Reformas estruturais necessárias para crescimento maior
1. 27/09/2013 às 00h00
Crescimento maior só é possível com reformas
estruturais
Por De São Paulo
O governo atual fez várias iniciativas para reaquecer a economia do país, como os programas de novas
concessões de infraestrutura. No entanto, na avaliação do empresário André Gerdau, presidente do grupo
siderúrgico Gerdau, o problema está na execução desses programas. "Os investimentos acabam emperrados na
discussão de margens de retorno, de regras, na obtenção de licenças e na implementação das obras", afirmou. O
empresário e executivo, no comando da Gerdau desde 2007, recebeu o Valor para uma entrevista exclusiva no
escritório do grupo em São Paulo. Abaixo, a íntegra da entrevista.
Valor: O que acontece com o Brasil, que o crescimento da economia patina e não avança como se espera? O
que há de errado?
André Gerdau: Vemos várias iniciativas do governo que são positivas, como os de concessões de infraestrutura
e as que foram tomadas para tornar a indústria mais competitiva com desoneração de folha, redução de carga
tributária de IPI. Isso tem ajudado, mas para o país crescer em níveis bem maiores que 2% ou 2,5%, ele precisa
de reformas estruturais. Tem de reduzir a carga tributária, ter juros mais competitivos, investir mais em edução,
fazer investimentos enormes em infraestrutura.
Valor: Mas há um pacote de licitações de novas concessões de infraestrutura.
Gerdau: O problema está na execução. Vemos que há verbas, planos e todas essas concessões anunciadas de
rodovias, aeroportos e ferrovias. Porém, os investimentos acabam parados na hora de executar a licitação, na
discussão de margens de retorno e das regras ou na hora implementação das obras e na obtenção das licenças.
Valor: Quanto a siderurgia projeta de aumento da demanda para este ano?
Gerdau Nossa expectativa é de aumento de 3,2% no consumo aparente. O setor esperava crescimento maior no
início do ano.
Valor: O que o setor foi apresentar, na semana passada, ao ministro Fernando Pimentel, do MDIC, e sua
equipe, mais outros convidados, inclusive do BNDES?
Gerdau: Foram três pontos essenciais: aumentar o consumo interno de aço, poder competir com nossos
concorrentes e reduzir a carga tributária. Há um dado que mostra que se o PIB do Brasil cresce 4%, na siderurgia
temos de 5% a 7% de expansão. Mas cresce muito pouco se fica em 1% a 2%. O efeito multiplicador do PIB é
muito grande. Ou seja, o país precisa crescer para ter consumo de aço.
Valor: A questão seguinte abordou o quê?
Gerdau: Tendo isso, é preciso haver isonomia para que possamos competir. Temos juro real de 2,4% (ante 1%
ou 1,5% de nossos competidores), energia a US$ 80 o MWhora (contra US$ 40 na maioria dos países), gás
natural a US$ 17 por MBTU, uma logística cara e ineficiente... Não adianta só as empresas serem eficientes, o
país precisa ser também. O imposto no Brasil é 35% do PIB, taxa de primeiro mundo. Na Índia é 10%, na China é
20% e no México é 15%. O Brasil tributa como país desenvolvido: Europa, EUA e Japão.
Valor: São essas as grandes barreiras que o setor e a indústria do país enfrentam?
Gerdau: Temos também a legislação trabalhista que completou 70 anos e que precisa de uma revisão, de maior
flexibilização. O mundo mudou muito e cada setor tem sua dinâmica. A CLT está obsoleta. Sabemos que todas
essas frentes são difíceis de mudar e exigem muita negociação da sociedade, do Executivo, do Legislativo, do
Judiciário, das ONGs e da empresas. É o grande desafio para o país. E o governo executivo tem de liderar essas
mudanças.
Valor: O câmbio desvalorizado é bom ou ruim para a atividade industrial?
Gerdau: Por princípio, é bom, pois deixa o aço e toda sua cadeia produtiva mais competitivos. Não é só contra a
importação, mas contribui para que o Brasil volte a ser grande exportador, produzir mais aqui, consumir aço e
gerar empregos e impostos. Hoje, o déficit na balança de máquinas e equipamentos é acima de US$ 100 bilhões.