência a grandes generais como Júlio César: Gallias Caesar subegit, Nicomedes Caesarem. Ecce Caesar nunc triumphat qui subegit Gallias. Nicomedes non triumphat, qui subegit Caesarem. César subjugou as Gálias; Nicomedes,César. Eis César que agora triunfa porque submeteu as Gálias. Nicomedes, que submeteu César, não triunfa. A atitude grotesca e simplória do povo latino se depreende até na própria antroponímia. Seja na ordenação numérica dos filhos, seja num outro indicativo, por vezes, ridículo.Assim, herdamos Tércio, Otávio de Tertius (tertius, terceiro) e Octauius (octavus, oitavo); se a pessoa nascesse de manhã, do latim mane, chamar- se-ia Manius; se no mês de março, em português Márcio, do adjetivo Martius; ou, então, um aspecto caricatural do desenho da fava, lentilha grão-de-bico, defeito físico como, respectivamente, se apresenta a fisionomia de Fabius (relacionado com a forma da fava), Lentulus (relacionado com a lentilha), Cicero (a forma do grão-de-bico), Naso (de nariz comprido). Esse sentimento rústico e coletivo consagrou o valor mágico dessa festividade das colheitas numa forma poética com versos satúrnios. Apreciemos uma galeria de poetas que se inspiraram na festividade latina e construíram o estilo poético satírico: 1 – Lucílio, Caius Lucilius, (180-102 a.C.) escreveu trinta livros de sátiras, dos quais nos restam em torno de seiscentos versos1 , com prevalência em hexâmetros datílicos, obra que projeta a permanência deste verso nos poetas de sátira: Horácio, Pérsio e Juvenal, bem como o estilo satírico na literatura: Dans le dernier tiers du deuxième siècle naît à Rome un genre littéraire: la satire. O temário das poesias satíricas é formado de uma mistura, como a própria Satura Lanx, que era a reunião de primeiros frutos em honra da deusa Ceres. Sermones, porque, como Lucílio, a sua linguagem poética tem o suporte do sermo familiaris, foi o título da obra horaciana, mas a História a consagrou como nome de Sátiras. A expressão de Juvenal (6, 165) Rara avis já estava em Horácio (Sát. 2, 2, 26) e em Pérsio (1, 46) – neste último, o escólio define-a como proverbial, conforme Renzo Tosi (1996: 323).Apresente intertextualidade confirma pela segunda vez (a primeira foi o emprego do hexâmetro datílico, de acordo com o parágrafo acima) a preocupação em eleger do cotidiano um elemento menos fugaz, já que a natureza da sátira manifesta o fugidio ou volátil da vida: os erros e defeitos humanos. Sobre isso, Massaud Moisés observa que a sátira perde sentido e força à medida que o tempo passa. Raramente uma obra satírica resiste ao desgaste dos anos: para tanto, é preciso que a causa do ataque satírico persista ao longo de todas as transformações sociais, ou que a diatribe surpreenda uma falha inerente ao ser humano. (1974: 470) Os autores de sátira que ultrapassam os séculos souberam tirar do tema rotineiro da vida dados que não se confundiam com subjetivismo ou preferência meramente pessoal. Buscou elementos que resultaram em prejuízo coletivo que implica um certo comportamento individual. Assim, (2) Horácio (século I a.C.), Quintus Horatius Flaccus, trará a poesia como tema os defeitos humanos: a sua inconstância pelo fato de estar insatisfeito com a sua sorte e inveja a felicidade do próximo, as loucuras humanas como a prodigalidade, a avareza, a ambição insaciável, etc. Eis uma passagem de Horácio: Sordidus ac diues, populi contemnere uoces Sic solitus: “ Populus me sibilat; at mihi plaudo Ipse domi, simul ac nummos contemplor in arca”. Tantalus a labris sitiens fugientia captat Flumina... Quid rides? mutato nomine de te Fabula narratur. (65-70) Rico, mas de sórdido, acostumou-se a desprezar os rumores do povo assim: “O povo me apupa; mas, quando comigo mesmo, Em casa, eu mesmo me aplaudo, enquanto contemplo as moedas na arca”. É Tântalo sedento que tenta beber a água que foge dos lábios. De que ris? Mudado o nome, a narrativa fala de ti. Quantas vezes rimos de nós mesmos, quando não percebemos o nosso comportamento ridículo se realizando diante de nós mesmos, no dia-a-dia. Poeticamente rico é o discurso de Horácio. Tântalo é o símbolo do desejo incessante e incontido... sempre distanciado de concretizar a posse, o que é próprio da natureza humana. O vento tange para longe o cacho de uva quase alcançado. A água é insuficiente para saciar a sede, escoa entre os dedos ávidos. Desse modo, as loucuras humanas são dissecadas pelo bisturi epicurista de um poeta satírico exemplar. Imitations of Horace, de Alexander Pope (1688- 1744), é uma dentre múltiplasindicações que o MundoOcidental dispõe do interesse que desperta a obra horaciana. 3 - Julius Phaedrus, Fedro, nasceu na Trácia, veio para Roma como escravo e tornou-se liberto deAugusto, que o admirava. Sua obra, que introduz a fábula em latim, mas ele mesmo ressalta quem foi o criador: o grego Esopo. Sua obra só foi publicada na época de Tibério ou Calígula. Devido a suas referências de censuras sociais, sofreu processo e chegou a ser preso. Outros elos da corrente fabulista
  • 3. 56 57 são La Fontaine na França; no Brasil: Monteiro Lobato, Millor Fernandes etc. Aulus Persius Flaccus, Pérsio (início do séc. I d.C.) integra o quadro uerae gloriae, de verdadeira glória, mesmo uno libro, com um único livro, como o afirma Quintiliano (X,1,94). O cunho moralista de sua sátira despertou estudos como o de C. Surnier, Le rôle des satires de Perse dans la développment du néo- stoïcisme. Há uma frase de Pérsio que retrata alma humana de modo lapidar: Vsque adeone / Scire tuum nihil est, nisi te scire hoc sciat alter? Até que ponto é teu algum saber, a não ser que teu saber, isso mesmo, o outro o saiba? (I, 26-7) 4 - Marcus Valerius Martialis, Marcial, (40 a 104 d.C.) elegeu o epigrama como únicocaminho poético. Etimologicamente epigrama (de epí-, sobre e gramma, escrita, inscrição) são quaisquer inscrições em túmulos, monumentos e diversos objetos, em verso ou prosa; compõe também material de estudo de uma disciplina denominada epigrafia. Tornou-se, além disso, um poema curto de temas variados, ou seja, uma satura lanx. Em Marcial, encontramos o exemplo mais clássico de epigrama no Livro X, 4, 8: Hoc lege quod possit vita “meus est”, Leia aquilo que a vida possa dizer “é meu”. Nestes poetas mencionados temos um discurso satírico em peças literárias individualizadas, mas nada impede a presença de uma passagem dispersa de sátira em obras caracteristicamente épicas, dramáticas ou líricas. Ou até em tratados, como neste passo horaciano: Cur nescire pudens praue quam discere malo?, Por que por puro pudor infundado prefiro desconhecer a aprender? (Ars Poetica, 88, também nos versos 416 - 8)Ainterrogação tem em si este tom questionador, irônico. Ironia em grego é pergunta, interrogação. Era este o bisturi de Sócrates diante dos sofistas: operar um parto de uma idéia com a interrogação, isto é, com a ironia. 1.2 – Juvenal Decimus Iunius Iuuenalis (I d.C.), coetâneo de Marcial, segue o caminho aberto por Horácio sempre com hexâmetros datílicos. São dezesseis poemas sob o título de Sátiras, afinal Quid Romae faciam? Mentiri nescio, Que hei de fazer em Roma? Não sei mentir... (I, 3, 41) Conselheiro, Juvenal tem muitos os versos que se tornaram proverbiais: Difficile est saturam non scribere, É difícil não escrever sátira (I, 30). Imbuído de justiça, adverte Dat ueniam coruis, uexat censura columbas, A censura é indulgente com os corvos e se encarniça contra as pombas (II, 63). Rara auis in terris, Ave rara no mundo (VI, 165); Panem et circenses, Pão e circo (X, 81) – as duas únicas coisas que interessavam ao povo romano de sua época (RÓNAI, 1980: 132) Mas Paulo Rónai estende isso a outras época quando cita José de Alencar: Cobiça e prazer, ‘panem et circenses’– eis o que move as massas quando as desampara a crença de liberdade e da dignidade popular. E também Camilo Castelo Branco: Fui a casa, e aquietei o motim intestinal, como os imperadores romanos aquietavam acanalha: ‘panem’, mas com manteiga, que os romanos não conheceram: o ‘et circenses’, traduzi-lho em café com leite. Isso mesmo as nossas autoridades deveriam ler, ao invés de projetos demagógicos: Maxima debetur puero reuerentia, Deve-se o máximo respeito às crianças (XIV, 45). Juvenal retrata a natureza humana como avarenta: Crescit amor nummi, quantum pecunia creuit, Cresce o amor ao dinheiro na mesma proporção em que cresceu o patrimônio (XIV, 139) Para Spalding (1958:114), desenvolveu para pôr a nu os vícios abomináveis que o cercavam; e teve êxito: de todos os satíricos romanos, é o mais completo e perfeito. 2 – O ESTILOESTÓICODA SÁTIRAX Na X, Juvenal aborda a questão do desejo. O homem incomoda os deuses com seus votos desarrazoados, que, se escutados, se manifestam contra o próprio homem. Ele é cheio de desejos e, com isso, se prejudica, porque deseja a ele mesmo. Há lá, para um observador, muito para chorar, mas há também muito para rir: e Demócrito, no fundo, escolheu o partido certo (1-53). Deseja-se o poder: lembrem-se da queda de Sejano, da covardia do povo diante do favorito abatido, e será conveniente que Sejano se equivoque na sua manobra para obter o poder. Tibério o condena à morte. Mas, para o povo, que só quer pão e circo (81), aceitaria a condenação do próprio Tibério, se fosse este que tivesse sido condenado à morte. E os casos dos triúnviros Crasso (morreu em 53 a.C. numa armadilha quando tentava uma entrevista com o general dos partos, povo que deveria ser combatido por ele), Pompeu (apesar do seu prestígio, foi assassinado por ordem de Ptolomeu XII que queria agradar a César) e César (foi assassinado por seu próprio filho Brutus, que acreditava que César era um déspota) (54-113)? Deseja-se eloqUência: foi ela que arruinou Demóstenes (384 – 322 a.C. - o mais célebre dos oradores atenienses combateu e venceu os projetos ambiciosos de Filipe quanto a dominar imediatamente a Grécia, mas teve de se suicidar porque criou inimigos que desejavam destruí-lo) e Cícero (século I a. C., defensor da República, mas projetou um inimigo cruel contra si mesmo: Marco Antônio que o assassinou cruelmente) (114-132). De que vale a glória militar, o destino de Aníbal nos ensina (o único general que conseguiu enfrentar a poderosa Roma; fugiu de sua pátria Cartago pela porta dos fundos para salvar-se da ira do povo); também o de Alexandre (apesar de toda a conquista militar, morreu jovem) e de Xerxes (rei da Pérsia, teve de fugir para a Ásia, porque foi derrotado em Salamina, mesmo tendo obtido outras
  • 4. 58 59 vitórias) (133-187). Deseja-se longevidade: é preciso não esquecer a hediondez psíquica do velho, suas decadências morais e intelectuais, suas dores, seus achaques... Por exemplo, Nestor (é apresentado por Homero como sendo o mais sábio e experiente dos gregos no cerco de Tróia) e Príamo (viu o seu reino, Tróia, incendiado pelos gregos) não teriam tido mais vantagem se morressem mais jovem (188-288)? Uma mãe imprevidente pede aos Céus beleza para seu filho ou sua filha. Se ela suspeitasse os perigos que rodam a beleza: o efebo favorecido pela natureza será exposto aos caprichos de tiranos, ou à vingança de maridos. Que proveito tirou Hipólito (inspirou paixão incontrolável na sua madrasta Fedra, que, recusada pelo belo rapaz, se vingou rasgando as roupas para simular um estupro diante do pai dele, Teseu. Este apelou para seu pai divino, Posídon, pois sentiu-se impotente para castigar o filho. Posídon fez sair do mar um monstro que assustou os cavalos de Hipólito que cavalgavam puxando a carruagem do filho de Teseu à beira-mar em Trezena. Como Hipólito [composto de: ‘híppos’, cavalo; ‘lýein’, desatar] se esfacelou contra os rochedos, Fedra se enforcou de remorso.) ou Belerofonte disso mesmo(289-345)? (Belerofonte que recebeu a purificação de um assassinato e a hospedagem do rei Preto de Tirinto, inspirou a paixão da esposa real Antéia, conforme Homero, ou Estenebéia, como nos trágicos. Repudiada por Belerofonte, acusou-o de violentá-la. Preto transferiu para seu sogro que o castigo de Belerofonte, porque teve escrúpulos quanto à hospitalidade e à purificação realizada. Tal castigo se constituiu no combate à Quimera, o que tranqüilizou Ióbates, o sogro de Preto. Mas com o cavalo Pégaso, conseguiu derrotar a Quimera. Outras missões perigosas lhe foram dadas na tentativa de ele ser destruído. Ele retorna sempre vitorioso e se vingará de Estenebéia.) Vt tamen et poscas aliquid uoueasque sacellis Exta et candiduli diuina tomacula porci, Orandum est ut sit mens sana in corpore sano. Fortem posce animum mortis terrore carentem, Qui spatium uitae extremum inter munera ponat Naturae, qui ferre queat quoscumque labores, Nesciat irasci, cupiat nihil et potiores Herculis aerumnas credat saeuosque labores, Et uenere et cenis et pluma Sardanapalli. Monstro quod ipse tibi possis dare; semita certe Tranquillae per uirtutem patet unica uitae. Nullum numen habes, si sit prudentia. Nos te, Nos facimus, Fortuna, deam caeloque locamus.(354 - 66) Deve-se pedir que se tenha mente sã num corpo são, Embora, ao revés, tu peças algo mais e prometas nos templos As entranhas e as lingüiças divinas dos porcos brancos. Peça um ânimo forte isento do terror da morte, Como quem põe o extremo espaço da vida entre os dons da natureza, Como quem possa suportar alguns labores, Saiba não se irritar, nada deseje e antes Creia melhores as provações de Hércules e as penosas tarefas Do que tanto o prazer amoroso quanto banquetes, bem como as plumas de Sardanapalo. Eu mostro o que podes encontrar em ti mesmo: o caminho Único da tranqüilidade certamente abre-se pela virtude de vida. Não tens nenhum poder, Fortuna, se houver prudência. Nós, apenas nós, te tornamos deusa, ó Fortuna, e te colocamos nos céus. Como se vê, temos conselho para que se domine o desejo, se enfrente os percalços da vida e a aceitação de suas deficiências pessoais. Hércules era para a Antigüidade Clássica o símbolo daquele que livraria o mundo do mal sem ficar esperando qualquer retorno que o compense pelos seus trabalhos. Portanto, uma ação de um verdadeiro filósofo do estoicismo. Referências bibliográficas: BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1986. 3 v. - _______. Dicionário Mítico-etimológico da Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1992.Vols.I-II. - ______. Dicionário Mítico-etimológico da Mitologia e da Religião Romana. Petrópolis, Vozes, 1993. HUMBERT, Jules. Histoire Illustrée de la Littérature Latine: Précis Méthodique. Paris:Didier,1932. JUVÈNAL. Satires. Texte établi et traduit par Pierre de Labriolle et François Villeneuve. Paris: Les Belles Lettres, 1950. MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 1974. MORISSET,R.&THÈVENOT,G.HistoiresLitteraire.PrincipalesOeuvres.Morceaux Choisis. Paris: Magnard, s/d. RÓNAI, Paulo. Não perca o seu latim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. SPALDING, Tassilo Orpheu. Pequeno Dicionário de Literatura Latina. São Paulo: Cultrix,1968. TOSI, Renzo. Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 1 (HUMBERT: 1932, 64): environ 600 vers.