1. Os Devoradores de Homens do Tsavo
– E Outras Aventuras Africanas; 1907. Coronel John Henry Patterson
2. “ [...] Muitas vezes os coolies solenemente me
garantiam que era absolutamente inútil tentar
matá-los. Eles estavam totalmente convencidos de
que os espíritos revoltados partiram de dois
chefes indígenas que tomaram aquelas formas, a
fim de protestar contra a estrada de ferro que
estava sendo construída em seu país, e decidiram
parar o seu progresso para vingar o insulto,
assim, demonstrado por ela. [...]”
(PATTERSON, 1907)
3. Acima à esquerda: cerca de espinhos
Acima à direita: vagão armadilha
Abaixo à esquerda: segundo leão abatido
4.
5.
6. “ [...] embora a cultura exista no
posto comercial, no forte da colina ou
no pastoreio de carneiros, a
antropologia existe no livro, no
artigo, na conferência, na exposição do
museu ou, como ocorre hoje, nos
filmes”. (GEERTZ, p.11)
7. Torre Eiffel
Georges Seurat
Onde ver: Young Memorial
Museum, San Francisco, EUA
Ano: 1889
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 24,1 cm × 15,2 cm
8. Família de um Chefe Camacã, Preparando-se para Festa
1820 | Debret
Bico-de-pena e lápis sobre papel
22,5 x 35,4 cm
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
9. “Se a etnografia é uma descrição densa e os
etnógrafos são aqueles que fazem a descrição,
então a questão determinante para qualquer exemplo
dado [...] é se ela separa as piscadelas dos
tiques nervosos e as piscadelas verdadeiras das
imitadas.” (GEERTZ, p.12)
10. • O autor afirma que a antropologia seja o caminho para
reduzir o estranhamento surgido com as diferenças
culturais e expandir não apenas comunicação, mas o
entendimento e compreensão entre os homens.
• Para Geertz, a cultura é o contexto no qual ocorrem os
comportamentos e ações sociais. A descrição dos
comportamentos, sendo feita por antropólogos, são de
segunda, terceira mão, etc., e tratam-se de ficções
(algo construído, modelado).
11. • O significado do comportamento varia de acordo
com o contexto em que ocorre.
• A descrição antropológica não é a cultura em si.
13. Sobre o registro antropológico
A coerência não pode ser o principal teste de validade
de uma descrição cultural
Nada contribui mais para desacreditar a análise cultural
do que a construção de representações impecáveis de
ordem formal
A interpretação não deve repousar na elegância das
palavras, na inteligência do autor ou nas belezas
euclidianas, mas sim no cerne do que nos propomos
interpretar.
14. Cartaz e cena do filme Ensaio sobre a Cegueira
(2008), reprodução do livro de José Saramago.
Dirigido por Fernando Meireles.
15. O etnógrafo anota o discurso social, fixa-o em
uma forma inspecionável.
Ele observa, registra e analisa.
16. “A análise cultural é (ou deveria ser) uma
adivinhação dos significados, uma avaliação das
conjeturas, um traçar de conclusões explanatórias
a partir das melhores conjeturas.” (GEERTZ, p.12)
“Lévi-Strauss certamente está certo ao dizer que a
antropologia cultural não segue o mesmo modelo que as
ciências naturais, mas eu acredito que seja empírica,
sistemática, tente desenvolver argumentos que
possam ser ao menos confrontados com
provas.” (GEERTZ, 2001)
17. • A coerência e a beleza ou formalidade das palavras não devem ser
os quesitos de validade de um discurso.
• O trabalho do etnógrafo consiste em não apenas escrever o
acontecimento, o comportamento ou o discurso social em si, mas
interpretar e registrar o significado de tais ações.
19. Características da descrição etnográfica por
Geertz:
Ela é interpretativa;
O que ela interpreta é o fluxo do discurso
social;
A interpretação envolvida consiste em fixar
o “dito” em formas pesquisáveis;
Ela é microscópica
20. “A noção de que se pode encontrar a essência de
sociedades nacionais, civilizações, grandes religiões ou
qualquer que seja, resumida e simplificada nas assim
chamadas pequenas cidades e aldeias ‘típicas’ é um
absurdo visível.” (GEERTZ, p.15)
22. A Osterbaum (árvore da páscoa) é montada com galhos secos, que lembram a frieza
e morte do sepulcro de Jesus, junto a cascas de ovos coloridas, representando a
alegria da vida na ressurreição de Cristo.
23. “Nós lidamos com uma gama maior de sociedades, não apenas
as chamadas sociedades simples. Lidamos com sociedades
grandes, como a Índia, o Brasil, o que torna as coisas
mais complexas do que quando nós ficávamos restritos a
apenas povos tribais.” (GEERTZ, 2001)
24. O local do estudo não é o objeto do estudo
Os antropólogos podem não apenas estudar as aldeias, mas
nas aldeias
25. VÍDEO Trailer Muito além do Peso: https://www.youtube.com/
watch?v=2Hx5WUudWw0
27. “É verdade que quase todas as interpretações
antropológicas tenham por fim um resíduo de incerteza, de
vagueza, indeterminação, contingência.” (GEERTZ, 2001)
28. “Acho que a corrente de texto depois de um
tempo se entrega, porque tudo o que sabemos de
importante ou interessante já foi dito, ao
menos naquela linha em particular, não como um
todo, mas nessa linha, sim. Então as coisas são
abordadas de modo diferente, e vai-se em frente
com isso. Não creio que haja um ponto final
óbvio que diga exatamente onde é o fim da
interpretação, mas, depois de um tempo, depois
de 4.000 discussões acerca da briga de galos,
quem sabe baste.” (GEERTZ, 2001)
29. • Defendendo a singularidade das culturas, o autor afirma que não
devemos abranger a cultura de uma pequena região para áreas
maiores e vice-versa.
• O local do estudo do antropólogo não é necessariamente o objeto do
estudo.
31. A dificuldade em se elaborar uma teoria
interpretativa está no fato de que elas
tender resistir a modos de avaliações
mais diretos, uma vez que a interpretação
pode ser obstruída pelos pontos de vista
de quem as elabora ou ser validada apenas
por ela própria.
Apesar das imposições, o etnógrafo
deve estar ciente de que qualquer
tentativa de avaliar o objeto
antropológico de forma que o
distancie de sua proposição
original não passará de uma
caricatura distorcida.
32. Para um campo não exato como este, uma conceituação
sem obstruções, que traduza empiricamente os
componentes estudados, é de fato difícil de ser
arquitetada, se não impossível.
O que não faz com que as conclusões conseguidas aqui
tenham menos valor do que resultados retirados de
assuntos mais exatos e diretos.
33. Ciente disso, o antropólogo
reconhece a improbabilidade
de uma teoria cultural
empírica.
Seu trabalho, portanto, não é
consolidar teorias definitivas,
mas insinuá-las.
“Estamos reduzidos a insinuar teorias pois falta-nos o
poder de expressá-las.”
34.
35. Primeira condição para a teoria cultural:
ela não é a sua própria dona.
Outro fato que dificulta a
formulação de um conceito
cultural global está na
necessidade de manter as
abordagens próximas ao
solo da pesquisa e menos
abstratas.
Isso ocorre devido a um
obstáculo existente entre
vivenciar um universo cultural
distinto e tentar analisá-lo e
compreendê-lo. Tal
interferência não pode ser
evitada, e quanto mais
abstrato o desenvolvimento
teórico se torna, mais tensa
se firma essa obstrução.
36. Essas implicações, no entanto, fazem com que
o conceito de cultura cultive uma expansiva
quantidade de compreensões, uma vez que o
conhecimento antropológico não acumula
achados, mas aprofunda suas abordagens.
A antropologia não põe pontos finais em
suas teorias, mas as avança
incisivamente. Quanto mais incisivo um
estudo for em relação aos seus
anteriores, mais refinado ele se torna.
Ao contrário de outras ciências, ela não se apoia nos
ombros de teorias anteriores tanto quanto corre lado a
lado com elas.
37.
38. O ensaio, é então o melhor gênero possível de
apresentação para a interpretação etnográfica, uma
vez que tratados e leis são superficiais na área.
Não há tal coisa como uma “Teoria Cultural
Elementar”, pois não apenas a natureza do objeto
estudado não disponibiliza margens para estas
consolidações, como a própria metodologia de pesquisa
interfere nesta limitação: os achados antropológicos
não são gerais, mas específicos (o que contradiz
os requerimentos para a constatação de uma regra).
39. Além de improvável, Geertz ainda
ressalta que a busca por “leis
culturais” é desnecessária, pois
uma vez que o objetivo do
pesquisador não é codificar
regularidades, mas descrever os
elementos minuciosamente, estas
declarações são geralmente vazias e
irrelevantes.
40. Ou seja:
O antropólogo não generaliza através
dos fatos, mas dentro deles.
Isso se chama abordagem clínica, na
qual se busca enquadrar significantes
de uma forma inteligível no lugar de
subordinar um conjunto de observações
à uma lei ordenadora.
41. Segunda condição para a teoria cultural:
ela não é profética.
Se uma abordagem clínica
é utilizada, os eventos
avaliados serão
referentes a assuntos já
sob controle, e não para
projetar experimentos ou
deduzir estados futuros.
No entanto, a teoria não
precisa (e não deve)
estar presa no passado.
Ela pode não ser profética, no
entanto, a boa teoria é
atemporal.
42. Portanto, em antropologia, teorias
passadas são constantemente reaproveitadas
e refinadas, principalmente pois muitas
delas estão cientes que devem procurar a
atemporalidade. Caso elas falhem neste
processo, perigam ser descartadas assim
que o contexto que as suporta deixar de
existir.
43. Além disso, o foco do pesquisador também é recortar
as estruturas sociais que compõem os atos culturais
e construir um diagrama dessas ações, que se
destacam dos demais comportamentos humanos, para
estudá-las.
44. A etnografia se encarrega de
fornecer pistas sobre qual o papel
da cultura na vida humana,
retirando grandes conclusões de
detalhes.
“(...) remodelar o padrão das
relações sociais é reordenar as
coordenadas do mundo experimentado.
As formas da sociedade são a
substância da cultura.”
(GEERTZ, p. 20)
45. Portanto, sabendo que a construção de teorias
empíricas é improvável, o antropólogo deve se
alertar de que a sua pesquisa não se equivale
a essência daquilo que ela se dirige, além de
que a teoria não deve servir para profetizar
regras.
O papel da antropologia é designar qual a
importância da cultura na vida humana.
48. A etnografia é, por natureza, uma ciência que não determina
fins em suas explorações.
Isso a torna um exercício
semelhante ao da filosofia, aonde
está no processo da busca pelas
respostas que se encontra o seu
motivo, e não nas respostas em
si; pois estas escapam de seu
perseguidor.
A análise cultural é
intrinsicamente
incompleta, e quanto
mais profunda, mais
incompleta.
50. A progressão da antropologia se dá
mais devido ao debate travado entre
os seus integrantes do que por um
consenso de ideias.
Uma vez que não existem conclusões
definitivas a serem apresentadas, o
avanço desta ciência está
relacionado ao refinamento do
debate.
51. Apesar desta interferência entre a resposta e o estudo,
o pesquisador deve resistir tratar os seus temas com
subjetividade e/ou intuição. Ele deve, na medida do
possível, aproximar a sua abordagem o mais próximo que
conseguir do concreto.
Para facilitar esse processo, o
etnógrafo pode direcionar sua
incisão aos aspectos da realidade
cotidiana, inspecionando os
elementos que se fizeram
necessários dentro do contexto
humano.
52. Nacionalismo, identidade,
ideologia, arte, religião,
ciência, lei, moralidade,
violência, natureza, ética e
sociabilidade são exemplos de
assuntos que não distanciam o
pesquisador de um contexto mais
concreto de vida humana.
53. Em suma, a pesquisa é contínua e a sua
qualidade não está em suas conclusões, mas em
seu discurso.
A antropologia serve como um inventário de
legendas sobre o que é significativo para a
espécie humana, fornecendo assim um catálogo
de interpretações para que possamos cada vez
mais passar a compreender a nós mesmos.
54. “A vocação da antropologia interpretativa não é
responder as nossas questões mais profundas, mas
colocar à nossa disposição as respostas que outros
deram (...) e assim incluí-las no registro de
consultas sobre o que o homem falou”.
(GEERTZ, p. 21)
55. SUMARIZAÇÃO GERAL
Gueertz defende que, a partir da abordagem semiótica da cultura, deve-se adotar a
“descrição densa”(que preza a individualização dos elementos estudados,
discorridos detalhadamente) como modelo prioritário para o registro e a análise
antropológica, aonde deve-se dar atenção à aos significados das ações, e não apenas
registrar os acontecimentos.
Em seu texto, é possível assimilar toda a dificuldade envolvida no processo da
interpretação cultural e sabendo disto, ele define quais são as formas equivocadas
de se analisar a cultura, quais devem ser os focos do pesquisador e sobre quais
pontos o analisador deve tomar cuidado durante o estudo. Alerta que o registro
etnográfico não deve ser tratado como certeza universal pois ele se equilibra em
parâmetros muito relativos. Dessa forma, o antropólogo deve estar ciente de que sua
teoria não é capaz de sintetizar a essência empírica da cultura observada e que toda
pesquisa está sujeita a reelaboração eterna.
56. CONCLUSÃO
A definição do conceito cultural denota uma complexa metodologia,
portanto, para evitar com que a análise se se perca, o antropólogo
pode se auto avaliar a partir dos conceitos dissertados por Geerts.
A consolidação da teoria antropológica é complexa, mas o pesquisador
deve priorizar o que é essencial, não se deixar enganar pelos fatores
que relativizam a conclusão e, presando dissecar profundamente cada
questão encontrada, construir uma abordagem objetiva e lógica. A
teoria é contínua, portanto, ela não deve visar os “ponto finais” de
cada questão mas a qualidade de seu conteúdo, pois assim, a discussão
acerca da teoria poderá ter a sua continuidade prolongada ao ponto de
torná-la atemporal.