História da Educação: Conceitos e Ofício do Historiador
1. E.E. PROF. SALATIEL DE ALMEIDA - MUZAMBINHO – MG
Prof. Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
MATEMÁTICA – 1ºNA - Curso Normal
História da Educação
16 de março de 2016
Capítulo 2 – O Que é História?
2.1 O CONCEITO DE HISTÓRIA
Três Significados de História:
1. Devir, a passagem da vida. “Eu tenho uma história”, “A história dessa escola mostra como ela foi
importante”, “Nunca na história desse país”.
2. Ciência Histórica. “Eu estou escrevendo uma nova versão da História do Brasil”, “Na História da
Educação, Dewey exerceu um papel importante”, “Eu estudei História na faculdade”, “Vou fazer um
trabalho sobre História da Ciência”, “existem várias correntes de pensamento sobre História”.
3. Narração de um fato, também chamada de ESTÓRIA. “Vou ler para meu filho uma história (ou
estória”, “Eu gosto de histórias (ou estórias) em quadrinhos”, “Conta a história (ou estória) de nossos
ancestrais”, “Qual é a história da Arca de Noé?”, “Vou narrar a história de Alexandre, o Grande”.
ANTOLOGIA – Textos de introdução
PEREIRA, Marco Aurélio Monteiro; ESPÍRITO SANTO, Janaína de Paula do; SANTOS, Rodrigo Carneiro
dos. Teoria da História 1. Licenciatura em História. Ponta Grossa - PR: UEPG, 2009.
CONCEITO DE HISTÓRIA
O conceito de História é uma coisa bastante complexa e difícil de ser trabalhada. Complexa porque o
termo História é polissêmico, isto é, tem mais que um significado. A palavra História tem, pelo menos, três
significados principais:
1. História comoo processode vida dos homens em sociedade no tempo. É o que poderíamos chamar
de “História vivida”.
2. História como as representações do processode vida dos homens em sociedade no tempo. É o que
poderíamos chamar de “História representada”. É o campo da História como produto de uma “elaboração
científica”.
3. História como a designação de uma “narração ordenada” qualquer. É o espaço, quer de uma
narração baseada na “realidade histórica”, quer dos contos de fadas, dos “romances históricos”. Seu caráter
é essencialmente narrativo, e a questão da verdade acontecimental não se coloca aí como fundamental.
E para complicar um pouco mais a coisa, estes três significados se misturam, se interpenetram numa
relação de amálgama que torna bastante difícil sua separação em definições específicas e estanques.
Alguns idiomas tentam escapar desta ambigüidade. O inglês, com History e Story; o italiano, que usa
a palavra storigrafia para designar a ciência histórica e sua produção; e o alemão, que designa a ciência
histórica como Geschichtwissenschaft e a atividade “científica” em geral como Geschichtschreibung.
Mas, de toda forma, sempre há uma zona de sombra, um espaço ambíguo e indefinível que constitui
a própria essência da história. Como diz Jacques Le Goff: “Falar de História não é fácil, mas estas
dificuldades de linguagem introduzem-nos no próprio âmago das ambigüidades da história” (LE GOFF, 1985,
p. 158).
Mas, enfim, o que significa a palavra História?
Uma das saídas possíveis para uma proposta de conceituação, mesmo que aproximada, é um
panorama etimológico e semântico da palavra História.
A palavra história vem do grego jônico historie. Esta forma,por sua vez, se origina da raiz indo-européia
wid - weid, que se refere a “ver”. Desta raiz se originam o sânscrito vettas “testemunha” e o grego histor,
também significando “testemunha”, no sentido de “aquele que vê”. “Esta concepção da visão como fonte
essencial do conhecimento leva-nos à idéia que histor ‘aquele que vê’ é também aquele que sabe; historien
em grego antigo é ‘procurar saber’, ‘informar-se’. Historie significa pois ‘procurar’”. E é este o sentido da
palavra história em suas origens na tradição ocidental. Para Heródoto, suas Histórias são “investigações”,
“procuras” (LE GOFF, 1985, p.158).
2. História pode se definir, assim, como o espaço do conhecimento não apenas visto e elaborado, mas
também transmitido, testemunhado. O testemunho é um “ato de fé”, uma ação social. Ver, saber e
testemunhar se configuram, assim, na essência conceitual da palavra História.
Isto nos coloca diante da segunda assertiva do início do texto. Por ser ambígua, a conceituação de
História é difícil. E fica ainda mais difícil porque a ambigüidade do termo não é apenas semântica, é também
de caráter epistemológico. Como visão, testemunho e conhecimento, a História assume formas diferentes
em sociedades diversas e mesmo em espaços sociais distintos numa mesma sociedade.
VOCABULÁRIO.
Pesquise (não é para entregar) o significado de:
ETIMOLOGIA – SEMÂNTICA – EPISTEMOLOGIA
TRONCO LINGUÍSTICO INDO-EUROPEU – GREGO JÔNICO - SÂNSCRITO
2.2 OFÍCIO DE HISTÓRIADOR
CANABARRO, Ivo dos Santos. Teoria e métodos da história I. (Coleção educação a distância. Série
livrotexto). Ijuí: Ed. Unijuí, 2008.
Obs: o texto foi escrito para licenciandos em História.
O Ofício do Historiador
O ofício do historiador é produzir a própria história, além de ensinar e divulgar a história. Para tanto,
durante a realização do curso de história você está se preparando para ser um historiador, podendo escolher
uma das três funções ou exercer as três, ao mesmo tempo.
Não devemos ter a idéia de que ser historiador é somente pesquisar e escrever, pois além de
aprender a ensinar vamos exercitar a tarefa de pesquisa e escrita da história, para enfim nos apresentarmos
como historiadores.
O historiador tem uma relação próxima com a produção do conhecimento e esta tarefa é bem
sofisticada, pois para produzir conhecimento é preciso dominar alguns conceitos que são próprios desta
atividade. Produzir conhecimento não significa escrever um amontoado de coisas sem ordenação e sentido,
é preciso construir um certo sentido para aquilo que escrevemos, e este é dado pela lógica das idéias que
apresentamos.
O historiador escreve a partir daquilo que ele pesquisa, e esta é a primeira tarefa para a produção
do conhecimento em história, num certo sentido é preciso provar aquilo que se afirma, ou seja, com os
documentos que ele consegue em suas pesquisas.
Os documentos são sempre a nossa matéria-prima, a primeira tarefa é fazer uma leitura destes, é
preciso fazer“perguntas” ao material que temos em mãos realizando um trabalho de crítica interna e externa.
Para a realização desta tarefa é preciso conhecer teorias e metodologia de pesquisa histórica, isto requer
uma certa formação, o que significa que seu ofício é bem qualificado, nos colocando na posição de
historiadores profissionais, ou seja, que já desenvolvemos uma série de leituras que nos habilitam a exercer
a nossa profissão de forma correta.
Para a produção do conhecimento é sempre preciso uma série de reflexões que nos auxilia a ir muito
além da mera observação de um fenômeno, é preciso superar esta etapa,conhecer a profundidade daquilo
que se deseja estudar. Descrever um determinado fenômeno é uma tarefa que qualquer observador pode
fazer, a descriçãoé a apresentação de seus aspectos visíveis, aquilo que todos nós vemos em uma primeira
impressão, não precisa ser um historiador profissional para fazer uma determinada descrição. Alguns
trabalhos que nos apresentam comoobras históricas são meras descrições,são completamente superficiais,
não apresentam uma análise detalhada do objeto de pesquisa. O objeto de pesquisa é realmente aquilo que
o historiador escolhe para pesquisar, é preciso fazer este para seguir a tarefa de produção do conhecimento
histórico.
Os objetos de pesquisa são escolhas livres por parte do historiador, cada um tem a liberdade de
aprofundar aquilo que realmente lhe interessa e que traga uma contribuição importante para o conhecimento
de nossa história. Quando eu escolho um objeto eu já estou dando um direcionamento para a minha
pesquisa e este é o primeiro passo que eu tenho que dar. Após fazer isto, deve-se procurar saber se eu
tenho fontes de pesquisa, ou seja, se existem documentos para realmente comprovar aquilo que eu desejo
demonstrar, pois o trabalho de produção do conhecimento é uma tarefa de construção, e se estabelece a
partir daí uma relação entre o pesquisador (historiador) e seu objeto de pesquisa. O objeto é sempre uma
escolha do historiador, pois ele não é obrigado a fazer aquilo que não lhe interessa. O historiador é um
sujeito subjetivo, isto quer dizer que ele tem seus próprios valores, suas idéias, sua forma de pensar que é
singular, suas ideologias, seu imaginário, enfim devemos considerar que ele é um sujeito pensante que tem
uma determinada sensibilidade. Naquilo que o historiador escrever vai ficar gravado o que ele pensa, a sua
3. sensibilidade e sua visão de mundo, por isso podemos dizer que ele é um sujeito subjetivo,ele não é um
sujeito neutro como pensavam as teorias do século 19.
O historiador, além de ter a liberdade de escolha de seu objeto de pesquisa, tem também a liberdade
para escolher uma determinada teoria e metodologia para a construção do conhecimento histórico. Quando
o historiador escolhe uma teoria que vai orientar a construção de sua pesquisa, ele já está se posicionando
por uma determinada visão da história, isto significa que o conhecimento que ele vai produzir não é qualquer
conhecimento, mas já possui um certo direcionamento, um balizamento que a teoria pode proporcionar, ou
seja, não é uma mera descriçãodo fenômeno, é essencialmenteuma análise mais detalhada que vai buscar
as relações do foco escolhido com o contexto daquela sociedade que ele deseja conhecer.
É fundamental perceber que os objetos de pesquisa não estão soltos por aí, mas que fazem parte
de um determinado contexto histórico, têm relações com a sociedade e descortinar estas relações significa
conhecer com profundidade o foco.
A Historiografia
O historiador ao escrever a história está fazendo um exercício de historiografia, pois ele estará
utilizando todo um arsenal teórico e metodológico que pertence a uma determinada escola histórica. Quando
o historiador começa a escrever o seu texto ele primeiramente faz uma pesquisa bibliográfica para situar o
seu objeto de pesquisa em um determinado contexto historiográfico.
Este exercício é uma prática historiográfica na perspectiva de que ele está buscando nas obras
importantes para a sua pesquisa referências para situar o seu objeto de pesquisa.
O historiador sempre recorre à historiografia, seja para situar os seus objetos de pesquisa, seja para
escolher uma teoria e uma metodologia para dar conta do andamento de seu trabalho.
A historiografia também permite ao historiador fazer uma crítica mais detalhada sobre o seu trabalho,
pois na medida em que vamos conhecendo as obras dos demais historiadores, desenvolvemos a
capacidade de realizar comparações sobre o conhecimento histórico.
Nesta perspectiva é possível afirmar que conhecer a historiografia é adentrar num campo muito vasto
e, ao mesmo tempo, complexo, de um conhecimento específico sobre determinado tema.
Quando conhecemos as teorias e as metodologias descobrimos os verdadeiros segredos dos
historiadores, pois estamos em contato mais direto com a forma com que eles escrevem os seus textos. As
teorias nos permitem conhecer as escolhas que fazem os historiadores em seu momento de elaboração de
uma abordagem e um recortede seu objeto de pesquisa, ou seja, é possível conhecerporque eles escrevem
de uma forma específica a partir de um conjunto de conceitos e categorias de uma determinada teoria.
Ao pensarmos a historiografia nos vem em mente um conjunto de historiadores. Isso mesmo! A
historiografia é também a história que os historiadores fazem, cada um com seu estilo, suas escolhas, seus
objetos e suas teorias. Quanto mais conhecemos os historiadores mais conhecemos a historiografia, pois
cada um deles contribui de alguma forma para a construção de um saber que forma um conjunto significativo
de obras, um determinado produto cultural.
Os historiadores seguem teorias que os aproximam das escolas históricas e, cada uma delas,
representa um legado cultural que é orientado por um conjunto teórico e metodológico utilizado para orientar
a produção do conhecimento.
O historiador também é um sujeito capaz de criar certas tendências a partir de teorias, pois alguns
trabalhos são tão inéditos e inovadores que são capazes de constituir uma nova tendência, uma nova forma
de produzir conhecimento histórico. Estas novas tendências são responsáveis pela constante renovação do
conhecimento, dando oportunidade de pensar a história sobre múltiplos olhares, e assim é importante
salientar que é salutar entender a história a partir de vários pontos de vista, ou mesmodeoutras abordagens.
O conhecimento deve sempre passar por diferentes fases, a cada nova fase costumamos dizer que
a própria historiografia é renovada, pois isto significa que a escritada história também passa por renovações.
Neste sentido, pode-se afirmar que cada geração de historiadores escreve a história de uma forma e estilo
diferente.
O exercício de escrever a história é uma tarefa que também pertence à historiografia, pois quando o
historiador escreve, está fazendo uma escolha específica de uma determinada teoria e metodologia para
orientar o seu trabalho. A escolha da teoria é uma ação livre, ou seja, ele não é obrigado a escolher esta ou
aquela teoria, a sua escolha reflete a sua subjetividade, ele vai escolher uma teoria por acreditar que esta
possa lhe dar condições de melhor responder as suas interrogações, de melhor orientar e direcionar o seu
objeto de pesquisa.
A escolha de uma teoria é uma ação que reflete a sua posição em relação à história, pois pode
revelar as suas preferências pessoais de trabalhar uma tendência e não outra qualquer. Quando escolhemos
uma teoria estamos nos posicionado pessoalmente, estamos definindo um determinado lugar dentro da
historiografia, estamos de certa forma dizendo por que preferimos certos historiadores ou certa escola
histórica.
4. O historiador ao escolher um determinado posicionamento dentro da historiografia está manifestando
uma consciência histórica, pois a partir daí ele sabe o que seguir, significa dar um determinado rumo ao seu
trabalho de pesquisa, isto não quer dizer que ele deva seguir a mesmateoria a vida inteira, mas a sua opção
vai formar a sua especificidade.
Atualmente estamos cada vez mais nos especializando, e esta tendência também chegou à história,
agora temos especialistas em áreas específicas, que pesquisam e publicam artigos e livros expressando o
seu saber em uma determinada área do conhecimento histórico.
A especialização situa o profissional em uma tendência específica do conhecimento, isto permite o
seu aprofundamento, mas devemos cuidar para não perdermos a possibilidade de um conhecimento mais
geral que vai permitir ao historiador entender questões significativas do contexto histórico, ou seja, de termos
um conhecimento que nos situe num campo mais vasto da historiografia.
O campo da historiografia é extremamente vasto e também muito complexo, pois abrange uma
diversidade muito grande de tendências que expressam as áreas do conhecimento em história. Há tempos
atrás o campo era mais simplificado, pois era basicamente divido em: história social; história econômica;
história política e história cultural. Esta divisão dava conta praticamente do campo historiográfico, os
historiadores situavam suas pesquisas e obras nestas divisões.
No século 20 este campo torna-se cada vez mais complexo, sendo possível situar as pesquisas em
várias divisões e subdivisões, podemos observar trabalhos em história das mentalidades, história do
cotidiano, da vida privada, de gênero, da sexualidade, da loucura, dos jovens, enfim uma infinidade de
classificações. Nesta perspectiva podemos observar que a historiografia torna-se cada vez mais complexa
e dividida em compartimentos.
No final do século 20 e início do século 21 é possível observar a importância concedida à história
cultural. A cultura passou a ser interesse dos historiadores que buscam entende-la em sua diversidade de
manifestações e nos países. O cultural é trabalhado em sua plena manifestação, pois no início do século
20, os historiadores se interessavam mais pela cultura erudita, a cultura das classes dominantes e
atualmente parece acontecer o reverso, ou seja, os historiadores estão mais interessados em trabalhar com
as manifestações da cultura popular.
A cultura não é mais trabalhada como uma dimensão separada do mundo social, pois antigamente
a cultura era quase como algo decorativo, que ficava à margem dos estudos dos historiadores, agora a
cultura é pensada como algo vivido, que faz parte da realidade como algo integrante, ou seja, ao lado da
economia, do social e do político ela participa integralmente do mundo das pessoas.
Os historiadores estão mais interessados em trabalhar com as manifestações da cultura popular
mostrando que as pessoas comuns também têm cultura, pois anteriormente parecia que as pessoas pobres
não tinham cultura. Agora os pobres, os populares, os considerados marginalizados, os negros, os índios,
os prisioneiros, as prostitutas, os operários, cada um em sua especificidade produz também alguma
manifestação da cultura.
A cultura é pensada em sua diversidade de manifestação, desta forma a historiografia entende que
é possível estudar a cultura em suas distintas dimensões, pois cada grupo social se expressa de forma
diferente. Nesta perspectiva é importante observar que pensar em uma história cultural plena é possível a
partir da compreensão de que convivemos em um mundo marcado pela diversidade, sendo assim o ponto
inicial dos estudos deverá ser feito, pensando principalmente na diferença existente entre os grupos em uma
determinada sociedade.
A historiografia é responsável pela nossa própria atualização, pois a mesma é uma das expressões
da cultura que nos propicia o entendimento dos diversos movimentos do homem na sociedade, tanto nas
sociedades mais distantes, quanto na sociedade contemporânea.
Neste sentido a historiografia serve como um instrumento de crítica do próprio mundo social, pois ela
nos oferece os instrumentais necessários para a formação do nosso pensamento, nos proporcionando
conteúdos sobre a vida do homem e do movimento das sociedades.
Sendo assim, é possível adentrar em um universo de conhecimento histórico, que forneça base para
a reflexão, pois é importante conhecermos as coisas e situações para poder formular a nossa crítica, caso
contrário nossa crítica ficaria esvaziada de sentido.
Os movimentos da própria historiografia refletem os movimentos da sociedade, pois a cada tempo
diferente temos uma expressão da historiografia, neste sentido podemos afirmar a sua contemporaneidade.
A cada período os historiadores formulam um tipo de conhecimento determinado, pois devemos estar
atentos ao movimento que o homem e a sociedade realizam, cabe ao historiador analisar e escrever sobre
cada um deles.
O conhecimento se renova constantemente para dar respostas aos problemas que a sociedade
enfrenta cotidianamente, os historiadores não podem permanecer alheios à sociedade em que vivem,
precisam acompanhar todos os movimentos, pois a seu ofício exige que permaneçam atentos a tudo o que
acontece ao redor. Neste sentido, podemos afirmar que a historiografia é também o produto da cultura e
5. que o historiador deve se apresentar como um produtor cultural, que produz um conhecimento que expressa
a cultura de um determinado período.
A cultura está expressa no conhecimento produzido pelo historiador, pois o conhecimento histórico
é também uma forma de expressão da própria cultura, neste sentido podemos afirmar que escrever história
é um constante exercício de produção da mesma.Mas é importante salientar que é uma prática cultural bem
especializada, pois perpassa pela compreensão de que a historiografia é a escrita da história de uma forma
bem sistemática,ou seja, não é qualquer tipo de conhecimento,pois é produzido a partir de teoria e métodos
que caracterizam a forma específica de se escrever a história.
É um conhecimento que expressa a profundidade de seus enunciados, pois reflete toda a trajetória
de pesquisa do historiador, seus pontos de vista e seu posicionamento teórico.
A própria pesquisa histórica também é influenciada pela historiografia, pois a partir desta é possível
escolher uma teoria e uma metodologia a ser trabalhada e, sendo assim, toda a pesquisa realizada pelo
historiador perpassa pela compreensão de que é necessário realizar uma escolha.
Nesta perspectiva, entendemos a historiografia como portadora de um conjunto bem significativo de
teorias e métodos que permitem a construção do conhecimento histórico científico, ou seja, não é qualquer
conhecimento, é uma expressão que reflete todo um referencial que permite uma construção inteligível e
organizada e produz um material aceito em uma determinada sociedade. É um tipo de conhecimento que
permite trazer contribuições significativas para o entendimento da própria sociedade, nos proporcionando
sair das meras especulações para entrar na profundidade do que realmente aconteceu.
Pensar na importância da historiografia é um exercício racional e inteligível que consiste na tentativa
de entender os discursos dos historiadores, como estes pensam em um tipo de conhecimento que permite
adentrar nas aproximações daquilo que realmente aconteceu em uma determinada sociedade.
Os discursos dos historiadores nos aproximam de certa verdade histórica, pois de imediato podemos
pensar que a escrita da história reflete de uma maneira mais direta aquilo que realmente aconteceu, não é
uma mera suposição, este é o sentido da verdade, um discurso daquilo que aconteceu. Os historiadores
produzem vários discursos, os quais refletem a sua própria maneira de entendimento das sociedades
estudadas, todos estes configuram para a construção das representações e da memória.
Os discursos são representações daquilo que aconteceu, certa maneira de ver as coisas e que fica
registrado com o texto histórico. O texto sintetiza tudo o que o historiador pensa sobre a história, pois é uma
forma resumida de apresentar tudo aquilo que ele acredita ser uma verdade.
A historiografia comporta este conjunto de textos, nos permitindo entender tudo o que realmente os
historiadores escrevem, neste sentido podemos pensar que a partir disto podemos entender a plenitude da
própria sociedade. Nesta perspectiva, é fundamental salientar que quanto mais nós conhecermos a
historiografia, mais estaremos entendendo comofuncionam as sociedades que temos a intenção de estudar.
Ao escolher os textos que vamos trabalhar com nossos alunos, estamos trabalhando com
historiografia, pois a escolha do material adequado é fundamental para que o ensino realmente seja de
qualidade. No momento de seleção de textos para nossos alunos é importante que este material represente
o que há de mais inovador na historiografia, pois não adiantaria de nada termos um belo discurso sobre a
história, se o material que escolhemos para ensinar seja conservador.
Somente o conhecimento da teoria da história vai permitir ao professor fazer uma análise mais
detalhada do conteúdo dos textos selecionados. Toda a linguagem que o historiador utiliza ao escrever os
seus textos, expressa de certa forma a sua opção por uma determinada teoria, pois no texto podemos
encontrar os conceitos e categorias que identificam de forma clara a teoria utilizada. A teoria é um traço
marcante na escrita de um texto.
Correntes do Pensamento Historiográfico
A historiografia brasileira é bem diversificada e complexa, como a européia. No Brasil os estudos
mais significativos de historiografia aparecem com mais freqüência a partir do século 19, momento em que
alguns historiadores começam a pensar a escrita da história.
Mas realmente é no século 20 que a historiografia realmente acontece como uma expressão da
cultura, pois neste longo século ela passou por diferentes fases, marcando de forma decisiva a influência
das teorias que os historiadores europeus desenvolveram para a escrita da história.
Muitos historiadores brasileiros foram estudar e pesquisar na Europa e trouxeram para o Brasil o que
havia de novo e revolucionário em termos de teorias e metodologias.
No final do século 19 e começo do século 20 temos na Europa a influência decisiva da Escola
Metódica e do Positivismo, ambas as correntes são tomadas como referência pelos historiadores para
escrever a história. A Escola Metódica nasce na Alemanha com o historiador Leopoldo Von Ranke, e logo
os historiadores franceses trazem para a França, desta forma tendo uma influência significativa na produção
historiográfica. Esta escola era marcada mais por um método de leitura documental, do que por uma teoria
propriamente dita.
6. O Positivismo nasceu na França, também no século 19, a partir da doutrina de August Comte, que
estabelece algumas leis para a construção do conhecimento histórico e se aproxima mais de uma teoria.
Ambas as correntes têm uma influência significativa na produção do conhecimento histórico no Brasil,
e continuaram durante boa parte do século 20 a influenciar os nossos historiadores, principalmente os que
escreviam os manuais didáticos que eram utilizados nas escolas. Principalmente a Escola Metódica, com
uma história mais política, com seus heróis e fatos históricos, o que levava os alunos a decorar o nome dos
heróis e os “principais fatos ocorridos com a humanidade”, era uma história muito descritiva, que não
incentivava o aluno a desenvolver o seu senso crítico. Felizmente, esta corrente historiográfica está
totalmente superada.
O marxismo foi uma outra corrente teórica e metodológica, que nasceu também no século 19, fruto
de todo um trabalho de pesquisa e observação a partir das idéias de Karl Marx, que desenvolveu a
concepção teórica e explicativa sobre a sociedade de sua época, e que viria a ser utilizada para muito além
de suas origens, influenciando a construção do conhecimento no decorrer do século 20.
O marxismo, como é conhecido e desenvolvido pelos seguidores de Marx, é essencialmente uma
teoria social, serve como um modelo de explicação sobre o funcionamento das sociedades, por isso a sua
visão de totalidade, pois pretendia ser uma teoria que compreendesse e explicasse as sociedades na sua
íntegra. O marxismo foi elaborado para ser uma teoria social, que oferece instrumentos para os atores
sociais desenvolverem a sua própria crítica social, bem diferente do positivismo que pregava a importância
de se manter a ordem social para se conseguir o progresso.
Karl Marx foi um atento observador dos problemas da sociedade, dessaforma demonstrava em suas
obras a importância de se pensar a sociedade e seus conflitos, ou seja, as lutas de classe como motor da
história e, neste sentido, as suas concepções de história apontam para uma perspectiva da história-
problema. Os historiadores vão buscar no marxismo a possibilidade de se pensar o conhecimento onde a
história é pensada com uma perspectiva singular, denominada de materialismo histórico.
No materialismo histórico temos uma perspectiva de pensar o próprio desenvolvimento das
sociedades, bem como a sua organização, tudo isto a partir de um conceito básico que é o modo de
produção. Este conceito é a chave da teoria marxista. No marxismo é possível trabalhar teoricamente com
conceitos e categorias, que nos possibilitam o entendimento da sociedade em suas estruturas internas e
externas.
Outra escola histórica de importância fundamental para a historiografia é a Escola dos Annales,
criada na França no final da década de 1920 e continua atuante até a atualidade, cada vez ganhando mais
espaço entre os historiadores do mundo inteiro. A Escola dos Annales é considerada como uma verdadeira
revolução para a produção do conhecimento histórico, pois a partir do seu surgimento a história passou a
ser pensada de uma outra forma.
A história tornou-se interdisciplinar, ou seja, teve aproximações com as demais disciplinas das
ciências sociais, permitindo um ganho explicativo extraordinário. Os objetos de pesquisa passaram a ser
extremamente variados, começandoa pensar a história sobre diferentes perspectivas e permitindo conhecê-
la a partir do cotidiano, das mentalidades, da vida privada, das mulheres, dos jovens, dos velhos e dos atores
sociais considerados excluídos. O tempo passou a ser pensado em diferentes fases, como a curta duração,
a média duração e a longa duração.
A Escola dos Annales não se utiliza de uma teoria única, mas de várias teorias e metodologias, que
vão decisivamente revolucionar a produção do conhecimento histórico.
S
KARL MARX
Karl Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883)
Foi um filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista. Nascido na
Prússia, ele mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua
vida em Londres, no Reino Unido. A obra de Marx em economia
estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e
sua relação com o capital, além do pensamento econômico posterior. Ele
publicou vários livros durante sua vida, sendo que O Manifesto Comunista
(1848) e O Capital (1867-1894) são os mais proeminentes.
7. E.E. PROF. SALATIEL DE ALMEIDA - MUZAMBINHO – MG
Prof. Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
MATEMÁTICA – 1ºNA - Curso Normal
História da Educação
16 de março de 2016
NOME:__________________________________________________________ - DATA:__________
Questões:
1. Aponte os três significados da palavra História.
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2. Explique do que se trata cada uma das Escolas do pensamento histórico:
a) Escola Metódica
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b) Positivismo
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c) Marxismo
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d) Escola dos Annales
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3. Alguns conceitos do marxismo são básicos. Pesquisa na Internet e defina:
Materialismo Histórico
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Materialismo Dialético
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Mais Valia
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8. 4. Hoje não se acredita mais na possibilidade da neutralidade do historiador. Explique.
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5. A partir da Escola dos Annales, passou-se a estudar mais sobre mentalidades, cotidiano, vida privada,
gênero, sexualidade, loucura, jovens, etc.
Pesquise na Internet o nome do autor que escreveu livros com o nome “História da Loucura” e História da
Sexualidade”, e faça uma biografia muito pequena sobre ele.
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6. A Escola dos Annales passou por três fases.
1ª Fase – Marc Bloch e Lucien Fèbvre foram os principais nomes.
2ª Fase – Ferdinand Braudel foi o principal nome.
3ª Fase – vários nomes foram importantes, com destaque para Jacques Le Goff.
Pesquise na Internet sobre os quatro autores citados e escreva um pequeno texto biográfico sobre eles.
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7. A história antiga, das escolas metódicae positivista, davam foco aos heróis, aos líderes políticos (a história
“monumental”), e, hoje a história preocupa-se com os “marginais”. Comente sobre isso, com base no texto,
sobre a inserção dos marginais na história. O que seriam esses marginais? (Cuidado! Não é o sentido
popular de marginal)
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8. É possível buscar a verdade em história? A historiografia contemporânea acha que não. Explique.
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9. É correto utilizar a palavra “estória”? Explique, dizendo em qual sentido ela pode ser utilizada.
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10. A Escolados Annales ressignificou a idéia de historiografia, permitindo o uso de documentos alternativos,
e não apenas das fontes oficiais, entre eles, os documentos orais. Pesquise na Internet o conceito de
DOCUMENTO para:
a) A História Tradicional (Métodica e Positiva)
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b) Para a Escola dos Annales.
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