A feira de produtos orgânicos no Instituto Bom Jesus/Ielusc oferece alimentos livres de agrotóxicos produzidos por agricultores de Araquari e Garuva. A feira teve início em junho, mas precisa da adesão de mais produtores para atender a demanda. Os agricultores enfrentam dificuldades como falta de assistência técnica e de frutas fora de época.
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville
1. Primeira Pauta
Economia solidária
Surgimento de novas alternativas prova
que o desenvolvimento sustentável é possível
Agricultores de Araquari e Garuva
oferecem produtos livres de pestici-
das e de resíduos químicos. Para ad-
quiri-los é só ir até à feira de produ-
tos agroecológicos, que funciona no
pátio do Instituto Superior e Centro
Educacional Luterano Bom Jesus/
Ielusc, às terças-feiras, das 9h às 14h.
Página 5
Quarenta mãos trabalham me-
lhor que uma. Com esse pensamen-
to, moradores do Jardim Paraíso,
em Joinville, buscam alternativas
contra o desemprego. Uma delas é
a construção de casas com a a téc-
nica de produção de tijolos utiliza-
da por muitos assentamentos de
sem-terras do Brasil.
Ser um novo espaço de laborató-
rio para os estudantes, segundo a di-
retora do Curso de Turismo com ên-
fase em Meio Ambiente, Dra.
Elizabete Tamanini, é um dos aspec-
tos que motivou o Instituto Bom Je-
sus/Ielusc a participar do projeto de
economia solidária em Joinville.
Página 9
Feira oferece produtos
orgânicos em Joinville
Uma técnica e muita
força de vontade
Ielusc e economia
solidária são parceiros
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - 6º Semestre/2002 Edição nº 23 - 1º de Outubro de 2002
Página 6
A aproximação entre o consumidor final e o
produtor é uma das propostas da economia
solidária. Ao adquirir um produto solidário, o
consumidor percebe que uma simples hortaliça
traz um novo valor agregado: a história de vida e
as esperanças da comunidade que a produziu.
Fotos:ElaineCristinaDias
Montagem:JucianoLacerda
2. Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
Primeira Pauta2
Opinião
EXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
Curso de Comunicação
Social – Jornalismo – do
Instituto Superior e Cen-
tro Educacional Luterano
Bom Jesus/IELUSC
www.ielusc.br
Diretor Geral:
Tito L. Lermen
Diretor do Curso:
Edelberto Behs
Professor responsável:
Juciano de S. Lacerda
DRT-PB 1.177
Editora:
Michelle de Castro
EDITORIAS
Comunidade
Editor:
Luiz F. Bertoldi
Reportagem: Adriana
Caroliny Silvy, Edelamar
Negherbon, Eunice
Ventury, Luiz Fernando
Bertoldi
Economia
Editor:
Marco Aurélio Braga
Reportagem: Cleiton
Bernardes, Juliana Batis-
ta, Karla de Assis Perei-
ra, Nicole da Rosa Gomes
Saúde
Karla de Assis Pereira
Fotografia:
Elaine Cristina Dias
Colaborador:
Kleyton Clemente
Diagramação:
Juciano de S. Lacerda
Contato com a reda-
ção: Curso de Comunica-
ção Social – Jornalismo.
Rua Alexandre Dohler,
56, Centro, 89201-260,
Joinville-SC. Tel.: (47)
433-0155.
Funcionam com base na propri-
edade social dos meios de produ-
ção vedando a apropriação indivi-
dual desses meios ou sua aliena-
ção particular.
O controle do empreendimento
e o poder de decisão pertencem à
sociedade de trabalhadores, em
regime de paridade de direitos.
Gestão de empreendimentos vin-
culada à comunidade de trabalho,
que organiza o processo produti-
vo, opera as estratégias econômi-
cas e dispõe sobre o destino do
excedente produzido. [KC]
Funciona com base na proprie-
dadeúnicaouconjuntadeumgru-
po de pessoas - proprietárias, con-
centrando nas mãos de poucos o
lucro de produção.
O controle do empreendimento,
ou empresa, pertence ao(s) pro-
prietário(s), em regime contratual
estipuladoemaberturadeempresa.
Gestão de empreendimentos fu-
turos vinculada e unicamente de-
limitada ao(s) proprietário(s) do
empreendimento, qual(is) tem
único poder de elaborar estratégi-
aseofimdoexcedenteproduzido.
O termo economia solidária
abriga muitas práticas econômi-
cas e não há um consenso sobre
o seu significado. Em geral, ele
está associado à práticas de con-
sumo, comercialização, produ-
ção e serviços – entre os quais o
de financiamento, em particular
– em que se defendem, em graus
variados, a participação coletiva,
autogestão, democracia, igualita-
rismo, cooperação, auto-susten-
tação, a promoção do desenvol-
vimento humano, responsabili-
dade social e a preservação do
equilíbrio dos ecossistemas. En-
tretanto, nem todas essas carac-
terísticas estão presentes nas di-
versas práticas concretas, que são
elencadas como economia soli-
dária, em estudos e análises dis-
tintas que temos encontrado. A
afirmação é de Euclides André
Mance, que ministra a disciplina
de Filosofia na Universidade Fe-
deral do Paraná.
O modelo solidário de eco-
nomia é totalmente diferente do
sistema capitalista, que é o atual
modelo no Brasil e na maior
parte do mundo, exceto alguns
que operam com o sistema so-
cialista como Cuba. O doutor em
sociologia Luiz Inácio Gaiger,
professor do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais
Aplicadas, da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, diz que a
literatura atual sobre economia
solidária converge em afirmar o
caráter alternativo das novas ex-
periências populares de autoges-
tão e cooperação econômica.
Dada a ruptura que introduzem
nas relações de produção capi-
talistas, elas representariam a
emergência de um novo modo
de organização do trabalho e das
atividades econômicas em geral.
O fenômeno da economia
solidária guarda semelhanças
com a economia camponesa.
Este modelo, em primeiro lugar,
é distinto da forma assalariada.
As práticas de autogestão e coo-
peração dão a esses empreendi-
mentos uma natureza singular,
pois modificam o princípio e a
finalidade da extração do traba-
lho excedente.
O solidarismo mostra-se ca-
paz de converter-se no elemen-
to básico de uma nova raciona-
lidade econômica, apta a susten-
tar os empreendimentos através
de resultados materiais efetivos
e de ganhos extra-econômicos.
“A economia solidária não re-
produz em seu interior as rela-
ções capitalistas, no melhor dos
casos as substitui por outras, mas
tampouco elimina ou ameaça a
reprodução da forma tipicamen-
te capitalista, ao menos no hori-
zonte por ora apreensível pelo
conhecimento”, compara Gaiger.
Alternativa ao capitalismo
Por Kleiton Clemente
Não estamos no fim da
história. A expressão já gasta
para definir a política neoli-
beral vigente, felizmente, não
é uma profecia auto-realizá-
vel. Os novos caminhos tra-
çados ainda são tênues, mas
já apontam para alternativas
dedesenvolvimentosustentá-
veis e, acima de tudo, huma-
nas. Com essa crença e essa
esperança, nós, do 6º perío-
do do Curso de Jornalismo,
dedicamos toda esta 23ª edi-
ção do Primeira Pauta para o
tema atual da Economia So-
lidária.
Para conhecer e entender
o desenvolvimento prático
do tema, visitamos o assenta-
mentoJustinoDraszevsky,em
Araquari (SC). Os assentados
falaram sobre suas formas de
produção e organização no
assentamento. Além de con-
versarcomosagricultores,as-
sistimos a uma peça de teatro
produzida e encenada por
eles.
De volta à Joinville, era
hora de conferir a venda dos
produtos. Não foi preciso ir
muito longe nessa etapa de
produção. O Instituto Bom
Jesus/Ielusc,emparceriacom
a Economia Solidária, abriga,
todas às terças-feiras, a Feira
de Produtos Orgânicos.
Indo a campo, descobri-
mos que além da venda, em
algumas localidades como
Garuva e Porto União, agri-
cultores sobrevivem somen-
te com a troca dos produtos.
Observamos também que no
bairro Jardim Paraíso, em
Joinville, e no assentamento
de Araquari, casas são cons-
truídas com o trabalho e tijo-
los da própria comunidade.
Isso é possível graças ao
EDITORIAL
mutirão e à técnica do tijolo
Adobe, feito com argila e cal.
Conversando com cada
participante do fórum, enten-
demos quão simples e saudá-
vel é o modo de vida que le-
vam. Quando chegamos a es-
sas constatações, entramos na
questão mais social do tema.
Ao mesmo tempo em que
nos afeiçoávamos ao modo
de pensar e viver dessa gente,
tomávamos suas dores em
perceber a dificuldade que é
manter esse modo de vida.
Os agricultores eram unâni-
mes em reclamar da falta de
apoio por parte das entida-
des governamentais. Essa
omissão do governo faz com
que Santa Catarina seja um
Estado com índices elevadís-
simos de êxodo rural. A con-
trapartida desse problema é
o Microcrédito solidário. O
microcrédito, ou credito soli-
dário como é mais conheci-
do, viabilizaasoluçãodospro-
blemas financeiros dos agri-
cultores com taxas de juros
menores que as praticadas
pelos bancos convencionais.
Somente depois de co-
nhecer e analisar toda essa
conjuntura é que entendemos
como a Economia Solidária
é essencial para manter vivo
o trabalho no campo.
Foi uma verdadeira lição
de sobrevivência e cidadania.
Aprendemos que é possível
desenvolver iniciativas de ca-
ráter jornalístico e atuarmos
na comunidade para o desen-
volvimento conjunto, inde-
pendendo das estruturas con-
vencionais. Mas aprendemos,
sobretudo, que se a História é
desfavorável é preciso
reescrevê-la, pois somos nós
os protagonistas.
Reescrever a História
Capitalismo X Solidarismo
3. Primeira Pauta
Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
3
Economia
Uma opção para viver com qualidade
Motivados pelo Fórum da Economia
Solidária, agricultores trazem
feira de produtos ecológicos
para o Bom Jesus/Ielusc
Juliana Batista
Fotos: Elaine Cristina Dias
João Guilherme,de Araquari: é preciso a adesão de mais agricultores à proposta da feira
Os agricultores de Araquari
e Garuva provam que é possível
viver bem na agricultura, melho-
rar de vida e, ao mesmo tempo,
oferecer produtos de alta quali-
dade, livres de pesticidas e de
resíduos químicos. Com o obje-
tivo de comercializar esses pro-
dutos na região de Joinville, eles
participaram do Fórum da Eco-
nomia Solidária, em Florianópo-
lis, e de um seminário sobre Tu-
rismo Rural promovido pelo
Curso de Turismo com ênfase
em Meio Ambiente, do Institu-
to Bom Jesus/Ielusc.
O resultado foi a criação da
feira de produtos orgânicos que
acontece todas as terças-feiras,
das 9h às 14h, na Unidade Cen-
tro do Bom Jesus/Ielusc. A fei-
ra começou no mês de junho e
se discute ainda a idéia de ela
acontecer também na Unidade
do bairro Saguaçu. Os agricul-
tores tiveram apoio de profes-
sores e alunos. Agora, os produ-
tos podem ser comercializados
com o preço menor do que o
encontrado nos supermercados.
Segundo um dos coordena-
dores do assentamento Justino
Draszevsky, de Araquari (20 Km
de Joinville), João Guilherme
Zeferino, as primeiras semanas
da feira não trouxeram bons re-
sultados. Com o passar do tem-
po, as pessoas vêm descobrindo
a comercialização, motivados pe-
los que já consomem este tipo
de produto. Existe também
perspectiva de mais agricultores
colocarem seus produtos à ven-
da na feira.
Hoje, o assentamento comer-
cializa vinte tipos de produtos
dos mais variados, como cenoura,
beterraba, aipim, batata doce,
queijo, agrião e espinafre. “Para
manter uma feira com essa quan-
tidade de produtos, todas as se-
manas, não é tão simples. Preci-
samos de mais agricultores para
dar conta dessa demanda. Há
dificuldades para produzir fru-
tas, por exemplo. Produzimos a
fruta somente na sua época. Não
é como nos supermercados, em
que você encontra manga o ano
inteiro”, diz João Guilherme.
Falta de gente
especializada
Futuramente os agricultores
de Araquari irão produzir várias
frutas como o maracujá, mamão,
laranja e a melancia. Até o mo-
mento o assentamento não tem
um acompanhamento técnico
para dar condições de o agricul-
tor fazer um planejamento de
produção. “Sem essa equipe téc-
nica, os produtores têm dificul-
dades na área prática. É muito
difícil encontrar, hoje, um técni-
co que tenha conhecimento e
condições de fazer esse acom-
panhamento”, conta o coorde-
nador.
A Associação Rural de Pro-
dutores de Palmital de Mina Ve-
lha, em Garuva (35 Km de
Joinville), também está comerci-
alizando seus produtos na feira.
Segundo a presidente da associ-
ação, Ângela Medeiros, a procu-
ra dos produtos orgânicos tem
aumentado muito aqui na cida-
de e estão surgindo convites para
organizar feiras em outros luga-
res. “Está havendo muita com-
preensão e incentivo da comu-
nidade”, diz. Ângela afirma ain-
da que não existe competição
entre os quatro agricultores da
associação: “Procuramos ter di-
versidade. Se de um produtor
vendemos o aipim, do outro,
vendemos, na feira, a banana”.
Os agricultores trabalham
para que se tenha mais debate nas
comunidades. Eles procuram
sensibilizar as pessoas nas reuni-
ões para que se sintam motiva-
dos a ver os resultados do con-
sumo de produtos orgânicos.
Nos supermercados, esses pro-
dutos são mais caros do que na
feira do Instituto Bom Jesus/
Ielusc. “É um trabalho de quali-
dade e não de produtividade”,
afirma Ângela Medeiros, que
acha importante esse tipo de co-
mércio para que as pessoas te-
nham mais saúde.
Especialistas em nutrição lem-
bram que para se preparar um
bom prato, simples ou sofistica-
do, a primeira regra é básica: uti-
lizar produtos de boa procedên-
cia, de primeira qualidade, culti-
vados com cuidado e sem
aditivos químicos. Nos últimos
anos, devido ao dia-a-dia cada
vez mais exigente em relação à
qualidade dos alimentos consu-
midos, os supermercados têm
aumentado o espaço de venda
para produtos sem agrotóxicos.
Aos poucos,
as pessoas estão
descobrindo a
feira no Pátio do
Bom Jesus
4. Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
Primeira Pauta4
Economia
O preço da qualidade
Produtos orgânicos: mais saúde e economia para o bolso
Mesmo com o preço abaixo dos cobrados no mercado,
joinvilenses ainda não despertaram para a qualidade
dos produtos orgânicos
Cleiton Bernardes
Pagar mais para ter um pro-
duto melhor é uma situação que
não faz parte do cotidiano da
grande maioria das famílias bra-
sileiras. Em Joinville, as pessoas
já despertaram para os benefíci-
os de uma alimentação saudável
que o consumo de produtos or-
gânicos pode oferecer a preços
compatíveis com os considera-
dos não-orgânicos.
A grande maioria dos pro-
dutos orgânicos pode ser vendi-
da ao consumidor com preço
abaixo dos demais. “Quando
plantamos uma safra de beter-
raba sem agrotóxicos, por exem-
plo, temos um produto em me-
nor quantidade, mas com uma
qualidade infinitamente maior”
afirma João Guilherme
Zeferino, 40 anos, que reside no
Assentamento Justino
Drazevstki, do MST (Movimen-
to dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), em Araquari.
Ele é um dos agricultores que
comercializam os alimentos pro-
duzidos no assentamento nos
mercados da região e nas feiras,
como a que acontece todas as
terças-feiras no pátio do Insti-
tuto Superior e Centro Educa-
cional Luterano Bom Jesus/
Ielusc. O trabalho em
associativismo com outros agri-
cultores, segundo João Guilher-
me, elimina a figura do
atravessador ou intermediário.
O que diminui consideravelmen-
te o custo do produto. Assim é
possível colocar à venda os pro-
dutos orgânicos com o mesmo
preço dos não-orgânicos no
mercado. Ele explica que o tra-
balho e o cuidado com os pro-
dutos orgânicos são maiores,
uma vez que não são utilizados
agrotóxicos na plantação.
Os produtos orgânicos são
cultivados sem a utilização de
agrotóxicos e pesticidas, o que os
faz ter uma qualidade muito su-
perior aos produzidos com
pesticidas e agrotóxicos. A ven-
da de produtos orgânicos em
Joinville é realizada pelos agricul-
tores que participam do progra-
ma de associativismo rural.
Conscientização
O associativismo é uma for-
ma de organização menos for-
mal que uma cooperativa, no qual
um grupo de pessoas se une por
uma finalidade específica. Usan-
do as associações, os produtores
estão se conscientizando de que
unidos poderão resolver seus pro-
blemas no meio rural, uma vez
que são semelhantes.
Segundo a agricultora Maritza
de Oliveira, 36 anos, da localida-
de de Mina Velha, em Garuva, a
comparação de preços entre pro-
dutos orgânicos e não orgânicos
é injusta, pois a facilidade para
quem planta produtos com
agrotóxicos é muito grande.
“Existe um grande número de
pesticidas e hormônios que au-
mentam o tamanho e o peso dos
produtos não orgânicos, enquan-
to nossa produção é realizada
quase artesanalmente”. Os pre-
ços dos produtos vendidos na
feira do Bom Jesus/IELUSC
foram tabelados de acordo com
uma média feita nos supermer-
cados da região de Joinville. Essa
tabela é valida para venda dos
A feira reune economia e qualidade no mesmo ambiente
Fotos: Elaine Cristina Dias
produtos até o final do ano. A
média de preços dos produtos
vendidos através do associativis-
mo é praticamente a mesma dos
produtos não-orgânicos. Quem
ganha com isso é o consumidor,
que pode adquirir produtos de
maior qualidade com preços
competitivos. Confira na tabela
os valores de produtos orgâni-
cos e não-orgânicos. O preço
dos orgânicos foi obtido na fei-
ra do Bom Jesus/IELUSC e o
dos não-orgânicos pela média de
preços nos supermercados da
região.
Compare os valores
Produto
Alface
Beterraba
Brócolis
Queijo
Repolho
Aipim c/Casca
Prod. Orgânico
R$ 0,50 Unidade
R$ 1,00 Maço
R$ 1,25 Maço
R$ 6,00 Quilo
R$ 1,00 Unidade
R$ 0,75 Quilo
Prod. Não-Orgânico*
R$ 0,75 Unidade
R$ 0,98 Maço
R$ 1,49 Maço
R$ 6,99 Quilo
R$ 0,98 Unidade
R$ 2,95 Quilo
* Dados de 01/09/2002, colaborou Paulo Roberto Meyer.
5. Primeira Pauta
Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
5
Economia
A captação e a mobilização
da poupança local é o principal
fundamento para a viabilidade
econômica e social das coope-
rativas de microcrédito. É a ava-
liação do professor e pesquisa-
dor da Unisinos (RS), Luiz Inácio
Gaiger, que desenvolve projetos
na área da Economia Solidária.
“Os juros do microcrédito soli-
dário são menores do que os
cobrados pelos sistemas conven-
cionais dos bancos”, justifica o
pesquisador.
O objetivo da proposta é
estabelecer um canal solidário
Microcrédito cobra juros
abaixo do mercado
Nicole da Rosa Gomes
Os interessados em aderir ao empréstimo
têm que se enquadrar em algumas exigências
entre os trabalhadores de baixa
renda, mas até a solidariedade
tem limites. Luiz Inácio Gaiger,
que é pesquisador da área de
Ciências Sociais Aplicadas, apon-
ta que as cooperativas de crédi-
to solidário também estabele-
cem algumas restrições. Para as-
sociar-se ao sistema de
microcrédito, nenhum cliente
pode constar na lista do SPC
(Serviço de Proteção ao Crédi-
to), todos devem ter carteira de
identidade, CPF, salário capaz de
arcar com as dívidas do empre-
endimento e um planejamento
de seus investimentos.
A cotização dos associa-
dos através de depósitos à vista
e depósitos a prazo, dentro de
um a seis anos, são as formas de
estimular e criar condições para
que as populações mais pobres
tenham um melhor planejamen-
to financeiro. Esta mobilização
é realizada permanentemente
através da sensibilização dos só-
cios em torno dos objetivos e
princípios das cooperativas.
Quem não efetua o pagamento
das parcelas ou não cumpre os
acordos do contrato pode ter
sua propriedade retida.
ONG’s e
empresas
financiavam só
as mulheres.
Acreditavam
que elas eram
melhores
pagadoras
A transparência adminis-
trativa e o permanente controle
social são promovidos de vári-
os modos. Por meio de reuni-
ões freqüentes nas comunidades,
nos sindicatos e movimentos
sociais. Utilizam-se da divulgação
da cooperativa em meios de co-
municação e de realização de as-
sembléias participativas. Há, ain-
da, espaços como conferências
municipais e regionais de coope-
rativismo de crédito e na pró-
pria ação dos agentes comunitá-
rios de crédito. Entre os princi-
O pequeno Bangladesh,
no subcontinente indiano,
um dos países mais pobres
do globo, foi pioneiro na
implantação do microcré-
dito solidário em todo o
mundo.
Quase do tamanho do
Amapá, os pouco mais de
140 mil km2
do país acomo-
dam uma população de
aproximadamente 130 mi-
lhões de habitantes. O que
corresponde a uma densida-
de demográfica próxima de
1.000 hab/km2
.
Em pequenas comunida-
des, onde as pessoas se co-
nheciam, os empréstimos
eram realizados em baixa
escala. As comunidades fo-
ram crescendo e o aumento
de unidades filiais tornou-se
uma necessidade. No entan-
to, o comprometimento de
cada associado continuou.
Pioneirismo bengali
Até o emprego do dinheiro
emprestado era constante-
mente fiscalizado para que
os investimentos fossem des-
tinados ao trabalho, e não a
bens pessoais.
No Brasil, essa alternati-
va socioeconômica surgiu há
mais de três décadas. Finan-
ciar somente as mulheres de
classe social baixa era o ob-
jetivo primordial. As Orga-
nizações Não-Governamen-
tais (ONG’s) e empresas fi-
nanciavam somente mulhe-
res, porque acreditavam que
elas eram melhores pagado-
ras. Nas décadas de 80 e 90,
surgiram as primeiras coo-
perativas de microcrédito
com entidades para a gestão
de empreendimentos. Liga-
das ou não ao Estado, as ins-
tituições financeiras são até
hoje locais, com caráter co-
letivo e solidário. [NRG]
pais mecanismos utili-
zados para a captação es-
tão a remuneração de taxas
abaixo do mercado, campa-
nhas, prêmios, reciprocidade
com as operações de crédito e
parcerias com sindicatos, associ-
ações e outras instituições locais.
Pequenas
associações de
crédito
possibilitam juros
menores e uma
maior
transparência na
gestão dos
recursos investidos.
E a possibilidade
do financiamento
de projetos
coletivos.
Isolado, cada
indivíduo não
tem como
qualificar sua
produção,
construir sua
casa ou montar
uma
microindústria.
1
2
6. Economia
6 Primeira
Joinville/SC, 1º de
Quarenta mãos trabalham
melhor que uma. Com esse pen-
samento, moradores do bairro
Jardim Paraíso, um dos mais ca-
rentes de Joinville, buscam alter-
nativas contra o desemprego: a
construção de casas em mutirão.
A expectativa é que uma creche
comunitária seja concluída em
2003. Essa iniciativa está viran-
do realidade e grupos de 20 pes-
soas começam a formar coope-
rativas para viabilizar os projetos.
Uma pesquisa realizada por
estudantes do Programa Integrar,
curso profissionalizante que deu
origem à idéia da cooperativa,
identificou que a construção de
uma creche é a maior necessida-
de da comunidade. A intenção é
formar um grupo de trabalho
para atender as necessidades dos
moradores e gerar empregos
para esses trabalhadores.
De acordo com a coordena-
dora do Integrar em Joinville,
Viviane Schumacker, tanto a fa-
bricação do bloco de cimento,
chamado Adobe, até as instala-
ções da casa ficarão por conta
dos alunos do curso. A coope-
rativa será formada por 20 pes-
soas, ou seja, o comprometimen-
to dos moradores é fundamen-
tal. A diferença do Adobe para
os tijolos comercializados no
mercado é que eles são queima-
dos em fornos e o novo sistema
é seco ao sol.
A parceria entre a Associação
de Moradores do Jardim Paraí-
so, o Programa Integrar e o Pro-
jeto Amigos do Bairro – criado
para reintegrar pessoas desem-
pregadas à sociedade – conta
com a participação da arquiteta
Fárida Mirani de Mira, respon-
sável pela construção das casas
do assentamento Justino
Draszewsky, em Araquari. No
município, a 20 km de Joinville,
foi utilizada uma técnica seme-
lhante.
Segundo a arquiteta Fárida de
Mira, a única diferença é a com-
posição dos blocos que serão
utilizados em Joinville. “No as-
sentamento nós utilizamos uma
técnica chamada solo-cimento e,
em Joinville, utilizaremos o solo-
cal, Adobes feitos de argila e cal”,
afirma Mira. Segundo ela, no
município vizinho uma máquina
que fabricava os moldes era uti-
lizada para compor os blocos.
No bairro joinvilense a produ-
ção dos moldes será manual. “As
pirâmides do Egito foram feitas
de argila e cal”, explica a arquiteta,
referindo-se à durabilidade.
Custos
O coordenador do projeto
Amigos do Bairro, Devanir de
Souza, afirma que o custo dos
blocos de Adobe são bem infe-
riores se comparados aos encon-
trados no mercado. “Com esse
trabalho, pretendemos criar a
cooperativa de trabalho para
atender às necessidades de
Joinville e gerar um pensamen-
to solidário nos moradores”,
projeta.
Em Indaial, a 120 km
Joinville, essa proposta já foi
posta em prática e tem gerado
muitos frutos. O diretor de in-
dústria e comércio da cidade,
Adilson Boel, destaca a associa-
ção de agricultores que já
comercializa seus produtos or-
Técnica para superar o desemprego
Cooperativa de trabalho é a tentativa de fomentar a economia de um dos bairros mais
carentes de Joinville
Karla de Assis Pereira
Fotos: Elaine Cristina Dias
As casas serão construídas no Jardim Paraíso com apoio do Programa Integrar e o Projeto Amigos do Bairro
gânicos nas feiras. Agora a luta é
pelo selo de qualidade. Na cons-
trução civil, uma casa popular
modelo, de 70 m2
, já foi
construída e mais oito estão sen-
do discutidas, mas precisam pas-
sar pelo processo licitatório.
Um convênio ainda não assi-
nado com a Caixa Econômica
Federal deve possibilitar a cons-
trução de mais 80 casas. Associ-
ação dos coletores de papel
reciclável, organização de even-
tos e um grupo de panificação
também já foram formados na
cidade. A coordenadora do In-
tegrar de Indaial, Aurora Coe-
lho, reconhece que consciência e
organização são essenciais no
processo de formação dos gru-
pos. Essa é uma característica
presente nesses trabalhos.
O tijolo será feito de argila e cal e não precisará de calor
Em Indaial, esse
projeto já foi
posto em prática
e tem gerado
muitos frutos
7. Comunidade
Diante das incertezas que hoje
rondam o padrão monetário vi-
gente, há o surgimento e a ex-
pansão de formas alternativas de
organização financeira em Santa
Catarina. Essas experiências alter-
nativas estão sendo criadas ou
renovadas com o objetivo de
combater o processo de concen-
tração econômica e ampliar a
força dos excluídos do circuito
financeiro tradicional. Em Porto
União, a 295 km de Joinville, vive
Emilio Kutchma, 63 anos, um
agricultor que participa do siste-
ma de troca de alimentos, prati-
cado na Colônia da Serra desde
os primeiros colonizadores.
Emilio planta feijão, arroz
verduras e algumas frutas em sua
propriedade e não utiliza
agrotóxicos no plantio, assim
como a maioria dos moradores
da Serra. A qualquer dia e hora
um vizinho pode chegar na casa
do agricultor e trocar o feijão que
é produzido lá por outro pro-
duto agrícola ou serviço, como
ajudar na lavoura. “Construímos
uma relação de confiança e soli-
dariedade”, diz o agricultor.
Caso um morador necessite
de arroz, por exemplo, e não
puder “pagar” imediatamente,
essa pessoa deixa para dar sua
parte quando estiver em melhor
situação. “Até hoje ninguém traiu
minha confiança. Estou muito
satisfeito com o nosso modo de
vida”, afirma Emilio.
Fotos: Elaine Cristina Dias
Alimento produzido na propriedade de Emilio Kutchma é trocado na comunidade
Os moradores da Serra vi-
vem de forma simples: 90% das
casas são de madeira, algumas
não possuem fogão a gás, so-
mente à lenha. As famílias mais
humildes da comunidade não
possuem geladeira, televisão, nem
mesmo cama. Palhas de milho
são improvisadas e utilizadas
como colchão.
Aproximadamente 70 famí-
lias vivem na Serra, com suas
casas separadas por quilômetros
de distância. A casa de Emilio,
por exemplo, está a 2 km do vi-
zinho mais próximo. “Em nos-
sa comunidade não se obtém
ganhos através de juros e as tro-
cas são acordadas diretamente
entre as duas partes”, comenta o
agricultor.
Verônica Kutchma, esposa de
Emilio, cuida dos afazeres do-
mésticos e faz doces de frutas
orgânicas, que são comercializa-
dos por vendedores ambulantes,
em Curitiba, e também trocados
Troca solidária de alimentos é meio
de sobrevivência em Porto União
Produtores do Norte do Estado
proporcionam segurança aos
moradores com troca de alimentos
Edelamar Negherbon
No campo: retorno à prática da troca reforça laços sociais
na própria colônia. O sistema de
troca não supre todas as necessi-
dades da comunidade. Duas ve-
zes por mês, Verônica vai à ci-
dade comprar algumas merca-
dorias. “Não estamos comple-
tamente desligados do comércio.
Shampoo, sabão em pó,
amaciante de roupas, entre ou-
tros produtos, somos obrigados
a buscar no mercado”, ressalta a
agricultora.
Reestabelecer
a confiança
A agrônoma Rosenilda
Romanski avalia positivamente o
processo de trocas. “As trocas de
bens e serviços procuram criar
um ambiente de solidariedade e
conhecimento recíproco entre os
moradores. E acrescenta: “Des-
sa forma é possível suprir as ne-
cessidades fundamentais da po-
pulação e restabelecer a confian-
ça como valor essencial. Assim
todas as pessoas têm a possibili-
dade de trocar produtos, inde-
pendente de seu status social”.
O sistema de troca utilizado
na colônia, segundo Rosenilda,
garante um pouco mais de se-
gurança e dignidade para essas
famílias. “O dinheiro é o grande
carrasco da atualidade. Ele fan-
tasia condições e necessidades
que, em alguns casos, são ilusó-
rias”, afirma.
A agrônoma frisa ainda
que os agricultores estão perden-
do seu próprio espaço e cultura.
“Se voltarmos na história dos
primeiros colonizadores do lo-
cal, o dinheiro era desnecessário,
pois num sistema de troca de
produtos, eles sobreviviam com
tranqüilidade”, diz. Atualmente,
o dinheiro faz parte da econo-
mia dessa comunidade, mas o
uso de instrumentos monetá-
rios distintos do oficial é um
fenômeno cada dia mais fre-
qüente, tanto no âmbito rural,
como no urbano.
7ra Pauta
e Outubro de 2002
8. Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
Primeira Pauta8
Comunidade
Araquari investe na produção orgânica
Assentados utilizam técnicas que
preservam o solo e geram harmonia
com o meio ambiente
Adriana Caroliny Silvy
Fotos: Elaine Cristina Dias
No cultivo orgânico de João Guilherme há uma aliada pouco comum: a erva daninha
Qualidade de vida aumenta e comunidade
lastima não acolher mais famílias no projeto
A pequena cidade de
Araquari, a 20 km de Joinville,
está investindo na produção sem
agrotóxicos. Os agricultores do
assentamento Justino
Draszevsky, que vieram de
Chapecó, foram assentados há
oito anos nas terras doadas para
a Reforma Agrária. Os morado-
res sobrevivem do plantio de
produtos orgânicos e da criação
de animais.
Os produtos cultivados em
Araquari são totalmente orgâni-
cos, ou seja, não possuem
agrotóxicos. A plantação é trata-
da somente com produtos na-
turais. O líder dos assentados,
João Guilherme Zeferino, diz
que o cuidado com a terra e com
a semente é essencial. Os agricul-
tores do assentamento plantam
os legumes com o cuidado de
preservar a erva daninha. “A erva
daninha é uma boa aliada”,
acrescenta ele, falando sobre o
cultivo do brócolis. João explica
que ao invés dos bichos come-
rem a plantação, devoram o
mato. Se não houvesse a erva, os
bichos comeriam os produtos.
Os agricultores deixam a ter-
ra descansando por um ano. Em
seguida, semeiam a terra descan-
sada e fica de repouso a terra
onde foi feita a colheita anterior
. A irrigação é feita por um
córrego que rodeia a plantação.
Os agricultores cultivam no
meio da plantação uma flor cha-
mada ‘cravo de defunto’, que
serve para espantar os insetos. A
flor exala um cheiro forte que
afasta os bichos.
A alimentação é totalmente
saudável, produzida pelos pró-
prios agricultores. “Produzimos
apenas para nos manter”, conta
João Guilherme. Mas o exce-
dente pode ser vendido para a
população local e para os visi-
tantes, como também na feira
que acontece todas as terças-fei-
ras no Instituto Superior e Cen-
tro de Educação Luterano Bom
Jesus/Ielusc, em Joinville, e abas-
tece alguns supermercados da
região
Sete famílias vivem no assen-
tamento, um total de trinta e três
pessoas. O local é silencioso e o
vento refresca os dias quentes de
inverno. A comunidade lastima
não acolher mais agricultores.
“Nosso projeto era para dez fa-
mílias”, recorda João Guilherme.
A economia solidária se con-
cretiza no trabalho comunitário.
“Nosso objetivo é assegurar a
pequena propriedade e manter
os moradores unidos”, diz o lí-
der comunitário, ressaltando que
os agricultores pensam sempre
na comunidade. A solidariedade
existente entre os assentados já
os motiva a pensar em abando-
nar a moeda corrente. “Temos
planos de viver só na base da tro-
ca”, relata João. Trocar roupas
por verduras, carnes por sapa-
tos, ovos por medicamentos.
Cada morador do assenta-
mento tem seu próprio serviço.
Dividem as atividades: uns tra-Os agricultores planejam construir um centro comunitário
tam dos animais; outros cuidam
das plantações; e as mulheres, das
casas. Todas as crianças estão
matriculadas na escola. Estudam
num colégio próximo ao assen-
tamento, na Barra do Itapocú.
Na área de 51 hectares, os
moradores plantam frutas, ver-
duras, legumes e ervas e têm cri-
ação de animais. Plantam beter-
raba, cenoura, vagem, berinjela,
couve-flor, rabanete, abóbora,
batata-doce, feijão, mandioca,
cará, pimentão, salsa, alface,
agrião, brócolis, repolho, mara-
cujá, banana, abacaxi, alfavaca,
erva cidreira e alfazema. Além de
produzirem seus próprios pães,
leite, queijo, mel, geléias e con-
servas em geral. Os pães e do-
ces são feitos em forno à lenha.
Das ervas são extraídos os re-
médios para tratar os enfermos
da comunidade. Criam patos,
marrecos, gansos, galinhas, por-
cos e abelhas. Os porcos são cri-
ados soltos e alimentam-se de
produtos naturais.
As residências foram erguidas
em uma área de setenta metros
quadrados e possuem três quar-
tos, cozinha, sala, banheiro e la-
vanderia. As casas são todas
iguais. Os próprios moradores
fabricam os tijolos utilizados na
construção e constróem suas ca-
sas. O material utilizado na fa-
bricação dos tijolos é o barro e
a cal. O barro isola o barulho e
conserva a temperatura ambien-
te. A água consumida pelos mo-
radores vem de poço e é distri-
buída para as casas através das
caixas d’água. Os agricultores
têm planos para formar um cen-
tro comunitário.
O nome do assentamento
tem origem no fundador do
movimento sem-terra em Santa
Catarina, Justino Draszevsky, que
idealizou a proposta do traba-
lho cooperado. [ACS]
Todas as crianças estão
matriculadas na escola
e estudam num colégio próximo
ao assentamento
9. Primeira Pauta
Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
9
Comunidade
Ielusc firma parceria com Fórum
da Economia Solidária
Socióloga e coordenadora do
Fórum da Economia Solidária, em
Joinville, Valdete Daufemback
Niehues, comemora o desenvol-
vimento do projeto de economia
solidária no Bom Jesus/Ielusc.
Com reuniões iniciadas em abril,
o grupo já conseguiu organizar
uma feira semanal. “Para realizar
as feiras em local público, tería-
mos que pagar uma taxa ao mu-
nicípio. E para os agricultores era
ruim, pois o lucro é pequeno. En-
tão, houve uma disponibilidade do
Ielusc em ceder este espaço”, con-
ta Niehues. Em Bento Gonçalves
(RS) o governo não cobra taxa
alguma dos produtores. A soció-
loga chama isso de “incentivo” do
município aos agricultores.
O próximo passo será vender
produtos orgânicos para as meren-
das das escolas estaduais. Houve
uma reunião, no final de agosto,
com a Secretaria de Estado de
Educação e o Fórum para orga-
nizar e consolidar o processo. As
merendeiras das escolas recebe-
ram capacitação. Falta resolver a
parte burocrática das próprias es-
colas, responsáveis pelo pedido da
verba à Secretaria de Educação
Estadual, que deve ser repassada
diretamente aos produtores rurais.
Os assentamentos de Garuva
e Araquari, juntamente com a
Agreco de Santa Rosa de Lima
(SC) irão disponibilizar os alimen-
tos para as escolas. Em seguida, o
Fórum procurará mais agriculto-
res interessados em produzir ali-
mentos sem agrotóxicos e, aos
poucos, fazer com que Joinville
produza para atender à demanda
local das escolas estaduais. [EV] Do campo para a mesa do consumidor, sem atravessadores
Município precisa incentivar mais projetos
Instituição incentiva o consumo de alimentos sem agrotóxicos em Joinville
“Um laboratório para os es-
tudantes.” Assim, a diretora do
Curso de Turismo com ênfase
em Meio Ambiente do Instituto
Bom Jesus/Ielusc, Dra. Elizabete
Tamanini, definiu a participação
da instituição na economia soli-
dária. Desde o ano passado, o
curso incorporou o projeto
como atividade curricular. Ago-
ra, os alunos discutem a qualida-
de da vida urbana em Joinville e
incentivam o consumo de ali-
mentos sem agrotóxicos.
O envolvimento iniciou com
a linha de trabalho, do curso,
voltada para o turismo rural e o
desenvolvimento local. No ano
passado, a Instituição realizou um
encontro sobre ecoturismo tra-
tando, dentre os temas, da eco-
nomia solidária. A partir daque-
le momento, acadêmicos e pro-
fessores começaram a adquirir
experiências em outras comuni-
dades, e, neste ano, deram início
ao Fórum em Joinville. “Este é
um movimento que discute soli-
dariedade, qualidade de vida e
agricultura orgânica. E tudo isso
nós propomos aos nossos alu-
nos”, finaliza Elizabete.
Membro da comunidade
Luterana de Joinville, Pastor
Remy começou a participar das
reuniões por curiosidade. Aos
poucos, uma nova proposta de
vida passou a torná-lo integran-
te do Fórum. Quando houve a
necessidade do grupo conseguir
Eunice Venturi
Pastor Reny: mediador entre o Fórum e a comunidade luterana para o espaço da feira
um local para realizar as reuni-
ões e a feira, Remy foi o media-
dor entre o grupo e a instituição.
“A economia solidária quer fa-
zer com que todos os pequenos
agricultores, empobrecidos pelo
capitalismo, continuem perma-
necendo na lavoura e vendam
seus produtos ecológicos para a
cidade”, ratifica.
Priorizando o desenvolvi-
mento local, a faculdade de Tu-
rismo propõe mudança de vida
e de valores, fazendo um inter-
câmbio entre a zona rural e os
grandes centros urbanos. “Então,
se existe esta rede, este intercâm-
bio, não só para ter um produto
melhor, mas proporcionar uma
vida melhor. E essa é a proposta
da economia solidária”, conclui
Remy.
Em outros países, princi-
palmente na Europa, esta inicia-
tiva é muito positiva. Como
exemplo no Brasil, Remy cita o
Rio Grande do Sul onde a Igre-
ja Luterana desenvolve o proje-
to Centro de Aconselhamento
ao Pequeno Produtor. Ele tem
o mesmo objetivo da economia
solidária: incentivar agricultores a
produzir produtos sem
agrotóxicos. “Estamos voltando
ao natural. As pessoas estão ven-
do que produzir sem agrotóxico
é natural e não agride o meio
ambiente”, enfatiza o pastor.
Fotos:ElaineCristinaDias
A economia
solidária quer
fazer com que os
pequenos
agricultores
continuem na
lavoura
10. Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
Primeira Pauta10
Comunidade
Falta de apoio prejudica produtores
orgânicos da área rural de Joinville
Agricultores de Joinville estão
encontrando dificuldades em
produzir para suprir demanda
Luiz Fernando Bertoldi
“O pequeno produtor não
tem condições de se manter sem
o apoio de entidades criadas para
auxiliar o trabalho do agricultor,
pois a ajuda que ainda existe é
precária e deficiente”, afirma o
agricultor e funcionário público
aposentado Orlando Larsen. Há
três anos o produtor cultiva em
sua propriedade agrícola, no bair-
ro do Quiriri, o produto orgâ-
nico, seguindo o padrão de ins-
peção e normas da Fundagro
(Fundação de apoio ao desen-
volvimento rural e sustentável de
Santa Catarina). Orlando acredi-
ta que muitos agricultores te-
nham dificuldades em cultivar o
produto, pois os órgãos compe-
tentes como a Fundação 25 de
Julho, possuem pouca atuação
junto ao agricultor.
Os custos para fazer uma
transição da agricultura conven-
cional para a orgânica são altos.
Os insumos naturais triplicam o
valor da mão de obra. O que era
feito de uma única vez utilizan-
do o agrotóxico, com os
insumos, é necessário um ciclo
para o plantio do produto. De-
vido a estas barreiras de se culti-
var um produto de maior quali-
dade é que em Joinville há so-
mente três agricultores com sua
propriedade toda orgânica.
Existe um projeto na área da
bacia hidrográfica do Cubatão,
que abastece Joinville, que proi-
birá o produtor rural de utilizar
agrotóxicos na agricultura. Seu
Orlando disse que este é um pro-
jeto futuro, mas que precisa ser
revisto, pois uma parte dos agri-
cultores daquela região, não pos-
sui condições de fazer a transi-
ção do produto com o uso do
agrotóxico para o produto or-
gânico. “Eu tenho e tive condi-
ções de fazer esta transição por
que sou funcionário público apo-
sentado, tenho uma renda todo
mês, mas quem depende da agri-
cultura, não possui condições de
fazer esta transição de imediato,
precisa do incentivo e apoio de
órgãos competentes, como a
Fundação 25 de Julho”, diz.
A Fundação 25 de Julho é um
órgão da Prefeitura responsável
pela coordenação das atividades
educacionais, de produção e de
abastecimento agro-silvo-pastoril
de Joinville. O Engenheiro Agrô-
nomo Diter Klostermann disse
que a fundação apóia o peque-
no produtor rural através de as-
sistência técnica e treinamentos
visando a prestação de serviço,
dentro de uma visão integrada,
buscando o desenvolvimento
rural sustentável e um melhor
padrão de vida.
Projeto Cubatão
Segundo o agrônomo, a fun-
dação tem total consciência do
que acontece com o produtor
rural. “A bacia do Cubatão é um
projeto desejável, pois investir no
produto orgânico é um bem
para quem produz e para que
consome. Os produtores às
margens do rio Cubatão conta-
rão com o apoio da entidade,
pois é de conhecimento de to-
dos aqui, na fundação, que essa
transição tem um custo alto para
o produtor, no início, começan-
do pelo reequilíbrio do solo, que
varia de 1 a 5 anos”, afirma o
engenheiro. Diter Klostermann
ainda diz que este tempo é ne-
cessário para o reequilíbrio do
solo e para que todo o veneno
aplicado a terra seja completa-
mente eliminado com os anos.
“Mas acima de tudo, o principal
objetivo da fundação é reeducar
o produtor, além de auxiliá-lo
com os recursos necessários”,
conclui.
Para comercializar o orgâni-
co é preciso que cada produto
contenha um selo de certificação
orgânica fornecendo ao consu-
midor a certeza de estar levando
para a casa um produto isento
de contaminação química. Se-
gundo Orlando Larsen, obter o
selo de certificação do produto
orgânico é difícil, devido as cons-
tantes inspeções e normas a se-
rem cumpridas pelo produtor,
mas o resultado é satisfatório
para quem planta e para quem
consome. “Esse produto é o re-
sultado de uma agricultura capaz
de assegurar qualidade do am-
biente natural, qualidade
nutricional e biológica de alimen-
tos e qualidade de vida para quem
vive no campo e nas cidades. O
selo de orgânico é o símbolo de
um processo mais ecológico de
se plantar, cultivar e colher ali-
mentos”, afirma o produtor.
Orlando reivindica que as
entidades competentes auxiliem
o pequeno produtor, para que
este tenha condições de subsistir
e cultivar um produto de quali-
dade e saudável. “A Fundação 25
de Julho não está omissa, mas
precisa ser mais atuante,
disponibilizando um corpo téc-
nico para trabalhar em contato
com o agricultor, além de traba-
lhar com órgãos financeiros para
a viabilização do custeio da plan-
tação” finalizou Larsen.
A transição para a cultura orgânica requer tempo para reequilíbrio do solo cultivável
Foto: Elaine Cristina Dias
Um projeto para a área
da bacia hidrográfica
do rio Cubatão,
que abastece Joinville,
prevê a proibição do produtor
rural de utilizar agrotóxicos
na agricultura
11. Primeira Pauta
Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002
11
Saúde
Lei não é suficiente para garantir
reeducação alimentar
A principal resistência a uma alimentação balanceada ainda é dos próprios alunos
A obesidade é, para alguns,
sinônimo de problemas físicos,
para outros, de rejeição. O que
tem preocupado é a presença
desses quilinhos a mais em cri-
anças. Os índices de obesidade
infantil aumentaram muito nos
últimos dez anos e, com eles, os
problemas de colesterol alto,
subnutrição e outros. Em 1989,
o Brasil já possuía 1,5 milhão de
crianças obesas. Em 2000, o cur-
so de Nutrição da Universidade
Federal de Santa Catarina con-
cluiu, por meio de pesquisa em
escola de Florianópolis, que cer-
ca de 8,5% dos alunos entre seis
e oito anos tinham excesso de
peso. Cerca de 18% dos estudan-
tes com mais de nove anos de
idade corriam o risco de ficar
acima do peso.
Esses são alguns dos dados
que levaram à criação da Lei
12.061, de dezembro de 2001.
Cantinas e lanchonetes do ensi-
no básico catarinense tiveram
180 dias para se adaptar à lei.
Após esse prazo, apenas alimen-
tos aprovados por nutricionista
poderiam ser vendidos, ou seja,
nada de frituras, refrigerantes ou
balas. Bebidas com qualquer teor
alcoólico, pirulitos, gomas de
mascar, refrigerantes, sucos arti-
ficiais ou salgadinhos e pipocas
industrializados têm sua venda
proibida nesses estabelecimentos.
Desde setembro passado, os
produtores orgânicos de Joinville
e região deveriam fornecer ali-
mentos sem agrotóxicos para a
merenda de escolas da cidade.
Essa iniciativa do Fórum de Eco-
nomia Solidária, aliada à lei que
obriga as cantinas escolares a ofe-
recerem uma alimentação mais
saudável aos estudantes, podetra-
zer muitos benefícios a esses jo-
Karla de Assis Pereira
vens, mas faltam alguns acertos.
Para a nutricionista responsá-
vel pela merenda escolar na Se-
cretaria da Educação, Lucimar
Pereira, a lei é um começo. Mas
confessa que ainda falta
conscientização nas escolas e fis-
calização suficiente.
O impasse maior é nas esco-
las de ensino básico e fundamen-
tal. Como a lei é restrita ao pri-
meiro grau, muitos colégios ain-
da não definiram se o cardápio
será o mesmo para todas as fa-
ses ou não. O coordenador da
Vigilância Sanitária de Joinville,
Paulo Rogério Silva, confessa que
ainda não há fiscalização.
Cardápio
Além disso, dois tipos de fru-
tas sazonais devem compor os
cardápios. Os professores
se sentem beneficiados
com a lei. Confessam que
é difícil tentar ensinar aos
alunos como uma alimen-
tação saudável deve ser, uma vez
que há poucos metros da sala de
aula eles só encontram alimen-
tos altamente calóricos e pouco
nutritivos.
A professora Salete Castilho,
do Colégio Rui Barbosa, no
Bucarein, em Joinville, ainda sente
falta de orientação dos pais a res-
peito de uma alimentação mais
saudável. Para ela, a lei ajuda nas
instruções sobre o assunto em
sala de aula. Nas reuniões de pais
e nas visitas às salas de aula, os
alunos são alertados sobre a im-
portância de uma alimentação
mais saudável. Segundo a dire-
tora Valdira Barni Pereira, a
ação ainda não foi suficiente
para impedi-los de com-
prar as guloseimas antes
de entrar na escola.
As primeiras dificuldades de
adaptação de algumas escolas à
Lei 12.061, em Florianópolis, já
foram superadas e os resultados
positivos começam a aparecer.
Segundo a coordenadora do
Fórum de Economia Solidária
de Joinville e região, Valdete
Daufemback Niehues, a parce-
ria entre a Secretaria Estadual da
Educação e a Agreco (Associa-
ção dos Agricultores Ecológicos
das Encostas da Serra Geral)
acrescenta qualidade aos alimen-
tos da merenda e proporciona a
alunos e professores a possibili-
dade de conhecer como funcio-
na a cultura de alimentos sem
Produtos agroecológicos são alternativa
para conscientizar estudantes e familiares
adição de agrotóxicos ou pro-
dutos que possam danificar o
meio ambiente e a saúde do con-
sumidor. “Até a evasão escolar
diminuiu devido à qualidade da
merenda, principalmente depois
que a lei passou a ser aplicada”,
afirma Niehues.
Essa parceria traria benefíci-
os tanto aos produtores orgâni-
cos quanto às escolas. “Como
esses agricultores não produzem
uma quantidade suficiente para
abastecer todas as escolas esta-
duais da cidade, a Agreco supri-
rá essa demanda”, afirma, oti-
mista, a coordenadora
do fórum.
A resistência principal a essa
alimentação balanceada ainda é
dos alunos. A diretora adjunta da
Escola Ada Santana da Silveira,
Carmen Baptista, no Paranagua-
mirim, Joinville, acredita que os
alunos precisam ser conscientiza-
dos também em casa. Muitos tra-
zem o lanche de casa ou com-
pram fora da escola. “As frutas
da época eram expostas, no iní-
cio, mas acabavam apodrecen-
do, então paramos de oferecê-
las aos alunos”, confessa. As ven-
das na cantina diminuíram mui-
to. Sanduíche natural, misto-
quente e suco. Para os acostuma-
dos a pastéis e refrigerantes, não
soa como um banquete, mas dá
água na boca de quem sabe o
mal causado pelo hábito da má
alimentação.
Fiscalizar
Apesar de muitas es-
colas ainda não terem se
adaptado à lei, cabe à
Vigilância Sanitária, fis-
calizar e multar os infra-
tores. O desperdício das
frutas dispostas nas cantinas
revela que o cumprimento rigo-
roso da lei não é suficiente para
promover hábitos alimentares
saudáveis nesses jovens. Uma co-
munidade que promove esses
valores é o Assentamento Justino
Draszewsky, em Araquari, que
apresenta um teatro aos visitan-
tes sobre a importância de fru-
tas e verduras, especialmente os
orgânicos. É necessária uma ali-
mentação a base desses produ-
tos para o controle do peso e
isso implica em ensinar novos
hábitos alimentares à “geração
Coca-cola”. [KAP]
JucianoLacerda
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