1) O documento descreve o heroísmo de John Harper, um pastor que morreu tentando salvar outras pessoas quando o Titanic afundou em 1912. 2) Harper incentivou as mulheres, crianças e "descrentes" a entrarem nos botes salva-vidas, tirando seu próprio colete salva-vidas para dar a outro. 3) Mesmo se debatendo nas águas geladas, Harper continuou exortando as pessoas a confiarem em Jesus Cristo.
2. Esta obra encontra-se, no Brasil, em domínio público, conforme art. 41 da Lei federal n. 9.610,
de 19 de fevereiro de 1998.
3. Texto revisto em conformidade com o
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
de 1990 que entrou em vigor em 2009.
4. Introdução
Enquanto as águas escuras e geladas do Atlântico enchiam lentamente o convés
do Titanic, John Harper gritava: "Deixem as mulheres, crianças e descrentes subirem
nos barcos salva-vidas." Harper tirou seu salva-vidas - a última esperança de
sobrevivência - e o entregou a outro homem. Depois que o navio desapareceu sob a
água escura, deixando Harper se debatendo nas águas geladas, ouviram-no
incentivando os que estavam à sua volta a confiar em Jesus Cristo.
Era a noite de 14 de abril de 1912. uma noite de heróis, e John Harper foi um
deles. Apesar das águas que o tragavam serem extremamente frias e do mar à sua
volta estar escuro, John Harper deixou este mundo numa resplandecente glória.
Os atos de coragem de Harper foram espontâneos. Ele não tinha motivo para
imaginar que o Titanic afundaria, nem tempo para escrever um roteiro. Uma revista
comercial, The Shipbuilder, descreveu o Titanic como "praticamente insubmergível".
No dia 31 de maio de 1911, um empregado da Companhia de Construção Naval White
Star disse: "Nem mesmo o próprio Deus pode afundar esse navio". O Titanic
representava toda a segurança, elegância e confiança da era vitoriana-edwardiana. A
Associated Press era entusiasta do navio, declarando: "Tudo que a riqueza e a
habilidade modernas podiam produzir estava incorporado no Titanic, o navio mais
longo já construído, com mais de 4 quadras de comprimento.., com acomodações
para uma tripulação de 860 pessoas e capacidade para 3.500 passageiros, ele foi
construído com o mesmo cuidado dedicado aos melhores cronômetros". A ostentação
e o tamanho recorde do Titanic impressionaram a era dourada da construção naval.
Seus motores de 50.000 HP que produziam a velocidade de 24 nós por hora eram
protegidos por dezesseis compartimentos estanques. Cada um era protegido por
estruturas de aço. Na época do seu lançamento, o Titanic era o maior objeto móvel
manufaturado do mundo. Depois de fazer as duas primeiras paradas para passageiros
e correio em Cherbourg e Queenstown, Irlanda, os passageiros se sentiram ainda
mais seguros. Harper escreveu numa carta para seu amigo Charles Livingstone antes
de atracar em Queenstown, dizendo: "Até agora a viagem é tudo que se pode desejar."
Às 11:40 da noite de 14 de abril de 1912, um iceberg rasgou o lado estibordo do
navio, jogando gelo por todo o convés e arrebentando seis compartimentos
estanques. O mar se infiltrou. A maioria dos passageiros não acreditava que o Titanic
afundaria até que a tripulação começou a lançar foguetes de sinalização para o alto.
Charles Pellegrino disse: "A água brilhou por todos os lados. Barcos salva-vidas
podiam ser vistos nela... Naquele enorme facho de luz artificial, as mentes também
foram iluminadas. Todos entenderam a mensagem dos foguetes por si próprios".
Depois dos foguetes, ninguém precisava ser convencido a entrar nos barcos salva-
vidas. De repente, quando a água alcançou a metade da ponte de comando, um
5. estrondo que parecia um milhão de pratos quebrando, cortou a noite. Enquanto a
popa do Titanic subia alto no céu para se preparar para seu mergulho ao fundo do
mar, um barulho terrível como uma explosão abalou o ar da noite. Passageiros
davam-se as mãos e se jogavam na água. Às 2:20 da manhã o Titanic começou sua
descida lenta para o fundo do mar, deixando uma nuvem emergente de fumaça e
vapor acima do seu túmulo. Nas águas geladas do Atlântico Norte, na calada da noite,
o navio mais famoso do mundo terminou sua primeira e última viagem, mas
alcançou uma mística náutica que só perde para a da arca de Noé. Tudo aconteceu tão
rápido, que Harper só pôde reagir. Sua reação deixou um exemplo histórico de
coragem e de fé. "Os heróis da humanidade", disse A. P Stanley, "são como as
montanhas, como os planaltos do mundo moral". John Harper foi um desses heróis.
6. A Parte Mais Difícil do Seu Heroísmo
Nunca é fácil assumir tais ações heroicas, e para John Harper foi
excepcionalmente difícil. Sua filha pequena, Nana, estava viajando com ele. Quatro
anos antes, a mãe dela adoeceu e morreu. Agora, Harper sabia, Nana ficaria órfã aos
seis anos de idade.
Quando o alarme indicou o fim do Titanic, Harper imediatamente entregou Nana
a um capitão do convés com ordens para colocá-la num barco salva-vidas. Então ele
saiu para socorrer os outros. Nana foi resgatada e mandada de volta à Escócia, onde
cresceu, casou-se com um pastor, e dedicou toda a sua vida ao Senhor a quem seu pai
tinha servido.
Certa vez, depois de Harper escapar por pouco de se afogar aos 26 anos, ele disse:
"O medo da morte não me preocupou em momento algum. Eu acreditava que a morte
súbita seria glória súbita, mas havia uma menininha sem mãe em Glasgow". Agora,
essa menininha ficaria sem mãe e sem pai. Com certeza essa foi a parte mais difícil
para Harper.
7. O Herói em Contraste
O heroísmo altruísta desse escocês é acentuado pela conduta contrastante de
muitos colegas passageiros nessa viagem mortal. Enquanto Harper entregava seu
colete salva-vidas, um banqueiro americano conseguiu colocar um cachorro de
estimação num barco salva-vidas, deixando 1.522 pessoas sem ajuda. Não havia um
espírito de "afundar com o navio". Dos 712 salvos, 189 eram, inclusive, homens da
tripulação. O coronel John Jacob Astor tentou escapar com sua mulher num barco
salva-vidas e foi detido pelo segundo-oficial Charles Lightoller. Astor era o homem
mais rico do mundo, mas isso foi insuficiente para forçar a sua entrada num simples
barquinho salva-vidas. Daniel Buckley se disfarçou de mulher na tentativa de
conseguir um lugar no barco. Os passageiros da primeira classe, no primeiro barco
salva-vidas a ser baixado, se recusaram a voltar e recolher pessoas que estavam se
afogando, apesar de haver espaço para muitos outros serem salvos. A Sra. Rosa
Abbott, a única mulher a afundar com o navio e sobreviver, disse que um homem
tentou subir nas suas costas forçando-a para baixo da água e quase afogando-a.
O Sr. Bruce Ismay, um dos donos do Titanic, diretor administrativo da Companhia
White Star e o responsável por não haver barcos salva-vidas [suficientes] a bordo,
tornou-se o marinheiro mais infame desde o Capitão Bligh. Ele subiu num barco
salva-vidas enquanto centenas de mulheres permaneceram no navio condenado. O
Capitão Smith ordenou a seus homens: "Façam o melhor que puderem para as
mulheres e crianças, e cada um cuide de si". Ao mesmo tempo, John Harper mandava
os homens fazerem o que podiam para as mulheres e crianças e cuidarem dos outros.
8. Uma Ambição Inabalável
Quando o monstruoso iceberg partiu as ambições dos outros em pedaços, Harper
demonstrou sua ambição inabalável que nem a morte podia afetar. Ele declarou
Jesus Cristo como a esperança do homem até o fim, ao contrário de outros que foram
forçados a encarar a insensatez de suas ambições. Um certo Sr. Hoffman raptou seus
filhos, Lolo e Momon, que ficaram conhecidos como as ‘‘crianças abandonadas do
Titanic". Seu único desejo fora tirar suas crianças de perto da mãe. Mas, diante da
morte, ele as colocou num barco salva-vidas, certificando-se de que elas voltariam
para a mãe delas em Nice, França. John Phillips, um tripulante presunçoso, mandou
o navio The Ca/ifornian "calar a boca" depois que este enviou pelo rádio o sexto aviso
de icebergs no trajeto do Titanic. Ao encarar a morte, sua presunção desapareceu e
ele clamou: "Deus me perdoe... Deus me perdoe". O pai de Michel e Edrnond Navratil
levou seus dois meninos a bordo do Titanic numa viagem sem volta para a América a
fim de escapar para sempre da esposa, que ele tinha pego tendo um caso com um
oficial de cavalaria italiano. Abandonando sua ambição, Navratil colocou seus
meninos num barco salva-vidas. Suas últimas palavras foram: "Digam à sua mãe que
serei sempre dela".
O projetista do Titanic passou os momentos finais da sua vida no salão de fumar,
observando um painel na parede que dizia: "O Novo Mundo Por Vir". Seu colete
salva-vidas foi deixado de lado, demonstrando o fim do que fora um belo sonho por
parte dele, dos donos do navio e do público.
A Sra. Isador Straus, cujo marido era dono da Loja de Departamentos Macy’s, não
entrou num barco salva-vidas. Ela disse ao seu marido: "Onde você for, eu vou";
ajudou sua criada a entrar no barco número oito e colocou seu casaco de pele nos
seus ombros, dizendo-lhe: "Mantenha-se aquecida. Eu não vou precisar dele".
Benjamin Guggenheim e seu criado Victo Giglio apareceram no convés em trajes
de gala como dois comediantes orgulhosos, dizendo: "Nos vestimos com o melhor e
estamos preparados para afundar como cavalheiros".
Jogadores de cartas trapaceiros, que viajavam com identidades falsas e tinham
roubado $30.000 dos passageiros, pararam com suas trapaças. O instrutor T. W
McCawley, que estava ensinando pessoas a montar em cavalos e camelos mecânicos,
interrompeu suas aulas. O fascínio das camas luxuosas, lareiras, banhos turcos com
câmaras refrigeradas douradas e da primeira piscina construída num transatlântico
terminou. Passageiros no salão da primeira classe cessaram as suas festas e
desfilaram no convés com coletes salva-vidas sobre os trajes de gala. As reuniões de
negócios pararam. O falatório das socialites cessou. Mas, com o seu último suspiro,
John Harper, sem desanimar, continuou o trabalho da sua vida: convencer homens a
"crer no Senhor Jesus Cristo".
9. Harper Conhecia Bem os Terrores do Afogamento
A coragem de Harper não vinha da ignorância. Provavelmente ninguém no Titanic
conhecia tão bem os terrores do afogamento como John Harper. Aos dois anos de
idade ele caiu num poço e foi ressuscitado a tempo por sua mãe. Aos vinte e seis
anos, Harper foi levado a alto mar por um correnteza e sobreviveu por pouco. Aos
trinta e dois anos ele encarou a morte num navio com vazamento no Mediterrâneo.
Talvez essa fosse a maneira de Deus testar esse servo para a sua missão de último
aviso no Titanic.
Harper já sabia o que centenas de pessoas descobriram naquela noite trágica -
afogamento é uma morte terrível. Will Murdoch, o primeiro-oficial do Titanic, foi
incapaz de enfrentar uma morte lenta na água e se matou com um tiro quando a
ponte de comando afundou. Muitos dos 1.522 homens, mulheres e crianças
abandonados a bordo gritaram até ficar num silêncio terrível. Em contraste, um John
Harper confiante encarou a morte com segurança absoluta de que Jesus derrotou a
morte e deu-lhe a dádiva da vida eterna. Essa segurança ultrapassou os terrores do
afogamento.
10. A Paixão de Toda a Sua Vida
O heroísmo de Harper não foi apenas um momento glorioso de uma vida sem
atos heroicos. Ele amou, chorou, orou e trabalhou pelos outros durante toda a sua
vida. Harper recuperou alcoólatras, jogadores, e brigões. Como pastor, às vezes,
passava a noite inteira na sua igreja orando pelas suas centenas de membros
individualmente. Harper trabalhava dia e noite, nos lares e nas ruas, indicando uma
vida melhor para os desamparados. Ele trabalhava sem cessar entre os pobres,
procurando ajudá-los.
A labuta fatigante de Harper era realizada apesar de sua má saúde. No verão de
1905, a enfermidade o incapacitou por seis meses, acabou com sua saúde e roubou
sua bela e ressonante voz. Seu corpo nunca mais foi o mesmo, restando apenas um
esqueleto do homem que fora. A pele pálida, o corpo frágil e as enfermidades
constantes de Harper eram as marcas de alguém que se recusava a parar para
descansar. Porém, apesar da má saúde e do corpo cansado, Harper era sagaz e alegre.
Esse servo dedicado era conhecido por ser "glorificado na sua fraqueza". Na noite
anterior ao naufrágio do Titanic, enquanto os outros jogavam e descansavam, John
Harper foi visto no convés do navio tentando com todo zelo levar um rapaz a crer em
Cristo.
11. Harper Teve uma Oportunidade de Escapar do
Titanic
Os atos heroicos de John Harper no Titanic assumem uma dimensão maior
quando se considera sua oportunidade de ter evitado o desventurado navio. A
principio estava marcado que Harper iria no navio Lusitania para pregar na Igreja
Memorial Moody em Chicago. Ao invés disso, ele se levantou e informou aos homens
da Missão Seaman’s Center em Glasgow que os planos foram mudados e ele partiria
no Titanic para a igreja Memorial Moody de Chicago. Em 1911, ele havia tido as
melhores conferências desde os dias do grande D. L. Moody, e a igreja o convidou
novamente para três meses de reuniões.
O Sr. Robert English levantou-se numa reunião no Seaman’s Center e suplicou
que Harper não viajasse para Chicago. English disse a Harper que estava orando e
teve um pressentimento de que aconteceria um desastre se ele fizesse essa viagem.
Ele se ofereceu para pagar a passagem se Harper adiasse a sua viagem. Vários outros
testemunharam o fato de que English insistiu com Harper, inclusive Willie Burns,
que estava presente na reunião em Glasgow, e as duas netas de English, Mary
Whitelaw e Georgina Smith, ambas membros da Igreja Memorial Harper.
As palavras de English foram muito semelhantes às palavras ditas ao apóstolo
Paulo por um profeta chamado Ágabo 1.900 anos antes. Ágabo atou suas mãos e seus
pés, dizendo: "Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o
entregarão nas mãos dos gentios". A recusa de Harper de voltar atrás foi muito
parecida com a reação de Paulo: "Que fazeis chorando e quebrantando-me o
coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em
Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus"(Atos 21.10-13). Ambos, Paulo e
Harper, tinham um senso de propósito divino com relação às suas viagens, e ambos
estavam dispostos a morrer para realizar esse propósito.
As advertências proféticas dadas a esses dois homens de Deus indicam que o
Senhor aprovou seu sacrifício. A advertência de Ágabo deu um senso de propósito
divino a Paulo quando ele viajou a Jerusalém onde pregaria o Evangelho, seria preso
e condenado à morte. A advertência do Sr. English deu a Harper o mesmo senso de
propósito divino quando ele se tornou a testemunha final num navio da morte.
12. No Final só Havia Duas Classes de Passageiros
Depois que o Titanic afundou, o escritório da White Star em Liverpool, Inglaterra,
colocou um grande painel de cada lado da entrada principal. Em um deles escreveram
com letras grandes: "Identificados como Salvos", e no outro: "Identificados como
Desaparecidos". Quando a viagem do Titanic começou havia três classes de
passageiros. Mas, quando ela terminou o número foi reduzido a duas — os que foram
"salvos" pelos barcos salva-vidas e os que ficaram "perdidos" nas águas profundas.
Parentes e amigos dos passageiros do navio esperavam do lado de fora do
escritório da White Star. Quando notícias sobre um passageiro chegavam, seu nome
era escrito num pedaço de papelão. Então um empregado levava o nome até o portão.
De frente para a multidão ele levantava o papelão; a multidão ficava num silêncio
mortal. Todos observavam ansiosamente para ver em qual dos painéis o nome seria
colocado.
John Harper mergulhou na morte com desprendimento total, sabendo que estaria
entre os passageiros perdidos. Mas ele tinha certeza absoluta de que seu nome estaria
na lista dos "salvos" diante do trono de Deus. Lorde Mercer expressou assim a atitude
de Harper com relação à morte: "Numa única noite, entre o anoitecer e o amanhecer,
durante algumas poucas horas de inconsciência de muitos que dormiam
tranquilamente, partiram desta terra centenas de vidas, algumas ricas em promessas
e futuros aparentemente felizes, levando com elas todas as esperanças de outras
pessoas. Mas a constância e a coragem cristãs, a renúncia absoluta e o heroísrno
inabalável com que tantos encararam seu fim, nos ajudam a perceber que a morte
não é o fim de todas as coisas e que esta vida é apenas a entrada para a vida
verdadeira, que ela é apenas o portal da eternidade".
13. O Último Convertido de John Harper
Duas horas e quarenta minutos depois do Titanic colidir com o iceberg, ele
afundou nas águas geladas. Centenas se ajuntaram em barcos e botes salva-vidas, e
outros se agarraram a pedaços de madeira esperando sobreviver até que chegasse
socorro. Durante cinquenta minutos horríveis os gritos de socorro encheram a noite.
Eva Hart disse: "O som das pessoas se afogando é algo que não posso descrever para
você. E ninguém mais pode. É um som horrível. E há um silêncio terrível que o
segue". O sobrevivente coronel Archibald Gracie chamou isso de "a cena mais
lastimável e horrível de todas. Os gritos comoventes dos que estavam à nossa volta
ainda soam nos meus ouvidos, e eu me lembrarei deles para o resto da minha vida".
Durante aqueles 50 minutos, um homem agarrado a uma tábua chegou perto de
John Harper. Harper, que estava se debatendo na água, gritou: "Você é salvo?" A
resposta foi: "Não". Harper gritou as palavras da Biblia:
"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo". Antes de responder, o homem
sumiu na escuridão.
Mais tarde, a correnteza os aproximou novamente. Mais uma vez Harper, que
estava morrendo, gritou a pergunta: "Você é salvo?" Mais uma vez ele recebeu a
resposta: "Não". Harper repetiu as palavras de Atos 16.31: "Crê no Senhor Jesus
Cristo e serás salvo".
Harper, que estava se afogando, soltou, então, as mãos do objeto em que se
segurava na água gelada e desceu para seu túmulo no oceano. O homem que ele
tentou evangelizar confiou em Jesus Cristo. Mais tarde ele foi socorrido pelos barcos
salva-vidas do navio S.S. Carpathia. Em Hamilton, Ontario, este sobrevivente
testemunhou que foi o "último convertido" de John Harper.
O último convertido de Harper foi alcançado pelas últimas palavras de Harper:
"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".
Houve muitos heróis no Titanic, mas ajudando os outros enquanto se afogava,
John Harper foi o último.
14. A Formação de um Herói
John Climie
Faz cerca de vinte anos, talvez um pouco mais, que conhecemos o Sr. Harper pela
primeira vez. Nossa lembrança mais antiga dele era dos seus trabalhos no Evangelho
em Bridge-of-Weir. Na época ele só parecia um rapaz crescido. Mas naquele tempo,
como durante toda a sua carreira pública, a chama do Senhor ardia intensamente no
seu coração.
15. A Conversão de John Harper
Ele nasceu em Houston, Renfrewshire, no dia 29 de maio de 1872, e foi no último
domingo de março de 1886, quando tinha treze anos e dez meses de idade, que
aceitou Jesus. Ele nunca foi um rapaz de confusão. Sua juventude desde a pré-
adolescência foi moldada e protegida por sua fé no Senhor Jesus Cristo. O amor de
Deus foi derramado no seu coração, e permeou sua vida completamente, formando
seus pensamentos, induzindo à ação no momento certo, e preservando-o do mal que
está neste mundo. Foi através de João 3.16: "Porque Deus amou ao mundo de
tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna", que o caminho da salvação ficou claro no seu
coração e na sua mente. Esse tem sido o meio de iluminar multidões. Foi o que o
iluminou, e o libertou do medo. "O perfeito amor lança fora o medo".
Ele recebeu a verdade por amá-la, e a verdade o libertou. Nas palavras
esclarecedoras daquele texto, ele viu Jesus como a dádiva de Deus oferecida ao
mundo inteiro, e, portanto, para ele corno habitante deste mundo. Ele recebeu essa
dádiva com ações de graça, e uma nova vida começou.
Aqueles que dirigiam o culto em que ele aceitou o Salvador foram abençoados
com muitas conversões, mas convertidos como John Harper são raros. As vezes há
grande júbilo e muitos aleluias quando um pecador notório se converte, mas,
infelizmente, muitas vezes a alegria dura pouco. Algumas pessoas por quem houve
muito regozijo, mais tarde provaram ser pouco confiáveis.
Não se sabe se houve alegria especial quando o menino do interior aceitou Jesus
naquela noite, mas depois que recebeu a Palavra, ele a guardou num coração sincero,
e mais adiante deu frutos com paciência. A palavra de João 15.16 poderia se referir a
ele: "eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e
o vosso fruto permaneça".
Não é necessário que os homens tenham se afundado no pecado para terem
utilidade especial para Cristo depois que a graça redentora de Deus os tenha
alcançado. No exercício do seu ministério público, o Sr. Harper jamais se afastou de
Deus caindo profundamente em pecado. Contudo, ele foi o instrumento de Deus para
levar ao Salvador muitos que estavam totalmente extraviados. Desde o começo ele foi
claramente, pela vontade de Deus, "um vaso para honra, santificado, e adequado para
o uso do Mestre".
E para o louvor do Senhor que Deus pode e consegue mudar as vidas de homens
degradados e infames, dando-lhes um lugar de honra e distinção na Sua obra. Mas as
ações malignas deles antes da conversão, às vezes, são uma armadilha para eles
depois da conversão, ao invés de um auxílio no serviço para Cristo. Uma vida pura
antes da conversão é um recurso valioso.
16. A Herança de Pais Tementes a Deus
John Harper nasceu e foi criado num lar cristão, como será relatado mais tarde
neste livro. Seus pais. pobres neste mundo, eram herdeiros do Reino que Deus
prometeu aos que O amam. Quanto mais lares cristãos, melhor, não só para a igreja,
mas para a nação também. Ser criado no cuidado e conselho do Senhor, num
ambiente de oração e de reverência à Palavra de Deus, é ser selado na juventude com
marcas que são de grande valor, apesar de ocasionalmente os resultados esperados
demorarem a aparecer.
Ser criado no temor de Deus é uma herança de valor inestimável. Apesar de ter
sido num domingo à noite em março de 1886 que o menino de quase quatorze anos
aceitou a Cristo, havia todas as marcas dos anos anteriores guardadas na sua mente
jovem. Não foi em vão que ele ouviu durante esses anos marcantes as orações e
súplicas de seu pai e a exposição da Palavra de Deus naquele lar simples. A lenha foi
colocada na lareira do seu coração, e eis que naquela noite de domingo uma fagulha
de amor divino caiu sobre ela, e a chama se acendeu.
17. Uma Experiência Marcante na Vida de Harper
Durante os quatro anos que se seguiram não houve nada de especial sobre ele,
pelo menos nada que previsse a grande utilidade que marcaria sua vida futura. Ele ia
freqüentemente às reuniões bíblicas que eram realizadas com entusiasmo por alguns
jovens da vila, com a ajuda de pastores de outros lugares. Ele ficou livre de amizades
comprometedoras, e firmou-se na fé moderadamente e sem ostentação.
Mas depois de quatro anos e quatro meses, quando tinha acabado de fazer dezoito
anos de idade, ele passou por uma experiência maior. O crescimento é uma lei do
Reino de Deus. As vezes é bem devagar e quase imperceptível. Outras vezes é
espantosamente rápido. Alguns homens crescem mais numa hora de temor perante
as coisas de Deus do que outros que levam anos para crescerem. Seja qual for a nova
experiência, é sem dúvida o Espírito de Deus agindo para o crescimento em graça,
levando a alma a um espaço mais extenso, ampliando o horizonte, clareando a visão,
implantando ideais mais nobres.
18. Uma Visão de Esperança
Foi no ano de 1890 que John Harper teve a conscientização que o selou para o
ministério público. Ele estava em casa sozinho num sábado à tarde no mês de junho.
Ao redor da sua casa na vila, a natureza estava exuberante. Junho é o rei dos meses
de verão na Escócia. As flores desabrochavam. Os pássaros cantavam. O sol brilhava.
Mas enquanto outros jovens deviam estar passeando nos campos verdes ou pelos
riachos, dentro daquela casa na vila o Espírito de Deus levava um jovem a pastos
verdejantes e águas de descanso.
Uma clareza arrebatadora foi dada a ele, quase devastadora na sua intensidade, na
qual ele viu e sentiu como nunca havia sentido antes o propósito de Deus na Cruz de
Cristo. No amor de Cristo pelos homens como visto no Calvário ele admirou, de
forma mais completa, uma porta de esperança aberta para um mundo pecador, e
juntamente com essa revelação nova ele sentiu que Deus o chamava, e entregava-lhe
uma parte no ministério de reconciliação. No dia seguinte seus lábios estavam
abertos. Assumindo sua posição na rua da sua cidade natal, ele começou a
compartilhar um apelo fervoroso para que os homens se reconciliassem com Deus.
19. Um Pastor Sem Curso Teológico
Toda instrução que ele recebeu foi obtida no colégio na sua cidade natal, e como
muitos outros rapazes ele não se entusiasmava com a escola. Ele estava ansioso por
trabalhar, pensando como outros da sua idade que o trabalho é sinal de maturidade.
Além disso, tudo que podia ganhar era necessário em casa. Logo que pôde sair da
escola, suas mãos estavam ocupadas com o trabalho. Ele trabalhou com jardinagem
por um tempo, mas estava empregado numa fábrica de papel quando teve a
maravilhosa experiência e o chamado para o ministério.
Nenhuma universidade jamais teve a oportunidade de moldá-lo. Ele foi treinado
pela mão de Deus para o ministério, não tendo frequentado curso teológico formal.
Talvez isso tenha diminuído seu "status" aos olhos de alguns, mas não diminuiu seu
zelo pelo bem-estar moral e espiritual do seu próximo. E, afinal, não é o que o
homem adquire com a escolaridade, mas o que o homem realiza que tem valor entre
homens justos.
20. A Palavra de Deus era Sua Doutrina
Ele tinha uma mente organizada, o que ficou mais evidente com o passar do
tempo, e era um estudante dedicado de obras teológicas. Quando jovem, absorveu
muito da doutrina calvinista, mas do tipo muito rígido e restrito. Porém, à medida em
que cresceu em graça e conhecimento, sua mente se expandiu, e não teve dificuldade
em crer em qualquer verdade ou sistema de doutrina que tivesse base bíblica. Ele
adotou e seguiu a Soberania Divina e o Livre Arbítrio como esses termos são
entendidos popularmente, acreditando que eram baseados na Palavra de Deus. Dizia
não saber explicar como eles coexistem, e não discutia sobre esses termos,
reconhecendo, como os homens mais sábios e dedicados de todas as gerações, que
eles são assuntos de fé e não de debate.
Ele era um estudante zeloso da Bíblia. Lia a Escritura Sagrada. Meditava nela.
Usava qualquer comentário que pudesse esclarecê-la, ou que o ajudaria a aprender
com ela. Submeteu-se à sua autoridade. Interpretou-a. Poucos podiam usá-la melhor
que ele "para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça". Aceitava qualquer forma de doutrina encontrada nela. Fazia
isso com persistência. Apegava-se a toda instrução que ela lhe dava. Ele a amava
como à sua própria vida. Toda doutrina que não se encontrava nas Escrituras
Sagradas, não importava quão bem apresentada, nem por quem fosse proclamada,
não era aceita por ele. "Assim diz o Senhor" era o seu lema.
Ele se firmava na rocha da revelação. As teorias dos homens eram areia para ele. A
Palavra de Deus era rocha. Sempre provava seu valor, e não se envergonhava de
declarar sua fé nela. Sempre citava textos de forma impressionante, e os homens
lembrariam do texto sobre o qual tinha pregado mesmo que não se lembrassem de
mais nada.
Um homem de negócios em Glasgow lembra-se de vê-lo num salão em Kilbarchan
há cerca de vinte anos atrás citando 1 João 1.7: "E o sangue de Jesus, seu Filho,
nos purifica de todo pecado". As palavras "todo pecado" foram repetidas por ele
três vezes, cada vez com maior ênfase. "Há algo nisso, rapaz", o senhor disse para si
mesmo. Certamente havia, e no tempo determinado esse "algo" foi visto.
21. Qualquer Esquina Era Seu Púlpito
Quando Deus precisa de um homem para o Seu serviço Ele sabe onde procurá-lo.
Ele observa o campo. Ele vê a necessidade. Ele escolhe o homem. Ele chamou Eliseu
do arado, Amós do rebanho. Pedro do barco de pesca nas margens do Mar da Galileia,
e John Harper da indústria de papel. E quando Deus coloca um homem num cargo,
ninguém pode "demiti-lo". Um lugar será encontrado para ele quando o dom e o
chamado de Deus se manifestarem, e se não houver lugar para ele na igreja até que
seja provado, testado e confirmado, Deus encontrará para ele um local de serviço para
manifestar Seu chamado divino.
No serviço de Deus os cooperadores são sempre necessários, homens que estejam
dispostos a trabalhar e sofrer, gastar e serem gastos, suportar repreensão e passar por
dificuldades como bons soldados de Jesus Cristo. John Harper era um cooperador —
um cooperador de Deus (1 Coríntios 3.9), um homem que se dedicava de coração,
alma, força e mente a todo serviço que prestava. No inicio da sua carreira não
sonhava com o púlpito da igreja. Se visse uma esquina vazia, seja qual fosse o lugar,
ele a enchia de ouvintes. Esse era o seu púlpito, e fazia proveito dele. Por toda a
região onde vivia, depois de receber o revestimento especial de poder do alto, saiu
pregando a história da graça redentora. Bridge-of-Weir, Kilbarchan, Elderslie,
Johnstone, Linwood., e outros lugares o encontravam à noite depois do dia de
trabalho terminar, proclamando com esperança vigorosa a história do amor de Deus
aos homens. Seu coração estava incandescente. Uma coisa ele fazia então, e a fez até
o fim — ele se esforçava para trazer homens do pecado para Deus.
Essa é uma obra que deve continuar, "a história deve ser proclamada." Os que
estão afastados do Senhor devem ser encontrados, avisados, convidados, e
convencidos a abandonar o pecado e seguir a Cristo. Se um dos servos de Deus é
levado, alguém deve estar atento ao chamado divino para se apresentar e preencher o
espaço vazio. Não para servir necessariamente na mesma área, mas para manter o
testemunho vivo. O número de testemunhas não deve diminuir. Hoje o mundo
precisa do Evangelho tanto quanto antes. O coração de Deus bate tão forte quanto
antes. O sangue de Jesus é tão eficaz quanto antes. O Espírito de Deus está tão
presente quanto antes, mas infelizmente deve estar tão entristecido que o Seu poder
é menos evidente do que deveria ser. Haverá trabalho enquanto é dia. Este é o dia da
salvação. A noite vem, em que nenhum homem poderá trabalhar.
22. "É Maravilhoso Ser Enviado de Deus"
Depois de cinco ou seis anos de dedicação, serviço evangelístico constante, esforço
na fábrica durante o dia e à noite nos distritos rurais em redor convidando homens a
se prepararem para o encontro com Deus, o reverendo E. A. Carter da Missão
Pioneira Batista de Londres "descobriu" o jovem pregador e o liberou para dedicar
todo o seu tempo e toda a sua energia à obra que tanto amava. Com o patrocínio da
Missão, uma obra Batista foi iniciada em Govan, um dos subúrbios de Glasgow, onde
havia bastante espaço para um trabalho ativo.
Durante algum tempo, cultos evangelístícos foram realizados, depois uma igreja
foi formada. O culto de inauguração foi dirigido pelo pastor J. B. Frame, e no dia
seguinte um sermão foi pregado pelo Reitor MacGregor da Faculdade Dunoon sobre
as palavras: "Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João"
(João 1.6). A passagem deve ter provocado sorrisos, mas era muito adequada à
ocasião. Naquele salão estava um homem que sem dúvida alguma, como resultados
futuros provaram, foi enviado por Deus, e seu nome era João (John). É maravilhoso
ser enviado de Deus. As referências que tinha consigo eram os sinais de que Deus já o
moldara. Ele não tinha outras. Mas essas eram suficientes para incentivar a certeza
de que Deus o enviara.
Apesar de jovem na idade, ele já tinha um histórico confiável. O selo de Deus foi
colocado na sua obra nos diversos lugares onde ele deu um bom testemunho, e agora
em meio a uma multidão acreditava-se que seria mais útil do que nunca. Essas
esperanças não foram desmentidas. Quando Deus envia um homem Ele proporciona
toda a graça necessária. Ele não deixa nada de bom faltar para aqueles que andam
corretamente no caminho da obra à qual Ele os chama. Homens enviados por Deus
com uma mensagem do Evangelho são guardiões de um poder que converte
pecadores do erro dos seus caminhos.
Mas se os homens saem antes de Deus enviá-los, tais resultados não aparecem.
Na época de Jeremias, Deus reclamou através dele daqueles que "falam as visões
do seu coração, não o que vem da boca do Senhor"
(Jeremias 23.16). Sobre eles disse: "Não mandei esses profetas; todavia, eles
foram correndo, não lhes falei a eles, contudo, profetizaram. Mas, se tivessem estado
no meu conselho, então, teriam feito ouvir as minhas palavras ao meu povo e o
teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações" (Jeremias
23.21-22). Essa é uma descrição dos homens que não são enviados. Eles não estão no
conselho de Deus. Não afastam as pessoas dos seus maus caminhos, e das suas ações
malignas.
Um homem enviado por Deus proclamará a Palavra de Deus. Não declarará uma
visão do seu próprio coração. O resultado será que os homens abandonarão seus
23. caminhos maus, e se prostrarão em arrependimento e adoração aos pés dEle, que foi
crucificado, mas que agora é o Salvador glorificado. Sob John Harper os homens
abandonaram seus caminhos maus e suas obras más. Eles renegaram a impureza e
seguiram a santidade sem a qual ninguém verá o Senhor.
Poderia parecer um evento sem importância para alguns a consagração daquele
jovem para o ministério de Deus naquele dia. Mas centenas e centenas de pessoas
têm razão para agradecer a Deus por terem visto sua face, ou ouvido sua voz. Durante
cerca de dezoito meses ele se esforçou sem cessar em Govan, trabalhando, orando,
pregando, convidando, tocando os corações e as vidas de alguns com seus apelos
sinceros, e reunindo à sua volta um pequeno grupo de homens e mulheres que viram
nele as marcas de um homem enviado por Deus.
24. "Pregando Tudo o que Tinha Direito"
No início do seu trabalho em Govan um dos membros de um conjunto
evangelístico foi enviado como representante da cidade para falar num culto
missionário em Govan. Quando chegou no cruzamento de Govan, ele viu um jovem
de pé "pregando tudo o que tinha direito". "Quem é’?", perguntou a um homem que
estava com ele. "Esse é o pastor da Missão Batista", foi a resposta. A impressão que
ficou naquela noite, reforçada mais tarde com conhecimento maior do jovem que
estava "pregando tudo o que tinha direito", segundo ele, levou-o a participar da igreja
quando ela foi formada, e fez dele um dos amigos mais leais do Sr. Harper.
Depois de um ano e meio de trabalho em Govan, Harper mudou-se para Gordon
Halls, na rua Paisley. Neste lugar, no dia 5 de setembro de 1897, formou-se uma
igreja com 25 membros, alguns dos quais vieram com ele de Govan. A igreja foi
chamada de Igreja Batista de Paisley Road, o nome que ainda tem. Mas foi sugerido
que deveria chamar-se Igreja Memorial Harper (e agora ela é conhecida assim).
Homens e mulheres de todas as idades juntaram-se ao jovem pastor, e sob a sua
liderança, a obra foi feita sem formalidades. Em todos os cultos na igreja fazia-se o
máximo para ganhar homens para Cristo. Do lado de fora, eram feitas pregações nas
esquinas, nos portões de prédios públicos durante as refeições, e sempre que
houvesse alguém para ouvir. A rede era lançada para todos os lados. O zelo e o
entusiasmo dos obreiros pareciam ilimitados. Almas foram ganhas, a causa
prosperava, o número de membros aumentava. A fé que age pelo amor e é radiante de
esperança, animou os obreiros, e os levou de vitória em vitória sobre as forças da
incredulidade.
Depois de quatro anos em Gordon Halls, um terreno foi adquirido no distrito de
Plantation, e um galpão de ferro, com capacidade para quinhentas ou seiscentas
pessoas, foi erguido. A obra foi transferida, tendo esse local como centro, e do lado de
dentro foram vistas maravilhas do poder redentor de Deus. Uma fonte contínua de
misericórdia para perdoar jorrava nos cultos, e há seis anos atrás o prédio teve que
ser ampliado para dar espaço para as exigências crescentes da obra. Ele fica no meio
de uma população densa de trabalhadores. Ninguém, por mais próximo da obra
realizada jamais poderá saber completamente quanto bem foi realizado pelo
ministério de John Harper.
25. "Aquele Homem, o Sr. Harper, Estava Pregando na
Esquina, e Eu Aceitei Jesus"
O superintendente de um grande salão evangelístico em Glasgow estava visitando
há algum tempo atrás um homem idoso em High Street, a duas milhas de distâneia
da Igreja de Paisley Road. Perguntaram ao homem, que tinha 80 anos, se ele confiava
em Jesus. Imediatamente ele respondeu que sim. Quando perguntaram há quanto
tempo ele confiava no Salvador, ele disse: "Nove anos". "Quantos anos você tinha,
então?" "Tinha acabado de fazer 70 anos". "E como isso aconteceu?" "Bem, eu estava
passando em Plantation, e aquele homem, o Sr. Harper, estava pregando na esquina,
e eu aceitei Jesus ali mesmo". Dentro e nos arredores do distrito onde a igreja se
situava, muitas casas foram abençoadas, iluminadas, transformadas, pela pregação do
servo do Senhor, cujo fim tantos lamentam. A igreja que foi formada com 25
membros tinha quase 500 membros quando, depois de 13 anos de trabalho, ele foi,
em setembro de 1910, assumir os deveres do pastorado na Igreja de Walworth Road
em Londres. O culto de despedida foi inesquecível. O galpão de ferro, que tinha lugar
para 900 pessoas, fora muito pequeno para acomodar todos os que queriam assistir
ao culto, e o espaço de uma grande igreja na vizinhança foi graciosamente cedido para
a ocasião. Ela ficou lotada.
26. Uma Dedicação Intensa
Ele sempre foi um pregador fervoroso. Nunca foi superficial. Nunca foi um mero
falador. Ele sempre foi um homem que fixava seu olhar na necessidade de almas
preciosas. Mas durante os últimos anos do seu ministério em Glasgow, a sua
pregação parecia alcançar um novo patamar. Havia uma dedicação intensa que
crescia com o passar dos anos. Seu poder de pregação certas vezes tinha algo
extraordinário. Não era simplesmente quando fazia o apelo para os incrédulos se
reconciliarem com Deus, mas também quando exortava os filhos de Deus a coisas
maiores. Sem dúvida, como aqueles dentre nós que o conheciam podem
testemunhar, o desejo fervoroso e impetuoso que se expressava nas suas pregações
públicas brotava das horas prolongadas de oração a que ele se dedicava. Ele era antes
de mais nada um homem de oração. Quase um mês antes da sua morte, quando
estava em Glasgow para uma visita, ele passou meia hora tomando chá com alguns
de nós, e a última palavra que lembramos ter dito foi que a necessidade de hoje era
uma vida de oração mais intensa.
Seu breve ministério em Walworth Road foi claramente abençoado por Deus.
Melhoras foram feitas. O número de membros da igreja aumentou. Tudo parecia
prometedor. Novos laços de interesse se formaram. Novas amizades foram feitas.
Então veio o convite para dirigir cultos especiais na Igreja Moody em Chicago
durante o inverno passado. Referências ao trabalho notável aparecem nas últimas
páginas deste livro.
Quando voltou para Londres em janeiro, não se achava que ele concordaria em
fazer outra visita tão cedo como programou. Mas ele iria "no começo de abril", nos
disse duas semanas antes de partir. "Por que vai voltar já’? Certamente não é para
dirigir cultos especiais novamente?"... "Oh, não", ele disse: "eu vou dirigir os cultos
normais na Igreja Moody, e falar em conferências e outras reuniões em outros
lugares". Cheio de esperanças ele embarcou no desventurado navio, e no caminho
encontrou o seu fim. E isso que devemos dizer? Não é melhor dizermos que ele
encontrou o seu Senhor no caminho?
Naquela noite de domingo, apenas uma hora ou duas antes do Titanic colidir com
o iceberg, ele olhou para o céu e vendo um brilho vermelho no oeste, disse: "Vai fazer
um belo dia amanhã". Sim, faria, mas a beleza que ele veria não era aquela à qual se
referia quando disse essas palavras. Ele veria a beleza do Salvador.
Depois de pouco tempo de casado, ele perdeu a sua esposa no começo de 1906.
Sua filhinha, Nana, agora tem seis anos e alguns meses (N.T.: no momento em que
este livro foi escrito). A bênção do Senhor certamente estará sobre aquela menininha
órfã.
27. "Pai dos órfãos... é Deus em sua santa morada" (Salmo 68.5).
Fonte: Livro "O Último Herói do Titanic", de Moody Adams (pág. 15 a 43),
publicado por Obra Missionária Chamada da Meia-Noite").
FIM