2. Francisco Ferrer y Guardia nasceu em 10 de Janeiro de 1859 em
Alella, a doze quilômetros de Barcelona. Filho de Jaume Ferrer e
Maria Àngels Guardia, que eram camponeses como boa parte da
população espanhola naquele período e como não eram
pequenos camponeses puderam dar à Ferrer uma boa educação.
Depois de um incidente com um vigário local foi para Barcelona
aos 14 anos para trabalhar como escrituário de um comerciante
de farinha. Este comerciante com quem Ferrer trabalhou era a
favor das ideias anticlericais e liberais que circulavam naquele
momento. O que parece ter motivado Ferrer que aos 20 anos se
declarou republicano anticlerical e se uniu aos maçons, onde
encontrou um grupo que se dedicava ao pensamento liberal e a
conspirações políticas. Frequentou também cursos noturnos
onde conheceu pessoas e autores que marcaram sua formação
tais como Bakunin e Anselmo Lorenzo.
3. Um outro fator que parece ter influenciado Ferrer foi a
proximidade com a França que já havia declarado a República
com a Revolução Gloriosa em 1868.
Aos 20 anos Ferrer trabalhou como fiscal da Companhia
Ferroviária no trajeto de Barcelona e Cerbére. Neste período
ajudou muitos refugiados políticos procurados, auxiliand0-os a
atravessar a fronteira e fugir para a França. Trouxe também para a
Espanha o pronunciamento republicano de Manuel Ruiz Zorilla
ao generais Villacampa e Marelo.
Em 1886 participou de uma tentativa de tornar a Espanha uma
República, mas poucos participaram, o que levou o movimento a
ser sufocado pelo Exército. Neste período teve seu nome ligado
ao do General Villacampa o que o comprometeu. Teve de se exilar
em Paris, onde foi secretário de Manuel Ruiz Zorilla.
Já insatisfeito com a situação do Republicanismo Ferrer passa a
interessar-se em desenvolver um obra educacional anticlerical e
racionalista.
4. Com a morte de Ruiz Zorilla em 1895, afastou-se dos
republicanos ligando-se aos anarquistas Malato, Grave e Paul
Robin. A partir dai passou a se ocupar com a educação, dando
aulas de Espanhol. Conheceu Ernestine Meunie para a qual dava
aulas, construíram uma grande amizade. Ferrer dividiu com ela
suas ideias educacionais e Ernestine ao morrer em 1901 lhe deixa
boa parte de sua fortuna para que Ferrer pudesse fundar a escola
que idealizara. Para tanto Ferrer volta para a Espanha para pôr
em prática sua ideia.
Quando já com a Escola Moderna montada e funcionando em
1903 Ferrer patrocinou e dirigiu um jornal La Huelga General (A
Greve Geral), em sua editora traduziu obras de pensadores
libertários, publicou obras anarquistas e defendeu a greve como
instrumento de luta de classes operárias. Sabe-se que Ferrer não
se declarava anarquista, até mesmo para salvaguardar sua escola,
mas sua ligação com o movimento era evidente.
5. Em 1906 um ex bibliotecário da Escola Moderna de Barcelona
Mateo Morale atirou uma bomba na carruagem que transportava
o rei Afonso XIII comprometendo Ferrer. O ex bibliotecário se
suicida e então a Igreja e o Estado veem finalmente um meio de
acabar com o sucesso da Escola Moderna, acusando Ferrer de ser
o mandante do atentado.
Foi preso em Madri por um ano onde escreveu “La Escuela
Moderna’’. No julgamento Ferrer foi inocentado devido à falta de
provas, mas o governo decretou o fechamento de sua escola em
Barcelona, permanecendo somente a editora.
Passa um período em Paris e quando retorna a Espanha é
surpreendido pela Semana Trágica de Barcelona. A rebelião foi
seguida de uma greve geral, durante uma semana o povo se
apoderou das ruas até ser reprimido pela Guarda Nacional. Os
perseguidores de Ferrer viram então uma oportunidade de
acusá-lo novamente de estar envolvido.
6. Foi preso e teve sua editora fechada. Foi conduzido a um tribunal
de guerra e a portas fechadas foi acusado de ser autor e chefe da
rebelião da Semana Trágica de Barcelona. Foi então condenado a
morte.
No dia 13 de outubro de 1909, foi fuzilado gritando em frente ao
pelotão de fuzilamento: “Viva la Escuela moderna”.
7. Para o Governo e a Igreja a educação das massas servia para deter
o poder. Porem para Ferrer este não era o homem que a
sociedade precisava. E a escola devia ter como principio a
liberdade sem influência da Igreja ou do Estado.
A Escola Moderna de Ferrer tinha como meta “[...] hacer que los
ninõs y ninãs que se confien lleguen a ser personas instruídas,
verídicas, justas y libres de todo prejício”. (FERRER, 1912, p.21).
O local escolhido foi um antigo convento na Rua Baillen no
suburbio de Barcelona. A primeira aula se deu no dia 08 de
Setembro de 1901. Compareceram a aula 30 alunos, 12 meninas e
18 meninos, vindos de diferentes classes sociais.
Por não ser financiada nem pelo Estado nem pela Igreja, os pais
dos alunos pagavam conforme suas rendas.
Fundou também a sua editora para que pudesse dispor de livros
para dar suporte em seu projeto.
8. O espaço da escola era preparado para que se pudesse alcançar os
aspectos metodológicos pensados por Ferrer. Para tanto a
higiene era de extrema importância as salas eram bem
iluminadas e arejadas.
Desenvolvia atividades extracurriculares tais como visitas a
fábricas, museus e era feita a correspondência entre alunos de
escolas diferentes. A partir destas visitas eram promovidos
debates entre professores e alunos para que pudessem dar sua
opinião e refletir sobre a discussão. Após o trabalho de discussão
teriam de escrever uma redação expondo sua opinião a fim de
que pudesse se corresponder com alunos de outras escolas, que
fosse discutida ou mesmo impressa no Boletim da própria Escola
Moderna.
9. Como exemplo das correspondências trocadas, o fragmento da
carta de uma aluna da Escola Moderna de Barcelona a um
menino do Colégio Azul de Madri. Contando que no ano de
1904, conta que passeando no parque da Cidadela juntamente
com os professores os alunos notaram que a cidade estava toda
enfeitada para a vinda do rei, que a levou a escrever:
“Alguns colegas maiores fazem comentários e criticam sobretudo o
que chamam de ‘desperdício ornamental’ em uma cidade com tanta
miséria e com tanta crise operária como a nossa. Organiza-se um
grande debate sobre esta questão. Nosso professor de línguas diz
que continuaremos falando do tema na aula desta tarde, depois de
expormos nossas opiniões e reflexões por escrito em um redação.”
(GUSSINYR, 2003, p.14).
10. Realizavam festivais de teatro para encerramento do ano letivo.
Para isso eram convidados alunos de outras instituições, amigos,
familiares e simpatizantes da escola.
A prática pedagógica se estendia também para os adultos com os
níveis de extensão universitária. Nesses encontros participavam
professores da Escola Moderna, alunos universitários e o público
em geral.
Para Ferrer era de suma importância formar professores para a
escola racionalista, para que fossem capazes de conhecer e
praticar a pedagogia libertária. Deveria com isso reconhecer a
individualidade de seus alunos e para melhorar ainda mais a
eficiência de seu trabalho docente tinham liberdade para que
pudessem adequar a instrução aos alunos conforme as suas
necessidades. Por isso Ferrer defendia a pesquisa científica em
ciência da educação articulada a prática pedagógica de seus
professores.
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13. Ferrer teve grande influência de Rousseau, que como ele não
concordava com os métodos religiosos de ensino. E para ambos a
liberdade é direito do homem. Uma educação deveria formar
indivíduos livres de preconceito, justos, cientes e que
reivindicassem seus direitos.
Numa sociedade machista onde a educação era privilégio dos
homens, Ferrer defendia a educação independente de sexo, uma
educação para todos. A mulher deve receber a mesma educação
que o homem, não devendo ficar reclusa ao lar, deveria estar
presente em todos os âmbitos da sociedade para que pudesse ser
companheira do homem e bem educar seus filhos dentro dos
preceitos libertários e livre de dogmas religiosos.
Também a educação para pobres e ricos todos juntos para que
não aprendam a aceitar como fato natural os privilégios e
vantagens das classes mais altas. Para Ferrer a escola deve
trabalhar através do sistema de igualdade.
14. É grande a importância dos jogos para que a criança aprenda a
respeitar as diferenças, a manifestar seus desejos e a se solidarizar
com os demais.
A Escola Moderna não enxergava a criança incapaz ou inapta
para se desenvolver nesta ou naquela área, pois o importante é
acreditar que ela adquire suas ideias ao longo da vida. Através de
um ambiente positivo, racional e verdadeiro todos estariam
preparados para os estudos e para a vida.
Deveriam se tornar livres e independentes, capazes de ser seus
próprios mestres e guias. Sem ideias preconcebidas impostas.
Eram incentivados a aprender através da experiência, observação
e prática.
15. Era dada muita importância a higiene pessoal e da escola. Isso
era uma forma não só de controlar enfermidades no ambiente
escolar como também nos lares de seus alunos. Os alunos
participavam também de conferencias semanais de práticas
higiênicas, praticavam educação física e mantinham um
“caderno biológico” onde anotavam as enfermidades que
contraiam para que houvesse um controle por parte dos
professores para quem poderia frequentar as aulas em caso de
epidemia.
Os alunos eram incentivados a discutir, refletir e escrever sobre
os fatos que os rodeavam. A exemplo deste menino de 11 anos:
“Los párasitos que consumen y no producen pensando siempre
em la explotación, desprecian al trabajador, que gana um jornal
muy reducido trabajando muchas horas diarias casi sin poder
mantener su familia. Si la sociedad estuviera organizada de outro
modo, no habria quien se muriera de fastidio (modismo catalan),
mientras los ricos están disfrutando.”
16. Não existiam provas, a avaliação era feita através de trabalhos,
deveres e exercícios. Para Ferrer as provas só provocavam
situações de angústia e ansiedade para os alunos, não provando
seu conhecimento só sua capacidade de memorização. E as notas
que viriam destas provas só serviriam para estimular a
competição e a desigualdade entre os alunos.
Para formar seu corpo docente Ferrer colocava anúncios em
jornais para que professores de ambos os sexos se candidatassem.
Após teriam aulas c0m um professor experimentado na
pedagogia racionalista.
Era necessário que se escutasse e pesquisasse as necessidades e
curiosidades dos alunos. O professor teria a liberdade de adequar
o ensino a estes fatores, pois do contrário se estaria sufocando a
criança e a sua vontade de aprender.
17. A Escola Moderna n° 1 foi fundada em 13 de maio de 1912 como
concretização dos trabalhos do Comitê pró-Escola Moderna de São
Paulo, formado por anarquistas e livres pensadores. O Comitê foi
instituído em novembro de 1909 a partir das manifestações contra o
fuzilamento na Espanha de Francisco Ferrer y Guardia, recebendo
apoio de sindicatos e da Confederação Operária Brasileira (COB). A
escola foi instalada inicialmente na Rua Saldanha Marinho, 66,
Belenzinho (em 1915 mudou-se para a Rua Celso Garcia, 262, onde
funcionou até ser fechada). O diretor escolhido foi João de Camargo
Penteado, que se ausentou em 1917 por um curto período, sendo
substituído pelo militante anarquista e professor Florentino de
Carvalho (pseudônimo de Primitivo Soares). O estabelecimento,
desde a fundação, atendia meninos e meninas em classes mistas.
Sua proposta curricular foi baseada no racionalismo criado por
Francisco Ferrer, abrangendo leitura, caligrafia, gramática,
aritmética, geografia, geometria, botânica, geologia, mineralogia,
física, química, história, desenho, datilografia, entre outros
conteúdos.
18. Também eram realizadas excursões para que os alunos e alunas
tivessem contato com a realidade cotidiana. A Escola era
paga, diferenciando os valores das parcelas para alunos iniciantes
e avançados, bem como para os adultos que frequentavam o
curso noturno. Para atingir seus objetivos pedagógicos, também
foi criado, em conjunto com a Escola Moderna n° 2, o jornal
denominado O Início. Dirigido e redigido pelos alunos, este
jornal visava divulgar trabalhos escritos, fornecer informações de
atividades sociais, debater a conjuntura nacional e
internacional, registrar e rememorar as datas e fatos relevantes
do movimento operário. As duas Escolas Modernas de São Paulo
editaram o Boletim da Escola Moderna, a exemplo do que ocorria
na Escola Moderna de Barcelona (1901-1906). Durante sua
existência, a frequência mensal de alunos oscilou entre 45 a 50
no período diurno e de 12 a 15 no noturno. As atividades escolares
foram encerradas no ano de 1919, após a morte do diretor da
Escola Moderna de São Caetano, vítima de explosão ocorrida em
uma casa no Brás.
19. Este fato serviu como justificativa para que o Diretor Geral de
Instrução Pública do Estado de São Paulo, Oscar Thompson,
caçasse, em caráter definitivo, a licença de funcionamento da
Escola Moderna n° 1 e n° 2. Os recursos impetrados e o habeas
corpus não surtiram efeito e as Escolas Modernas de São Paulo e
de São Caetano foram definitivamente fechadas. Posteriormente,
a Escola Moderna cedeu lugar à Academia de Comércio Saldanha
Marinho, depois chamada de Colégio Saldanha Marinho, porém
o estabelecimento já não conservava a filosofia de educação do
racionalismo. Ainda assim, professor João Penteado continuou
como diretor até a data de seu falecimento, ocorrido em 31 de
dezembro de 1965.
LUIZETTO, Flávio V. Presença do anarquismo no Brasil: um estudo
dos episódios literário e educacional – 1900/1920. Tese doutorado USP.
São Carlos, 1984.
MORAES, José Damiro de. A trajetória educacional anarquista na
Primeira República: das escolas aos centros de cultura social.
Dissertação mestrado. Unicamp, SP: 1999.
20. Escola Nova, fundada em 1909 à Av. Celso Garcia, 262, São Paulo
Escola Moderna N°1,fundada em 1912, sob direção de João Penteado,
localizada à Rua Saldanha Marinho, 58, São Paulo
Escola Moderna do Ceará, fundada em 1911, à Rua Major Fecundo, 186,
Fortaleza
Escola Moderna N°2, fundada em 1912 à Rua Müller, 74, sob direção de
Adelino de Pinho São Paulo
Escola Moderna de Petrópolis, fundada em 1913
Escola Moderna de Bauru
Escola Moderna de Porto Alegre, funcionava em 1919 à Rua Ramiro
Barcelos, 197
Escola Racional Francisco Ferrer, fundada em 1919, em Belém do Pará
Nova Escola, fundada em 1920, no Rio de Janeiro
Escola Livre, fundada em 1920 pelos Operários em Fábricas de Tecidos
de Petrópolis
21. Outras escolas que empregaram métodos semelhantes aos da Escola
Moderna, no Brasil:
Escola Eliseu Réclus, de Porto Alegre
Escola da União Operária de Franca, fundada em 1912 por Teófilo
Pereira
Escola noturna da Liga Operária de Sorocaba, fundada em 1912
Escola Operária 1° de Maio, localizada em Vila Isabel e depois em
Olaria, Rio de Janeiro
Universidade Popular de Cultura Racional e Científica, fundada em
1915, anexa à Escola Nova de São Paulo, e que oferecia cursos
preparatórios para professores
Escola Joaquim Vicente, fundada em 1920, em São Paulo
Escola Profissional, fundada em 1920 por iniciativa da União em
Fábricas de Tecidos, no Rio de Janeiro
Escolas para Operárias do Centro Feminino Jovens Idealistas (duas),
fundadas em 1920 à Rua Borges de Figueiredo, 37, e à Rua Joli, 125
Escola da Liga da Construção Civil, fundada em 1920, em Niterói
Grupo Escolar Carlos Dias, "órgão do Sindicato dos Pedreiros,
Carpinteiros e Demais Classes dos Trabalhadores em Geral", em
Salvador
22. Turma da escola de São Paulo Turma da escola de Porto Alegre
23. GONÇALVES, Aracely Mehl. A tragetória e o pensamento
pedagógico educacional de Francisco Ferrer y Guardia.
Cadernos de História da Educação – V. 8, n. 1 – jan/ jun. 2009.
http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/2274
Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Moderna
Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Ferrer
Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedagogia_libert%C3%A1ria
Bibliografia indicada:
Youtube
Documentário Viva la Escuela Moderna
http://www.youtube.com/watch?v=TSxmPP_FBd0