O documento discute a decisão de uma associação de avicultura brasileira de parar de divulgar dados e informações sobre a indústria. O autor argumenta que essa "ode à obscuridade" é contraproducente e vai contra a tendência de maior transparência e troca de conhecimento entre empresas concorrentes. A falta de informação pode levar à especulação e desinformação no setor.
Conferência SC 24 | Data Analytics e IA: o futuro do e-commerce?
A ode à obscuridade na avicultura brasileira
1. A Ode à Obscuridade
Por Osler Desouzart
osler@terra.com.br
Em 2005, um famoso relatório de uma consultoria publicou uma comparação entre as diferentes
marcas de automóveis fabricados nos Estados Unidos. Ali, registravam-se indicativos que seriam
suficientes para despertar os grandes fabricantes americanos em relação à maior eficiência dos
fabricantes japoneses instalados na América do Norte.
Algumas das comparações indicavam que certo fabricante americano tinha suas vendas de veículos
lucros decrescendo 4,3% contra o aumento de 10,1% do fabricante japonês. O primeiro, que
chamaremos de Joe detinha 26% do mercado contra 13% do segundo que chamaremos de Tato e
produzia 3 vezes mais que este, o que à luz de custos marginais decrescentes parecia ser uma
garantia de êxito. Entretanto, Joe perdia dinheiro, usava 85% da sua capacidade instalada, levava
34,3 horas para fabricar um carro com um ganho de produtividade de 2,5% em relação ao ano
anterior.
Enquanto isso, Tato usava 107% da sua capacidade graças a horas extras, fabricava um carro em 27,9
horas com um ganho de produtividade de 5,5% no mesmo período. O salário por hora de um
operário de linha da Joe era 16% maior e seu custo de mão de obra horário era 53% maior que o de
Tato. Os néscios simplistas gritarão que Tato explora o trabalhador, mas, sem querer provocar AVC
em ninguém, a maior e crescente produtividade de Tato contradiria esse raciocínio de quem
estacionou suas idéias no século passado.
Qual foi então a providência que Joe tomou? A lógica seria contratar o mestre Falconi e outros
gênios que estão aí para trazer as empresas para o amanhã. Mas como solução, adotaram a de não
mais dar dados à consultoria. O resultado dessa ode à obscuridade ou cultura da ignorância pode ser
facilmente avaliado pela crise de 2009, onde vemos quem precisou ou não do governo para evitar
fechar as portas.
A essa mentalidade retrógrada Peter Drucker contrapõe sua assertiva de que vivemos “a era da
competição baseada no conhecimento”. Progredirá quem mais conhecer e Arie de Geus completa
com “a fonte básica de toda vantagem competitiva reside na capacidade relativa de cada
corporação em aprender mais rápidamente que seus competidores”
Numa era em que a informação é a alma do negócio regredimos na avicultura a um culto ao
primitivo, resgatando das cinzas o obscurantismo de “o segredo é a alma do negócio”. Sua primeira
manifestação surgiu no relatório anual da UBA de 2008 que interrompeu a publicação da lista das
empresas por cabeças abatidas.
A retroação não é uma manifestação isolada, mas um processo e como tal não se detém na sua
primeira manifestação. Surge agora a não divulgação pela UBA dos dados relativos à nossa
avicultura em outubro, eivada de uma explicação que encontrei desrespeitosa a qualquer
inteligência média.
2. Não sei quem é (são) o autor ou autores dessa propagação da não informação. Tenho recebido as
indicações as mais variadas, pois, aprendam, quando não há informação vigora a especulação, a
desinformação, a manipulação, a defesas de agendas e a margem de manobra para que tenha
interesse em disseminar entre nós discórdia. Sem contar que já houve um europeu, seguramente
bem intencionado, que indagou o que os brasileiros teriam a esconder.
A avicultura brasileira cresceu com informações e com transparência. A UBA não se tornou
respeitada pela galeria de retratos dos ex-presidentes que parece ser o ponto alto de tantas
associações. Conquistou esse respeito através de ser uma referência para o setor e para todos nós
que fazemos parte da avicultura. O que dizia e os dados que divulgavam eram mais respeitados e
acatados que o de qualquer outra entidade, mesmo as oficiais. Mensalmente oferecia-nos o mapa
do caminho.
Sair dessa estrada, parodiando Churchill, não é o fim do começo, mas pode ser o começo do fim.