Artigo derivado de pesquisa coordenada pela GRI e realizada pela JVE Consultoria e Pulsar - com patrocínio da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional SIDA em 2019. Com o objetivo de entender como era o fluxo de informações ESG obtidas pela aplicação das Normas GRI na empresa. Mais especificamente como elas chegam ao nível decisório, estratégico.
1. P E R E N I D A D E
D O S N E G Ó C I O S
N O S É C U L O
X X I
Conselho de Administração tem o
dever fiduciário de zelar pela
perenidade do negócio e essa
tarefa inclui debruçar-se sobre
aspectos ambientais, sociais e de
governança, bem como os riscos e
oportunidades relacionados.
Vivemos tempos de rápidas mudanças
em um mundo globalizado e
interconectado, de modo que as
organizações precisam considerar uma
gama cada vez mais ampliada de
fatores no seu planejamento e tomada
de decisão. Esses fatores incluem
macrotendências socioeconômicas
ambientais diversas que vão desde
mudança climática, instabilidade social,
desemprego, terrorismo até
consequências adversas do avanço da
tecnologia digital, riscos globais
apontados pelo Fórum Econômico
Mundial em seu relatório anual de 2020.
Diante disso, considerar aspectos
ambientais, sociais e de governança
(ASG) no planejamento e tomada de
decisão se torna fundamental para
assegurar a solidez e perenidade dos
negócios no curto, médio e longo prazo.
Por Gláucia Térreo,
Maria Veloso e
Juliana Lopes
Março | 2020
2. Como guardião da boa gestão
e da perenidade do negócio, o
Conselho de Administração
precisa tomar conhecimento
e se apropriar de informações
relacionadas a aspectos ASG.
Esse foi um dos
apontamentos de uma
pesquisa encomendada pela
Global Reporting Initiative –
GRI que ouviu 18 profissionais
de sustentabilidade e
conselheiros de administração
de empresas brasileiras de
diversos setores.
As conclusões dessa
pesquisa estão disponíveis
no estudo “ASG como
estratégia para perenidade
dos negócios no século XXI:
perspectivas de profissionais
de sustentabilidade e
conselheiros de
administração”, lançado em
outubro de 2019 no GRI
Summit: a visão dos
stakeholders
Um dos apontamentos da
pesquisa é que não basta ter
acesso a informações e
relatórios sobre
sustentabilidade. Os
conselheiros de
administração precisam ter
conhecimento próprio sobre
aspectos ASG para serem
proativos e capazes de
confrontar dados e analisar
como esses aspectos podem
se materializar em riscos e
oportunidades para o
negócio.
A pesquisa mostrou também
que para o entendimento de
aspectos ASG como
estratégicos por parte dos
conselheiros de administração
é necessário uma mudança
de paradigma e normalmente
resulta da pressão de
stakeholders externos, sendo
investidores o grupo com
maior poder de influência.
Cada vez mais investidores
desempenham papel central
nas questões climática, por
interesse em "de-risk",
pressionando por
transparência, divulgação e
apoiando os planos de
descarbonização corporativa
de longo prazo.
A pressão tem ocorrido,
sobretudo,
depois de eventos
catastróficos como as de
Mariana e Brumadinho, que
resultaram justamente por
deficiência no processo de
gestão de riscos e pouca
apropriação dos tomadores de
decisão em diferentes níveis
das companhias
principalmente em relação a
riscos territoriais e
relacionados aos aspectos,
ambientais, sociais e de
governança.
As experiências
compartilhadas pelos
participantes da pesquisa
mostram que quando o risco
se materializa em impacto
negativo, como no caso desses
eventos catastróficos, há
importante lições aprendidas,
que direcionam para uma
maior integração dos aspectos
ASG nas decisões e estratégia.
Um olhar holístico sobre os
riscos do negócio mostra
cenários que prepara para as
crises “remotas” ou de baixa
probabilidade mas com alto
impacto.
Não há dúvida que uma
gestão de riscos holística e
estratégica nas empresas tem
o potencial de antecipar esses
riscos e preparar a
organização a partir de ações
mitigadoras, adaptativas e
emergenciais aos riscos e, ao
mesmo tempo buscar
oportunidades. Para isso, é
crucial que a primeira linha
de defesa, formada pela
diretoria executiva e
operacional, tenha essas
questões como prioridade,
bem como estejam mais
atentas ao que acontece em
campo (chão de fábrica). Ao
mesmo tempo, se o Conselho
de Administração tiver uma
visão estratégica sobre esses
temas ASG pode demandar e
confrontar informações, uma
vez que seu papel é zelar pela
perenidade do negócio,
enquanto executivos muitas
vezes têm foco maior nos
resultados de curto prazo.
Março | 2020
3. Em resumo, os resultados
dessa pesquisa apontam que
a conexão de aspectos ASG
com o negócio ainda
depende de processo de
aprendizado de processo de
aprendizado por parte dos
Conselhos e da própria
organização como evolução
da sua curva de maturidade.
Os conselheiros têm um
importante papel de entender
as transformações globais, os
riscos e oportunidades para os
negócios, bem como conduzir
estratégias e compromissos
que combinem os interesses e
as necessidades de um
universo mais amplo de partes
interessadas e críticas para
organização (incluindo
shareholders e o ambiente) e
em garantir um
gerenciamento de riscos que
considere aspectos ASG, além
de reduzir usos e impactos a
fim de proteger e integrar
valor e assim assegurar a
perenidade e sustentabilidade
do negócio.
Para isso, os questionamentos
dos conselheiros e das partes
interessadas precisam ser
acolhidos, pois esse rol
ampliado de visões contribui
com a gestão de riscos e
oportunidades,
proporcionando maior
resiliência ao negócio, à
economia e à sociedade como
um todo. Isso nada mais é do
que a velha e boa gestão:
ética, transparente e
comprometida com o negócio
e a sociedade
Autoras
Executiva sênior com carreira internacional e
experiências em estratégia de negócios globais.
Especialista em gerenciamento de riscos e
fatores ESG, mais de 29 anos de experiência
desde o “chão de fábrica” até o conselho de
administração. É membro de conselhos e
comitês desde 2007. Cofundadora e
CEO/Advisor da JVE Consultoria, Fundadora da
Mini Fazenda Urbana e Idealizadora do
Degustando Saberes –Negócios com foco para o
futuro e na construção de redes que suportem o
crescimento e a sustentabilidade do
ecossistema de negócios, incorporando
pensamento disruptivo, visão estratégica de
oportunidades, gerenciamento eficaz de riscos e
inovação em estratégias éticas de negócios..
Maria Veloso
CEO JVE Consultoria
Março | 2020
Head of GRI Regional Hub in Brazil. Com16 anos
de experiência no campo de ferramentas de
gerenciamento de sustentabilidade (pesquisa,
desenvolvimento e aplicação), incluindo 5 anos
no Instituto Ethos e mais de 12 anos como chefe
do hub regional da Global Reporting Initiative
(GRI) no Bras
Gláucia Térreo
Diretora GRI
Gerente ambiental e jornalista, com MBA em
Marketing e mestrado em Administração de
Empresas. Trabalha há 13 anos em projetos
ambientais no Brasil e na América Latina. Tenho
experiência na gestão de organizações do
terceiro setor, captação de recursos, estratégias
de comunicação e políticas públicas para
integrar questões ambientais em decisões
empresariais e políticas. Trabalhou como diretor
executivo do CDP por 8 anos.
Juliana Lopes
Fundadora da
PulsarCom