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HISTÓRIA DE JOINVILLE
Nicácio Tiago Machado
Da Alemanha à Colônia D. Francisca
A travessia do Atlântico, de Hamburgo à Colônia D. Francisca, era feita com veleiros. Tratava-
se, em regra, de embarcações com três mastros, 25 velas, e, em média, essas embarcações
tinham 76 metros de comprimento, 10 metros e meio de largura, com capacidade para deslocar
1.040 toneladas, numa velocidade de 32 quilômetros por hora. Essas, por exemplo, eram as
medidas e a capacidade da Barca Colon, que trouxe os primeiros imigrantes. A marinhagem
chegava a pelejar até três horas para recolher todo o enorme conjunto de velas durante as
tempestades, que podiam prolongar-se por até 50 horas seguidas.
Essas embarcações, chamadas de clippers pelos americanos, começaram a ser utilizadas nos
Estados Unidos por volta de 1812. Logo, logo esses rápidos veleiros estariam cruzando os
mares do mundo em todos os quadrantes, inclusive os veleiros alemães começaram a ter essas
dimensões, porque, sendo estreitos, eram mais velozes. Aliás, clipper é uma palavra que deriva
de to clip, cortar, isto é, cortar a água com facilidade, permitindo avanço rápido.
Então, era por esses veleiros que os imigrantes vinham para a Colônia D. Francisca até mais ou
menos 1880, quando as embarcações a vapor começaram a se popularizar. Foi, porém, com
embarcação à vela, que em 1851 chegou o primeiro grupo de pessoas para iniciar uma longa
epopeia no meio da mata e do pântano. A travessia foi longa. Por aqueles tempos, muito menos
que hoje, nada era certo. Embarcações não tinham data certa para zarpar.
Tudo estava determinado por outros fatores, que não a vontade humana. Navio partia quando a
carga estava completa, partia quando a tripulação estava a bordo e quando o tempo permitia.
Assim foi que os imigrantes da Barca Colon mofaram no porto de Hamburgo durante 25 dias.
Foi no porto de Hamburgo, dormindo pelo chão e em cima de bagagens que eles viram o Natal
de 1850 passar e, depois, amargaram dois meses e cinco dias de uma penosa viagem, em que
pereceram sete pessoas a bordo.
Da Alemanha à Colônia D. Francisca
Enfim, foram nesses veleiros e mais tarde por barcos a vapor que algo como 18 mil imigrantes
entraram na Colônia D. Francisca. As condições nessas embarcações não era nada fácil. Há
muitos registros que se referem às condições ruins por que passavam os viajantes: preparação
de alimentos com água suja e contaminada, alimentos em quantidades insuficientes, instalações
ruins, excesso de passageiros em cômodos apertados e uma série de outras carências.
O veleiro Florentin em que viajou Ottokar Doerffel, em novembro de 1854, parece, contudo, não
ter sido um dos piores, mesmo assim dos 213 passageiros 35 faleceram a bordo. As mortes
tinham causas as mais diversas: doenças contagiosas que infestavam as embarcações,
ingestão de comidas contaminadas, depressão provocada pela dor da partida, pela saudade
dos parentes e pelos atropelos e sustos em alto mar frente a sucessivas tempestades. A
travessia do Floretin, pelo qual também viera o industrial Eduardo Trincks e o arquiteto Alberto
Júlio Khöhne, gastou 51 dias para fazer a travessia entre o Porto de Hamburgo e o Porto de
São Francisco.
Em carta à mãe, Frau Kammerraetin Doerffel, residente em Lichtenstein, quatro meses após a
chegada, Ottokar Doerffel enumera certos fatos que merecem destaque e nos dão a exata
medida do que se passava, à época, em uma viagem de veleiro, da Alemanha a Joinville.
Sobre o embarque:
“Os dias 25 a 29 de setembro de 1854 passaram-se em tremenda afobação, com as compras, a embalagem,
a acomodação das nossas coisas. A partida da hospedaria (pernoitaram na véspera do embarque em uma
hospedaria, porque procediam de cidades distantes do Porto de Hamburgo) ao porto foi um espetáculo dos
mais interessantes. Havíamos ajustado dois carregadores com uma carreta de duas rodas para o transporte,
mas o carrinho deveria ter o dobro em tamanho, para levar tudo de uma só vez, a nossa bagagem e,
sobretudo, as coisas dos Trinks: colchões, enxergões (saco de palha que se coloca sob os colchões), cadeira
Da Alemanha à Colônia D. Francisca
de campanha, utensílio de folhas de flandres, cestas e cestões e sabe Deus o que mais ainda.” [...] “Após
termos manifestado o nosso desejo de embarcar no ‘Floretin”, contratamos um barco ali acostado, cuja
tripulação, por sua vez, foi jogando toda a nossa bagagem dentro do barco, sem dar a menor importância se
tudo ia se espatifando ou não.”
Relacionamento entre passageiros:
“Nós nos instalamos com os Trinks na primeira cabina que nos foi designada, cabina esta situada junto ao
camarote, na popa. O beliche superior ficou com o Trincks, o Gustav e o Albert, enquanto a Pauline Trincks e
seus irmãos restantes ocupavam o beliche inferior. É aconselhável deitar-se de maneira que a cabeça fique
na direção da popa e os pés para o lado da proa, ou seja, em sentido longitudinal, porque os balouços se
verificam mais para os lados e assim, na posição indicada, há menos perigo de ficar de cabeça para baixo e
pés para cima.” [...]
“Outro motivo de atrito era a divisão dos ‘backs’. Um ‘back’ é formado por um grupo de 10 a 12 passageiros
que escolhem seu ‘mestre’, incumbido de buscar comida e bebida na cozinha de bordo, assim como pedir
água, sal, manteiga, vinagre, pimenta, etc., ao segundo piloto e fazer a distribuição entre os componentes do
seu ‘back’, o que requer uma habilidade mestre, para conciliar as pretensões de cada um. Muitas vezes houve
discussões e brigas por causa de uma batata a mais ou a menos. De manhã era servido o café, no almoço
carne de boi ou porco, cevadinha, ervilhas, arroz, pudim(um bolo de farinha dentro de um saquinho de linho),
etc. e à noite, chá. De um modo geral, o passadio não era mau, havendo grande fartura de carne.”
Doença e morte:
“Durante a noite, porém, vários passageiros adoeceram e houve um falecimento, conforme já escrevi ao
Fierenkrantz. No dia seguinte (ainda estavam perto da costa) o corpo foi transladado para a terra e a maioria
dos passageiros se mostrou aterrorizada, quando no mesmo dia ainda houve três falecimentos, sendo todos
os corpos removidos à terra, em Cuxhaven, onde chegamos na parte da manhã. Muitos passageiros queriam
desembarcar dali mesmo e voltar para o lugar de origem. Outros exigiam a exclusão da família do Harz (4),
entre as quais a moléstia – verdadeira cólera – havia irrompido.” [...]
Da Alemanha à Colônia D. Francisca
“Naquele dia, a vida a bordo foi marcada por acontecimentos dos mais contrastantes. Enquanto na proa o
corpo de um passageiro era lançado às águas, ao som de cânticos e preces e tocante oração proferida pelo
Trinks(5), no convés jogava-se e tocava-se música de dança.”
Decepção na chegada à Colônia Dona Francisca:
“Em minha última carta já lhe escrevi da nossa decepção, ao pisarmos o chão desta Colônia. Já escrevi
também sobre o estado lamentável da moradia que nos foi destinada e do triste início de nossa vida. [...] “Para
sairmos o mais depressa daquele estábulo, eu comprei, conforme também lhe escrevi, um terreno com casa já
construída, nas proximidades da cidade.”
Adaptação à nova terra, a olaria e a cana, o arroz, a banana, o café, a batata-doce e o aipim
desde a primeira hora:
“Um montão de cana-de-açúcar, já parcialmente em decomposição, foi removido, depois comecei a cavar um
poço em regra, em vez da cova feita por meu antecessor Ehlers e, já encontrando terra rochosa a 3 pés de
profundidade, mandei murar o poço e consegui uma água, que todos os nossos visitantes não se cansam de
elogiar, porque na cidade a água deixa muito a desejar. A 21 de dezembro comecei a semear arroz numa
clareira da mata, preparada por Ehlers, a qual eu tinha mandado limpar. [...]
No segundo dia de Natal plantei umas mudas de bananeiras em volta do poço. [...] Agora estou tentando
montar uma olaria. [...] Considero o clima aqui excelente. [...] Para você, minha mãe, a vida aqui seria
suportável, por certo, mas a travessia do Atlântico não é tão fácil como muita gente imagina. [...] À direita se
encontra o pomar com bananeiras e cafeeiros e, margeando o caminho, há pés de abacaxis. [...] O plantio da
batata doce, que rasteja mais ou menos como as campainhas, se faz com pedaços da rama, que se colocam
na terra. Após 3 meses, já se consegue colher belos tubérculos, maiores que as nossas batatas (inglesas). Do
mesmo modo se procede com o aipim, que forma uma bela planta.”
Da Alemanha à Colônia D. Francisca
Durante os primeiros 50 anos da Colônia Dona Francisca, algo em torno de 117 navios, veleiros
e, depois, barcos a vapor, aportaram no Porto de São Francisco, trazendo imigrantes. Nos
primeiros tempos, chegavam, em média, quatro embarcações por ano. Isso ocorreu, mais ou
menos, até 1897, época em que a Cia Colonizadora foi extinta. Daí para frente essas
embarcações não vinham mais de maneira sistemática como acontecia no século anterior. É
que, além da extinção da Companhia Colonizadora, a Alemanha, por essa época, já estava
saindo, ou já havia saído, da crise em que se metera à época das revoluções sociais de 1948.
Esses veleiros e barcos a vapor pertenciam a grandes empresas, especialmente, de Hamburgo.
Muitas vezes eram fretados pela Cia Colonizadora de Hamburgo a quem pertencia a Colônia
Dona Francisca. Neste caso, a Companhia auferia lucros exercendo três funções ao mesmo
tempo: empresa de turismo, imobiliária e comércio atacadista:
-- Como empresa transportadora a Companhia lucrava transportando os imigrantes de Hamburgo até à Colônia;
-- Como imobiliária a Companhia lucrava vendendo para esses mesmos imigrantes as terras que adquiriu de suas
altezas reais. E lucrava também revendendo para os colonos terras adquiridas, mais tarde, do Governo Imperial a
baixo preço. Foi, por exemplo, o que ocorreu com os colonos de São Bento, que se assentaram em terras fora dos
Domínios D. Francisca, mas que foram vendidas a eles pela mesma empresa colonizadora que geria os negócios
na Colônia D. Francisca.
-- Como comércio atacadista a Companhia lucrava levando preciosas mercadorias do Brasil para Europa como café,
açúcar e madeira.
Além da Barca Colon, que foi a primeira a chegar ao Porto de São Francisco, outras ficaram
famosas ou porque cruzaram o Atlântico várias vezes trazendo imigrantes, ou porque trouxeram
imigrantes famosos. Aí vale destacar Emma e Louise, Gloriosa, Franklin,Victoria e Floretin. Por
esta última veio Ottokar Doerffel. Também ficou na história o vapor Francisca, que, em uma das
viagens, afundou no Porto de São Francisco logo à chegada, levando muitos objetos para o
fundo do mar, causando grande emoção e pavor na população inteira da Colônia.

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  • 2. Da Alemanha à Colônia D. Francisca A travessia do Atlântico, de Hamburgo à Colônia D. Francisca, era feita com veleiros. Tratava- se, em regra, de embarcações com três mastros, 25 velas, e, em média, essas embarcações tinham 76 metros de comprimento, 10 metros e meio de largura, com capacidade para deslocar 1.040 toneladas, numa velocidade de 32 quilômetros por hora. Essas, por exemplo, eram as medidas e a capacidade da Barca Colon, que trouxe os primeiros imigrantes. A marinhagem chegava a pelejar até três horas para recolher todo o enorme conjunto de velas durante as tempestades, que podiam prolongar-se por até 50 horas seguidas. Essas embarcações, chamadas de clippers pelos americanos, começaram a ser utilizadas nos Estados Unidos por volta de 1812. Logo, logo esses rápidos veleiros estariam cruzando os mares do mundo em todos os quadrantes, inclusive os veleiros alemães começaram a ter essas dimensões, porque, sendo estreitos, eram mais velozes. Aliás, clipper é uma palavra que deriva de to clip, cortar, isto é, cortar a água com facilidade, permitindo avanço rápido. Então, era por esses veleiros que os imigrantes vinham para a Colônia D. Francisca até mais ou menos 1880, quando as embarcações a vapor começaram a se popularizar. Foi, porém, com embarcação à vela, que em 1851 chegou o primeiro grupo de pessoas para iniciar uma longa epopeia no meio da mata e do pântano. A travessia foi longa. Por aqueles tempos, muito menos que hoje, nada era certo. Embarcações não tinham data certa para zarpar. Tudo estava determinado por outros fatores, que não a vontade humana. Navio partia quando a carga estava completa, partia quando a tripulação estava a bordo e quando o tempo permitia. Assim foi que os imigrantes da Barca Colon mofaram no porto de Hamburgo durante 25 dias. Foi no porto de Hamburgo, dormindo pelo chão e em cima de bagagens que eles viram o Natal de 1850 passar e, depois, amargaram dois meses e cinco dias de uma penosa viagem, em que pereceram sete pessoas a bordo.
  • 3. Da Alemanha à Colônia D. Francisca Enfim, foram nesses veleiros e mais tarde por barcos a vapor que algo como 18 mil imigrantes entraram na Colônia D. Francisca. As condições nessas embarcações não era nada fácil. Há muitos registros que se referem às condições ruins por que passavam os viajantes: preparação de alimentos com água suja e contaminada, alimentos em quantidades insuficientes, instalações ruins, excesso de passageiros em cômodos apertados e uma série de outras carências. O veleiro Florentin em que viajou Ottokar Doerffel, em novembro de 1854, parece, contudo, não ter sido um dos piores, mesmo assim dos 213 passageiros 35 faleceram a bordo. As mortes tinham causas as mais diversas: doenças contagiosas que infestavam as embarcações, ingestão de comidas contaminadas, depressão provocada pela dor da partida, pela saudade dos parentes e pelos atropelos e sustos em alto mar frente a sucessivas tempestades. A travessia do Floretin, pelo qual também viera o industrial Eduardo Trincks e o arquiteto Alberto Júlio Khöhne, gastou 51 dias para fazer a travessia entre o Porto de Hamburgo e o Porto de São Francisco. Em carta à mãe, Frau Kammerraetin Doerffel, residente em Lichtenstein, quatro meses após a chegada, Ottokar Doerffel enumera certos fatos que merecem destaque e nos dão a exata medida do que se passava, à época, em uma viagem de veleiro, da Alemanha a Joinville. Sobre o embarque: “Os dias 25 a 29 de setembro de 1854 passaram-se em tremenda afobação, com as compras, a embalagem, a acomodação das nossas coisas. A partida da hospedaria (pernoitaram na véspera do embarque em uma hospedaria, porque procediam de cidades distantes do Porto de Hamburgo) ao porto foi um espetáculo dos mais interessantes. Havíamos ajustado dois carregadores com uma carreta de duas rodas para o transporte, mas o carrinho deveria ter o dobro em tamanho, para levar tudo de uma só vez, a nossa bagagem e, sobretudo, as coisas dos Trinks: colchões, enxergões (saco de palha que se coloca sob os colchões), cadeira
  • 4. Da Alemanha à Colônia D. Francisca de campanha, utensílio de folhas de flandres, cestas e cestões e sabe Deus o que mais ainda.” [...] “Após termos manifestado o nosso desejo de embarcar no ‘Floretin”, contratamos um barco ali acostado, cuja tripulação, por sua vez, foi jogando toda a nossa bagagem dentro do barco, sem dar a menor importância se tudo ia se espatifando ou não.” Relacionamento entre passageiros: “Nós nos instalamos com os Trinks na primeira cabina que nos foi designada, cabina esta situada junto ao camarote, na popa. O beliche superior ficou com o Trincks, o Gustav e o Albert, enquanto a Pauline Trincks e seus irmãos restantes ocupavam o beliche inferior. É aconselhável deitar-se de maneira que a cabeça fique na direção da popa e os pés para o lado da proa, ou seja, em sentido longitudinal, porque os balouços se verificam mais para os lados e assim, na posição indicada, há menos perigo de ficar de cabeça para baixo e pés para cima.” [...] “Outro motivo de atrito era a divisão dos ‘backs’. Um ‘back’ é formado por um grupo de 10 a 12 passageiros que escolhem seu ‘mestre’, incumbido de buscar comida e bebida na cozinha de bordo, assim como pedir água, sal, manteiga, vinagre, pimenta, etc., ao segundo piloto e fazer a distribuição entre os componentes do seu ‘back’, o que requer uma habilidade mestre, para conciliar as pretensões de cada um. Muitas vezes houve discussões e brigas por causa de uma batata a mais ou a menos. De manhã era servido o café, no almoço carne de boi ou porco, cevadinha, ervilhas, arroz, pudim(um bolo de farinha dentro de um saquinho de linho), etc. e à noite, chá. De um modo geral, o passadio não era mau, havendo grande fartura de carne.” Doença e morte: “Durante a noite, porém, vários passageiros adoeceram e houve um falecimento, conforme já escrevi ao Fierenkrantz. No dia seguinte (ainda estavam perto da costa) o corpo foi transladado para a terra e a maioria dos passageiros se mostrou aterrorizada, quando no mesmo dia ainda houve três falecimentos, sendo todos os corpos removidos à terra, em Cuxhaven, onde chegamos na parte da manhã. Muitos passageiros queriam desembarcar dali mesmo e voltar para o lugar de origem. Outros exigiam a exclusão da família do Harz (4), entre as quais a moléstia – verdadeira cólera – havia irrompido.” [...]
  • 5. Da Alemanha à Colônia D. Francisca “Naquele dia, a vida a bordo foi marcada por acontecimentos dos mais contrastantes. Enquanto na proa o corpo de um passageiro era lançado às águas, ao som de cânticos e preces e tocante oração proferida pelo Trinks(5), no convés jogava-se e tocava-se música de dança.” Decepção na chegada à Colônia Dona Francisca: “Em minha última carta já lhe escrevi da nossa decepção, ao pisarmos o chão desta Colônia. Já escrevi também sobre o estado lamentável da moradia que nos foi destinada e do triste início de nossa vida. [...] “Para sairmos o mais depressa daquele estábulo, eu comprei, conforme também lhe escrevi, um terreno com casa já construída, nas proximidades da cidade.” Adaptação à nova terra, a olaria e a cana, o arroz, a banana, o café, a batata-doce e o aipim desde a primeira hora: “Um montão de cana-de-açúcar, já parcialmente em decomposição, foi removido, depois comecei a cavar um poço em regra, em vez da cova feita por meu antecessor Ehlers e, já encontrando terra rochosa a 3 pés de profundidade, mandei murar o poço e consegui uma água, que todos os nossos visitantes não se cansam de elogiar, porque na cidade a água deixa muito a desejar. A 21 de dezembro comecei a semear arroz numa clareira da mata, preparada por Ehlers, a qual eu tinha mandado limpar. [...] No segundo dia de Natal plantei umas mudas de bananeiras em volta do poço. [...] Agora estou tentando montar uma olaria. [...] Considero o clima aqui excelente. [...] Para você, minha mãe, a vida aqui seria suportável, por certo, mas a travessia do Atlântico não é tão fácil como muita gente imagina. [...] À direita se encontra o pomar com bananeiras e cafeeiros e, margeando o caminho, há pés de abacaxis. [...] O plantio da batata doce, que rasteja mais ou menos como as campainhas, se faz com pedaços da rama, que se colocam na terra. Após 3 meses, já se consegue colher belos tubérculos, maiores que as nossas batatas (inglesas). Do mesmo modo se procede com o aipim, que forma uma bela planta.”
  • 6. Da Alemanha à Colônia D. Francisca Durante os primeiros 50 anos da Colônia Dona Francisca, algo em torno de 117 navios, veleiros e, depois, barcos a vapor, aportaram no Porto de São Francisco, trazendo imigrantes. Nos primeiros tempos, chegavam, em média, quatro embarcações por ano. Isso ocorreu, mais ou menos, até 1897, época em que a Cia Colonizadora foi extinta. Daí para frente essas embarcações não vinham mais de maneira sistemática como acontecia no século anterior. É que, além da extinção da Companhia Colonizadora, a Alemanha, por essa época, já estava saindo, ou já havia saído, da crise em que se metera à época das revoluções sociais de 1948. Esses veleiros e barcos a vapor pertenciam a grandes empresas, especialmente, de Hamburgo. Muitas vezes eram fretados pela Cia Colonizadora de Hamburgo a quem pertencia a Colônia Dona Francisca. Neste caso, a Companhia auferia lucros exercendo três funções ao mesmo tempo: empresa de turismo, imobiliária e comércio atacadista: -- Como empresa transportadora a Companhia lucrava transportando os imigrantes de Hamburgo até à Colônia; -- Como imobiliária a Companhia lucrava vendendo para esses mesmos imigrantes as terras que adquiriu de suas altezas reais. E lucrava também revendendo para os colonos terras adquiridas, mais tarde, do Governo Imperial a baixo preço. Foi, por exemplo, o que ocorreu com os colonos de São Bento, que se assentaram em terras fora dos Domínios D. Francisca, mas que foram vendidas a eles pela mesma empresa colonizadora que geria os negócios na Colônia D. Francisca. -- Como comércio atacadista a Companhia lucrava levando preciosas mercadorias do Brasil para Europa como café, açúcar e madeira. Além da Barca Colon, que foi a primeira a chegar ao Porto de São Francisco, outras ficaram famosas ou porque cruzaram o Atlântico várias vezes trazendo imigrantes, ou porque trouxeram imigrantes famosos. Aí vale destacar Emma e Louise, Gloriosa, Franklin,Victoria e Floretin. Por esta última veio Ottokar Doerffel. Também ficou na história o vapor Francisca, que, em uma das viagens, afundou no Porto de São Francisco logo à chegada, levando muitos objetos para o fundo do mar, causando grande emoção e pavor na população inteira da Colônia.