Este documento discute a cinomose, uma doença viral que afeta cães. Ele descreve a etiologia, epidemiologia, patogenia, sinais clínicos, diagnóstico e tratamento da doença. A cinomose é causada por um morbilivírus e é transmitida através do ar ou contato. Ela causa febre, tosse, vômitos e diarreia em cães jovens, e problemas neurológicos em cães mais velhos. O diagnóstico é baseado nos sintomas e exames complementares
1. V e t e r i n a r i a n D o c s
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Agentes Virais de Cães e Gatos
Cinomose
Etiologia
Vírus da família Paramyxoviridae, subfamília Paramyxovirinae e gênero
Morbilivirus;
-Características:
-Vírus grande;
-RNA;
-Envelopado;
-Sensível ao calor, ressecamento, detergentes, solventes lipídicos e
desinfetantes;
Epidemiologia
Animais de todas idades são afetados, sendo comum à cães jovens não vacinados
(3 a 6 meses de idade) e cães idosos (acima de 6 anos de idade, causando a encefalite
do cão idoso). A encefalite do cão idoso sugere que o animal apresentava imunidade
contra o vírus e que este pode ter escapado da resposta imune (imunossupressão),
causando a doença tardiamente.
Afeta cães, raposas, coiotes, lobos, furões, lontras, guaxinins, quatis e felídeos
selvagens;
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Transmissão
Aerossóis, secreções e excreções corporais e transplacentária. A maior
oportunidade para disseminação ocorre onde os cães são mantidos em grupos (Ex.: lojas
de animais, canis, abrigos de animais e colônias de pesquisa). A eliminação viral cessa
geralmente após 1 a 2 semanas após a recuperação do paciente.
Patogenia:
Forma Jovem
Tem-se exposição aerógena a qual causa infecção de tonsilas e de linfonodos
brônquicos. Em seguida, infectam-se os tecidos linfóides sistêmicos. Tem-se viremia
(entre 6 a 9 dias), ocorrendo o primeiro pico febril, ocorrendo então a disseminação para
outros tecidos epiteliais e para o SNC. Acontecendo uma resposta imune rápida e
efetiva, ocorre recuperação completa e eliminação do vírus com ausências de sinais
clínicos ou estão presentes suavemente e se a resposta imune falhar o resultado é a
disseminação rápida e abrangente do vírus para todos os tecidos epiteliais, resultando
em sinais multissistêmicos (2 a 3 semanas pós-exposição), ocorrendo o segundo pico
febril. O vírus da cinomose causa uma supressão acentuada da imunidade mediada pelas
células B e T, esgotamento linfóide, linfopenia periférica e atrofia tímica.
Sinais Clínicos
Forma Jovem
Geral: febre (39,5ºC – 41ºC bifásica), mal-estar, anorexia, depressão
Infecção do Ambiente Uterino: natimortos, aborto, síndrome do definhamento do filhote
no período neonatal e SNC dos filhotes ao nascer;
Sistema Gastrointestinal: vômito e diarréia do intestino delgado;
Sistema Respiratório: corrimento nasal mucóide a mucopurulento, espirro, tosse com
sons broncovesiculares aumentados, crepitações e dispnéia. Geralmente são sinais
associados a infecção bacteriana secundária, principalmente por Bordetella
bronchiseptica.
Dentes: hipoplasia do esmalte dentário;
Hematologia: linfopenia e trombocitopenia;
Sistema Tegumentar: erupção cutânea, progredindo para pústulas, especialmente no
abdômen e hiperqueratose de coxins e espelho nasal.
Sistema Ocular: retinocoroidite, lesões em medalhão, neurite óptica, ceratoconjuntivite
seca e corrimento ocular mucopurulento;
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Sistema Nervoso: paresia, ataxia, sacudida de cabeça, nistagmo, déficits em nervos
cranianos, cabeça pendente, hipermetria, convulsões generalizadas, depressão, cegueira
unilateral ou bilateral, vocalização similar à estado de dor, rigidez muscular e
movimentos rítmicos dos músculos;
Forma Adulta (encefalite do cão idoso)
Sistema Nervoso: depressão, andar em círculos, comportamento de pressionar a cabeça
contra objetos;
Sistema Ocular: déficit visual e deficiência de ameaça bilateral.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica: o diagnóstico da cinomose geralmente baseia-se
nos sinais clínicos típicos em um cão jovem que tenha uma história de vacinações
inadequadas e possibilidade de exposição ao vírus.
-Exame Físico;
-Exames Complementares;
-Hematologia: linfopenia e leucopenia precoce, posteriormente
leucocitose neutrofílica;
-Radiografia: radiografia torácica, verificando-se pneumonia intersticial
ou alveolar;
-Análise do LCR: verifica-se elevação de proteínas e contagem celular;
-Virologia:
-Presença de corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos
(Corpúsculos de Lenz) em células sanguíneas periféricas, células epiteliais ou por
biópsia;
-Imunofluorescência;
-Isolamento viral;
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Tratamento
-Sintomático:
-Terapia com Antibióticos de amplo-espectro para combate e prevenção
de infecções secundárias
-Umidificação das vias aéreas;
-Vômitos: administração antieméticos;
-Pneumonia: administração de expectorantes e broncodilatadores;
Metoclopramida: 0,2 – 0,4mg/kg TID : VO, IM ou SC;
Citrato de Maropitant (Cerenia - Pfizer
®
): 1mg/kg (1ml/10kg) SID: SC;
Amoxicilina com Clavulanato : 12,5 - 25mg/kg BID : oral
Enrofloxacina: 5 – 20mg/kg SID : IM, VO ou EV
Tetraciclina: 15-20mg/kg TID : VO ou 4,4 – 11mg/kg TID : IM ou EV
Cefalexina: 30mg/kg : BID or TID : oral
Teofilina: 10 - 25mg/kg BID : VO
Aminofilina: 6 – 10mg/kg TID/QID : VO, IM ou EV
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-Diarréia: administração de analgésicos, antiespasmódicos e protetores de
mucosa.
-Convulsões: anticonvulsivos
-Enfermagem: olhos e nariz mantidos limpos, suporte nutricional e
terapia com fluídos.
-Terapia com fluidos (ver artigo sobre reposição hidroeletrolítica na seção de
Clínica Médica de Cães e Gatos)
Difenoxilato: 0,1 – 0,2mg/kg TID/QID : VO (analgésico narcótico)
Dipirona + Escopolamina: 25mg/kg TID : IM ou EV (analgésico/antiespasmódico)
Subsalicilato de Bismuto: 0,5-1ml/kg TID/QID : VO (anti-secretório/protetor)
Fenobarbital: status epilepticus 10-20mg/kg EV
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Vacinação
Primeira dose (Vanguard HTLP 5/CV-L ou Vanguard Plus - Pfizer®
) em filhotes
com idade entre 6 e 8 semanas de idade e dois adicionais reforços com intervalo de 21
dias entre cada aplicação;
É recomendada revacinação anual com dose única. Outros esquemas de
vacinação podem ser adotados a critério do Médico Veterinário, com base no estilo de
vida do animal e o risco de exposição à doença
*A vacinação não é tão eficaz se a temperatura corpórea atingir 39,8ºC ou mais.
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Referências Bibliográficas
NELSON. R.W., COUTO G.C. Medicina Interna de Pequenos Animais. 2 ed. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2001.
BICHARD, S. J., SHERDING R.G. Clínica de Pequenos Animais. 1ed. São Paulo:
Roca, 1998.
ETTINGER S. J. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 3 ed. São Paulo: Manole,
1992.
MARK P. G. Manual Saunders: Terapêutico Veterinário. 2. Ed. São Paulo: Editora
MedVet, 2009.