4. Agradecimentos
Somos profundamente gratos a todas as pessoas que ajudaram a tornar este livro uma
realidade: àqueles que serviram de terapeutas e pesquisadores nos ensaios de pesquisa e que
fundamentaram este manual (Therese Elizabeth Kenny, terapeuta; Christopher W. Singleton,
terapeuta; Dra. Kristin von Ranson, PhD, pesquisadora; e Jacquelyn Carter-Major, PhD,
pesquisadora), àqueles que serviram de auxiliares da pesquisa (Sarah Pajarito, MS, e Hannah
Toyama) e aos doutorandos que colaboraram no projeto ao longo dos anos (inclusive Dra. Laurel
Wallace, PhD, e Dra. Alina Kurland, MS). Agradecemos também a Craig Forte, LCSW, a
generosidade e expertise como assessor da terapia comportamental dialética (dialectical behavior
therapy – DBT). As contribuições intelectuais de Forte, especialmente a sua habilidade de
compreender os conceitos mais abstratos da DBT e de traduzi-los para a linguagem cotidiana,
foram imensuráveis.
Também gostaríamos de reconhecer, com profunda gratidão, a nossa dívida para com a Dra.
Marsha M. Linehan, que nos inspirou por meio do seu próprio trabalho e que nos encorajou
particularmente a testar e coletar dados sobre esta versão de autoajuda do nosso manual
profissional. Agradecemos à Dra. Christy F. Telch, PhD, a contribuição contínua da pesquisa
original. A sua adaptação de DBT para o comer compulsivo serviu de base para o nosso primeiro
manual terapêutico e para esta versão de autoajuda. Com muito prazer também agradecemos a
nossa sorte de receber orientações habilidosas da Editora The Guilford Press, especialmente das
editoras Kitty Moore e Christine M. Benton. A combinação dos seus talentos, do seu
compromisso e da sua convicção do valor deste projeto para os pacientes que sofrem de comer
emocional tem sido imprescindível.
Finalmente, gostaríamos de agradecer a todos os indivíduos que participaram dos nossos
ensaios de pesquisa ao longo dos anos. Este livro não teria sido possível sem vocês.
***
Também gostaria de expressar a minha apreciação pelo amor e apoio do meu marido, Adam;
da minha filha, Zoe; dos meus pais, Dan e Elaine, dos meus sogros, Stanley e Suzanne; e do meu
tio Howard e da minha tia Marlene.
Debra L. Safer
Sou grato à minha família que tolerou as muitas horas que passei longe trabalhando neste
projeto e a todos os meus muitos pacientes que confiaram em mim o suficiente para eu estar na
vida deles.
Sarah Adler
Agradeço o apoio infindável de minha mãe, Patricia; o amor eterno e o estímulo da minha
parceira, Ashley; e a todos os professores, supervisores e amigos que encontrei, até agora, no
meu caminho.
Philip C. Masson
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Sumário
Prefácio à edição brasileira
Introdução
O que você vai aprender neste programa
A abordagem DBT para eliminar a compulsão alimentar
Como se comprometer a eliminar a compulsão alimentar
As metas do programa e as ferramentas para atingi-las
Como se tornar o seu próprio treinador de DBT
Os benefícios do pensamento dialético e da mindfulness
Como se tornar um observador mais habilidoso
Como permanecer no caminho certo
Comer com atenção plena e surfar sobre o impulso de comer
Como ter consciência plena das emoções atuais e aceitá-las de forma radical
Como reduzir a vulnerabilidade à mente emocional e construir maestria
Acumulando emoções positivas e o passo a passo para aumentá-las
Tolerância ao mal-estar
Revisão, planejamento para o futuro e prevenção de recaídas
Apêndice
Índice
7. Prefácio à edição brasileira
Em 1950, nos Estados Unidos, foram relatados os primeiros casos de pessoas com sintomas
do transtorno de compulsão alimentar que participavam do programa de controle de peso da
Universidade da Pensilvânia. Desde aquela época até hoje, grande parte desses pacientes
procuram formas para lidar com as consequências relacionadas ao aumento ou desconforto com
peso, causados pelos episódios de compulsão alimentar e comer emocional. Essas pessoas
buscam diversas dietas, “fórmulas mágicas” e procedimentos radicais e, em geral, são seduzidas
por programas “milagrosos” de perda de peso. Porém, será que o foco realmente deveria ser a
consequência (peso) ou a causa dos episódios de compulsão alimentar? Será que trabalhar
exclusivamente na consequência (peso) tem um impacto na redução da causa dos episódios de
compulsão alimentar? Infelizmente, a nossa experiência clínica e as últimas pesquisas mostram
que tratar exclusivamente o peso não elimina o comer compulsivo e pode ter o efeito de
aumentar os episódios de compulsão alimentar. Há diversas razões para esse efeito rebote, e você
pode ter vivenciado muitas delas no decorrer dos anos, como: aumento do impulso de comer,
após regras rígidas de não poder comer determinados alimentos; pensar excessivamente em
comida; períodos curtos de restrição, seguidos por períodos de comer compulsivo;
desenvolvimento de autorregras negativas sobre a alimentação; aumento da autodepreciação do
corpo; além dos impactos negativos na imagem corporal. Então, qual deveria ser o caminho para
tratar as causas da compulsão alimentar? A resposta a essa questão – que é o cerne de grandes
hospitais e laboratórios de pesquisa que estudam o transtorno da compulsão alimentar – envolve
aspectos bem complexos. Não podemos nos restringir a apontar apenas uma causa, mas é
fundamental abordarmos os elos comuns quando observamos os momentos antes de os pacientes
terem um episódio de compulsão alimentar. Esses elos estão associados aos estados emocionais
vividos pelos pacientes quando recorreram à compulsão alimentar. Grande parte deles descreve
um alívio temporário ou uma sensação de estarem anestesiados após o episódio de comer
compulsivo. O que isso significa? Significa que a falta de habilidade para lidar com respostas
emocionais desconfortáveis aumenta a probabilidade de o indivíduo ter uma compulsão
alimentar, com o intuito de conseguir autorregular emoções intensas. O foco no desenvolvimento
de habilidades de regulação e aceitação dos estados emocionais intensos parece ser a chave para
eliminar os episódios de compulsão alimentar de forma definitiva.
Atualmente um dos poucos tratamentos baseados em evidência que tem como foco o
desenvolvimento de habilidades para lidar com as emoções dolorosas e evitar os episódios de
compulsão alimentar é a terapia comportamental dialética (dialectical behavior therapy – DBT).
Como existem poucos profissionais treinados no Brasil, os pesquisadores da Universidade de
Stanford criaram criaram o programa de DBT para o comer emocional e compulsivo com o
intuito de oferecer tratamento acessível a pessoas com pouco acesso a centros especializados de
transtornos alimentares.
Como se trata de um tratamento de autoajuda cujo efeito depende da adesão ao programa, o
Centro Brasileiro de Atualização em Transtornos Alimentares (Cebrata) criou um treinamento,
cujo conteúdo em formato de aulas com os ensinamentos deste livro está disponível aos
pacientes e profissionais de saúde por meio do acesso pago ao site www.cebrata.com.br.
8. Deve-se mencionar ainda que o programa de autoajuda não substitui o atendimento médico,
psicológico ou nutricional, mas serve como um elemento complementar ao tratamento, além de
ser utilizado na prevenção de pessoas com comer emocional para que não desenvolvam um
transtorno da compulsão alimentar.
Quero agradecer aos profissionais e pacientes do do Ambulatório de Transtornos Alimentares
do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (AMBULIM – IPq-HC-FMUSP). Especialmente ao Dr. Táki Córdas, Dr. Eduardo
Martinho Jr. (meu primeiro professor de DBT) e ao Dr. Raphael Cangelli Filho, deixo registrado
o meu imenso carinho admiração e aprendizado. Agradeço à Profa. Dra. Debra Safer (autora
deste programa) as exaustivas trocas de e-mails e o incentivo para publicar esta obra no Brasil. À
Dra. Marsha Linehan (criadora da DBT) agradeço as breves conversas no retiro de mindfulness
em São Francisco e o fato de ter me colocado em contato com a Prof. Dra. Debra Safer. Sou
grato à equipe de DBT do AMBULIM, Isabelle Tortorella Carneiro, Ilíada Alves, Edilene
Ucceli, Carime Bittar Falcão e Edilaine dos Santos, Camila Szewierenko, Andréa Vargas e
Felipe Luz, que seguraram a minha mão e abraçaram o projeto de desenvolver o primeiro grupo
de DBT do Brasil em uma internação de transtornos alimentares.
Agradeço à DBT Brasil, a Vinícius Dornelles e a Édela Nicoletti, o apoio no decorrer de toda
minha trajetória. Agradeço a Jan Luiz, Dan Josua e Liane Dahás o aprendizado no decorrer
desses anos trabalhando juntos no atendimento gratuito de pacientes graves de baixa renda no
DBT LAB (Laboratório de Terapia Comportamental Dialética do Núcleo Paradigma – SP).
Agradeço também a Beatriz Guimarães o convite de participar da primeira testagem clínica
de adaptação da DBT para o Transtorno de Compulsão Alimentar com pacientes brasileiros. A
Igor Finger, agradeço o convite de participar do brilhante projeto “Por uma vida valiosa” da
Vincular, e a todos os meus pacientes.
Dr. Fellipe Augusto de Lima Souza
Ambulatório de Transtornos Alimentares do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (Ambulim IPq-HC-FMUSP).
9. •
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Introdução
“Minha alimentação está fora de controle.”
“Parece que nunca me sinto saciado.”
“Às vezes, controlo a minha alimentação; noutras, perco completamente o controle.
Parece que há um botão que liga ou desliga.”
“Quando me sinto sobrecarregado, parece que preciso comer.”
A relação que desenvolvemos com a comida tem um grande impacto na qualidade das nossas
vidas. E também pode ser um pouco complicada. Da maneira mais óbvia, a comida é o
combustível de que os nossos corpos precisam para que possam se manter vivos. Entretanto,
qualquer um que luta contra a perda de controle na hora de comer sabe que não é tão simples
assim. A comida está associada a um conjunto de emoções que variam de grande prazer a
sofrimento profundo. Se você pegou este livro, é muito provável que sua relação com a comida
esteja interferindo diretamente na vida que você gostaria de viver e está procurando ferramentas
que possam ajudá-lo(a) a lidar com esse problema.
Bem-vindo ao Programa DBT para o Comer Emocional e Compulsivo
Somos profisionais especializados no tratamento de pacientes com transtornos alimentares.
Debra Safer é psiquiatra da Universidade de Stanford, Sarah Adler é psicóloga clínica da mesma
instituição e Phil Masson é psicólogo clínico do Centro de Ciências da Saúde de London, em
Ontário, no Canadá. Durante o nosso treinamento como psicoterapeutas, cada um de nós recebeu
uma introdução à DBT (dialectical behavior therapy – terapia comportamental dialética) e
ficamos impressionados com essa abordagem desenvolvida pela Marsha Linehan. A DBT ensina
os pacientes a manejar emoções extremamente difíceis, consideradas avassaladoras. Todos nós
completamos o treinamento de DBT e conduzimos pesquisas que investigaram especificamente
como as emoções podem estar relacionadas com a nossa alimentação.
Este livro é uma versão da DBT que adaptamos e testamos com pacientes que tiveram
dificuldade em controlar a própria alimentação. Ao longo dos anos, utilizamos essa abordagem
única com mais de mil pacientes e estamos ansiosos de poder oferecer a nossa experiência para
ajudar você também.
Este programa é adequado para você?
Quando os pacientes vêm à nossa clínica, a primeira coisa que fazemos é pedir-lhes que
descrevam o que os trouxe até nós. Ao longo dos anos, os pacientes têm relatado as suas
dificuldades com a alimentação utilizando uma grande quantidade de expressões diferentes,
como:
Compulsão alimentar
Comer emocional
Comer exagerado
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Comer por estresse
Comer por ansiedade
Vício em comer
Comer por conforto
Comer descontroladamente
Não nos restringimos exclusivamente a essas expressões ou a rótulos específicos. Para nós, o
fator mais importante está relacionado ao fato de que os nossos pacientes estão sofrendo e
precisam de ajuda. Se essas expressões têm a ver ou não com você ou se tiver uma maneira
diferente de pensar sobre a sua relação com a comida, pedimos que considere o quanto os
seguintes comentários dos nossos pacientes combinam com você:
“Há alguma coisa de errada comigo. Não sou como as outras pessoas – que comem quando
têm fome e param quando estão satisfeitas. Nunca fico satisfeito com quantidades normais.
Sempre acabo querendo mais.”
“A comida sempre parece estar me chamando. Não existe isso de pensar em comer apenas
um pouco.”
“Frequentemente durante uma compulsão alimentar, sinto-me como estivesse em um estado
de transe. E depois fico péssimo. Sinto-me envergonhado, desmoralizado, apavorado e
constrangido – além de muitos outros sentimentos ruins. Juro que vou parar e nunca mais
voltar a fazer isso. Às vezes até paro por um tempinho, mas, cedo ou tarde, sempre acabo
voltando para a compulsão alimentar.”
“Já ouvi falar muito sobre o ‘vício’ em comida. Acho que estou viciado em alguns tipos de
comida.”
“Não tenho certeza se realmente gosto de comer. A comida me assusta. Parece que preciso
dela para enfrentar a minha vida. Não é tanto para me confortar, é mais uma distração que me
ajuda a ficar anestesiado.”
“Realmente estou assustado com a forma perigosa como venho me alimentando. Tenho a
nítida sensação de que isso prejudica o meu corpo.”
“Tenho medo que, se eu continuar abusando da comida, não possa viver a minha vida ao
máximo. Receio de que nunca serei plenamente feliz ou nem estarei em paz comigo mesmo.”
“Pergunto-me sempre se realmente posso mudar. Conheço todas as razões para mudar e já
tentei muitas vezes. No entanto, nada parece fazer me sentir tão bem quanto a comida. Não
sei se tenho motivação.”
Se algum desses comentários lhe parece familiar, então este programa foi concebido para
você, como foi para Ângela, John e Letícia.
Ângela
“Sei que tenho um comer emocional. E raramente é pela fome física de fato. A comida traz
um conforto quando estou estressada, me acalma e distrai quando estou com raiva, além de ser
uma recompensa quando estou feliz. Sinto que não posso resistir ao impulso de comer demais,
não importa o quanto eu tente ou diga que depois vou me arrepender. Na maioria das vezes, o
meu comer excessivo se torna uma compulsão alimentar, e acabo me sentindo fisicamente
11. doente. Não sei dizer quantas vezes prometi que iria parar e depois voltei a repetir o mesmo
comportamento. Parece que as outras pessoas conseguem lidar com questões cotidianas sem
recorrer à comida. Eu não consigo, preciso sempre comer. Por que não consigo? Sinto-me
encurralada!”
John
“Eu simplesmente não tenho autocontrole. Não tenho ideia alguma do que me faz disparar.
Posso estar tranquilo em casa assistindo à TV e, de repente, acabo com meio litro de sorvete.
Nada aconteceu naquele momento, simplesmente parece que o comer compulsivo é um hábito
ruim, alguma coisa que acaba acontecendo quando estou entediado e quero relaxar, quando
quero me acalmar. Não sei o que há de errado comigo. Consigo mudar outros hábitos ruins, mas
esse parece impossível.”
Letícia
“Lutei com meu peso a minha vida inteira. Adoro comer, e parece que não tenho controle,
especialmente com certos alimentos. Os carboidratos são os meus inimigos! Mesmo quando
decido que não vou comer excessivamente, como uma coisa fora do meu plano alimentar e assim
acabo jogando a toalha e desistindo completamente. Tipo assim, na hora em que o saco de pão
chega à mesa, começo a comer uma fatia, e daí parece que não posso parar. Ou, não importa o
que é, quando saio dos trilhos, parece que não tenho controle algum. Sempre é tudo ou nada –
estou na minha dieta ou fora dela. Não estou aguentando, essa luta dominou a minha vida.
Simplesmente não sei como comer normalmente.”
Se você se identifica com a história de Ângela, John ou Letícia, este programa pode ser
perfeito para sua situação. Você vai receber muita ajuda das experiências deles. Vamos mostrar
ao longo deste livro como eles utilizaram o programa e mudaram os comportamentos
alimentares, o que resultou em uma melhora na qualidade de vida. As histórias deles são únicas e
representam experiências comuns de pacientes com quais trabalhamos e que são mantidos
inteiramente em sigilo para proteger a privacidade deles. Você também vai ler as respostas aos
exercícios e às tarefas de casa de uma paciente que chamaremos de Kátia, que graciosamente nos
deu a permissão de usar as palavras dela (embora alguns detalhes que possam identificá-la, como
o nome, tenham sido alterados).
Por que a terapia comportamental dialética?
A terapia comportamental dialética (dialectical behavior therapy – DBT) é um tratamento
eficaz e exaustivamente pesquisado, que ensina habilidades práticas e ao mesmo tempo
poderosas que podem ajudar os indivíduos com dificuldades de tolerar as próprias emoções.
Ao longo dos anos, os nossos pacientes nos contaram que frequentemente comem
compulsivamente, o que é definido como o comer com perda de controle, em resposta a algum
desconforto. Eles relataram que tiveram uma compulsão alimentar depois de uma discussão com
uma pessoa amada, após um dia estressante no trabalho, enquanto ficaram em casa sentindo-se
sozinhos ou entediados, depois de provarem uma roupa que não cabia, quando estavam doentes
ou com dor e mesmo depois de um encontro romântico que foi muito bem (o sentimento de
excitação pode levar ao desconforto!). Independentemente da situação descrita, o elemento em
12. •
comum é como esses eventos levam a sensações fisiológicas que parecem difíceis de tolerar ou
mesmo insuportáveis. Alguns dos nossos pacientes prontamente descrevem essas sensações
como emoções – dor, raiva, alegria, vergonha, desesperança, ansiedade e/ou desejo. Outros
pacientes tinham menos consciência do que estavam sentindo e, por isso, apenas conseguiam se
lembrar de uma sensação de inquietação ou desconforto. Outros começaram o nosso programa
sem qualquer compreensão de emoção. De acordo como modelo DBT utilizado neste programa,
o comer compulsivo funciona para amenizar o desconforto emocional ou oferecer uma maneira
de diminuir e/ou evitar sensações desconfortáveis (temporariamente). Em longo prazo, contudo,
o recorrer à comida como uma evitação leva ao remorso, à tristeza e a uma vergonha profunda, o
que pode reduzir a autoestima e aumentar a probabilidade de os nossos pacientes buscarem a
comida novamente na próxima em vez que estiverem aflitos.
Isso lembra algo que acontece com você?
Este programa de autoajuda para a compulsão alimentar concentra-se na quebra da relação
entre os seus pensamentos e a necessidade de usar a comida de maneiras que você sente que ela
acaba atrapalhando sua vida Você aprenderá três módulos, ou melhor, categorias de habilidades
da DBT: mindfulness (atenção plena), regulação emocional e tolerância ao mal-estar. As
habilidades desses módulos dependem uma da outra e são construídas em conjunto. As
habilidades de mindfulness vão ajudar você a aumentar o seu autoconhecimento e reconhecer por
que come tanto quando está estressado, de modo a permitir que você seja capaz de escolher os
comportamentos que serão mais úteis do que entregar-se à comida. A regulação emocional não
envolve apenas aceitar as emoções, mas também aprender a influenciá-las a fim de que você
possa ser cada vez menos vulnerável a sentimentos desagradáveis. A tolerância ao mal-estar
vai ajudá-lo(a) a aprender habilidades para lidar com incômodos e aborrecimentos de maneiras
novas, de modo que você tenha mais tempo para poder refletir e fazer escolhas melhores.
Depois de completar este programa, você terá adquirido muitas habilidades novas para
enfrentar as suas emoções, o que representará uma mudança significativa na sua relação com a
comida e uma vida mais saudável e feliz.
Como já mencionamos, a DBT está apoiada em dados de pesquisa que conferem a ela a
eficácia no tratamento de muitos transtornos e comportamentos problemáticos, porém os nossos
estudos focaram a demonstração de sua eficácia exclusivamente em pacientes com transtornos
alimentares (detalhes sobre esses estudos estão disponíveis no “Apêndice”). Um dos nossos
primeiros esforços de pesquisa nos levou a elaborar um manual do terapeuta (com os coautores
Christy Telch e Eunice Chen) para garantir que o tratamento criado por meio dos nossos estudos
seja disponibilizado para outros terapeutas e profissionais da saúde.
Para tornar este programa disponível de forma ainda mais ampla, escrevemos uma versão de
autoajuda para que as pessoas possam aprender as habilidades de forma independente (autoajuda
pura) ou com a ajuda de um terapeuta (autoajuda guiada). Como muitos manuais de autoajuda
são baseados em intervenções feitas por terapeutas cujos dados não foram testados
adequadamente, montamos um estudo com 60 pacientes que, guiados por terapeutas, utilizaram
este manual e obtiveram resultados muito eficazes e satisfatórios:
Após 13 semanas, 40% dos pacientes que fizeram o programa (e 50% dos que o
completaram) deixaram de apresentar completamente episódios de compulsão alimentar, em
comparação com apenas 3% do grupo de controle que estava na lista de espera do programa.
13. •
•
Seis meses depois, quase 70% dos participantes que pararam de ter compulsão alimentar
mantiveram-se, nas 13 semanas do estudo, sem compulsão alimentar.
Mesmo aqueles pacientes que não pararam completamente a compulsão alimentar tiveram
diminuição significativa no comportamento de comer compulsivo.
Isso significa que o nosso programa, por meio do uso deste livro, seria a sua única esperança
para abordar os seus problemas com a compulsão alimentar? Claro que não (ver quadro “Outras
opções: TCC e TIP”).
O que fazer se você não se identifica com a expressão compulsão
alimentar e/ou se não considera que utiliza a comida para aliviar as suas
emoções?
Até agora, a melhor evidência deste programa é a sua eficácia para pacientes que tiveram o
diagnóstico formal de transtorno da compulsão alimentar, assim como os que tiveram o
diagnóstico de bulimia nervosa enquanto estavam sendo tratados por um terapeuta. Neste
momento, estamos fazendo estudos adicionais para utilizar este programa tanto no formato de
autoajuda independente como no formato de autoajuda guiada por um terapeuta.
Segundo a quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais
(Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-V), da American Psychiatric
Association (APA), um episódio de compulsão alimentar basicamente envolve uma sensação de
perda de controle enquanto o indivíduo estiver comendo uma quantidade maior que outra pessoa
comeria em uma mesma situação. Para que possa ser feito o diagnóstico de transtorno da
compulsão alimentar, esses episódios têm que estar presentes por no mínimo três meses. Da
mesma forma, a bulimia envolve o comer com a sensação de perda de controle ao longo de um
período de meses, associado com comportamentos compensatórios, como vomitar, excesso de
atividade física ou abuso de laxantes com a intenção de diminuir o ganho de peso gerado pela
compulsão alimentar. Entretanto, como mencionado anteriormente, não iremos nos preocupar
com esses rótulos. Mesmo que não tenha sido diagnosticado com um algum desses transtornos,
você ainda pode aproveitar esse programa. A expressão “compulsão alimentar” simplesmente
não funciona muito bem para todos. Algumas vezes, as pessoas chamam os seus problemas com
a alimentação de “comer emocional”. Outras descrevem um padrão em que tendem a ficar
“beliscando” pequenas quantidades de comida de forma contínua, embora não sintam fome.
Outros pacientes sentem que comem sem prestar atenção ao que está sendo ingerido. As pessoas
com problemas no comportamento alimentar sentem-se desconectadas com o alimento e
percebem que existe alguma função emocional que as impulsiona a comer repetidamente ou de
forma desatenta. Também trabalhamos com muitos pacientes que realizaram a cirurgia de
redução de peso. Embora esses pacientes geralmente tenham uma incapacidade física de ingerir
grandes quantidades de comida em um único episódio, pedem ajuda para diminuir as escolhas
impulsivas de lanches não planejadas e as porções exageradas na hora da refeição, e para reduzir
a alimentação que não estava incluída nos planos que fizeram com o nutricionista.
O que realmente nos preocupa é o fato de você não estar feliz na sua relação com a comida
e sabemos que o aprendizado de habilidades pode ajudá-lo(a) a controlar os seus impulsos.
De acordo com a nossa experiência clínica, as habilidades propostas neste programa podem
14. •
•
ser de grande valia em outros comportamentos problemáticos, como gastar demais, fazer
exercício em excesso e trabalhar de forma excessiva (uma espécie de “vício em trabalho”), ou
naqueles que resultam de problemas emocionais. Mais adiante neste livro, você vai conhecer
pessoas que lutam com esses problemas.
Como você provavelmente consegue perceber, o fio condutor dessa discussão sobre os
transtornos alimentares é a ligação entre incômodos emocionais e a compulsão alimentar. Mas o
que fazer se você não está consciente de que tenta lidar com problemas emocionais comendo de
um jeito que o leva a se arrepender depois? Alguns dos nossos pacientes não têm consciência de
como estavam se sentindo antes de começarem a comer. Como, em geral, são oriundos de uma
família que não permitiu a expressão de emoções ou não forneceu a segurança necessária para
isso, eles frequentemente evitam reconhecer os próprios sentimentos. Isso não significa que os
pacientes nunca experimentam emoções fortes. Eles as percebem com muita clareza, contudo,
assim que começam a sentir, rapidamente fazem algo para aliviá-las, o que pode incluir
comportamentos como pegar um lanche, ligar a televisão ou abrir o Facebook. Ao começar este
programa e ao terminar pelo menos a primeira parte deste livro, iremos ajudar você a ficar mais
consciente de suas emoções. À medida que aprende a aceitar os seus sentimentos sem julgá-los,
você aumenta a percepção para identificar a relação entre os seus sentimentos e a sua
necessidade de comer. Quando identificam essa ligação, os pacientes começam a ter uma chance
muito maior de quebrar esse ciclo vicioso.
É claro que não estamos sugerindo que este programa pode ajudá-lo(a) em qualquer
problema relacionado com emoções ou transtornos alimentares. Certamente não indicaríamos
este livro como o único tratamento para a anorexia nervosa (caracterizada pelo baixo peso
corporal causado pela restrição contínua da ingesta calórica). Se você foi diagnosticado com
anorexia nervosa ou se preocupa que talvez tenha sintomas compatíveis, consulte um psicólogo e
um médico para desenvolver um plano terapêutico específico para o seu quadro, pois não
conhecemos nenhuma evidência de que a abordagem de autoajuda possa ser eficaz.
Outras opções: TCC e TIP
Estamos convictos de que o acesso a tratamentos testados é importante, mas infelizmente nem todas as
abordagens utilizadas pelos terapeutas têm a comprovação de eficácia para compulsão alimentar e bulimia
nervosa. Por isso, queremos deixar este programa disponível no formato de autoajuda guiada. Para saber quais
tratamentos para transtornos alimentares têm apoio empírico (foram considerados eficazes em pesquisas
científicas), acesse a MedLinePlus (da National Library of Medicine): http://medlineplus.gov e, em espanhol,
http://medlineplus.gov/spanish. No momento em que este livro foi escrito, os tratamentos a seguir tiveram o maior
apoio científico.
Terapia cognitivo-comportamental (TCC): É o tratamento mais estudado entre as abordagens baseadas em
evidências. A TCC sugere que a restrição alimentar ou as regras rígidas sobre o que “se pode comer” são a
chave para a manutenção da compulsão alimentar. O tratamento por meio da TCC tem sido pesquisado
também em formatos de autoajuda guiada por terapeutas e de autoajuda pura (ver Fairburn, 2013). O
programa envolve o preenchimento de um diário alimentar para descobrir a relação entre restrição alimentar e
os episódios de compulsão alimentar. Esse é um tratamento bem-sucedido para muitos indivíduos, porém
alguns pacientes mantêm os sintomas do transtorno alimentar mesmo no fim do tratamento com TCC. (Essa é
uma das razões pelas quais temos desenvolvido o nosso programa de DBT com um enfoque direto na ligação
entre a dificuldade do manejo de emoções e o alívio que vem da compulsão alimentar para acalmar emoções
avassaladoras. Alguns dos nossos pacientes nos contam que não fazem dietas muito restritas e que a maioria
dos seus episódios de compulsão alimentar parece acontecer mesmo quando comem de forma regular e em
momentos sem fome real.)
Terapia interpessoal (TIP): Essa é a segunda recomendação de tratamento para pacientes com bulimia
nervosa e transtornos da compulsão alimentar. A TIP, um tratamento bem estudado e baseado em evidências,
15. tem como enfoque a ligação entre dificuldades interpessoais e o transtorno alimentar. Para essa abordagem
psicológica, o desenvolvimento e a manutenção da compulsão alimentar ocorrem quando o indivíduo tem
dificuldade de lidar com situações interpessoais cotidianas. Até agora a TIP não está disponível no formato de
autoajuda.
Por que a DBT difere de outras abordagens?
Algumas abordagens que tratam a compulsão alimentar podem incluir atenção às emoções,
mas a DBT é o único programa que foca diretamente a associação entre a desregulação
emocional e a compulsão alimentar. Algo central da abordagem DBT é que os indivíduos
utilizam a alimentação para se acalmar, buscar aliviar e evitar as dificuldades emocionais, porque
essa forma de lidar com as emoções “funciona” temporariamente ou funcionou no passado para
lidar com as emoções, apesar de suas consequências negativas ao longo prazo, que causam
diversos problemas na vida dos pacientes e os mantêm presos nesse ciclo de compulsão
alimentar. Como já mencionamos, um dos aspectos mais potentes da DBT é que ela vai ensinar a
você as habilidades e estratégias específicas para enfrentar emoções difíceis sem ter a
necessidade de recorrer à comida. Além disso, a DBT incorpora um pensamento dialético, que é
um jeito flexível de pensar que lhe permite observar pontos de vista contrários, reconhecer a
necessidade de parar de ter compulsão alimentar e aceitar-se do jeito que está naquele momento.
Você vai aprender um método passo a passo para completar uma análise em cadeia, um jeito
incrível e eficaz para revisar o que mantém você em um padrão destrutivo. Essencialmente
ensinaremos você a se tornar o seu próprio treinador de DBT e, ao final do programa, terá todos
os recursos necessários para praticar e manter os comportamentos habilidosos de que você
precisa para ter uma relação saudável com a comida.
Como utilizar este livro
Alguns livros são ótimos para simplesmente folhear e procurar partes específicas que
poderiam ser relevantes para você. Não é o caso deste livro. Recomendamos que você leia
atentamente este livro na ordem preestabelecida. Como mencionamos anteriormente, as
habilidades que ensinamos dependem umas das outras e são construídas de forma consecutiva.
Além disso, cada capítulo apresentará novas habilidades, e quanto mais habilidades você tiver,
mais confiante estará para controlar o comer compulsivo e outros comportamentos
problemáticos, inclusive alguns que podem não estar relacionados à alimentação. Em resumo, ao
trabalhar todo o programa contido neste livro, você terá um arsenal potente que irá ajudar você a
desenvolver uma relação mais saudável e mais feliz com a alimentação. Para ter uma ideia do
que você vai aprender, apresentamos mais adiante a seção “O que você vai aprender neste
programa: uma síntese dos capítulos”, que descreve resumidamente o conteúdo de cada capítulo.
Em cada capítulo, há exercícios e “tarefas de casa” para guiar você de forma mais consistente
por todo o programa. Em geral, uma pessoa demora uma semana ou duas para ler um capítulo,
completar os exercícios e fazer as tarefas de casa. Se você precisar de um tempo maior para
completar os capítulos, não há problema. A parte mais crucial do programa é completar todos os
exercícios e todas as tarefas de casa. De modo geral, um ou dois capítulos por semana
(considerando as tarefas de casa) é uma boa média para a concretização de todo o programa.
À medida que avança no conteúdo deste livro, é imprescindível que você continue praticando
as habilidades aprendidas nos capítulos anteriores. Assinale as caixinhas do final de cada
16. capítulo para indicar que você praticou as novas habilidades que conseguiu aprender. Dessa
maneira, vamos manter o reforço das habilidades aprendidas enquanto você continua aprendendo
novas habilidades para eliminar a sua compulsão alimentar.
Como também será útil escrever diretamente neste livro, deixamos alguns espaços para que
você possa fazer suas anotações ao longo do programa. Essas anotações permitirão que a revisão
seja mais fácil, especialmente nos capítulos 7 e 13, pois ajudaremos você a avaliar o progresso
que fez perto da metade do livro e próximo da finalização do programa. (Se precisar de mais
espaço, sinta-se à vontade: escreva os seus pensamentos em uma folha separada de papel e a
insira no lugar correspondente do livro.)
De acordo com a nossa experiência, os pacientes que leem o material e enfrentam os
exercícios (não só lendo) conseguem aproveitar muito mais o programa. Trata-se de um
investimento, mas, ao longo do tempo, as habilidades aprendidas vão se tornar gradativamente
naturais. E a qualidade de vida que se cria quando não se é mais dominado pelo comer
compulsivo não tem preço!
Se você se dedicar a trabalhar neste livro de forma aplicada e cuidadosa, investindo um
pouco de tempo a cada dia, então este programa poderá ser eficaz como autoajuda pura. Mas,
para alguns, o trabalho com um terapeuta (psicólogo, médico ou uma nutricionista
comportamental) pode aumentar a responsabilidade e levar a um sucesso ainda maior.
Se você escolher uma abordagem de autoajuda guiada, leia atentamente o quadro “Como
estabelecer o seu próprio programa de autoajuda guiada”. Sugerimos que você compartilhe essa
tabela com o seu terapeuta. Se não tiver ou não quiser ter um terapeuta, mas sabe que é aquele
tipo de pessoa que vai melhor com apoio social, você poderá considerar a possibilidade de pedir
a ajuda de uma pessoa ou de algumas em que confia para apoiá-lo enquanto trabalha neste
programa.
Este programa se concentrará na perda de peso?
Muitos pacientes com compulsão alimentar também querem perder peso, o que é algo
compreensível, dadas as consequências para a saúde e as atitudes negativas da sociedade para
com os indivíduos com sobrepeso e obesidade. Constatamos que a maioria dos pacientes com
compulsão alimentar está insatisfeita com o próprio corpo, independentemente do tamanho, e
isso pode, de alguma maneira, dificultar a compreensão do que vamos abordar a seguir. Nossos
anos de experiência apoiam a quantidade esmagadora de pesquisa que se concentra na resolução
da compulsão alimentar antes de considerar a perda de peso. Se você tem tido problemas com
seu peso, sabe que perdê-lo e mantê-lo é muito difícil. As dietas envolvem restrição de forma
inevitável, e, quando os nossos pacientes tentam restringir a alimentação, essa atitude os leva a
ter mais compulsão alimentar. Se tentou fazer regime, certamente já observou isso. Constatamos
também que, quando os pacientes tentam seguir uma dieta muito rígida, não conseguem
aproveitar a oportunidade de aprender e utilizar as habilidades que ensinamos. Mesmo quando de
fato conseguem perder peso, a probabilidade de voltarem à condição anterior é muito alta
sobretudo se não conseguiram aprender a combater a compulsão alimentar. Por essa e outras
razões, recomendamos veementemente o combate à compulsão alimentar como melhor estratégia
para ter uma perda de peso em longo prazo. Este programa, então, não inclui um foco na perda
de peso. Vamos discutir isso mais detalhadamente na seção “Equilibrar a alimentação” do
17. 1.
2.
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Capítulo 10. Se você estiver tentando seguir uma dieta restritiva para perder peso ou para manter
a perda, ou estiver cogitando fazer isso, recomendamos a leitura dessa seção antes de continuar o
programa.
O nosso objetivo é guiar você ao longo deste programa e ajudá-lo(a) a eliminar a compulsão
alimentar e transformar sua vida. Então, mãos à obra!
Como estabelecer o seu próprio programa de autoajuda guiada
Até agora, a pesquisa não conseguiu descobrir ainda quais elementos são necessários para tornar um programa
de autoajuda guiada eficaz. Não sabemos, por exemplo, se o terapeuta deve ter um treinamento específico nessa
abordagem. Com base na pesquisa disponível, sugerimos que você faça o seguinte na hora de procurar um
terapeuta (ou outra pessoa em que confia e que possa dar-lhe apoio necessário):
Conte ao terapeuta que você pretende adotar este programa nos encontros que tiver com ele pelo menos a
cada duas-três semanas.
Peça ajuda nos seguintes procedimentos:
Montar uma agenda para a leitura do programa e conseguir se ater a essa agenda, sem querer pular
etapas.
Identificar qualquer tipo de obstáculo que possa atrapalhar o uso deste programa e focar a resolução de
problemas para abordar esses obstáculos. Por exemplo, um obstáculo comum que exige a nossa ajuda
refere-se ao fato de os pacientes não utilizarem as habilidades e estratégias quando precisam delas.
Discutir a maneira de aplicar as habilidades em situações específicas, como na revisão de uma análise em
cadeia do comportamento.
Discutir as partes específicas do programa se você teve problemas para compreendê-las.
Se o seu terapeuta concordar em ajudá-lo(a) nesses procedimentos e se você sentir que estabeleceram uma boa
relação de trabalho, você estará em uma boa posição para trabalhar este programa com o apoio adequado. Ter
um terapeuta ou outra pessoa confiável para ajudá-lo(a) a se responsabilizar por todo o processo pode ser muito
útil.
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O que você vai aprender neste programa Uma
síntese dos capítulos
No Capítulo 1, “A abordagem DBT para eliminar a compulsão alimentar”, você
aprenderá o seguinte:
Como as emoções estão ligadas à compulsão alimentar e por que é tão difícil e desafiador
eliminar o comer compulsivo (modelo DBT da regulação emocional).
Como os fatores biológicos e ambientais interagem para fazer com que alguns indivíduos,
mas não outros, sejam vulneráveis a ter a compulsão alimentar (a teoria biossocial da DBT).
Como este programa ensina novas habilidades a serem utilizadas como alternativa para a
compulsão alimentar na hora de enfrentar emoções difíceis.
No Capítulo 2, “Como se comprometer a eliminar a compulsão alimentar”, você
aprenderá o seguinte:
Como tirar proveito dos seus sucessos e desafios do passado sobre o que funciona e o que
não funciona.
Você será capaz de comparar as vantagens e desvantagens da compulsão alimentar e
imaginar como a sua vida poderia ser diferente se eliminasse o comer compulsivo.
Um método para explorar os valores que são importantes para você e se a compulsão
alimentar combina ou não com a vida que gostaria de ter.
O poder do comprometimento em eliminar a compulsão alimentar e outros comportamentos
problemáticos relacionados.
Você compreenderá a importância da dedicação a este programa.
Como se comprometer a eliminar a compulsão alimentar (não se assuste, abordaremos muitas
questões antes de chegarmos a esse ponto).
No Capítulo 3, “As metas do programa e as ferramentas para atingi-las”, você vai
aprenderá o seguinte:
As metas e os passos do programa.
Como usar o Cartão Diário para acompanhar o seu progresso.
As habilidades para renovar o seu comprometimento (vantagens/desvantagens), a primeira
habilidade no seu Cartão Diário.
Como as habilidades de mindfulness podem ajudar você a se tornar uma pessoa menos
reativa emocionalmente.
Como desenvolver uma mente sábia, equilibrando as suas respostas emocionais e racionais, e
tomar decisões que representam os seus valores.
A respiração diafragmática, uma habilidade simples mas potente para interromper as reações
físicas que frequentemente acompanham emoções fortes. Essa habilidade ajudará você a não
ceder à compulsão alimentar.
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No Capítulo 4, “Como se tornar o seu próprio treinador de DBT”, você aprenderá o
seguinte:
Como se tornar o seu próprio treinador de DBT examinando a sua compulsão alimentar por
meio da análise em cadeia.
Como a análise em cadeia funciona e por que é tão importante
Como utilizar a análise em cadeia para identificar maneiras para aumentar as suas chances de
eliminar uma compulsão alimentar.
No Capítulo 5: “Os benefícios do pensamento dialético e da mindfulness”, você
aprenderá o seguinte:
Os benefícios do pensamento dialético como uma alternativa a um jeito rígido de pensar.
Como aplicar o pensamento dialético em prol do seu comprometimento de eliminar a
compulsão alimentar, se aceitar e tolerar sentimentos ambivalentes a respeito da compulsão
alimentar.
A habilidade de mindfulness de observar, que envolve o “simples observar” da sua
experiência sem ficar preso nela, sem julgá-la e sem reagir a ela.
Como utilizar a observação para entrar em contato com sua “mente sábia”, levando em conta
tanto as sensações físicas como as emoções.
Como utilizar as habilidades do pensamento dialético e da observação para ajudar você a
eliminar a compulsão alimentar.
No Capítulo 6, “Como se tornar um observador mais habilidoso”, você aprenderá o
seguinte:
A habilidade de mindfulness de assumir uma posição isenta de julgamento, observando suas
experiências sem precisar rotulá-las ou sem ter que se definir em termos moralistas, como
“bem” ou “mal” ou “certo” ou “errado”.
A habilidade de mindfulness de concentrar-se em uma coisa de cada vez, trazendo toda sua
atenção e consciência para o presente ou para o momento atual.
A habilidade de mindfulness de ser eficaz e focar aquilo que ajudará você a alcançar as suas
metas, em vez de se atrapalhar e ficar preso ao “estar certo” ou “fazer perfeito”.
Como essas habilidades funcionam em combinação com a habilidade de observar. Isso pode
ajudar você a acessar a sua “mente sábia” e eliminar a compulsão alimentar.
No Capítulo 7, “Como permanecer no caminho certo”, você aprenderá o seguinte:
Como assumir uma postura isenta de julgamento enquanto revisa o seu progresso na metade
do programa.
Como utilizar as recomendações para fazer o programa de forma mais eficaz para você.
Quais habilidades têm sido mais úteis e quais você deveria utilizar mais.
Revisar a ferramenta da análise em cadeia e refletir sobre o que mais você pode fazer para
eliminar qualquer compulsão alimentar remanescente.
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No Capítulo 8, “Comer com atenção plena e surfar sobre o impulso de comer”, você
aprenderá o seguinte:
Como comer com atenção plena. A habilidade de estar plenamente consciente e atento ao
momento enquanto você estiver comendo.
Surfar sobre o impulso de comer é uma habilidade que vai ajudar você a acabar com a
associação entre o impulso de comer e a verdadeira compulsão alimentar.
No Capítulo 9, “Como ter consciência plena das emoções atuais e aceitá-las de forma
radical”, você aprenderá o seguinte:
Sobre habilidades de regulação emocional, um módulo novo que vai se construir com base
nas suas habilidades de atenção plena, porém que acrescenta novas habilidades que
permitirão que você influencie a sua vivência emocional de forma mais direta.
Duas habilidades de regulação emocional: consciência plena de suas emoções atuais e
aceitação radical delas.
A consciência plena de suas emoções atuais envolve a utilização de habilidades de
mindfulness, como treinar o seu foco atencional para ajudar você a diminuir a intensidade de
emoções dolorosas.
A aceitação radical das emoções envolve uma aceitação profunda e decisiva de suas
emoções, inclusive aquelas que são dolorosas, desconfortáveis e/ou incômodas.
No Capítulo 10, “Como reduzir a vulnerabilidade à mente emocional e construir
maestria”, você aprenderá o seguinte:
Como a redução de sua vulnerabilidade à mente emocional pode ajudar você a se tornar
menos suscetível à compulsão alimentar.
Como a abreviação Saber pode ajudar você a reduzir a sua vulnerabilidade à mente
emocional.
Cuidar da Saúde (tratar doenças físicas).
Equilibrar a Alimentação.
Balancear o sono.
Começar a fazer Exercício de forma regular.
EvitaR substâncias que alterem o humor.
Como a habilidade de ampliar o domínio ou o empenho em atividades que aumentam sua
autoconfiança e competência também podem reduzir a sua vulnerabilidade à mente
emocional.
No Capítulo 11, “Acumulando emoções positivas e o passo a passo para aumentá-las”,
você aprenderá o seguinte:
A importância de criar de forma proativa mais experiências positivas do que negativas ou
neutras na sua vida.
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Várias maneiras para ampliar as vivências positivas, como aumentar as atividades prazerosas
de forma diária, elaborar metas de longo prazo, ter uma participação ativa nas suas relações e
evitar padrões de evitação (“evite evitar”).
Como ampliar o prazer decorrente de suas vivências positivas por meio do aumento de sua
consciência das emoções positivas.
No Capítulo 12, “Tolerância ao mal-estar”, você aprenderá o seguinte:
Um conjunto de habilidades para ajudar você a enfrentar situações de alto estresse e muita
emoção; a proposta aqui é de lidar com esses estressores sem piorar as coisas, como a
compulsão alimentar.
Como ampliar o conceito sobre a aceitação radical, uma habilidade que envolve a escolha de
aceitar tanto a si mesmo como a situação atual do jeito que é, sem a necessidade de ter que
concordar com ela.
O meio-sorriso, uma habilidade poderosa que facilitará a sua aceitação interior por meio do
relaxamento de seus músculos faciais exteriores.
Três habilidades de tolerância ao mal-estar para ajudar você a passar pelas crises, tanto
grandes como pequenas: distração (mudar o foco para fora de si mesmo, de forma
temporária, para ter um momento de descanso necessário; por exemplo, por meio de
atividades), autoacalmar-se (achar maneiras para se acalmar por meio da utilização dos seus
cinco sentidos, como ouvir uma música agradável) e reflexão das vantagens e desvantagens
(ter uma chance de refletir sobre os prós e contras de tolerar uma situação estressora
utilizando habilidades eficazes de enfrentamento em vez de compulsão alimentar).
No Capítulo 13, “Revisão, planejamento para o futuro e prevenção de recaídas”, você
irá:
Revisar a abordagem deste programa e as habilidades aprendidas, com foco naquelas que
você considerou mais úteis.
Revisar o seu progresso na redução da compulsão alimentar.
Aprender uma nova habilidade, enfrentar com antecedência, para prevenir a compulsão
alimentar e a recaída.
Identificar e abordar o surgimento de qualquer obstáculo para que você possa continuar a
construir a vida que gostaria de ter.
22. 1.
2.
3.
1
A abordagem DBT para eliminar a compulsão alimentar
Durante muitos anos de trabalho, descobrimos que parar ou eliminar a compulsão alimentar
está entre as coisas mais difíceis que uma pessoa pode fazer ao longo da vida. Mas não se
assuste: este programa ensinará que difícil não é sinônimo de impossível.
O programa inclui três componentes importantes:
Primeiramente, você compreenderá por que é tão desafiador parar a compulsão alimentar.
Entender o que desencadeia os episódios de compulsão alimentar e o que mantém você
preso(a) nesse ciclo o(a)ajudará a não ficar se autojulgando, pois esses pensamentos podem
prejudicar seus esforços para eliminar o comer compulsivo.
Em seguida, você aprenderá habilidades e estratégias para manejar as emoções sem ter que
recorrer à comida. No final do programa, você terá uma caixa de ferramentas cheia de
habilidades para ajudá-lo(a) a enfrentar os problemas no lugar de evitá-los, saberá resolvê-los
de forma efetiva sem ter que utilizar a abordagem destrutiva da compulsão alimentar e
aprenderá a manejar qualquer dificuldade emocional na hora de enfrentar os problemas da
vida que não podem ser resolvidos. Nossos pacientes relatam que entendem o programa
como uma “Introdução às Emoções” ou como um curso básico de habilidades de vida que
eles nunca tiveram antes.
O programa utiliza o pensamento dialético que nos proporciona uma alternativa aos padrões
de “tudo ou nada” que podem prender você. O pensamento dialético promove um
pensamento mais flexível e lhe permite aceitar comportamentos aparentemente contraditórios
de uma forma que vai ajudá-lo(a) a avançar – apesar das tentativas de mudar, você será capaz
de aceitar-se como é, utilizará as próprias habilidades e aprenderá novas.
O modelo DBT de regulação emocional: compreendendo a ligação entre a
emoção e a compulsão alimentar
Você provavelmente deve estar ciente de que acaba recorrendo à comida em resposta a
algum desconforto emocional. O modelo DBT de regulação emocional da compulsão alimentar
(na página seguinte) ajuda a explicar como essa resposta acontece. A regulação da emoção
envolve reconhecer o que você está sentindo e a modulação de suas reações emocionais e a
aceitação e a tolerância de seu estado emocional quando não consegue alterar as emoções de
imediato. De acordo com esse modelo, em vez de conseguir regular as emoções, você acaba
recorrendo à compulsão alimentar quando suas emoções parecem intensas demais para que
possam serem moduladas, toleradas ou manejadas de qualquer outra maneira – ou seja, quando
você estiver emocionalmente desregulado. Se suas emoções são “positivas” (como felicidade,
entusiasmo, desejo), “negativas” (como raiva, decepção, preocupação) ou uma combinação
delas, a compulsão alimentar torna-se um comportamento cuja função é reduzir o seu
23. desconforto emocional. A notícia boa é que um comportamento aprendido pode ser desaprendido
(ver figura na página seguinte).
A história da Ângela
No caminho de volta para casa, Ângela lembrou-se da crítica que recebeu do chefe por ter
feito um relatório diferente do que ele havia solicitado. As palavras do chefe deixaram Ângela
muito magoada e com raiva. Para ela, as instruções não foram muito claras. Como Ângela não
recebeu nenhum feedback por ter feito tanta coisa em tão pouco tempo, acabou ficando cada vez
mais chateada. Entrou em uma lanchonete de fast-food e pediu dois hambúrgueres, um milk-
shake, uma porção grande de batata frita e duas tortas de maçã. Enquanto comia, ficou pensando
no trabalho e no quanto ela estava com raiva. Pouco tempo depois, estava inundada de vergonha
e nojo: “Como posso continuar fazendo isso comigo? Por que não dou conta de nada?”. À
medida que a noite avançava, Ângela se sentia cada vez mais desamparada, desesperada e
furiosa, especialmente porque sabia que deveria voltar ao trabalho no dia seguinte. Ao chegar em
casa, encontrou os restos do bolo de aniversário da filha na geladeira e não resistiu: comeu o bolo
e sentiu ainda mais vergonha e uma sensação ainda maior de desesperança. Na hora de dormir,
disse a si mesma: “TENHO que parar. Isso é loucura. O que há de errado comigo?”.
“A cenoura e o palito”: os princípios básicos da ciência comportamental do reforço positivo e negativo
A psicologia comportamental ajuda a explicar como o reforço pode afetar o nosso comportamento. Um reforçador
pode ser qualquer coisa que aumenta a chance de realizarmos determinado comportamento. Os reforçadores
24. 1.
2.
podem ser positivos ou negativos. Um exemplo de reforçador positivo é quando alguém repõe no armário o
alimento que levou você a ter uma compulsão alimentar. Já um reforçador negativo pode estar relacionado à
redução do desconforto emocional. Qualquer uma dessas recompensas vai estimular você a ter uma nova
compulsão alimentar. No entanto, muitos dos nossos pacientes argumentam que, na verdade, se sentem piores
após a compulsão alimentar e que nem sempre “se esforçam” para reduzir as emoções negativas e dolorosas.
Sendo assim, como os princípios comportamentais de reforço podem explicar o porquê de os pacientes
recorrerem ainda à compulsão alimentar? Existem duas razões para isso:
A compulsão alimentar oferece um benefício de curto prazo ao aliviar as emoções dolorosas, mesmo que isso
possa aumentar o desconforto (culpa, vergonha e nojo) em longo prazo.
A compulsão alimentar parece “funcionar” algumas vezes. Se tivesse dado certo sempre e de repente deixasse
de funcionar, provavelmente você pararia e tentaria algo diferente para lidar com as emoções dolorosas.
Contudo, se ainda não aprendeu formas para regular suas emoções, você pode repetir a compulsão alimentar
constantemente para verificar se há alguma chance de isso dar certo. Essa busca por alívio faz você sempre
recorrer a ela. Felizmente, você pode usar esses reforçadores intermitentes e variáveis para realizar boas
mudanças. Se você se esforçar em utilizar as habilidades deste programa e perceber que, às vezes, elas
funcionam bem, terá uma chance maior de continuar adotando essas habilidades mesmo que elas não
funcionem todas as vezes.
Embora Ângela tenha se comprometido a eliminar a compulsão alimentar, no fundo ela se
sente desamparada e sem força para mudar, pois não entende o que a leva a ter um episódio de
compulsão alimentar. Mais adiante, apresentamos duas figuras em que constam os modelos DBT
de regulação emocional para a primeira e segunda compulsão alimentar de Ângela. Essas figuras
apontam o que a levou a essas compulsões e demonstram que ela se mantém presa ao ciclo
vicioso do comer compulsivo.
A: Na primeira compulsão alimentar da Ângela, alguma coisa aconteceu primeiro. Nesse
momento, a compulsão alimentar de Ângela pode parecer algo tão automático que ela não
consegue ter consciência de nada que a desencadeou. De repente, ela se percebe na lanchonete.
Mas, na verdade, há um evento (gatilho) desencadeador (A), o que pode levar a determinados
pensamentos e emoções. Nesse caso, o evento desencadeante foi a crítica que Ângela recebeu do
chefe, o que a levou ao pensamento “Meu chefe não me valoriza. Nunca sou tratada de forma
justa” e ao sentimento de raiva.
B: O próximo passo é crucial. O evento desencadeante ou o gatilho leva a uma emoção (B)
que supostamente você não consegue enfrentar. Para a Ângela, foi o sentimento de ficar cada vez
com mais raiva do tratamento que recebeu do chefe. Quais emoções podem ser difíceis para você
enfrentar? O tédio de ficar sozinho em casa pode fazer com que você se sinta desconfortável.
Além disso, estar sozinho pode provocar emoções mais poderosas, como tristeza intensa,
carência ou frustração. Mesmo as emoções positivas como alegria ou desejo poderão ser
desconfortáveis se você não souber manejar a intensidade delas. A ideia aqui é que a Ângela
começou a experimentar uma emoção que traz desconforto.
Os eventos desencadeantes podem ser difíceis de ser identificados, mas, de forma resumida,
os gatilhos ambientais podem começar uma reação em cadeia que leva à compulsão alimentar.
Eis alguns exemplos:
Gatilho: Olhar-se no espelho. Pensamento: “Estou tão gorda/gordo”. Emoção: Vergonha.
Gatilho: O cônjuge flerta com uma pessoa atraente em uma festa. Pensamento: “Ele/ela nunca
mais me olhou daquele jeito”. Emoções: Tristeza e ciúmes.
Gatilho: Em uma festa de aniversário no escritório, há meus doces preferidos. Pensamento:
“Eles devem estar TÃO gostosos! Não é justo eu ter que limitar o quanto como!”. Emoções:
Mágoa e tristeza.
25. Gatilho: Comer algo que não está dentro do seu planejamento nutricional. Pensamento: “Já
enfiei o pé na jaca. Tanto faz agora, posso continuar”. Emoções: Arrependimento e
desesperança.
Você pode ou não reconhecer alguns desses gatilhos na hora que surgem. Mesmo eventos
aparentemente irrelevantes poderão se tornar gatilhos se você já estiver vulnerável por causa de
privação de sono, estresse crônico, depressão e assim por diante.
C: Como as emoções intensas podem ser muito difíceis de ser enfrentadas, faz todo sentido
que Ângela tente reduzi-las, evitá-las ou se livrar delas (C). As pessoas usam uma ampla gama
de estratégias para se sentirem melhor, mas Ângela nunca aprendeu as habilidades necessárias
para monitorar, avaliar, mudar e aceitar essas vivências emocionais intensas.
26. D: Esse é o momento em que a Ângela decide parar na lanchonete de fast-food. A comida
“resolve” o problema de forma temporária, ajudando-a a aliviar e esquecer o quanto estava
furiosa com o chefe. Recorrer à comida reduz a raiva, tristeza, frustração, solidão e outros
sentimentos desconfortáveis que ela tem em relação às ações do chefe.
E: Ao chegar em casa, Ângela começa a sentir nojo de si mesma e vergonha de sua
compulsão alimentar (E). Quando as emoções que evitou por meio da compulsão alimentar
voltam a entrar pelas rachaduras e se misturam com o nojo e a culpa por ter recorrido à comida,
Ângela se sente pior ainda.
A: Esse é o momento em que ela descobre o bolo de aniversário da filha, o qual se torna o
próximo evento gatilho (A) que perpetua o ciclo e desencadeia a segunda compulsão alimentar.
B: Culpa e vergonha intensas são emoções desconfortáveis que ela sente por ter recorrido à
comida.
C: Para evitar o desconforto emocional ou escapar dele, ela é tomada por uma vontade
intensa de tirar o bolo de aniversário da geladeira.
D: Ela tem a segunda compulsão alimentar, dessa vez com os restos do bolo.
E: Por pouco tempo, Ângela parece aliviada depois de ter comido o bolo, mas até o final da
noite sentiu mais nojo, desesperança e desespero.
Tenta sentir-se melhor ao prometer a si mesma que “nunca mais vai fazer isso de novo”.
Infelizmente, essa promessa aumenta a sua vulnerabilidade às emoções intensas, pois ela agora
está se privando de uma das estratégias que tinha para se sentir melhor: comer. De fato, isso a
deixará mais inclinada a ter outros episódios de compulsão alimentar quando não for capaz de
regular as emoções.
Ângela experimentou uma gama de emoções intensas e desconfortáveis. Talvez acredite,
como muitas pessoas, que os sentimentos dela são o problema – eles são exagerados e intensos
demais ou como se houvesse algo de errado com ela. (Como fica evidente, as pessoas com
problemas de compulsão alimentar podem ter uma vivência mais intensa das emoções do que
outros indivíduos e também podem chegar a acreditar que é inadequado experimentar algumas
emoções, como a raiva. Abordaremos isso um pouco mais para frente neste capítulo.) Contudo,
acreditamos que as emoções da Ângela não são o problema. As emoções desconfortáveis da
Ângela fazem sentido dependendo da situação. Quando é tratada de forma injusta, ela se sente
mal. Acreditamos que o problema é dado pelo comportamento ou pela estratégia (compulsão
alimentar) que ela está utilizando para enfrentar as próprias emoções. No curto prazo, isso faz
com que ela se sinta melhor, mas, no longo prazo, as emoções de Ângela em torno da
alimentação vão prejudicar a sua qualidade de vida de forma considerável e levá-la a ter mais
sofrimento e episódios de comer compulsivo. Como acredita não ter as ferramentas de que
precisa para identificar e resolver o problema de base, ela fica presa em um ciclo vicioso que
envolve não apenas o aumento da necessidade de compulsão alimentar para manejar o
desconforto emocional temporariamente, como também o isolamento social e a diminuição da
sua chance de receber validação, ajuda e outros apoios. O alívio das emoções por meio da
comida interfere no desenvolvimento de comportamentos saudáveis que possam levar a uma real
melhora de sua vida.
O que acontece quando você não tem certeza se são as suas emoções que levam você a comer
demais? Talvez você esteja pensando: “Só gosto muito de comer” ou “Só como quando estou
entediado”. Ou talvez não saiba por que come demais. Vejamos a experiência de John.
27. A história de John
John é um executivo de agenda cheia que tem vários jantares da empresa ao longo da semana. Quando chega em casa senta
no sofá e liga a TV. Não se sente com fome (“Acabei de comer muito no jantar”), mas a próxima coisa que ele se vê fazendo
é pegando um pote de sorvete e uma colher. Veio até nós para procurar ajuda com o que ele considera um hábito irracional e
perturbador. “Por que você está comendo?”, ele se perguntou. “Não há nenhuma razão para comer esse tanto. Como você
pode ter tanto controle sobre outras coisas, mas falhar tanto na hora de controlar a sua alimentação?”
O modelo DBT de regulação emocional ajudou John a reconhecer a sua compulsão alimentar
como algo mais do que apenas um “hábito irracional”. Ele lembrou que o pai sempre respondia a
qualquer expressão de emoção negativa ou dolorosa com solicitações agressivas como “Pare de
reclamar!”. John brincou que a única vez em que teve “direito de reclamar foi quando precisou ir
ao hospital porque estava mal”. Como John tinha motivação para ter controle sobre a sua
compulsão alimentar, estava aberto para a ideia de que as suas emoções poderiam estar ligadas
ao comer compulsivo. Começou a prestar mais atenção no que estava acontecendo dentro dele na
hora de ter a compulsão alimentar. Depois da compulsão alimentar mais recente, com sorvete
após um jantar da empresa, ele conseguiu analisar esse “hábito irracional” (ver figura na página
seguinte).
A: Evento desencadeante: estar sentado no sofá com o controle remoto.
B: Ele notou que o corpo e a mente estavam inquietos – “Eu não queria ir para cama, mas
também não sabia o que fazer com a energia que sentia”. Por dentro, ele dizia: “Preciso de
alguma coisa, preciso de alguma coisa, preciso de alguma coisa”. Conforme nós o encorajamos a
tentar procurar palavras para essa emoção, ele disse: “Frustrado. Estou chateado e frustrado.
Passo a maior parte do meu tempo no trabalho ou em jantares da empresa. Volto para casa e
durmo, e depois tudo recomeça novamente do zero”. Perguntamos a John se, talvez, quando
pensava “preciso de alguma coisa”, ele poderia estar sentindo que apenas o trabalho não era o
suficiente. Disse-nos que talvez isso fosse verdade, mas não tinha certeza.
C: John vai até o freezer e tira o pote de sorvete. O sorvete é delicioso e o distrai das
dificuldades. Essas sensações o levam a continuar comendo, embora diga a si mesmo que deve
parar de comer, de forma ríspida como o pai fazia.
D: Por fim, ele acaba comendo todo o sorvete de forma compulsiva. No curto prazo, a
compulsão alimentar faz com que ele consiga se aliviar do desconforto, da inquietação, da
chateação, da frustração e de outras emoções, inclusive da sensação de solidão ou vazio.
E: Contudo, deitado no sofá, ao sentir o desconforto de sua barriga que estava estufada
durante toda a noite, não demorou para sentir-se decepcionado, furioso e com nojo de si mesmo
por ter perdido o controle mais uma vez.
Nem todos os nossos pacientes descrevem as suas dificuldades com comida da mesma
maneira que Ângela e John. Letícia, por exemplo, tem certeza de que a real dificuldade dela é o
fato de simplesmente “gostar demais” de comida e não conseguir se controlar, especialmente
quando se sente confrontada por certos tipos de comida, como os carboidratos.
28. A história da Letícia
Letícia tem seguido a sua “Dieta do Ano-Novo”, a última de uma série vitalícia de dietas, e se sentiu comprometida para
finalmente conseguir entrar em forma. Nesse dia em particular, ela conseguiu comer de forma saudável e moderada, porque
estava com planos de visitar a mãe para uma reunião familiar. Decidiu de antemão que comeria só algumas porções pequenas
das especialidades preparadas pela mãe, mas, assim que chegou, descobriu o aroma da comida e se sentiu sem forças para
resistir. Assim que deu a primeira mordida, foi tomada por uma vontade de pegar uma porção maior. Nesse momento,
reconheceu que havia quebrado a dieta, apesar da dedicação, do trabalho duro e da atividade física. Letícia sentiu-se muito
envergonhada e decepcionada. Pensou consigo mesma: “Já era. A casa caiu. Já que comi, posso comer tudo que tiver
vontade e começar minha dieta novamente amanhã”. Então comeu tudo que queria, inclusive um grande pedaço do bolo de
batata-doce. Inicialmente isso a levou a um estado de quase transe concentrando-se exclusivamente nas sensações que a
comida lhe proporcionava. Por fim, sentiu-se cheia demais e completamente desmoralizada. Na próxima sessão de terapia,
quando descreveu o episódio, Letícia não conseguiu pensar em nenhuma emoção passível de ser identificada antes de chegar
à casa de sua mãe nem perceber de que maneira o modelo da regulação emocional da DBT poderia se aplicar a ela.
Explicamos a Letícia que trabalhamos com muitos pacientes como ela e concordamos que a
emoção que a levou à compulsão alimentar não estava presente antes que fosse até a casa da
mãe.
A: Evento desencadeante: O cheiro, a visão e o sabor da comida caseira da mãe (ver figura
na página seguinte).
B: Emoção: Vontade intensa desencadeada no momento em que ela começou a comer.
Letícia experimentou a sua vontade como algo praticamente insuportável. Letícia tem uma
sensibilidade biológica maior para características sensoriais (cheiro) relacionadas à comida com
ou sem a presença de fome física (ver a seção “O modelo biossocial da DBT de regulação
emocional”). Sente-se desconfortável quando impõe a si mesma um limite ou uma restrição.
29. Depois de ter passado do primeiro limite a que se impôs, parecia emocionalmente impossível
resistir. Essa dinâmica é explicada pela teoria biossocial da DBT, que vamos discutir
detalhadamente mais para frente neste capítulo.
C: Sair da dieta provocou autocrítica, decepção e vergonha, o que levou Letícia a acrescentar
mais comida em seu prato para tentar evitar essas emoções.
D: Ela então cedeu às próprias vontades e teve uma compulsão alimentar com tudo que
queria comer.
E: Temporariamente isso levou a uma redução do sofrimento emocional, mas, em longo
prazo, resultou em decepção, autocrítica e desmoralização.
Nesse momento, Letícia compreendeu o desejo como a emoção inicial que ela achou tão
difícil de ser tolerada, então o modelo de regulação emocional da DBT parecia se encaixar na
vivência dela. Mas, se ela não tinha como atribuir a culpa a si mesma ou à sua falta de
autocontrole, então só poderia culpar o cérebro e a própria bioquímica. Letícia então chegou a
pensar: “Isso não significa que não há nenhuma perspectiva de reverter a minha situação?”.
Não acreditamos nisso. A teoria biossocial da DBT explica por que algumas pessoas têm
mais dificuldades para tolerar o sofrimento emocional do que outras, e isso pode ajudá-las a ter
mais compaixão e paciência consigo mesmas. Se você se identificar como uma dessas pessoas,
entenderá por que as habilidades ensinadas neste programa serão tão transformadoras na sua
vida.
Mais adiante, abordaremos alguns aspectos da teoria biossocial da DBT, mas antes verifique
se o modelo da regulação emocional representa a sua própria vivência com a compulsão
alimentar.
30. EXERCÍCIO 1 O modelo DBT de regulação emocional se encaixa na sua experiência?
a. Em uma escala de 1 a 10, quanto você acha que o modelo DBT de regulação emocional combina com a sua
compulsão alimentar ou com outros comportamentos problemáticos relacionados com a alimentação?
b. Explique de que forma o modelo DBT de regulação emocional parece ou não conseguir justificar a sua
compulsão alimentar.
O que fazer se você não consegue notar nenhuma emoção (ou mesmo desejo) antes da
compulsão alimentar? Este programa talvez possa ajudar você a descobrir algumas emoções,
ensinando as habilidades para que possa se observar e descrever as suas emoções de forma mais
concisa.
O que fazer se você acredita que a sua compulsão alimentar tem mais a ver com um vício?
Esperamos que você trabalhe neste programa da mesma forma. Atualmente os pesquisadores não
podem afirmar com certeza se os alimentos podem de fato ter uma substância que causa
dependência, embora saibamos que algumas pessoas parecem ter uma vulnerabilidade genética
maior para a compulsão alimentar com carboidratos e gorduras do que outras pessoas. Não
importa qual é a sua crença a respeito da compulsão alimentar e da dependência, já vimos muitas
pessoas, que antes acreditavam ser dependentes, começarem a comer, de forma moderada, o
alimento do qual se achavam dependentes por meio da ajuda das habilidades apresentadas neste
livro. Continue!
A teoria biossocial da DBT de regulação emocional
É possível que uma colega de trabalho de Ângela também seja provocada pelo mesmo chefe,
mas não considere as suas emoções tão intoleráveis a ponto de precisar se desfazer delas custe o
que custar. John tem dificuldade de tolerar a sensação de inquietação, de aborrecimento e
possivelmente de solidão, enquanto há muitas outras pessoas que lidam bem com isso. Os irmãos
e as irmãs de Letícia não apresentam compulsão alimentar nos encontros familiares. A teoria
biossocial da DBT ajuda a explicar porque algumas pessoas parecem ser mais vulneráveis a
experimentar emoções fortes do que outras e porque algumas pessoas são mais vulneráveis à
compulsão alimentar. Vamos começar com a parte biológica (bio) da teoria.
Vulnerabilidade emocional baseada na biologia
A intensidade com que sentimos as emoções e a tendência de sentir são parcialmente
predefinidas, ou seja, biológicas. Se responder sim a uma ou mais das perguntas do questionário
apresentado a seguir, isso poderá sugerir que você se encontra no espectro de alta
vulnerabilidade emocional.
31. 1.
2.
3.
Questionário de vulnerabilidade emocional
1. Você é mais sensível ou fica mais facilmente chateado(a) do que outras pessoas (independentemente de contar
ou não para os outros o que está sentindo)?
Sim Não
2. Você acredita que responde de forma mais intensa às suas emoções do que outras pessoas
(independentemente de exteriorizar ou não as suas emoções)?
Sim Não
3. Quando sente que está ficando emotivo(a) ou chateado(a), você acredita ter uma tendência a ficar desse jeito
por muito mais tempo do que as outras pessoas?
Sim Não
Vamos discutir mais detalhadamente quais são esses três componentes da vulnerabilidade
biológica à emoção, e como eles se apresentam:
Sensibilidade: Não é necessária muita coisa para deixar você chateada(o). Vários dos
nossos pacientes nos contaram que ouviram durante toda a sua vida que eram “sensíveis
demais”.
Intensidade: Você tende a reagir de forma mais intensa do que outras pessoas na mesma
situação. As pessoas falam sobre você ter “reações em excesso” perante os menores sinais de
crítica ou rejeição. Mesmo as emoções não verbalizadas são vivenciadas de forma mais
intensa quando comparadas com a descrição de outras pessoas.
Duração: Você vivencia uma demora maior para voltar ao “normal’. As suas reações
emocionais duram mais tempo, e frequentemente você apresenta dificuldade para voltar ao
seu estado de calma.
Se tiver vulnerabilidade biológica à emoção, você talvez se descreva com uma pessoa de uma
casca emocional fina. Mas o que acontece com as pessoas que comem compulsivamente que
sentem o contrário – com um excesso de controle emocional? Isso não é incomum e na verdade
faz muito sentido quando levamos em conta os anos da utilização da comida ou de outros
comportamentos para aliviar ou afastar as vivências emocionais desconfortáveis. Ter um controle
excessivo continua sendo uma forma de desregulação emocional e pode ser melhorado por meio
das habilidades apresentadas neste livro.
Vulnerabilidade biológica à alimentação e às suas características de recompensa
As pessoas com compulsão alimentar podem ter uma vulnerabilidade maior não apenas à
emoção, mas também à alimentação e às suas características de recompensa. A pesquisa ainda
não pode afirmar com clareza se uma tal vulnerabilidade existe antes do desenvolvimento da
compulsão alimentar ou se é resultado desta, ou ainda se as duas vulnerabilidades interagiram e
se desenvolveram ao longo do tempo, mas sabemos que provavelmente houve o envolvimento de
ambos os fatores.
A fome por prazer, que parece afetar especialmente Letícia, envolve um aumento no ímpeto
ou na preocupação com alimentos altamente desejáveis, mesmo sem a presença de fome física.
Esses comportamentos têm sido demonstrado com maior frequência entre pessoas com
transtornos da compulsão alimentar, as quais são excepcionalmente suscetíveis a pistas de
32. comida (ou seja, apresentação, cheiro e sabor da comida) no seu ambiente. É interessante que as
características de recompensa da comida são “visíveis” no cérebro antes mesmo de o indivíduo
factualmente comer o alimento. Em outras palavras, a simples antecipação de comida – como
imaginar o sabor e quanto será bom e prazeroso comê-la – leva o cérebro a uma resposta.
Também é importante notar que há evidência de que o valor de recompensa de comida mais
desejável é mais elevado ainda em vigência de estados emocionais desconfortáveis vivenciados
por pessoas com comer compulsivo. Além disso, a pesquisa mostra que a repetição das
compulsões alimentares modifica o circuito de recompensa do cérebro de uma forma que leva a
um aumento da chance de um novo episódio de comer compulsivo.
O adiamento de recompensa descreve a dificuldade de resistir a recompensas de curto prazo
(como a dificuldade de resistir à vontade de comer de forma compulsiva) no lugar de
recompensas de longo prazo. Em outras palavras, o valor da recompensa futura é desconsiderado
porque o indivíduo quer uma recompensa imediata. Essa dificuldade que afeta Ângela, John e
Letícia é encontrada com maior frequência entre as pessoas com comer compulsivo do que nos
obesos sem compulsão alimentar ou em indivíduos de peso normal.
É bem possível que você tenha uma vulnerabilidade biológica tanto às emoções quanto à
alimentação. De qualquer maneira, isso não é tudo que geralmente é envolvido no
desenvolvimento de padrões de compulsão alimentar para lidar com emoções desconfortáveis. A
teoria biossocial da DBT se refere à sensibilidade biológica que interage com o ambiente em que
você foi criado(a) e os eventos específicos de vida que enfrentou – a parte “social” da palavra
biossocial.
Ambientes invalidantes
Algumas pessoas comem compulsivamente porque há uma discordância entre a sensibilidade
biológica delas e a vivência de um ambiente emocionalmente invalidante. Esse tipo de ambiente
pode ter sido um em que você foi criado(a), mas também poderia ser um ambiente em que você
se encontra atualmente.
Em um ambiente invalidante, as pessoas respondem de forma inconsistente e/ou inadequada
às suas vivências internas (pensamentos, sentimentos, crenças e sensações) e tendem a
simplificar demais as complexidades da vida. Isso não quer dizer que aqueles que criaram você
não o amaram ou que não fizeram o melhor que sabiam fazer para cuidar de você. Talvez um pai
tenha ensinado que era melhor não expressar as emoções, especificamente as emoções
“negativas” (“Pare de chorar ou vou dar-lhe uma razão para chorar!”), e, dessa maneira, você
interpretou essa mensagem como: o melhor é não sentir as emoções. Ou talvez um pai tenha
encorajado você a ter metas pouco realistas com conselhos do tipo “Sorria, e o mundo vai sorrir
para você”. Em vez de aprender a esperar e lidar com os erros, podendo se decepcionar e
valorizar a sua capacidade de persistir mesmo na ausência de recompensas imediatas na hora de
correr atrás de metas valiosos, você talvez tenha ficado altamente incomodado com qualquer
falha e, por isso, desistiu rapidamente. À medida que o ambiente o invalidava, você também
aprendeu a se autoinvalidar.
John era uma criança exuberante que sentia as coisas de forma muito intensa (uma
vulnerabilidade biológica à emoção). Quando ele estava feliz, ficava fora de si de tanta felicidade
e, quando alguma coisa dava errado, sofria profundamente. Enquanto a família tinha dinheiro
suficiente, o pai de John sempre trabalhava, deixando-o aos cuidados da mãe deprimida. Quando
33. estava em casa, o pai de John sempre parecia preocupado e mal-humorado. Quando algo
doloroso acontecia com John, ele de fato não recebia muita atenção da mãe, que geralmente
ignorava ou então dizia: “Controle-se! Você está completamente bem”. John foi deixado com
muitas emoções insuportáveis e dolorosas que pareciam intoleráveis do seu ponto de vista.
Quando ouvia a mãe dizer que ele estava “completamente bem”, isso fazia com que John ficasse
confuso, porque não se sentia bem. Em algumas ocasiões, quando se machucava ou ficava
doente, a mãe o mandava pegar uma bolacha na cozinha.
Ao longo do tempo, John aprendeu a aliviar a sua dor por meio da comida. Aprendeu a falar
consigo mesmo como a mãe fazia com ele, ou seja, minimizando e invalidando qualquer ação.
Por exemplo, John aprendeu a dizer a si mesmo que nada do que acontecesse poderia justificar a
chateação dele, embora tenha ficado em situações nas quais se sentia frustrado e sozinho, além
de sentir que alguma coisa estava faltando em sua vida. Como mencionado, ele tinha muita
dificuldade para identificar o que estava sentindo e, de modo geral, se enxergava e vivia como
uma pessoa sem emoções.
John gostava quando as pessoas lhe falavam que ele parecia muito tranquilo, uma pessoa no
controle, e que nada daquilo que fazia as outras pessoas reagirem parecia afetá-lo. Na verdade,
ele estava precisando de ajustamento emocional, pois nunca aprendeu maneiras habilidosas para
tolerar ou manejar as suas vivências emocionais negativas de forma efetiva. Os pais dele tinham
oferecido formas excessivamente simplistas de compreensão de mundo. As metas dele
frequentemente eram pouco realistas, e, quando não conseguia alcançá-las, John ficava
extremamente incomodado.
Algumas dessas vivências de John lembram a sua experiência? Os pacientes frequentemente
nos contam que, quando eram crianças, havia pouco espaço ou não havia nenhum para as suas
emoções, especialmente para as negativas, como a raiva ou a tristeza intensa. Talvez você tenha
aprendido a ignorar os seus sentimentos verdadeiros. E, quando não conseguia, você estava ante
o risco de não ser amado ou de parecer um fardo. Talvez tenha sido maltratado(a) e se sentisse
responsável, além de ficar receoso de chamar a atenção. Frequentemente os pacientes descrevem
que aprenderam a passar por cima dos seus sinais de saciedade alimentar, por exemplo, quando
foram encorajados a comer além dos seus pontos de saciedade: “Há crianças morrendo de fome
na África” ou “Esforcei-me tanto para que a gente pudesse ter uma boa refeição”.
Como mencionamos, ambientes invalidantes também podem existir (ou continuar existindo)
na vida adulta. Talvez o seu parceiro ou sua parceira demonstre desconforto com alguma emoção
sua ou com algum pensamento seu, mas não com outros. Por conta disso, como nunca tem
certeza do tipo de reação que vai receber, então você começa a dizer a si mesmo que não está
tendo aquelas vivências internas. Como resultado, você talvez não tenha aprendido jeitos
saudáveis para enfrentar as suas emoções, especialmente aquelas que incomodavam, ou talvez
tenha começado a suprimi-las.
Em geral, Ângela foi a pessoa que mais assumiu as responsabilidades da casa e da criação
dos filhos, porque o marido passava a maior parte do tempo em casa seguindo os próprios
interesses dele, afirmando que o trabalho era tão demandante e que isso fazia com que tivesse o
direito a esse tempo livre. Sempre que Ângela pedia ajuda ou expressava tristeza, era criticada
por comportar-se como uma reclamona.
Um ambiente invalidante pode levar as pessoas com alta vulnerabilidade emocional a ter
dificuldade para tolerar o sofrimento e/ou acreditar que as suas respostas emocionais são
34. interpretações adequadas desses eventos. Também podem ter a tendência de procurar pistas
sobre os seus estados emocionais fora da própria vivência. Por exemplo, a vontade de Ângela de
manter um casamento calmo a levou não manifestar a sua infelicidade e decepção. Ela tentava
fazer isso no trabalho também. Quando teve dificuldade com seu chefe, Ângela se culpou e dizia
a si mesma que precisava superar, que ela era sensível demais. A alimentação era uma das
poucas coisas na sua vida que não demandavam nada dela e que não a criticavam.
E a respeito da cultura?
Letícia acredita que foi criada em um ambiente invalidante, embora também tenha os fatores de vulnerabilidade de
ser uma pessoa que busca prazer imediato nos alimentos e de ter uma baixa tolerância às emoções intensas,
especialmente à vontade. Mas, de forma muito significativa, Letícia foi criada em uma cultura na qual a
alimentação é razão de comemoração e sinônimo de amor e família. Segundo Letícia, se se retirasse dessas
comemorações, ela se sentiria excluída e desconectada de sua família. A comida tem um papel muito importante
em muitas culturas, e a maneira como ela tomou um papel na sua família ou na sua cultura pode ser um fator
muito importante a ser considerado.
Ter que utilizar o câmbio manual para trocar de marcha em um mundo de câmbio
automático
Você talvez esteja começando a entender que não é igual àquelas pessoas que parecem
“comer normalmente” ou que conseguem se controlar na presença de comida. Um jeito de pensar
a respeito é imaginar que você seja uma pessoa com câmbio manual vivendo em um mundo de
câmbio automático. Você talvez tenha tentado controlar as marchas sem um entendimento
aprofundado sobre como as marchas funcionam. Para dirigir com câmbio manual, você,
inicialmente, precisa prestar muita atenção ao funcionamento da direção – pelo menos até se
habituar. Este programa vai ajudar você a personalizar o seu manual de funcionamento para que
possa parar de ficar fora de marcha.
Isso talvez seja difícil de aceitar. O simples fato de pensar em todas essas questões e na
possibilidade de mudar padrões problemáticos provavelmente vai fazer com que apareçam
experiências emocionais dolorosas. É preciso ter coragem para enfrentar o desconforto que
provavelmente vai surgir conforme vamos pedindo que você não recorra à comida, que é
exatamente a coisa que pode fazer com que você se sinta melhor (pelo menos no curto prazo).
Não se preocupe – nos próximos capítulos, vamos nos concentrar em aumentar a sua habilidade
para regular as emoções sem ter que recorrer à comida.
Resumo do Capítulo 1
Como a teoria biossocial da DBT sugere, talvez você tenha uma vulnerabilidade biológica às
emoções que interagiram com uma invalidação contínua de suas vivências emocionais. O
modelo DBT de regulação emocional mostra que, quando recorremos à comida, isso faz com que
seu desconforto diminua temporariamente por causa da oferta de uma escapatória das emoções
intensas e desconfortáveis. Em longo prazo, porém, a compulsão alimentar aumenta a sua culpa,
a desesperança e a vergonha, o que deixa você ainda mais vulnerável à compulsão alimentar.
Descobrimos que, quando os nossos pacientes compreendem como esses modelos explicam a
compulsão alimentar, eles têm maior facilidade para deixar de fazer alguns dos julgamentos
rígidos de seus próprios comportamentos e se sentem mais motivados e preparados para aprender
35. novas habilidades que lhes permitam manejar o desconforto e substituir a necessidade de ter que
recorrer à comida.
Tarefa de casa
Como mencionamos no texto introdutório, as tarefas de casa e os exercícios deste livro são
baseados nas tarefas que utilizamos em nossas pesquisas. Os pacientes que conseguiram fazer os
exercícios foram aqueles com maior chance de parar a compulsão alimentar de forma bem-
sucedida. Se você encontrar dificuldade para tentar resolver os exercícios e tiver um terapeuta,
não deixe de levar isso até ele! E se não tiver um terapeuta, seria importante considerar essa
possibilidade ou conversar com algum amigo em que confie.
Faça os exercícios propostos a seguir e não deixe de marcar as caixas no final do capítulo
assim que tiver terminado. Por meio deste programa, você acumulará habilidades, e o fato
demarcar as caixas no final de cada capítulo aumentará a sua responsabilidade – além de elevar a
sua sensação de realização e felicidade. Se precisar de mais do que uma semana para terminar
um capítulo, indique que completou as tarefas semanais mais do que uma vez, acrescentando
mais uma marca dentro ou do lado das caixas.
TAREFA DE CASA EXERCÍCIO 1-A
Preencher o modelo DBT de regulação emocional para um episódio de compulsão alimentar.
Vamos verificar uma compulsão alimentar típica vivenciada por você para ver se ela se encaixa no modelo DBT
de regulação emocional. A seguir, descreva a compulsão alimentar ou o episódio de comportamento alimentar
problemático mais recente. Quando aconteceu? Onde você estava?
Qual foi o evento desencadeante ou o gatilho ambiental que levou você a essa compulsão alimentar?
Escreva a resposta na caixa A que se encontra no lado esquerdo do diagrama, a seguir. (Pode ser uma crítica ou
um elogio, a participação em um evento social, uma responsabilidade nova no trabalho, voltar para uma casa
vazia etc.). Se não tiver certeza, não se preocupe – apenas tente o melhor que puder.
Que emoções você sentiu por causa desse gatilho? Coloque essas emoções (por exemplo: ansiedade, raiva,
vergonha, irritação, tristeza, preocupação, alívio, felicidade, prazer, culpa) na caixa B. Mais uma vez, apenas tente
da melhor forma identificar o que você conseguir.
36. Preenchemos a caixa C para você – você tentou evitar experimentar essas emoções desconfortáveis
O que você acabou fazendo especificamente? Você teve uma compulsão alimentar, uma compulsão alimentar
seguida de uma purgação, comeu de forma emocional, comeu demais? Preencha a caixa D com o
comportamento que apresentou.
Quais foram as consequências imediatas de sua compulsão alimentar (ou de outro comportamento problemático)?
Fez você se sentir melhor temporariamente? Descreva isso na caixa E, por favor.
Aqui vamos apresentar como uma de nossas pacientes, Kátia, preencheu:
O meu episódio de compulsão alimentar mais recente foi ontem. Tive dois dias de sintomas
alérgicos muito ruins, inclusive coceira nos olhos, escoriações nas pálpebras, espirros e
uma sensação global de incômodo físico. Acabei olhando no espelho quando passei no
banheiro e fiquei muito incomodada com a minha aparência. Senti-me no meu pior dia com
cara de bolacha — gorda, de bochechas vermelhas e velha.
Eu estava em casa com meu marido assistindo a um filme e subi para pegar uma caixinha
de trufas de chocolate da geladeira. Estava certa de que iria comer todas as trufas.
Havia mais ou menos uma dúzia. De alguma maneira, consegui oferecer algumas para o
Tom — provavelmente para fingir para mim mesma que não estava tendo uma compulsão
alimentar. Ele comeu duas ou três, e eu comi todas as outras.
37. No diagrama da página anterior, Kátia escreveu que o evento gatilho (A) foi o momento em que se olhou no
espelho. Esse evento levou a emoções que ela relatou como decepção, autoaversão, raiva, medo e tristeza na
caixa (B). Ela então tentou escapar da vivência dessas emoções desconfortáveis (C) por meio do consumo
compulsivo da caixa de trufas de chocolates (D). Kátia escreveu as consequências imediatas em (E) e incluiu a
sensação de estar anestesiada e cansada por causa do açúcar e da vontade de dormir. Descreveu as
consequências de longo prazo da compulsão alimentar, como a sensação de desesperança, desrealização e
ainda mais depressão.
□ Completei esse exercício utilizando um episódio de compulsão alimentar recente.
TAREFA DE CASA EXERCÍCIO 1-B
Reações ao aprendizado sobre o modelo da regulação emocional e a teoria biossocial da DBT
Muitos pacientes afirmaram que, depois de aprenderem o modelo da regulação emocional e a teoria biossocial da
DBT, “passaram a ter mais consciência de si mesmos e que jamais esquecerão todo esse processo”. O que isso
significa para você em termos de se sentir mais consciente da ligação entre as suas emoções e a necessidade de
comer demais ou de ter uma compulsão alimentar? Você reconhece que ficou mais consciente de sua
sensibilidade perante as emoções? Quais são as suas reflexões sobre a vivência de qualquer tipo de invalidação
emocional em sua educação e/ou seu ambiente atual? Para responder a essas questões, utilize o espaço a
seguir.
Kátia respondeu:
Fiquei mais consciente das minhas reações e respostas emocionais. Foi mais uma
lembrança de como fiquei desolada nesse último ano quando descobri que Tom estava
tendo um caso.
38. □
Essa descoberta foi uma derrota terrível para a minha autoestima e a minha crença no
nosso casamento. Nunca havia experimentado uma sensação tão profunda de perda.
Também me senti uma mulher feia, velha e castrada que já passou de sua utilidade e que
deveria ter sido mandada para o mar aberto em cima de um iceberg (se ainda houver
alguns sobrando) para ficar à deriva.
Acredito que a raiva e a tristeza têm importância equivalente e que, ciente desse fato,
isso pode me ajudar a cortar o ciclo vicioso de uma compulsão alimentar.
TAREFA DE CASA EXERCÍCIO 1-C
Ter mais consciência de suas emoções e da sua ligação com a compulsão alimentar nesta semana, na próxima e
em todas as outras
Em todos os dias desta semana, reserve um momento para pensar sobre o modelo de regulação emocional e a
teoria biossocial da DBT (especialmente após episódios de compulsão alimentar, se isso acontecer). O que surge
em sua mente quando você fica mais consciente de suas emoções e como elas estão relacionadas à sua
compulsão alimentar? Você acredita que essa consciência de vulnerabilidade à compulsão alimentar pode ser útil
nas próximas semanas?
Kátia respondeu:
Na minha educação, meu pai ficava bravo e violento de forma imprevisível, o que me
deixava muito assustada. Como nunca sabia o que poderia irritá-lo, eu tentava não chamar
muita atenção, fazia de tudo para evitar que ele ficasse bravo comigo. Agora consigo
perceber que nunca tive um modelo saudável de raiva e que jamais aprendi a lidar com ela
quando aparecia nos outros e em mim. Sempre senti que “ficar com raiva” era um
problema, em vez de entender que o problema não era a raiva em si, mas a maneira como
a pessoa reage a essa sensação. Meu pai jogava coisas na gente, e tento sufocar a minha
raiva com a comida ou no passado com a fome. Pensar na minha infância me ajuda a
reconhecer o quanto foi difícil tolerar a minha raiva com meu marido nesse último ano.
Não me surpreende o fato de eu ter tanta vontade de comer chocolate ou qualquer
outra coisa para sentir-me anestesiada. Reservar diariamente um tempo para ficar
consciente dessa conexão, já que tenho dificuldade de tolerar a raiva, é um alerta muito
útil para que eu não repita padrões antigos.
Em todos os dias desta semana, reservei um tempo para tomar consciência (tentar perceber) da influência do
aprendizado sobre o modelo de regulação emocional e da teoria biossocial (especialmente após episódios de
compulsão alimentar, se houver).
39. 2
Como se comprometer a eliminar a compulsão alimentar
Neste capítulo, convidamos você a realizar vários exercícios voltados a uma reflexão
profunda sobre a necessidade de eliminar a compulsão alimentar. Sabemos que esse é o seu
desejo senão não estaria lendo este livro. A nossa experiência tem demonstrado que os
comportamentos mais difíceis a ser mudados frequentemente têm algum significado muito
importante para nós. A compreensão desse significado é um passo crucial no caminho de
eliminar definitivamente esses comportamentos.
Enfrentar os impactos negativos que a compulsão alimentar tem em nossa vida faz com que
esses exercícios se tornem dolorosos. Com frequência, temos que lembrar os nossos pacientes de
um detalhe que você provavelmente já sabe: a disposição de olhar para trás e descobrir como
chegou ao ponto em que está é um passo fundamental na hora de aprender os mecanismos
necessários para alcançar um objetivo.
O tempo que você gastará com os exercícios propostos neste capítulo será muito valioso. A
exploração de sua relação complexa com a comida e o seu comprometimento em mudar essa
relação constituem uma base muito valiosa para o resto do seu trabalho neste programa. Se, nas
próximas semanas, encontrar dificuldades (o que, aliás, é normal), o conteúdo deste capítulo vai
lembrar você dos propósitos que o(a) levaram a este programa. As respostas às suas dúvidas lhe
fornecerão a motivação para você continuar com o programa apesar das dificuldades
temporárias.
Aprender com o passado
EXERCÍCIO 1 Observar as tentativas de eliminar a compulsão alimentar
John tentou eliminar a compulsão alimentar diversas vezes. Nas várias tentativas, chegou a acreditar que não
havia se esforçado o suficiente, que fracassara e que era impossível eliminar a compulsão alimentar. Depois de
trabalhar alguns de seus episódios de compulsão alimentar por meio do modelo de regulação emocional e
conhecer a teoria biossocial, ele começou a entender por que tivera tanta dificuldade para eliminar a compulsão
alimentar no passado, apesar das várias dietas e até dos comprimidos para emagrecer prescritos por seu médico.
Uma das principais razões foi o fato de haver uma grande variedade de comidas tentadoras para quem tem
transtorno da compulsão alimentar. John não havia entendido o quanto estava vulnerável emocionalmente,
sobretudo à noite ou nos finais de semana, quando não sabia tolerar sentimentos como o aborrecimento ou a
solidão. De alguma maneira, foi simplesmente mais fácil recorrer a esse tipo de comida e ter uma compulsão
alimentar quando não havia mais métodos saudáveis de enfrentamento. Outro motivo tem a ver com o fato de
John nunca ter dedicado um tempo para tentar reduzir o nível considerável de estresse de forma regular. Na
verdade, ele nunca esteve disposto a investir o tempo necessário para uma atividade em que pudesse, por
exemplo, autoacalmar-se. Por fim, John sabia que seus finais de semana eram, em geral, pouco estruturados.
Entendeu que, dessa maneira, tinha se preparado para fracassar, pois o foco incessante no trabalho e a falta de
atenção às amizades faziam com que ele se sentisse isolado e sozinho.
a. O que você já tentou e não deu certo? Presumimos que este livro não seja a sua primeira tentativa para
conseguir ganhar controle sobre a sua alimentação. Reserve um momento para pensar nas coisas que fez no