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Há algum tempo atrás, não muito talvez, em um mundo distinto (Com certeza não se
trata do seu mundo) aconteceu uma série de eventos extraordinários que descreverei
nesse livro. Isso aconteceu de verdade, não tem nenhum modo que possa eu provar
minha palavra, mas se em mim quiser assim acreditar, fique sabendo, você é único.
Mas se você é desconfiado, assim como eu, pare e feche esse livro onde achar
que está ficando uma farsa. Existem várias coisas ainda que nem eu, nem você, nem
ninguém conhece, afinal, a vida é uma caixa de confeitos, hoje os confeitos podem ser
de abóbora, mas amanhã ou em um outro dia, já podem ser de qualquer outra fruta que
não seja abóbora, o que é muito difícil nas vendas florestais dos elfos, eu só encontro de
abóbora, um de cacau ou de morango sairia muito bem, mas eu tenho um azar constante.
Meu nome é Serif, um anão das terras de Ocinap, não gosto muito de ser chamado
de anão, se fosse pela minha vontade, todos me chamariam de “Gigante das Montanhas”
ou “Feroz de Ocinap”, mas eu acho que não conseguiria convencer a todos chamar de
gigante uma criatura com metade da altura de um elfo.
Eu amo machados, assim como todos os anões de Ocinap. É a arma símbolo da
nossa raça, para nós não há arma melhor e mais mortal do que um machado bem afiado.
Em tempos de crise um bom machado servirá para cortar a cabeça de quem merece que
tenha a cabeça cortada ou trocar por alguma coisa como mantimentos ou uma boa
bebida. Mas por enquanto eu não penso em abrir mão das minhas belezinhas, estou
muito bem, Obrigado.
Quem me conhece diz que eu sou meio egoísta, mas não é para tanto... Só não
gosto de dividir minha comida com os meus amigos esfomeados. Um dia desses
cheguei até a colocar etiquetas nos meus jarros de raízes doces dizendo: “Elfo, Anão,
Ou o quer que você seja, Não pegue minha comida”... Mas não adianta, sempre furtam
meus doces e quando pergunto quem foi, ninguém ousa falar nada. Se eu soubesse a
catástrofe que estaria por vir, eu teria sido mais gentil e cedido alguns pedaços de
Alcaçuz para os meus amigos, porque a maioria deles, eu não iria ver outra vez.
Era cedo, o Sol ainda escalava por trás das verdes colinas, eu já estava de pé, me
preparando para ir para o meu emprego, na verdade não era bem que um emprego sério,
já que eu mais me divertia do que trabalhava. Eu corto troncos, só isso, mais nada.
Porque é assim tão divertido? Eu uso meu machado para cortar os troncos, com
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machado tudo é divertido, a menos que você esteja desarmado e seu inimigo tenha um
machado, aí não tem absolutamente nenhuma graça.
Estava me dirigindo ao porto que liga as três grandes ilhas de Ocinap como faço
todas as manhãs. O cheiro era o de sempre, capim verde e molhado da chuva da noite
anterior, misturado com o cheiro do meu almoço que eu carregava em minha mochila de
couro. Eu estava com um ótimo sentimento, esqueci de dizer, mas anões são criaturas
bem intuitivas, e a minha intuição naquele momento é que tinha algum dos meus
amigos idiotas me perseguindo desde que eu sai de casa.
Eu estava mais do que certo, quem estava me perseguindo era o Solem, meu
melhor e mais velho amigo elfo. Desculpe por ainda não tê-lo apresentado essas
criaturas, os elfos são basicamente criaturas magricelas que moram dentro de uns
buracos por aí, possuem orelhas enormes e são muito bons em arco e Flecha, muito
mesmo.
Se um dia você sofrer um machucado, a primeira criatura que irá querer chamar é um
deles, eles tem uma sabedoria imensa em plantas e ervas, um dia eu tive uma dor de
barriga, me deram um tipo de chá amargo e melhorei em pouco tempo.
Diferentemente dos anões, os elfos tem a pele alva como a neve, usam roupas
engraçadas e são bem comunitários. Toda linhagem de elfo possue uma venda na
floresta. Eles vendem todo o tipo de coisa natural, desde essências até remédios. No
final do dia, todo venda leva o seu dinheiro arrecadado para uma associação, que ao
término do mês, é doado para a Ordem de Ocinap, para o bem de todos. É... eles são
bem patriotas mesmo.
Nós, os anões, temos um esteriótipo de egoistas e ranzinzas. Nem todos são assim,
mas os que são, assim o fazem por honra a nossa história. Afinal, nossa barba grossa e
nosso gosto não nos caracterizam como mariquinhas, mas sim como grandes guerreiros.
O Solem não era diferente dos outros elfos, mas na minha opinião ele é o melhor
arqueiro dessas terras, ele pode acertar e matar qualquer coisa por menor que seja, mas
ele prefere não matar nada para comer, ele diz que precisa estar em sintonia com a
natureza e coisas assim... Que nada, se eu tivesse a habilidade que ele tem com arco e
flecha, Eu iria caçar todo tipo de coelhos nativos de Ocinap, eles são realmente muito
deliciosos...
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Eu percebi que ele queria me dar um susto, então fingi que não o estava vendo até
que chegasse bem perto mesmo. Quando ele estava no ápice de gritar para me assustar,
eu virei e gritei primeiro.
— Como
você é mal, Serif — Solem sibilou assustado.
—
Não sou mal, só não sou idiota. Você ia me assustar, seu caipira orelhudo! — Eu
Retruquei.
─ Está bem, mas eu continuo achando que você só é pequeno assim porque tem baixa
auto-estima ─ Disse Solem.
─ É mesmo? E você só é alto assim porque tem alto nível de estupidez ─ Falei
gargalhando. Andamos mais alguns passos, parei de andar e perguntei. ─ Porque
continua me seguindo? Por acaso você vai para o Porto?
─ Sim eu vou, por quê? ─ Perguntou Solem.
─ Com assim por quê? Nunca vi você indo para o porto antes, tudo o que você faz é
treinar com esse seu arco... ─ disse eu.
─ É exatamente por causa do meu arco que eu vou, ontem eu recebi essa carta da
Ordem de Ocinap ─ Solem tira um pergaminho do bolso que deve ter sido dobrado
umas mil vezes para ter entrado lá ─ Fui chamado para ser um dos protetores da
muralha.
─ Que bom, pelo menos agora vai ter alguma coisa de importante para fazer. ─ Falei
tentando não soar aflito.
Eu já tinha perdido alguns amigos que foram defender a muralha, e agora como
aumentara a incidencia de exploradores ambiciosos, os ataques são mais frequentes, e
com isso, você sabe, muito dos nossos apenas se vão. Com certeza eu não queria perder
o Solem mas não deixei transparecer naquele momento. Ele parecia tão orgulhoso de si
mesmo, decidi não atrapalhar o momento.
Andamos mais algum tempo, e lá estávamos nós, no porto de Ocinap. É um lugar
excepcional. Enormes embarcações levavam você para qualquer lugar entre as ilhas, de
graça, já andei tanto por essas terras que já estou numa fase que não tenho mais nenhum
lugar novo para conhecer, a não ser que eu ultrapassasse os níveis das muralhas e fosse
me aventurar, mas isso é uma loucura. É muito perigoso lá fora.
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O motivo pelo qual esse porto não era melhor tem nome: Tolad. É um anão da minha
mesma linhagem, mas é uns 230 anos mais velho, e um milênio mais chato. E para meu
azar que como mencionei antes, é constante, ele é o capitão do barco que me transporta
todo dia para ir trabalhar.
Ele tem sempre piadas sem graça como: ─ Quem é mais baixo do que o Serif?
Ninguém! ─ ou também ─ O que vale mais: Um Serif ou Dois Serif’s ? Nenhum! Todos
os dois são muito pequenos para serem vendidos!
Eu simplesmente odiava aquele idiota. Nos meus melhores sonhos estava eu lá, a
decaptar sua cabeça com meu machado de Pedra polida. O rosto dele era tão odiável que
você poderia saber antes mesmo de conhecê-lo que ele não era uma boa figura.
Solem e eu adentrava-mos no barco enquanto eu pedia mentalmente para que Tolad
não fizesse nenhuma piadinha de mal gosto comigo. Alguma coisa estava parecendo-me
diferente, quando entramos no barco Tolad não me insultou como de costume, apenas
me lançou um olhar longo e frio.
Nós sentamos em um banco logo perto da porta. O barco era destinado ao transporte
de trabalhadores da união, então só tínhamos companhia de alguns outros Anões, três ou
quatro elfos, e o resto de gigantes Ocinapianos. Devido aos ataques recentes, a muralha
caiu na parte leste. Era preciso de força para erguer blocos enormes de pedra. Por isso
os gigantes foram empenhados.
Solem estava polindo seu arco quando eu perguntei:
─ Então, qual é o seu plano?
─ Plano de que? ─ Perguntou Solem coçando as orelhas com a ponta de uma flecha.
─ Você sabe... Se vocês estiverem perdendo o controle da muralha, para onde você vai
fugir? ─ Eu perguntei.
─ Como assim fugir? Vou ficar lá e morrer por Ocinap! ─ Disse Solem com um ar de
bravura.
─ Claro que você vai ficar lá... ─ Ironizei.
Tolad virou para a tripulação e disse que a viagem iria iniciar. Interessante... Até
agora ele não tinha tirado sarro de mim. Era o primeiro dia que ele não fazia isso. Algo
estava errado, ele andava diferente, como seus passos fossem pré-calculados. Parecia
uma marionete seguindo os movimentos de algum mestre ou coisa parecida.
O barco começava a se mover quando eu cutuquei o braço do Solem.
─ Tem alguma coisa errada com o Tolad. ─ Eu disse.
─ Como assim? O que ele tem de errado? Eu já sei que você não gosta dele. ─
Comentou Solem.
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─ Eu falo sério. Eu acho que ele está enfeitiçado. ─ Eu e Solem olhamos para Tolad e
ficamos o observando por alguns segundos. Entre esse tempo ele não piscava os olhos,
Nem mesmo se virava para a embarcação para mostrar como conseguia guiar o barco de
costas...
Se no caso, se tratasse de um feitiço, ele devia ter zombado uma bruxa de Peggs. As
bruxas de Peggs são senhoras doidas que fazem algumas magias. Elas amam dinheiro,
então vivem fabricando frasquinhos de encantos e vendendo em torneios e treinamentos.
A minha dica é: Nunca, em hipótese nenhuma, tire escárnio de uma delas, elas podem
ser seu pior pesadelo. Quando você menos esperar, ela vai estar lá, com um olhar
vingativo a te esperar.
─ Eu vou lá. Temos que impedir que alguma catástrofe aconteça. Se ele estiver mesmo
com um feitiço, ele pode fazer alguma besteira. ─ Eu disse enquanto levantava do meu
lugar.
─ Eu vou com você, pode ser que você não seja páreo para ele. ─ Disse Solem.
─ Como assim? Eu não sou páreo para ele, Puffff... ─ Retruquei rapidamente.
Nós nos levantamos e fomos nos aproximando sorrateiramente por trás do Tolad.
Cada passo tínhamos mais medo do que poderia acontecer. E se ele estivesse
enfeitiçado? Como faríamos afinal para tirar a magia que o assolava. E se ele morresse?
Quem iria pilotar o barco e nos levar até o nosso destino em segurança... É, naquela
hora me veio um pensamento meio egocêntrico, não posso mentir.
Quando íamos cutucar o Tolad para ver se tudo estava certo, ele se virou para nós.
─ Laura! Minha Laurinha! ─ Gritou Tolad aos prantos.
─ Acalme-se pequeno ser, me diga o que está acontecendo. ─ Disse Solem tentando
acalmar o chorão.
─ Não toque em mim. ─ Alertou Tolad. ─ Eu não preciso de consolo de vocês. Eu
preciso desfazer a besteira que eu fiz.
─ O que aconteceu entre você e “Laurinha”? ─ Eu perguntei infinitamente aliviado por
não se tratar de nenhum feitiço.
─ Não ouse de chamá-la assim! Só eu posso chamá-la de Laurinha. Saiam da minha
frente! Preciso pedir desculpas por ter criticado o café-da-manhã que ela fez para mim.
Como eu sou idiota... Não devia ter insultado meu raio de sol... Minha pequena
“grande” mulher... ─ Disse Tolad pegando seus pertences que estavam perto do Timão
do barco.
─ Para onde você pensa que vai? Já estamos quase no meio da viagem... ─ Disse eu
sabendo que alguma besteira iria acontecer.
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─ Eu tenho que pedir desculpas a ela... Não posso viver sem meu amor! ─ Gritou Tolad
enquanto pulava do barco.
─ Nãããããããããããããão! Volte aqui! Volte aqui agora mesmo! ─ Eu gritei para Tolad. Ele
nem sequer olhou para trás. Lá estava ele, nadando feito louco para encontrar sua
mulher, enquanto nos deixava sem saber o que fazer.
Toda a tripulação tinha visto a cena. Estavam todos agitados gritando coisas como:
Nós vamos morrer! Estamos fritos!... Mas Solem começou a acalmá-los. A maneira que
ele encontrou para acalmá-los não seria tão calmante para mim.
Solem respirou fundo, olhou para a tripulação e disse tentando parecer confiante:
─ O Serif é um ótimo Capitão!
Olhei rapidamente para o Solem com um ar de questionamento...
─ O que? ─ Disse eu rapidamente calado pela mão do Solem.
─ É sim, gente! Ele já pilotou embarcações de todos os portes! Ele é um verdadeiro
Capitão! ─ Disse Solem olhando para mim com um olhar de “Cala a boca!”
Todos olharam para mim com olhares aliviados. Mas eu não estava nem um pouco,
nem um pouco mesmo aliviado. O Solem só poderia estar ficando maluco, me entregara
uma responsabilidade que eu não queria, nem poderia ter. Eu não sei pilotar barcos, eu
não sei pilotar nada. Eu estava com medo, não posso mentir.
Virei vagarosamente e comecei a fazer algumas coisas que eu não sabia para que
serviam... Mexi o timão para lá e para cá, puxei algumas cordas das velas, e até abri um
mapa. Estava lá o desenho das três grandes ilhas de Ocinap e algumas rotas e atalhos
que o Tolad provavelmente usava nas suas viagens.
Posso dizer, deduzir um mapa já é dificil, mas é ainda mais dificil deduzir algo com
a letra do Tolad, posso dizer fielmente que a letra de uma criança barriguda é mais bem
feita do que a daquele imprestável. Eu tinha tanta raiva dele... Como ele pode nos
abandonar a deriva em uma infinidade de mar. Porque aquele sem vergonha não pediu
perdão para sua mulher antes de sair de casa. Uma coisa é certa, depois disso, ele vai ser
demitido.
Tanta coisa passava por minha cabeça, que era dificil organizar os pensamentos, uma
hora eu estava esperançoso, outra já achava que estavamos em um caso perdido. Até
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agora não tinha deduzido nada do mapa do Tolad, e nem poderia pedir ajuda, porque
senão todos iam achar que eu era apenas uma farsa. E eu sou uma farsa, o Solem fez de
mim uma farsa.
Enquanto eu me matava para tentar descobrir como funcionava as velas do barco, ouvi
um cochicho lá atrás. Era o idiota do Solem conversando com os gigantes ocinapianos.
Como se não bastasse ele ter me colocado numa fria, ainda estava lá, sem querer me
ajudar... Era só o que faltava.
─ Soleeeeeeeeeeeeeeem! ─ Gritei com todo meu poder vocal.
─ O que foi Se..Serif.. ─ Gaguejou Solem.
Quando ele chegou perto de mim, dei um chute na canela dele e disse:
─ Você está louco? Por que disse que eu sabia pilotar um barco? Nós vamos morrer
Solem. Morrer! ─ Eu falei um pouco alto de mais.
Todos olharam para mim com olhares de angustia, até desceu uma lágrima em um
anão que estava lá atrás...
─ O que foi gente? O Serif disse que nós vamos comer, Comer! ─ Disse Solem
alternando seu olhar entre eu e a tripulação ─ O Serif disse que vai dividir o almoço
dele com todos vocês!
─ O que, meu almoço? ─ Solem outra vez me silenciou dando um soco nas minhas
costas. ─ É, vou dar a vocês meu almoço. ─ Disse eu com ar de tristeza.
Os imprestáveis dos anões foram os primeiros que avançaram para pegar minha
comida, eles levavam o almoço deles, mas queriam o meu para que eles ainda tivessem
o deles para comer depois. Eu estava mais confuso do que nunca, eu já fora empenhado
para uma tarefa que eu não tinha a mínima idéia de como completar, e agora pegaram
meu almoço. E o pior, eu tinha fome.
Passara algumas horas, e eu ainda não tinha a mínima idéia se iríamos mesmo ser
salvos ou não. O Solem estava sentado perto de mim balbuciando algumas canções
élficas e perguntando a cada dois minutos se eu conseguia avistar terra.
Junto com a noite, chegava também uma profunda desolação dos tripulantes. A essa
hora deviamos ter chegado na outra ilha, mas ainda estávamos perdidos em uma
imensidão de mar. Cheguei perto do Solem e pedi que reunisse todos, não poderiamos
levar eessa mentira para frente, tinhamos que contar a verdade sobre o que estava
acontecendo.
Todos se reuniram no convés do barco formando um círculo, eram ao todo de 15 á 20
criaturas. Eu dei alguns passos a frente e assumi o centro. Minhas mãos estavam
gélidas, minha visão estava mais turva do que as águas do rio Odnuf. Senti um calafrio
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atrás do outro. Quando eu ia abrindo a boca para começar a falar... bem, aí eu não me
lembro mais de nada.
─ Serif, Serif! Acorde! ─ Chamou Solem.
Comecei a abrir os olhos, algo de estranho acontecera comigo. Todos estavam a minha
volta me olhando como se eu tivesse morrido.
─ Você desmaiou Serif, ficou um bom tempo desacordado. Como se sente? ─
Perguntou Solem.
A pressão que aquela notícia me provocava me fez desmaiar. Eu ainda estava tonto,
mas não parava de pensar que eu ainda tinha que falar sobre tudo que estava
acontecendo para os outros.
─ Você parece tenso, não se preocupe ─ Disse um gigante.─ O seu amigo elfo já nos
disse ─ Falou um outro gigante.─ Que você não é capitão coisa nenhuma ─ Finalizou
outro gigante.
Cada gigante completava o que o outro dizia anteriormente, eles eram bem unidos, por
isso eles dividem frases entre si, para que todos eles participassem do diálogo. Um
desses me ajudou a levantar, estava escrito o numero 19 na sua camisa de pano.
─ Prazer, eu sou o 19 ─ Disse o grandão estendendo-me a mão.
Levantei um pouco minha calça, arrumei minha camisa e apertei na mão do gigante.
Eu ainda estava muito tenso para falar alguma coisa. Então permaneci calado por algum
tempo. Olhei para todos que ainda estávam a minha volta, todos olhavam para mim
como se eu ainda fosse o capitão do barco.
─ Então Serif, como vamos sair dessa? ─ Perguntou um anão arrogantemente.
─ Como assim? Eu não tenho nada a ver com isso, sou como um de vocês!
─ Não! Eu não aceito isso! Antes, pelo menos, tinhamos um pouco de esperança de sair
dessa... Você vai tirar-nos daqui de um jeito, ou de outro. ─ Disse o anão aparentemente
ostensivo.
Devo confessar, faz tempo que não me metia em uma briga daquelas. Eu e o anão
desaforado rolamos no chão até que os outros tripulantes mais sensatos vinhessem
apartar a briga. Saí ganhando, com certeza. Nós nos recompomos, quer dizer, ele se
recompôs. Eu estava completamente inteiro, sem nenhum arranhão.
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Depois da briga o Solem começou a se aproximar:
─ Serif, olha só para você... Está todo machucado!
─ Você está louco? Estou perfeitamente bem...
─ Fala sério Serif... Você está sangrando ─ Disse Solem apontando para um cicatriz que
sangrava no meu braço.
─ Que nada! Esse corte, eu...eu.. sofri em casa, manuseando um dos meus machados ─
Tentei mas não consegui falar sem gaguejar.
Solem tirou uma pequena caixa do seu bolso, abriu-a, e dentro possuia um gel branco.
─ Vai doer um pouco, mas isso vai te ajudar ─ Solem antecipou.
─ Nem venha! Me dê isso! Eu mesmo passo. ─ Puxei o medicamento das mãos do
Solem.
Peguei um pouco e espalhei pelo meu ferimento. Nos primeiros trinta segundos me
arrependi profundamente de ter assim o feito. Mas depois de um tempo, o remédio faz
efeito e fecha o ferimento. É um milagre.
─ Doeu não foi? ─ Ironizou Solem.
─ Não. É parecido com picadas de mosquitos. Bem fraquinho. ─ Disse eu, faltando com
a verdade para preservar meu ego másculo.