Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Uma abordagem psicológica do poder e controle social
1. PODER - UMA ABORDAGEM PSICO-DINÂMICA
Marcos Goursand de Araújo
Tese apresentada para concurso de
Professor Titular de Psicologia à
2. Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal de
Minas Gerais.
Belo Horizonte, julho de 1984
Aos desprovidos de:
bens, os empobrecidos;
valor, os humilhados;
razão, os enlouquecidos;
saber, os incultos;
direitos, os injustiçados;
autonomia, os submetidos;
paz, os afligidos;
liberdade, os oprimidos.
Enfim, a todas as vítimas dos abusos do poder.
3. ÍNDICE
- APRESENTAÇÃO
- SUMÁRIO
- O FENÔMENO PODER NUMA ÓTICA PSICOLÓGICA
- Conceituação
- Tipos de poder
- Características do poder
- PSICODINÂMICA DO PODER
- PODER E CONTROLESOCIAL
- Controle social: seu significado
- Instituições: agentes de controle social
- Controle social através de crenças e mitos
- Sanidade social: um mito para o controle social
- PALAVRAS FINAIS
- REFERÊNCIAS
4. APRESENTAÇÃO
O fenômeno poder tem recebido pouca atenção da Psicologia, o que nos parece
estranho, de vez que ele está presente em praticamente todas as relações humanas. É somente a partir
da década de 60 que encontramos, especialmente nos trabalhos dos psicólogos sociais americanos e
notadamente em French e Raven, uma preocupação mais sistemática com o assunto. Esta situação nos
parece ser uma decorrência de mudança do posicionamento dos psicólogos que, de uma orientação
mais "científica" e tecnocrática, motivada pela necessidade de afirmar o poder de sua ciência, estão
podendo recentemente, admitir posturas mais humanísticas e políticas.
Tal processo vem ocorrendo de modo acelerado no País, onde os psicólogos estão
cada vez mais assumindo seu papel de agentes de mudança social.
Embora o tema nos tenha preocupado nestes últimos 20 anos, em que os abusos do
poder constituíram a tônica dominante no País, foi somente a partir de nosso programa de pós
doutorado na Universidade da Califórnia em 1981 que começamos (e ainda estamos longe de
terminar) a compreendê-lo em suas implicações psico-dinâmicas mais profundas. A esperança lá
alimentada, de continuar desenvolvendo o tema e produzir trabalhos voltados para a nossa realidade,
foi se arrefecendo diante da pressão das condições econômicas da carreira docente e do desestímulo à
pesquisa que tem caracterizado a vida acadêmica de nossas universidades.
Foi com a perspectiva do concurso da UFMG que pudemos retomar o trabalho e
tentar dar-lhe uma forma de apresentação no curto espeço de tempo disponível de poucos meses, com
5. o que queremos justificar as suas falhas. Estaremos satisfeitos se o mesmo alcançar um dos seus
propósitos, qual seja o de estimular discussões e pesquisas que possam originar novos trabalhos para
ajudar a preencher a lacuna de publicações sobre o tema em nosso meio.
Desejamos aqui expressar nossos agradecimentos à CAPES, que nos concedeu a
bolsa de estudos e a todo o "staff" do "Spanish Speaking Mental Health Research Center" da
Universidade da Califórnia, em Los Angeles, especialmente nas pessoas dos Drs.. Amado M Padilla e
Gerardo Marin que, com sua afetuosa acolhida e suas críticas e sugestões, proporcionaram condições
para realizarmos nosso programa de pós-doutorado.
Aos colegas Jaime R. Doxsey e Marlene , da Universidade do Espírito
Santo, o nosso obrigado pelos seus comentários.
SUMÁRIO
Poder, no presente trabalho, é considerado nos seus aspectos psicológicos. A
complexidade do tema começa com a definição do termo, que tem sido tratado diferentemente por
etólogos, psicólogos, sociólogos e cientistas políticos. Duas parecem ser as orientações básicas: uma
que vê o poder como influência pessoal na dinâmica das relações humanas e outra que o situa em
têrmos de dominação/submissão.
São apresentados os cinco tipos de poder, segundo Raven e Zubin, e propostas
algumas de suas propriedades, baseadas no fato de que toda relação humana é relação de poder.
Tenta-se a seguir, uma compreensão da dinâmica psicológica do fenômeno, tanto
em têrmos de seu exercício normal quanto de suas motivações compulsivas.
Algumas orientações são especialmente eleitas para nossa abordagem,
destacando-se as de Freud, M.Klein, Fromm, Adler e Horney.
Posteriormente, discute-se as implicações do controle social, principalmente o
exercido pelas instituições na manutenção dos sistemas vigentes de poder. Ressalta-se a influência dos
mitos no processo de controle social, destacando-se o mais generalizado deles, o da sanidade da
sociedade.
Conclui-se que o poder é uma função social que tende a se cristalizar em relações
de desigualdade e que somente através de seu exercício equilibrado e democrático poderá trazer
benefícios àqueles para os quais é exercido.
8. Os 6 Ps da linguagem do poder: -
a participação no poder possibilita ao seu portador a
posse de privilégios.
Fisicamente, o homem é um dos mais frágeis e desprovidos dos seres. Quando
nasce é inteiramente dependente. Enquanto os animais se tornam aptos à sobrevivência, buscando
comida, água e abrigo, tão logo desmamam, com o ser humano isto só acontecerá muito mais tarde.
Possivelmente por ser tão frágil e impotente, mas dotado de um célebro
privilegiado, o homem procurou superar suas deficiências criando meios para suprí-las, os
instrumentos. Assim, a partir do momento em que o primeiro humanóide descobriu que podia usar um
pedaço de pau ou de osso para caçar e se defender, um novo universo se abriu para ele - o homem
deixou de ser um mero sujeito dos fenômenos naturais e adquiriualgo novo, o poder - e daí, até chegar
aos sofisticados engenhos modernos foi uma rápida etapa (em termos de história de vida do planeta).1
Foi provavelmente a partir daquele momento que o homem
1 Esta imagem é maravilhosamente retratada no filme "2001 - Uma
Odisséia no espaço".
9. começou a acalentar seus sonhos de poder: poder sobre os seus
competidores, sobre a netureza e quiçá o mais ambicioso de todos - o
poder sobre a morte, a imortalidade, que o teria levado a criar os
primeiros mitos e crenças. As próprias limitações humanas teriam sido
a grande mola propulsora de suas criações e inventos. Se o homem tivesse
asas para voar não precisaria ter inventado o avião, se tivesse a
resistência de um cavalo ou tigre não precisaria de automóvel e se fosse
possuidor da força de um elefante tornaria muitas máquinas
desnecessárias.
Ao criar os seus deuses, o homem os fez poderosos,
projetando neles os desejos de poder ilimitado. Crendo-os poderosos,
passou a buscar a sua proteção e procurou se identificar com eles, o
que tornava, de certo modo, também poderoso. Praticamente todas as
sociedades tiveram e têm os seus deuses.
Embora não se possa afirmar a existência de um "instinto
de poder", parece que o mesmo é uma necessidade muito antiga "primária",
no homem.
O fenômeno poder tem sido muito pouco estudado em
Psicologia, o que no entanto não minimiza a importância de sua abordagem
psicológica. Em 1957, na sua famosa biografia de Freud, Ernest Jones
afirmava que a compreensão da psicologia do poder era um dos problemas
a serem clarificados pela psicanálise, cuja solução poderia beneficiar
o mundo enormemente.
O grande caudal dos estudos sobre o tema têm sido as obras
de sociólogos e cientistas políticos. Uma das mais consistentes
abordagens psicológicas foi feita pela "American Academy of
Psychoanalysis" em sua jornada científica de 1971, cujo tema, "A
Dinâmica do Poder", foi editada por Masserman (1972).
Conceituações
Os problemas para a definição de poder já começam com as
dificuldades semânticas do têrmo. Enquanto na língua inglesa existem
os substantivos "power" - poder -, "might" - um grande poder, como o
poder divino - e os verbos "to can", para designar o ato de poder, no
sentido de habilidade, prerrogativa, capacidade ou possível
contingência, e "to may" no sentido de solicitar permissão ou indicar
possibilidade, nas línguas latinas existe uma única palavra, que se
aplica tanto aos verbos como aos substantivos, "poder" em português
e espanhol, "pouvoir" em francês. Embora sendo de frequantíssimo uso
comum, o têrmo tem recebido variadas interpretações nas áreas
biológicas, psicológicas, sociológicas e das ciências políticas.
10. O enfoque biológico tem se restringido aos aspectos da
adaptação dos indivíduos ao seu ambiente físico, onde eles, tanto
homens, como animais, usam da sua agressividade para assegurar
alimentação, direitos territoriais, acasalamento e proteção a si e à
prole. É o que encontramos, por exemplo, na obra de Lorenz (1963).
Na área psicológica notem-se duas orientações distintas:
a das Psicologias Individuais, notadamente a Psicanálise, e das
Psicologias Sociais.
As Psicologias do Indivíduo (Freud, Klein, Adler) têm-se
voltado mais para o tipo de poder que Arieti (1972 : 16-32) chama de
endocrático - o poder internalizado, que foi incorporado ou
introjetado, resultando em expressões da consciência, superego ou
preceito interno.
Freud praticamente reduziu o poder às formas de satisfação
irrestrita da libido. Elaborou suas teorias sobre os instintos de vida
e de morte influenciado em parte pela fisiologia e em parte por fatores
culturais de sua época, notadamente a repressão da era vitoriana e os
abaladores eventos da Primeira Guerra Mundial.
Melanie Klein preocupou-se especialmente com as fantasias
de onipotência da criança e do psicótico, destacando as formas de poder
parental sobre a criança.
Adler enfatizou o sentimento de inferioridade orgânica
como uma causa fundamental na formação da personalidade. Uma das
maneiras que o indivíduo usaria para compensar tal inferioridade seria
pela dominação dos demais.
Na Psicologia Social de Lewin, Cartwright, French e Raven,
poder é geralmente definido como "o ter peso e influência em assuntos
interpessoais" (Schimel, 1972 : 14).
Lewin (1951) definiu poder como capacidade para exercer
influência. Este aspecto do poder - influência - está relacionado com
a mudança psicológica. French e Raven (1960 : 759) definiram mudança
psicológica como qualquer alteração do estado de certo sistema, durante
algum tempo. Assim influência e poder são limitados à influência de
uma pessoa, produzida por um agente social, sendo este agente social,
uma outra pessoa, uma norma, um papel, um grupo ou parte de um grupo.
Para Cartwright (1959) o poder de A sobre B é igual à máxima força que
A pode induzir em B, menos a força máxima de resistência que B pode
mobilizar na direção oposta.
Tais conceituações enfatizam os aspectos positivos do
11. poder, considerando mais em têrmos de poder pessoal, isto é, uma série
de qualidades - liderança, habilidade para relacionamentos sociais,
força do ego, auto-estima, etc. - que habilitam o seu portador a exercer
domínio e influência sobre outras pessoas.
Nos trabalhos sociológicos e políticos observa-se uma
tendência ao estudo do poder como força que cerceia o indivíduo a partir
do exterior, como luta contínua pelo domínio sobre outras pessoas, que
em contraposição à terminologia de Arieti, poderíamos chamar de
exocrático.
Para Weber (1944 : 43) poder é a "probabilidade de impor
a si próprio dentro de uma relação, ainda que contra toda a resistência
e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade". O conceito
destaca a conotação de poder como imposição, força, punição, o que é
também enfatizado por Mills (1956), quando o define como a
"possibilidade conferida a um grupo, os detentores do poder, para
conseguir o que desejam, impedindo o outro grupo, os excluídos de poder,
de obter o que desejam". Além da conotação de força e dominação, Mills
divide, a grosso modo, o poder entre os que o têm e os que não o têm,
portanto criando duas camadas distintas, uma que ostentaria o poder
e outra que estaria isenta dele.
Na prática, esta dicotomia não se apresenta e o que se vê
são níveis diferentes de poder situados nas diversas hierarquias das
instituições, ou seja, os poderes estão localizados em diferentes
pontos da estrutura social, até chegar à base da pirâmide onde estão
aqueles que se encontram despojados dele.
Lasswell e Kaplan (1948 : 223) conceituam poder como
participação na tomada de decisões: G tem poder sobre H com respeito
aos valores de K se G participa na tomada de decisões que afetam as
políticas K de H.
Segundo Foucault, poder é uma relação transitória dinâmica
e concreta que estabelece o binômio dominação/submissão de forma
difusa, densa, complexa, nos vários níveis da estrutura social e na
multiplicidade de suas instituições.
... o poder deve ser analisado como algo que circula,
ou melhor, como algo que só
funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou
ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza
ou um bem. O poder funciona e se exerce em
rede. Nas suas malhas os indivíduos não só
circulam mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer
sua ação; nunca são alvo inerte ou consentido do poder, são sempre
centro de transmissão ... o poder não se
12. aplica aos indivíduos, passa por eles.
(Foucault, 1979 : 183).
Concordando com Foucault, Machado (1979 : XVIII) diz
que:
Não se explica inteiramente o poder quando se procura
caracterizá-lo por sua função punitiva ou repressiva.
O que lhe interessa basicamente não é expulsar os homens da
vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida
dos homens, controlá-los em suas ações para que seja
possível e viável utilizá-los ao máximo,
aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de
aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas
capacidades.
Com tal variedade de pontos-de-vista não é de se estranhar
que os estudiosos do tema não só divirjam entre si como às vezes parecem
estar falando de coisas diferentes com o mesmo nome.
O poder a que desejamos nos referir não é o da Psicologia
Social americana que na primeira metade do século esteve em grande parte
voltada para programas de treinamento em relações humanas e preocupada
com o aumento de produtividade nas suas organizações. Esta posição
mascara os problemas do desequilíbrio da repartição do poder no
contexto social e tenta simplificar a questão em têrmos de influência
interpessoal. De outra parte, as formulações sociológicas não parecem
ter dado a devida importância aos processos internos e às motivações
psicológicas que levam à busca do poder.
Ao invés de arbitrariamente optar por uma das definições
apresentadas ou propor outra nova, achamos preferível começar por
tentar responder a duas indagações iniciais:
1a.- Quais são as bases para o aparecimento dos tipos de
relações de poder e como elas se operam?
2a.- Quais são as características do fenômeno poder que
interessam a um enfoque psicológico?
Tipos de poder
Existem diferentes tipos de poder, que por sua vez podem
ser exercidos de maneiras diversas embora, na prática, esses tipos
apareçam mesclados. Podemos constatar que existem pelo menos três
formas distintas de exercício de poder:
1 - O poder do saber, cujo mecanismo básico é o de influência de um
13. indivíduo sobre os demais, por deter mais conhecimentos ou informações.
2 - O poder do sentir, que aparece nas relações afetivas e no contexto
das psicoterapias. Embora pouco considerado pelos cientistas sociais,
tal expressão de poder é capaz de adquirir uma força considerável.
Muitos eventos históricos foram desencadeados por situações de
envolvimento afetivo entre os protagonistas, tais como a Guerra de
Tróia ou a conquista do Egito por Marco Antônio.
3 - O poder do querer, exercido como domínio sobre os outros.
Raven e Zubin (1976) identificam cinco bases para o
estabelecimento de relações de poder interpessoal:
1 - Poder de recompensa, que deriva da crença, dos que recebem
a tentativa de influência, de que serão de alguma forma recompensados
se se submeterem ao agente. A força do poder de recompensa de A sobre
B, aumenta à medida que B percebe quais as vantagens que A pode
proporcionar-lhe, levando a aumentar a atração de B sobre A. Neste caso,
observa-se uma dependência de B para com A, ou seja, a pessoa só mudará
se perceber as recompensas que receberá.
2 - Poder coercitivo, deriva da crença de que a desobediência
de uma pessoa ao agente incidirá em uma punição. A força do poder
coercitivo se apoia na quantidade de punição que o agente possui sobre
uma pessoa e na percepção desta, do grau e alcance da punição. Com isto
o poder de recompensa e o poder coercitivo são equivalentes. De acordo
com a percepção da pessoa, um determinado ato do agente, pode ser
interpretado como recompensa ou punição. Tudo depende da situação e
da percepção da pessoa sobre o agente. No poder de recompensa a atração
de B sobre A aumenta, enquanto no poder coercitivo diminui.
3 - Poder referente, baseia-se nas características de atração
pessoal de uma pessoa com outra. Se uma pessoa encontra em outra
características com que se identificar, ela procurará comportar-se ou
agir de maneira a identificar-se com esta. Quanto mais características
ela encontrar na outra, maior o poder referente entre a pessoa e o
agente.
4 - Poder legítimo, é definido como o poder que decorre de valores
internos de uma pessoa, que indicam que um agente tem um direito
legítimo de influenciar essa pessoa, e que essa pessoa tem a obrigação
de aceitar essa influência. O poder legítimo está relacionado com a
figura da autoridade. Weber (1944) definiu autoridade como a
probabilidade de encontrar obediência a um mandato de determinado
conteúdo, entre as pessoas e de estabelecer hierarquia de postos numa
organização, seja esta o estado, o grupo, família, igreja. E o fato
14. de uma pessoa aceitar este posto de poder, é que lhe dá o direito de
exercê-lo.
5 - Poder especializado, refere-se à percepção quanto ao nível
de conhecimento que uma pessoa atribui a outra. Supõe-se que a pessoa
avalia o nível de conhecimento com o seu, relacionando-o com um possível
padrão. O poder de especialista decorre da crença de que "uma pessoa
pensa e acredita que outra sabe e está dizendo a verdade".
O poder como um fenômeno social relaciona-se com todas as
tomadas de dicisões do homem, sobre suas condições de vida, sobre os
acontecimentos que constituem sua própria vida, ou sua história. O
homem ao tomar decisões no campo político, econômico e social vê-se
envolvido com as relações que deve estabelecer para conseguir seus
intentos.
Ao observarmos os tipos de poder descritos por Raven e
Zubin pode-se afirmar que não existe nenhuma relação que esteja
destituída de algum poder.
Hoje, o saber vem sendo manipulado pelas sociedades como
uma forma de poder. O conhecimento, seja ele científico ou ideológico,
dentro das atuais condições políticas, vem sendo utilizado como domínio
de saber e ao mesmo tempo como poder.
Diante de tais aspectos pode-se perguntar: é possível
relacionar-se com alguém sem haver uma relação de força, de poder que
se estabeleça? Tudo nos leva a crer que isto não é possível.
As transformações sociais que se processam nada mais são do que
resultantes de relações de poder estabelecidas entre os homens. O fato
do indivíduo querer controlar as ações do próprio corpo, seus gestos,
suas expressões, regulamentar seu comportamento, interpretar o
discurso, com o objetivo de separar, comparar, distribuir, avaliar,
hierarquizar nos leva, também, a crer que ele é efeito de um poder e
simultaneamente é o centro de sua transmissão.
Características do poder
Pode-se afirmar que o poder é uma necessidade natural do
ser humano? Todos os indivíduos são sequiosos de poder?
Parece-nos que a atratividade do poder se exerce
diferentemente nos diversos indivíduos, sendo que alguns se mostram
realmente sequiosos de poder, enquanto outros parecem não se sentir
muito atraídos por ele.
15. Uma característica elementar de qualquer instinto animal,
é a sua saciedade: uma vez obtida a satisfação instintiva, o impulso
(fome, sede, sexo, agressão) não mais se manifesta e entra num período
de repouso, a latência, após o qual novamente o impulso volta a se
manifestar. Esse ciclo que se repete incessantemente e vai desde um
limiar mínimo do impulso (atingido logo após a satisfação) até um limiar
máximo (imediatamente antes da satisfação) é comum a todos os instintos
humanos normais. Se o indivíduo não mostra saciedade após a obtenção
da satisfação, ou não manifesta os impulsos naturais, então temos um
quadro de desequilíbrio e de perturbação do organismo.
Ora, em relação ao fenômeno de poder vemos que o mesmo não
ocorre e temos a impressão de que sua busca não tem fim. Assim, ficamos
com duas possibilidades: ou a necessidade de poder é de uma natureza
diferente da dos instintos ou é da mesma natureza e a sua insaciedade
é um aspecto patológico, anormal.
Três características do fenômeno poder nos parecem ser de
interesse à sua compreensão do ponto de vista psicológico:
1a. Toda relação humana é uma relação de poder.
Sabemos que desde tempos imemoriais, o homem tem buscado o poder:
poder sobre os outros membros de seu clã ou de sua tribo, para obter
mais comida, bens, esposas e vantagens sociais; poder sobre a natureza
e seus elementos, para conseguir segurança, conforto, mobilidade; e
aquele que é o seu grande sonho, o poder sobre a morte, a imortalidade.
Começando com o poder físico, que lhe permitiu defender-se das
bestas, alimentar-se mais e melhor, dominar seus companheiros, o homem
gradualmente foi ampliando e aperfeiçoando tal poder, extendendo-o
para outros planos da existência além do puramente físico, como o
político, econômico, o cultural.
Este processo tem sido um móvel das conquistas humanas, mas
também aquele que tem produzido as mais violentas lutas e os maiores
sofrimentos ao ser humano.
Inúmeras vezes a sede de poder tem tornado o homem insano e
possivelmente não há qualquer outro impulso humano que tenha sido capaz
de produzir sentimentos e ações tão destrutivas. A história é
principalmente uma sucessão de fatos em que a luta pelo poder é um agente
primordial. O desejo de poder, diferentemente dos instintos que se
aplacam quando satisfeitos, parece não ter limites. Uma vez alcançado,
ele busca novas conquistas. Essa insaciedade do poder tem levado
dirigentes poderosos a produzir devastações incomensuráveis e a serem
eles próprios tragados pelo próprio processo de destruição. Napoleão
16. e Hitler são talvez os mais conhecidos dos trágicos exemplos históricos
disso.
Sempre que duas pessoas entram em interação, uma relação de poer
tende a se desenvolver entre ambas, levando uma delas a tentar em maior
e menor grau, submeter a outra. Em diferentes circunstâncias e
momentos, a relação de dominação/submissão pode se inverter como nas
relações afetivas de marido-mulher, pais-filhos, amigo-amigo. Muito
mais raramente essa oscilação parece ocorrer nas relações formais e
hierarquizadas.
"O poder é um ingrediente nas transações que ocorrem
dentro de todas as relações objetais e é, então,
um ingrediente na combinação de forças que determinam a
personalidade".
(Dince,
1972 : 64)
Portanto, não pode existir qualquer relação isenta de poder. Seja
entre pai e filho, governante e governado, empregador e empregado,
esposa e esposo. O que varia são os modos de como este poder é exercido
pelo indivíduo que o detém ou lhe é atribuído, ou que julga que o tem
e o fato de como o outro percebe este poder.
2a. Poder não é um objeto, uma coisa que se possui, mas antes
uma relação cujo equilíbrio é dinâmico e pendular e cujo alcance deve
ser limitado por aquelas sobre os quais é exercido.
Uma vez que qualquer grupo humano se organiza em algum tipode
sociedade, ele se torna submetido a uma ou mais pessoas. De fato, o
grupo sem líder é uma invenção humana para fins terapêuticos e de
estudo. A concentração de uma certa soma de poder nas mãos de poucas
pessoas parece ser inevitável. É como diz Lebrun (1981 : 9): "Compreendo
que uns queiram conquistar o poder ou combatê-lo, ou que se resignem
a ele, ou o temam, ou o detestem. O que não compreendo é que se possa
subestimar o poder".
Por ser dinâmica, a relação de poder tende a estabelecer, um
desequilíbrio a favor daquele que o detém em determinado momento. Se
isso acontece, cristaliza-se em vínculos do tipo dominação/submissão
e passa a ser "mercadoria rara, que só podemos
possuir às custas de outras pessoas" (Lebrun, 1981 : 18).
O problema de dominação/submissão foi estudado por Watzlawick
e outros (1967 : 62-64) com o nome de interação simétrica e
complementar.
17. As relações de poder podem ser equilibradas ou não. No primeiro
caso estabelece-se uma interação simétrica, caracterizada pela
igualdade e a minimização da diferença; no segundo caso temos a
interação assimétrica complementar que se baseia na maximalização da
diferença. 2
Quando o poder é alcançado, é necessário que ele seja mantido.
Indivíduos poderosos não desejam ficar sem poder e indivíduos
desprovidos de poer querem alcançá-lo. Assim, as relações de poder -
e praticamente todas as relações humanas o são - tornam-se uma constante
luta pela supremacia que, em cada momento, apresenta um equilíbrio mais
ou menos instável e que pode ser rompido.
O conceito de poder como um bem de que se é dono tem levado os
indivíduos a crerem na sua perpetuidade, levando-os a agir para
alcançarem isto e tornando-os absolutistas.
A manutenção e mesmo perpetuação da desigual distribuição de
poder pode, em parte ser explicada pelo fato de que as pessoas aceitam
obedecer para evitar o medo e a ansiedade e não concebem outra maneira
de viver seu cotidiano, de tal modo estão condicionadas à submissão.
Submissão essa que começou diante dos seus pais na primeira infância
e continuou durante todo o tempo de dependência econômica de seus
genitores, sendo reforçada pelas ligações com seus parentes próximos
como avós e tios, e pelo maior ou menor autoritarismo que encontraram
nas escolas, nas oficinas, nas autoridades sociais. Aprenderam, por
exemplo, que é muito perigoso desobedecer a um policial fardado.
A distribuição do poder pode dar-se em dois tipos de
relações:
1o - Relações equilibradas de poder. Exemplos:
(autoridade - autonomia)
marido-mulher rei-súditos
Relação complementar Regime democrático
2o - Relações desequilibradas de poder. Exemplos:
2 O processo de interação supõe inevitavelmente a existência de dois
níveis de relação: de igual para igual e de superior para inferior.
A propósito consulte-se Watzlawick, P. e outros. A Pragmática da
Comunicação Humana. São Paulo: Cultrix, 1971.
18. (dominação - submissão)
marido-mulher rei-súditos
Relação assimétrica Regime autocrático
(O tamanho dos bonecos representa o maior ou menor grau de
poder na relação).
Interação complementar: um complementa o outro. Por
exemplo - a fêmea gera, dá a luz e amamenta os filhotes. O macho caça,
protege a fêmea e os filhotes.
Interação desigual, assimétrica: um domina o outro.
Interação simétrica: ambos fazem a mesma coisa. Macho e
fêmea acuam e caçam uma presa. Ou os dois machos brigam pela disputa
de um território.
Este equilíbrio não deverá ser estático, mas dinâmico. Se
em um determinado momento A está em posição superior em relação a B,
noutra situação as posições estarão invertidas. É o que acontece por
exemplo nas relações entre um casal quando estabelecidas em bases
igualitárias. Haverá certas ocasiões em que a opinião do marido irá
predominar, algumas em que será a vez da esposa dirigir e outras em
que não há predomínio de um sobre o outro.
Em uma organização muito mais complexa como o corpo social,
tal distribuição de poder não é tão simples.
3o - O poder é uma forte necessidade humana e não apenas
uma oportunidade para exercer domínio sobre outrém, uma posição que
se ocupa em dado momento, um certo "status".
Freud (1921, Vol. XVIII : 122-128) afirmou que a busca de
poder e a necessidade de dominar outras pessoas no clã primitivo foi
motivada por necessidades instintivas, de maneira que o chefe pudesse
possuir mais esposas e comida.
O poder original teria sido o da força física do chefe do
clã, capaz de dominar a qualquer dos outros membros. É o modelo do que
acontece com os animais que vivem em bandos, como o javali. Com a
evolução da civilização, este modelo não deixou de prevalecer e ainda
hoje é o que resolve, em "última instância" várias pendências entre
os homens.
19. Enquanto no animal os instintos, impulsos de poder e de
posse são limitados às suas necessidades, no ser humano eles não têm
barreiras. Quanto mais poder ou mais bens o homem tem tanto mais ele
quer.
Esta necessidade de poder, pode por exemplo, ser observada
na intensidade com que os jovens absorvem as estórias de super-heróis.
Nos contos de fada, lendas e fábulas são encontrados personagens
dotados de poderes mágicos e especiais. Não nos parece que tudo isto
se explique como mero fenômeno cultural.
Arieti (1972 : 23) ressalta que:
A necessidade de poder tem suas próprias
características, não encontradas em
necessidades biológicas primitivas tais como fome, sede, sono e sexo.
Estas necessidades biológicas que nós temos em
comum com outras espécies animais são de fato
poderosas, mas também auto-limitantes. Um homem não pode comer mais
do que uma certa quantidade de comida e não pode ter
relações sexuais com mais que um certo número de
mulheres. (...) Contrariamente à habilidade sexual, a necessidade de
poder é potencialmente infindável e ilimitada.
O mesmo autor propõe inclusive uma reinterpretação do
significado do dinheiro, que é segundo a psicanálise tradicional, um
meio para se obter comida e sexo. Se assim fosse ele não iria além da
satisfação fisiológica. A compulsividade para sua acumulação sem
limites parece muito mais relacionada ao poder que ele dá ao seu
possuidor. Dinheiro pode comprar "status", prestígio e principalmente
poder.
Se o capitalismo fracassou como sistema social e político
a falência das economias dos países ditos "socialistas", pode ser
talvez explicada pelo fato de que a teoria marxista clássica, ao
eliminar as aristocracias e propor uma sociedade sem classes, realizou
na prática uma sociedade de massa sem poderes, os quais ficaram
concentrados nas mãos da elite burocrática governante. Ao tornar o
indivíduo desprovido de poder econômico, tais sociedades sufocaram um
dos mais fortes impulsos humanos sem oferecer algo que o substituísse
adequadamente. Então, até quando teremos de continuar pensando que só
temos dois tipos de sistema econômico possível, em que num, o poder
econômico está nas mãos de alguns privilegiados e noutro nas mãos do
Estado, ambos em detrimento das massas? Será tão impensável um tipo
de sociedade em que sejam as próprias massas trabalhadoras as
verdadeiras proprietárias dos meios de produção e do produto final,
como de maneira imperfeita ocorre hoje com as cooperativas? O poder
20. de direção de uma fábrica, por exemplo, não poderia estar dividido entre
todos os que nela trabalham?
As características aqui apresentadas procuram configurar
o poder como função decorrente do próprio processo de socialização do
homem, como o exercício inevitável de atribuições sociais.
No entanto, o que se vê com mais frequência no contexto
social não é este poder "normalizador" que busca o equilíbrio e a
justiça social. É o poder cristalizado como coisa, posse permanente
e sempre em busca de crescimento, tal como um câncer que em sua expansão
desordenada acaba por definhar e destruir o organismo que o sustenta:
um poder "oncogênico".
23. As massas nunca se revoltarão
espontaneamente, e nunca se revoltarão
apenas por ser oprimidas. Com efeito,
se não lhes permite ter padrões de
comparação nem ao menos se darão conta
de que são oprimidas.
(George Orwell, 1984).
Voltada quase exclusivamente para a compreensão da
dinâmica profunda do psiquismo individual, obtida no contexto
artificial da relação analista-paciente, a Psicanálise ortodoxa
insistiu na ênfase das motivações inconscientes para explicar os
comportamentos humanos, incluindo aqui as posições e atitudes
políticas. Negou, muitas vezes, a pressão dos fatores da realidade
social, tornando-se inadequada para a interpretação dos fenômenos
coletivos.
Ao dar ênfase molar à sexualidade na determinação do
comportamento e na gênese das neuroses, freud parece ter descurado de
outras funções vitais que, hoje em dia, parcialmente superadas as
fortes restrições sociais às práticas sexuais vigentes no seu tempo,
apresentam-se tão ou mais importantes que a satisfação sexual para a
conduta do homem moderno, tais como a necessidade de garantir
alimentação e segurança pessoal.
Por outro lado, devemos levar em conta que, se o sexo é
puramente instintivo no animal, no homem não o é, pois além da
satisfação instintiva, o ser humano busca também afirmar-se,
satisfazer desejos, fantasias, necessidades lúdicas, obter
privilégios. O ato sexual pode ser estimulado ou restringido pelas
condições afetivas, físicas e intelectuais dos parceiros, pelo
ambiente, por ritos e posições e por reminiscências, sendo em
consequência, um fenômeno também cultural. Sexo no homem civilizado
não é só instinto, não é só libido e a satisfação sexual só pode ser
plenamente conseguida quando as demais necessidades primárias
24. estiverem atendidas.
Não foi sem certa resistência que os fatores
sócio-culturais passaram a ser levados em conta pelo ambiente
psicanalítico e incluídos nas análises de pacientes.
É verdade que não podemos estender de maneira simplista
o conhecimento da psicodinâmica individual, tal como obtida na prática
psicanalítica para a compreensão dos fenômenos grupais do
comportamento político. E isto parece ser tanto mais verdade quando
se fala de poder.
Mas, por outra parte, é inegável que o conhecimento, em
profundidade, dos processos psíquicos poderá lançar luzes sobre o
comportamento do homem enquanto ser político e, no caso, sobre as suas
motivações para o poder. O que não se pode é perder de vista os
referenciais históricos e sócio-econômico-políticos atuais do
exercício do poder. Embora a compreensão dos mecanismos do
desenvolvimento das funções e das distorções do poder não esgotem o
conhecimento de seus abusos na história, aquela é fundamental para
entender historicamente os excessos praticados por indivíduos
poderosos.
Salzman (1972) distingue duas formas de exercício do
poder:
No sentido individual, o sentimento de poder nos
habilita a encontrar e transpor obstáculos
evolutivos e criativos com um sentimento de confiança e estima que
permite funcionamento interpessoal sem ansiedade
indevida. No sentido político, ele implica o uso de
força, através de persuação ou ação policial, por aqueles que possuem
o poder de influenciar tal ação por meios progressivos
ou regressivos, em favor do bem-estar comum de
indivíduos especiais, privilegiados.
Tem-se observado que uma bem sucedida habilidade em lidar
com os sentimentos de dependência e importância nos primeiros anos de
vida tornará o indivíduo adulto mais capaz de suportar situações de
vida que não pode controlar. Mas, pelo contrário, se suas vivências
precoces forem traumáticas, sua auto-estima prejudicada ou sua
necessidade dde poder frustrada, haverá depois uma tendência a
desenvolver impulsos compulsivos para o poder a fim de garantir
segurança e capacidade de manejar com eficácia as situações.
Segundo Arieti (1972), ao aprender a lidar com o poder
25. externo, com o qual ela tem de coexistir, a criança pode desenvolver
três tipos de personalidade: a) ela pode aprender a aplacar tal poder
sendo complacente, subserviente, pronta para agradar; b) pode aprender
a lutar contra o poder, a tentar intimidá-lo, a discutí-lo; c) pode
aprender a lidar com o poder hostil afastando-se dele por
distanciamento físico ou emocional e podendo tornar-se uma pessoa
indiferente, retirada.
Dince (1972) considera importante distinguir
adequadamente entre os impulsos reconhecidos em todos os seres humanos
de ação, aprendizagem, domínio, auto-realização e superioridade
daqueles que engendram o empenho pelo poder explorador baseado em
competitividade e daqueles outros que produzem a busca de poder que
possui características mágicas e onipotentes. "Ser pequeno é também
ser impotente e em consequência indefeso, vulnerável a todos os perigos
que se teme; ser grande alimenta a ilusão de segurança, de
invulnerabilidade, de imortalidade".
Para Freud (1972, Vol. XIII : 75-99) o homem teria criado
seu primeiro sistema do universo em parte pela necessidade de controlar
o mundo à sua volta, usando para isso de procedimentos mágicos e de
bruxaria. O princípio que governa a mágica e bruxaria é o da onipotência
do pensamento. Espíritos e demônios seriam apenas projeções dos
próprios impulsos emocionais do homem, que transforma suas catexis
afetivas em tais seres e povoa o mundo com eles.
Não podendo obter poder real sobre o seu mundo, o homem
adulto criou então uma fantasia, a onipotência, que lhe daria poder
sobre a natureza, os seus semelhantes e a morte. E criou instrumentos
que lhe permitiram isso: o desenvolvimento técnico e industrial, os
exércitos e as igrejas.
Mas porque, ao contrário das demais necessidades humanas,
a sede de poder mostra-se insaciável? Alguns psicanalistas tentam
explicar isso na forma patológica caracterizada pela onipotência (ou
melhor, a ilusão de onipotência) que aparece tanto na criança pequena,
quando é normal, como nos desvios psíquicos de adultos psicóticos. Tal
é a posição de Melanie Klein e suas colaboradoras (1921, 1952).
Embora destinado à compreensão da mente infantil, o modelo
kleiniano pode ser útil à compreensão do mecanismo psicológico do
poder.
Dois fenômenos que sobressaem no mundo psicológico da
criança no seu primeiro ano de vida, são a onipotência e o maniqueísmo
infantis.
26. Nas primeiras fantasias a criança se imagina dotada de
grandes poderes e basta que queira o seio materno que ele logo se faz
presente. Seu mundo interno é percebido e sentido como se fosse a
própria realidade.
Há momentos porém em que o seio materno (ou a mãe) não lhe
são satisfatórios. Não podendo entender que tanto a pessoa que lhe
satisfaz como a que lhe frustra são a mesma pessoa, a criança separa
internamente a mãe em duas, a boa e a má, ou na terminologia kleiniana,
em seio bom e seio mau. Se na fase seguinte, a depressiva, a criança
não tiver elaborado seus conflitos satisfatoriamente e não unir o bom
e o mau na mesma pessoa, a mãe, ela poderá carregar depois, pela vida
adulta, a tendência a perceber o mundo maniqueísticamente. Assim ou
alguém é bom ou é mau, amigo ou inimigo. As noções de céu e inferno,
anjo e demônio e outras, seriam consequências de problemas deste tipo.
O ilimitado desejo de poder do ser humano seria pois uma
decorrência do sentimento de onipotência não elaborado na fase
infantil.
Assim, à pressão e à coerção externas do poder exocrático
se somam às exigências do poder endocrático, para o que contribuem a
repressão psicológica e os sistemas de crenças e mitos vigentes na
cultura e consciente ou inconscientemente aceitos pelos indivíduos,
gerando um desequilíbrio patológico no exercício do poder em dada
sociedade.
Na perspectiva de Dince (1972) as raízes dos impulsos
patogênicos por poder onipotente sobre as pessoas e os eventos residem
no terror experimentado pela criança pequena nas separações d figura
materna, separações que se tornam inextrincavelmente fundidos com o
conceito de morte. "Ansiedade precoce e excessiva sobre a morte,
entrelaçada com medos de represália primitiva de membros familiares
constitui a substância básica da qual emerge a busca de poder
onipotente".
Quando impulsionado por comportamentos compulsivos, o
indivíduo preocupa-se em obter o controle de todas as variáveis das
situações que enfrenta. Seus impulsos estão voltados unicamente para
o objetivo escolhido - a obtenção, a manutenção ou a ampliação do poder
- rejeitando as alternativas que diferem de tal objetivo. O poder passa
a ser perseguido devido a uma necessidade emocional.
Indivíduos envolvidos em tais impulsos compulsivos não
permitirão obstáculo ou oposição - mesmo se
razoáveis ou válidos. Sua atividade frequentemente não se importa
com considerações de seu efeito, mas é perseguida incansavelmente, com
27. a convicção da justiça e da justificação do indivíduo.
Ao mesmo tempo eles são inábeis para aproveitar os
erros feitos, já que não podem reconhecer faltas. São rígidos, teimosos
e incapazes de explorar ou avaliar sua atividade.
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..................
A atividade não é determinada pela consideração pelos
outros, mas por uma tentativa neurótica de lidar com
sentimentos pessoais de fraqueza e impotência.3
(Salzman, 1972 : 167).
Fantasias de onipotência, sentimentos de inferioridade,
compensação e negação de sentimentos de impotência e desamparo,
fixações a fases anteriores do desenvolvimento, derivações edipianas,
identificações inadequadas podem levar à busca compulsiva de
prestígio, poder, fama, riqueza.
O domínio pode ser exercido tanto sobre pessoas (poder
físico, político, burocrático, militar) como sobre bens e riquezas
(poder econômico), sobre valores sociais (prestígio) e sobre idéias
(saber). Sua busca compulsiva serve aos propósitos de engrandecimento
do ego, além de possibilitar a obtenção de privilégios especiais em
algumas dessas áreas.
A doença de nossa civilização, conforme Alfred Adler é a
alta valorização do poder e do individualismo em detrimnto do sentido
de comunidade.
O ponto-de-vista adleriano coloca na família uma grande
responsabilidade na alimentação do desejo de poder:
Não há dúvida que a atual educação na família promove
a luta pelo poder e desenvolvimento da
vaidade tremendamente. Infelizmente nós não podemos negar que os
pais não são bons psicólogos, nem mesmo bons pedagogos. Hoje, as
principais tendências na educação familiar são os
vários graus de egoísmos
familiares........................................................
.....
as crianças querem obter tanto quanto o pai; elas também
querem ser distinguidas e demandam dos outros a mesma
obediência e submissão, como estão acostumadas a ver em
relação à pessoa mais forte de seu ambiente. Então é quase inevitável,
3 A análise se presta admiravelmente para a compreensão da
personalidade de certos dirigentes políticos do nosso momento atual.
28. em nossa educação familiar, que um objetivo de
superioridade pessoal venha a pairar na mente
infantil.
(Alfred Adler, citado por K.Adler, 1972 :
59).
Karen Horney (1937, 1942) elaborou sua teoria das neuroses
a partir do que ela chamou de "ansiedade básica" (p. 89), considerando
que há "quatro principais meios pelos quais uma pessoa tenta
proteger-se contra a ansiedade básica: afeição, submissão, poder e
retraimento". (1937 : 74).
Para ela, poder, prestígio e posses servem não apenas como
escudo contra a ansiedade mas também para liberar hostilidade, e sua
busca ocorre quando as tentativas de encontrar reasseguramento afetivo
falharam (1937 : 121 - 138).
A ambição de poder serve primeiro como proteção contra o
desamparo, um dos elementos básicos da ansiedade; segundo protege
contra o sentimento de ser ou ser visto como insignificante. A procura
de prestígio também serve à função de defesa contra sentimentos de
insignificância.
Para Horney (1937 : 122) a sede de poder do neurótico brota
da ansiedade, do ódio e de sentimentos de inferioridade. Poder,
prestígio e posses servem como meios não só para aliviar a ansiedade
como também para expandir a hostilidade. "Dependendo do anelo
predominante, essa hostilidade pode revestir-se do aspecto de uma
tendência para oprimir, uma tendência para humilhar ou uma tendência
para despojar outras pessoas". (p. 129)
O desvio da função natural do exercício do poder,
desequilibra o sistema onde ele se exerce e transforma o poder em
elemento destruidor do sistema. O abuso é a patologia do poder, que
atinge o seu mais alto grau no absolutismo.
Dentre as suas formas absolutistas, K. Adler (1972 : 62)
considera que o poder de vida e morte sobre os outros é o que lhe parece
mais espantoso:
Muitas profissões têm a posse desse poder e aqueles que
procuram tais profissões podem por conseguinte estar
em perigo de abusar do mesmo para seu próprio engrandecimento,
em seu intento de encobrir ou desfazer seus sentimentos de inadequação
em uma área ou outra, se não para ganho pessoal. Entre
essas ocupações profissionais sobressaem-se juízes,
policiais, soldados, promotores, médicos, políticos de todos os tipos
29. e assassinos.
..................................................................
.................
Todos eles, no entanto, estarão em maior perigo de
abusar de seu poder se eles são ou sentem que são
pequenos, feios ou inferiores de qualquer modo determinado.
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A História julgará nossos líderes presentes e passados
pelas suas ações, à luz das exposições de Adler sobre
a sedução de usar o poder sobre outros como compensação para
seus sentimentos de inferioridade, quando seus sentimentos de empatia
para com o ser humano não forem suficientemente
grandes.
Frequentemente o poder tem sido pintado como o grande
monstro capaz de devorar populações e até estados inteiros. Esta imagem
monstruosa pode ser encontrada no Leviatã, de Thomas Hobbes, escrito
em 1651 e levou alguns pensadores do século XIX a supor que um dia ele
deixaria de existir.
Ora, se o poder está presente em todas as relações é absurdo
pensar-se em sua eliminação, o que só seria possível com a supressão
das relações sociais. O que deveremos então tentar fazer é domesticar
e controlar o monstro.
Quando ao invés de usar o poder como instrumento que lhe
foi delegado pelo seu grupo para ser usado em benefício do mesmo, o
dirigente o usa em proveito próprio, ele estará disvirtuando a
finalidade de seu poder.
O "embebedamento" pelo poder, cujos mecanismos 4, são de
certo modo semelhantes a outras formas de adição - álcool, drogas, sexo,
comida, trabalho - deve ser encarado como uma anormalidade social que
torna o indivíduo cego à realidade e insensível aos contatos humanos.
5
4 Dentre esses mecanismos podemos citar a liberação desordenada de
necessidades reprimidas, a compensação de sentimentos de inferioridade
e desvalia, o deslocamento do libido para outros fins diferentes dos
originais.
5 Vale a pena citar um exemplo que ocorre nas universidades públicas.
O reitor é escolhido entre um dos membros do corpo docente (estamos
excluindo daqui certas situações exdrúxulas que andaram ocorrendo em
nossas universidades) para um mandato de 4 anos, findos os quais ele
30. Preferimos então compartilhar da opinião de Spiegel,
citado por K.Adler (1972 : 61):
Em minha visão, o que necessita ser mudado é a
estruturação piramidal do poder em nossas
burocracias e comunidades - uma estratificação que distribui pessoas
e grupos em posições de inferioridade e
superioridade. Acredito que não se possa efetuar tal
mudança simultânea de valores, de tal modo que as realizações
individuais não possam mais ser usadas para
dissimular ou diluir o impacto destrutivo do autoritarismo e do
elitismo em uma auto-proclamada democracia.
voltará a ser um simples professor e vira um déspota ou um mero executor
de ordens superiores que às vezes são contrárias à sua própria
categoria. Já se viram reitores posicionando-se contra reivindicações
salariais da classe, talvez sem se lembrarem de que logo mais eles
também estarão prejudicados.
32. O fato de que milhões de pessoas
compartilhem os mesmos vícios. não faz
destes vícios, virtudes, o fato de que elas
dividam tantos erros não faz com que os
erros sejam verdades e o fato de que
milhões de pessoas repartam as mesmas
formas de patologia mental não faz estas
pessoas sadias.
33. (Erik Fromm, The Sane Society)
Controle Social: seu significado
A expressão "Controle Social" foi usada em 1901, no livro
pioneiro de E. A. Ross com este título e, a partir daí, encontrada quase
só em trabalhos de sociologia política. Watson, em 1919 foi o primeiro
psicólogo a propor técnicas sistemáticas de predição e controle do
comportamento. Mais recentemente, com Skinner, a Psicologia
Behaviorista atingiu níveis máximos no uso de processos mecanicistas
e controladores.
Controle Social é uma consequência direta do poder com o
fim de mantê-lo dirigindo a sociedade. Como Scott e Scott (1971 : 1-8)
mostram, "na história humana, em qualquer cultura, um indivíduo sempre
tem tentado controlar outros e cada nova descoberta feita pela ciência
tem sido usada ou tentada ser aplicada com o propósito de controle
social".
Para Fernandes (1974) as diversas acepções do termo
tornaram-no obscuro e equívoco. O autor distingue quatro diferentes
sentidos para "controle social":
1 - Como algo equivalente à organização social, à solidariedade
social, à unidade social, etc.
2 - Como algo que se opõe à mudança social, à vida social
espontânea, à esfera irracional etc.
3 - Como algo vagamente distinto de organização social e ordem
social.
4 - Como algo de que depende a emergência ou a seleção de atitudes
inovadoras e de novos valores sociais, isto é, em outras palavras, como
a base organizada da sociedade, enquanto determinante e fundamento da
mudança social.
Ackers (1977 : 8) define "controle social" como sendo o
conjunto dos meios formais e informais que a sociedade desenvolveu para
ajudar a assegurar conformidade às normas". Ele também considera que
"o principal mecanismo para controlar o comportamento é então a
aplicação de sanções externas".
Na mesma linha ideológica Gamson (1968 : 115) considera
o controle social como a alternativa para evitar modificações. Ele vê
três vantagens nela: permite à autoridade designada exercer sua própria
preferência pessoal, agindo como lhe agrada; habilita a pessoa a usar
sua autoridade como recurso para influenciar outras decisões em que
ela seja parte interessada e aumentar os recursos das autoridades
subordinadas nas áreas em que elas exercem autoridade; melhora os
34. "recursos frágeis" e a autoridade pode influenciar, a preços de
barganha, onde a competição foi removida por um efetivo controle
social.
Tais "vantagens" expressam o ponto-de-vista dos
controladores e justificam os sistemas de controle.
Não há dúvida que sem controle social uma sociedade se
tornaria caótica, mas por outro lado também é verdade que o controle
social tem sido usado para manter o "status quo" e impedir mudanças.
A crescente preferência de dirigentes por computadores
além de seu desempenho sobre o trabalho humano, repousa em outra
vantagem: são os mais perfeitos conformistas. Eles não se rebelam,
discutem ordens, entram em greve ou pedem maiores salários.
Tal processo vem ocorrendo em sociedades altamente
institucionalizadas como a americana, a ajaponesa e a russa, onde a
ampla padronização e automatização está conduzindo pessoas a agirem
como robôs - mecânica, impessoal, anafetivamente. Tenta-se chegar ao
ideal de uma sociedade regulada pela "engenharia humana", como
aproposta pelo behaviorismo skinneriano - eficiente, produtiva,
burocrática, sem erros - mas impessoal, automatizada, inumana.
A mais fluorescente psicologia nos Estados Unidos foi o
behaviorismo e isto não aconteceu por acaso. As empresas viram nesta
psicologia um importante aliado capaz de suprir o sistema com métodos
científicos para suas finalidades, enquanto o behaviorismo pode obter
o necessário apoio para seu desenvolvimento.
Além do mais, o behaviorismo é uma psicologia mecanicista,
cujos fundamentos são assentados na ação e não em pensamentos e
afeições. Por isso, o condicionamento clássico usado pelo behaviorismo
tem sido criticado, seja pela sua subjacente ideologia de dominação
pelo sistema social, seja por sua inadequação para as relações humanas
mais profundas. Scott e Scott (1971 : 4) dizem que:
Desde a descoberta do processo de condicionamento por
Pavlov, tem havido repetidas tentativas para usar as
leis de aprendizagem para desenvolvimento das técnicas de
controle social.
Watson foi o primeiro psicólogo a apontar os caminhos
pelos quais o comportamento humano pudesse ser
controlado, particularmente se aplicados a um bebê desprotegido
e completamente dependente.
..................................................................
................
35. Mais recentemente, Skinner e seus seguidores têm
tentado introduzir procedimentos de condicionamento
muito mais sofisticados para o controle do comportamento humano.
Embora se tente justificar o controle social através de
expressões como "benefício de ordem social", "salvaguarda das
instituições", "segurança nacional", em qualquer circunstância o
controle social atende ao elementar propósito de manutenção do sistema
vigente de poder.
Um aumento do controle social leva as instituições a se
transformarem em corporações, onde o controle social alcança um alto
nível, a estrutura organizacional é piramidal e o processo de decisões
é vertical e descendente. O estado corporativista de que o
nazi-fascismo é sua expressão política extrema e bem-acabada, busca
uma institucionalização geral da sociedade.
Dessa maneira, o fascismo pode ser considerado a patologia
extrema do controle social, porque restringe e desconsidera as
características e motivações individuais.
Beligerância, complexo de superioridade, moralismo,
racismo, desprezo pelo indivíduo, enquadramento aos padrões e regras
institucionais, rigidez emocional e intelectual, maquiavelismo e
principalmente um forte controle sobre o comportamento de outras
pessoas são aspectos encontrados em sociedades fascistas e são
semelhantes a traços encontrados em paranóicos.
Exemplos do exagero do controle social são encontradiços
nos regimes ditatoriais, sejam de direita, como os latino-americanos,
sejam de esquerda, como o soviético, cujas estruturas burocráticas são
construídas para serem controladores sociais.
Instituições: agentes de controle social
Afirmávamos há pouco que a principal preocupação dos que
detêm o poder é mantê-lo. Para isso, os dirigentes de uma sociedade
procuram controlar seus membros e o fazem principalmente através das
instituições burocráticas.
A instituição é pois aquele elemento da estrutura social,
através do qual o dirigente exerce seu controle sobre os membros e
mantém seu poder.
frequantemente governadas por regras, regulamentos e
rituais rígidos e arbitrários, as instituições tendem a ser
36. autoritárias e a impor comportamentos padronizados a seus membros, aos
quais não se permite agir livremente. Isto aumenta o poder das
instituições e de seus controladores.
De outra parte, as instituições são sustentadas por
pessoas que, em geral, crêem nelas e obedecem-nas em sua própria busca
de poder, proteção e companheirismo. Há uma contradição que se
encontra, por exemplo, em organizações civis ou partidárias "liberais"
ou "democráticas" que ao se institucionalizarem, exigem de seus membros
uma obediência tal que em nada condiz com seus programas ou propósitos
libertários.
As instituições são contraditórias em sua essência -
afirma-se que elas existem para proteger, conduzir e desenvolver seus
membros, mas na realidade seu objetivo parece mais o de controlá-los.
Como diz Goffman (1961 : 74-92), "a contradição entre o que a
instituição realmente faz e aquilo que oficialmente deve dizer que faz,
constitui o contexto básico da atividade diária da equipe dirigente".
As instituições absolutistas ou totais desprezam, odeiam,
temem, ou evitam aqueles que não pertencem à sua congregação, porque
eles estão fora de seu controle e podem se voltar contra as
instituições.
Se há algo que logo ressalta nas instituições, em geral,
é a sua desatualização.
Anderson e Carter (1974 : 52) dizem que:
Instituições são como sistemas e como tal procuram
manter a sí próprios. isto pode ser feito através de
morfogênese, modificando-se a estrutura e o funcionamento para
melhor preencher as necessidades da comunidade. Entretanto, como
sistemas, elas também buscam permanecer do mesmo
jeito (morfostase).
Thorstein Veblen é citado por estes autores como tendo
escrito, em 1899, que as instituições são "adaptadas às circunstâncias
do passado e, por conseguinte, nunca estão de pleno acordo com as
exigências do presente".
Aqueles que via de regra são escolhidos para dirigir uma
instituição são os que mais demonstram identificar-se com os propósitos
institucionais (verdadeiros ou falsos, reais ou ilusórios); assim eles
são menos "indivíduos" e mais "uma parte da engrenagem".
O grau de controle nas instituições sociais pode variar
bastante, embora na opinião de Goffman todas as instituições sociais
37. apresentam uma tendência geral ao fechamento. Algumas chegam a ficar
tão "fechadas" que absorvem a maior parte do tempo dos interesses e
das atividades de seus membros. São exemplos disto quartéis, prisões,
conventos, manicômios, asilos, internatos.
Goffman chama de "instituição total" a este último tipo
- "um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos
com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por um
considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente
administrada". (p. XIII).
As medidas de controle usadas nas instituições totais são
orientadas para a supressão da identidade pessoal dos internos e o
despojamento de seus papéis sociais, cujo objetivo parace ser apenas
o de mantê-los submissos, obedientes e conformados aos padrões da
instituição. O mesmo objetivo pode ser encontrado nas instituições mais
"abertas", embora de maneira menos intensa.
Qualquer instituição tende sempre ao fechamento, à totalização, no
sentido da tendência a absorver cada vez mais a identidade pessoal dos
indivíduos em favor dos propósitos institucionais.
Conforme Sá (1978, p. 34) observa:
1) a punição é amplamente empregada nas instituições
totais porque é fácil fazê-lo, ou dizendo de outra
forma, porque produz os resultados facilmente previsíveis de
imediata supressão dos comportamentos não desejados pela equipe
dirigente;
2) as instituições totais não estão normalmente
preocupadas em obter modificações permanentes do
comportamento do indivíduo, já que este não possui, para elas, um
grau absoluto de permanência ou duração pessoal que ultrapasse os
limites de sua permanência física na organização;
3) a eficiência e felicidade geral do grupo não são
coisas importantes para as instituições
totais.
Ao se referir à aplicação de técnicas de condicionamento
operante em escolas, hospitais e prisões, Geiser (1977) chama a atenção
para o fato de que "na maioria das instituições, as contingências são
planejadas para o conforto e a conveniência do staff de preferência
ao benefício dos internados".
O controle social patológico pode ser encontrado tanto nos
estados totalitários como nas instituições totais e da mesma forma que
se deseja a eliminação daqueles, também se deve esperar a supressão
destas, já que ambos são formas de expressão patológica do controle
social que negam a identidade pessoal, a valorização do eu, a liberdade
38. de opção e a criatividade pessoal.
Ditaduras, cadeias, penitenciárias, manicômios, asilos,
quartéis, colégios internos, conventos e assemelhados são convenientes
legados aos grupos detentores do poder para a ampliação e manutenção
desse poder em detrimento do povo em geral.
A conformidade e até mesmo o conformismo são o tipo de
comportamento que as instituições esperam de seus membros, enquanto
os desvios são punidos. Mas o que significa "desvio"? O conceito não
é claro e está saturado de interpretações enviezadas. Wood (1974 : 7)
adverte que "tem-se chamado a atenção na literatura para uma tendência
do desvio ser definido em regras amplamente feitas pelos poderosos e
aplicadas por eles às classes sem poder".
C.Braga (1981), afirmando que o desvio é, antes de tudo
um problema de poder, define-o como "poder para rotular o outro como
desviante e o consequente rótulo que marca o outro... O comportamento
desviante não é uma realidade empíricamente constatável, mas sim o
resultado de uma atribuição de rótulos, feita no decorrer da interação
social".
A distorção do conceito é enfatizada pela mesma autora na
seguinte passagem:
É que uns conseguem extrapolar os limites do poder como
valor, construindo e ocupando espaços de dominação e
manipulando a ordem de modo a impôr um modelo de normalidade
e atribuir rótulos de desviantes àqueles que, não podendo penetrar
nestes espaços, agem de modo a prejudicar a
amnutenção, dentro destes espaços, dos que ali se
encontram, ou mesmo criar uma imagem negativa do seu desempenho.
A psicologia clássica e especialmente a psicanálise têm
definido desvio em termos psicogenéticos, ignorando o importante papel
dos fatores sociais em sua gênese e considerando desvio como neurose.
No entanto, a prevalência de enfoques sociológicos tem sido tão grande
ultimamente, que dizer "desvio social" parece uma redundância.
Gibbons e Jones (1975 : 85) escrevem:
Quando uma súbita depressão ocorre, os indivíduos ficam
inábeis para se adaptar prontamente a um estado
diminuído de existência; súbita prosperidade, por outro lado,
seduz as pessoas a acreditarem que eles são capazes de alcançar riquezas
e realizações sem limites. Um efeito similar deriva de
rápida mudança tecnológica que leva alguns a imaginar
39. que têm possibilidades de realizações ilimitadas.
Desviantes de qualquer tipo são sempre vistos como ameaça
à tranquilidade social e tendem a ser segregados, rejeitados ou
eliminados. Em regimes totalitários os oponentes políticos podem ser
considerados desviantes e como tal recolhidos em instituições
penitenciárias ou psiquiátricas.
Os conceitos de normalidade são em geral baseados nos
comportamentos típicos medianos emitidos pelos indivíduos de uma
cultura e consequentemente quaisquer condutas desviadas dos padrões
estabelecidos serão consideradas anormais.
O que se esquece de discutir aqui é o quanto os padrões
médios previstos em uma cultura podem realmente ser considerados
normais. A estatística parte da premissa de que os aspectos modais de
uma sociedade são normais e tudo aquilo que for diferente da média ou
da maioria é rotulado como anormalidade, desvio. É o que Fromm (1955
: 14) chama de "validação consensual de seus conceitos".
A Psicologia, especialmente a americana, está amplamente
impregnada de conceitos estatísticos. Em vista disso, o propósito de
uma tal Psicologia será o de educar ou mudar uma pessoa para adaptá-la
ao seu meio social. O indivíduo será considerado portador de
"problemas" que necessitam ser solucionados, enquanto a sociedade é,
por princípio, considerada "normal", "imutável" ou tais critários nem
são levados em conta.6
Controle social através de crenças e mitos
Em seus propósitos de controle social, as instituições
podem usar dois tipos de meios: os repressivos e os persuasivos.
A repressão social, baseada em punição ou outras formas
de constrangimento, tem sido um meio preferido pelos regimes
autoritários para induzir à submissão e à obediência. Como a repressão
psicológica, no conceito freudiano, a repressão social produz
frustração e tende a gerar comportamentos neuróticos ou agressivos.
Regimes democráticos usam menos da repressão, ou usam-na menos
ostensivamente, enquanto que nas ditaduras e nas instituições totais
ela é claramente visível e apresentada como uma advertência aos
cidadãos.
6 Como a maior parte dos trabalhos em Psicologia é oriunda da
realidade norte-americana, é sobre o comportamento desse povo que nos
vão ser apresentados os padrões a vigorarem em nossa sociedade.
40. Os meios persuasivos, no entanto, têm uma importância
significtiva em qualquer tipo de regime. Dois são os tipos mais usuais:
a propaganda e os sistemas de crenças e mitos. Embora diferentes,
frequentemente aparecem juntos: a propaganda divulga e vende mitos,
e os mitos e crenças tornam-se conhecidos através da divulgação; este
é um importante veículo (forma) para criar e sustentar mitos (o
conteúdo).
Em geral, os conteúdos expostos pela propaganda não
coincidem com a realidade social. E, muito provavelmente, esta
contradição produza nas mentes das pessoas, senão algo tão grave como
a "mensagem do duplo vínculo" de Fromm-Reichmann (1950), ao menos
efeitos da "dissonância cognitiva" de Festinger (1957). 7
Outro dos grandes danos causados pela propaganda nos
parece ser a redução e simplificação superficiais dos conceitos e
valores, todos eles "postos à disposição" (sic) em nossa sociedade de
consumo. A eficiência da propaganda está relacionada a sua capacidade
de vender mitos associados aos produtos anunciados. Assim, a felicidade
pode ser obtida quando se compra um novo carro, liberdade é vestir uma
calça "jeans" macia e desbotada, amor aparece quando se lava o cabelo
com aquela nova marca de "shampoo".
Quando um grupo humano não entende um fenômeno, ele inventa
uma explicação ou cria um mito. O desconhecimento das causas e efeitos
de um fato gera ansiedade e os indivíduos procuram uma explicação quie
os alivie. O mito, sendo parte do sistema de crenças de uma cultura,
preenche uma lacuna do conhecimento com uma explicação, mas
frequentemente distorce ou esconde a realidade. 8
7 A mensagem de duplo vínculo é uma forma patológica de comunicação
estudada por Fromm_Reichmann nas relações entre mãe e filho e
considerada por esta autora um dos elementos básicos na gênese da
esquizofrenia. Consiste em uma mensagem que tem sentido duplo e
diverso, um lógico e outro afetivo. Em Watzlawick e outros (1967 :
89-106) encontramos semelhante fenômeno na patologia das comunicações
analógica e digital. A dissonância cognitiva foi estudada por Leon
Festinger e expressa um estado de tensão causado no indivíduo pela
existência simultânea de cognições que de alguma forma não se ajustam
uma à outra.
8 Termos como crença, religião, ideologia, mito, lenda e outros
aparecem muitas vezes como sinônimos ou com sentidos trocados na
linguagem corrente. Aqui, estamos considerando especialmente os
conceitos filosóficos de mito expressos no "Webster Unabriged
Dictionary": Mito (gr. mythos - lat. mythum): Exposição de uma doutrina
41. Exatamente porque é frustrante e frequentemente
desagradável, a realidade não é aceita pelo homem que então passa a
recorrer a mitos, ilusões e crenças irreais para distorcê-la, negá-la
ou suportá-la melhor. A verdade, expressão do real, passa a ser
indesejável. Raramente um doente terminal aceita a gravidade de sua
doença, o homem não toma conhecimento de que é mortal e vive como se
nunca fosse morrer.
O mito é uma forma de conhecimento primitivo (em termos
filogenéticos) e infantil (ontogeneticamente falando). É inegável o
seu valor para a compreensão de uma dada cultura, especialmente de suas
formas de pensar a realidade e de se posicionar frente ao mundo.
Poder-se-ia mesmo dizer que os mitos são os elementos do inconsciente
coletivo de um povo. Mas também se pode afirmar que quanto mais o
comportamento dos membros de uma sociedade é pautado pelos mitos, tanto
mais tal sociedade pode ser considerada alienada, primária, e se esta
sociedade é do tipo "civilizado", então ela deverá estar "doente".
Exemplos disto foram os mitos da raça pura na Alemanha nazista, a
sociedade pretendida por Mussolini, "a ilha de paz e prosperidade" do
regime Médici no Brasil.
Uma consequência óbvia a ser tirada é que, para melhor
dominar um grupo humano, os seus dirigentes procurarão mantê-lo
ignorante da sua realidade social e preso a mitos e crenças oficialmente
aceitos. Tais mitos estão impregnados de promessas para uma vida
melhor, oferecem segurança e acenam para a prosperidade, a felicidade
e outras vantagens. Assim, os problemas atuais podem ser suportados
com conformismo e resignação, com o povo esperando por um futuro melhor
que fica cada vez mais distante.
É o que as religiões oferecem a seus crentes. Suportando
as frustrações da vida presente com paciência e submissão, as pessoas
poderão alcançar a felicidade após a morte. Ou em outras palavras: "Não
se rebele, aceite passivamente as provações, não tente mudar a
estrutura social (quer dizer o sistema desigual de distribuição do
poder e da riqueza) e você alcançará a eterna bem-aventurança".
Não foi por mero acaso que a filosofia do capitalismo foi
justificada pelo protestantismo como demonstrou Max Weber em seu
clássico "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo".
Mas ao lado das crenças religiosas existe uma outra
categoria, a dos mitos patrióticos, que de tão arraigados, fortes e
ou idéia sob forma imaginativa, em que a fantasia sugere e simboliza
a verdade que deve ser transmitida. Forma de pensamento oposta à do
pensamento lógico e científico.
42. espalhados sobre um estado, puderam conduzir populações inteiras a se
dizimarem mutuamente no curso da História. A Pátria, a Grande Mãe, pela
qual cada cidadão deve dar a sua vida é um mito profundamente enraizado
em cada um. Houve muitas ocasiões neste século em que milhares de
pessoas foram enviadas a campos de batalhas acreditando estarem lutando
por seu país quando, na realidade, estavam apenas defendendo os
interesses econômicos e políticos de grupos poderosos. Dois recentes
exemplos disto foram a intervenção genocida americana no Vietnã e a
invasão argentina das Ilhas Falklands (ou Malvinas). Neste último caso,
o apelo da ditadura militar "em defesa da Pátria" encontrou eco até
mesmo dentro dos mais perseguidos partidos e organizações populares.
Fenômeno semelhante ocorre nas disputas esportivas
internacionais. Se o time de jogadores de um país vence um campeonato,
o povo desse país se sente vencedor também e por algum tempo se tornará
mais satisfeito e conformado. É por isso que os governos vêm se
empenhando nos grandes campeonatos esportivos entre nações como as
Olimpíadas e a Copa do Mundo de Futebol, a ponto de fazer delas uma
verdadeira lide política.
Talvez o mais reverenciado mito da sociedade
norte-americana seja o mito da Liberdade 9. Vivendo em um sistema que
difere consideravelmente dos regimes autoritários e despóticos que
governam a maior parte do mundo, o cidadão médio americano acredita-se
livre, porque sabe que pode falar, ler, mover-se sem restrições. Por
outro lado, ele não parece notar que é somente uma pequena peça de
engrenagem do maior, mais mecanizado e computadorizado sistema
político do mundo. Que chances ele realmente tem de eleger seu
Presidente entre dois candidatos com aproximadamente o mesmo feitio
impostos por dois partidos atrelados à manutenção daquele sistema? E
como ele pode com sucesso deixar de ser um conformista social, um
religioso conservador ou um corredor atrás de "como ganhar um milhão
de dólares" em uma cultura que avalia as pessoas pelos critérios do
mercado econômico?
Outro mito presente nas mentes dos americanos é o da
eficiência. Eles o levam a extremos, substituindo o trabalho humano
por máquinas que passam a produzir e a vender de tudo. O resultado é
a diminuição da importância da mão-de-obra, que se torna cada vez mais
dispensável. Lidando com máquinas que lhes vendem cafés, sanduíches,
sopas, refrigerentes, selos e mais uma infinidade de coisas, os
9 A propósito veja-se em Skinner, B.F. Beyond Freedom and Dignity.
Skinner oferece uma análise objetiva do problema no sentido de
mostrá-lo como um mito. O que deixa a desejar no trabalho é a sua posição
"conformista" diante de suas conclusões.
43. consumidores não enfrentam as relações com seus semelhantes,
escondendo sua timidez e aumentando sua solidão. 10
Outros mitos que estão impregnados na sociedade americana
são o do "self-made man", da superioridade "wasp" - branco,
anglo-saxão, protestante -, da eficiência e laboriosidade americanas,
de que o sucesso econômico é o resultado de trabalho duro, inteligência
e ajuda de Deus, etc.
Sanidade Social: um mito para o controle social.
É espantoso constatar que milhares de anos de
desenvolvimento social não puderam dar aos seres humanos uma
civilização capaz de fazê-los felizes e saudáveis. Pelo contrário,
parece que a frustração, a doença e a infelicidade estão crescendo com
a expansão dos modernos recursos e facilidades.
Não é difícil identificar em qualquer sociedade os casos
isolados de pessoas a quem falta ajustamento e saúde mental razoáveis
e estabelecer comparações entre tais pessoas a respeito do tipo e do
grau do seu desajuste ou desvio. O comportamento de uma pessoa é
considerado insano quando caracterizado como irracional, alienado,
destrutivo. No entanto, quando se trata de avaliar uma sociedade ou
grupo humano, tal identificação não é tão simples.
Uma breve olhada nos jornais e nos canais de televisão nos
mostra um mundo sofredor e infeliz. Catástrofes, movimentos de
protesto, conflitos raciais e religiosos, desigualdades econômicas,
guerras, linchamentos, são algumas das misérias humanas sobre as quais
podemos saber a cada dia, através dos meios de comunicação de massa.
Os índices de alcoolismo, adição a drogas, suicídio, crime,
marginalidade, delinquência, divórcios, neurose e psicose nunca
estiveram tão altos.
Tais problemas têm sido considerados como uma contingência
da tensa vida nos grandes centros urbanos, em que a própria atual e
10 O ideal mítico de uma sociedade bastante padronizada,
computadorizada e robotizada pode ser visto em "Jornada nas Estrelas"
um dos filmes de maior sucesso nos Estados Unidos e no Japão. As pessoas
quase não são humanas; não demonstram necessidades humanas como
emoções, sentimentos, fome ou mesmo medo; e a única relação afetiva
que aparece é dirigida a um robô de formato feminino; em, uma
desenvolvidíssima sociedade, a vida humana foi inteiramente
substituída por máquinas. Isto parece expressar o ideal louco de alguns
dirigentes do nosso tempo.
44. complexa organização social aparece como o principal agente daqueles
problemas.
Para Freud, a própria civilização inclui a insolúvel
contradição entre as demandas da vida social madura e as necessidades
instintivas da natureza humana, especialmente as sexuais e as da
agressão. As neuroses são então consequências da frustração social dos
instintos humanos. A civilização é essencialmente repressiva; ela
repousa sobre a renúncia aos desejos instituais (1927, Vol. XXI : 5-9).
Ao fazer um paralelo entre os atos obsessivos e as práticas
religiosas, freud (1907, Vol. IX : 127) afirmou que "uma progressiva
renúncia de instintos constitucionais, cuja ativação pode proporcionar
o prazer primário do ego, parece ser uma das fundações do
desenvolvimento da civilização humana".
Neste sentido, a civilização é repressiva na sua essência
e a destrutividade humana inata, já que é derivada no "instinto de
morte".
A civilização espera prevenir as piores atrocidades da
violência contra criminosos, mas a lei não é capaz de
manejar as formas mais discretas e sutis em que as agressões
humanas são expressas.
(S. Freud. Civilization and its Discontents, p.
62)
Assim, poder-se-ia explicar, pela teoria do instinto de
morte, os frequentes conflitos e guerras através da história humana.
De fato, a história da civilização nos narra muito mais sobre encontros
agressivos do que quaisquer outros tipos de fatos. Mas ignorar os
motivos econômicos e políticos da maior parte das guerras, é tomar a
parte pelo todo. E também desconsiderar o papel essencial das luta.
Influenciado pelo determinismo biológico darwiniano,
Freud estruturou sua teoria sobre o determinismo psíquico como um dos
pilares da Psicanálise. Mas, o determinismo histórico da teoria
marxista parece não ter tido ressonância em sua obra. Assim Freud
derivou suas teorias sociais a partir da perspectiva da Psicologia
Individual e a sua Psicologia Social é concebida como uma consequência
de seus achados no campo analítico. A natureza humana (enfoque
psicogenético) assume a principal importância nas expressões sociais
do comportamento humano e a sociedade passa a ser vista como uma
resultante dos comportamentos de vários indivíduos ao invés de um
modelador da personalidade individual.
Freud reduz o estudo do fenômeno social à psicologia da
45. horda primal, onde irracionalidade, impulsividade, inconciência e
perda da conciência individual prevalecem, o que significam os aspectos
regressivos do comportamento primitivo (1921, Vol. XVIII: 122-123).
Inicia sua "Psicologia de Grupo e Análise do Ego" com esta afirmação:
O contraste entre psicologia individual e
psicologia social ou de grupo, que numa
primeira olhada pode parecer ser de plena
significação, perde muito de sua grandeza
quando examinada mais detalhadamente.
.........................................
Na vida mental do indivíduo alquém mais é
invariavelmente envolvido, como um modelo,
como um objeto, como um apoio, como um
oponente; e, então a partir da
primeiríssima psicologia individual, em seu
extenso, mas inteiramente justificável
sentido das palavras, é ao mesmo tempo,
também psicologia social.
(1921, Vol. XVIII: 69)
Mas, realmente ao longo das páginas do livro, o que ele
faz é aprofundar a antítese Grupo X Indivíduo. Esta afirmação é ampliada
e reforçada em "Civilization and its Discontents"11 , publicada em
1930. Nele, o antagonismo entre as necessidades instintivasda natureza
humana e os constrangimentos da civilização é reforçado.
Neste último livro, tais assuntos foram trazidos a arena
científica, mas os seguidores de Freud pareceram não estar muito
interessados em observar e considerar o ambiente social, na mesma
medida em que estiverem envolvidos em enfatizar o indivíduo e tentar
demonstrar as causas psicogenéticas das doenças mentais.
Se, os psicanalistas denotaram mínimo interesse pelos
problemas sociais, a atitude geral dos psicólogos do início do século,
conforme Pagês (1969) era de submissão ao contexto social, admitindo
como fatos intocáveis os propósitos perseguidos pelos grupos com quais
trabalhavam. Tal atitude caracterizou especialmenente a Psicologia
americana na primeira metade deste século. Ora,sendo a Psicologia
social uma disciplina americana, em suas origens e principais fontes,
não apenas a grande parcela de psicólogos sociais é constituída por
americanos, como eles também fazem a maior parte de suas investigações
no seu contexto nativo e produzem trabalhos dirigidos ao seu público.
Essa Psicologia Social cresceu junto com o grande desenvolvimento
econômico dos Estados Unidos, servindo aos objetivos das empresas
11 Na edição "standart" brasileira "O mal-estar na Cultura".
46. comerciais e industriais e recebendo delas um sólido apoio para
pesquisas e publicações, orientadas principalmente em direção à
produtividade, eficiência, redução de custos e outros objetivos
empresariais. Durante seus primeiros 50 anos, a Psicologia Social
manteve fortes vínculos com o capitalismo industrial americano e "ao
invés de ser uma ferramenta para crítica da sociedade tornou-se então
a apologista do "status quo". (Fromm,1955:73).
A acentuada melhoria do nível de vida dos cidadãos
americanos levou à edificação do grande mito deste período, o de que
"o American Way of Life corresponde às mais profundas necessidades da
natureza humana e que o ajustamento a este estilo de vida significa
saúde mental e maturidade". (O. C. :78)
A maioria desses psicólogos pouco ou quase nada fez para
desmitificar tal conceito, pelo contrário, reforçaram-no, ajudando a
suprir - através de seleção, do treinamento e do aconselhamento -as
empresas americanas com bons trabalhadores - eficientes, submissos,
conformistas - que, ao fazerem seus trabalhos para os patrões, não
questionam os valores do sistema ao qual pertenciam.
Nos poucos trabalhos em que os acadêmicos americanos
deslocaram o foco para os países do terceiro mundo, suas pesquisas
puderam despertar mais interesse em seu própio país, onde as populações
nativas eram vistas como "povos interessantes e curiosos", mas tiveram
escassa utilidade para estas populações. Acontece que tais pesquisas,
bem como aquelas realizadas na sociedade estado-unidense, acabaram
sendo sorvidas pelos psicólogos do terceiro mundo, que muitas vezes
fascinados com os recursos metodológicos usados, identificaram no que
ali era apresentado como verdadeiramente Psicologia Social, sem se
darem conta de que não só os métodos empregados não eram aplicáveis
à sua realidade como os objetos de estudo não eram os mais importantes
para seu povo. Assim, temas fundamentais em nosso cotidiano, como
carnaval, futebol, umbanda e espiritismo só muito recentemente
passaram a despertar a atenção dos psicólogos sociais brasileiros.
Hoje em dia, no entanto, pode-se notar uma tendência para
um enfoque centrado na sociedade no que toca ao estudo de problemas
de ajustamento humano e que tem recebido grande impulso da Psicologia
Humanística, da Psicologia Grupal, da Sociologia e da
Anti-psiquiatria. Aqui não se trata mais de tentar mudar o indivíduo,
ajustando-o às expectativas sociais, mas de considerar os fatores
sociais causadores dos desequilíbrios expressos pelos indivíduos.
É então possível falar-se na sanidade ou doença de uma
sociedade?
47. Através da História nós podemos notar frequentes eventos
em que uma sociedade inteira ou a sua maior parte revela comportamentos
irracionais e destrutivos.
Para Erik Fromm (1955:72) uma sociedade sadia é aquela que
corresponde objetivamente às necesidades básicas do homem, e onde saúde
mental não significa simplesmente o ajustamento do indivíduo à
sociedade, como é entendido pela psiquiatria e psicologia
mecanicistas, mas que "deve ser definida em termos de ajustamento da
sociedade às necessidades do homem". Posições semelhantes são
expressas por Bastide (1965), Castel (1978) e Foucault (1979) para os
quais as própias condições sociais constituem um meio desfavorável
à saúde mental.
Outros como Laing (1967), Szasz (1970-1974) e Basaglia
(1979), têm acentuado a importância dos fatores sociais, políticos,
econômicos e ecológicos na gênese dos distúrbios mentais.
No entanto, o própio conceito de saúde mental é vago e
genérico. O sequinte conceito de Fromm (1955:69) mostra isso:
"Saúde mental é caracterizada pela
habilidade para amar e criar, pelo
desprendimento das ligações incestuosas ao
clã e à terra, por um senso de identidade
baseado na experiência de seu própio eu
como sujeito e agente de seus poderes,
pelo alcance da realidade dentro e fora de
nós, isto é, pelo desenvolvimento da
objetividade e da razão".
No processo civilizatório, a sociedade, gradual e
vagarosamente, substitui procedimentos "primitivos" por outros mais
civilizados. Mas se um grupo humano se recusa a adotar normas mais
realísticas e evoluídas ou, tendo alcançado o "status" de civilizado,
volta a atitudes mais primitivas, isto pode ser considerado não normal.
Então poderíamos dizer que algumas sociedades tornaram-se "doentes",
como a Alemanha nazista e as ditaduras em geral. Como também não podem
ser consideradas sadias, sociedades em que predominam comportamentos
irracionais, como a beligerância, a discriminação racial, o
consumismo, a exploração do semelhante.
Fromm, em sua "The Sane Society"12 mostra-nos que embora
a cultura americana tenha criado maior riqueza material que qualquer
12 Em português traduzida por "Psicanálise da Sociedade
Contemporânea".
48. outra sociedade na história da raça humana, o comportamento destrutivo
americano não é diferente daquele que a parte civilizada do ser humano
tem feito nos últimos três mil anos de história.
O autor (1955:14) concebe doença mental como o fracasso
no desenvolvimento do homem em direção à plena maturidade de acordo
com as características e leis da natureza humana: "... o critério de
saúde mental não é o ajustamento individual a uma dada ordem social,
mas um universal, válido para todos os homens que dê uma resposta
satisfatória para o problema da existência humana".
Pode-se dizer que uma sociedade torna-se doente quando
falha em dar a seus membros as condições para uma vida social
satisfatória: segurança, liberdade, possibilidade de satisfação
intelectual e afetiva; ou ela estimula comportamentos, sentimentos e
crenças não saudáveis e desperta mútua hostilidade, competição e
desconfiança entre as pessoas, e ainda, o comportamento coletivo de
seus membros é cronicamente irracional em assuntos básicos; por
exemplo, as pessoas compulsiva e incessantamente necessitam comprar
mais bens para se sentirem seguras, poderosas, auto e heteroestimadas.
50. Pudemos notar que o tema poder pode ser tratado sob ângulos
tão diferentes que vão desde o poder como soberania de Estado até a
capacidade de influência de um indivíduo sobre outro nas relações
interpessoais, desde o exercício concreto de um poder real e legal até
a busca irracional de um poder absoluto como acontece na onipotência
dos paranóicos.
A busca do poder pode se prestar a pelo menos duas áreas
de satisfação humana:
- Do ponto de vista sócio-econômico-político o poder é uma fonte para
obtenção de privilégios.
- Do ponto de vista psicológico a conquista e a manutenção do poder
pode prestar-se especialmente a objetivos de afirmação pessoal,
compensação de inferioridades reais ou imaginadas e engrandecimento
do ego.
Numa situação de exercício normal, democrático de poder,
podemos dizeer que o poder é um instrumento pelo qual se exerce o
controle social, sem o qual a sociedade se tornaria caótica, deixaria
de existir como tal. Na situação patalógica o pracesso se inverte: o
controle social é usado para a manutenção do poder, o qual passa então
a ser emm fim um si mesmo.
O desejo de poder absoluto, de onipotência, enquanto
processo de desenvolvimento infantil, na fase esquizo- paranóide, é
normal, pois irá ser logo mais, na fase depressiva, substituído pelo
conceito de realidade. Ora, poder-se-à dizer de um adulto que deseja
alcançar poderes ilimitados que o mesmo ficou fixado na fase
esquizo-paranóide de sua vida ou que esteja buscando compensar seus
sentimentos de inferioridade.
Teria sido a ansiedade produzida pela evidente impotência
e dependência do indivíduo nos seus primeiros anos a causadora das
fantasias infantis de onipotência. Tal processo teria ocorrido com o
homem primitivo na "infância" de sua históriacultural quando,
sentido-se desprotegido e ameaçada pelo ambiente natural, criou suas
fantasias religiosas povoadas de deuses onipotentes. O mesmo parece
ainda ocorrer com o homem civilizado moderno que busca através do sexo,
51. do poder, do prestígio e de poses a concretização de suas inatingíveis
fantasias de tornar-se super-homem. A ilusão fundamental nos parece
ser a inalcançável tentativa do ser humano em se tornar super-homem,
Deus. Acabou criando seus deuses à imagem e semelhança de seus desejos:
imortais, poderosos, oniscientes.
Se o absolutismo é a patologia da estrutura de poder,o
facismo é a patologia do processo de controle socia; os estados
totalitários e as intituições totais são instituições totais são
intrumentos que se prestam aos abusos do poder e excessos do controle
social. Nos seus propósitos repressivos e persuasivos tais
instituições divulgam e favorecem a criação de mitos cujo objetivo é
o de afastar os indivíduos da compreensão de realidade que os cerca.
A luta pelo poder parece reprensentar também a busca da
diferenciação e da individualização - a saída da indiferenciação do
limbo, da massa, pois vivemos em uma cultura onde a competividade é
altamente estimulada e gratificada quando bem sucedida, significando
prestígio, poder ou posse. o própio sistema capitalista é fundado na
competição econômica.
É importante lembrar, no entanto, que as relações de
competição, como as de poder, são relações de desigualdade, em que para
cada ganhador existem vários perdedores.
Tal espírito de competição é tão fortemente arraigado que
a todo momento, mesmo em situações de lazer, as pessoas precisam estar
competindo, tentando ver "quem é o melhor" e tentando provar que não
são tão frágeis ou desprovidas quanto parecem.
As relações de poder devem chegar a um ponto de equiíbrio
em que não exista a relação dominador/dominado, explorador/explorado,
algoz/vítima, mas a um tipo de interação que seja a mais próxima
possível da simétrica ou da complementar, da relação em que cada lado
tenha aproximadamente o mesmo peso. Se for entre um dirigente de um
lado e vários dirigidos do outro, a soma da força de cada um dos
dirigidos deve ser igual ou maior que a do dirigente.
Ao examinar a função do poder, o psicólogo deve buscar a
compreensão das interações que se processam entre indivíduos e grupos,
procurando o conhecimento da dinâmica psicológica de tais interações
e de seus desequilíbrios em termos de influência, liderança e
dominação. Seu papel, mais do que o de um técnico de relações humanas,
deve ser o de um ativo participante do processo de transformação social.
Nessa perspectiva podemos, por fim, conceituar poder como
sendo o exercício de uma função social que se expressa através da
52. interação entre pessoas, em que uma ou mais exercem alguma forma de
controle sobre o comportamento das demais e que se não controlada tende
a se estruturar em relações mais ou menos permanentes de desigualdade.
Se um dirigente exerce poder sobre uma comunidade, ele o
deverá fazer em consonância com os membros da sociedade, que por sua
vez devem exercer o controle sobre o seu dirigente.
Somente em uma sociedade verdadeiramente democrática, o
poder poderá ser exercido em benefício de seus membros.
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