SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 16
PORTAL GRUPOS
Eu, Etiqueta
Em minha calça está grudado um
nome
que não é meu de batismo ou de
cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de
bebida
que jamais pus na boca, nesta
vida.
Em minha camiseta, a marca de
cigarro
que não fumo, até hoje não
fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus
pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa
idade.
Meu lenço, meu relógio, meu
chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e
pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e
sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos
sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio
itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a
compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de
escolher,
minhas idiossincrasias tão
pessoais,
tão minhas que no rosto se
espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou
tecido,
sou gravado de forma
universal,
saio da estamparia, não de
casa,
da vitrina me tiram,
recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo
de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão
orgulhoso
de ser não eu, mas artigo
industrial,
peço que meu nome
retifiquem.
Já não me convém o título
de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
• Como se tomasse consciência, ou tivesse uma
epifania, este eu-lírico percebe que as suas roupas
referenciam produtos que ele nunca experimentou e
aos quais talvez nem tivesse acesso. Ou seja, acaba
promovendo coisas que nem sequer conhecesse, só
porque são valorizadas socialmente.
• Olhando em volta, vai enumerando produtos que o
rodeiam, que usa diariamente, e que possuem uma
etiqueta ou uma marca. Os versos parecem sublinhar
que o sistema capitalista influencia os aspetos mais
triviais da nossa rotina.
• Apelando aos desejos de cada um,
a propaganda chega por todos os lados, com
"mensagens, / letras falantes, / gritos visuais"
que confundem os indivíduos e capturam a sua
atenção.
• Perante tudo isso, como se demonstrasse algum
espanto, o sujeito verifica que virou um "homem-
anúncio itinerante" para seguir as tendências dos
seus pares.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade
• Para se enquadrar, ele descobre que acabou perdendo a si
mesmo. Em nome de futilidades e convenções que apenas se
focam nas aparências, foi se desligando do seu jeito de ser, da
sua alma.
• Este eu-lírico, que pode representar cidadãos do mundo inteiro
e de várias épocas, reflete sobre os modos como caímos nas
armadilhas do consumismo.
• Sem repararmos, contribuímos para este sistema, porque
sentimos a necessidade de provar o nosso valor ou sucesso
através da ostentação de bens materiais.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
• Com um tom sarcástico, o sujeito reforça que compactuamos com
esse esquema mesmo quando não somos beneficiados por ele, só
para nos sentirmos integrados.
• Deslumbradas pelos objetos, muitas pessoas esquecem de cuidar
da própria essência, algo que "moda ou suborno algum" deveria
comprometer ou colocar em jogo.
• Assim, o eu-lírico questiona o que aconteceu com ele e também
com esta forma coletiva de agir e pensar, que exibe prioridades
totalmente invertidas.
• Perdido num movimento contínuo de padronização, verifica que
deixou de ter espírito crítico, ficou igual a todo o mundo, sem
"gosto e capacidade de escolher"
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
• Desprovido de um sentido de individualidade,
ou de identidade, este sujeito termina a
composição anunciando que tinha se
transformado em "coisa".
• Esta seria, então, a vitória absoluta do
capitalismo: o ser humano que vira produto,
que encara a si mesmo como um mero objeto
E AGORA, JOSÉ?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
• E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
• Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
Análise do poema
• Análise do poema
• Tipo de verso: livre
• Número e tipo de estrofes: 6 estrofes irregulares
• Número de versos: 67 versos
• O poema José é construído em versos livres (ou irregulares), isto é, em
versos que não utilizam metrificação e também dispensam a rima.
• José é uma representação artística do sentimento de solidão e falta de
rumo que experimenta o homem moderno.
• Logo na abertura da primeira estrofe, é colocado o bordão “E agora
José?”, que será repetido várias vezes e representa, de uma só vez, a
necessidade de tomar uma decisão e a hesitação quanto a como fazê-lo.
• Em seguida, Drummond apresenta os argumentos de “a festa acabou”, “a
luz apagou”, “o povo sumiu”, “a noite esfriou”, como a querer dizer que
aquilo que era bom já não existe, ou que momentos de alegria já se
foram.
• Ainda na primeira estrofe, vemos que Drummond
substitui “José” por “você”, deixando claro sua
intenção de representar um sujeito coletivo
através de “José” e, mais especificamente,
representar o próprio leitor.
• “E agora, você?” é um verso que intima o leitor a se
envolver pessoalmente no drama de José, no
drama de não saber escolher e encontrar-se diante
de uma situação que exige uma escolha.
• A medida que progredimos no poema e a mesma
questão vai se repetindo uma e outra vez, vamos
ficando com a sensação de que a angústia inicial
toma contornos de desespero, que é realçado
pela ideia de que, apesar de precisar agir, “José”
não pode fazê-lo.
• Assim, vemos que Drummond carrega versos
aparentemente simples com um peso existencial
incomum.
• O poema leva-nos a refletir sobre o nosso papel no
mundo, o sentido de nossa vida, o que faremos quando
o hoje tornar-se passado, e questiona-nos de um ponto
de vista intimista, parecendo nos dizer que a questão
precisa ser respondida e ninguém pode respondê-la por
nós.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a AULÃO DE LINGUAGENSII.pptx

Os 12 Acordes da Liberdade
Os 12 Acordes da LiberdadeOs 12 Acordes da Liberdade
Os 12 Acordes da LiberdadeEscola Ecit
 
Encontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - AutoretratoEncontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - Autoretratogernacor
 
Eu,etiqueta l.l
Eu,etiqueta l.lEu,etiqueta l.l
Eu,etiqueta l.lhelenaleao
 
What If Magazine_01
What If Magazine_01What If Magazine_01
What If Magazine_01Dione Negre
 
Fernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta EnigmaFernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta EnigmaFabio Lemes
 
9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...
9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...
9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...ProfessoraBlogueirin
 
Revista subversa 6ª ed.
Revista subversa 6ª ed.Revista subversa 6ª ed.
Revista subversa 6ª ed.Canal Subversa
 
Sofia pedroso nao ha becos sem saida
Sofia pedroso   nao ha becos sem saidaSofia pedroso   nao ha becos sem saida
Sofia pedroso nao ha becos sem saidaUnivesidadevida
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeFabi
 
O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha
O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunhaO s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha
O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunhaUNEB
 
Revista Aka Arte edição 0
 Revista Aka Arte edição 0 Revista Aka Arte edição 0
Revista Aka Arte edição 0AKA Arte
 
ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdf
ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdfALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdf
ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdfMarcinhaKaplun
 
Uma Conversa Diferente
Uma Conversa DiferenteUma Conversa Diferente
Uma Conversa Diferenteelvandroburity
 

Semelhante a AULÃO DE LINGUAGENSII.pptx (20)

Os 12 Acordes da Liberdade
Os 12 Acordes da LiberdadeOs 12 Acordes da Liberdade
Os 12 Acordes da Liberdade
 
Encontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - AutoretratoEncontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - Autoretrato
 
Busca - pesquisa com o cotidiano
Busca - pesquisa com o cotidianoBusca - pesquisa com o cotidiano
Busca - pesquisa com o cotidiano
 
Eu,etiqueta l.l
Eu,etiqueta l.lEu,etiqueta l.l
Eu,etiqueta l.l
 
Sociologia
SociologiaSociologia
Sociologia
 
Consumo
ConsumoConsumo
Consumo
 
Recanto das letras carol
Recanto das letras   carolRecanto das letras   carol
Recanto das letras carol
 
What If Magazine_01
What If Magazine_01What If Magazine_01
What If Magazine_01
 
Fernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta EnigmaFernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta Enigma
 
Eu, tu e três pontos...
Eu, tu e três pontos...Eu, tu e três pontos...
Eu, tu e três pontos...
 
9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...
9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...
9º ano-Português -VALORES SOCIAIS, CULTURAIS E HUMANOS- Profa.Naiara Martins-...
 
Angela Carneiro: As quebradas nos transformam
Angela Carneiro: As quebradas nos transformamAngela Carneiro: As quebradas nos transformam
Angela Carneiro: As quebradas nos transformam
 
Revista subversa 6ª ed.
Revista subversa 6ª ed.Revista subversa 6ª ed.
Revista subversa 6ª ed.
 
Sofia pedroso nao ha becos sem saida
Sofia pedroso   nao ha becos sem saidaSofia pedroso   nao ha becos sem saida
Sofia pedroso nao ha becos sem saida
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andrade
 
O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha
O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunhaO s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha
O s reflexoas do eu em mulher no espelho de helena parente cunha
 
Revista Aka Arte edição 0
 Revista Aka Arte edição 0 Revista Aka Arte edição 0
Revista Aka Arte edição 0
 
ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdf
ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdfALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdf
ALQUIMIA CONTEMPORÂNEA.pdf
 
A CRÔNICA
A CRÔNICAA CRÔNICA
A CRÔNICA
 
Uma Conversa Diferente
Uma Conversa DiferenteUma Conversa Diferente
Uma Conversa Diferente
 

Mais de PabloGabrielKdabra

Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptx
Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptxPoesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptx
Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptxPabloGabrielKdabra
 
ÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologia
ÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologiaÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologia
ÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologiaPabloGabrielKdabra
 
O cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima Barretopptx
O cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima BarretopptxO cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima Barretopptx
O cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima BarretopptxPabloGabrielKdabra
 
DIREITOS HUMANOS AULA/BASE kadabra.pptx
DIREITOS HUMANOS  AULA/BASE  kadabra.pptxDIREITOS HUMANOS  AULA/BASE  kadabra.pptx
DIREITOS HUMANOS AULA/BASE kadabra.pptxPabloGabrielKdabra
 
AULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOS
AULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOSAULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOS
AULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOSPabloGabrielKdabra
 
Resumo do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto
Resumo do livro Clara dos Anjos, de Lima BarretoResumo do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto
Resumo do livro Clara dos Anjos, de Lima BarretoPabloGabrielKdabra
 
LITERATURA PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptx
LITERATURA  PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptxLITERATURA  PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptx
LITERATURA PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptxPabloGabrielKdabra
 
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxPabloGabrielKdabra
 
MODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptx
MODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptxMODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptx
MODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptxPabloGabrielKdabra
 
O-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.ppt
O-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.pptO-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.ppt
O-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.pptPabloGabrielKdabra
 
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptxMODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptxPabloGabrielKdabra
 
clara_dos_anjos análise PAVE.pptx
clara_dos_anjos análise PAVE.pptxclara_dos_anjos análise PAVE.pptx
clara_dos_anjos análise PAVE.pptxPabloGabrielKdabra
 
aula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptx
aula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptxaula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptx
aula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptxPabloGabrielKdabra
 
1. Proteção Radiológica.pptx
1. Proteção Radiológica.pptx1. Proteção Radiológica.pptx
1. Proteção Radiológica.pptxPabloGabrielKdabra
 

Mais de PabloGabrielKdabra (20)

Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptx
Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptxPoesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptx
Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptx
 
ÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologia
ÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologiaÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologia
ÚLTIMA AULA DE SOCIOLOGIA DO ANO.pptx aula de sociologia
 
O cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima Barretopptx
O cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima BarretopptxO cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima Barretopptx
O cemitério dos vivos. Obra do grande escritor pré modernista Lima Barretopptx
 
DIREITOS HUMANOS AULA/BASE kadabra.pptx
DIREITOS HUMANOS  AULA/BASE  kadabra.pptxDIREITOS HUMANOS  AULA/BASE  kadabra.pptx
DIREITOS HUMANOS AULA/BASE kadabra.pptx
 
AULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOS
AULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOSAULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOS
AULÃO DE LINGUAGENS ESPECIAL PARA VESTIBULANDOS
 
Resumo do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto
Resumo do livro Clara dos Anjos, de Lima BarretoResumo do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto
Resumo do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto
 
LITERATURA PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptx
LITERATURA  PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptxLITERATURA  PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptx
LITERATURA PARA VESTIBULANDOS E CONCURSEIROS(3).pptx
 
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptxANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
ANÁLISE ALGUMA POESIA KDABRA.pptx
 
MODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptx
MODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptxMODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptx
MODERNISMO TERCEIRA FASEaa.pptx
 
ANÁLISE VIDAS SECAS (2).ppt
ANÁLISE VIDAS SECAS (2).pptANÁLISE VIDAS SECAS (2).ppt
ANÁLISE VIDAS SECAS (2).ppt
 
ANÁLISE VIDAS SECAS (2).ppt
ANÁLISE VIDAS SECAS (2).pptANÁLISE VIDAS SECAS (2).ppt
ANÁLISE VIDAS SECAS (2).ppt
 
O-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.ppt
O-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.pptO-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.ppt
O-MODERNISMO-E-AS-ARTES-NO-BRASIL.ppt
 
AULA I COE.pptx
AULA I COE.pptxAULA I COE.pptx
AULA I COE.pptx
 
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptxMODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
 
classicismo Pablo kdabra.ppt
classicismo Pablo kdabra.pptclassicismo Pablo kdabra.ppt
classicismo Pablo kdabra.ppt
 
clara_dos_anjos análise PAVE.pptx
clara_dos_anjos análise PAVE.pptxclara_dos_anjos análise PAVE.pptx
clara_dos_anjos análise PAVE.pptx
 
aula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptx
aula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptxaula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptx
aula_Filosofia_2_série_Ética Existencialista II.pptx
 
QUINHENTISMO ppt.pptx
QUINHENTISMO ppt.pptxQUINHENTISMO ppt.pptx
QUINHENTISMO ppt.pptx
 
metodologia aula 1.ppt
metodologia aula 1.pptmetodologia aula 1.ppt
metodologia aula 1.ppt
 
1. Proteção Radiológica.pptx
1. Proteção Radiológica.pptx1. Proteção Radiológica.pptx
1. Proteção Radiológica.pptx
 

Último

Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 

Último (20)

Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 

AULÃO DE LINGUAGENSII.pptx

  • 2. Eu, Etiqueta Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais,
  • 3. ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim-mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete.
  • 4. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam, e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa resumia uma estética? Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrina me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.
  • 5. Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. • Como se tomasse consciência, ou tivesse uma epifania, este eu-lírico percebe que as suas roupas referenciam produtos que ele nunca experimentou e aos quais talvez nem tivesse acesso. Ou seja, acaba promovendo coisas que nem sequer conhecesse, só porque são valorizadas socialmente. • Olhando em volta, vai enumerando produtos que o rodeiam, que usa diariamente, e que possuem uma etiqueta ou uma marca. Os versos parecem sublinhar que o sistema capitalista influencia os aspetos mais triviais da nossa rotina.
  • 6. • Apelando aos desejos de cada um, a propaganda chega por todos os lados, com "mensagens, / letras falantes, / gritos visuais" que confundem os indivíduos e capturam a sua atenção. • Perante tudo isso, como se demonstrasse algum espanto, o sujeito verifica que virou um "homem- anúncio itinerante" para seguir as tendências dos seus pares.
  • 7. Estou, estou na moda. É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade • Para se enquadrar, ele descobre que acabou perdendo a si mesmo. Em nome de futilidades e convenções que apenas se focam nas aparências, foi se desligando do seu jeito de ser, da sua alma. • Este eu-lírico, que pode representar cidadãos do mundo inteiro e de várias épocas, reflete sobre os modos como caímos nas armadilhas do consumismo. • Sem repararmos, contribuímos para este sistema, porque sentimos a necessidade de provar o nosso valor ou sucesso através da ostentação de bens materiais.
  • 8. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender • Com um tom sarcástico, o sujeito reforça que compactuamos com esse esquema mesmo quando não somos beneficiados por ele, só para nos sentirmos integrados. • Deslumbradas pelos objetos, muitas pessoas esquecem de cuidar da própria essência, algo que "moda ou suborno algum" deveria comprometer ou colocar em jogo. • Assim, o eu-lírico questiona o que aconteceu com ele e também com esta forma coletiva de agir e pensar, que exibe prioridades totalmente invertidas. • Perdido num movimento contínuo de padronização, verifica que deixou de ter espírito crítico, ficou igual a todo o mundo, sem "gosto e capacidade de escolher"
  • 9. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. • Desprovido de um sentido de individualidade, ou de identidade, este sujeito termina a composição anunciando que tinha se transformado em "coisa". • Esta seria, então, a vitória absoluta do capitalismo: o ser humano que vira produto, que encara a si mesmo como um mero objeto
  • 10.
  • 11. E AGORA, JOSÉ? E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?
  • 12. • E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? • Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José!
  • 13. Análise do poema • Análise do poema • Tipo de verso: livre • Número e tipo de estrofes: 6 estrofes irregulares • Número de versos: 67 versos • O poema José é construído em versos livres (ou irregulares), isto é, em versos que não utilizam metrificação e também dispensam a rima. • José é uma representação artística do sentimento de solidão e falta de rumo que experimenta o homem moderno. • Logo na abertura da primeira estrofe, é colocado o bordão “E agora José?”, que será repetido várias vezes e representa, de uma só vez, a necessidade de tomar uma decisão e a hesitação quanto a como fazê-lo. • Em seguida, Drummond apresenta os argumentos de “a festa acabou”, “a luz apagou”, “o povo sumiu”, “a noite esfriou”, como a querer dizer que aquilo que era bom já não existe, ou que momentos de alegria já se foram.
  • 14. • Ainda na primeira estrofe, vemos que Drummond substitui “José” por “você”, deixando claro sua intenção de representar um sujeito coletivo através de “José” e, mais especificamente, representar o próprio leitor. • “E agora, você?” é um verso que intima o leitor a se envolver pessoalmente no drama de José, no drama de não saber escolher e encontrar-se diante de uma situação que exige uma escolha.
  • 15. • A medida que progredimos no poema e a mesma questão vai se repetindo uma e outra vez, vamos ficando com a sensação de que a angústia inicial toma contornos de desespero, que é realçado pela ideia de que, apesar de precisar agir, “José” não pode fazê-lo.
  • 16. • Assim, vemos que Drummond carrega versos aparentemente simples com um peso existencial incomum. • O poema leva-nos a refletir sobre o nosso papel no mundo, o sentido de nossa vida, o que faremos quando o hoje tornar-se passado, e questiona-nos de um ponto de vista intimista, parecendo nos dizer que a questão precisa ser respondida e ninguém pode respondê-la por nós.