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Os Devoradores de Homens do Tsavo
– E Outras Aventuras Africanas; 1907. Coronel John Henry Patterson
“ [...] Muitas vezes os coolies solenemente me
garantiam que era absolutamente inútil tentar
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Acima à esquerda: cerca de espinhos
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“ [...] embora a cultura exista no
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“Se a etnografia é uma descrição densa e os
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dado [...] é se ela separa as piscadelas dos
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imitadas.” (GEERTZ, p.12)
• O autor afirma que a antropologia seja o caminho para
reduzir o estranhamento surgido com as diferenças
culturais e expandir não apenas comunicação, mas o
entendimento e compreensão entre os homens.
• Para Geertz, a cultura é o contexto no qual ocorrem os
comportamentos e ações sociais. A descrição dos
comportamentos, sendo feita por antropólogos, são de
segunda, terceira mão, etc., e tratam-se de ficções
(algo construído, modelado).
• O significado do comportamento varia de acordo
com o contexto em que ocorre.
• A descrição antropológica não é a cultura em si.
Parte V
O foco da interpretação cultural
Sobre o registro antropológico
A coerência não pode ser o principal teste de validade
de uma descrição cultural
Nada contribui mais para desacreditar a análise cultural
do que a construção de representações impecáveis de
ordem formal
A interpretação não deve repousar na elegância das
palavras, na inteligência do autor ou nas belezas
euclidianas, mas sim no cerne do que nos propomos
interpretar.
Cartaz e cena do filme Ensaio sobre a Cegueira
(2008), reprodução do livro de José Saramago.
Dirigido por Fernando Meireles.
O etnógrafo anota o discurso social, fixa-o em
uma forma inspecionável.
Ele observa, registra e analisa.
“A análise cultural é (ou deveria ser) uma
adivinhação dos significados, uma avaliação das
conjeturas, um traçar de conclusões explanatórias
a partir das melhores conjeturas.” (GEERTZ, p.12)
“Lévi-Strauss certamente está certo ao dizer que a
antropologia cultural não segue o mesmo modelo que as
ciências naturais, mas eu acredito que seja empírica,
sistemática, tente desenvolver argumentos que
possam ser ao menos confrontados com
provas.” (GEERTZ, 2001)
• A coerência e a beleza ou formalidade das palavras não devem ser
os quesitos de validade de um discurso.
• O trabalho do etnógrafo consiste em não apenas escrever o
acontecimento, o comportamento ou o discurso social em si, mas
interpretar e registrar o significado de tais ações.
Parte VI
A relevância do contexto e do espaço na
pesquisa antropológica
Características da descrição etnográfica por
Geertz:
Ela é interpretativa;
O que ela interpreta é o fluxo do discurso
social;
A interpretação envolvida consiste em fixar
o “dito” em formas pesquisáveis;
Ela é microscópica
“A noção de que se pode encontrar a essência de
sociedades nacionais, civilizações, grandes religiões ou
qualquer que seja, resumida e simplificada nas assim
chamadas pequenas cidades e aldeias ‘típicas’ é um
absurdo visível.” (GEERTZ, p.15)
Osterfest em Pomerode - SC
A Osterbaum (árvore da páscoa) é montada com galhos secos, que lembram a frieza
e morte do sepulcro de Jesus, junto a cascas de ovos coloridas, representando a
alegria da vida na ressurreição de Cristo.
“Nós lidamos com uma gama maior de sociedades, não apenas
as chamadas sociedades simples. Lidamos com sociedades
grandes, como a Índia, o Brasil, o que torna as coisas
mais complexas do que quando nós ficávamos restritos a
apenas povos tribais.” (GEERTZ, 2001)
O local do estudo não é o objeto do estudo
Os antropólogos podem não apenas estudar as aldeias, mas
nas aldeias
VÍDEO Trailer Muito além do Peso: https://www.youtube.com/
watch?v=2Hx5WUudWw0
“Os achados etnográficos não são
privilegiados, apenas particulares.”
“É verdade que quase todas as interpretações
antropológicas tenham por fim um resíduo de incerteza, de
vagueza, indeterminação, contingência.” (GEERTZ, 2001)
“Acho que a corrente de texto depois de um
tempo se entrega, porque tudo o que sabemos de
importante ou interessante já foi dito, ao
menos naquela linha em particular, não como um
todo, mas nessa linha, sim. Então as coisas são
abordadas de modo diferente, e vai-se em frente
com isso. Não creio que haja um ponto final
óbvio que diga exatamente onde é o fim da
interpretação, mas, depois de um tempo, depois
de 4.000 discussões acerca da briga de galos,
quem sabe baste.” (GEERTZ, 2001)
• Defendendo a singularidade das culturas, o autor afirma que não
devemos abranger a cultura de uma pequena região para áreas
maiores e vice-versa.
• O local do estudo do antropólogo não é necessariamente o objeto do
estudo.
Parte VII
As condições da teoria cultural: devida
abordagem e devido foco
A dificuldade em se elaborar uma teoria
interpretativa está no fato de que elas
tender resistir a modos de avaliações
mais diretos, uma vez que a interpretação
pode ser obstruída pelos pontos de vista
de quem as elabora ou ser validada apenas
por ela própria.
Apesar das imposições, o etnógrafo
deve estar ciente de que qualquer
tentativa de avaliar o objeto
antropológico de forma que o
distancie de sua proposição
original não passará de uma
caricatura distorcida.
Para um campo não exato como este, uma conceituação
sem obstruções, que traduza empiricamente os
componentes estudados, é de fato difícil de ser
arquitetada, se não impossível.
O que não faz com que as conclusões conseguidas aqui
tenham menos valor do que resultados retirados de
assuntos mais exatos e diretos.
Ciente disso, o antropólogo
reconhece a improbabilidade
de uma teoria cultural
empírica.
Seu trabalho, portanto, não é
consolidar teorias definitivas,
mas insinuá-las.
“Estamos reduzidos a insinuar teorias pois falta-nos o
poder de expressá-las.”
Primeira condição para a teoria cultural:
ela não é a sua própria dona.
Outro fato que dificulta a
formulação de um conceito
cultural global está na
necessidade de manter as
abordagens próximas ao
solo da pesquisa e menos
abstratas.
Isso ocorre devido a um
obstáculo existente entre
vivenciar um universo cultural
distinto e tentar analisá-lo e
compreendê-lo. Tal
interferência não pode ser
evitada, e quanto mais
abstrato o desenvolvimento
teórico se torna, mais tensa
se firma essa obstrução.
Essas implicações, no entanto, fazem com que
o conceito de cultura cultive uma expansiva
quantidade de compreensões, uma vez que o
conhecimento antropológico não acumula
achados, mas aprofunda suas abordagens.
A antropologia não põe pontos finais em
suas teorias, mas as avança
incisivamente. Quanto mais incisivo um
estudo for em relação aos seus
anteriores, mais refinado ele se torna.
Ao contrário de outras ciências, ela não se apoia nos
ombros de teorias anteriores tanto quanto corre lado a
lado com elas.
O ensaio, é então o melhor gênero possível de
apresentação para a interpretação etnográfica, uma
vez que tratados e leis são superficiais na área.
Não há tal coisa como uma “Teoria Cultural
Elementar”, pois não apenas a natureza do objeto
estudado não disponibiliza margens para estas
consolidações, como a própria metodologia de pesquisa
interfere nesta limitação: os achados antropológicos
não são gerais, mas específicos (o que contradiz
os requerimentos para a constatação de uma regra).
Além de improvável, Geertz ainda
ressalta que a busca por “leis
culturais” é desnecessária, pois
uma vez que o objetivo do
pesquisador não é codificar
regularidades, mas descrever os
elementos minuciosamente, estas
declarações são geralmente vazias e
irrelevantes.
Ou seja:
O antropólogo não generaliza através
dos fatos, mas dentro deles.
Isso se chama abordagem clínica, na
qual se busca enquadrar significantes
de uma forma inteligível no lugar de
subordinar um conjunto de observações
à uma lei ordenadora.
Segunda condição para a teoria cultural:
ela não é profética.
Se uma abordagem clínica
é utilizada, os eventos
avaliados serão
referentes a assuntos já
sob controle, e não para
projetar experimentos ou
deduzir estados futuros.
No entanto, a teoria não
precisa (e não deve)
estar presa no passado.
Ela pode não ser profética, no
entanto, a boa teoria é
atemporal.
Portanto, em antropologia, teorias
passadas são constantemente reaproveitadas
e refinadas, principalmente pois muitas
delas estão cientes que devem procurar a
atemporalidade. Caso elas falhem neste
processo, perigam ser descartadas assim
que o contexto que as suporta deixar de
existir.
Além disso, o foco do pesquisador também é recortar
as estruturas sociais que compõem os atos culturais
e construir um diagrama dessas ações, que se
destacam dos demais comportamentos humanos, para
estudá-las.
A etnografia se encarrega de
fornecer pistas sobre qual o papel
da cultura na vida humana,
retirando grandes conclusões de
detalhes.
“(...) remodelar o padrão das
relações sociais é reordenar as
coordenadas do mundo experimentado.
As formas da sociedade são a
substância da cultura.”
(GEERTZ, p. 20)
Portanto, sabendo que a construção de teorias
empíricas é improvável, o antropólogo deve se
alertar de que a sua pesquisa não se equivale
a essência daquilo que ela se dirige, além de
que a teoria não deve servir para profetizar
regras.
O papel da antropologia é designar qual a
importância da cultura na vida humana.
Parte VIII
A pesquisa antropológica tem um fim?
A etnografia é, por natureza, uma ciência que não determina
fins em suas explorações.
Isso a torna um exercício
semelhante ao da filosofia, aonde
está no processo da busca pelas
respostas que se encontra o seu
motivo, e não nas respostas em
si; pois estas escapam de seu
perseguidor.
A análise cultural é
intrinsicamente
incompleta, e quanto
mais profunda, mais
incompleta.
Portanto, compreender um
conceito semiótico da cultura é
entender que ele é
“essencialmente contestável”.
A progressão da antropologia se dá
mais devido ao debate travado entre
os seus integrantes do que por um
consenso de ideias.
Uma vez que não existem conclusões
definitivas a serem apresentadas, o
avanço desta ciência está
relacionado ao refinamento do
debate.
Apesar desta interferência entre a resposta e o estudo,
o pesquisador deve resistir tratar os seus temas com
subjetividade e/ou intuição. Ele deve, na medida do
possível, aproximar a sua abordagem o mais próximo que
conseguir do concreto.
Para facilitar esse processo, o
etnógrafo pode direcionar sua
incisão aos aspectos da realidade
cotidiana, inspecionando os
elementos que se fizeram
necessários dentro do contexto
humano.
Nacionalismo, identidade,
ideologia, arte, religião,
ciência, lei, moralidade,
violência, natureza, ética e
sociabilidade são exemplos de
assuntos que não distanciam o
pesquisador de um contexto mais
concreto de vida humana.
Em suma, a pesquisa é contínua e a sua
qualidade não está em suas conclusões, mas em
seu discurso.
A antropologia serve como um inventário de
legendas sobre o que é significativo para a
espécie humana, fornecendo assim um catálogo
de interpretações para que possamos cada vez
mais passar a compreender a nós mesmos.
“A vocação da antropologia interpretativa não é
responder as nossas questões mais profundas, mas
colocar à nossa disposição as respostas que outros
deram (...) e assim incluí-las no registro de
consultas sobre o que o homem falou”.
(GEERTZ, p. 21)
SUMARIZAÇÃO GERAL
Gueertz defende que, a partir da abordagem semiótica da cultura, deve-se adotar a
“descrição densa”(que preza a individualização dos elementos estudados,
discorridos detalhadamente) como modelo prioritário para o registro e a análise
antropológica, aonde deve-se dar atenção à aos significados das ações, e não apenas
registrar os acontecimentos.
Em seu texto, é possível assimilar toda a dificuldade envolvida no processo da
interpretação cultural e sabendo disto, ele define quais são as formas equivocadas
de se analisar a cultura, quais devem ser os focos do pesquisador e sobre quais
pontos o analisador deve tomar cuidado durante o estudo. Alerta que o registro
etnográfico não deve ser tratado como certeza universal pois ele se equilibra em
parâmetros muito relativos. Dessa forma, o antropólogo deve estar ciente de que sua
teoria não é capaz de sintetizar a essência empírica da cultura observada e que toda
pesquisa está sujeita a reelaboração eterna.
CONCLUSÃO
A definição do conceito cultural denota uma complexa metodologia,
portanto, para evitar com que a análise se se perca, o antropólogo
pode se auto avaliar a partir dos conceitos dissertados por Geerts.
A consolidação da teoria antropológica é complexa, mas o pesquisador
deve priorizar o que é essencial, não se deixar enganar pelos fatores
que relativizam a conclusão e, presando dissecar profundamente cada
questão encontrada, construir uma abordagem objetiva e lógica. A
teoria é contínua, portanto, ela não deve visar os “ponto finais” de
cada questão mas a qualidade de seu conteúdo, pois assim, a discussão
acerca da teoria poderá ter a sua continuidade prolongada ao ponto de
torná-la atemporal.
https://www.youtube.com/watch?v=rb-P-nk2ULA
http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/arqueologia-
descoberta-pode-derrubar-teorias-sobre-origem-dos-
maias,222ee233b8e3e310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html
http://www.oarquivo.com.br/index.php/polemica/historia/4189-
john-henry-patterson-e-os-demonios-de-tsavo
http://noticias.universia.com.br/tempo-
livre/noticia/2012/12/14/988950/conheca-torre-eiffel-georges-
seurat.html
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/debret
http://marinaotte.com.br/blog/2012/03/marinando-pelo-mundo-
pomerode-e-a-osterfest/
http://www.vemprapomerode.com.br/turismo/festas-e-
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parte-2

  • 1. Os Devoradores de Homens do Tsavo – E Outras Aventuras Africanas; 1907. Coronel John Henry Patterson
  • 2. “ [...] Muitas vezes os coolies solenemente me garantiam que era absolutamente inútil tentar matá-los. Eles estavam totalmente convencidos de que os espíritos revoltados partiram de dois chefes indígenas que tomaram aquelas formas, a fim de protestar contra a estrada de ferro que estava sendo construída em seu país, e decidiram parar o seu progresso para vingar o insulto, assim, demonstrado por ela. [...]” (PATTERSON, 1907)
  • 3. Acima à esquerda: cerca de espinhos Acima à direita: vagão armadilha Abaixo à esquerda: segundo leão abatido
  • 4.
  • 5.
  • 6. “ [...] embora a cultura exista no posto comercial, no forte da colina ou no pastoreio de carneiros, a antropologia existe no livro, no artigo, na conferência, na exposição do museu ou, como ocorre hoje, nos filmes”. (GEERTZ, p.11)
  • 7. Torre Eiffel Georges Seurat Onde ver: Young Memorial Museum, San Francisco, EUA Ano: 1889 Técnica: Óleo sobre tela Tamanho: 24,1 cm × 15,2 cm
  • 8. Família de um Chefe Camacã, Preparando-se para Festa 1820 | Debret Bico-de-pena e lápis sobre papel 22,5 x 35,4 cm Museus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
  • 9. “Se a etnografia é uma descrição densa e os etnógrafos são aqueles que fazem a descrição, então a questão determinante para qualquer exemplo dado [...] é se ela separa as piscadelas dos tiques nervosos e as piscadelas verdadeiras das imitadas.” (GEERTZ, p.12)
  • 10. • O autor afirma que a antropologia seja o caminho para reduzir o estranhamento surgido com as diferenças culturais e expandir não apenas comunicação, mas o entendimento e compreensão entre os homens. • Para Geertz, a cultura é o contexto no qual ocorrem os comportamentos e ações sociais. A descrição dos comportamentos, sendo feita por antropólogos, são de segunda, terceira mão, etc., e tratam-se de ficções (algo construído, modelado).
  • 11. • O significado do comportamento varia de acordo com o contexto em que ocorre. • A descrição antropológica não é a cultura em si.
  • 12. Parte V O foco da interpretação cultural
  • 13. Sobre o registro antropológico A coerência não pode ser o principal teste de validade de uma descrição cultural Nada contribui mais para desacreditar a análise cultural do que a construção de representações impecáveis de ordem formal A interpretação não deve repousar na elegância das palavras, na inteligência do autor ou nas belezas euclidianas, mas sim no cerne do que nos propomos interpretar.
  • 14. Cartaz e cena do filme Ensaio sobre a Cegueira (2008), reprodução do livro de José Saramago. Dirigido por Fernando Meireles.
  • 15. O etnógrafo anota o discurso social, fixa-o em uma forma inspecionável. Ele observa, registra e analisa.
  • 16. “A análise cultural é (ou deveria ser) uma adivinhação dos significados, uma avaliação das conjeturas, um traçar de conclusões explanatórias a partir das melhores conjeturas.” (GEERTZ, p.12) “Lévi-Strauss certamente está certo ao dizer que a antropologia cultural não segue o mesmo modelo que as ciências naturais, mas eu acredito que seja empírica, sistemática, tente desenvolver argumentos que possam ser ao menos confrontados com provas.” (GEERTZ, 2001)
  • 17. • A coerência e a beleza ou formalidade das palavras não devem ser os quesitos de validade de um discurso. • O trabalho do etnógrafo consiste em não apenas escrever o acontecimento, o comportamento ou o discurso social em si, mas interpretar e registrar o significado de tais ações.
  • 18. Parte VI A relevância do contexto e do espaço na pesquisa antropológica
  • 19. Características da descrição etnográfica por Geertz: Ela é interpretativa; O que ela interpreta é o fluxo do discurso social; A interpretação envolvida consiste em fixar o “dito” em formas pesquisáveis; Ela é microscópica
  • 20. “A noção de que se pode encontrar a essência de sociedades nacionais, civilizações, grandes religiões ou qualquer que seja, resumida e simplificada nas assim chamadas pequenas cidades e aldeias ‘típicas’ é um absurdo visível.” (GEERTZ, p.15)
  • 22. A Osterbaum (árvore da páscoa) é montada com galhos secos, que lembram a frieza e morte do sepulcro de Jesus, junto a cascas de ovos coloridas, representando a alegria da vida na ressurreição de Cristo.
  • 23. “Nós lidamos com uma gama maior de sociedades, não apenas as chamadas sociedades simples. Lidamos com sociedades grandes, como a Índia, o Brasil, o que torna as coisas mais complexas do que quando nós ficávamos restritos a apenas povos tribais.” (GEERTZ, 2001)
  • 24. O local do estudo não é o objeto do estudo Os antropólogos podem não apenas estudar as aldeias, mas nas aldeias
  • 25. VÍDEO Trailer Muito além do Peso: https://www.youtube.com/ watch?v=2Hx5WUudWw0
  • 26. “Os achados etnográficos não são privilegiados, apenas particulares.”
  • 27. “É verdade que quase todas as interpretações antropológicas tenham por fim um resíduo de incerteza, de vagueza, indeterminação, contingência.” (GEERTZ, 2001)
  • 28. “Acho que a corrente de texto depois de um tempo se entrega, porque tudo o que sabemos de importante ou interessante já foi dito, ao menos naquela linha em particular, não como um todo, mas nessa linha, sim. Então as coisas são abordadas de modo diferente, e vai-se em frente com isso. Não creio que haja um ponto final óbvio que diga exatamente onde é o fim da interpretação, mas, depois de um tempo, depois de 4.000 discussões acerca da briga de galos, quem sabe baste.” (GEERTZ, 2001)
  • 29. • Defendendo a singularidade das culturas, o autor afirma que não devemos abranger a cultura de uma pequena região para áreas maiores e vice-versa. • O local do estudo do antropólogo não é necessariamente o objeto do estudo.
  • 30. Parte VII As condições da teoria cultural: devida abordagem e devido foco
  • 31. A dificuldade em se elaborar uma teoria interpretativa está no fato de que elas tender resistir a modos de avaliações mais diretos, uma vez que a interpretação pode ser obstruída pelos pontos de vista de quem as elabora ou ser validada apenas por ela própria. Apesar das imposições, o etnógrafo deve estar ciente de que qualquer tentativa de avaliar o objeto antropológico de forma que o distancie de sua proposição original não passará de uma caricatura distorcida.
  • 32. Para um campo não exato como este, uma conceituação sem obstruções, que traduza empiricamente os componentes estudados, é de fato difícil de ser arquitetada, se não impossível. O que não faz com que as conclusões conseguidas aqui tenham menos valor do que resultados retirados de assuntos mais exatos e diretos.
  • 33. Ciente disso, o antropólogo reconhece a improbabilidade de uma teoria cultural empírica. Seu trabalho, portanto, não é consolidar teorias definitivas, mas insinuá-las. “Estamos reduzidos a insinuar teorias pois falta-nos o poder de expressá-las.”
  • 34.
  • 35. Primeira condição para a teoria cultural: ela não é a sua própria dona. Outro fato que dificulta a formulação de um conceito cultural global está na necessidade de manter as abordagens próximas ao solo da pesquisa e menos abstratas. Isso ocorre devido a um obstáculo existente entre vivenciar um universo cultural distinto e tentar analisá-lo e compreendê-lo. Tal interferência não pode ser evitada, e quanto mais abstrato o desenvolvimento teórico se torna, mais tensa se firma essa obstrução.
  • 36. Essas implicações, no entanto, fazem com que o conceito de cultura cultive uma expansiva quantidade de compreensões, uma vez que o conhecimento antropológico não acumula achados, mas aprofunda suas abordagens. A antropologia não põe pontos finais em suas teorias, mas as avança incisivamente. Quanto mais incisivo um estudo for em relação aos seus anteriores, mais refinado ele se torna. Ao contrário de outras ciências, ela não se apoia nos ombros de teorias anteriores tanto quanto corre lado a lado com elas.
  • 37.
  • 38. O ensaio, é então o melhor gênero possível de apresentação para a interpretação etnográfica, uma vez que tratados e leis são superficiais na área. Não há tal coisa como uma “Teoria Cultural Elementar”, pois não apenas a natureza do objeto estudado não disponibiliza margens para estas consolidações, como a própria metodologia de pesquisa interfere nesta limitação: os achados antropológicos não são gerais, mas específicos (o que contradiz os requerimentos para a constatação de uma regra).
  • 39. Além de improvável, Geertz ainda ressalta que a busca por “leis culturais” é desnecessária, pois uma vez que o objetivo do pesquisador não é codificar regularidades, mas descrever os elementos minuciosamente, estas declarações são geralmente vazias e irrelevantes.
  • 40. Ou seja: O antropólogo não generaliza através dos fatos, mas dentro deles. Isso se chama abordagem clínica, na qual se busca enquadrar significantes de uma forma inteligível no lugar de subordinar um conjunto de observações à uma lei ordenadora.
  • 41. Segunda condição para a teoria cultural: ela não é profética. Se uma abordagem clínica é utilizada, os eventos avaliados serão referentes a assuntos já sob controle, e não para projetar experimentos ou deduzir estados futuros. No entanto, a teoria não precisa (e não deve) estar presa no passado. Ela pode não ser profética, no entanto, a boa teoria é atemporal.
  • 42. Portanto, em antropologia, teorias passadas são constantemente reaproveitadas e refinadas, principalmente pois muitas delas estão cientes que devem procurar a atemporalidade. Caso elas falhem neste processo, perigam ser descartadas assim que o contexto que as suporta deixar de existir.
  • 43. Além disso, o foco do pesquisador também é recortar as estruturas sociais que compõem os atos culturais e construir um diagrama dessas ações, que se destacam dos demais comportamentos humanos, para estudá-las.
  • 44. A etnografia se encarrega de fornecer pistas sobre qual o papel da cultura na vida humana, retirando grandes conclusões de detalhes. “(...) remodelar o padrão das relações sociais é reordenar as coordenadas do mundo experimentado. As formas da sociedade são a substância da cultura.” (GEERTZ, p. 20)
  • 45. Portanto, sabendo que a construção de teorias empíricas é improvável, o antropólogo deve se alertar de que a sua pesquisa não se equivale a essência daquilo que ela se dirige, além de que a teoria não deve servir para profetizar regras. O papel da antropologia é designar qual a importância da cultura na vida humana.
  • 46. Parte VIII A pesquisa antropológica tem um fim?
  • 47.
  • 48. A etnografia é, por natureza, uma ciência que não determina fins em suas explorações. Isso a torna um exercício semelhante ao da filosofia, aonde está no processo da busca pelas respostas que se encontra o seu motivo, e não nas respostas em si; pois estas escapam de seu perseguidor. A análise cultural é intrinsicamente incompleta, e quanto mais profunda, mais incompleta.
  • 49. Portanto, compreender um conceito semiótico da cultura é entender que ele é “essencialmente contestável”.
  • 50. A progressão da antropologia se dá mais devido ao debate travado entre os seus integrantes do que por um consenso de ideias. Uma vez que não existem conclusões definitivas a serem apresentadas, o avanço desta ciência está relacionado ao refinamento do debate.
  • 51. Apesar desta interferência entre a resposta e o estudo, o pesquisador deve resistir tratar os seus temas com subjetividade e/ou intuição. Ele deve, na medida do possível, aproximar a sua abordagem o mais próximo que conseguir do concreto. Para facilitar esse processo, o etnógrafo pode direcionar sua incisão aos aspectos da realidade cotidiana, inspecionando os elementos que se fizeram necessários dentro do contexto humano.
  • 52. Nacionalismo, identidade, ideologia, arte, religião, ciência, lei, moralidade, violência, natureza, ética e sociabilidade são exemplos de assuntos que não distanciam o pesquisador de um contexto mais concreto de vida humana.
  • 53. Em suma, a pesquisa é contínua e a sua qualidade não está em suas conclusões, mas em seu discurso. A antropologia serve como um inventário de legendas sobre o que é significativo para a espécie humana, fornecendo assim um catálogo de interpretações para que possamos cada vez mais passar a compreender a nós mesmos.
  • 54. “A vocação da antropologia interpretativa não é responder as nossas questões mais profundas, mas colocar à nossa disposição as respostas que outros deram (...) e assim incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem falou”. (GEERTZ, p. 21)
  • 55. SUMARIZAÇÃO GERAL Gueertz defende que, a partir da abordagem semiótica da cultura, deve-se adotar a “descrição densa”(que preza a individualização dos elementos estudados, discorridos detalhadamente) como modelo prioritário para o registro e a análise antropológica, aonde deve-se dar atenção à aos significados das ações, e não apenas registrar os acontecimentos. Em seu texto, é possível assimilar toda a dificuldade envolvida no processo da interpretação cultural e sabendo disto, ele define quais são as formas equivocadas de se analisar a cultura, quais devem ser os focos do pesquisador e sobre quais pontos o analisador deve tomar cuidado durante o estudo. Alerta que o registro etnográfico não deve ser tratado como certeza universal pois ele se equilibra em parâmetros muito relativos. Dessa forma, o antropólogo deve estar ciente de que sua teoria não é capaz de sintetizar a essência empírica da cultura observada e que toda pesquisa está sujeita a reelaboração eterna.
  • 56. CONCLUSÃO A definição do conceito cultural denota uma complexa metodologia, portanto, para evitar com que a análise se se perca, o antropólogo pode se auto avaliar a partir dos conceitos dissertados por Geerts. A consolidação da teoria antropológica é complexa, mas o pesquisador deve priorizar o que é essencial, não se deixar enganar pelos fatores que relativizam a conclusão e, presando dissecar profundamente cada questão encontrada, construir uma abordagem objetiva e lógica. A teoria é contínua, portanto, ela não deve visar os “ponto finais” de cada questão mas a qualidade de seu conteúdo, pois assim, a discussão acerca da teoria poderá ter a sua continuidade prolongada ao ponto de torná-la atemporal.